Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ... Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

psicologia.ufrj.br
from psicologia.ufrj.br More from this publisher
03.09.2014 Views

na médica, que o otorrino dela não tava lá, aí a médica falou isso, aí liguei pro pediatra, aí eu já saí com ela pro médico entendeu, aí você fica pensando “meu Deus”, aí já liguei pro alergista que o outro mandou ligar, porque o outro alergista acho que não tava (???) aí você fica sabe, é tudo muito preocupante, entendeu. I: Mas você achou que quando você fosse ser mãe que você ia ter todos esses problemas? L: Nunca, nunca, nunca, nunca. Nunca imaginei isso, nunca. Nunca imaginei que...entendeu. Tanto é que eu tava acostumada com a família de casada, sem nenhum problema, só divertimento, entendeu, aquele amor, aquela coisa, entendeu: “- ah, vamos viajar”, chegava aqui em casa: “- ah, vamos jantar fora”, entendeu, “- ah, vamos pegar um cineminha”. I: Uma eterna lua-de-mel. L: Exatamente, entendeu. Nunca imaginei, e outra coisa, eu acho assim, que o filho, por exemplo, às vezes a gente escuta esse negócio “ah, que a mulher engravidou pra prender o marido”. Ao contrário, eu acho que se o casal não ta muito...mas é verdade, se o casal não ta firme ali, entendeu, se não tem muito amor na união, não sei o que, separa, separa porque realmente assim eu acho que, entendeu, porque o marido tem que ta muito ali junto com você e ter essa compreensão, porque senão... I: (???) L: Muito, porque se não tiver, assim, predisposição, eu acho que o casal separa, ele pula fora, entendeu, porque realmente é muito complicado. Ele chega, às vezes...essa semana ele ta passando em São Paulo, ele vai chegar amanhã, entendeu, aí toda vez que ele ta aqui ele dorme lá com a Flávia, entendeu. A Flávia tá com um negocinho, ele dorme do lado dela, aí fica acordado, ele que “ah, vou botar ela pra dormir”, entendeu, ela acorda: “- ah, papai, cocô papai, cocô papai”, não sei o quê, aí sabe. Então, tem muito isso, e olha que eu tenho né, as meninas, pra ajudar e tudo. Aí, agora a Flávia tava fazendo uns cocôs tão fedorentos, tão fedorentos que ele falava: “Adriana, Adriana, a Flávia ta cocô”. Aí, na semana que ela não ta aqui aí eu falo: “é, agora é contigo mesmo.” “Não, não, tudo bem”, não sei o quê, mas quando ela ta aqui, ele aproveita, ele fala: “- Adriana, a Flávia ta com um cocô fedorento”, aí (???) meio ressecada, horrível, horrível. Mas, quer dizer, isso também conta muito, entendeu, o apoio do marido, porque eu acho que também tem isso, também, a dificuldade de amamentar, porque às vezes eu fico imaginando, quer dizer, o marido que não deixa...até tenho uma tia minha que ela fala que o marido dela, o marido e a filha são, assim, pagodeiros, sabe. Adoram um pagode não sei o quê. Então, o que quê acontece, ela amamentando, aí ele...ela não podia, né, de jeito nenhum, não sei o que, e ele não deixava de ir poros pagodes dele, entendeu. Então, quer dizer, isso tudo dificulta o relacionamento, e dificulta até a mulher mesmo querer continuar amamentantdo, porque pra ela é muito prático deixar com outra pessoa e falar: “- ah, você dá o NAN, não sei o que, porque eu tenho que sair com o meu marido, não sei o que, entendeu, porque depois que você tem filho, o marido fica pro segundo plano, entendeu, é uma coisa assim, automática, entendeu e ele tem que ter essa consciência de que ele ta no segundo plano e ele tem que ter essa consciência também de que ele tem que deixar de fazer as coisas. Por exemplo, o Júlio todo sábado, ele tinha o hábito de ir jogar tênis, ele adora, entendeu, é realmente uma coisa assim que ele gosta muito. E agora, há muito tempo ele não tem ido, porque ele sabe, entendeu, ele tem que ficar ali com os filhos, com a família, não sei o quê, eu falo pra ele: “- ó, da mesma forma que você ta abdicando, eu to abdicando de muitas coisas que eu gosto”, entendeu. A sua vida profissional fica prejudicada. Isso é uma coisa, assim muito

uim. Talvez tenha sido o que eu mais senti depois foi isso, entendeu. Porque a minha vida era o meu casamento e o trabalho. E como ele viaja muito, eu chegava em casa, vivia estudando, trabalhando, entendeu. Eu ficava aqui sozinha, você imagina, eu não tinha nem elas (as empregadas atuais), entendeu, eu tinha uma pessoa que vinha e ia embora. Então, quer dizer, minha vida era chegar aqui sozinha, ficava ali, ia pra internet, ficava pesquisando, lendo. Eu tenho ali o escritório, tenho milhares de livros e o que quê acontece: com o nascimento delas eu parei totalmente, entendeu, e você tem que sempre estar atualizada. E, essa preocupação toda, e você volta a trabalhar, e você vê uma queda, não é só do seu nível de produção, entendeu, né, das peças que você faz e tudo. Então, isso é uma coisa que me angustia demais, entendeu. I: Conciliar as duas funções. L: É, exatamente. E porque você trabalhando de certa forma com o público, né, com as pessoas assim, então você tem uma, um compromisso com a sociedade. Então, o fato de você não exercer tão bem isso, como você exercia anteriormente, nossa, isso é realmente o que mais mexeu comigo, entendeu. Eu ficava “meu Deus do céu, tenho que estudar, tenho que trabalhar”, às vezes eu tenho que fazer um negócio sério e você não conseguia. Às vezes eles me ligavam “- a Flávia ta com febre”, aí você, entendeu, aí você pirava ali, você querendo chegar cedo, a audiência ali, sabe, você “meu Deus do céu”, “ai meu Deus do céu (???), mais uma audiência.” Aí você vê a pauta lotada, entendeu. Aí o juiz virava, falava: “- Luiza, vamos ver se dá pra dar a sentença aqui na hora”. “Ah, não”, eu aí pedia: “- não dá pra abrir pras alegações, entendeu, eu falo, depois e você logo sentencia?”, entendeu, mas aí, sabe, que aí se fosse dar a sentença ali na hora, aí você fala: “- meu Deus”, daí a hora, e a criança lá chorando, ardendo em febre e você tendo que ir pra casa, entendeu. I: E Como você faz pra conciliar isso? L: Então, aí que ta. Você tem que fazer pra conciliar. Você deixa, entendeu, aqui, entendeu, você fica ligando toda hora “deu remédio tal”, não sei o quê. Agora mesmo eu tenho que ir pra creche que eu tenho que dar o antibiótico, eu nem sei que horas são. Que horas são? I: São dez pras quatro. L: Ah, então, é quatro horas. Eu vou lá dar o remedinho. Então, quer dizer, é tudo isso, e você corre e você fica de lá, entendeu e tipo assim, eu sempre falava com eles, aí, em audiência, na próxima audiência que vai entrar, eu entrava no gabinete do juiz, aí não sei o que, entendeu. É assim que você faz. I: Só pra finalizar, como é que você vê a amamentação? Pra você o que quê é a amamentação? L: Ah, a amamentação pra mim é tudo, né, porque é a união que você tem, entendeu, é um elo que você firma com o seu filho, entendeu, ali, que você tá amamentando, entendeu, é aquele carinho de você tá dando algo seu pra ele, entendeu. É…pra mim é maravilhoso. Por isso que eu digo, entendeu, que eu não quero, eu não queria, eu nunca quis parar de amamentar por causa disso. Eu acho a mamadeira uma coisa muito assim, superficial, entendeu, e qualquer pessoa pode dar. O peito não, é você, entendeu. Você que tem que tá ali com o seu filho, dando, às vezes esse corre-corre, não sei o quê, é um momento que você tá ali com ele (???) amamentar é tudo, entendeu. I: Você queria falar mais alguma coisa? L: Não, não. Eu falo demais, né. I: Não, não, tá ótimo.

uim. Talvez tenha sido o que eu mais senti <strong>de</strong>pois foi isso, enten<strong>de</strong>u. Porque a minha vida<br />

era o meu casamento e o trabalho. E como ele viaja muito, eu chegava em casa, vivia<br />

estudando, trabalhando, enten<strong>de</strong>u. Eu ficava aqui sozinha, você imagina, eu não tinha nem<br />

elas (as empregadas atuais), enten<strong>de</strong>u, eu tinha uma pessoa que vinha e ia embora. Então,<br />

quer dizer, minha vida era chegar aqui sozinha, ficava ali, ia pra internet, ficava<br />

pesquisando, lendo. Eu tenho ali o escritório, tenho milhares <strong>de</strong> livros e o que quê acontece:<br />

com o nascimento <strong>de</strong>las eu parei totalmente, enten<strong>de</strong>u, e você tem que sempre estar<br />

atualizada. E, essa preocupação toda, e você volta a trabalhar, e você vê uma queda, não é<br />

só do seu nível <strong>de</strong> produção, enten<strong>de</strong>u, né, das peças que você faz e tudo. Então, isso é uma<br />

coisa que me angustia <strong>de</strong>mais, enten<strong>de</strong>u.<br />

I: Conciliar as duas funções.<br />

L: É, exatamente. E porque você trabalhando <strong>de</strong> certa forma com o público, né, com as<br />

pessoas assim, então você tem uma, um compromisso com a socieda<strong>de</strong>. Então, o fato <strong>de</strong><br />

você não exercer tão bem isso, como você exercia anteriormente, nossa, isso é realmente o<br />

que mais mexeu comigo, enten<strong>de</strong>u. Eu ficava “meu Deus do céu, tenho que estudar, tenho<br />

que trabalhar”, às vezes eu tenho que fazer um negócio sério e você não conseguia. Às<br />

vezes eles me ligavam “- a Flávia ta com febre”, aí você, enten<strong>de</strong>u, aí você pirava ali, você<br />

querendo chegar cedo, a audiência ali, sabe, você “meu Deus do céu”, “ai meu Deus do céu<br />

(???), mais uma audiência.” Aí você vê a pauta lotada, enten<strong>de</strong>u. Aí o juiz virava, falava: “-<br />

Luiza, vamos ver se dá pra dar a sentença aqui na hora”. “Ah, não”, eu aí pedia: “- não dá<br />

pra abrir pras alegações, enten<strong>de</strong>u, eu falo, <strong>de</strong>pois e você logo sentencia?”, enten<strong>de</strong>u, mas<br />

aí, sabe, que aí se fosse dar a sentença ali na hora, aí você fala: “- meu Deus”, daí a hora, e<br />

a criança lá chorando, ar<strong>de</strong>ndo em febre e você tendo que ir pra casa, enten<strong>de</strong>u.<br />

I: E Como você faz pra conciliar isso?<br />

L: Então, aí que ta. Você tem que fazer pra conciliar. Você <strong>de</strong>ixa, enten<strong>de</strong>u, aqui, enten<strong>de</strong>u,<br />

você fica ligando toda hora “<strong>de</strong>u remédio tal”, não sei o quê. Agora mesmo eu tenho que ir<br />

pra creche que eu tenho que dar o antibiótico, eu nem sei que horas são. Que horas são?<br />

I: São <strong>de</strong>z pras quatro.<br />

L: Ah, então, é quatro horas. Eu vou lá dar o remedinho. Então, quer dizer, é tudo isso, e<br />

você corre e você fica <strong>de</strong> lá, enten<strong>de</strong>u e tipo assim, eu sempre falava com eles, aí, em<br />

audiência, na próxima audiência que vai entrar, eu entrava no gabinete do juiz, aí não sei o<br />

que, enten<strong>de</strong>u. É assim que você faz.<br />

I: Só pra finalizar, como é que você vê a amamentação? Pra você o que quê é a<br />

amamentação?<br />

L: Ah, a amamentação pra mim é tudo, né, porque é a união que você tem, enten<strong>de</strong>u, é um<br />

elo que você firma com o seu filho, enten<strong>de</strong>u, ali, que você tá amamentando, enten<strong>de</strong>u, é<br />

aquele carinho <strong>de</strong> você tá dando algo seu pra ele, enten<strong>de</strong>u. É…pra mim é maravilhoso. Por<br />

isso que eu digo, enten<strong>de</strong>u, que eu não quero, eu não queria, eu nunca quis parar <strong>de</strong><br />

amamentar por causa disso. Eu acho a mama<strong>de</strong>ira uma coisa muito assim, superficial,<br />

enten<strong>de</strong>u, e qualquer pessoa po<strong>de</strong> dar. O peito não, é você, enten<strong>de</strong>u. Você que tem que tá<br />

ali com o seu filho, dando, às vezes esse corre-corre, não sei o quê, é um momento que<br />

você tá ali com ele (???) amamentar é tudo, enten<strong>de</strong>u.<br />

I: Você queria falar mais alguma coisa?<br />

L: Não, não. Eu falo <strong>de</strong>mais, né.<br />

I: Não, não, tá ótimo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!