Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

meu Deus, será que a médica não é boa?”, e a médica é excelente, hoje eu sei, eu conheço o
trabalho dela, ela é uma médica super..., mas eu era, eu era alvo fácil pra essas coisas,
então, assim, eu era mais velha, mas era mãe de primeira viagem, e isso me atormentava,
entendeu, porque essas cobranças, essas “cuidado! Tá amamentando, você não pode tomar
remédio nenhum!”, então, eu tinha pavor de ter uma dor de cabeça e ter que tomar uma
coisa, sabe, você vê como eu sofri. Nossa, eu fiquei muito (???) com tudo isso, eu falei:
“gente, então, não há nada que eu possa fazer?! Eu tenho que agüentar?!”, então, olha o
calvário. Mentiram, falaram pra mim que não era, entendeu, então, eu acho assim, até os
quatro meses foi muito difícil.
I: Mas, em algum momento, nesses quatro meses, você chegou: “não, chega, agora...”,
passou isso pela sua cabeça?
N: De parar de amamentar?
I: É. Durante esses quatro meses.
N: Não, não. Eu acho que parar, parar, não. Pensava assim: “acho que vou dar uma
mamadeira, vou dar uma mamadeira, não agüento mais”. Todo dia eu falava que ia dar
aquela mamadeira.
I: E você não dava por quê?
N: Aí, eu nunca dava. Porque o meu leite, ela crescia, tava tudo bem, aí, o que quê eu
pensava na minha cabeça: “pô, vou alterar isso, se tá tudo certo. Tá ganhando peso, tá tudo
ótimo, por que quê eu vou mudar esse negócio?”, entendeu, aí, eu nunca acabava dando.
Então, eu morria de inveja daquela gente, tipo assim: “ah, não eu saí ontem, tomei um
chope, dei uma mamadeira”, eu queria fazer aquilo, mas eu não tinha coragem de fazer”.
Então, eu amamentei a Clara um ano.
I: Exclusivamente, você amamentou até quando?
N: Até cinco meses, exclusivamente. A partir do quinto pro sexto mês, entrou comida, e aí
tudo foi melhorando, porque é isso...
I: E ela aceitou a comida direitinho?
N: Ela aceitou bem, ela aceitou bem, ela parou de amamentar na hora que, assim, foi tudo
muito interessante, porque no dia que ela fez um ano, ela começou a andar, quinze dias
depois ela já não mamava, porque ela já vinha se desinteressando, e eu deixei, porque
também teve isso, eu falei: “eu vou levando até onde der”, só que aí com oito meses a
médica falou assim: “- Nina, no dia que você quiser sair, tomar um chope, já não tem mais
problema, porque ela come”, entendeu. Aí eu fazia isso, eu saía tomava um chope, nossa,
era uma felicidade, então, aí eu não dava, mas ela já comia, tomava uma mamadeira, então,
aí, “agora que tá melhorando, então ela mama do jeito que ela quiser”, porque minha vida
já tá voltando pra mim, né, eu já tô sentindo mais dona da minha vida de novo. E aí, com
um ano, ela mesmo se desinteressou e eu deixei também, porque eu também não entrei
nessa, tipo, muita gente falou assim: “- ah, não, mas tenta mais um pouquinho, porque
quanto mais você der, melhor”, eu falei: “ela não quer, ela tá comendo? Acabou”, entendeu.
Eu acho que eu fiz até, foi até além do que eu esperava, entendeu. E ela se desinteressou,
acabou. E ela entrou numa rotina normal, entendeu, e a minha vida...
I: E você queria amamentar por quê?
N: Eu queria amamentar porque eu achava que era o mais saudável, que era o melhor, que
o leite da mãe, eu tinha tudo isso eu aceitei como, quer dizer “o seu leite é feito pro seu
filho”, eu achava isso mesmo, quer dizer, não há nada melhor do que ele mamar no seu
peito, é tudo, pronto, na temperatura, eu comprei tudo isso, pra mim é isso mesmo, eu