Iana Sudo MEDICALIZAÃÃO DAS MULHERES - Instituto de ...
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M: Que cada pessoa é de um jeito. B: É, mas que era normal aquilo que eu tava sentido. Além de todo problema psicológico que eu tava enfrentando, emocional, não sei como é que chama, com o meu marido de bronca dele, também tinha aquilo da outra também não tava enfrentando aquilo, mas que também não tinha tesão, que era até uma questão hormonal também, né. Então, isso pra mim foi um alívio, foi o maior alívio, aí que eu: “porra, que merda, que bom”. M: Esses grupos de mútua-ajuda são muitos bons pra isso, você se sente acompanhada, não se sente sozinha no seu problema. B: Então, eu acho que isso, muitas vezes, no grupo, quando a gente aborda, você pode não ter a pretensão: “olha, você tem que procurar uma terapia, pra você trabalhar essa questão sua com o peito”, porque eu acho que isso é delicado, mas só o fato de eu falar isso, ela já, per aí, eu sempre tenho o cuidado, quando eu falar, falar da minha experiência. Eu, por exemplo, eu sempre falo: “ai, eu vi que eu não tava com tesão, e que aquilo não era normal, então eu vi que com a outra também acontecia isso, então eu comecei a ver que, eu não era um problema, eu tava vivendo uma experiência que podia ser normal, que eu não era diferente. Então, isso daí, já passa pra outra: “opa, então, eu também não sou”. Então, ela mesma, aí eu posso falar, não foi o meu caso, mas: “ah, eu procurei ajuda, aí fui procurar ajuda de uma terapeuta”, legal, ótimo, foi procurar ajuda. Isso que eu acho legal, no grupo, surgir, essas coisas e até de a gente mostrar isso, de a gente falar. Hoje, no grupo, quando eu vivenciei isso com essa mulher. Não foi uma vez não. Uma foi dentro do grupo, outra com a minha vizinha, que ela na época, o filho nasceu, e ela não tava amamentando. Ela pegou, me chamou pra ir, eu fui. Eu to tentando: “mas pega daqui”. Ela não tinha jeito, sabe: “ai, não”. Mas, uma hora eu perguntei assim pra ela: “ah, não eu não gosto que toquem no peito”, eu falei assim: “ah, cê ta de brincadeira, mas até que você gostava”, ela falou: “Bia, nunca o meu marido tocou no meu peito”. Olha, quando ela falou aquilo, eu até gelei. Aí, eu peguei, falei assim: “jura, mas você não gosta?”, ela falou assim: “não, não gosto. Eu não gosto que toquem”. Aí que eu entendi:”então, ta vendo, então, pára, calma. O problema, ce ta vendo, não é a sua amamentação, o problema ta aí, mas não se sinta também diferente”. Aí, que eu também acho legal a gente falar: “você pode ser mãe, pra ser mãe, pra ser uma mãe legal, você não tem que amamentar, sabe. Mãe é uma coisa que engloba muito mais coisa do que isso. Eu posso muito bem ser uma mãe maravilhosa, entendeu, que ser mãe é amor, e amor, amamentação é apenas uma das formas de amor. Mas você tem muitas outras formas de amor”. Que eu também já vi mãe amamentando, pó, puta da vida. Então, também qual o valor que tem? Agora, não sou eu que vou julgar aqui, não é mesmo. Ela quem tem que saber. Agora, que eu acho que eu tenho que dar apoio e mostrar que ela vai ser mãe, ela pode ser mãe de todas as formas, e a forma mais importante, que eu acho, assim, que que quer dizer uma boa maternidade? Quando você dar amor, e amor você dá de trilhões de formas. I: Agora, vocês acham que os médicos, eles estão com esse escuta atenta pra esse problema, em relação específica, com o corpo? B: Olha, eu acho que são poucos... M: Eu acho que são poucos. B: Primeiro, até porque aí entra talvez, até uma questão de tempo, sei lá, a forma como eles também já são formados, a cultura: que o cara tem que atender, tem que isso, tem que aquilo. Então, eles não estão querendo perder tempo, ficar escutando leléia, ou, sabe, como é, que isso demanda tempo. Você começa a conversar, você vê ali, quando eu começo a atender uma mulher, às vezes, eu fico 40 minutos escutando a conversa ali, qual o pediatra
que vai ter esse saco, ali, dentro do consultório, com o negócio de plano de saúde, com 300, ali, pra ele, ele já fica assim: “ah, ta. Deixa eu ver: como é que é: ta amamentando? Não? Por que? A senhora ta com pouco leite? Bom, então você vai fazer o seguinte: você vai dar o peito, ta, depois, se achar que não está sustentado... M: Eles são técnicos, né B: Eu sei, às vezes, agora, tem aqueles que estão sensibilizados, depende... M: O que eu acho que é uma grande esperança, na rede pública, é esse programa que tem aí no governo de humanização: Nascimento e parto humanizado. O atendimento mesmo humanizado na área de saúde, que aí entre esse programa da família. Isso aí é que eu acho que pode mudar a postura do profissional de saúde, do médico, não só em relação à amamentação, mas em tudo, entendeu. Por que o que que acontece? Os médicos, em geral, mal sabem o nome da paciente. Sabe porque ta escrito ali. Ele não sabe absolutamente nada, não sabe como é que ta a casa dela, sabe. Isso que a Bia falou, que aqui, perde, fica 40 minutos conversando, ou num grupo,né, a pessoa tem aquela atenção. O médico, ta ali, ele tem que atender não sei quantas pessoas, ele não está sensibilizado pra isso. Isso, eu acho, se pretende que se mude, eu acho que já ta acontecendo isso na rede pública. Agora, nos consultórios, a gente nunca sabe o que rola, realmente, é difícil, no consultório. Eu não sei. Eu acho que tem que fazer como eu fiz: eu trabalhava na empresa e tinha o catálogo dos credenciados, aí eu fui ver, aí eu tava lendo uma revista que ta dizendo que o pediatra tal, o doutor Fabel(?), por exemplo, incentivava a amamentação. Eu li um livro que tinha uma coisa lá que ele escreveu. Fui no catálogo dos credenciados da empresa que eu trabalhava, tava lá, dr. Fabel (?): “ah, vou nele”, entendeu. Mesmo que ele não tivesse credenciado, eu ia de qualquer jeito, porque eu tava disposta a amamentar, e eu precisava de um pediatra que apoiasse, que eu já tinha levado meu filho a outros pediatras, depois eu levei num outro: “ué, mas ainda não está tomando mamadeira, o leite tal?”. Então, depende, a mulher, ela tem que escolher, se ela puder escolher o obstetra, se ela puder escolher o pediatra, entendeu, que esteja, mais ou menos, alguns anos, há vinte anos atrás, isso era mais difícil de você encontrar. Hoje, já está mais fácil, mas não se pode dizer. Porque esse trabalho tem que partir também das universidades, que formas esses médicos. Então, eu acredito, que essa coisa já esteja acontecendo, porque esse programa do governo ta ligado também as universidades, a educação. Eu fico mais temerosa desses pediatras mais antigos, por incrível que pareça. As pessoas vão procurar porque tem experiência, tudo mais, esses, se não fizerem reciclagem do conhecimento deles, porque muitos não fazem mesmo, quantos tavam lá no congresso de amamentação e banco de leite? Nenhum. Não vão. Então, esses, se não tiverem disposição de ir, porque é uma mudança de mentalidade também, não só do saber deles, universitário, que tem que também ser reformulado, mas uma mudança de mentalidades deles também, porque eles também vieram de mães, ou tiveram suas esposas que também não amamentaram, no meio onde viveram, entendeu, eu, por exemplo, levei meu filho num pediatra, que ele era da maternidade Praça XV, que ele incentivava a amamentação. Eu até esqueci o nome dele. E ele, tinha a mulher dele que era médica, ele teve dois filhos, e ele falou pra mim, numa consulta com o meu filho: “ai que bom que você conseguiu amamentar seu filho, ou você ta amamentando”, uma coisa assim, “a minha mulher, ela não conseguiu, ela não quis, ela queria logo,voltar a trabalhar, ela queria as atividades dela”. Uma pessoa voltada, tem muitas mulheres ligadas ao mercado de trabalho, sabe, elas têm o filho, mas elas não querem dividir, a vida delas profissionais, o que elas têm fora, com essa coisa.
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que vai ter esse saco, ali, <strong>de</strong>ntro do consultório, com o negócio <strong>de</strong> plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com 300,<br />
ali, pra ele, ele já fica assim: “ah, ta. Deixa eu ver: como é que é: ta amamentando? Não?<br />
Por que? A senhora ta com pouco leite? Bom, então você vai fazer o seguinte: você vai dar<br />
o peito, ta, <strong>de</strong>pois, se achar que não está sustentado...<br />
M: Eles são técnicos, né<br />
B: Eu sei, às vezes, agora, tem aqueles que estão sensibilizados, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>...<br />
M: O que eu acho que é uma gran<strong>de</strong> esperança, na re<strong>de</strong> pública, é esse programa que tem aí<br />
no governo <strong>de</strong> humanização: Nascimento e parto humanizado. O atendimento mesmo<br />
humanizado na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que aí entre esse programa da família. Isso aí é que eu acho<br />
que po<strong>de</strong> mudar a postura do profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, do médico, não só em relação à<br />
amamentação, mas em tudo, enten<strong>de</strong>u. Por que o que que acontece? Os médicos, em geral,<br />
mal sabem o nome da paciente. Sabe porque ta escrito ali. Ele não sabe absolutamente<br />
nada, não sabe como é que ta a casa <strong>de</strong>la, sabe. Isso que a Bia falou, que aqui, per<strong>de</strong>, fica<br />
40 minutos conversando, ou num grupo,né, a pessoa tem aquela atenção. O médico, ta ali,<br />
ele tem que aten<strong>de</strong>r não sei quantas pessoas, ele não está sensibilizado pra isso. Isso, eu<br />
acho, se preten<strong>de</strong> que se mu<strong>de</strong>, eu acho que já ta acontecendo isso na re<strong>de</strong> pública. Agora,<br />
nos consultórios, a gente nunca sabe o que rola, realmente, é difícil, no consultório. Eu não<br />
sei. Eu acho que tem que fazer como eu fiz: eu trabalhava na empresa e tinha o catálogo<br />
dos cre<strong>de</strong>nciados, aí eu fui ver, aí eu tava lendo uma revista que ta dizendo que o pediatra<br />
tal, o doutor Fabel(?), por exemplo, incentivava a amamentação. Eu li um livro que tinha<br />
uma coisa lá que ele escreveu. Fui no catálogo dos cre<strong>de</strong>nciados da empresa que eu<br />
trabalhava, tava lá, dr. Fabel (?): “ah, vou nele”, enten<strong>de</strong>u. Mesmo que ele não tivesse<br />
cre<strong>de</strong>nciado, eu ia <strong>de</strong> qualquer jeito, porque eu tava disposta a amamentar, e eu precisava<br />
<strong>de</strong> um pediatra que apoiasse, que eu já tinha levado meu filho a outros pediatras, <strong>de</strong>pois eu<br />
levei num outro: “ué, mas ainda não está tomando mama<strong>de</strong>ira, o leite tal?”. Então, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>,<br />
a mulher, ela tem que escolher, se ela pu<strong>de</strong>r escolher o obstetra, se ela pu<strong>de</strong>r escolher o<br />
pediatra, enten<strong>de</strong>u, que esteja, mais ou menos, alguns anos, há vinte anos atrás, isso era<br />
mais difícil <strong>de</strong> você encontrar. Hoje, já está mais fácil, mas não se po<strong>de</strong> dizer. Porque esse<br />
trabalho tem que partir também das universida<strong>de</strong>s, que formas esses médicos. Então, eu<br />
acredito, que essa coisa já esteja acontecendo, porque esse programa do governo ta ligado<br />
também as universida<strong>de</strong>s, a educação. Eu fico mais temerosa <strong>de</strong>sses pediatras mais antigos,<br />
por incrível que pareça. As pessoas vão procurar porque tem experiência, tudo mais, esses,<br />
se não fizerem reciclagem do conhecimento <strong>de</strong>les, porque muitos não fazem mesmo,<br />
quantos tavam lá no congresso <strong>de</strong> amamentação e banco <strong>de</strong> leite? Nenhum. Não vão. Então,<br />
esses, se não tiverem disposição <strong>de</strong> ir, porque é uma mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong> também, não<br />
só do saber <strong>de</strong>les, universitário, que tem que também ser reformulado, mas uma mudança<br />
<strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>les também, porque eles também vieram <strong>de</strong> mães, ou tiveram suas<br />
esposas que também não amamentaram, no meio on<strong>de</strong> viveram, enten<strong>de</strong>u, eu, por exemplo,<br />
levei meu filho num pediatra, que ele era da maternida<strong>de</strong> Praça XV, que ele incentivava a<br />
amamentação. Eu até esqueci o nome <strong>de</strong>le. E ele, tinha a mulher <strong>de</strong>le que era médica, ele<br />
teve dois filhos, e ele falou pra mim, numa consulta com o meu filho: “ai que bom que você<br />
conseguiu amamentar seu filho, ou você ta amamentando”, uma coisa assim, “a minha<br />
mulher, ela não conseguiu, ela não quis, ela queria logo,voltar a trabalhar, ela queria as<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>la”. Uma pessoa voltada, tem muitas mulheres ligadas ao mercado <strong>de</strong> trabalho,<br />
sabe, elas têm o filho, mas elas não querem dividir, a vida <strong>de</strong>las profissionais, o que elas<br />
têm fora, com essa coisa.