gestos musicais na fantasia concertante para piano, clarinete e ...
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Neste último movimento Villa-Lobos encontrou no virtuosismo uma grande<br />
oportunidade <strong>para</strong> a elaboração de <strong>gestos</strong> <strong>musicais</strong>. Seu impulso criativo o afastou<br />
consideravelmente de critérios formais, aproximando a peça de uma <strong>fantasia</strong>. Entretanto, o<br />
estilo de concerto é também facilmente percebido em diversos momentos não ape<strong>na</strong>s pelo<br />
apelo virtuosístico, como pela rivalidade dos <strong>gestos</strong> dialógicos e pelo clima expressivo<br />
tempestuoso, típico dos concertos românticos.<br />
4. Conclusão<br />
A análise realizada através da observação dos <strong>gestos</strong> <strong>musicais</strong> da Fantasia ajudou,<br />
sobretudo, a formar uma imagem sonora sintética não ape<strong>na</strong>s dos elementos <strong>musicais</strong> que<br />
constituem a obra, mas também dos significados que ela incorpora no seu decorrer. Para<br />
isso, foi necessário definir inicialmente categorias de <strong>gestos</strong> <strong>musicais</strong> dentro dos planos<br />
físico, mental e gráfico. Dentro da categorização proposta por Zagonel (1990), a análise<br />
partiu de uma investigação minuciosa sobre os <strong>gestos</strong> mentais e suas relações, utilizando o<br />
grafismo da partitura como ponte <strong>para</strong> possíveis interações com <strong>gestos</strong> físicos de execução.<br />
No plano do gesto mental, foi possível identificar <strong>na</strong> Fantasia os principais tipos de<br />
<strong>gestos</strong> <strong>musicais</strong> propostos pela classificação de Hatten (2004), definidos como temáticos,<br />
dialógicos, retóricos e de suspensão. Partindo de uma construção musical sustentada por<br />
<strong>gestos</strong> temáticos, Villa-Lobos utilizou frequentemente as possibilidades expressivas desses<br />
<strong>gestos</strong>, transformando-os e incutindo significados diferentes por toda a obra.<br />
Dentre os fenômenos pré-linguísticos ocorridos neste trabalho, a integração<br />
perceptual (habilidade de sintetizar múltiplas sensações em objetos e eventos contínuos no<br />
tempo) permitiu o entendimento de significados amplos sobre os três movimentos da<br />
Fantasia através de corrrelações entre os significados dos <strong>gestos</strong> <strong>musicais</strong> constituintes. Da<br />
mesma forma, a intermodalidade (capacidade de representações análogas de um mesmo<br />
significado através de todos os sentidos e sistemas motores) permitiu que sugestões sobre a<br />
execução de determi<strong>na</strong>dos trechos fossem elaboradas através dos significados encontrados<br />
nos respectivos <strong>gestos</strong> <strong>musicais</strong>. Isso mostra que o gesto físico de execução instrumental<br />
deve carregar dentro de si o significado do gesto mental inferido da partitura.