Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

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03.09.2014 Views

em seguida, deter-me mais especificamente sobre a atualidade dessa prática no Brasil atualmente. Paralelamente, pretendo analisar o percurso histórico da medicalização do corpo feminino, a partir do caso da amamentação. Seguindo, o capítulo três constitui-se o meu trabalho de campo, que teve como base as reuniões de mães de um grupo da ONG Amigas do Peito, onde elas procuram se ajudar e se apoiar mutuamente. A exposição deste material, somada a algumas entrevistas realizadas, subsidia a elaboração do meu estudo de campo, no sentido de tentar perceber sas concordâncias e discordâncias em relação à amamentação e como ela é percebida, vivida e sentida por essas mulheres.

1 INTRODUÇÃO “Infelizmente, a medicina ainda vê a mulher como um animal reprodutor, a serviço dos filhos, e não como uma pessoa livre e igual ao homem. Tem uma plêiade de deveres e uns parcos direitos. Se a mulher não amamenta, é egoísta” (Simone Andréa Coutinho). 6 No século XIX, acreditava-se que o leite materno era imprescindível ao bebê porque transmitia a moral de mãe para filho, modelando a personalidade da criança (FLANDRIN, 1988). Hoje, acredita-se que ele é fundamental pelo seu valor imunológico ao ter em sua composição “todos os nutrientes de que o bebê necessita até os seis meses” (SECRETARIA Municipal de Saúde, 2001, p.15), sendo produzido na “medida” de cada mãe para o seu respectivo filho. 7 A difusão destes discursos, amplamente divulgada pelos meios de comunicação, faz entrever o quanto eles foram decisivos nas representações sociais 8 sobre o ato de amamentar. Tais representações estariam permeadas pelo discurso legitimador, e supostamente neutro, da medicina 9 que ao divulgar novas descobertas científicas sobre os benefícios do aleitamento materno, 10 reduziriam a alternativa de escolha da mãe - em amamentar ou não - a uma questão moral e natural, recaindo sobre ela uma culpabilização pela sua escolha: “Em minha opinião, aquela que não amamenta por mero capricho ou desculpa, é sim, egoísta, pois priva o próprio filho da saúde e do vínculo afetivo com a mãe. 6 Painel do leitor. Folha de São Paulo. 09 out. 2001. 7 Documento disponível em http// www.aleitamento.org.br .Acesso em: 15 dez. 2002. 8 Entendo que as representações sociais são uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (GUARESCHI, 1994). 9 Neste trabalho, o sentido de medicina refere-se ao que Camargo Jr (2003) define de medicina contemporânea, cuja base surgiu no final do século XVIII, tendo como característica uma “objetividade científica para a determinação de causas, características e tratamentos. Tomando o homem como objeto das disciplinas científicas, “um homem objetivado, um homem-corpo, um homem sede de doenças” (p. 50). 10 O aleitamento materno é definido como um conjunto de processos nutricionais, comportamentais e fisiológicos envolvidos na ingestão, pela criança, do leite produzido pela própria mãe, seja diretamente no peito ou por extração artificial (BRASIL, 1999).

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atualmente. Paralelamente, pretendo analisar o percurso histórico da medicalização do<br />

corpo feminino, a partir do caso da amamentação.<br />

Seguindo, o capítulo três constitui-se o meu trabalho <strong>de</strong> campo, que teve como base<br />

as reuniões <strong>de</strong> mães <strong>de</strong> um grupo da ONG Amigas do Peito, on<strong>de</strong> elas procuram se ajudar e<br />

se apoiar mutuamente. A exposição <strong>de</strong>ste material, somada a algumas entrevistas<br />

realizadas, subsidia a elaboração do meu estudo <strong>de</strong> campo, no sentido <strong>de</strong> tentar perceber sas<br />

concordâncias e discordâncias em relação à amamentação e como ela é percebida, vivida e<br />

sentida por essas mulheres.

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