EMAC - UFG - EMAC - Mestrado em Música e Artes Cênicas - UFG

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03.09.2014 Views

CONSIDERAÇÕES FINAIS O desejo de investigar a realidade dos educadores sociais, que atuam em instituições de privação de liberdade junto a adolescentes autores de atos infracionais, conduziu-me a uma intensa jornada. No início, tomada pelo receio e insegurança, me vi, em alguns momentos, evitando o contato inicial com o campo. Porém, durante os atendimentos musicoterapêuticos, procurei enxergar tal realidade pelos olhos desses profissionais, sentir e perceber com e como eles. Nesse espaço terapêutico, musicoterapeutas e grupo criaram novos sentidos, elaborações e representações, não apenas em um fluxo unilateral, das musicoterapeutas para os clientes, mas em um movimento recursivo – corpos afetando e sendo afetados, independentemente de seus papéis. As intensidades vividas nessa jornada podem ser percebidas pela forma de escrita utilizada neste trabalho, em que, progressivamente, ficou evidenciado um maior comprometimento com os temas em discussão, com os participantes desta pesquisa e, também, comigo mesma. Portanto, inicialmente transitei por uma escrita impessoal, informativa e técnica, depois por uma escrita compartilhada, sustentada pela presença de um outro e, finalmente, por uma escrita pessoal, que me exigiu um maior posicionamento e exposição, dando possibilidades para o desvelamento de minhas próprias subjetividades. Assim, enquanto as entrevistas semiestruturadas deram-me a oportunidade de desenvolver uma escuta atenta, o setting musicoterapêutico foi marcado por esta escuta, porém, configurando-se sobretudo como um espaço de interlocução, acolhimento e trocas agenciados pela música. Em uma contestação aos modos de existência privatista, o convívio entre as diferenças originou experiências subjetivas a partir da coletividade, promovendo rupturas de concepções cristalizadas, recuperando-se, ainda, potencialidades e recursos dos educadores para lidar com situações emblemáticas da existência. Conforme visto neste trabalho, estar em grupo é possibilitar, a partir da experiência do outro, que todos possam se reconhecer; é permitir-se desconstruir e indagar-se; é produzir novas conexões, possibilitando a descoberta de outros corpos. O atendimento em grupo é privilegiado, por fazer emergir a experiência do múltiplo, do vir a ser, devido a sua

abertura ao inusitado e às singularidades, concomitante à ruptura de modos de funcionamento individualizantes e totalizantes. Por isso, aliar aos meus conhecimentos sobre dinâmica grupal as teorias das representações sociais viabilizou uma compreensão mais aprofundada sobre os processos vivenciados em Musicoterapia. A constatação de que esta terapêutica constitui-se como um campo do representacional deu-se a partir dos discursos, obras e práticas musicais e nãomusicais evidenciados nesses espaços, os quais refletem e refratam as representações sociais dos indivíduos, identificadas neste trabalho. Dessa forma, investigar também as minhas representações sociais de música trouxe a compreensão de que os meus conteúdos pessoais estão correlacionados ao objetivo principal desta pesquisa. A concepção de corpos sonoros está fortemente ligada à minha história de vida, aos meus valores, crenças e percepções da realidade. Fica esclarecido, ainda, como a minha prática, enquanto musicoterapeuta, está imbricada nos processos do corpo, da música e do movimento, pelo fato de a corporeidade constituir-se o núcleo central de minhas representações de música. Esta concepção de corporeidade, em que a música pode promover a saída do estado de repressão do corpo para a liberdade expressiva e criativa, possibilitou-me perceber o quanto a música como terapêutica afetou os educadores participantes da pesquisa. Antes dos atendimentos musicoterapêuticos, estes acreditavam que a música era algo restrito, próprio àqueles que tocavam instrumentos musicais ou que mantinham um hábito de audição musical. Ao término dos trabalhos, eles sinalizaram compreender a música como um elemento inerente ao homem, acessível e capaz de favorecer experiências significativas, mesmo àqueles que não possuíam um “estudo sistemático” na área. Considero ainda que essa mudança na compreensão de música acarretou alterações na visão dos educadores em relação a si mesmos e aos outros, tornando-os mais abertos e sensíveis a seus próprios limites, contribuindo para o desenvolvimento das relações intra e interpessoais. Em contrapartida, o contato com os educadores no setting musicoterapêutico proporcionou transformações em minhas representações sociais em relação ao ambiente em que trabalham – unidades de privação de liberdade – e quanto aos adolescentes autores de atos infracionais. Houve momentos em que o medo dos educadores, ao manterem contato com esses adolescentes, ressoava em mim. Mas, também, a resiliência, expressa por eles na

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O desejo de investigar a realidade dos educadores sociais, que atuam <strong>em</strong><br />

instituições de privação de liberdade junto a adolescentes autores de atos infracionais,<br />

conduziu-me a uma intensa jornada. No início, tomada pelo receio e insegurança, me vi, <strong>em</strong><br />

alguns momentos, evitando o contato inicial com o campo. Porém, durante os atendimentos<br />

musicoterapêuticos, procurei enxergar tal realidade pelos olhos desses profissionais, sentir e<br />

perceber com e como eles. Nesse espaço terapêutico, musicoterapeutas e grupo criaram novos<br />

sentidos, elaborações e representações, não apenas <strong>em</strong> um fluxo unilateral, das<br />

musicoterapeutas para os clientes, mas <strong>em</strong> um movimento recursivo – corpos afetando e<br />

sendo afetados, independent<strong>em</strong>ente de seus papéis.<br />

As intensidades vividas nessa jornada pod<strong>em</strong> ser percebidas pela forma de escrita<br />

utilizada neste trabalho, <strong>em</strong> que, progressivamente, ficou evidenciado um maior<br />

comprometimento com os t<strong>em</strong>as <strong>em</strong> discussão, com os participantes desta pesquisa e,<br />

também, comigo mesma. Portanto, inicialmente transitei por uma escrita impessoal,<br />

informativa e técnica, depois por uma escrita compartilhada, sustentada pela presença de um<br />

outro e, finalmente, por uma escrita pessoal, que me exigiu um maior posicionamento e<br />

exposição, dando possibilidades para o desvelamento de minhas próprias subjetividades.<br />

Assim, enquanto as entrevistas s<strong>em</strong>iestruturadas deram-me a oportunidade de<br />

desenvolver uma escuta atenta, o setting musicoterapêutico foi marcado por esta escuta,<br />

porém, configurando-se sobretudo como um espaço de interlocução, acolhimento e trocas<br />

agenciados pela música. Em uma contestação aos modos de existência privatista, o convívio<br />

entre as diferenças originou experiências subjetivas a partir da coletividade, promovendo<br />

rupturas de concepções cristalizadas, recuperando-se, ainda, potencialidades e recursos dos<br />

educadores para lidar com situações <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>áticas da existência.<br />

Conforme visto neste trabalho, estar <strong>em</strong> grupo é possibilitar, a partir da<br />

experiência do outro, que todos possam se reconhecer; é permitir-se desconstruir e indagar-se;<br />

é produzir novas conexões, possibilitando a descoberta de outros corpos. O atendimento <strong>em</strong><br />

grupo é privilegiado, por fazer <strong>em</strong>ergir a experiência do múltiplo, do vir a ser, devido a sua

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