Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

assim, depois dos quase oito primeiros anos de Amigas do Peito, foi esse boom, essa coisa,
assim, né, oito, dez primeiros anos, depois, sabe, acho que também já foi coincidindo com a
situação do país. Tudo eu acho que tem, tudo como eu acho que, tudo no mundo mesmo,
você sofre influência daqui e dali. Você vê: o país foi entrando numa, num problema difícil,
também econômico, de segurança, né. Aí começou também de repente, sabe, a também,
uma outra coisa que a gente vivenciou naquela época, eu acho que é importante, aquela
coisa, do mesmo jeito que foi liberando tudo, começou o movimento feminista, né, tava
também o movimento feminista. E a gente foi muito criticada no início, sabe pelo
movimento feminista e também por psicólogos.
I: Mas eles falavam o que?
B: Por exemplo: os psicólogos, porque a gente tava falando desde o início em
amamentação exclusiva e amamentação pra mais de um ano você vê. Aí, começaram, os
psicólogos: “ah, não, isso daí é muito sério, muito problemático. Isso cria dependência, de
forma alguma”. Tanto que começaram a chamar a gente, muitas pessoas chamavam a gente
de radical, de Xiita (grupo islâmico, conhecido pelo radicalismo em suas posições
religiosas). Outro dia mesmo, eu atendi uma mãe aqui, sabe quem foi, aliás, ela foi no
grupo da Tijuca, Denise. Lembra, a Denise, aquela que tava ali toda tranqüila, que tava indo
no grupo, que ela queria ajudar e tudo. A Denisa, ela no dia que ligou, ela falou: “oi, já é o
meu segundo filho, mas eu me lembro, porque na primeira vez eu até nem procurei vocês
porque me falavam que vocês eram muito xiitas, muito radicais com esse negócio, que pra
participar das Amigas do Peito, só tinha que amamentar exclusivamente...”.
M: A minha obstetra, a Lílian Mei, me falava isso: “se você quiser pode procurar as
Amigas do Peito, mas elas são muito radicais”.
B: Então, você vê, e a Lilian Mei é uma pessoa que a gente tem assim na maior...
M: Mas, ela, já naquela época, ela já falava, indicava pra dar chazinho de erva-doce.
B: pra você ver, então, ela...
M: Ela fazia um monte de bobagem.
B: E ela já, era já uma das exceções, na época, assim...
M: Era, por isso eu procurei ela.
B: ela via o parto humanizado.
M: Que ela faz esse parto assim. Na verdade, era mais uma capa do que propriamente...
B: Mas,nós ficamos com essa idéia de Xiitas. E, de repente, pode até ter sido importante.
Eu não sei. Que tem uma outra Amiga do Peito antiga, que já não ta, a Miriam, que quando
ela é criticada, ela falava assim: “mas, olha, pra você mudar as coisas, você tem que ter
hora ser radical, você ta num discurso...”.
M: É verdade.
I: E os médicos falavam alguma coisa pra vocês?
B: Pois é. Tinham aqueles que apoiavam e já tinham aqueles que não apoiavam. Tinham os
que apoiavam, igual ao Dias Rego, que foi o primeiro. O próprio Marcus Renato, que foi,
uma das coisas que chamou a atenção dele foi exatamente essa postura das Amigas do
Peito, né. Então, a gente, já tava tendo um respaldo daqueles que tavam interessados na
amamentação, sabe, de trabalhar, de conhecer o nosso trabalho, tanto que eles nos
convidavam. Por exemplo, a gente era figurinha mais do que fácil, na Praça XV (hospital).
Virava e mexia, nós távamos na Praça XV fazendo palestra. Inclusive, tinha a Maria
Helena, é uma pessoa maravilhosa que fazia parte da maternidade, da área de psicologia
mesmo.
M: A Maria Helena é uma negra?