03.09.2014 Views

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

acredito nisso, senão eu não teria feito o que eu fiz. Na verda<strong>de</strong> eu não posso nem dizer,<br />

porque eu acho que eu só suportei tudo isso, porque eu acreditava nisso: isso é o melhor pra<br />

ela. Então, eu acho que tem um nível, realmente, <strong>de</strong> quando você tem um filho, <strong>de</strong><br />

superação, on<strong>de</strong> a tua relação com você mesmo e com o outro, ela muda, enten<strong>de</strong>u. Eu acho<br />

que isso não é <strong>de</strong>sculpa pra você largar. Esse é o meu ponto, acho assim: pra mim aquilo<br />

era importante, o problema foram os questionamentos que eu tive, porque eu acho que se eu<br />

não tivesse meta<strong>de</strong> daquilo, talvez eu não tivesse sofrido, mas eu achava assim: também pra<br />

amamentar e beber, ou fazer alguma coisa, isso eu não vou fazer. Então, eu tenho que<br />

<strong>de</strong>cidir o que quê eu vou fazer. Então, eu pensava muito. E eu contava com essas poucos<br />

pessoas, poucas, porque eu acho que é um assunto tabu, é um assunto tabu. Com algumas<br />

pessoas eu podia falava isso, ouvia em consultório médico, que é um lugar terrível, sabe,<br />

que às vezes vêm aquelas teorias todas “não, porque eu fiz isso”, gente que amamentava<br />

dois anos, e aí eu ficava apavorada, não falava porque tinha receio, e eu, pouco com a<br />

minha irmã mesma, com outras pessoas que eu via que tinham essa visão, assim, e eu não<br />

falava essas coisas, mas com essas pessoas que eu encontrei, que eu <strong>de</strong>i sorte <strong>de</strong> encontrar,<br />

eu tinha essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me abrir, sabe, <strong>de</strong> dizer essas coisas, então, eu acho que eu<br />

falei muito.<br />

I: Você acha que foi fundamental o apoio <strong>de</strong>ssas poucas pessoas?<br />

N: Fundamental! Foi fundamenal! Eu acho que eu só não entrei num abismo naquela hora<br />

ali, porque as pessoas falaram: “- Nina, isso acontece”. No dia que a Lenice falou isso pra<br />

mim, me <strong>de</strong>u um “ai!”, sabe, aquela coisa, <strong>de</strong> olhar pra Clara, e falava assim: “minha filha,<br />

como é que po<strong>de</strong> eu tá sentindo isso?”, eu fico até emocionada porque é uma fase, assim, eu<br />

até falo: “ai gente eu queria até ter outro filho, não quero nem mais ter, eu não agüento mais<br />

passar isso <strong>de</strong> novo, porque é muito esquisito, você se muda muito sabe, e tudo você tem<br />

que pensar naquilo. Eu acho assim, mãe velha é um problema também, é a minha teoria<br />

também, eu tenho umas teorias. Mãe velha, cara, você pensa em tudo. Eu acho que <strong>de</strong><br />

repente tem mãe que é mais nova e não esquenta tanto, aí você fica muito médico, você fica<br />

muito, lendo Pais e filhos, “ah, vai ler o De Lamare, vê na Internet o que quê diz, aí ele ia<br />

pro computador, então, é um projeto, eu acho assim...<br />

I: E fica muito em cima da mãe.<br />

N: Muito em cima da mãe, sabe, porque é isso, você lê tudo, você tem que pensar em tudo,<br />

você fica preocupada com tudo, e aí é isso, eu acho que uma mãe intelectualizada, ai, eu lia<br />

mais ainda, porque eu acho que tem mãe que também já não lê tanto, e fala assim: “- ah, sei<br />

lá, não sei”, eu acho que isso ajuda um pouco, mas, puxa, lê tanto, tanta teoria, sabe, parece<br />

que aquilo não pára, porque você vai assimilando informação, assimilando informação,<br />

chega uma hora que “pô, chega né, também!”, porque você não conseguir traduzir muito<br />

aquilo na prática, enten<strong>de</strong>u, é tudo muito teoria, sabe. Na prática, eu acho que você tem que<br />

ver o que é melhor pra você. Então, eu acho que na amamentação, uma das coisas que eu<br />

discutia na época, eu falava assim: “eu acho que falta falar disso, falar disso, assim, com<br />

humanida<strong>de</strong>, tratar a mãe, assim, “você é um ser humano”, parece que você per<strong>de</strong> as outras<br />

coisas e fica só mãe. E a impressão que eu tinha é que aquilo tinha que <strong>de</strong>scer, aquilo tinha<br />

que vir, então vai vir aquela mãe, aquela mãe assim, aquela pessoa que abdicou <strong>de</strong> tudo,<br />

que sente aquela felicida<strong>de</strong>, que não dorme, que ela não come, mas ela tem aquela filha<br />

maravilhosa que tá ali mamando no peito, e ela tá sempre rindo, ela tá sempre feliz com a<br />

pessoa, e eu tava, olha, com umas olheiras, (???) eu olhava a minha cara, tanto que quando<br />

eu cheguei na minha médica, na minha ginecologista pra tirar os pontos, que ela olhou pra<br />

mim, falou assim: “- meu Deus você tá, que cara é essa?!”, porque ela é muito íntima,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!