03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ao reforçar e mantê-la subjugada, num movimento em que o novo contexto cultural e<br />

político se instalavam com a Revolução Francesa com a reivindicação feminina por<br />

igualda<strong>de</strong>, proposta universal com a promessa <strong>de</strong> colocar homens e mulheres num mesmo<br />

patamar (LAQUEUR, 2001). Com ela, uma outra explicação foi construída para manter a<br />

submissão feminina no momento em que a mulher realizava algum <strong>de</strong>slocamento no “novo<br />

campo das forças sociais” (KEHL, 2001).<br />

Nesse “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> dois sexos”, inaugura-se o paradigma da diferença sexual<br />

fundado na concepção anatômica e fisiológica, no qual homens e mulheres não eram mais<br />

vistos como isomórficos. A mulher <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser “mulher-como-homem” e passa a ser o<br />

“sexo oposto” do homem, encarada agora como pessoa dotada <strong>de</strong> uma natureza biológica<br />

cuja marca essencial era o domínio da paixão sobre a razão, ao contrário do homem.<br />

Ambos transformam-se em seres <strong>de</strong>scontínuos e opostos absolutos, com proprieda<strong>de</strong>s<br />

“naturais” específicas. Seriam essas proprieda<strong>de</strong>s, tanto psíquicas quanto morais, que<br />

forneceriam a normalida<strong>de</strong> da sexualida<strong>de</strong> feminina (LAQUEUR, 2001).<br />

É neste processo histórico, e <strong>de</strong> acordo com as concepções que se <strong>de</strong>senvolvem, que<br />

a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> masculina e feminina se re<strong>de</strong>finem, e a prática sexual feminina passa a girar<br />

em torno da santida<strong>de</strong> do lar, da produção cultural das mulheres como mães. A respeito das<br />

diferenças sexuais entre homens e mulheres, expressavam-se médicos, juristas, políticos e<br />

moralistas. 12 Entendidas como seres <strong>de</strong>scontínuos e duais, as mulheres passariam a ocupar<br />

um lugar social subalterno aos homens, on<strong>de</strong> sua sexualida<strong>de</strong> seria dominada e<br />

normatizada, e aquelas que se rebelassem, contra a natureza prescritiva da maternida<strong>de</strong> e do<br />

uso do sexo para procriação, eram consi<strong>de</strong>radas loucas e <strong>de</strong>snaturadas (Ibid.).<br />

A partir da teoria do “dimorfismo sexual” - o masculino e o feminino - passa-se a<br />

ter uma intensa medicalização do corpo da mulher, muito mais do que o sofrido pelo<br />

12 Os moralistas representam uma corrente <strong>de</strong> idéias que remonta ao século XV que provocou uma mudança<br />

no conjunto <strong>de</strong> regras e <strong>de</strong> práticas educativas da socieda<strong>de</strong>. Essas regras iam atingiam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a proprieda<strong>de</strong><br />

dos trajes até o comportamento sexual que era estudado por eles (FLANDRIN, 1988).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!