Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
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no meu peito e ela mamou. Ela mamou. Ela já pegou o peito. Não teve aquele problema que muita mãe encontra, sabe, assim, muita mãe fala assim: “- ah, mas a criança não puxou, não teve força, aí, e chorou muito, dois dias”. Eu não tive nada disso. A Clara, ela foi lá, fez rapidinho, pegou... I: Não doeu nada? N: Na hora eu não senti absolutamente nada. Foi tudo bem. Ela começou a mamar. E até eu dei de mamar ao longo do dia, só que como eu passei muito mal, eu mandei ela pro berçário, eu não fiquei com ela à noite. E aí ela voltou no dia seguinte e continuou mamando. Quer dizer, claro que no berçário eles dão. Mas isso também é outra história, porque você vive um terror incrível, todo mundo fala: “- não deixa ir pro berçário”. A minha irmã falava muito: “olha, deixa eu dormir com você, porque se vão dar mamadeira, e ela não vai querer pegar o seu peito”. Então, não aconteceu nada disso comigo, porque ela foi pro berçário, voltou, mamou e pegou sempre no peito, não teve problema nenhum. O problema que eu tive foi exatamente depois que eu fui pra casa, que aí ela começou a mamar, eu passei a dar direto, e com, sei lá, com uma semana, talvez uma semana, nem tudo isso, não, acho que nem tudo isso, mas, não me lembro ao certo, mas o peito começou a ferir, ele começou a rachar, ele começou, entendeu, a ficar machucado mesmo. E aí era muita dor pra amamentar. I: E você tava dando só o leite? N: Eu tava dando só o peito. Eu tava naquela política do peito. Mas eu tava assim, aquele quadro: operada, sem dormir, quer dizer, dormindo pouco, não é sem dormir, mas é aquela coisa pingada. I: E você tinha alguém que tava te ajudando? N: Meu marido tirou férias e ficou comigo, entendeu. Ele me ajudou bastante, assim, no que dava. Mas o que quê acontece é que sobra muito pra mulher, sabe. Então, quer dizer, é você quem tem que dar o peito, né, você tem que acordar, quer dizer, você tem que fazer. E eu fui levando desse jeito, com dor, eu dava com dor mesmo, entendeu, e começou a sangrar, e lavava, e aí, passava aquela pomada, acho que é Macê, e tome de passar e depois lava com água, não sei que, e põe, aquela coisa, então, quando foi assim, acho que com uma semana, eu liguei pra médica e falei: “olha, tá dificílimo, porque eu tô com peito assim, ela mamando toda hora, sabe, de duas em duas horas”, ela: “- Ah, mas criança pequena é assim mesmo”. Eu falei: “mas eu não tô agüentando, eu não tô agüentando”, falei: “dá um leite pra ela”, ela: “- ah, mas esse leite, você só pode dar em último caso. Eu não quero que você fique dando leite, porque você tem que agüentar, porque é assim mesmo”. Puxa, eu fiquei desesperada, porque eu já tava chorando pra caramba, porque com dor, sem dormir, e ela, na verdade, ela até, quer dizer, ela até tava me dando, eu acho que é um pouco a política de alguns médicos, essa coisa de não dar espaço pra mãe se acomodar, mas eu, eu tava apavorada, entendeu, assim, não com medo da coisa, eu queria fazer, mas pô: sem dormir, operada, sentindo dor, quer dizer, ficou muito ruim. E olha que eu, assim, me considerava muito preparada, mas aquilo me, sabe, pô, aquilo ficou complicado pra mim, e aí, tudo bem, eu continuei... I: Mas aí ela falou isso, pra você não dar o leite? N: Não, ela falou “- dá o leite, mas, assim, em último caso. Eu quero que você dê à noite, de madrugada. Eu não quero que você fique dando”. Ela falou: “- Eu quero que você dê como complemento. Então você vai dar assim: só se você não agüentar que você vai dar uma mamadeira inteira, senão, você dá um pouquinho do seu peito, se não agüentar, por causa da dor, passa pra ela”. E aí, no final das contas eu nem fiz, porque aí eu fiquei com
isso na cabeça de que eu tinha que vencer aquilo, que você vê como é que a coisa é tão complicada, que por mais que eu tenha pedido a ela, na hora, eu falei: “não, eu tenho que agüentar”. Então, e pro peito, ela me falou, eu falei: “mas o peito tá ferido e tal”, ela falou:”- passa o, põe mamão, casa de mamão”. E eu usei casca de mamão e foi o que realmente cicatrizou rapidamente, foi o que me ajudou. Porque aliviando a dor, você começa a administrar a situação, porque eu acho que é uma situação muito caótica no início, entendeu: que é isso, do seu corpo diferente, você tem que obedecer a coisas que não são do seu controle... I: Tem que administrar também a família, o marido... N: Tudo. As pessoas todas falam, todas elas contam..., sabe. Então, era assim, eu queria amamentar, mas a situação era muito adversa, entendeu, porque você vai ficando sufocada, eu comecei a ficar angustiada com aquilo, porque, tipo assim, ela começou a ter cólica. Quer dizer, eu saí da fase da ferida do peito, ela entrou na cólica. Quer dizer, passou uma semana, as coisas começaram a aparecer um pouquinho melhor, aí veio a cólica. Aí ... I: Ela já estava com duas semanas? N: Umas duas semanas, quinze dias aí começou a danada da cólica. E aí, começa aquele desespero: “- o que você tá comendo?, vê o que você tá fazendo, você não tá dando mamá direito”. Então, a sua vida vira assim, sabe, é uma coisa esquisitíssima, eu não tinha controle, entendeu. Então, o que quê eu tô comendo? Então tira isso, eu fui tirando, fui tirando. “-Tira isso”. Daqui a pouco eu tava fazendo uma coisa super, sabe, controlável. E sem beber também muitas coisas. Bebida alcóolica não pode, refrigerante não pode, café não pode. Aí você fala assim: gente, você tá completamente limitada. Aí teve uma noite que eu passei mal, assim, fique super nervosa: acordei super ansiosa, taque-cardia, comecei a chorar, eu falei “gente”. Porque era assim: a mamada, aí tipo assim: duas horas. Mamou, põe pra dormir. E eu não conseguia dormir logo, porque eu nunca tive isso. Então o que quê acontecia: eu não dormia imediatamente, porque eu tava ligada, né, acordei. Aí todo mundo fala: “- ah, mas é assim mesmo, deita e dorme, você vai se acostumar”. Mas aquele ritmo não era normal pra mim. Então, quando eu começava a cochilar, ela acordava. Então, quer dizer, pô quinze dias eu já tava um zumbi, já, entendeu. Eu tava emocionalmente muito mexida, sabe. Eu pirada, porque dor, você tem que fazer curativo e limpar, aquele negócio torto e, então, eu comecei a chorar a ficar muito nervosa, e eu liguei pra minha ginecologista. I: Não a pediatra? N: Não, eu não liguei pra pediatra porque eu achei que ela deu o recado dela, entendeu. Porque a pediatra, eu entendi assim: ela tava preocupada com a Clara. Claro que ela tava preocupada comigo, mas o que ela colocou pra mim foi o seguinte: “- eu quero saber da Clara. Você tem que agüentar!”. Foi a frase dela pra mim. I: E a pediatra chegou a te ensinar a abocanhadura? N: Ela me ensinou lá no próprio hospital. O hospital foi ótimo, as enfermeiras maravilhosas, elas foram muito legais. Até fralda, quando eu vi aquela primeira fralda de cocô, tudo preto, que era do mecônio, aquele negócio do coco mais a placenta, elas me explicaram tudo. “- Faz assim, faz assado”. Então, até que eu tive uma saída muito boa, sabe, no peito. A própria médica mesmo, sabe. Mas eu não tive muito isso, porque a Clara fez o serviço. Eu não me preocupei muito com ela não, ela fazia. Eu botava ela aqui, ela já pegava e mamava. Eu não tive esse problema com isso. Mas eu sei que eu falei com a ginecologista, e ela, ela teve compaixão, ela foi importantíssima, porque quando eu contei pra ela: “ah, eu tô assim”. Imagina, ela deve ouvir aquilo todos os dias. Mas ela falou
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no meu peito e ela mamou. Ela mamou. Ela já pegou o peito. Não teve aquele problema que<br />
muita mãe encontra, sabe, assim, muita mãe fala assim: “- ah, mas a criança não puxou, não<br />
teve força, aí, e chorou muito, dois dias”. Eu não tive nada disso. A Clara, ela foi lá, fez<br />
rapidinho, pegou...<br />
I: Não doeu nada?<br />
N: Na hora eu não senti absolutamente nada. Foi tudo bem. Ela começou a mamar. E até eu<br />
<strong>de</strong>i <strong>de</strong> mamar ao longo do dia, só que como eu passei muito mal, eu man<strong>de</strong>i ela pro<br />
berçário, eu não fiquei com ela à noite. E aí ela voltou no dia seguinte e continuou<br />
mamando. Quer dizer, claro que no berçário eles dão. Mas isso também é outra história,<br />
porque você vive um terror incrível, todo mundo fala: “- não <strong>de</strong>ixa ir pro berçário”. A<br />
minha irmã falava muito: “olha, <strong>de</strong>ixa eu dormir com você, porque se vão dar mama<strong>de</strong>ira, e<br />
ela não vai querer pegar o seu peito”. Então, não aconteceu nada disso comigo, porque ela<br />
foi pro berçário, voltou, mamou e pegou sempre no peito, não teve problema nenhum. O<br />
problema que eu tive foi exatamente <strong>de</strong>pois que eu fui pra casa, que aí ela começou a<br />
mamar, eu passei a dar direto, e com, sei lá, com uma semana, talvez uma semana, nem<br />
tudo isso, não, acho que nem tudo isso, mas, não me lembro ao certo, mas o peito começou<br />
a ferir, ele começou a rachar, ele começou, enten<strong>de</strong>u, a ficar machucado mesmo. E aí era<br />
muita dor pra amamentar.<br />
I: E você tava dando só o leite?<br />
N: Eu tava dando só o peito. Eu tava naquela política do peito. Mas eu tava assim, aquele<br />
quadro: operada, sem dormir, quer dizer, dormindo pouco, não é sem dormir, mas é aquela<br />
coisa pingada.<br />
I: E você tinha alguém que tava te ajudando?<br />
N: Meu marido tirou férias e ficou comigo, enten<strong>de</strong>u. Ele me ajudou bastante, assim, no<br />
que dava. Mas o que quê acontece é que sobra muito pra mulher, sabe. Então, quer dizer, é<br />
você quem tem que dar o peito, né, você tem que acordar, quer dizer, você tem que fazer. E<br />
eu fui levando <strong>de</strong>sse jeito, com dor, eu dava com dor mesmo, enten<strong>de</strong>u, e começou a<br />
sangrar, e lavava, e aí, passava aquela pomada, acho que é Macê, e tome <strong>de</strong> passar e <strong>de</strong>pois<br />
lava com água, não sei que, e põe, aquela coisa, então, quando foi assim, acho que com<br />
uma semana, eu liguei pra médica e falei: “olha, tá dificílimo, porque eu tô com peito<br />
assim, ela mamando toda hora, sabe, <strong>de</strong> duas em duas horas”, ela: “- Ah, mas criança<br />
pequena é assim mesmo”. Eu falei: “mas eu não tô agüentando, eu não tô agüentando”,<br />
falei: “dá um leite pra ela”, ela: “- ah, mas esse leite, você só po<strong>de</strong> dar em último caso. Eu<br />
não quero que você fique dando leite, porque você tem que agüentar, porque é assim<br />
mesmo”. Puxa, eu fiquei <strong>de</strong>sesperada, porque eu já tava chorando pra caramba, porque com<br />
dor, sem dormir, e ela, na verda<strong>de</strong>, ela até, quer dizer, ela até tava me dando, eu acho que é<br />
um pouco a política <strong>de</strong> alguns médicos, essa coisa <strong>de</strong> não dar espaço pra mãe se acomodar,<br />
mas eu, eu tava apavorada, enten<strong>de</strong>u, assim, não com medo da coisa, eu queria fazer, mas<br />
pô: sem dormir, operada, sentindo dor, quer dizer, ficou muito ruim. E olha que eu, assim,<br />
me consi<strong>de</strong>rava muito preparada, mas aquilo me, sabe, pô, aquilo ficou complicado pra<br />
mim, e aí, tudo bem, eu continuei...<br />
I: Mas aí ela falou isso, pra você não dar o leite?<br />
N: Não, ela falou “- dá o leite, mas, assim, em último caso. Eu quero que você dê à noite,<br />
<strong>de</strong> madrugada. Eu não quero que você fique dando”. Ela falou: “- Eu quero que você dê<br />
como complemento. Então você vai dar assim: só se você não agüentar que você vai dar<br />
uma mama<strong>de</strong>ira inteira, senão, você dá um pouquinho do seu peito, se não agüentar, por<br />
causa da dor, passa pra ela”. E aí, no final das contas eu nem fiz, porque aí eu fiquei com