EMAC - UFG - EMAC - Mestrado em Música e Artes Cênicas - UFG
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60 terapeutas, a co-terapia supõe a ideia de singularidade, ou seja, um funcionamento complementar em que não haja lugar para qualquer tipo de jogo ou disputa de poder na condução do grupo, nem mesmo um deles seja visto pelo grupo como menor ou inferior (RIBEIRO, 1994) Outra razão para um grupo ter uma dupla terapêutica é a possibilidade desta atuar desempenhando papéis masculino e feminino, isto é, os terapeutas podem favorecer a representação de um modelo familiar, incitando processos transferenciais. Para isso, não necessariamente há de se ter um homem e uma mulher, embora essa configuração possa facilitar a condução do grupo, por cada um ter diferentes percepções, posturas e relações com os membros. Ainda sobre o número de participantes em um grupo musicoterapêutico, destacase a importância de haver um número par de participantes. Isto porque muitas das experiências musicais em Musicoterapia são desenvolvidas em duplas, favorecendo o compartilhamento de sentimentos e o estabelecimento de vínculo devido à proximidade, ou também o contrário: a compreensão das dificuldades de relacionar-se com determinados membros. A oferta de ajuda profissional é a razão inicial dos membros estarem ali, apesar das particularidades de cada uma destas razões. Por isso, ainda no primeiro gráfico, percebese que os membros são estranhos uns aos outros e a principal força que unifica o grupo parte dos musicoterapeutas. Quando um grupo se inicia, os musicoterapeutas devem atuar como “guardiões” (YALOM, 2006), prevenindo atritos e evitando que os membros se exponham demasiadamente ou tenham experiências negativas até que o grupo esteja maduro e estável o suficiente para administrar os conflitos. Para isso, os musicoterapeutas devem trabalhar em prol da construção de uma cultura grupal que assegure um espaço permeado por “confiança, permissão para se expressar, motivação e coesão” (RIBEIRO, 1994), além de reconhecerem e deterem quaisquer forças que ameacem a coesão do grupo tais como: atrasos, ausências, formação de subgrupos etc. (YALOM, 2006). Ao contrário da atuação mais direta nos atendimentos individuais, no grupo terapêutico o musicoterapeuta pode assumir posições diferenciadas: ora mais observador e silencioso, atentando para a expressão da musicalidade de cada membro e buscando identificar as identidades sonoras (ver p.51-52), ora mais participativo, fazendo intervenções verbais, paraverbais/musicais (mímica verbal; variações na forma de emissão e no tom de voz,
61 na intensidade e no ritmo da fala, bem como variações das inflexões rítmico/sonoras da mesma), musicais propriamente ditas (sonoras, rítmicas, melódicas, harmônicas) e corporais (gestos posturas e olhares) (BARCELLOS, 1992). Assim, conforme caracterizado no segundo gráfico, no decorrer do processo os participantes sentem-se cada vez mais aceitos e engajados, e todos, de alguma forma, afetam e são afetados. A música, por ser um elemento que acontece no tempo, mas não se prende a ele, agencia esse processo, permitindo a interação e/ou simultaneidade de ações, sem grandes perigos de “invasão” do espaço do outro. Como afirma Craveiro de Sá (2003), esse campo de forças criado pela música possibilita um espaço de escuta compartilhada, conduzindo a um complexo mundo de sensações, percepções e criações. Destinada a vibrar e a fazer vibrar aqueles que dela se aproximam e a engajá-los em um movimento produtivo, a musicoterapia, entrelaçada à música, enuncia possibilidades de produzir mutações no campo da subjetividade. As linhas tracejadas do segundo gráfico também retratam a complexidade do processo grupal, no qual fenômenos como resistência, transferência, projeção, identificação, regressão, entre outros, não ocorrem apenas em direção ao musicoterapeuta, mas a qualquer membro do grupo, constituindo uma trama rica de conteúdos intra e interpessoais. No terceiro e último gráfico, visualiza-se a transformação das inúmeras linhas em uma única forma maciça, que expressa a totalidade do grupo, a constituição de uma matriz. Para Ribeiro (1994, p.35), “matriz é um conceito holístico, onde o grupo é visto como diferente e anterior à soma de suas partes”. Este não é um conceito percebido logo no início do grupo, mas demanda interação e entrega. Este autor, compartilhando suas experiências como coordenador de grupos terapêuticos, revela que “após umas dezesseis horas de grupo, temos a impressão de que sua matriz pode ser sentida e até delineada” (ibid., p.36) Nessa perspectiva, o grupo pode ser visto como uma pessoa coletiva e, como pessoa, vive todos os mecanismos dos indivíduos que o compõem, apenas de maneira mais complexa e grupal. A esse conceito aproxima-se o que Benenzon (1985, p.44) chama de ISO grupal, já apresentado anteriormente 14 . Intimamente ligado ao esquema social em que o indivíduo se integra, este necessita de certo tempo para se estabelecer e estruturar-se e dependerá muitas vezes da boa escolha do grupo e do conhecimento do musicoterapeuta acerca dos ISOS individuais de cada membro. Fundamental para conseguir uma unidade de integração em um 14 Ver p. 52.
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Assim, conforme caracterizado no segundo gráfico, no decorrer do processo os<br />
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Como afirma Craveiro de Sá (2003), esse campo de forças criado pela música<br />
possibilita um espaço de escuta compartilhada, conduzindo a um complexo mundo de<br />
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música, enuncia possibilidades de produzir mutações no campo da subjetividade.<br />
As linhas tracejadas do segundo gráfico também retratam a complexidade do<br />
processo grupal, no qual fenômenos como resistência, transferência, projeção, identificação,<br />
regressão, entre outros, não ocorr<strong>em</strong> apenas <strong>em</strong> direção ao musicoterapeuta, mas a qualquer<br />
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No terceiro e último gráfico, visualiza-se a transformação das inúmeras linhas <strong>em</strong><br />
uma única forma maciça, que expressa a totalidade do grupo, a constituição de uma matriz.<br />
Para Ribeiro (1994, p.35), “matriz é um conceito holístico, onde o grupo é visto como<br />
diferente e anterior à soma de suas partes”. Este não é um conceito percebido logo no início<br />
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como coordenador de grupos terapêuticos, revela que “após umas dezesseis horas de grupo,<br />
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perspectiva, o grupo pode ser visto como uma pessoa coletiva e, como pessoa, vive todos os<br />
mecanismos dos indivíduos que o compõ<strong>em</strong>, apenas de maneira mais complexa e grupal.<br />
A esse conceito aproxima-se o que Benenzon (1985, p.44) chama de ISO grupal,<br />
já apresentado anteriormente 14 . Intimamente ligado ao esqu<strong>em</strong>a social <strong>em</strong> que o indivíduo se<br />
integra, este necessita de certo t<strong>em</strong>po para se estabelecer e estruturar-se e dependerá muitas<br />
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