Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

questão, isso foi mais recente, noventa e pouco, na década de 90. era uma mãe que
participava do grupo aqui de Botafogo, e aí ela mudou pra Brasília. Então ela quis levar o
grupo. E nós na época falamos: “Marisa, isso não vai dar certo. É melhor fazer um grupo lá
com outro nome, porque a gente não vai ter esse contato, a gente não tem...”, “ah, não”,
mas ela se comprometeu, porque isso no estatuto: que tem que ter contato aqui, com a sede,
tem que ter isso e aquilo, vir aqui uma vez por mês, sei lá.
M: É, participar das reuniões.
B: Como é que você, num país continental como esse, dá pra fazer. É difícil, né.
M: Agora, até com que a internet, de repente.
B: Bom, pois é. Mas, pra você ver. Mesmo com internet, ela se comprometeu que ia
mandar as atas, que ia estar sempre em contato, saber o que que é que a gente ta fazendo.
Começou muito bem, os primeiros meses, depois foi perdendo, e a gente: “ta, ta bom,
cadê?”. Aí, já tava assim, ela também é psicóloga. Aí, a gente vendo que tava misturado,
por exemplo, as reuniões de mães já tavam dentro do consultório dela, sabe. Então, era ela
com uma outra profissional, como se fosse uma clínica. Então, ali, é que fazia as reuniões.
M: Não pode.
B: Então, começa a misturar muito as coisas. Não é que as Amigas do Peito, a gente ache
que o profissional não pode, o profissional, tá dentro do trabalho dele.
M: É como se as Amigas do Peito não fizesse parte de nenhum partido político, é super
partidária.
B: É claro, é superpartidária.
M: Na área de saúde.
B: Exato.
M: É suprasaúde.
B: Exato, mas é verdade.
M: Faz parte.
B: mas é isso. Porque a gente não quer, o que por exemplo, o que que a gente sempre viu: o
profissional de saúde, ele é importantíssimo dentro do trabalho dele, e, se nós, como mães,
a gente vê isso nos grupos: quando aquela mãe é apoiada, já dentro da maternidade, pelo
próprio pediatra, pela enfermeira, que ta lá, aquela que começa ali, dentro da maternidade, a
dar as orientações pra ela, essa mãe, quando ela sai dali daquela maternidade bem
orientada, bem apoiada, cabe às Amigas do Peito, aquele outro suporte do lado de cá. Mas,
essa mãe, ela já vem com toda aquela, sabe, com aquela carga de apoio, sabe, igual ao caso
da própria Denise, que teve, ela falou: “não,eu procurei porque aí o meu pediatra me
orientou, porque me deu força, porque eu também já tinha vivido aquela experiência, o que,
agora eu tô amparada, eu quero vir aqui pra poder ajudar outras mães”. Então, cada um tem
o seu papel, né. Por isso que a gente fala que a amamentação, não é do âmbito, ela não tem
o “ah, ou e as Amigas do Peito que podem falar”, Não. Todos podem falar de
amamentação. É responsabilidade de todos, tanto da pessoa da área de saúde, quanto da
pessoa da área de educação que ´eu uma coisa que a gente sempre acreditou,né. Nós, até
sempre acreditamos que a amamentação é uma questão cultural, antes d ser um problema
de saúde.
M: Uma coisa que eu tinha vontade de perguntar, pra ser uma Amiga do Peito, pra
trabalhar como Amiga do Peito, ela teria que passar por essa experiência, né, da
amamentação?
B: Sim.
M: Mas, nem sempre a experiência da amamentação é uma coisa bem sucedida.