03.09.2014 Views

Jogo da Cidade Cibele Lucena e Rafael Leona Este texto pretende ...

Jogo da Cidade Cibele Lucena e Rafael Leona Este texto pretende ...

Jogo da Cidade Cibele Lucena e Rafael Leona Este texto pretende ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Jogo</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de<br />

<strong>Cibele</strong> <strong>Lucena</strong> e <strong>Rafael</strong> <strong>Leona</strong><br />

<strong>Este</strong> <strong>texto</strong> <strong>pretende</strong> refletir sobre a relação entre ci<strong>da</strong>de e mediação, a<br />

partir <strong>da</strong> experiência do “<strong>Jogo</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de”, projeto apresentado pelos<br />

educadores-artistas <strong>Cibele</strong> <strong>Lucena</strong> e <strong>Rafael</strong> <strong>Leona</strong>, integrantes do<br />

coletivo artístico Contrafilé 1 , na primeira edição do Edital de seleção de<br />

projetos de Mediação em Arte do Centro Cultural São Paulo, em 2011.<br />

A Ci<strong>da</strong>de e a Mediação<br />

“O direito à ci<strong>da</strong>de ‘não pode ser concebido como um simples<br />

direito de visita ou retorno às ci<strong>da</strong>des tradicionais’. Ao contrário,<br />

‘ele pode apenas ser formulado como um renovado e<br />

transformado direito à vi<strong>da</strong> urbana’. A liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de é,<br />

portanto, muito mais que um direito de acesso àquilo que já<br />

existe: é o direito de mu<strong>da</strong>r a ci<strong>da</strong>de mais de acordo com o<br />

desejo de nossos corações. (...) A questão do tipo de ci<strong>da</strong>de que<br />

desejamos é inseparável <strong>da</strong> questão do tipo de pessoas que<br />

desejamos nos tornar. A liber<strong>da</strong>de de fazer e refazer a nós<br />

mesmos e a nossas ci<strong>da</strong>des dessa maneira é, sustento, um dos<br />

mais preciosos de todos os direitos humanos.” 2<br />

1<br />

Formado no ano 2000 por artistas que vivem na ci<strong>da</strong>de de São Paulo, o Contrafilé é um grupo de<br />

investigação e produção de arte que trabalha a partir de sua experiência cotidiana urbana. O grupo tem<br />

como foco a ci<strong>da</strong>de e o espaço <strong>da</strong> rua, onde desenvolve trabalhos de intervenção pública misturando<br />

técnicas de performance, instalação, escultura e narrativas poéticas, promovendo encontros criativos com<br />

diferentes pessoas, grupos e comuni<strong>da</strong>des.<br />

2<br />

Harvey, David, A liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de (pg. 15) in Urbânia 3. São Paulo: Editora Pressa, 2008. (Texto<br />

usado no tabuleiro do <strong>Jogo</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de).


Quando pensamos nos espaços <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, em to<strong>da</strong> sua densi<strong>da</strong>de,<br />

percebemos que as diferentes relações que podemos estabelecer com<br />

eles nos constituem. Na medi<strong>da</strong> em que nossa capaci<strong>da</strong>de de nos<br />

relacionarmos aumenta, a possibili<strong>da</strong>de de sermos produtores <strong>da</strong><br />

“ci<strong>da</strong>de” também aumenta. Portanto, quando um espaço se<br />

impermeabiliza, diminuindo a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relações que podemos<br />

estabelecer, isso nos conduz a um caminho de repetição e reprodução<br />

do existente. Mesmo quando esse existente gera uma estrutura de<br />

opressão. Dentro <strong>da</strong>s instituições culturais, como espaços coletivos,<br />

está em jogo um forte potencial produtivo, educativo e político, que<br />

pode, enquanto as pessoas que as compõem assumam a<br />

responsabili<strong>da</strong>de, serem espaços de crescimento e produção de<br />

ci<strong>da</strong>de. Mas, de que formas esses espaços podem ser sociabilizados?<br />

Como as ações educativas podem ser potencializadoras <strong>da</strong> visão de<br />

que todos somos produtores dos nossos espaços? Como dialogar com<br />

o fatalismo?<br />

Dentro <strong>da</strong> imagem do mediador pode se enxergar a pessoa que faz a<br />

relação entre os diferentes significados do espaço e o “visitante” casual<br />

ou agen<strong>da</strong>do. Mas pode se enxergar também a possibili<strong>da</strong>de de<br />

estabelecer relações entre os significantes do espaço e os saberes do<br />

visitante, criando, desta maneira, uma afetação dupla. Nesta situação,<br />

a capaci<strong>da</strong>de de estabelecer relações com os significados e também<br />

com o significante, gera uma possibili<strong>da</strong>de de produção de<br />

pensamento e prática que são capazes de mu<strong>da</strong>r os espaços em<br />

função <strong>da</strong>s pessoas que os ocupam. O mediador, por tanto, tem a<br />

possibili<strong>da</strong>de de, ao contrário de ser uma pessoa que está entre duas<br />

coisas fixas, por um lado a instituição e seus conteúdos e por outro o


visitante, ser parte de um fluxo de conhecimentos que envolvem, no<br />

fim <strong>da</strong>s contas, a problemática <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Pensar uma ação educativa que potencializa a visão de que todos<br />

somos produtores de nossos espaços exige pensar educação,<br />

intervenção e invenção de ci<strong>da</strong>de como experiências não dissocia<strong>da</strong>s.<br />

Uma experiência viva de mediação – que nasce <strong>da</strong> criação de um<br />

espaço-tempo comum entre pessoas e lugares, e <strong>da</strong>s urgências aí<br />

revela<strong>da</strong>s – traz a possibili<strong>da</strong>de de que instituições e visitantes entrem<br />

em contato com o que são e com o que querem.<br />

A instituição é também conteúdo, parte <strong>da</strong> rede de forças que compõe<br />

o território urbano, e não apenas cenário. Que espaço é esse? Como<br />

ele constrói e pensa a noção de público? Neste encontro, nos<br />

deparamos também – instituição e visitantes – com a necessi<strong>da</strong>de<br />

constante de pensar e construir o “público”. Mesmo que pontuais, em<br />

um curto espaço de tempo, encontros potentes são formativos e<br />

interventivos, e deixam marcas nos participantes e nos espaços.<br />

Se ações artístico-educativas podem marcar e formar pessoas,<br />

espaços e, numa dimensão macro, a própria ci<strong>da</strong>de, é por que elas<br />

não são simulações ou representações de algo que poderia acontecer,<br />

mas são, em si, algo em estado latente de acontecimento. <strong>Este</strong><br />

exercício de pensar o encontro entre “visitantes”, “instituições” e<br />

“mediadores” como um espaço-tempo vivo, nos exige re-significar até<br />

mesmo estes conceitos. A instituição já não é mais um espaço pronto<br />

a ser visitado. O visitante não é mais, então, o espectador passivo que<br />

atravessa um lugar fixo, impermeabilizado. E o mediador pode se<br />

deslocar <strong>da</strong> figura que se coloca “entre”, para uma figura que ativa e


potencializa a percepção de que “ci<strong>da</strong>de” e “espaço público” estão<br />

continuamente em construção e invenção.<br />

Quando dentro do grupo Contrafilé começamos a pensar na proposta<br />

do “<strong>Jogo</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de”, tanto em um sentido formal e de conteúdo, mas<br />

também na própria metodologia, estávamos, e ain<strong>da</strong> estamos,<br />

preocupados em como uma prática de intervenção urbana pode ser<br />

compartilha<strong>da</strong> dentro de uma instituição, e em um sentido mais<br />

amplo, de que forma uma prática artística, política e social pode se<br />

desenvolver como educação.<br />

Para o grupo Contrafilé e a rede 3 de grupos que compartilha estas<br />

inquietações, o sentido de educação aparece desde o inicio destes<br />

coletivos como parte fun<strong>da</strong>mental do processo criativo. Numa primeira<br />

instância, se desenvolve como auto-educação, no sentido de que em<br />

primeiro lugar é o “eu” que tem que se transformar para poder afetar<br />

as relações que estabelece com seu entorno. Por tanto, os sujeitos <strong>da</strong><br />

ação são ao mesmo tempo os objetos <strong>da</strong> pesquisa, apagando a<br />

separação formal entre um e outro para abrir, desta forma, a<br />

perspectiva de uma criação que atinge os modos <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de.<br />

Essa forma de se entender, ou seja, partindo <strong>da</strong>s próprias<br />

inquietações, angustias e desejos, para transformar o que tem de<br />

comum e universal nelas, é o que nos permitiu reconhecer o potencial<br />

3<br />

Os coletivos artísticos têm como uma de suas práticas mais contundentes a imersão em problemáticas<br />

situacionais. É <strong>da</strong>í que partem para entender e apoderar-se do sentido de construção de outros discursos e<br />

modos de vi<strong>da</strong>, criando com isso uma multiplici<strong>da</strong>de de formas, representações e soluções performáticas. O<br />

Contrafilé é uma <strong>da</strong>s expressões que marcam o campo de produção artística coletiva em São Paulo. Nesta<br />

ci<strong>da</strong>de, atua junto a diversos grupos, tais como: Frente 3 de Fevereiro, Política do Impossível, EIA –<br />

Experiência Imersiva Ambiental, JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube, Corposinalizante, Bijari, entre<br />

outros grupos e Pontos de Cultura. Imagens de trabalhos de artistas e grupos desta rede foram seleciona<strong>da</strong>s<br />

para compor o tabuleiro do <strong>Jogo</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de.


educativo que as práticas de intervenção tem. Como nos disse uma<br />

vez a educadora Fátima Freire,<br />

“Estas estratégias que vocês criam são ‘disparadores<br />

alfabetizadores políticos’, instrumentos disparadores de uma<br />

politização, de uma toma<strong>da</strong> de consciência política que atinge,<br />

em primeira instância, a nós mesmos quando nos ligamos ao<br />

entorno e nos posicionamos, saímos de cima do muro. (...) Ou<br />

nos posicionamos no sentido de “ser mais gente” e deixar com<br />

que os outros também sejam; ou nos posicionamos, no nosso<br />

comportamento, nas nossas ações, no nosso engajamento, no<br />

sentido de “ser menos gente”.” 4<br />

Neste sentido, as propostas de “formatar” ou “planejar” ativi<strong>da</strong>des que<br />

possam funcionar dentro de espaços institucionalizados, nos levou a<br />

pensar formas através <strong>da</strong>s quais pudéssemos compartilhar espaços de<br />

criação com um outro, mas não no sentido de <strong>pretende</strong>r grandes ações<br />

ou de falar <strong>da</strong> prática artística de forma descritiva, mas sim de abrir a<br />

percepção do possível como campo de transformação.<br />

Em um encontro 5 que tivemos com o Colectivo Situaciones em 2007,<br />

um dos integrantes nos disse:<br />

“Há um tempo fizemos uma oficina com jovens de 14 e 15 anos<br />

e me aconteceu que ca<strong>da</strong> vez que eu falava “agora vamos<br />

4<br />

Entrevista publica<strong>da</strong> no livro Ci<strong>da</strong>de Luz – Uma investigação-ação no centro de São Paulo. Grupo Política<br />

do Impossível, Edital Conexão Artes Visuais, MinC, Funarte, Petrobrás, 2008.<br />

5<br />

Em 2007, como integrantes do Coletivo Política do Impossível (PI), participamos de um encontro que<br />

aconteceu em São Paulo, entre o PI, a educadora Fátima Freire e o Colectivo Situaciones (coletivo de<br />

investigação militante de Buenos Aires, Argentina). Neste encontro, discutimos profun<strong>da</strong>mente relações<br />

possíveis entre educação, arte e política, a partir de experiências apresenta<strong>da</strong>s pelos três participantes.


conversar disto ou aquilo”, eles não queriam falar na<strong>da</strong>, nem<br />

uma palavra, e o grupo se desmontava. Agora, quando se<br />

iniciava um jogo, a vitali<strong>da</strong>de que se estabelecia era brutal, e os<br />

jovens não paravam de falar. (...) É totalmente diferente esse<br />

“falemos”, de um jogo que faz com que apareça a palavra. No<br />

segundo caso a palavra tem outro significado, e quando não se<br />

joga e só se fala, existe um tipo de saturação <strong>da</strong>s palavras e de<br />

to<strong>da</strong>s as formas <strong>da</strong> política <strong>da</strong> fala.”<br />

O <strong>Jogo</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de como Metodologia<br />

O tabuleiro do “<strong>Jogo</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de” apresenta seis bases. Ca<strong>da</strong> uma traz<br />

um campo de reflexão, criado por uma pergunta norteadora 6 e uma<br />

série de referências de proposições artísticas 7 que discutem o corpo e<br />

a ci<strong>da</strong>de, tanto em imagens como <strong>texto</strong>s, que convi<strong>da</strong>m os jogadores<br />

ao debate. No centro do jogo a sétima base traz as regras 8 e dois<br />

<strong>da</strong>dos, um deles tem nas suas seis faces “desafios” 9 a serem<br />

realizados e o outro os “lugares” 10 onde esses desafios devem<br />

acontecer.<br />

6<br />

A ci<strong>da</strong>de é um espaço de liber<strong>da</strong>de? Como descobrir o corpo? Como criar novas vozes? Como mover o<br />

espaço? Como inventar tempo? O que precisa ser feito?<br />

7<br />

Reproduções/documentações de trabalhos de diversos artistas e grupos, entre eles: Contrafilé (SP), Frente<br />

3 de Fevereiro (SP), Política do Impossível (SP), Lygia Clark (RJ), Helio Oticica (RJ), Radek Community<br />

(Rússia), Ângela León (Espanha), Erroristas (Argentina), Grupo de Arte Callejero (Argentina), Floriana<br />

Breyer (SP), Bijari (SP), Jailtão (SP), Cildo Meireles (SP), K. Wodiczko (Polônia/NY), Corposinalizante<br />

(SP), Mônica Nador/JAMAC (SP) etc.<br />

8<br />

Caminhe pelas 6 bases azuis lendo as perguntas; Escolha sua base; Crie ali um pequeno coletivo<br />

temporário; Observe as imagens e <strong>texto</strong>s <strong>da</strong> base; Selecione 1 jogador para registrar a joga<strong>da</strong>; Selecione 1<br />

jogador para lançar os 2 <strong>da</strong>dos; Elabore e realize coletivamente uma ação poética pública; Divirta-se! <strong>Este</strong><br />

é um jogo para brincar e pensar!<br />

9 Crie um absurdo público, tire algo <strong>da</strong> sombra, crie um corpo coletivo, crie uma platéia onde não existe<br />

espetáculo, mude o ritmo coletivo e crie um obstáculo.<br />

10<br />

Banheiro, rampa, calça<strong>da</strong>, faixa de pedestre, catracas do metrô e lanchonete.


Por tanto, o jogo apresenta duas cama<strong>da</strong>s: uma primeira de reflexão,<br />

entre os participantes que integram ca<strong>da</strong> base, e uma segun<strong>da</strong> na qual<br />

eles devem criar, a partir do desafio e lugar lançados pelos <strong>da</strong>dos,<br />

uma ação poética pública. Desta forma, o <strong>Jogo</strong> não é uma competição,<br />

não existem ganhadores ou perdedores, mas sim uma série de<br />

conversas e ações cria<strong>da</strong>s pelos participantes, que serão<br />

experiência<strong>da</strong>s no corpo e compartilha<strong>da</strong>s com o grupo, trazendo uma<br />

nova instância de reflexão.<br />

<strong>Este</strong> formato foi criado e desenvolvido dentro <strong>da</strong> proposta do edital de<br />

Mediação em Arte do Centro Cultural São Paulo, em 2011, mas a<br />

pesquisa do jogo como metodologia já tem, para nós, vários anos de<br />

desenvolvimento. Talvez o que mais tenha mu<strong>da</strong>do nesta etapa, como<br />

nos apontou a educadora Marisa Szpigel observando uma ação do <strong>Jogo</strong><br />

no CCSP, é que, com esta estrutura, conseguimos ganhar mais<br />

autonomia em relação aos próprios artistas-proponentes.<br />

Ao se estruturar, tornando a metodologia mais organiza<strong>da</strong>, o <strong>Jogo</strong> <strong>da</strong><br />

Ci<strong>da</strong>de conseguiu funcionar autonomamente, descentralizando o<br />

trabalho, permitindo que o jogo não fosse apenas uma metáfora, mas<br />

ponto de parti<strong>da</strong> e chega<strong>da</strong>. Em experiências anteriores usamos a<br />

idéia do jogo de forma muito mais simples, o que nos exigia uma<br />

participação muito mais verbal – apresentar, explicar ou descrever<br />

ca<strong>da</strong> peça e cama<strong>da</strong> do jogo. Nas ações do CCSP, percebemos que as<br />

bases, as perguntas norteadoras, as referências (imagens e <strong>texto</strong>s) e<br />

os <strong>da</strong>dos, <strong>da</strong>vam autonomia para muitos debates e ações, que<br />

aconteceram independente dos mediadores.


Como o <strong>Jogo</strong> não precisou de tanta fala para acontecer, pudemos<br />

procurar novos lugares para a mediação, nos tornando ativadores do<br />

debate, garantindo que as conversas nas bases e entre as bases<br />

fossem se aprofun<strong>da</strong>ndo, e potencializadores <strong>da</strong>s ações poéticas,<br />

provocando os corpos dos participantes à encontrar urgências e novos<br />

estados de presença em relação à ci<strong>da</strong>de e ao público.<br />

Nos meses em que o jogo foi parte <strong>da</strong> grade de programação do<br />

Centro Cultural São Paulo, vivenciamos varia<strong>da</strong>s e ricas experiências.<br />

O CCSP proporcionou um leque de grupos participantes: crianças do<br />

ensino fun<strong>da</strong>mental, grupos com necessi<strong>da</strong>des especiais, jovens e<br />

professores. Isso nos permitiu enxergar a potência do jogo num<br />

caráter universal, com usos e possibili<strong>da</strong>des que não tínhamos<br />

previsto.<br />

Alguns jovens partiram de imagens apresenta<strong>da</strong>s no jogo para se<br />

apresentarem e, ao falarem de si e <strong>da</strong>s imagens, puderam traçar<br />

muitas relações com suas experiências cotidianas. Eles levantaram<br />

conteúdos e formas possíveis para serem trabalha<strong>da</strong>s por eles em seus<br />

percursos e projetos. Um grupo de jovens <strong>da</strong>nçarinos <strong>da</strong> zona sul <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de, por exemplo, avaliou que o <strong>Jogo</strong> apresentou uma possibili<strong>da</strong>de<br />

de linguagem para o grupo e percebeu que o que eles produzem<br />

coletivamente é uma forma de estar no mundo, por isso é arte e<br />

também política.<br />

Com o grupo com necessi<strong>da</strong>des especiais também ficou bastante clara<br />

a potência política do <strong>Jogo</strong>. Diante do desafio de realizar ações<br />

poéticas, os participantes criaram pequenas performances


profun<strong>da</strong>mente relaciona<strong>da</strong>s à sua experiência de ci<strong>da</strong>de. Por exemplo,<br />

um dos grupos, diante do desafio de “criar uma platéia onde não<br />

existe espetáculo nas catracas do metrô”, decidiu vaiar todos os<br />

espaços físicos que impediam ou dificultavam a sua mobili<strong>da</strong>de e<br />

aplaudir os espaços físicos que promoviam sua mobili<strong>da</strong>de, como<br />

aconteceu no elevador do metrô. Esta ação gerou um certo<br />

deslocamento de olhares e corpos dentro do espaço público, chamou a<br />

atenção de funcionários, transformando o exercício poético na<br />

formalização de uma urgência real.<br />

Com os professores ficou clara uma outra potência que o <strong>Jogo</strong> tem: de<br />

ser também um dispositivo para a discussão metodológica. Um dos<br />

participantes, depois de vivenciar uma ação com professores, decidiu<br />

marcar uma nova joga<strong>da</strong>, com coordenadores de um outro projeto<br />

onde ele trabalha, exatamente para que a equipe pudesse usar a<br />

joga<strong>da</strong> para “produzir futuro”, como eles disseram, levantando novas<br />

possibili<strong>da</strong>des metodológicas para o trabalho educativo em 2012.<br />

Foi muito interessante perceber situações nas quais os jogadores são<br />

atravessados pela experiência, trazendo pro <strong>Jogo</strong> e levando do <strong>Jogo</strong><br />

elementos criativos que mobilizam seu percurso pessoal. Uma <strong>da</strong>s<br />

educadoras do CCSP disse, depois de participar de uma joga<strong>da</strong>: “para<br />

mim já valeu, só pelo fato de ter sentido uma sensação de<br />

deslocamento dentro do meu corpo”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!