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40 As representações não são discursos neutros; elas produzem estratégias e práticas tendentes a impor uma autoridade, uma deferência, e mesmo a legitimar escolhas. Elas permitem também avaliar o ser-percebido que um indivíduo ou grupo constrói e propõe para si mesmo e para os outros. A tentativa de impor a outro ou ao mesmo grupo sua concepção de mundo social é compreendida como uma luta de representações (ibid.). Moscovici (2009, p.41) esclarece que as representações podem ser vistas como “entidades quase tangíveis”, já que “uma vez criadas elas adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto as velhas representações morrem”. Elas são formadas por um conhecimento prático, o senso comum, que faz parte da vida cotidiana das pessoas e que se opõe ao pensamento científico (BRITO, 2008). Assim, Moscovici (1990), comprometido em estudar como e porque as pessoas partilham o conhecimento e desse modo constituem sua realidade comum, e como as ideias se transformam em práticas, atentou-se para a Psicanálise. Ao constatar o fato de que esta disciplina científica passou do mundo das ideias, do círculo dos intelectuais para os pensamentos, condutas, costumes de um grande número de pessoas, Moscovici criou os seus primeiros postulados sobre as representações sociais. Ora, se expressões de origem psicanalítica como ato falho, complexos, traumas, repressão, neurose são difundidas em discursos políticos, consultórios médicos, filmes e até em piadas, Moscovici concluiu que a Psicanálise é um modelo que, implantado na vida cotidiana da sociedade, dá forma a realidade (apud DOTTA, 2006). Sendo assim, se até então os fatos eram explicados pela sabedoria acumulada, pelo senso comum, e se tornavam objeto de estudo da ciência, dali em diante o processo se invertera. As ciências inventam e propõem conceitos que auxiliam no cotidiano das pessoas, o que faz com que as concepções sejam sempre secundárias, ou seja, aquilo que é instituído pela ciência passa a ser legitimado pelo indivíduo (MOSCOVICI, ibid.). Diante disso, remetendo ao contexto da Educação Social, quando se pensa sobre o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente - pensa-se na expressão de um novo projeto político para o país, com leis que propõem a compreensão da criança e do adolescente como sujeitos de direitos. Indivíduos tais como os educadores sociais passam a utilizar os conceitos e jargões previstos na legislação em seu dia-a-dia, porém, reelaborando este conhecimento de acordo com suas necessidades, segundo a sua própria conveniência, meios e materiais encontrados. Conforme o pensamento de Moscovici (2009), cada um aprende, do seu jeito, a

41 manipular os conhecimentos científicos fora do seu contexto próprio, impregnando-se do conteúdo e do estilo do pensamento que eles representam 10 . Entretanto, ainda que o ECA preconize mudanças no sistema, as representações de alguns líderes governamentais e outros profissionais da área, ainda firmadas em um velho paradigma, evidenciam práticas assistencialistas e segregadoras. Moscovici (ibid.) pontuou que quanto mais a origem da representação é esquecida e sua natureza convencional ignorada, mais fossilizada ela se torna e, por conseguinte, mais difícil de ser mudada. E ainda, quanto menos conscientes da representação, maior se torna sua influência. Sendo assim, o estudo das representações sociais – de suas propriedades, suas origens e seu impacto – pode se constituir como um eficaz instrumento de análise, na medida em que desvelam pontos de vista comuns sobre questões da prática, do interesse coletivo em condições pouco explicitadas. “Por serem ao mesmo tempo ilusórias, contraditórias e „verdadeiras‟”, Minayo (1995, p.100) pondera que “as representações podem ser consideradas matéria prima para a análise do social e também para a ação pedagógica-política de transformação, pois retratam e refratam a realidade segundo determinado segmento da sociedade”. Para a composição dessa teoria, Moscovici (ibid.) apoiou-se nos fundadores das Ciências Sociais, especialmente em Émile Durkheim (1978). No entanto, algumas diferenças distanciam o conceito de representações desses dois autores. Na obra de Durkheim (ibid.), as representações, designadas como coletivas, abrangem uma gama ampla e heterogênea de conhecimento, são vistas como concepções estáticas que refletem a estabilidade dos fenômenos e entendidas como entidades explicativas absolutas. Para Moscovici (2009), as representações são sociais e devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o que já se sabe. Para ele, trata-se de um erro querer incluir um raio de conhecimentos e crenças tão grande como sugere Durkheim, afinal “compreender tudo é perder tudo” (ibid., p.48). Ele ainda esclarece que as representações sociais que me interessam não são nem as das sociedades primitivas, nem as suas sobreviventes, no subsolo de nossa cultura, dos tempos pré-históricos. Elas são as de nossa sociedade atual, de nosso solo político, científico, humano, que nem sempre têm tempo suficiente para 10 Observa-se que as interpretações dos conceitos científicos não são consideradas inferiores, ou mesmo como uma vulgarização destes, mas como a formação de outro tipo de conhecimento adaptado (MOSCOVICI, 2009).

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As representações não são discursos neutros; elas produz<strong>em</strong> estratégias e práticas<br />

tendentes a impor uma autoridade, uma deferência, e mesmo a legitimar escolhas. Elas<br />

permit<strong>em</strong> também avaliar o ser-percebido que um indivíduo ou grupo constrói e propõe para<br />

si mesmo e para os outros. A tentativa de impor a outro ou ao mesmo grupo sua concepção de<br />

mundo social é compreendida como uma luta de representações (ibid.).<br />

Moscovici (2009, p.41) esclarece que as representações pod<strong>em</strong> ser vistas como<br />

“entidades quase tangíveis”, já que “uma vez criadas elas adquir<strong>em</strong> uma vida própria,<br />

circulam, se encontram, se atra<strong>em</strong> e se repel<strong>em</strong> e dão oportunidade ao nascimento de novas<br />

representações, enquanto as velhas representações morr<strong>em</strong>”. Elas são formadas por um<br />

conhecimento prático, o senso comum, que faz parte da vida cotidiana das pessoas e que se<br />

opõe ao pensamento científico (BRITO, 2008).<br />

Assim, Moscovici (1990), comprometido <strong>em</strong> estudar como e porque as pessoas<br />

partilham o conhecimento e desse modo constitu<strong>em</strong> sua realidade comum, e como as ideias se<br />

transformam <strong>em</strong> práticas, atentou-se para a Psicanálise. Ao constatar o fato de que esta<br />

disciplina científica passou do mundo das ideias, do círculo dos intelectuais para os<br />

pensamentos, condutas, costumes de um grande número de pessoas, Moscovici criou os seus<br />

primeiros postulados sobre as representações sociais. Ora, se expressões de orig<strong>em</strong><br />

psicanalítica como ato falho, complexos, traumas, repressão, neurose são difundidas <strong>em</strong><br />

discursos políticos, consultórios médicos, filmes e até <strong>em</strong> piadas, Moscovici concluiu que a<br />

Psicanálise é um modelo que, implantado na vida cotidiana da sociedade, dá forma a realidade<br />

(apud DOTTA, 2006).<br />

Sendo assim, se até então os fatos eram explicados pela sabedoria acumulada,<br />

pelo senso comum, e se tornavam objeto de estudo da ciência, dali <strong>em</strong> diante o processo se<br />

invertera. As ciências inventam e propõ<strong>em</strong> conceitos que auxiliam no cotidiano das pessoas, o<br />

que faz com que as concepções sejam s<strong>em</strong>pre secundárias, ou seja, aquilo que é instituído pela<br />

ciência passa a ser legitimado pelo indivíduo (MOSCOVICI, ibid.).<br />

Diante disso, r<strong>em</strong>etendo ao contexto da Educação Social, quando se pensa sobre o<br />

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente - pensa-se na expressão de um novo projeto<br />

político para o país, com leis que propõ<strong>em</strong> a compreensão da criança e do adolescente como<br />

sujeitos de direitos. Indivíduos tais como os educadores sociais passam a utilizar os conceitos<br />

e jargões previstos na legislação <strong>em</strong> seu dia-a-dia, porém, reelaborando este conhecimento de<br />

acordo com suas necessidades, segundo a sua própria conveniência, meios e materiais<br />

encontrados. Conforme o pensamento de Moscovici (2009), cada um aprende, do seu jeito, a

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