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03.09.2014 Views

salário maravilhoso, na época, e eu abri mão disso por quê? Porque eu pude abrir, na ocasião, a situação econômica do país me favorecia, eu já tinha o meu apartamento, né. Então, quer dizer, foi uma coisa de comum acordo, eu e meu marido e tudo, sabe. Eu, hoje, eu sei , eu tenho isso como uma missão minha, né, porque eu acredito, então, eu tenho, eu senti que uma força me conduzia pra esse caminho, e tanto que isso nunca foi transtorno para a minha vida. Então, bom, aí, daí nós começamos, várias pessoas se engajaram, começou a abrir, então: “ah, vamos abrir outro grupo aqui”, aí, nós começamos a ver a necessidade de sair de dentro dos apartamentos, porque os apartamentos era uma coisa que ainda tinha aquele caráter fechado e inibiam as pessoas. I: E, nessas reuniões iniciais, vocês falavam sobre o que? B: É, que nem a gente fala até hoje nos grupo: “mas, o que que ta difícil pra você?”. Não tem nada de diferente, porque a gente fala dos anseios de qualquer mulher que ta passando aquela dificuldade. Então, do mesmo jeito que você chega hoje num grupo, igual tem lá, o da Tijuca, que: “ai, meu Deus, mas a minha não dorme, chora a noite inteira, eu não sei mais o que fazer. Eu fico o dia inteiro pendurada com essa menina no peito”, não é. Então, também não tem nada de difícil, né, de diferente, né, assim. Então, era isso. Todo mundo, a gente tava ali, tendo algum problema, tendo alguma dificuldade, né, e foi assim que os grupos começaram a expandir. Aí, a gente sentiu a necessidade de sair de dentro dos apartamentos porque era uma coisa que a gente sentia que limitava, algumas pessoas podiam ficar assim: “mas, como é que eu vou lá,nesse apartamento e tal”. E, sabe, a gente queria e muita gente: “aí, eu quero abrir um grupo aqui, quero abrir um grupo ali, né. Então,nós, aí que começamos o grupo, teve logo grupos vários grupos. Tem ali, a história toda dos grupos, né. Mas, grupos, por exemplo, começou, um grupo em Ipanema, ali na Petit Galerie, que era um negócio de balé, não sei o que. “ah, vem aqui Bibi, fazer um grupo aqui.” Então, fomos pra lá. Aí, de lá tinham, iam fazer um grupo no Vidigal, porque tinha uma das mães que tava freqüentando o grupo que morava no Vidigal, né. Ela, até não era, era até uma americana que morava lá no Vidigal, mas quis abrir, então, aí teve depois disso foi abrindo, tivemos um grupo em Bangu, que era até num Posto de...que aí começou as Amigas do Peito, ai sair no jornal, e a Bibi sempre com essa facilidade por causa da imprensa, e tinha uma pessoa, ente nós Amigas do Peito, que é essa que é avó, né, que é a Dalva Ventura, que ela já trabalhava nas Pais e Filhos (Revista especializada sobre criança). Eu acho que a Dalva foi uma pessoa muito importante, ela fez um trabalho muito importante, porque ela era redatora da Pais e Filhos, ela divulgou muito isso,n é, pelas Amigas e o trabalho das Amigas do Peito então, aí foi e a imprensa convidando, chamando é, a gente começou, então, a sair pras ruas, começamos a participar, tudo, por exemplo, vieram as passeatas, e Dia Internacional da Mulher (08 mar.) podia fazer passeata, e todo mundo queria ir pra passeata, ia pra passeata. Então, aí tem a história, você vê, tem uma foto linda, nós fomos capa de primeira página do Jornal do Brasil, né. Dia Internacional das Mulheres, tava lá. Quem tava abrindo a passeata? As Amigas do Peito com as crianças sendo carregadas, umas amamentando, entendeu, então, foi, eu acho assim, foi um momento que o país vivia um momento especial, foi aí que surgiram as Amigas do Peito. Tudo era especial, né. Então, os grupos começaram, né, trilhões de grupo, aquela coisa, né. E, depois daquele, e depois de alguns anos, daquele boom de coisas, daqui, ali, aí começou realmente, como qualquer processo, né, aí começou a bola abaixar: “per aí, vamos ver...”, aí que começou aquele negócio... a história das Amigas do Peito que era assim, umas pastas que tinha tudo, fotos. Outro dia eu procurei isso, eu não sei onde é que ta. Sabe, era umas pastas que nem essas, grandonas, assim...(Bia levanta-se e pega umas pastas com notícias

de jornais das Amigas do Peito). Eu tentei achar naquelas ali, mas não achei, não sei, sabe. Será que tão aí? Ta vendo, aqui, mas aqui ta, ta vendo, não ta dô início. Isso aqui, olha, foi 1984 (uma reportagem), ta vendo. Tem a história das Amigas. Aqui, a Maria Lúcia (outra coordenadora) M: Deixa eu ver. B: Com a Beatriz, olha só. Ta vendo. Quer dizer, a Maria Lúcia já chegou depois no grupo. Olha, isso é a gente numa das passeatas. O Globo (jornal), primeira página, ta vendo: a Regina Sarmento, a Maíra, essa Paula, outro dia nós encontramos com ela, ta vendo. Ali, 9 março de 1990. isso já foi em 90. a gente já tinha dez anos. Ta vendo. Olha, ah, o Paulo Pinheiro, quando a gente começou no Miguel Couto (hospital municipal). Aqui, a Bibi com a Maira, amamentando a Maira, ta vendo. Isso aqui, no dia da Mangueira, as Amigas do Peito, ta vendo, no morro da Mangueira. Aliás, não, na praça Afonso Pena (Tijuca), isso. Essa é a Malú, que é mãe de gêmeos, 1988. ta vendo, olha. Isso aqui tem, ta muito, mas tem umas outras fotos do início do grupo. Esse aqui, deixa eu ver quando foi isso, 1987. ah, isso é em Niterói. Aqui, a Dalva, aqui a Dalva que ta aqui com a Helena. A Dalva Ventura com a menina dela. I: Todas elas ainda estão nas Amigas do Peito? B: A Marilda já foi embora, ta em Barbacena, a Zilda, aqui deve ta só eu e a Zilda. I: Mas, aí Bia, aí você tava, aí baixou a bola, aí começaram a decidir quem ia tomar conta dos grupos... B: Olha, a gente numa outra passeata, ta vendo. Dia Internacional da Mulher. Mas olha só que confusão. Então, foi assim, assim que começou o grupo. Aí, nós começamos a ver, abaixou a bola, por quê? Quem que queria, quem que vai assumir? Porque tem aquela coisa do compromisso, você tem aquela empolgação, mas, agora, per aí, vamos tocar adiante, tem que assumir, tem que começar, convite daqui, dali, tem que fazer palestra pra maternidade Praça XV que já tinha um trabalho também, de amamentação, tava voltada pra isso, né. Então, nós começamos ver quem que ia assumir, quem que assumir. Aí, fizemos o registro. Registramos o grupo, já em 83 foi registrado esse grupo, né. E começamos a fazer todo o trabalho de processo de registro, marca, essa coisa toda. I: E como é que era pra ser uma Amiga do Peito? B: Bom, naquele início, ainda, é, a gente não tava totalmente com as coisas estabelecidas, escritas direitinho. Mas, primeiro tinha, lógico, tinha que ta freqüentando porque, aí, nós começamos a sentir necessidade, realmente, de ter uma coisa mais organizada, porque aí todo mundo começava a sair: “ah, porque eu também sou Amiga do Peito”. E, aí tinham umas que falavam, às vezes, umas coisas que também é, já fugia daquilo de dentro que a gente acreditava, porque o que que diferenciou as Amigas do Peito, acho que desde o início, também? Foi sempre uma postura de respeitar a mulher, o desejo da mulher. Então, enquanto a saúde já tava vindo e falando: “ah, porque a mulher tem que amamentar”, a gente já tava fazendo um discurso: “não, a mulher é um direito da mulher amamentar”. Tanto que nós tínhamos uma faixa assim: “amamentar, um direito da mulher”, é um direito, sabe, né. Então, a gente já tava assim, querendo que as pessoas, por exemplo, pra ser uma Amiga do Peito é que ela tivesse, lógico, vivenciasse a amamentação, pra falar em nome das Amigas do Peito, tinha que vivenciar a amamentação, também,né. Isso era uma coisa que a gente tinha desde o início, que era importante isso, que se respeitasse o direito dessa mulher, né, de amamentar ou não, né. Não que fosse uma coisa de ficar, já essa coisa de ter regrinhas, não. De falar numa linguagem também comum, nossa, sem que nós fossemos a dona-da-verdade, né. Então, assim, começou e os grupos realmente, depois, eu acho que

<strong>de</strong> jornais das Amigas do Peito). Eu tentei achar naquelas ali, mas não achei, não sei, sabe.<br />

Será que tão aí? Ta vendo, aqui, mas aqui ta, ta vendo, não ta dô início. Isso aqui, olha, foi<br />

1984 (uma reportagem), ta vendo. Tem a história das Amigas. Aqui, a Maria Lúcia (outra<br />

coor<strong>de</strong>nadora)<br />

M: Deixa eu ver.<br />

B: Com a Beatriz, olha só. Ta vendo. Quer dizer, a Maria Lúcia já chegou <strong>de</strong>pois no grupo.<br />

Olha, isso é a gente numa das passeatas. O Globo (jornal), primeira página, ta vendo: a<br />

Regina Sarmento, a Maíra, essa Paula, outro dia nós encontramos com ela, ta vendo. Ali, 9<br />

março <strong>de</strong> 1990. isso já foi em 90. a gente já tinha <strong>de</strong>z anos. Ta vendo. Olha, ah, o Paulo<br />

Pinheiro, quando a gente começou no Miguel Couto (hospital municipal). Aqui, a Bibi com<br />

a Maira, amamentando a Maira, ta vendo. Isso aqui, no dia da Mangueira, as Amigas do<br />

Peito, ta vendo, no morro da Mangueira. Aliás, não, na praça Afonso Pena (Tijuca), isso.<br />

Essa é a Malú, que é mãe <strong>de</strong> gêmeos, 1988. ta vendo, olha. Isso aqui tem, ta muito, mas tem<br />

umas outras fotos do início do grupo. Esse aqui, <strong>de</strong>ixa eu ver quando foi isso, 1987. ah, isso<br />

é em Niterói. Aqui, a Dalva, aqui a Dalva que ta aqui com a Helena. A Dalva Ventura com<br />

a menina <strong>de</strong>la.<br />

I: Todas elas ainda estão nas Amigas do Peito?<br />

B: A Marilda já foi embora, ta em Barbacena, a Zilda, aqui <strong>de</strong>ve ta só eu e a Zilda.<br />

I: Mas, aí Bia, aí você tava, aí baixou a bola, aí começaram a <strong>de</strong>cidir quem ia tomar<br />

conta dos grupos...<br />

B: Olha, a gente numa outra passeata, ta vendo. Dia Internacional da Mulher. Mas olha só<br />

que confusão. Então, foi assim, assim que começou o grupo. Aí, nós começamos a ver,<br />

abaixou a bola, por quê? Quem que queria, quem que vai assumir? Porque tem aquela coisa<br />

do compromisso, você tem aquela empolgação, mas, agora, per aí, vamos tocar adiante, tem<br />

que assumir, tem que começar, convite daqui, dali, tem que fazer palestra pra maternida<strong>de</strong><br />

Praça XV que já tinha um trabalho também, <strong>de</strong> amamentação, tava voltada pra isso, né.<br />

Então, nós começamos ver quem que ia assumir, quem que assumir. Aí, fizemos o registro.<br />

Registramos o grupo, já em 83 foi registrado esse grupo, né. E começamos a fazer todo o<br />

trabalho <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> registro, marca, essa coisa toda.<br />

I: E como é que era pra ser uma Amiga do Peito?<br />

B: Bom, naquele início, ainda, é, a gente não tava totalmente com as coisas estabelecidas,<br />

escritas direitinho. Mas, primeiro tinha, lógico, tinha que ta freqüentando porque, aí, nós<br />

começamos a sentir necessida<strong>de</strong>, realmente, <strong>de</strong> ter uma coisa mais organizada, porque aí<br />

todo mundo começava a sair: “ah, porque eu também sou Amiga do Peito”. E, aí tinham<br />

umas que falavam, às vezes, umas coisas que também é, já fugia daquilo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro que a<br />

gente acreditava, porque o que que diferenciou as Amigas do Peito, acho que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

início, também? Foi sempre uma postura <strong>de</strong> respeitar a mulher, o <strong>de</strong>sejo da mulher. Então,<br />

enquanto a saú<strong>de</strong> já tava vindo e falando: “ah, porque a mulher tem que amamentar”, a<br />

gente já tava fazendo um discurso: “não, a mulher é um direito da mulher amamentar”.<br />

Tanto que nós tínhamos uma faixa assim: “amamentar, um direito da mulher”, é um direito,<br />

sabe, né. Então, a gente já tava assim, querendo que as pessoas, por exemplo, pra ser uma<br />

Amiga do Peito é que ela tivesse, lógico, vivenciasse a amamentação, pra falar em nome<br />

das Amigas do Peito, tinha que vivenciar a amamentação, também,né. Isso era uma coisa<br />

que a gente tinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, que era importante isso, que se respeitasse o direito <strong>de</strong>ssa<br />

mulher, né, <strong>de</strong> amamentar ou não, né. Não que fosse uma coisa <strong>de</strong> ficar, já essa coisa <strong>de</strong> ter<br />

regrinhas, não. De falar numa linguagem também comum, nossa, sem que nós fossemos a<br />

dona-da-verda<strong>de</strong>, né. Então, assim, começou e os grupos realmente, <strong>de</strong>pois, eu acho que

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