Iana Sudo MEDICALIZAÇÃO DAS MULHERES - Instituto de ...

I: Que ela ta crescendo a olhos vistos?
L: É, é, mas aí o que quê acontece, é aquilo que eu te falo: a minha vontade é de todo dia,
toda semana ir lá e constatar isso, entendeu, e o medo de eu chegar lá e não ta acontecendo
isso. Eu acho que a maior frustração que aconteceu comigo foi o dia que eu cheguei lá e o
pediatra falou: “- ó, a Catarina não engordou.” Juro, o mundo desabou pra mim, entendeu,
acabou. Eu falei: “- caramba, a Catarina não engordou, eu não vou conseguir amamentar,
meu leite é (???)o que quê ta acontecendo?”, entendeu, e aí passa tudo na sua cabeça,
“meu Deus...”, então, quer dizer, tem isso também.
I: E nem assim você pensou em dar o leite em pó?
L: Não, não! Porque aí ele falou pra mim: “- Luiza, dá o peito.”, e ainda na primeira
semana tava muito ruim, mas tava suportável. Ele falou pra mim: “- dá o peito e depois dá o
NAN.” E ela berrava, e o meu marido no meu ouvido: “- meu Deus, o pediatra falou que é
fome, por que quê você não dá o NAN pra essa criança!?” porque aí começa a berrar, né, e
o Júlio nessa parte, assim, ele não se incomoda de passar a noite em claro, porque ele tirou
férias pra isso, com a Flávia era assim, ela dormia pouco, a gente se revezava, entendeu. Eu
falava: “- não, Júlio, mas não é fome, deve ser cólica.”, entendeu. Eu sempre tive isso na
minha cabeça: “- não, é não”, porque aí...e também um medo dela, de eu dar um
complementar e ela largar o meu peito. Eu falava: “- não, não, não.” Aí, persistir, fui pra
esse pediatra mesmo, pra esse segundo, porque o primeiro já queria que eu desse 120ml de
NAN.
I: E você, que o primeiro (pediatra) também não queria que você amamentasse, que
você parasse de amamentar a Flavinha quando você engravidou?
L: É, ele falou.
I: Quando você engravidou?
L: Quando eu engravidei, é. Porque tem muito isso de você falar que...isso a gente até falou
na última reunião 60 , que quando você engravida você não pode mais amamentar. Eu não
sei, ele falou isso pra mim, mas eu também não perguntei que base científica ele tinha,
nada.
I: Mas, você não parou?
L: Não, eu não parei, entendeu. Eu não parei, não. Eu, não, não, minto, eu parei, só que eu
fiquei mais um mês e pouco, mas como o obstetra e ele falavam. Meu marido falava: “- não
pode, meu Deus (???) essa menina, não pode.” Aí o meu marido pegava a Flávia, ia lá pro
quarto sabe, e ele que dava a mamadeira e a Flávia adorava a mamadeira e ele falava: “-
viu, você disse que a menina não vai pegar a mamadeira, ela tomou a mamadeira” e ele que
botava ela pra dormir.
I: Ela tava com quantos meses?
L: Ela tava com 10 meses, e ele dava a mamadeira e ficava, ele que põe ela pra dormir e
ficava: “- tchuque, tchuque (vocalizações) a Flávia dormia que era uma beleza. Ele falava:
“- viu, ela ta dormindo, ta tomando a mamadeira, ta gostando”, não sei o que, “- o médico
já falou...você não amamentar.” E o que quê acontece: eu no início da gravidez, realmente,
eu dô uma emagrecida que é uma coisa, aí ele falava: “- você vai se acabar mais ainda”,
porque ele achava, porque realmente amamentação mantém o teu peso né, de certa forma
você emagrece também, então você vai sumindo, aí ele ficava superpreocupado também e
também, aí...e eu tinha isso na cabeça, os dois dizendo, quem sou eu, não sou formada em
medicina, né, aí eu acatei a ordem lá, médica, por isso...
60 A última reunião das mães das Amigas do Peito.