Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

B: Claro.
M: Será que seria possível, por exemplo, ser uma Amiga do Peito, que não tenha
conseguido, por exemplo, amamentar, é possível?
B: Pois é, então, isso tem até previsto dentro do nosso estatuto, por exemplo: eu acho que
isso é uma coisa pra você, até, eu acho que isso é uma coisa pra você analisar com uma
certa delicadeza, não é que você tem que excluir direto essa mulher, porque eu acho que até
de repente, essa experiência negativa dela, e como a gente já viu, e ela numa próxima
amamentação, ela superou aquela dificuldade da primeira e ta querendo se empenhar, e
ajudando outras pessoas. Eu acho que a experiência mesmo que tenha sido menor, vamos
supor: que não tenha sido exclusivamente seis meses.
M: Ou amamentou o primeiro mês só.
B: É, mas eu acho que a experiência de amamentar é uma coisa importante também,
porque, dela falar isso, pra mãe, mesmo que tenha sido difícil, com complemento, com isso,
com aquilo, mas o fato de ela ter amamentado, de essa criança ter vindo ao peito e
amamentado, é muito importante, isso é muito significativo pras outras mães, porque senão
essa mãe, que também chegou nem a amamentar, teve uma experiência negativa, tudo bem,
na hora que a outra ali, ta passando pela negativa do mesmo jeito que ela, e que fala assim:
“mas como é que você ta falando pra mim, se você não fez?”. Isso pesa. Então, eu acho
assim, que você não pode excluir direto. Vamos supor: amanhã, eu quero ser Amiga do
Peito, mas eu não tive, eu não consegui, nem amamentar nada, por exemplo. Eu acho que
ela tem que ser aceita, que ela tem que ser, que ela tem que passar por um período assim, de
acompanhar e de ver e, de repente, é, ela até falar dessa experiência dela, por exemplo, no
grupo, ela não pode coordenar sozinha, vamos supor, um grupo. Não pode, como, até o
ideal nosso é nunca o de uma coordenar sozinha, é sempre o de ter uma dupla, né, por quê?
Eu posso falar da minha experiência, mas você tem um outro tipo de experiência que é
importante ou até pra você me cutucar ali: “olha, Bia, eu acho que pode ser”, às vezes você
nem pode falar de cara, às vezes eu to sendo um pouco assim, incisiva, você: “não, olha,
mas aí pode ter um outro jeitinho aqui, esse outro caminho”. Então, é importante. Eu acho
que fica assim, difícil pra uma mãe que nunca tenha amamentado, ela, ela peitar um grupo,
ali de mulheres.
M: É, porque tem que peitar mesmo.
B: Sabe, quando, mas ela não pode ser totalmente excluída, eu acho que ela, tem que ser
dado uma oportunidade a essa mãe. Como tem, entre nós, Amigas do Peito, por exemplo, a
maioria de nós, no início, das Amigas do Peito, a Carolina mesmo, ela não chegou a
amamentar exclusivamente até o sexto mês. Primeiro, eu não já tinha dado suquinho, com
dois meses, essa coisa toda.
M: Eu pensava que eu tinha amamentado o João exclusivamente até o sexo mês: não
tomava água, não tomava suco, mas no início já tinha tomado.
B: Então, quer dizer, as Amigas do Peito, nós não nascemos desse jeito mesmo, assim,
porque a gente já tava naquele meio, naquela confusão, dava isso, aquilo que todo mundo
falou. Agora, a partir daquela experiência, a segunda, a Flávia mamou exclusivamente até
quase os oito meses. Então, foi forte pra mim, aquela minha insegurança com a Fernanda.
M: É, você deu uma boa compensada aí,né.
B: Foi. Pois é, então, então, eu acho assim. A gente, enquanto Amiga do Peito, a gente não
pode excluir ninguém. Eu acho que todas essas pessoas, elas têm um valor impressionante,
mesmo aquela que nem é mãe, de vir, quantas pessoas que não são nem mães e que a gente
vê que ta defendendo a amamentação, até de dar o apoio, tão importante, ela ta ali: “não,