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ISBN: 978 ISBN: 978-85-60667-72-7 7 - Anppom

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ANAIS<br />

<strong>ISBN</strong>: <strong>978</strong>-<strong>85</strong>-<strong>60667</strong>-<strong>72</strong>-77<br />

01 a 03 de agosto de 2011<br />

Universidade Federal da Bahia<br />

Salvador - Bahia


Anais do<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

V Encontro Internacional de Educação Musical<br />

<strong>ISBN</strong>: <strong>978</strong>-<strong>85</strong>-<strong>60667</strong>-<strong>72</strong>-7


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA<br />

Reitora<br />

Profª. Dora Leal Rosa<br />

Vice-Reitor<br />

Prof. Luiz Rogério Bastos Leal<br />

Pró-Reitor de Ensino de Pós-Graduação<br />

Prof. Robert Evan Verhine<br />

Diretor da Escola de Música<br />

Prof. Heinz Karl Schwebel<br />

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Música<br />

Profª. Ana Cristina Gama dos Santos Tourinho


Diana Santiago, Angelita Broock e Tiago Carvalho<br />

Editores<br />

Anais do<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

V Encontro Internacional de Educação Musical<br />

<strong>ISBN</strong>: <strong>978</strong>-<strong>85</strong>-<strong>60667</strong>-<strong>72</strong>-7<br />

Universidade Federal da Bahia<br />

Escola de Música da UFBA<br />

Programa de Pós-Graduação em Música<br />

Salvador, 01 a 03 de agosto de 2011


Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil(2.: 2011:<br />

Salvador, BA)<br />

S471Anais doSeminário Brasileiro de Educação Musical Infantil,VEncontro<br />

Internacional de Educação Musical,01 a 03 de agosto de<br />

2011,[recurso eletrônico] / Coordenação Diana Santiago;<br />

Angelita Maria Vander Broock Schultz. –Salvador, BA :<br />

Universidade Federal da Bahia, 2011.<br />

1 CD-ROM : il.color ; 4 ³/4 pol.<br />

Inclui Bibliografias.<br />

Evento realizado pela Universidade Federal da Bahia, Escola<br />

de Música da UFBA e Programa de Pós-Graduação em Música.<br />

1. Música. 2. Música instrução e estudo – Infanto-juvenil. 3.<br />

Professores formação. I. Santiago, Diana Título. II. Broock Schultz,<br />

Angelita Maria Vander. III. Título. IV. Título: Encontro<br />

Internacional de Educação Musical (5. : 2011 : Salvador, BA). III. .<br />

Santiago, Diana. IV.<br />

CDD: 780.77


Coordenação Geral:<br />

Profa. Dra. Diana Santiago<br />

Profa. Ms. Angelita Maria Vander Broock Schultz<br />

Comitê Científico<br />

Profa. Dra. Diana Santiago<br />

Profa. Ms. Angelita Maria Vander Broock<br />

Schultz<br />

Profa. Dra. Alda de Jesus Oliveira<br />

Profa. Dra. Beatriz Senoi Ilari<br />

Profa. Dra. Taís Helena Palhares Foloni<br />

Profa. Dra. Ana Cristina Gama Santos<br />

Tourinho<br />

Profa. Dra. Zuraida Abud Bastião<br />

Profa. Dra. Mara Pinheiro Menezes<br />

Profa. Dra. Leila Dias<br />

Prof. Ms. Tiago Quadros Maia Carvalho<br />

Comissão Organizadora:<br />

Profa. Dra. Diana Santiago<br />

Profa. Ms. Angelita Maria Vander Broock<br />

Schultz<br />

Profa. Dra. Alda de Jesus Oliveira<br />

Profa. Dra. Beatriz Senoi Ilari<br />

Prof. Dr. Ricardo José Dourado Freire<br />

Profa. Dra. Mara Pinheiro Menezes<br />

Profa. Dra. Ana Cristina Gama Santos<br />

Tourinho<br />

Prof. Ms. Tiago Quadros Maia Carvalho<br />

Profa. Kamile Santos Levek<br />

Profa. Larissa Padula Ribeiro da Fonseca<br />

Profa. Dra. Zuraida Abud Bastião<br />

Monitores<br />

Ana Luiza Tomich<br />

Ana Luisa Barral<br />

Gabriel Macedo<br />

Letícia Bartholo<br />

Luan Sodré de Souza<br />

Roseane Ramos Mota


APRESENTAÇÃO<br />

A Escola de Música e o Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da<br />

Bahia têm a honra de realizar o II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil /<br />

V Encontro Internacional de Educação Musical, entre os dias 01 e 03 de agosto de 2011.<br />

A motivação inicial em realizar este evento foi a comemoração aos 5 anos do Projeto<br />

Musicalização Infantil da UFBA, pretendendo, através de uma comemoração<br />

acadêmica, promover um intercâmbio de informações entre professores, pesquisadores e<br />

estudantes que se dedicam à área já há alguns anos, além de contribuir para a formação<br />

de professores de educação musical qualificados a atenderem à faixa etária em foco,<br />

necessidade premente no momento em que a legislação torna obrigatória a educação<br />

musical no contexto escolar.<br />

Através de mesas redondas, palestras, workshops, comunicações de trabalhos,<br />

pôsteres e aulas práticas com as crianças, pretendemos nos reunir em três dias intensos,<br />

compreendendo, debatendo, aprendendo, cantando, tocando e, principalmente, vivendo<br />

e trocando grandes experiências com nossos colegas de área. Dentre eles, cumpre<br />

ressaltar a presença de mestres com grande experiência no ensino da música para<br />

crianças, que aceitaram nosso convite para compartilharem suas experiências.<br />

Agradecemos em especial a Alda Oliveira, Beth Bolton, Ilza Joly, Leda Maffioletti, Liu<br />

Man Ying, Luis Bourscheidt, Maria Betânia Parizzi, Ricardo Dourado Freire, Teresa<br />

Mateiro, Ana Favaretto e Márcio Coelho.<br />

A realização deste encontro só foi possível graças ao envolvimento de todos os<br />

membros da comissão organizadora e comitê científico, além do professores do Projeto<br />

Musicalização Infantil da UFBA. Agradecemos especialmente à Professora Beatriz<br />

Ilari, que mesmo estando longe, contribuiu para o evento de forma significativa . Faz-se<br />

necessário também agradecer os nossos apoiadores: CAPES, SONARE, Projeto<br />

“Música para crianças” da Universidade de Brasília, Alecrim Dourado Formação<br />

Musical, Editora Saraiva e Escola Dorilândia, além do Programa de Pós-Graduação em<br />

Música e da Escola de Música da UFBA.<br />

Desejamos boas vindas a todos os participantes e fazemos votos que este<br />

encontro possa gerar bons frutos para a área de Educação Musical Infantil, fortalecendo<br />

a área de Educação Musical no Brasil.<br />

Salvador, 26 de julho de 2011.<br />

Diana Santiago e Angelita Broock - Coordenadoras gerais do evento<br />

6


Abertura, Conferência e Mesas<br />

Redondas<br />

7


Abertura<br />

Musicalização Infantil da UFBA: 5 anos<br />

Angelita Broock<br />

PPGMUS/UFBA<br />

angelbroock@gmail.com<br />

Este é um ano de comemoração para o projeto de Extensão Universitária Musicalização<br />

Infantil da Escola de Música da UFBA, pois, embora as aulas para o público infantil<br />

venham sendo ministradas nesta escola desde a década de 60 para crianças a partir de 4<br />

anos, em 2006 iniciou-se um curso voltado aos bebês da comunidade soteropolitana.<br />

Atualmente o projeto contempla aproximadamente 170 crianças de 0 a 6 anos, divididas<br />

por idade em 17 turmas, sendo uma delas o Conjunto Instrumental para crianças de 6 a<br />

10 anos. A equipe de professores, coordenado pela doutoranda Angelita Broock, conta<br />

com alunos do curso de graduação e pós-graduação da Escola de Música da UFBA e<br />

está sempre de portas abertas para receber novos integrantes. Com o intuito de trocar<br />

experiências, todas as aulas são dadas em pares, sendo um professor com mais<br />

experiência que o outro. Ao longo dos 5 anos muitas pessoas já passaram pelo projeto.<br />

Inicialmente foi coordenado pela Profa. Dra. Leila Dias, e durante um ano pela<br />

professora Marineide Costa. Desde o início o projeto teve uma boa aceitação entre os<br />

pais e as crianças de Salvador. Por esta razão, tendo em vista o aperfeiçoamento dos<br />

professores do projeto e visando a qualidade das aulas, sempre antes do início de cada<br />

semestre organizamos uma vivência musical, onde convidamos algumas pessoas da área<br />

para um encontro. O final deste encontro sempre é movido pelo planejamento do<br />

semestre. Desde 2008 optamos por escolher um tema em comum para todas as turmas<br />

durante o semestre. Sendo assim, além do planejamento de conteúdos musicais,<br />

buscamos um repertório musical em comum para todas as turmas. Durante o período de<br />

aulas, realizamos reuniões semanais, com o intuito de compartilhar o que vem sendo<br />

feito em sala de aula, considerando os sucessos e as dificuldades encontradas durante o<br />

percurso, tanto em relação ao grupo quanto em relação às crianças individualmente.<br />

Aproveitamos estes encontros também para discutir aspectos da organização do projeto<br />

e solucionar eventuais problemas. Ou seja, os professores e estagiários tem um<br />

acompanhamento contínuo durante o trabalho. Acreditamos que a Extensão<br />

8


Universitária pode ser uma prática muito eficiente para a formação do licenciando em<br />

Música, sendo o espaço propício para pesquisa, experimentações e trocas de<br />

experiências, ou seja, um laboratório escola. A prática docente na extensão<br />

universitária, somada à prática docente na escola regular, pode complementar a<br />

formação do licenciando, que, por sua vez, poderá compartilhar e discutir com o colega<br />

de turma e com o grupo suas certezas e incertezas pedagógicas, que normalmente<br />

refletirão diretamente na sua prática na escola regular.<br />

9


Conferência de Abertura<br />

Touch the Future: Make Music with Babies<br />

Beth Bolton<br />

Music provides an ideal medium for the most important aspects of work with children:<br />

listening, and observing, interacting and communicating. Children younger than age 2<br />

years are pre-verbal and are learning about their world through the senses. Sound, sight,<br />

movement, posture, tone, inflection serve as interactive tools as a child learns music as a<br />

first language.<br />

A música é um meio ideal para os aspectos mais importantes do trabalho com crianças:<br />

escuta, observação, interação e comunicação. As crianças com menos de 2 anos são préverbais<br />

e estão aprendendo sobre seu mundo através de seus sentidos. Som, visão,<br />

movimento, postura, timbre e inflexão servem como ferramentas interativas enquanto a<br />

criança aprende música como uma primeira língua.<br />

Mesa redonda 1<br />

Educação Musical Infantil: o professor<br />

O Professor de Música e as Articulações Pedagógicas<br />

Alda Oliveira<br />

UFBA<br />

alda@sonare.com.br<br />

Nesta participação sobre o professor para a musicalização infantil, ressalto o que<br />

considero saberes relevantes como articuladores do desenvolvimento musical e geral, da<br />

afetividade, do gosto e alegria pelo fazer musical e artístico, do relacionamento humano<br />

e da criatividade. Na sua formação humana, o professor precisa antes de tudo, ser. Na<br />

sua formação técnica, precisa saber, ser, sentir, ver, saber dar e receber. Precisa<br />

conhecer aquilo que vai ajudar a desenvolver o aprendente naquela área de<br />

conhecimento. Saber observar o outro e o contexto, sentir a tudo e todos que o rodeiam.<br />

Saber respeitar as músicas de todas as culturas, envolver-se com naturalidade com as<br />

10


pessoas, com as familias, com as comunidades e com as obras artísticas. Saber confiar<br />

na intuição criadora para desenvolvê-la, saber demonstrar o afeto e o respeito para a<br />

construção de seres humanos mais íntegros, cidadãos e desenvolvidos em todos os<br />

sentidos.<br />

A Música e as Experiências de Compreensão do Outro<br />

Leda Maffioletti<br />

FACED/ UFRGS<br />

leda.maffioletti@gmail.com<br />

Neste trabalho discuto alguns fundamentos sobre a capacidade intersubjetiva dos bebês,<br />

o caráter precoce de suas habilidades musicais e o papel que elas desempenham no seu<br />

desenvolvimento sócio-afetivo. Procuro mostrar que as relações interpessoais mediadas<br />

pela música promovem o desenvolvimento sócio-afetivo, com possibilidades de<br />

constituírem-se como modelo intersubjetivo de comunicação, capaz de ajudar a criança<br />

a estruturar suas relações com o mundo. Por outro lado, acredito que o conhecimento<br />

sobre as capacidades dos bebês pode ser uma forma de o adulto perceber-se como<br />

pessoa expressiva e capaz de conectar-se com o outro através da música. Com base nos<br />

argumentos apresentados convido os ouvintes a se comprometerem um pouco mais com<br />

a difusão do conhecimento científico, a fim de transformar o conhecimento que detemos<br />

sobre música em atos responsáveis em favor do acesso de todas as crianças à Educação<br />

Musical.<br />

Professor de Educação Musical Infantil: o generalista e o especialista<br />

Teresa Mateiro<br />

Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil<br />

Universidade de Örebro, Suécia<br />

teresa.mateiro@udesc.br<br />

A formação profissional para a educação infantil é um tema que abre<br />

possibilidades de discussões múltiplas, desde a própria história do professor como<br />

profissional docente, reconhecido e valorizado até as necessidades formativas em<br />

11


educação musical para a formação inicial de professores generalistas 1 e de professores<br />

especialistas em música. É a partir da lei 9394/96 que a formação de profissionais de<br />

educação infantil começa a ser realmente discutida. O debate maior encontra-se junto<br />

aos cursos de pedagogia. Primeiro, por ser uma formação até há pouco oferecida pelos<br />

antigos Cursos Normais, em nível médio, que habilitava o profissional para atuar no<br />

ensino primário (7 a 10 anos), jardins de infância (3 a 6 anos), escolas maternais (2 a 3<br />

anos), classes pré-escolares (6 anos) e creches (0 a 6 anos ou até 10 ou mais). E<br />

segundo, pela possível falta de identidade dos cursos de pedagogia, questão discutida<br />

desde a década de 60, e reconstruída com a LBD de 1996 que assegura a formação<br />

docente paralelamente às outras funções do campo pedagógico (Kishimoto, 1999).<br />

A formação musical dos estudantes dos cursos de pedagogia tem sido discutida<br />

principalmente por Bellochio (2004, 2008a, 2008b) e Figueiredo (2004, 2007).<br />

Bellochio (2008a) argumenta que nos primeiros anos de escolarização as crianças<br />

aprendem de “modo conjunto e não em compartimentos nos quais cada área apresenta<br />

proposta independente” (p.2) e, por isso, propõe uma formação pedagógico musical<br />

mais qualificada para o professor generalista de educação infantil. Figueiredo (2004)<br />

acredita que os professores generalistas podem contribuir significativamente com a<br />

educação musical, uma vez que os professores especialistas em música raramente atuam<br />

nas primeiras séries do ensino fundamental. Ambos ressaltam que não se trata de<br />

substituir o professor licenciado em música.<br />

Acerca dos cursos de Música-Licenciatura, ao realizar uma pesquisa durante o<br />

ano de 2008, não identifiquei um programa que priorizasse a formação docente para a<br />

educação infantil (Mateiro, 2009, 2011). Entretanto, não posso deixar de mencionar<br />

trabalhos de extensão relacionados ao ensino e à pesquisa realizados na área de<br />

educação infantil, como por exemplo, o Projeto de Musicalização Infantil iniciado por<br />

Beatriz Ilari em 2005 na Universidade Federal do Paraná, que motivou estudantes de<br />

licenciatura em música a se identificarem como professores da infância (Ilari, 2010).<br />

Naquela ocasião afirmei que no Brasil temos um único modelo de profissional<br />

apesar dos projetos políticos pedagógicos expressarem intenções de formar profissionais<br />

com diferentes perfis. Penso que os professores que irão trabalhar na educação infantil<br />

não poderão receber exatamente a mesma formação daqueles que serão regentes de<br />

corais adultos. Por isso, tenho proposto que os programas curriculares de formação<br />

1 Outros termos são também utilizados na denominação desse profissional: unidocente, professor de<br />

classe, regente de classe, não especialista, entre outros.<br />

12


docente em música sejam elaborados vislumbrando diferentes perfis para os futuros<br />

professores de música (Mateiro, 2009, 2011).<br />

Os estudos sobre a formação de professores e os estudos acerca da organização<br />

de currículos tem utilizado o conhecimento pedagógico do conteúdo como uma<br />

ferramenta de pesquisa, criando possibilidades para compreender o conhecimento do<br />

professor sobre a forma de pensar o ensino. O professor é visto, portanto, como alguém<br />

que elabora conhecimentos e não apenas como alguém que transmite conteúdos<br />

aprendidos a priori. Este é um tema que tem me interessado.<br />

Pesquisas especificamente na área de educação musical sobre o conhecimento<br />

profissional de professores de música no ensino fundamental e médio e professores de<br />

instrumento (Ballantyne e Packer 2004; Ballantyne 2006; Jorquera Jaramillo 2008),<br />

assim como com estudantes em formação docente (Campbell e Burdell 1996; Mateiro,<br />

2003), têm sido levados a cabo em diversas partes do mundo. Esses estudos analisam o<br />

conhecimento necessário ao ensino de música nas escolas relacionando-o, por vezes, ao<br />

programa de formação docente. As pesquisas mostram que a dicotomização entre os<br />

conhecimentos musicais e pedagógicos parece ser um aspecto comum apontado tanto<br />

por professores de música recém-formados quanto por estudantes em formação, ou seja,<br />

aspectos relacionados ao conhecimento pedagógico do conteúdo é uma área que<br />

necessita maior atenção. O conhecimento pedagógico do conteúdo contempla a<br />

combinação entre o conteúdo da matéria e a prática pedagógica, ou seja, a forma como<br />

o professor ensina.<br />

Saber sobre o que se ensina e saber como ensinar é, sem dúvida, fundamental na<br />

formação de qualquer professor. Tanto as disciplinas de pedagogia da música quanto o<br />

período de práticas dos estudantes durante o período de formação docente deveria<br />

desenvolver habilidades e competências para que os futuros professores sejam capazes<br />

de articular efetivamente o conhecimento do conteúdo (o que) e o conhecimento<br />

pedagógico de conteúdo (como). Esse processo educativo do estudante em formação<br />

implica o domínio de conhecimentos técnicos musicais, o conhecimento de diversos<br />

métodos e abordagens de educação musical, a reflexão sobre a prática pedagógica de<br />

profissionais da área e sobre sua própria prática como professor em sala de aula.<br />

Portanto, a construção desse conhecimento na estrutura curricular dos cursos de<br />

Música-Licenciatura não pode estar restrita às aulas de disciplinas curriculares como<br />

metodologia de ensino, didática da música ou outras disciplinas afins, pois trata-se de<br />

um conhecimento criado na ação, ou seja, em situações de ensino e aprendizagem.<br />

13


Consequentemente, torna-se imprescindível a valorização das disciplinas relacionadas<br />

aos estágios curriculares que privilegiam a formação de novas competências,<br />

estimulando o estudante a ser um professor criativo e reflexivo sobre sua própria<br />

prática. É importante no desenvolvimento da formação profissional tanto do estudante<br />

em formação quanto do professor em exercício que eles possam ser autores de novos<br />

conhecimentos que integrem conteúdos, atividades e contextos.<br />

Diante do exposto caberia discutir modelos de formação profissional, qualidade<br />

da formação profissional, valorização do profissional da educação infantil, concepções<br />

de educação musical para a infância, a oferta de competências necessárias ao educador<br />

no interior dos programas curriculares, tanto de Pedagogia quanto de Música-<br />

Licenciatura ou, ainda, quais as perspectivas que se vislumbram para a formação do<br />

profissional de educação infantil em nível superior considerando a necessidade de<br />

expansão dessa formação.<br />

Predisposições e Neurociência: que devemos ensinar na educação<br />

musical do pré-escolar?<br />

Diana Santiago<br />

UFBA<br />

disant@ufba.br<br />

Revisitando um trabalho anterior de minha autoria que trata das predisposições a serem<br />

ensinadas na aula de música ao pré-escolar, apresento aspectos biológicos do desenvolvimento<br />

cerebral conforme a literatura específica. Pretendo, assim, contribuir com uma discussão sobre<br />

os conhecimentos que fundamentam a elaboração do currículo musical para esta faixa etária.<br />

Mesa redonda 2<br />

Educação Musical Infantil: a criança<br />

A Música e o Desenvolvimento Cognitivo-Musical na Educação<br />

Infantil<br />

Maria Betânia Parizzi<br />

UFMG<br />

betaniaparizzi@hotmail.com<br />

A Música exerce profundas influências no ser humano. Estudos recentes<br />

realizados por neurocientistas confirmam questões que já vinham sendo colocadas por<br />

14


pesquisadores da psicologia da música e da educação musical: a música provoca estados<br />

emocionais, promove alterações fisiológicas, provoca reações motoras e promove<br />

modificações cognitivas (PERETZ et al, 2009; PERETZ e ZATORRE, 2005; TURNER<br />

e IOANNIDES, 2009; ILARI, 2006; PANKSEPP e TREVARTHEN, 2009; SACKS,<br />

2007; LEVITIN, 2006)<br />

Essa influência pode ser nitidamente percebida desde muito cedo na vida. O<br />

comportamento dos bebês frente a estímulos musicais manifesta características<br />

singulares, bem diferentes daqueles observados frente a outros estímulos. Por esta<br />

razão, a música passou a ser considerada um importante veículo capaz de atrair a<br />

atenção do bebê muito precocemente na vida (REIGALDO et al, 2008). Mesmo antes<br />

dos três meses, os bebês já se mostram capazes de desenvolver “protoconversas<br />

expressivas” com seus pais ou cuidadores por meio de gestos e vocalizações, o que<br />

reflete uma predisposição da criança em compartilhar impulsos, interesses, ações e<br />

significados com o adulto (MALLOCH e TREVARTHEN, 2009). Essa pré-disposição<br />

para a comunicação, que se manifesta nas vocalizações e na alta sofisticação de<br />

movimentos de cabeça, rosto e de membros dos bebês durante seus momentos de<br />

interação com os adultos, é uma manifestação da “Musicalidade Comunicativa” do<br />

bebê: “habilidade inata e universal que se ativa ao nascimento, vital para a comunicação<br />

entre as pessoas, que se caracteriza pela capacidade de se combinar o ritmo com o gesto,<br />

seja ele motor ou sonoro” (MALLOCH, 1999/2000; MALLOCH e TREVARTHEN,<br />

2009).<br />

A musicalidade comunicativa está na base da comunicação humana e impulsiona<br />

o desenvolvimento da criança. Essa forma de interação do bebê com as pessoas<br />

apresenta características nitidamente musicais e tem sido objeto de estudos recentes<br />

(SHIFRES, 2007; MALLOCH e TREVARTHEN, 2009; PARIZZI, 2006, 2009, 2010;<br />

BEYER, 2003a, 2003b, 2005). Os bebês parecem ser dotados de uma capacidade<br />

musical diferenciada de outros aspectos de seu desenvolvimento psicológico<br />

(REIGALDO et al, 2008) e esta é uma importante razão para se justificar o aprendizado<br />

da música desde os meses iniciais de vida, (BEYER, 2005; CARNEIRO, 2006;<br />

REIGALDO et al, 2008; PARIZZI, 2010). Este aprendizado tem se configurado como<br />

um processo capaz de estimular não apenas o desenvolvimento musical da criança,<br />

como também o refinamento de outras habilidades físicas e mentais (PARIZZI, 2010;<br />

CARNEIRO e PARIZZI, 2011). A prática sistemática da música envolve um<br />

refinamento sensorial variado, desenvolve habilidades motoras complexas, alimenta a<br />

15


criança com sonoridades que serão vitais na aquisição da linguagem e em sua<br />

capacidade expressiva ao longo da vida (PARIZZI, 2010; CARNEIRO e PARIZZI,<br />

2011).<br />

Reforçando o pressuposto de que todo ser humano é dotado de uma habilidade<br />

inata para se comunicar – “a musicalidade comunicativa” (MALLOCH, 1999/2000;<br />

TREVARTEN, 1999/2000), é importante que o educador musical ofereça ao bebê<br />

experiências musicais expressivas que terão como objetivo “provocar” e “ativar” o<br />

desejo do bebê de se comunicar com as pessoas, por meio de gestos, seja o gesto motor<br />

(movimentos de cabeça, membros ou de todo o corpo) ou sonoro (balbucios)<br />

(CARNEIRO E PARIZZI, 2011).<br />

A partir do segundo ano de vida, o bebê expande, cada vez mais, o seu repertório<br />

de recursos para se comunicar com o mundo. Um recurso poderoso instala-se de forma<br />

gradual e definitiva: a capacidade de utilizar símbolos (PIAGET, 1982/1966). Essa<br />

grande conquista se manifesta principalmente na aquisição da linguagem, nos jogos de<br />

faz-de-conta ou jogos imaginativos, nos desenhos e nos cantos espontâneos. Esses<br />

recursos revelam “o que se passa na cabeça da criança”. O canto espontâneo evidencia<br />

não apenas como ela “pensa” a música, mas também como ela percebe o tempo, uma<br />

vez que as características temporais da música se manifestam nessa forma de expressão<br />

da criança.<br />

O jogo de faz-de-conta representa o prazer da criança em praticar tudo o que ela<br />

já assimilou do mundo. Através do jogo, ela pratica e amplia sua capacidade de utilizar<br />

símbolos (PIAGET, 1982/1966). A criança usa a voz, o corpo e os objetos para se<br />

expressar e o canto espontâneo é uma forma de jogo de faz-de-conta. Ela cria seus<br />

cantos enquanto brinca. Assim, os jogos de faz-de-conta integram-se aos cantos que,<br />

muitas vezes, narram eventos da vida da criança ou “cantam” histórias criadas por elas.<br />

Os jogos de faz-de-conta contribuem não apenas para o desenvolvimento de<br />

habilidades cognitivas como também sociais. Vygotsky (1<strong>978</strong>, p. 108) já antecipara esta<br />

idéia afirmando que, “sob uma lente de aumento, o jogo contêm todas as possibilidades<br />

de desenvolvimento de uma forma condensada, constituindo-se ele próprio numa grande<br />

fonte de desenvolvimento”.<br />

O desenvolvimento da linguagem falada abre para a criança possibilidades<br />

inovadoras. A internalização do comportamento proporcionada pela linguagem acelera<br />

o ritmo com o qual as experiências podem ocorrer (PIAGET, 1982/1966).<br />

16


Todas essas formas de representação devem ser consideradas no processo de<br />

desenvolvimento musical da criança na educação infantil. A linguagem, o jogo de fazde-conta,<br />

o desenho e a música são suas mais importantes formas de expressão e<br />

representam sua maneira de perceber e de se integrar ao mundo. Diante desse contexto,<br />

o educador musical deve considerar que o jogo de faz-de-conta deve ser o ponto de<br />

partida de experiências musicais prazerosas que devem privilegiar, principalmente, a<br />

performance corporal e instrumental, a audição de obras musicais e a criação de cantos<br />

espontâneos; essas experiências podem ser verbalizadas pelas crianças que, assim,<br />

manifestam o que perceberam e sentiram, podendo criar relações com outros eventos de<br />

suas vidas; finalmente, elas podem registrar ou desenhar suas experiências musicais por<br />

meio de garatujas, roteiros ou outras formas livres de grafia (BAMBERGER, 1990).<br />

Outro fator que contribui ainda mais para a eficácia dessa abordagem pedagógica é a<br />

possibilidade da interação entre os alunos mediada pelo educador musical, o que<br />

certamente promoverá o desenvolvimento cognitivo-musical e habilidades de interação<br />

social dessas crianças.<br />

Esse conjunto de experiências consolida de forma integrada o desenvolvimento<br />

cognitivo-musical da criança nesta etapa da vida: a música mobiliza emocionalmente,<br />

provoca reações motoras e fisiológicas, promove modificações cognitivas na criança.<br />

Cabe ao educador musical o importante papel de mediador neste processo.<br />

Música na Infância: influências e desdobramentos no desenvolvimento<br />

infantil<br />

Ilza Zenker Joly<br />

UFScar<br />

ilzazenker@gmail.com<br />

A proposta dessa mesa redonda tem por objetivo trazer subsídios para reflexão das<br />

possíveis contribuições da música para o desenvolvimento infantil, em especial aqueles<br />

relacionados à crianças com idades entre 08 meses e 04 anos de idade. Autores que<br />

contribuem para a área de educação musical, psicologia, desenvolvimento humano e<br />

educação fazem a base para essa discussão, que surgiu da necessidade de conhecer os<br />

prováveis desdobramentos das atividades de sala de aula na vida das crianças, tendo em<br />

vista as possíveis influências da música no desenvolvimento global destas e a melhoria<br />

na oferta dos cursos oferecidos para a comunidade, ampliando com isso o leque de<br />

possibilidades de aplicação e produção da educação musica param esta faixa estária.<br />

17


Um olhar específico sobre as relações entre crianças e adultos, pensando na relação que<br />

se dá, por meio da música, entre os bebês e seus pais ou cuidadores será discutido, de<br />

maneira que possamos refletir coletivamente sobre a importância da música na<br />

constituição dos laços afetivos construídos na primeira infância. Um resgate das ações<br />

musicais que são realizadas no Laboratório de Musicalização da Universidade Federal<br />

de São Carlos, por meio de inúmeras pesquisa lá realizadas será o ponto de partida dessa<br />

reflexão.<br />

Elaboração de Metodologia Brasileira para Ensino Coletivo de Violino<br />

Liu Man Ying<br />

ECA - USP<br />

liulumy@yahoo.com<br />

O presente artigo apresenta uma nova proposição metodológica do ensino coletivo de<br />

violino, com uso de elementos musicais das melodias folclóricas brasileiras na<br />

confecção de exercícios para a aprendizagem do instrumento; a grande maioria das<br />

escolas e projetos sociais que empregam o ensino coletivo de violino utiliza apenas<br />

métodos estrangeiros, onde constatamos o intenso uso de música regional e folclórica<br />

destes países, que são muitas vezes desconhecidas pelos nossos alunos brasileiros. A<br />

música folclórica auxilia na identificação musical do aluno com o material, facilita o<br />

aprendizado do instrumento além de fornecer um variado e abundante escopo técnico<br />

para o ensino do violino. Diante de tal panorama, constatamos a necessidade de<br />

estabelecer bases e diretrizes para uma metodologia de ensino coletivo de violino<br />

fundamentada nos elementos da música brasileira; escrita em língua portuguesa para<br />

facilitar a compreensão dos alunos quanto às propostas técnicas e metodológicas<br />

apresentadas; que apresente passo a passo os fundamentos da técnica do violino pelo<br />

método de ensino coletivo através de melodias folclóricas brasileiras.<br />

A Criança e o Outro: interações significativas na infância<br />

Prof. Dr. Ricardo Freire<br />

UNB<br />

ricardo.dourado.freire@gmail.com<br />

18


As aulas de musicalização, em muitos casos, oferecem as primeiras atividades de<br />

interação da criança em um ambiente educacional coletivo. O professor passa a<br />

compartilhar a atenção da criança, que antes estava focada principalmente na mãe e na<br />

família. Durante as aulas são realizadas atividades com várias outras crianças e seus<br />

familiares, sendo que nesses momentos são estabelecidas importantes relações de troca<br />

com o ambiente social. Na aula existe uma comunicação verbal e não-verbal constante<br />

entre os diversos atores no processo: a criança, as mães/pais, o professor, os monitores,<br />

outras crianças e outros adultos. De acordo com Lev S. Vigotski, a alteridade é a base<br />

para a emergência da consciência do eu. É a partir da relação significativa com o outro<br />

no contexto da experiência mediada que ocorre o desenvolvimento dos processos<br />

psicológicos. Na relação entre duas pessoas, a interação é parte essencial para a<br />

formação da consciência do eu, e neste caso do eu musical. Edwin Gordon (2000)<br />

caracteriza a fase de internalização de conteúdos musicais e as primeiras tentativas de<br />

explorações vocais como fase de Balbucio Musical. Da mesma maneira que a criança<br />

desenvolve a fala a partir das interações balbuciadas na troca com o outro mediada pela<br />

linguagem discursiva, torna-se essencial a interação e desenvolvimento da linguagem<br />

musical por meio do balbucio musical em um contexto socialmente compartilhado.<br />

Interações significativas entre o professor e a criança, entre os familiares e a criança ou<br />

entre crianças são fatores fundamentais para o desenvolvimento completo da criança,<br />

tanto na dimensão afetiva, social, cognitivo como na dimensão musicais.<br />

19


Comunicações


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto<br />

Professoras de séries iniciais e a obrigatoriedade do ensino da música:<br />

impactos e primeiras impressões<br />

Poliana Carvalho de Almeida<br />

polianaalmeida@ifba.edu.br<br />

Resumo: Vence neste ano de 2011, o prazo legal para o cumprimento efetivo da lei federal<br />

que tornou, em 2008, o ensino da música obrigatório em todos os níveis da educação<br />

brasileira. Infelizmente, é perceptível que somente agora, vencido o prazo, as discussões sobre<br />

esse novo dispositivo legal alcançam os espaços escolares e seus profissionais. Este artigo tem<br />

como objetivo refletir sobre as primeiras impressões de professoras unidocentes da rede<br />

pública de Santo Amaro sobre a Lei 11.769/08. Baseio-me para tanto em três frases proferidas<br />

por professoras participantes do curso para formação continuada em música, oferecido pelo<br />

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – Campus Santo Amaro a<br />

professores de séries iniciais da educação básica. Após a introdução deste texto segue-se os<br />

três tópicos nos quais cada uma das frases será analisada de forma a estabelecer sob que<br />

circunstâncias e cotidianos escolares elas se fundamentam.<br />

Palavras chave: Educação musical, escola pública, formação de professores<br />

Introdução<br />

Com a aprovação da Lei 11.769/08 surgem, entre os educadores musicais,<br />

manifestações que vão desde uma euforia crédula de que agora, amparados legalmente, a<br />

música ocupará um lugar importante na escola, até um sentimento de desesperança por parte<br />

dos que ao longo dos anos tem vivenciado o vai e vem das políticas públicas educacionais que<br />

constroem e desconstroem ações e quase sempre são determinantes do fracasso da educação<br />

musical brasileira.<br />

Após a leitura de algumas publicações sobre a Lei 11.769/08, resolvi posicionar-me<br />

ativamente em favor de sua implementação efetiva nas escolas públicas. Acredito, porém,<br />

que a existência de uma determinação legal não basta por si só para mudar determinada<br />

realidade, neste caso a situação do ensino da música.<br />

As políticas públicas para a educação musical e artística não têm contribuído<br />

para uma mudança significativa na situação dessas áreas atualmente. Mesmo<br />

depois das novas legislações (LDB, PCN, Diretrizes Estaduais e Municipais)<br />

as artes em geral continuam a ser tratadas de maneira irrelevante, mesmo<br />

quando alguns sistemas educacionais já adotaram a contratação de<br />

profissionais específicos para cada linguagem, o que já é um avanço com<br />

relação aos tempos da polivalência. (PENNA, 2008, p. 25).<br />

Como então fazer cumprir-se tal dispositivo legal se o cenário é de uma demanda de<br />

escolas muito superior à quantidade de profissionais qualificados para o ensino da música<br />

21


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto<br />

nestes espaços? Se pensarmos na situação das séries iniciais do ensino fundamental o quadro<br />

ainda piora, pois aí temos um único professor responsável pelo ensino de todas as disciplinas,<br />

inclusive Artes, função para a qual nem sempre recebeu formação, em nível de graduação,<br />

suficiente.<br />

Cabe, então, as administrações públicas, aliadas a instâncias formadoras, promoverem<br />

a capacitação destes profissionais para o ensino da música, uma vez que muito dificilmente<br />

veremos surgir milagrosamente até 2011 1 quantidade suficiente de licenciados em música que<br />

atendam a demanda das escolas públicas brasileiras de educação infantil de ensino<br />

fundamental I.<br />

Por ter formação em educação musical e ensinar numa instituição pública 2 que me<br />

possibilita a atuação nas áreas de extensão e pesquisa, me senti co-responsável pela<br />

implementação da lei 11.769/08, elaborei um curso de formação 3<br />

para professores<br />

unidocentes das séries iniciais do ensino fundamental da rede pública de Santo Amaro-Ba.<br />

A seguir destacarei em três tópicos algumas falas de professoras participantes do<br />

curso, a fim de discutir suas primeiras impressões sobre a Lei 11.769/08.<br />

Impressão 1: “Além de tudo, ainda tenho que ensinar música”<br />

Em nosso primeiro contato, no grupo de formação, procurei saber o quanto as<br />

professoras sabiam sobre a lei 11.697. Elas, de forma geral, responderam que nunca tinham<br />

lido o texto da determinação, mas sabiam que o ensino da música tornou-se obrigatório em<br />

todas as séries. Algumas demonstraram certo descontentamento, pois, além de terem que lidar<br />

com questões desafiadoras como alfabetização nas séries iniciais, dentre outras, deverão agora<br />

se incumbir do ensino de uma disciplina para a qual o curso de pedagogia não as preparou, e,<br />

para a qual se sentem incapazes.<br />

Este descontentamento deixa patente o lugar pouco privilegiado que ocupa a Música e<br />

as Artes na hierarquia das disciplinas escolares e também nos cursos de formação de<br />

professores para séries iniciais.<br />

Pais e responsáveis de crianças da educação infantil e séries iniciais preocupam-se<br />

quando constatam “falhas” no processo de alfabetização, mas não se importam muito com o<br />

1 Período em que expira o prazo para implementação da lei segundo seu Art. 3º: “ Os sistemas de ensino terão 3<br />

(três) anos letivos para se adaptarem às exigências estabelecidas nos arts. 1° e 2° desta Lei.”<br />

2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – Campus Santo Amaro<br />

3 O curso teve início em junho de 2011, com 14 professoras da rede pública matriculadas, terá carga horária de<br />

80h com previsão de término em setembro de 2011. Este curso é um projeto da Coordenação de Pesquisa e<br />

Extensão do IFBA- Santo Amaro.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto<br />

desenvolvimento artístico de seus filhos. Desde 2004, como professora de musica em escolas<br />

públicas, nunca ouvi de um pai: “Por que meu filho ainda não consegue cantar afinado?”<br />

[...] o professor que é responsável pelas matérias consideradas “nobres” no<br />

programa escolar (matemática, por exemplo) é diversamente avaliado pela<br />

administração escolar, pelos alunos e pelas famílias. Entretanto, os que são<br />

responsáveis por matérias pouco valorizadas no cômputo geral devem fazer<br />

prova de maestria para “prender” a atenção dos alunos e estimular seu<br />

empenho nos saberes transmitidos.(VASCONCELOS, 2002, p. 309)<br />

Quando falamos sobre realidade no sentido educacional, nos remetemos ao ambiente<br />

escolar, à instituição escola. Nesta “realidade” constrói-se o que denomina-se cultura escolar<br />

que é definida por Júlia (2001) como:<br />

[...] um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas<br />

a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses<br />

conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas<br />

coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas, finalidades<br />

religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização. (JULIA, 2001, p.<br />

41)<br />

Ao colocar a cultura escolar como mediadora da prática profissional docente, Júlia<br />

leva-nos a crer que as singularidades da mesma produzem diferentes perfis profissionais, em<br />

outras palavras, culturas escolares específicas de determinados contextos escolares podem ser<br />

relacionadas à construção de diferentes práticas profissionais.<br />

A cultura escolar, que reproduz e ao mesmo tempo questiona a sociedade, carrega<br />

alguns preconceitos. Um deles, fundamentado na hierarquia dos conhecimentos e disciplinas<br />

escolares. A citação abaixo exemplifica algumas conseqüências dessa hierarquia:<br />

Recorramos ao que por vezes ocorre nos Conselhos de Classe: a “hierarquia”<br />

que se encontra no currículo faz com que se valorizem diferentemente os<br />

conhecimentos escolares e “justifica” a prioridade concedida à Matemática<br />

em detrimento da Língua Estrangeira ou da Geografia. Nessa hierarquia, se<br />

supervalorizam as chamadas disciplinas científicas, secundarizando-se os<br />

saberes referentes às artes e ao corpo. Nessa hierarquia, separam-se: a razão<br />

da emoção, a teoria da prática, o conhecimento da cultura. Nessa hierarquia,<br />

legitimam-se saberes socialmente reconhecidos e estigmatizam-se saberes<br />

populares. Nessa hierarquia, silenciam-se as vozes de muitos indivíduos e<br />

grupos sociais e classificam-se seus saberes como indignos de entrarem na<br />

sala de aula e de serem ensinados e aprendidos. Nessa hierarquia, reforçamse<br />

relações de poder favoráveis à manutenção das desigualdades e das<br />

diferenças que caracterizam nossa estrutura social. (MOREIRA e CANDAU,<br />

2006, p. 23 e 24).<br />

Cláudia Bellochio (2003) confirma a existência de uma cultura estabelecida no<br />

contexto educacional baseada na tradição de não valorizar determinadas disciplinas do<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto<br />

currículo. Tal tradição, segundo a autora, atinge as disciplinas artísticas, que quando presentes<br />

na escola “servem, na melhor das hipóteses, para deixar o ambiente mais bonito e agradável”<br />

ou como apoio as disciplinas mais nobres do currículo.<br />

A cultura escolar hierarquiza conhecimentos baseando-se em critérios estabelecidos<br />

pela sociedade sobre o que é importante ser aprendido e, portanto, ser ensinado. A música,<br />

segundo o discurso pedagógico brasileiro corrente, é importante, mas na prática escolar<br />

prevalece a idéia de que ela não é tão necessária quanto língua portuguesa e matemática.<br />

Sendo assim o professor elegerá também suas prioridades a partir do que lhe é cobrado<br />

socialmente, seguindo uma hierarquia disciplinar historicamente construída, mantendo uma<br />

lógica circular de desvalorização do conhecimento musical e artístico que concretizada a cada<br />

nova geração de estudantes.<br />

Impressão 2 – “Será que isso vai dar certo?”<br />

Em sua maioria o grupo de formação é composto por professoras que atuam sistema<br />

público há mais de cinco anos, portanto estão acostumadas a verem suas práticas pedagógicas,<br />

de tempos em tempos, atingidas pelo vai e vem político ideológico das políticas educacionais<br />

brasileiras. Mal nos adequamos ao anterior eis que chega um novo pacote, pronto; neste ponto<br />

minhas colegas professoras questionam ao se depararem com a 11.769/08: Será que isso vai<br />

dar certo? E algumas, menos esperançosas, mas não menos experientes em matéria de sala de<br />

aula, afirmam: Isso não vai dar certo.<br />

Após uma atividade de musicalização 4 uma das professoras perguntou se eu elaboraria<br />

um manual de atividades musicais e outra disse: “Eu nem quero tentar. Com meus alunos?<br />

Na minha sala? Olha gente, vocês não sabem como é lá na escola. Se eu fizer essa atividade<br />

lá os meninos acabam com tudo.”<br />

Para quem não tem os pés no chão de uma sala de aula de uma escola pública, a fala<br />

dessa professora revela descompromisso e acomodação apenas. Proponho olharmos por outro<br />

ângulo.<br />

A constatação de que nenhuma instituição pública educacional participou ou foi<br />

consultada durante o processo de elaboração e aprovação da lei 11.769/08 é extremamente<br />

preocupante. Sendo assim não podemos ser intolerantes com a professora que afirma que<br />

4 No programa do curso de capacitação em questão constam atividades musicalização para os professores com<br />

objetivo de desenvolver e potencializar suas habilidades musicais através de atividades de canto, movimento e<br />

percussão corporal.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto<br />

“isso não vai dar certo”. Está fadado a não dar certo, pois, os atores principais do processo,<br />

aqueles que porão em prática a lei, foram postos a parte de sua construção.<br />

O debate envolveu músicos atuantes na mídia, entidades musicais diversas,<br />

políticos e educadores musicais, mas causa estranheza a ausência de<br />

representantes das escolas públicas. O locus de efetivação das propostas não<br />

foi presença efetiva nos debates, fazendo pressupor que o consenso podia<br />

não ser tão amplo como se aparentava e que o dispositivo legal seria imposto<br />

às escolas, e não resultado de suas demandas. (SOBREIRA, 2008, p.47).<br />

A oposição à idéia de projetos educacionais elaborados como receitas culinárias<br />

prontas e acabadas, não se resume a nos negarmos a fazer um manual de atividades musicais.<br />

Devemos transformar essa oposição em ações de forma que possamos nos unir a nossas<br />

colegas professoras unidocentes num esforço colaborativo para a construção de seus próprios<br />

manuais de atividades musicais, adequados a suas realidades.<br />

O educador musical que se propõe a capacitar professores para o trabalho com música<br />

deve estar envolvido na realidade da sala de aula. Não é fazer do grupo em formação um<br />

laboratório de pesquisa experimental, mas tomar parte no cotidiano escolar de seus<br />

participantes, acompanhando o desenvolvimento de suas práticas pedagógico-musicais.<br />

A impressão de incerteza e desconfiança explicitadas no questionamento “será que<br />

isso vai dar certo?” estará a poucos passos de ser substituído nos discursos dos professores<br />

pela afirmação “isso pode dar certo”, quando as instituições formadoras de educadores<br />

musicais envolverem-se com a escola pública e seus profissionais de tal forma que sejam<br />

capazes de juntos elaborarem planejamentos educacionais musicais executáveis.<br />

Impressão 3 - “Preciso aprender isso direito porque eu vou ter que ensinar<br />

depois”<br />

A frase acima foi dita por uma das colegas professora participante do curso quando<br />

estávamos conceituando as propriedades sonoras.<br />

Como podem ensinar o que não sabem? Talvez este seja um dos argumentos mais<br />

utilizados pelos que acreditam que não permitir a professores unidocentes ensinar conteúdos<br />

musicais é garantia de que teremos nossos “empregos” como licenciados em música<br />

garantidos e também certa “qualidade” no ensino da música nas escolas.<br />

O discurso academicista tem, há muito tempo, pregado objetivos inatingíveis para os<br />

não iniciados musicalmente. Por vezes ouvimos relatos de pessoas que se frustraram ao<br />

tentarem se aproximar de uma educação formal na área de música. Mas se por um lado não<br />

podemos cobrar virtuosismo musical dos professores unidocentes, por outro lado é necessário<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto<br />

garantir que eles possuam habilidades musicais e pedagógicas suficientes para o ensino de<br />

música.<br />

De forma alguma pretendo com o comentário acima compartilhar com a idéia da<br />

mensagem 622 de 18 de agosto de 2008, que justifica o veto 5 ao artigo 2º da Lei 11.697,<br />

transcrita em parte a seguir: “Vale ressaltar que a música é uma prática social e que no<br />

Brasil existem diversos profissionais atuantes nessa área sem formação acadêmica ou oficial<br />

em música e que são reconhecidos nacionalmente. Esses profissionais estariam<br />

impossibilitados de ministrar tal conteúdo na maneira em que este dispositivo está proposto.”<br />

A música é uma linguagem e, como tal, possui códigos específicos capazes de<br />

produzir discursos, em certos níveis, acessíveis apenas àqueles que detêm o conhecimento de<br />

tais códigos. Os saberes musicais são transmitidos de geração a geração graças também a<br />

esses códigos. Um bom músico, mesmo dominando os códigos da linguagem musical, nem<br />

sempre pode ser considerado um professor de música em potencial, pois, cada vez mais,<br />

tomam corpo as especificidades técnicas e metodológicas para o ensino da música, em<br />

especial quando destinadas a escola básica. Tais conhecimentos pedagógicos específicos que<br />

vem destacando a Educação Musical concedendo-a status de área do conhecimento 6 precisam<br />

ser estudados por professores de música. Sobre isso comenta a educadora musical e<br />

pesquisadora Cláudia Bellochio:<br />

Esse campo de saberes carrega especificidades de conhecimento musical e<br />

de conhecimento pedagógico, sem, no entanto, delimitar prescrições de<br />

como agir na situação educacional, que é carregada de situações específicas<br />

da prática. Para ensinar, é preciso que se compreenda a educação e esta em<br />

seus constituintes psicológicos, filosóficos, antropológicos, sociológicos,<br />

pedagógicos. Para ensinar música, é preciso que se compreenda música nos<br />

constituintes acima apontados. (BELLOCHIO, 2003, p. 22).<br />

Sendo assim, temos como objetivo, que professoras participantes do grupo de<br />

formação desenvolvam habilidades musicais adequadas à demanda de sua realidade e também<br />

adquiram conhecimentos de metodologias da música que possam alicerçar uma prática<br />

pedagógica musical significativa. Ao contrário do que esperava nosso grupo de formação<br />

mostrou-se muito disposto a realizar as atividades de musicalização. As professoras gostam<br />

de música, de cantar e tentam, na medida do possível, fazer a música presente em suas salas<br />

5 Ao ser sancionada a lei 11.769/2008, teve vetado o parágrafo 2ª que afirmava: “O ensino da música será<br />

ministrado por professores com formação específica na área.”<br />

6 Luciana Del Ben discute esta questão no artigo “A delimitação da Educação Musical como área do<br />

conhecimento: contribuição de uma investigação junto a três professoras de Música do Ensino Fundamental”<br />

publicado em 2001 na revista Em Pauta, v. 12, n. 18/19, p.65-93.<br />

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de aula. Enxergar na música, obra de arte apreciada, conteúdos musicais educacionais é um<br />

passo seguinte de uma longa caminhada, difícil, mas possível.<br />

O cenário ideal em que cada escola pública terá um licenciado em música no seu<br />

corpo docente ainda está longe de ser vislumbrado, e se tornará cada dia mais utópico se nós,<br />

educadores musicais nos fecharmos nos limites de nossa área com atitudes territorialistas e<br />

excludentes.<br />

Considerações finais – “Eu quero música na escola”<br />

Durante o primeiro módulo do curso de capacitação em música para professores das<br />

séries iniciais, deparei-me com expressões reveladoras sobre que tipo de impressões a<br />

aprovação da lei de obrigatoriedade do ensino da música nas escolas brasileiras causou fora<br />

dos círculos da educação musical. As expressões comentadas são de professoras unidocentes<br />

de escolas públicas de educação infantil e ensino fundamental. Ao comentá-las procurei partir<br />

do meu olhar com professora da rede pública, tentando, assim, expandir a discussão sobre a<br />

Lei 11.769/08, para além da dos limites restritos da área de música.<br />

Apoiada por outros educadores, defendo que uma medida legal não é suficiente por si<br />

só para garantir mudanças significativas no cenário educacional brasileiro.<br />

As inquietações que as falas analisadas deixam transparecer podem ser justificadas (1)<br />

por uma cultura escolar que impõe à música um lugar desprivilegiado dentro da hierarquia das<br />

disciplinas e saberes escolares, (2) pela insuficiência ou ausência do ensino das linguagens<br />

artísticas e suas metodologias de ensino nos cursos de formação de professores para séries<br />

iniciais e (3) pelo distanciamento entre as instancias formadoras de educadores musicais e<br />

cotidiano escolar brasileiro.<br />

Garantir a educação musical dos pequenos brasileiros que freqüentam as escolas de<br />

educação infantil e ensino fundamental, mais que lei, deve ser compromisso dos educadores<br />

musicais.<br />

Para além das polêmicas sobre quem deve ou quem pode ensinar música na escola,<br />

devemos estar atentos aos que realmente podem fazer a lei sair do papel. Como não nos é<br />

possível realizar o milagre da multiplicação dos licenciados em música, cabe-nos o<br />

engajamento em ações que promovam a formação e capacitação dos profissionais da<br />

educação que poderão nos ajudar na tarefa de musicalizar. Não propondo aos unidocentes<br />

pacotes prontos, como se tais profissionais não tivessem nada a oferecer, mas buscando a<br />

construção colaborativa de propostas em educação musical adequadas ao chão da sala de aula.<br />

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Referências<br />

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. A formação profissional do educador musical: algumas<br />

apostas. Revista da Abem, n. 8, p. 17-24, mar. 2003.<br />

DEL BEN, Luciana. A cultura escolar como objeto histórico. Em Pauta, Rio de Janeiro, v.12,<br />

n. 18/19, p. 65-93, 2001.<br />

JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História<br />

da Educação, Campinas, n. 1, p. 9-44, 2001.<br />

MOREIRA, Antônio Flávio B.; CANDAU, Vera. Maria. Currículo, conhecimento e cultura.<br />

In: BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Indagações sobre<br />

currículo. Brasília: 2006.<br />

PENNA, Maura. Caminhos para a conquista de espaços para a música na escola: uma<br />

discussão em aberto. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 19, 57-64, mar. 2008.<br />

SOBREIRA, Sílvia. Reflexões sobre a obrigatoriedade da música nas escolas públicas.<br />

Revista da Abem, Porto Alegre, V. 20, 45-52, set. 2008.<br />

VASCONCELLOS, Maria Drosila. O trabalho dos professores em questão. Educ. Soc. [online],<br />

Campinas, v. 23, n. 81, Dec. 2002.<br />

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Construção de Instrumentos de Percussão: uma experiência na educação<br />

infantil<br />

Maria Luiza Feres do Amaral<br />

UNIVALI<br />

liza.amaral@hotmail.com<br />

Laísa Carvalho da Silva Soares<br />

Eduardo Venturini de Souza<br />

Resumo: Este artigo relata a experiência de Estágio Supervisionado realizada no Centro de<br />

Intervenção e Estimulação Precoce – CIEP- Vovó Biquinha, instituição educacional sem fins<br />

lucrativos que atende crianças com necessidades educacionais especiais, crianças de risco<br />

social e no padrão normal de desenvolvimento, em Itajaí – SC. Os sujeitos envolvidos nesta<br />

experiência foram os dois acadêmicos do 4° período do Curso de Licenciatura em Música da<br />

Universidade do Vale de Itajaí - UNIVALI. Nesta instituição todas as turmas têm como nome<br />

um animal e a turma LEÃO foi o público alvo, composta de 15 alunos com idades entre 5 e 6<br />

anos. O tema escolhida para desenvolver as atividades musicais foi a construção de<br />

instrumentos de percussão com materiais recicláveis objetivando trabalhar e desenvolver a<br />

coordenação motora a partir de brincadeiras de ritmo, promovendo o interesse, o contato com<br />

a música e a consciência ambiental. Especificamente se pensou em compor uma canção para a<br />

turma leão, apresentar os instrumentos de percussão, conhecer os sons dos instrumentos<br />

confeccionados, diferenciar timbres dos instrumentos, divisão rítmica, relacionar o ritmo das<br />

sílabas dos nomes dos animais, apreciar os elementos rítmicos da musica africana e melhorar<br />

a coordenação motora. Como resultados se podem apontar o trabalho com a música de uma<br />

maneira ampla, despertando o interesse pela mesma, o contato com diversos instrumentos de<br />

percussão e o desenvolvimento da criatividade de forma individualizada das crianças, bem<br />

como e cooperação em grupo. As atividades foram fundamentadas em Jeandot (1997); Brito,<br />

(2003), Almeida & Pucci (2003) e Del Ben, Luciane & Hentschke (2002).<br />

Palavras - chave: Educação infantil, construção de instrumentos, educação musical<br />

Apresentação<br />

A criança mesmo antes de nascer já tem contato com uma grande variedade de sons.<br />

Sons estes produzidos pela própria mãe como o som do coração, som da voz, entre outros,<br />

que mesmo sem perceber está estabelecendo um tipo de linguagem com seu filho. Quando a<br />

criança nasce se depara com um universo de sons produzidos pelos seres vivos e por objetos,<br />

pois, na maioria dos povos é muito comum que a mãe cante para seu bebê e assim passa<br />

acontecer os primeiros contatos com a música.<br />

Para Jeandot (1997) “a criança não é um artista, nem um ser meramente<br />

contemplativo, mas antes de tudo um ser rítmico-mímico, que usa espontaneamente os gestos<br />

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ao sabor da sensação que eles despertam.” (JEANDOT, 1997, p.19) Partindo deste<br />

pensamento, podemos dizer que é através destes estímulos sonoros e da experimentação dos<br />

sons que a criança desenvolve seus sentidos e constrói seu conhecimento sobre música.<br />

Tendo em vista a importância da música no desenvolvimento da criança se objetivou -<br />

se especificamente trabalhar a partir da prática de atividades musicais que obtivessem o<br />

conhecimento básico sobre propriedades do som e ritmo, uma vez que é de suma importância<br />

na formação do aluno.<br />

Existe uma estreita relação entre a música, educação, e as pessoas com necessidades<br />

de educação especial. Pois, as atividades musicais têm papel importante na formação e no<br />

desenvolvimento do individuo como um todo, justificando sua inclusão no contexto<br />

educacional e social. Muitas manifestações artísticas como a música, aparecem predominantes<br />

em diversos relatos de experiências e pesquisa como ferramenta na qualidade de vida e na<br />

mudança de comportamento das pessoas como o trabalho de Louro (2003) as adaptações a<br />

favor da inclusão do portador de deficiência física na educação musical: um estudo de caso.<br />

Desta forma, o aprendizado musical do mesmo modo como a criação são essenciais<br />

para que as crianças tenham acesso e vivenciem de forma integral as informações e o<br />

conhecimento mediante avaliação continua e formativa.<br />

O ensino de música deve ser<br />

construído a partir do fazer musical e da “realidade” dos alunos, contemplando seus<br />

interesses, preferências e saberes. Desenvolver habilidades, atitudes e valores considerados<br />

necessários para a formação do individuo como cidadão. (DEL BEM; HENTSCHKE, 2002).<br />

Neste sentido Correia comenta que,<br />

O som e, conseqüentemente a musica, tem um impacto direto sobre as<br />

funções motoras e o sistema vegetativo passando a construir um valioso<br />

instrumento auxiliar no diagnostico medico e na promoção do<br />

desenvolvimento de potencialidades físicas, mentais, emocionais e sociais do<br />

homem. (CORREIA, 2001, p.38).<br />

Na busca de um aproveitamento efetivo da música na escola, através do tema<br />

escolhido foi possível trabalhar com a música de uma maneira ampla e compartilhar com as<br />

crianças as experiências vivenciadas e desenvolvidas até o momento no processo de formação<br />

acadêmica.<br />

O objetivo central do trabalho a ser desenvolvido seria a construção de instrumentos<br />

de percussão culminou com a filosofia da escola. Pois a escola realiza atendimento<br />

educacional, social, nutricional, psicopedagógico; estudo e pesquisa para a clientela de altorisco<br />

e necessidades educacionais especiais. Além disto, capacitação de recursos humanos<br />

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através de cursos e treinamentos para professores e campo de estágio, bem como grupo de<br />

pais para troca de experiência e orientações específicas.<br />

Assim, na escola há muitos materiais para se trabalhar com as crianças, principalmente<br />

instrumentos musicais confeccionados pelas mães dos alunos. Pois, na escola existe um<br />

projeto chamado “Uma conversa salva uma Vida” que atende a comunidade em geral,<br />

orientando pais ou responsável pela criança. Com isso as mães fazem um trabalho de<br />

“voluntariado” uma vez por semana confeccionando instrumentos através de materiais<br />

recicláveis.<br />

Procedimentos<br />

Para atingir os objetivos, esta experiência partiu de uma visita técnica com o objetivo<br />

de colher dados e conhecer a estrutura física e pedagógica da escola Vovó Biquinha.<br />

Em uma segunda etapa uma aula diagnóstica permitiu aos professores conhecer o<br />

público alvo que era formado por crianças de 5 e 6 anos num total de 15.<br />

Com objetivo de trabalhar e desenvolver a coordenação motora a partir de brincadeiras<br />

de ritmo e confecção de instrumentos de percussão com materiais recicláveis, promovendo o<br />

interesse, o contato com a música e a consciência ambiental, se optou por atividades<br />

interativas, de cooperação e criatividade.<br />

Os materiais didáticos usados foram: Violão, flauta, garrafas plásticas, cabos de<br />

vassoura, latinhas de alumínio, palitos de churrasco, fitas adesivas, cola, tinta guache, cd de<br />

áudio, desenhos e partituras<br />

As avaliações se deram por meio de participação, colaboração, criatividade,<br />

reconhecimento dos elementos trabalhados e percepção auditiva.<br />

Os registros das intervenções se deram por meio de relatórios, fotografias e vídeo.<br />

Relato de Experiência: o fazer musical na educação infantil<br />

Na visita técnica se pode conhecer o espaço escolar, que atende crianças de 0 a 6 anos<br />

e realiza atendimento educacional, social, nutricional, psicopedagógico; estudo e pesquisa<br />

para a clientela de alto-risco e necessidades educacionais especiais; capacitação de recursos<br />

humanos através de cursos e treinamentos para professores e campo de estágio; grupo de pais<br />

para troca de experiência e orientações específicas.<br />

As professoras da turma LEÃO, comentaram aos estagiários que utilizam à música nas<br />

aulas através das canções, onde as crianças dançavam, pulavam e também interpretavam a<br />

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música no papel por meio de desenhos. Assim, a primeira intervenção teve como objetivo a<br />

interação e socialização entre todos e a apresentação do planejamento das aulas de música<br />

para que todos pudessem ter maior conhecimento sobre ela.<br />

A primeira atividade planejada foi a criação de uma canção com o nome da “Turma<br />

Leão” e assim se pediu para as crianças dizerem o que elas sabiam sobre o as características<br />

do leão com o propósito de formas frases e compor a letra da música. Assim através das ideias<br />

apresentadas foram sendo formadas as frases e sendo harmonizadas pelos professores ao<br />

violão. Além da composição foi sendo adicionada para as crianças uma pequena coreografia<br />

que representasse o rugido do leão.<br />

Na segunda intervenção se deu inicio a confecção de instrumentos de percussão<br />

divididos em 3 aulas e os escolhidos foram a clava, chocalho, reco – reco e o maracá. Toda a<br />

atividade contou com o auxilio dos professores para a organização com atenção e cuidado<br />

diante de sua execução. Desta forma, em um primeiro momento foi feita a apresentação da<br />

clava e reco-reco, partindo dos conceitos básicos que os caracterizam e as crianças puderam<br />

em seguida manuseá-los, assim eles puderam experimentar conhecendo as formas e como são<br />

tocados. Logo após se começou a confecção da clava e do reco- reco pelas crianças e<br />

concordando com as palavras de Brito quando diz que “as crianças devem ser estimuladas a<br />

pesquisar materiais e objetos que produzam sons interessantes, pois, antes de construírem<br />

instrumentos musicais, elas os descobrem em materiais que se transformam a um simples<br />

toque”. (BRITO, 2003, p. <strong>72</strong>).<br />

Esta etapa foi consideravelmente difícil, pois se tratava do manuseio de materiais<br />

como: tintas guache, papéis coloridos e fitas adesivas, o que exige certa cautela. A confecção<br />

dos instrumentos foi terminada, mas não se conseguiu concluir a decoração de todos os<br />

materiais, faltando poucos detalhes por conta do tempo de aula. Na terceira intervenção se deu<br />

continuidade à confecção de instrumentos de percussão, sendo confeccionado neste módulo o<br />

chocalho. Apresentado os conceitos básicos que o caracterizam se passou para o manuseio de<br />

alguns chocalhos, a fim de experimentarem e conhecerem as formas e como são tocados.<br />

Nesta tarefa as dificuldades foram às mesmas da aula anterior, pois se tratava do manuseio de<br />

materiais como latinhas feitas de alumínio fino e com isso um maior cuidado para não cortar a<br />

pele da mão das crianças. Para completar o proposto se deu a construção deste instrumento.<br />

Para Brito,<br />

O trabalho na área de música pode (e deve) reunir grande variedade de<br />

fontes sonoras. Podem-se confeccionar objetos sonoros com as crianças,<br />

introduzir brinquedos sonoros populares, instrumentos étnicos, materiais<br />

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aproveitados do cotidiano etc., com o cuidado de adequar materiais que<br />

disponham de boa qualidade sonora e não apresentem nenhum risco à<br />

segurança de bebês e crianças. (BRITO, 2003, P. 64).<br />

Pôde-se observar a cada intervenção, o aproveitamento e a resposta positiva por parte<br />

das crianças sobre a atividade, havendo muita colaboração de todos em cada processo da<br />

tarefa. Além disto, se observou características específicas das crianças, algumas mais ativas,<br />

participativas, enquanto outras precisavam de um acompanhamento mais expressivo por<br />

serem mais quietas e naturalmente acomodadas, outra com dificuldade de locomoção o que<br />

exigiu maior atenção. A partir desta intervenção se procurou abrir novas possibilidades de<br />

estratégias de aula que se adaptassem a esta realidade, solucionando algumas deficiências dos<br />

professores quanto à diversidade encontrada.<br />

Dando continuidade, o instrumento trabalhado em sala de aula foi o Maracá. Esse<br />

talvez tenha sido o instrumento de maior dificuldade para a sua confecção, por utilizar mais<br />

materiais e pelo processo longo e detalhado que os demais instrumentos construídos<br />

anteriormente. Antes de começar com a confecção dos instrumentos foi revisada a música<br />

Turminha do Leão com as crianças para maior fixação da letra e melodia e para surpresa dos<br />

professores a música estava na “ponta da língua”, eles já cantavam sozinhos sem<br />

acompanhamento instrumental. Com o ensaio finalizado foi feito uma exposição do<br />

instrumento para que as crianças conhecessem a forma e o timbre, após a demonstração passo<br />

a passo e auxiliando as crianças em um processo lento que exige paciência e disposição, tanto<br />

dos alunos quanto de nós estagiários. Foram utilizados pedaços de madeiras de 30 cm,<br />

garrafas plásticas de aproximadamente 500 ml, arroz para a emissão do som dentro da garrafa,<br />

e materiais decorativos como: fitas adesivas coloridas, papéis coloridos, durex e fita isolante<br />

branca. Ao final de todo o trabalho se pode perceber que utilizamos mais de 1 hora com todo<br />

o processo. Conseguindo finalizar o trabalho pode observar uma melhora quanto ao<br />

comportamento de algumas crianças, na turma temos um aluno imperativo, que em quase<br />

nada das atividades queria participar, visto que quando confeccionado a clava, ele participou<br />

pintando com tintas guaches, nas histórias contadas ele tocava a clava ou chocalho. Esse<br />

instrumento foi o que as crianças mais gostaram, pois estavam bem animadas e participativas.<br />

“Muitos outros instrumentos poderão ser descobertos se as crianças tiverem a chance de<br />

contar com materiais variados e também com a orientação e o estímulo do educador ou da<br />

educadora.” (BRITO, 2003, p. 74).<br />

Dando seqüência ao planejamento, o próximo objetivo foi de experimentar os<br />

instrumentos confeccionados mostrando a divisão silábica de cada instrumento com sílabas de<br />

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palavras e figuras dos animais como: a monossílaba rã correspondia a semínima, a dissílaba<br />

ga – to correspondia a duas colcheias e a polissílaba pas – sa – ri – nho correspondia a quatro<br />

semicolcheias. Assim, se trabalhou em cima dessas divisões, porém não se conseguiu alcançar<br />

o objetivo das crianças tocarem na divisão correta, mas elas conseguiram marcar a pulsação<br />

quando solicitada. Ao final da intervenção se pode avaliar que se atingiu o alvo principal que<br />

era de instigar a percepção musical das figuras rítmicas e dos sons que as crianças têm desde<br />

quando nascem.<br />

Diante de tudo o que foi desenvolvido nesta experiência musical as palavras de<br />

ALMEIDA e PUCCI (2003) justificam o trabalho realizado, pois, “concebemos a música<br />

como uma das expressões humanas, uma das muitas linguagens utilizadas pelo homem para<br />

falar de si, do seu grupo social e de suas impressões sobre o mundo. (ALMEIDA; PUCCI,<br />

2003, p.15). Essas atividades foram de suma importância no desenvolvimento integral das<br />

crianças, pois se pode realizar um trabalho interdisciplinar, o que nos abre uma dimensão de<br />

outras áreas e só tem a acrescentar em nossa experiência acadêmica e profissional.<br />

Ao dar inicio a intervenção (análise e pesquisa do corpo docente, no qual busca – se<br />

através de pesquisas, levantar dados qualitativos e<br />

quantitativos visando a eficiência e<br />

abrangência educacional), se pode observar o quanto houve progresso das crianças e mesmo<br />

com as dificuldades encontradas n esta diversidade, os conteúdos foram bem aproveitados.<br />

Logo se deu a prática da nova etapa de aula a partir da música de origem africana YAYÈ<br />

BÖBÖ do livro “Outras Terras Outros Sons” de Almeida e Pucci (2003). Assim que foi<br />

colocada a música no aparelho de som se despertou a curiosidade das crianças por se tratar de<br />

um repertório desconhecido para elas. O mais incrível disso tudo é que com poucos minutos<br />

de ensaio as crianças já haviam absorvido o conteúdo e já estavam acompanhando cantando a<br />

melodia. Para declarar sobre a devida importância da influência de outras culturas através de<br />

repertórios musicais ALMEIDA e PUCCI comentam que<br />

Para ouvir e cantar canções de outros povos, com sonoridades diferentes das<br />

que estamos habituados, faz-se necessário que despertemos em nós a<br />

curiosidade pelo novo e pelo outro, isto é, pelo que não conhecemos, mas<br />

somos capazes de entender. (ALMEIDA; PUCCI, 2003, p.10).<br />

Desta forma, dando continuidade se começou a ensaiar a música YAYÈ BÖBÖ com o<br />

objetivo final de utilizar os instrumentos percussivos preparados nas primeiras aulas e com o<br />

acompanhamento da música. Além disto, as crianças estariam trabalhando o cantar a melodia,<br />

e também obtendo a noção básica de pulso e organizar uma apresentação final para a escola<br />

deste conteúdo. Em que com poucos minutos de ensaio as crianças já haviam absorvido o<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

conteúdo e já estavam nos acompanhando cantando a melodia junto. Dando continuidade a<br />

respeito da organização da turma colocamos todos juntos somente em um canto da sala para<br />

que tivéssemos melhor visão deles e assim simular a apresentação que ocorreria desta mesma<br />

forma, porém no lado de fora da sala. Alguns alunos colaboraram como de costume, outros se<br />

distraíam facilmente, mas apesar de convivermos com essas barreiras desde o início do nosso<br />

estágio percebemos que em geral todos aproveitaram a aula. Um ponto interessante que<br />

observamos durante o ensaio, foi o fato de que os alunos entenderam rapidamente onde<br />

queríamos chegar. Com certeza acreditamos que o peso que se deu através do planejamento<br />

da apresentação fez com que eles tornassem mais preocupados com o andamento em que<br />

tinham de se preparar.<br />

Nesta última intervenção consistiu unicamente da apresentação organizada e ensaiada<br />

na aula anterior. Deu-se inicio com um curto ensaio para deixá-los confiantes e preparados<br />

antes de se apresentarem para toda a escola. Alunos de outra Escola estavam visitando o<br />

CIEP. Por este motivo a apresentação ganhou uma proporção maior do que a esperada e<br />

superou nossas expectativas diante dos objetivos pensados para a última intervenção. Logo<br />

após com a turma sentada, onde os meninos sentados atrás e as meninas sentadas na frente<br />

com os instrumentos em suas mãos. Feita uma breve explicação dos objetivos da apresentação<br />

e se deu o ponto e partida que foi onde as crianças tocam e cantaram as duas músicas<br />

trabalhadas no ambiente escolar. Se pode considerar que as crianças tiveram sucesso absoluto,<br />

além do fato que toda a escola, contando com os alunos, direção e visitantes, pareceram<br />

aprovar a amostra dos trabalhos desenvolvidos em sala de aula, criando laços musicais e<br />

servindo ao futuro dessas crianças.<br />

Considerações Finais<br />

O estágio supervisionado é de grande importância para o crescimento do acadêmico<br />

como profissional e como ser humano por ser a melhor maneira de ele aplicar seu<br />

conhecimento obtido nas diversas áreas do curso.<br />

Foi gratificante dedicar todo este tempo para as intervenções mesmo sendo um<br />

trabalho exaustivo e que exige bastante do aluno como profissional.<br />

O que mais impressionou, foi que apesar de todas as dificuldades impostas antes de se<br />

iniciar as intervenções, se concluiu esta etapa com maior consciência da preparação que o<br />

docente deve ter e conhecer mediante a uma diversidade de pessoas.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Trabalhos como este são de suma importância na escola para que as crianças possam<br />

se desenvolver de forma integral e com qualidade.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ALMEIDA, M. Berenice; PUCCI, Magda Dourado. Outras Terras Outros Sons. São Paulo,<br />

2003.<br />

BRITO, Teca Alencar. Música na educação infantil. São Paulo, Peirópolis, 2003.<br />

CORREIA, C. Musica e saúde. In: I Fórum Catarinense de Musicoterapia, 2001,<br />

Florianópolis. Anais... Florianópolis, 2001.<br />

DEL BEN Luciane; HENTSCHKE, Liane. Educação Musical escolar: uma investigação a<br />

partir das concepções de três professoras de música. Revista da ABEM Porto Alegre, n. 7, p.<br />

49-57, setembro 2002.<br />

JEANDOT, Nicole. Explorando o Universo da Música. São Paulo: Scipione, 1997.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O Brincar no Processo de Escolha de um Instrumento Musical<br />

Larissa Rosa Antunes<br />

UnB - Projeto Música para Crianças<br />

larissinha.rosa@gmail.com<br />

Samara Pires da Silva Ribeiro<br />

UnB - Faculdade de Educação<br />

samara_prs@hotmail.com<br />

Ricardo Dourado Freire<br />

UnB - Projeto Música para Crianças<br />

freireri@unb.br<br />

Resumo: Dentro de um processo de escolha o ato de brincar pode ser uma ferramenta<br />

importante, pois envolve a relação do imaginário com o real, a função afetiva e<br />

principalmente pode proporcionar uma vivência significativa, pois é um ato inerente de todo<br />

ser humano, principalmente da criança. Pensar em um processo de escolha de um instrumento<br />

musical envolve as experiências musicais da criança e a sua relação com o instrumento que se<br />

conhece. O conhecimento pode ser dado por diversas práticas, como as relatadas neste<br />

trabalho, que exemplificam a atuação com crianças que irão optar por um instrumento<br />

musical.<br />

Palavras chave: Instrumento musical, jogo pedagógico musical, educação musical infantil<br />

No processo de escolha de um instrumento pode ser valorizada uma postura de<br />

curiosidade pelo novo. Cada instrumento oferece um tipo de relação física e social com a<br />

música. A afinidade entre crianças e instrumento pode ser o elemento inicial para despertar o<br />

interesse para a escolha. Uma experiência inicial de conhecimento dos instrumentos e suas<br />

características — apreciação do som, da forma e do movimento — pode oportunizar uma<br />

vivência real e concreta antes da escolha final.<br />

A escolha do instrumento musical por crianças de 5 a 6 anos de idade envolve a<br />

curiosidade pelo novo, e neste contexto as atividades realizadas por meio da brincadeira<br />

adquirem uma forma de expressão da música e de ludicidade deste processo. Entre as<br />

questões que surgiram para a realização deste trabalho, destacam-se: Até que ponto as<br />

experiências lúdicas que a criança tem ao longo do seu desenvolvimento são importantes para<br />

a escolha de um instrumento musical? Como a utilização de recursos pedagógico-musicais<br />

pode auxiliar no processo de escolha de um instrumento musical?<br />

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Contexto<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O presente trabalho é a continuação de uma pesquisa desenvolvida, no ano de 2010, no<br />

contexto do programa de extensão “Música para Crianças” da Universidade de Brasília, que<br />

atende crianças de 0 a 10 anos. O programa “Música para Crianças” proporciona aos<br />

integrantes vivências musicais separadas por cursos. No curso destinado a crianças de 5 a 6<br />

anos, denominado Pré Instrumental (PI), são oferecidas oficinas vivenciais trabalhando os<br />

fundamentos da linguagem musical e propiciando o contato com diversos instrumentos<br />

musicais. Um dos seus objetivos é preparar as crianças para a escolha e prática dos<br />

instrumentos (ANTUNES et al, 2010).<br />

Essa pesquisa foi referente ao processo de escolha de um instrumento musical em um<br />

curso de educação musical infantil. Os objetivos foram a identificação dos fatores que atuam<br />

no processo de escolha do instrumento musical por crianças entre quatro e seis anos de idade,<br />

integrantes de um curso de educação musical e a análise da importância da mediação de um<br />

projeto de orientação vocacional para a escolha do instrumento por essas crianças e suas<br />

famílias. Ao final do trabalho os autores apontam que a influência da família deve ser<br />

considerada, bem como suas expectativas quanto ao futuro da criança, sem uma pretensão<br />

quanto a um determinismo entre a experiência musical na infância e o futuro profissional de<br />

seus filhos. Foram discutidas também a preocupação com a liberdade de escolha e a<br />

oportunização do diálogo promovendo uma motivação pessoal, por parte da criança, na<br />

aprendizagem instrumental (ANTUNES et al, 2010).<br />

Posterior a esse trabalhado, foram promovidas vivências pedagógico-musicais que são<br />

apresentadas como em forma de um relato de experiência que envolve o processo de escolha<br />

de um instrumento musical e a perspectiva do jogo musical inserido nesse contexto.<br />

Brincar e Brincar na música<br />

Ao brincar, as crianças desenvolvem a imaginação, trabalham diversos papéis,<br />

podendo construir relações reais entre elas e elaborar regras de organização e convivência. Na<br />

brincadeira as crianças constroem a consciência da realidade e vivenciam a possibilidade de<br />

modifica-la. A brincadeira propicia oportunidade de aprendizagem, mas o professor deve<br />

assumir o papel de orientador. Para Kishimoto (1996, apud Cória-Sabini; Lucena, 2004):<br />

A utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do<br />

conhecimento, por contar com a motivação interna, típica do lúdico, mas o<br />

trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influência de<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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parceiros bem como a sistematização de conceitos em outras situações que<br />

não jogos (KISHIMOTO, 1996 apud CÓRIA-SABINI, 2004, p. 43).<br />

A criança leva para a brincadeira aquilo que faz parte da sua realidade, expressa as<br />

suas emoções e assimila as regras e comportamentos sociais, através da representação da<br />

realidade em que vive sendo passada em forma de brincadeira. O brincar possibilita a<br />

transição entre o mundo real e o imaginário. Por meio da brincadeira ela pode desenvolver o<br />

papel que lhe agrada. Teles (1997) afirma, com relação à criança e a brincadeira:<br />

Brincando, ela explora o mundo, constrói o seu saber, aprende a respeitar o<br />

outro, desenvolve o sentimento de grupo, ativa a imaginação e se autorealiza<br />

(...) brincando, a criança, também, coloca para fora as suas emoções e<br />

personaliza os seus conflitos (...). A criança reproduz na brincadeira a sua<br />

própria vida. Através dela, ela constrói o real, delimita os limites frente ao<br />

meio e o outro e sente prazer de poder atuar ante as situações e não ser<br />

dominado por elas (TELES, 1997, p.14).<br />

Os princípios do jogo e a utilização de materiais na educação musical foram discutidos<br />

por educadores musicais. Willems (1962) considera apenas os materiais auditivos, como<br />

instrumentos, músicas e fontes sonoras, enquanto Martenot (1970) considera jogo como<br />

“conduta de ação (energias corporais), ferramenta pedagógica (parlendas, jogos de criação) e<br />

material de jogo (objetos produtores de som ou relacionados à notação gráfica musical)”.<br />

(MORAIS, 2009, p. 903-904). O jogo musical é uma atividade semelhante ao brincar<br />

constituída de regras intrínsecas e objetivos musicais, constituindo o fazer musical.<br />

(MORAIS, 2009).<br />

Por meio dos Jogos Pedagógicos para Educação Musical, França e Guia (2005)<br />

apresentam uma proposta para o ensino dos conteúdos visando a realização musical de<br />

crianças a partir dos 6 anos de idade. Nessa proposta o jogo não visa a competição e sim os<br />

processos psicológicos, promovendo a aprendizagem e o desenvolvimento musical da criança<br />

(FRANÇA; GUIA, 2005).<br />

A prática do jogo musical no contexto de um curso de música pode promover o<br />

desenvolvimento musical individual da criança. Para Brito (2003) a promoção desse<br />

desenvolvimento não exclui as intervenções educativas, e o professor deve promover<br />

vivências a fim de proporcionar um ambiente estimulante, visando não só a música e sim a<br />

formação integral da criança (BRITO, 2003).<br />

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A orientação no processo de escolha<br />

Considerando o desenvolvimento da criança, um programa de orientação deve<br />

embasar seu trabalho nos múltiplos fatores que atuam na escolha. A criança pode fazer uma<br />

escolha considerando suas experiências, seus interesses, e, principalmente, sua imaginação.<br />

Para a escolha do instrumento não é diferente. A criança terá condições de escolher se tiver<br />

contato com diversos instrumentos. Tomando o instrumento como uma ferramenta cultural, as<br />

experiências são fundamentais para construir uma representação do som, da ação, da relação e<br />

das possibilidades na relação sujeito-objeto.<br />

Para acontecer uma escolha consciente é importante o papel de um orientador,<br />

professor e de ações pedagógicas planejadas que visem “ampliar a consciência que o<br />

indivíduo possui sobre a realidade que o cerca” (BOCK; AGUIAR, 1995 apud<br />

PASQUALINI; GARBULHO; SCHUT, 2004, p. <strong>72</strong>).<br />

Relato de experiência<br />

No 1º semestre de 2011, as aulas do curso são divididas por módulos, sendo que<br />

quatro delas foram destinadas às famílias de instrumentos. A primeira aula foi sobre a família<br />

de Percussão, seguida pela de Cordas e finalizando com a de Sopros. As imagens dos<br />

instrumentos eram relacionadas ao som, alguns instrumentos foram apresentados fisicamente.<br />

Ao final, como forma de sistematização, foi realizado um jogo pedagógico-musical. As<br />

crianças conheceram diversos instrumentos e suas famílias, como violoncelo, violino, violão,<br />

teclado, piano, flauta transversal, a família da flauta doce e a família percussão. Foram feitas<br />

aulas especiais com os instrumentos, dando-lhes a oportunidade de manusear e interagir com<br />

o instrumento e com o/a instrumentista.<br />

Durante as aulas ocorreram dois momentos: 1) espontâneos, por parte das crianças; e<br />

2) direcionados.<br />

Os momentos espontâneos ocorreram de diversas maneiras, entre eles a exploração do<br />

violão ao final das aulas e a sonorização dos instrumentos, por parte das crianças, em canção<br />

sem palavras.<br />

Dentre os momentos direcionados destacam-se a apresentação dos instrumentos por<br />

meio de apreciação, com a visita de instrumentistas e também com a apresentação das<br />

professoras, um jogo envolvendo o reconhecimento da imagem com o som do instrumento e o<br />

manuseio de alguns instrumentos.<br />

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Na primeira aula houve uma contextualização de todas as famílias. A professora<br />

iniciou com o violão, que é o instrumento utilizado em todas as aulas. Assim ela questionou<br />

as crianças o que é necessário para tocar o violão e um aluno respondeu que preciso de uma<br />

“parlenda”, a professora confirmou dizendo que era uma palheta. Ao perguntar se sem a<br />

palheta poderia tocar, o mesmo aluno respondeu que não, então houve a demonstração do<br />

tocar com palheta e sem palheta, com essa explicação a professora explicou que a família do<br />

violão era de cordas, depois perguntou sobre a flauta para depois focar na família de<br />

Percussão. Para essa família foram apresentadas, primeiramente as imagens de instrumentos<br />

em fotos e projeções para depois o instrumento real.<br />

O primeiro instrumento apresentado foi o pandeiro. A professora ao perguntar de qual<br />

família ele fazia parte, questionou o nome. Perguntou se o instrumento era da família de<br />

sopro, e as crianças responderam que não. Em seguida uma criança citou que a família do<br />

pandeiro era a “família de bater”, outra disse que era a “família de pandeiro”, então, a<br />

professora explicou que o nome da família era de Percussão. Após a apresentação dos<br />

instrumentos uma criança sugeriu a continuidade da atividade da seguinte forma: “pessoal tive<br />

uma ideia, vamos montar uma banda?”, seguindo-se a exploração livre dos instrumentos.<br />

Na segunda aula, sobre a família de Cordas, foram apresentados vários instrumentos,<br />

dentre eles o piano. Ao gerar confusão por parte de algumas crianças viu-se a necessidade de<br />

apresentar o piano e a sua estrutura física, abrindo-o e vendo o seu funcionamento.<br />

Primeiramente, a professora exemplificou tocando-o, enquanto as crianças viam a articulação<br />

do martelo com as cordas. Em seguida houve exploração individual.<br />

Na aula destinada à família de Sopro foi apresentada a família das Flautas Doces. Por<br />

meio da escuta atenta as crianças perceberam os contrastes sonoros (grave e agudo) e a<br />

percepção de diferentes melodias. As flautas foram nomeadas segundo as suas<br />

especificidades: Flauta Doce Soprano, Contralto e Tenor.<br />

Ao final desse processo foi realizado o jogo Bingo Sonoro e Orquestra Vocal. Este<br />

recurso pedagógico musical foi produzido por uma das professoras e tem por objetivo<br />

reconhecer os sons dos instrumentos musicais associando à imagem de cada um, por meio de<br />

um desenho representativo. Dentro dos objetivos específicos estão o despertar o interesse em<br />

conhecer o instrumento de acordo com o som e a imagem, estimular o interesse por um<br />

instrumento e analisar a representação dos instrumentos executados pelos participantes,<br />

através de uma “orquestra”.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Em sala de aula realizamos a primeira parte do jogo, destinada ao Bingo Sonoro. Antes<br />

de começar o jogo e explicar os comandos da atividade, nós apresentamos os sons e as<br />

imagens, aproveitando para perguntar sobre as famílias dos instrumentos. A atividade contou<br />

com intervenções pedagógicas por parte dos professores e, principalmente com o trabalho<br />

colaborativo entre as crianças tanto na identificação sonora e quanto iconográfica.<br />

O jogo visa a experiência musical por parte das crianças, para proporcioná-las uma<br />

escolha consciente. Pasqualini, Garbulho e Schut (2004) afirmam que:<br />

os processos de internalização da realidade social iniciam-se já na primeira<br />

infância, mediados pelas relações sociais que a criança estabelece com os<br />

adultos (e demais crianças), nos diversos contextos em que está inserida,<br />

como a escola, a família, a comunidade. Neste sentido, embora este seja um<br />

processo em constante movimento ao longo da vida dos indivíduos, as<br />

concepções de mundo, valores e opiniões principiam sua formação nesta fase<br />

do desenvolvimento (PASQUALINI; GARBULHO; SCHUT, 2004, p. <strong>72</strong>)<br />

Com isso, constata-se a importância de oportunizar para a criança experiências que<br />

auxiliem em uma escolha consciente e significativa, considerando, principalmente, o contexto<br />

e história do sujeito que escolhe, no caso, a criança.<br />

Considerações Finais<br />

Considerando que a ludicidade é intrínseca da criança, em um processo de escolha de<br />

um instrumento musical é importante a utilização de recursos pedagógicos musicais, visto que<br />

a escolha deve ser significativa e consciente e não necessariamente definitiva. Essa escolha<br />

pode ser modificada, de acordo com as experiências vivenciadas pela criança, alterando assim<br />

seus gostos e preferências. O que é imaginado antes do brincar pode ser modificado após a<br />

experiência com o instrumento propriamente dito. A experiência e o envolvimento com os<br />

instrumentos e com as atividades continuam em casa e o uso de diferentes recursos, como<br />

jogos e brincadeiras, bem como novas tecnologias como sites, vídeos, podem ser facilitadores<br />

para uma experiência significativa.<br />

As atividades concretas servem como parâmetro para a posterior escolha de um<br />

instrumento musical. O trabalho dos instrumentos em famílias permite que a crianças vejam<br />

um conjunto de instrumento com características similares e possam escolher dentro de um<br />

conjunto de possibilidades.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Referências<br />

ANTUNES, Larissa Rosa; RIBEIRO, Samara Pires da Silva; FREIRE, Sandra Ferraz C. D. &<br />

FREIRE, Ricardo Dourado. O processo de escolha do instrumento musical em um curso de<br />

educação musical infantil. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL, 19, 2010, Goiânia. Anais ... ABEM, 2009. p. 1637-1647.<br />

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da<br />

criança. São Paulo: Peirópolis, 2003.<br />

CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida; LUCENA, Regina Ferreira. Jogos e Brincadeiras na<br />

Educação Infantil. Campinas: Papirus, 2004.<br />

FRANÇA, Cecília Cavalieri; GUIA, Rosa Lúcia dos Mares. Jogos Pedagógicos para<br />

Educação Musical. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.<br />

MORAIS, Daniela Vilela de. O material concreto do ensino de música: jogo ou brinquedo?<br />

In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL,<br />

18, 2009, Londrina. Anais... ABEM, 2009. p. 903-909.<br />

PASQUALINI, Juliana C.; GARBULHO, Norma F.; SCHUT, Tannie. Orientação<br />

Profissional com Crianças: Uma Contribuição à Educação Infantil. Revista Brasileira de<br />

Orientação Profissional, 2004, 5 (1), p.71-<strong>85</strong>.<br />

TELES, Maria Luiza Silveira. Socorro! É proibido brincar! Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Construindo um Modelo de Plano Para Aulas de Musicalização Infantil: a<br />

experiência do Curso de Musicalização Infantil da UFPR<br />

Vivian Dell’ Agnolo Barbosa<br />

UFPR<br />

vivian.agnolo@gmail.com<br />

Tiago Madalozzo<br />

UFPR<br />

Resumo: Com o presente relato pretendemos apresentar um modelo de estruturação de<br />

atividades em aulas do Curso de Musicalização Infantil da UFPR. De construção coletiva<br />

pelos professores-estagiários atuantes no curso, esta estruturação acabou por ser formatada em<br />

um modelo de plano de aula adotado a partir de 2009 para todas as turmas do curso.<br />

Baseamos a argumentação em definições da abordagem fundamental do curso: a<br />

musicalização infantil e o jogo musical. A partir dos relatos de Ilari (2010) e Freire & Freire<br />

(2008), trabalhamos os conceitos de community of practice e construção colaborativa, que<br />

definem a organização logística do curso da UFPR. Ao apresentarmos o modelo de plano de<br />

aula, procuramos analisar a sua gênese e seu layout inicial a partir dos conceitos de estrutura,<br />

conteúdo e andamento, conforme sugeridos por Russell (2005), destacando ainda<br />

contribuições do pensamento de França & Swanwick (2002) e Palheiros & Wuytack (1995).<br />

Por fim, estabelecemos uma crítica a respeito da aplicação do modelo, ou seja, uma análise da<br />

prática em sala de aula a partir do planejamento.<br />

Palavras chave: Musicalização, planejamento, relato<br />

Introdução<br />

Atuando junto à comunidade de Curitiba-PR entre 2003 e 2010, o Curso de<br />

Musicalização Infantil da UFPR, extensão universitária, foi concebido como um laboratórioescola<br />

para prática dos acadêmicos do curso de Música – Educação Musical da instituição,<br />

que, na época, não tinham número relevante de opções para estágio em Educação Infantil.<br />

Ao longo dos anos, a estrutura física e humana do curso se ampliou: em setembro de<br />

2003, havia cerca de vinte e cinco alunos – crianças da comunidade curitibana – e cinco<br />

professores-estagiários – discentes do curso de licenciatura – atuando em uma sala de aula; já<br />

no final do primeiro semestre de 2010, quando o curso foi suspenso, eram cerca de trezentos<br />

alunos atendidos pelo curso e mais de cem em lista de espera, e trinta instrutores divididos em<br />

19 turmas.<br />

O sistema de ensino-aprendizagem entre os professores-estagiários é ponto crucial na<br />

estrutura logística que se implantou desde o início: em cada sala de aula, um grupo de três<br />

professores era responsável pela turma. Desta forma, combinava-se sempre professores mais<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

experientes com novos professores, o que promovia um fluxo de ideias, conhecimento,<br />

repertório e experiência dos mais valiosos, num processo de aprendizagem por pares, ou<br />

peer-learning system, conforme apontado por Beatriz Ilari (MADALOZZO et al, 2008, p. 71;<br />

ILARI, 2010, p. 54), criadora e primeira coordenadora do projeto.<br />

Com o decorrer das atividades do Curso de Musicalização Infantil da UFPR, os<br />

instrutores constataram a emergência de um modelo de plano de aula que, entendemos, foi<br />

autoconstruído. Embora uma versão padrão deste modelo tenha sido adotada por todos os<br />

professores do curso a partir de 2009, alguns anos antes seria impossível apontar “o autor” do<br />

modelo, uma vez que a construção foi coletiva e, desta forma, resultou em um produto<br />

original e possível apenas com a interferência de diferentes modos de ensinar e entender o<br />

curso, a partir de constantes avaliações do dia-a-dia de sala de aula.<br />

Com este relato, pretendemos descrever e analisar este modelo de plano de aula,<br />

apontando certas concepções teóricas que a partir dele ficam evidentes.<br />

Construindo um modelo de plano de aula de musicalização infantil<br />

A partir da estruturação do curso em turmas com trios de professores, a cada semestre<br />

realizava-se uma reunião para definição de um tema gerador, comum a todas as turmas. Este<br />

tema não só seria uma espécie de fio condutor para os planos de aula, mas também para a<br />

organização de uma Aula Pública de encerramento, no final dos quatro meses de curso, em<br />

que todas as turmas de uma determinada faixa etária apresentariam duas ou três músicas<br />

trabalhadas ao longo deste tempo.<br />

Com a definição coletiva do tema gerador, enfim os trios se reuniam para organizar<br />

em linhas gerais o planejamento semestral da turma, e a partir disso começavam as reuniões<br />

semanais, fosse presencialmente ou com auxílio da internet, para elaboração de cada plano de<br />

aula. Por este motivo é que, a partir de um dado momento, adotou-se uma versão padrão do<br />

modelo de planejamento em discussão neste trabalho: depois de alguns semestres em que<br />

cada turma registrava os planos de forma particular, e a partir de diversas reuniões para troca<br />

de ideias e repertório entre turmas de professores, aos poucos definiu-se a versão final que<br />

todos deveriam seguir para facilitar inclusive a preparação de material para pesquisa – é<br />

preciso destacar que muitos dos participantes acabaram voltando suas pesquisas acadêmicas a<br />

estudos ligados a musicalização, muitas vezes utilizando planos de aula arquivados como<br />

material para estudo de caso.<br />

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A abordagem de ensino no Curso de Musicalização Infantil da UFPR<br />

Quando nos referimos ao curso da UFPR, o título Musicalização Infantil faz referência<br />

a uma abordagem específica de educação musical que é definida no 3º volume do Referencial<br />

Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 45-51): trata-se da<br />

abordagem da musicalização, em que a partir de canções, jogos, danças, exercícios de<br />

movimento, relaxamento, prática instrumental, improvisação e audição, certas noções básicas<br />

de ritmo, melodia, compasso, métrica, som, tonalidade, leitura e escrita musicais são<br />

apresentadas à criança, sempre se reportando ao universo lúdico da infância – portanto, a<br />

partir do jogo musical.<br />

Maura Penna (2010, p. 22) afirma que musicalizar é “desenvolver os instrumentos de<br />

percepção necessários para que o indivíduo possa ser sensível à música, apreendê-la,<br />

recebendo o material sonoro/musical como significativo”. Desta forma, a musicalização é um<br />

processo em que “as potencialidades de cada indivíduo são trabalhadas e preparadas de modo<br />

a reagir ao estímulo musical” (PENNA, 2010, p. 21). Em outras palavras, a estimulação<br />

musical desde cedo tem por objetivo dotar as crianças de elementos característicos da música<br />

de uma determinada cultura, desenvolvendo não só o ouvido, mas também o movimento<br />

corporal e a expressão verbal, para que ela reaja a estes estímulos. Mesmo que tudo seja<br />

apresentado e aprendido de forma “implícita” – por exemplo, chacoalhando caxixis para<br />

entender o conceito de pulso de forma ativa –, nunca se deixa de utilizar em sala de aula o<br />

conceito musical correto – neste caso, pulso –, e é a partir do aprendizado destes conceitos<br />

básicos que busca-se formar indivíduos que mais tarde possam conhecer e expressar-se com<br />

música, e sejam capazes de emitir um juízo de valor sobre aquilo que produzem e ouvem.<br />

Recuperando o final da definição do RCN, destacamos o papel do jogo musical no<br />

processo de musicalização, e isto se deve a um fator fundamental: a brincadeira é uma espécie<br />

de interface natural da criança com o mundo – nas palavras de Ilza Joly (2003, p. 116), a<br />

criança, a partir da brincadeira, “relaciona-se com o mundo que descobre a cada dia e é dessa<br />

forma que faz música: brincando”.<br />

Neste caso, é importante destacar aquilo que Tizuko Kishimoto (1994, p. 19) apresenta<br />

como “paradoxo do jogo educativo”. Segundo a autora, o que define o jogo educativo é a<br />

presença concomitante de duas funções que parecem antagônicas: a função lúdica e a função<br />

educativa. Ou seja, por um lado, o jogo serve para propiciar a diversão e o prazer; por outro,<br />

deve ter um objetivo pedagógico claro. Se o equilíbrio entre as duas funções não for atingido,<br />

ou não haverá ensino, apenas jogo; ou não haverá hedonismo, apenas ensino.<br />

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Já que o trabalho de musicalização no curso da UFPR é intimamente ligado à ideia do<br />

jogo musical, é importante não se deixar cair no perigo de as aulas serem momentos de<br />

“recreação”, ou seja, tomando cuidado para não perder de vista o objetivo pedagógico em<br />

todas as atividades que se propõem.<br />

O trabalho coletivo de planejamento e organização no Curso de Musicalização Infantil<br />

da UFPR<br />

A estrutura logística do Curso de Musicalização Infantil da UFPR, à qual fizemos<br />

referência anteriormente, não era composta somente pelos trios de instrutores. Assim como<br />

apresentado por Ilari (2010, p. 48), o organograma era dividido em três níveis: a) coordenador<br />

(professor do Departamento de Artes da UFPR, proponente do projeto); b) monitores (três<br />

instrutores que se dispõem, a partir de indicação do coordenador, a organizar as questões<br />

burocráticas de matrículas, divisão de turmas, contatos com os pais dos alunos e organização<br />

da Aula Pública de encerramento); e c) professores-estagiários (discentes do curso de<br />

licenciatura organizados em trios).<br />

Deixando de lado o papel dos monitores, que se ocupam de questões burocráticas, a<br />

tomada de decisões pedagógicas era coletiva porém supervisionada: coletiva porque acontecia<br />

no âmbito do grupo como um todo (para estruturação do tema gerador do semestre e troca de<br />

ideias entre turmas de mesma faixa etária) e no contexto de cada turma a partir do sistema de<br />

trocas entre o trio de professores-estagiários; mas nada disso deixava de ser acompanhado<br />

muito de perto pelo coordenador do curso, que participava do projeto ativamente visitando as<br />

aulas, tecendo comentários para os trios, e coordenando todos os momentos de reunião do<br />

grupo.<br />

Desta forma, tendo o curso uma organização coletiva e uma atuação coletiva<br />

supervisionada, podemos resgatar o conceito de community of practice empregado por Ilari<br />

(2010, p. 52), ao entendermos que havia um engajamento mútuo, mas não homogêneo; ou<br />

seja, cada membro do grupo (ou, mais especificamente, do trio) contribuía para a prática de<br />

sala de aula a partir de diferentes graus de envolvimento, conhecimento e participação. É<br />

desta forma que emergem questões como a de liderança e real envolvimento dos participantes<br />

para um mesmo fim pedagógico, conforme analisadas por Ilari.<br />

Esta estrutura é extremamente importante ao analisarmos a questão do planejamento,<br />

uma vez que os professores-estagiários tinham, de certa forma, livre arbítrio para organizarem<br />

o semestre de sua turma da forma como acharem mais relevante. Ou seja, por mais que a<br />

coordenação procurasse fiscalizar o trabalho realizado em sala de aula, a discussão sobre as<br />

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linhas do planejamento a longo prazo muitas vezes ficava restrita ao trio; ou ainda, era<br />

subordinada à forma como os indivíduos mais experientes do trio, justamente por seu maior<br />

conhecimento prático, enxergavam os objetivos do semestre.<br />

Sobre o planejamento coletivo, cabe destacar o que Ricardo e Sandra Freire<br />

registram sobre a organização do Curso de Musicalização Infantil da Universidade de<br />

Brasília. Segundo os autores, não é interessante massificar as aulas ao se propor planos de<br />

aula padrão: um planejamento “construído no diálogo entre os agentes”, portanto integrativo e<br />

flexível, aproveita melhor “a potencialidade dos professores em agenciar o desenvolvimento<br />

de seus alunos com competência” (FREIRE; FREIRE, 2008, 157).<br />

Ainda que o sistema de aulas seja visivelmente diferente do curso da UFPR, esta visão<br />

sobre a qualidade de um planejamento coletivo é ponto em comum com a nossa análise.<br />

Segundo os autores, o planejar é um “processo relacional”, ou ainda uma “construção<br />

colaborativa que inclui e integra” (FREIRE; FREIRE, 2008, p. 158) as características pessoais<br />

de cada professor, aproveitando a diversidade de repertórios, propostas, modos de pensar e<br />

agir em sala de aula etc.<br />

É a partir dessa diversidade, mas sempre reportando-se ao grupo, que percebemos a<br />

construção coletiva de um modelo de plano de aula. O conteúdo de cada aula do curso da<br />

UFPR nunca foi copiado ou imposto para todas as turmas; mas a forma de se agir em sala de<br />

aula é tão coesa que possibilitou a origem de um modelo de plano de aula comum, que será<br />

apresentado em seguida.<br />

Além das questões de planejamento, que são exemplo característico desse sistema de<br />

atuação coletiva supervisionada, é importante destacar duas outras produções originadas a<br />

partir do mesmo sistema de organização: um CD com trinta e oito canções e um livro com<br />

quarenta e quatro propostas de musicalização infantil, lançados ao final do primeiro e do<br />

segundo semestres de 2008 1 , respectivamente, em que todos os professores do curso tiveram a<br />

oportunidade de gravar/publicar materiais de uso cotidiano no Curso ou ainda propostas e<br />

composições inéditas, sempre com igualdade de condições de participação, mas sob<br />

supervisão de uma pequena equipe. Assim, além da experiência de estágio, o Curso de<br />

Musicalização originou produções acadêmicas diversas como os materiais acima e algumas<br />

monografias de conclusão de curso de graduação.<br />

1 O livro, intitulado “Fazendo Música com Crianças”, está sendo reeditado pela Editora da UFPR neste ano.<br />

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A gênese e o layout final do plano de aula<br />

Antes que um modelo de plano fosse adotado como padrão, os professores<br />

costumavam anotar as atividades em cadernos. Em trio, muitas vezes definiam a ordem das<br />

atividades da aula utilizando apenas uma estrutura em tópicos. Dessa forma, havia uma<br />

estrutura básica, com início, meio e fim.<br />

Entendemos que a gênese do modelo final de plano tenha sido justamente a estrutura<br />

da aula em tópicos, ou seja, a estrutura básica da aula. A partir de trocas de ideias entre os<br />

professores, aos poucos esta estrutura foi sendo adotada por todas as turmas, sendo possíveis<br />

pequenos ajustes naturais. Abaixo apresentamos um quadro em que se resume a variedade de<br />

tópicos abordados em aula.<br />

Tabela 1: Tipos de atividades – os tópicos iniciais<br />

que deram origem a um plano comum<br />

Estrutura da aula Tipo de atividade<br />

Saudação /<br />

Início<br />

Limpeza de ouvidos<br />

Escala musical<br />

Contorno melódico<br />

Percussão instrumental<br />

Gestual<br />

Meio<br />

Percussão corporal<br />

Dança<br />

Audição ativa<br />

Apresentação de<br />

instrumento musical<br />

Relaxamento<br />

Fim<br />

Audição<br />

Despedida<br />

As atividades de saudação são canções em que, em geral, destaca-se o nome de cada<br />

criança da turma; da mesma forma com as atividades de limpeza de ouvidos 2 , o objetivo é<br />

criar um pequeno momento de separação entre as atividades cotidianas das crianças e a aula<br />

da música; ou seja, é um marco musical de início do período de aula.<br />

A partir daí, as outras atividades, a “aula propriamente dita”, são organizadas de<br />

acordo com a variedade de possibilidades exposta no quadro; mas nem sempre na mesma<br />

2 ver as considerações de R. Murray Schafer sobre o assunto em SCHAFER, R. M. Limpeza de ouvidos. In: O<br />

ouvido pensante. São Paulo: UNESP, 2001. p. 67-118.<br />

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ordem, e não necessariamente utilizando toda essa variedade em cada aula 3 . Por fim, as<br />

atividades finais têm o mesmo objetivo das iniciais: marcarem musicalmente o término da<br />

aula.<br />

O modelo a que nos referimos neste relato encontra-se na página 11, em seu layout no<br />

ano de 2010. Destacamos duas informações importantes de início: o espaço para registro dos<br />

objetivos da aula, bem como o tema específico; e a organização das atividades em tabela, em<br />

uma variação a partir de vários modelos, em especial o empregado por Joan Russell (2005, p.<br />

82).<br />

Na tabela, cada linha representa uma atividade da aula. A título de comparação, nas<br />

turmas com crianças entre 0 e 4 anos, que vão às aulas junto com os pais, os professores<br />

utilizavam uma média de doze atividades; já nas turmas de crianças mais velhas, entre 6 e 10<br />

anos, a média cai para seis a oito atividades. O motivo é a maior complexidade e possibilidade<br />

de variação dentro da mesma atividade, no caso das crianças mais velhas, e o menor tempo de<br />

foco das crianças menores, por outro lado.<br />

Nas colunas, inicialmente havia apenas: 1) tipo de atividade; e 2) desenvolvimento.<br />

Assim, a tabela nada mais era que uma nova formulação daquilo que já se fazia<br />

“informalmente” nos cadernos dos professores. Mais adiante, porém, foram incluídas novas<br />

colunas: 3) o condutor das atividades (já que era um trio, e não seria pedagógico que os três<br />

dessem ordens ao mesmo tempo); 4) o tempo médio de duração estimada, para controlar o<br />

andamento da aula; e 5) referências das atividades, para que, se o material fosse utilizado para<br />

fins de pesquisa, se tornasse mais fácil encontrar a autoria das atividades, uma vez que cada<br />

professor tinha conhecimento de estratégias e repertórios diferentes.<br />

Além disso, cada vez mais procurou-se enfatizar a importância de um complemento<br />

escrito: “observações gerais depois da aula”, campo localizado no rodapé do plano.<br />

Avaliando em termos de estrutura, conteúdo e andamento<br />

A pesquisadora canadense Joan Russell publicou em 2005 um trabalho em que<br />

descreve uma aula de música cuja abordagem é a musicalização infantil. A partir da prática, a<br />

autora estabelece três conceitos segundo os quais analisa a aula: estrutura, conteúdo e<br />

andamento (RUSSELL, 2005, p. 83-<strong>85</strong>). É importante destacar que, no texto de Russell, estes<br />

3 Freire e Freire (2008, p. 160) apresentam uma estrutura em tabela em que enfatizam algumas atividades como<br />

de: aquecimento e concentração; movimento; elaboração; avaliação individual; brincadeiras; avaliação<br />

coletiva; e despedida.<br />

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conceitos foram definidos para análise “pós” aula, a partir da prática; já neste relato,<br />

tomaremos cada um deles teoricamente para avaliar a proposta do plano de aula apresentado.<br />

Em termos de estrutura, é importante que a aula tenha seções pré-estabelecidas e bem<br />

marcadas. Ganha destaque o momento de saudação, uma vez que é necessário marcar o início<br />

do momento pedagógico. Além disso, a partir da alternância de atividades em aula, com o<br />

passar do tempo as crianças começam a entender que a aula tem uma sequência básica, e que<br />

há momentos específicos para cantar, tocar, dançar e ouvir. Além disso, um senso de<br />

comunidade é explorado, uma vez que em certos momentos é necessário dividir instrumentos<br />

com os colegas, ou mesmo entregar um determinado instrumento para pegar outro e dar<br />

sequência à aula. Este entendimento faz com que as crianças se sintam muito confortáveis na<br />

sala de aula depois de algumas semanas. Por estes motivos é que consideramos a estrutura<br />

apresentada na página 6 como o principal resultado pedagógico a que se chegou no curso ao<br />

longo dos anos, uma vez que ela auxiliou na caracterização do “jeito UFPR” de se ensinar<br />

música a crianças.<br />

Esta ordem de tipos de atividade, porém, pode ser analisada por outro conceito, o de<br />

conteúdo. A aula de música deve ser uma espécie de tapeçaria, segundo um princípio básico:<br />

o da unidade na variedade (RUSSELL, 2005, p. 83-<strong>85</strong>). A partir da contribuição coletiva do<br />

trio de professores, uma boa aula deve ser construída a partir da maior variedade de atividades<br />

e propostas possível, mas sem se perder o fio condutor.<br />

Em termos de variedade, destacamos, mais uma vez, os diferentes tipos de atividades<br />

propostos; mas também podemos registrar a variedade de: repertório; configuração das<br />

crianças (sentados, em roda, em pé, em duplas, com os pais etc); e a alternância das<br />

modalidades do fazer musical.<br />

Sobre este último tópico, citamos o pensamento de Cecília França e Keith Swanwick,<br />

quando destacam a importância de equilíbrio e interação entre atividades de composição,<br />

apreciação e performance; ou criação, audição e execução musical, segundo eles, “facetas<br />

essenciais de uma educação musical abrangente” (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p. 15-17).<br />

Ainda neste sentido, sempre procurou-se enfatizar a importância de um cuidado com<br />

os momentos de apreciação musical, afastando-se ao máximo de atividades passivas ao se<br />

discutir o conceito de audição musical ativa conforme apresentado por Graça Boal Palheiros<br />

e Jos Wuytack (1995, p. 12-13): um “processo que implica o envolvimento activo [sic] do<br />

ouvinte, e para o qual são necessárias a experiência e a aprendizagem”, e que acontece a partir<br />

da associação de outros tipos de atividades à de escuta, tais como: movimentos;<br />

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acompanhamento instrumental; acompanhamento verbal; apresentação ou confecção de<br />

gráficos; ou tudo isso junto, de forma a tornar possível a “visualização” do evento musical.<br />

Ainda dentro do conceito de conteúdo, em termos de unidade é necessário destacar o<br />

que Russell chama de “elos conceituais ou temáticos”: apesar da miscelânea de estratégias,<br />

conceitos e repertórios trabalhados, a aula tem uma profunda lógica interna pela existência de<br />

ligações entre as atividades que garantem a transição suave entre as atividades. Exemplos de<br />

elos de ligação são: padrões rítmicos; intervalos ou contornos melódicos; ou quaisquer<br />

conceitos musicais que são trabalhados em ao menos duas músicas, fazendo com que fique<br />

óbvia a ligação entre as atividades.<br />

Por fim, Russell define como andamento a capacidade do professor em conduzir a aula<br />

com o maior nível de concentração possível dos alunos, ou seja, dosando o tempo de cada<br />

atividade, percebendo exatamente o momento de se passar para a próxima atividade sem<br />

haver dispersão. Trata-se, portanto, de algo que se constrói com a experiência em sala de aula.<br />

No curso da UFPR havia três pensamentos que procuravam auxiliar para um bom<br />

andamento: a) a estratégia do “senta-levanta”; b) a economia de linguagem verbal; e c) o<br />

planejamento de atividades extras. A partir de uma alternância de atividades em disposições<br />

espaciais diferentes, procurando agir mais e dar regras de menos, e tendo sempre “cartas na<br />

manga” para momentos em que o número de atividades planejadas era insuficiente,<br />

procurava-se ter uma maior garantia de que a aula seria mais eficiente do ponto de vista do<br />

andamento.<br />

Crítica a respeito do dia-a-dia de planejamento de aulas e considerações<br />

finais<br />

Tecemos abaixo algumas críticas a partir da aplicação do modelo em aula.<br />

Em primeiro lugar, é muito difícil o estabelecimento de elos conceituais ou temáticos<br />

entre todas as atividades, e muitas vezes a ligação passa a ser menos um elo musical do que<br />

um elo “temático” extra-musical. Por exemplo: duas músicas que tratam de animais, sendo o<br />

elo temático os animais, e não um conceito teórico musical. Ainda assim, sempre houve elos<br />

entre atividades reunidas sob um mesmo tópico; portanto, de qualquer forma, era natural a<br />

ocorrência de uma unidade entre atividades nos planos.<br />

Por mais que o curso sempre tenha sido o ponto de partida para um encaminhamento<br />

profissional de muitos professores-estagiários, nem sempre houve um comprometimento geral<br />

com o momento do planejamento, fazendo com que o estabelecimento de metas para o<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

semestre fosse algo secundário, bem diferente da importância dada a isso a partir do registro<br />

de Freire e Freire no curso da UnB (2008, p. 158-160). Além disso, mesmo que um<br />

determinado trio de professores tivesse esta preocupação, muitas vezes não havia uma efetiva<br />

troca de ideias entre os trios de uma mesma faixa etária, o que poderia possibilitar um ganho<br />

considerável.<br />

Com o passar dos anos, a estrutura humana do curso aumentou muito, e, infelizmente,<br />

o grande número de professores-estagiários dificultou a manutenção de uma uniformidade em<br />

termos de estratégia de ensino – aquilo a que nos referimos como “jeito UFPR” de<br />

musicalizar.<br />

Ainda assim, o modelo de plano de aula – e mesmo de planejamento geral,<br />

considerando-se a força do critério de conteúdo na gênese do modelo, conforme destacamos –<br />

nos parece bastante efetivo, havendo vasto material padronizado para pesquisa nos arquivos<br />

do curso.<br />

Também não podemos perder de vista que sempre se procurou promover as “rodas de<br />

repertório”, tardes de sábado em que todos os professores-estagiários se reuniam para discutir<br />

ideias e principalmente trocar repertório. Ainda, o curso sempre promoveu oficinas de<br />

capacitação e atualização com professores de renome nacional e internacional para contribuir<br />

com a formação e reciclagem contínua de estratégias e repertório de seus instrutores.<br />

É preciso destacar especialmente a presença de um forte pensamento teórico que<br />

dominou toda uma geração de professores do curso: as ideias de Jos Wuytack e sua pedagogia<br />

Orff, de conhecimento de alguns dos instrutores desde 2005, e fortificada a partir da<br />

realização de grandes cursos de pedagogia musical ativa entre 2007 e 2010, principalmente<br />

nas estratégias de jogos, na diversidade de repertório e com o conceito de audição musical<br />

ativa.<br />

Por fim, concluímos ao destacarmos a utilização do modelo de plano construído ao<br />

longo desse tempo na UFPR em outros projetos de musicalização, já que vários dos<br />

professores-estagiários, após o término da graduação, passaram a gerenciar cursos de<br />

musicalização em escolas e universidades espalhadas em várias regiões do país.<br />

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FIGURA 1 – Modelo de plano de<br />

aula adotado pelos professoresestagiários<br />

do Curso de<br />

Musicalização Infantil da UFPR –<br />

versão do primeiro semestre de<br />

2010.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Referencial curricular nacional para a educação infantil. vol.3. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

Disponível em: . Acesso em: 21 jul.<br />

2011.<br />

FRANÇA, Maria Cecília Cavalieri.; SWANWICK, Keith. Composição, apreciação e<br />

performance na educação musical: teoria, pesquisa e prática. In: Em Pauta, Porto Alegre, v.<br />

13, n. 21, dez. 2002. p. 5-41. Disponível em:<br />

. Acesso em: 12 mar. 2011.<br />

FREIRE, Ricardo D.; FREIRE, Sandra F. Planejamento na Educação Musical Infantil. In:<br />

CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO<br />

(ANPPOM), 18., 2008, Salvador. Anais... Salvador: Programa de Pós-Graduação em<br />

Música da Universidade Federal da Bahia, 2008. p. 157-161. Disponível em:<br />

. Acesso em: 12 mar. 2011.<br />

ILARI, Beatriz S. A community of practice in music teacher training: The case of<br />

Musicalização Infantil. Research Studies in Music Education, v. 32, n. 1, jun. 2010. p. 43-60.<br />

Disponível em: . Acesso em: 13 set.<br />

2010.<br />

JOLY, Ilza. Educação e educação musical: conhecimentos para compreender a criança e suas<br />

relações com a música. In: HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana (orgs.). Ensino de<br />

música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p. 113-126.<br />

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.<br />

MADALOZZO, Tiago; ILARI, Beatriz S.; ROMANELLI, Guilherme; BOURSCHEIDT,<br />

Luís; KROKER, Fabiane; PACHECO, Caroline B. (org.). Fazendo música com crianças.<br />

Curitiba: DeArtes/UFPR, 2008.<br />

PALHEIROS, Graça Boal; WUYTACK, Jos. Audição Musical Activa. Porto, Portugal:<br />

Associação Wuytack de Pedagogia Musical, 1995.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2010.<br />

RUSSELL, Joan. Estrutura, conteúdo e andamento em uma aula de música na 1ª série do<br />

ensino fundamental: um estudo de caso sobre gestão de sala de aula. Revista da ABEM, Porto<br />

Alegre, 2005. v. 12. mar. 2005. p. 73-88. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 15 ago. 2009.<br />

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Proposta Pedagógica de Ensino Coletivo do Violino para Crianças de 5<br />

Anos na Escola de Música da Universidade Federal do Pará<br />

Joziely Brito<br />

joziely@hotmail.com<br />

Resumo: Há cerca de uma década esta autora vem desenvolvendo, um trabalho voltado para a<br />

iniciação ao violino de crianças de 5 anos na Escola de Música da Universidade Federal do<br />

Pará. A proposição de uma metodologia voltada para o ensino coletivo do violino com<br />

crianças de 5 anos, se dá devido a dificuldade desta autora encontrar material pedagógico<br />

voltado para a faixa etária em questão. Sendo assim, este artigo representa um recorte de<br />

pesquisa em andamento para a obtenção do título de doutora em educação musical pela<br />

Universidade Federal da Bahia cujo objetivo é sistematizar e aplicar uma metodologia de<br />

ensino coletivo voltada para a iniciação musical infantil no violino. Para isso, será necessário<br />

reunir fundamentações teóricas e empíricas sobre ensino coletivo do violino o que enriquecerá<br />

e respaldará essa proposta. Buscar conhecimentos na área da educação e da cognição musical<br />

também se faz necessário para conhecer de forma aprofundada o público alvo da investigação<br />

que são crianças de 5 anos. Com base na pesquisa qualitativa e no estudo de caso, serão<br />

utilizados como instrumentos de coleta de dados questionários, observação participante,<br />

vídeogravações e juízes independentes. A análise de dados contará com técnicas de<br />

triangulação o que promoverá maior fidedignidade nos resultados. Espera-se que esta<br />

investigação proporcione uma maior discussão sobre o ensino coletivo de instrumentos<br />

musicais para crianças em especial no violino, visando não só aspectos técnicos, mas com<br />

perspectivas de aspectos cognitivos e sociais.<br />

Palavras - chave: Educação musical infantil, ensino coletivo de instrumentos musicais,<br />

ensino coletivo do violino<br />

Introdução<br />

A comunidade acadêmica da área musical com freqüência vem se dispondo a<br />

pesquisar e publicar artigos com referentes ao ensino coletivo de instrumentos musicais<br />

(ALMEIDA, 2004; CRUVINEL; ORTIS; LEÃO, 2004; MONTANDON, 2004; TOURINHO,<br />

2004) 1 . A partir dos anos 90 o tema começa e ser incluído e debatido de forma abrangente em<br />

seminários e encontros de educadores musicais, que pretendem pesquisar a fundo os<br />

benefícios do ensino coletivo de instrumentos musicais (BARBOSA, 2006; CRUVINEL;<br />

MARQUES, 2006; GONÇALVES, 2006) 2 .<br />

O ensino coletivo na educação musical, por possuir um forte caráter social, pode ser<br />

utilizado para promover a interação entre as pessoas e a comunicação social, integrando<br />

aspectos afetivos, estéticos e cognitivos. Sendo a música uma das grandes formas de<br />

1 Anais do I Encontro de Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais.<br />

2 Anais do II Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais.<br />

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expressão humana, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI,<br />

1998) defende a sua presença no contexto da educação, de um modo geral e particularmente,<br />

na Educação Infantil.<br />

Neste contexto, em estudos anteriores realizados com a classe de violino infantil na<br />

Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA), Brito (2002) buscou, por<br />

meio de pesquisa de campo, fundamentos teóricos e empíricos que norteassem o ensino<br />

coletivo do violino com crianças de 4 e 5 anos. A busca para tentar propiciar um aprendizado<br />

eficaz que proporcionasse ao aluno uma formação lúdica, crítica e social, resultou em um<br />

relato de experiência que motivou a elaboração de uma metodologia específica para atender as<br />

necessidades da faixa-etária trabalhada. Para dar respaldo a essa proposta pedagógica, Brito<br />

(2010), em sua dissertação de mestrado, se propôs a investigar e catalogar trabalhos<br />

científicos que discutissem sobre o ensino coletivo de cordas friccionadas. Brito (2010) optou<br />

por pesquisar sobre cordas friccionadas devido à escassez de trabalhos científicos voltados<br />

para o ensino coletivo de violino. Por sua vez, a presente pesquisa tem em vista mais uma vez<br />

colaborar com tais trabalhos, ao sistematizar uma experiência de ensino coletivo do violino<br />

para crianças de 5 anos de idade, na EMUFPA. Sendo assim, esta proposta de pesquisa<br />

justifica-se pela necessidade de publicações de trabalhos científicos e de material pedagógico<br />

sobre educação musical coletiva do violino para crianças de 5 anos.<br />

A presente proposta de investigação não pretende discutir sobre métodos e tampouco<br />

discutir sobre metodologias de ensino coletivo de violino, porém não será descartada a<br />

hipótese de consultá-los como material referencial. As discussões estarão centralizadas na<br />

proposição de uma metodologia voltada para a iniciação ao violino de crianças de 5 anos na<br />

Escola de Música da Universidade Federal do Pará. Tal pesquisa também possibilita a<br />

ampliação das discussões sobre o ensino coletivo do violino e sua utilização como ferramenta<br />

metodológica eficaz na iniciação musical instrumental.<br />

Assim, delineia-se como objetivo geral a sistematização e aplicação de uma proposta<br />

pedagógica de ensino coletivo do violino para crianças de 5 anos na Escola de Música da<br />

Universidade Federal do Pará visando desenvolver não só aspectos técnicos, mas também<br />

proporcionar uma formação com perspectivas à verificação de aspectos cognitivos e sociais.<br />

Como objetivos específicos em princípio se estabelecem: desenvolver aspectos técnicos<br />

referentes ao ensino coletivo do violino para crianças de 5 anos; verificar o desenvolvimento<br />

de aspectos cognitivos no ensino coletivo do violino para crianças de 5 anos e verificar o<br />

desenvolvimento de aspectos sociais no ensino coletivo do violino para crianças de 5 anos.<br />

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É imprescindível que a Educação Musical, no contexto social contemporâneo, apoie<br />

seu entendimento dos processos pedagógicos em suas relações com a sociedade para o auxilio<br />

da criação de metodologias inovadoras que auxiliam a transformação social. Oportunizar uma<br />

formação que permita uma prática pedagógica musical que valorize e respeite o<br />

desenvolvimento do indivíduo como um todo, permite uma iniciação musical mais prazerosa<br />

e eficiente principalmente no que se diz respeito ao lado humanístico do individuo.<br />

Revisão de Bibliografia<br />

O Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais – ENECIM, desde<br />

sua primeira edição em 2004, reúne pesquisadores com interesse na área que vem discutindo<br />

o assunto para uma melhor compreensão sobre questões pertinentes ao ensino coletivo de<br />

instrumentos musicais, buscando por meio de trocas de experiências soluções e atribuições<br />

para enriquecimento científico e pedagógico da área. Dentre os pesquisadores podemos<br />

destacar: José de Almeida, Joel Barbosa, Flávia Cruvinel, Maria Isabel Montandon, Fernanda<br />

Ortis, Ana Cristina Tourinho, Diana Santiago entre outros.<br />

Pesquisadores reconhecem que o indivíduo que passa por uma musicalização coletiva<br />

na infância, além de adquirir sensibilidade sonora, desenvolve outras qualidades, como a<br />

concentração, a coordenação motora, a socialização, o respeito a si e ao grupo, e outras<br />

características que colaboram na formação do indivíduo (CAUDURO, 1989; GAINZA, 1988;<br />

MÁRSICO, 1982; SUZIGAN, 1986).<br />

[...] a aprendizagem musical deve ser repensada, visto que para o processo<br />

de musicalização ser importante e significativo, faz-se necessário que nos<br />

primeiros anos de vida o contato musical seja intuitivo, criativo e espontâneo<br />

e de preferência com um repertório de qualidade que vá além das músicas<br />

expostas pela mídia [...] (BAGATIN; DIAS; MAIA; RIBEIRO; RONDEL;<br />

2006 p.1791)<br />

O curso de violino da Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA)<br />

atualmente esta estruturado em três níveis: módulo (duração de cinco anos), básico (duração<br />

de quatro anos) e técnico (duração de três anos). A EMUFPA prevê em seu plano acadêmico<br />

que a partir dos 5 anos de idade o aluno já pode ingressar no curso preparatório de violino.<br />

Sendo assim, a necessidade de direcionamento de metodologia específica para atender essa<br />

clientela de baixa faixa-etária se faz indispensável.<br />

O trabalho com crianças exige em especial o conhecimento de fatores psicológicos,<br />

que envolvem o desenvolvimento biológico e do pensamento (PIAGET, 2001; GORDON,<br />

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2000; SLOBODA, 2008; ILARI, 2006). Para a sistematização de uma metodologia que atinja<br />

essa criança de 5 anos de forma a contribuir com sua formação não só técnica referente ao seu<br />

aprendizado no violino, mas também cognitiva e social deve-se primeiramente buscar<br />

entender: quem é a criança de 5 anos e como se forma seus processos cognitivos e sociais?<br />

Para isso, será muito importante compreender a natureza do conhecimento musical, do<br />

processo de aprendizagem e do social ao qual o aluno dessa faixa-etária é submetido. Logo, a<br />

busca por referências que discutam sobre os processos de aprendizagem de crianças de 5 anos<br />

será de suma importância para a elaboração da proposta de pesquisa.<br />

Além de gerar possibilidades de discussão sobre aspectos técnicos, aspectos cognitivos<br />

e aspectos sociais para o ensino coletivo infantil do violino, será importante selecionar alguns<br />

tópicos para discussão sobre personalidades do meio musical, que através de suas<br />

contribuições reinventaram conceitos e quebraram paradigmas para desenvolver técnicas e<br />

métodos de ensino coletivo da música que pudessem transformar indivíduos não só como<br />

músicos preparados, mas também como indivíduos capazes de viver socialmente de forma<br />

saudável e produtiva. Dentre algumas dessas personalidades podemos citar: Villa-Lobos e o<br />

canto orfeônico, Alberto Jaffé e o projeto espiral que muito contribuiu para a formação de<br />

jovens instrumentistas no Brasil e não esquecendo Shinishi Suzuki e seu método da educação<br />

do talento. Faz-se necessário ressaltar que discutir sobre técnicas e métodos de ensino do<br />

violino não é um dos objetivos da proposta de pesquisa, todas as informações serão tratadas<br />

como aquisição de respaldo teórico para essa investigação.<br />

Como já foi mencionado anteriormente 3 , Brito em 2010 realizou como proposta de<br />

pesquisa para sua dissertação de mestrado uma catalogação crítica onde pode reunir trabalhos<br />

científicos sobre o ensino coletivo de cordas friccionadas e obteve em seus resultados fatores<br />

que podem contribuir para um bom desempenho do aluno. Apesar da proposta de pesquisa ter<br />

centralizado suas investigações nas cordas friccionadas, entende-se que devido ao fato de o<br />

violino fazer parte desta família pode-se utilizar esses fatores como pontos de discussão<br />

também para essa investigação que consiste no ensino coletivo infantil do violino<br />

possibilitando, assim, mais um ponto para se desenvolver como respaldo teórico o que<br />

enriquecerá esta proposta de pesquisa.<br />

Um ponto muito importante que deve ser levado em consideração é o perfil do<br />

professor para atuar no ensino coletivo infantil do violino. Um profissional que compreenda<br />

as características da faixa-etária proposta nesta investigação e que saiba utilizar recursos<br />

3 Verificar página 5.<br />

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metodológicos adequados de forma motivadora propiciando um aprendizado de qualidade<br />

será de fundamental importância para a pesquisa. Portanto, observar o mediador (professor) e<br />

submetê-lo a um processo de avaliação proporcionará a esta investigação resultados que<br />

contribuirão para a formação do perfil do professor para atuar na área de ensino coletivo<br />

infantil do violino.<br />

Reunir fundamentos que sustentam o envolvimento da família no processo de<br />

aprendizagem musical coletiva do ensino do violino da criança de 5 anos respaldará a<br />

importância da presença da família na educação musical da criança gerando na mesma<br />

segurança para continuar seus estudos no violino.<br />

Quanto aos aspectos sociais, percebe-se a importância de um estudo conceitual à<br />

compreensão do meio enquanto fator motivador de hábitos, atitudes, enfim de<br />

comportamentos. O ensino coletivo infantil do violino pode beneficiar o aluno não só em sua<br />

formação como instrumentista mais também em sua formação humanística.<br />

Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais<br />

Os conservatórios e as escolas de música no Brasil, ainda atendem em sua maioria<br />

uma clientela específica que abrange a classe média e alta, o que transforma o ensino da<br />

música elitista, (CRUVINEL; LEÃO, 2003). Enquanto que nas escolas públicas, segundo as<br />

mesmas autoras, “A Educação Musical ainda é vista, simplesmente, como parte integrante<br />

das atividades complementares e não como parte das disciplinas prioritárias na formação do<br />

aluno” (CRUVINEL; LEÃO, 2003, p.2). Percebe-se que ainda há, em sua maioria, uma<br />

leitura equivocada sobre a forma com que se deve inserir o estudo da música na vida do<br />

indivíduo.<br />

Com a crescente procura da população pelo aprendizado musical, conservatórios e<br />

escolas de música para atender a demanda, criaram projetos de ensino coletivo de<br />

instrumentos com o objetivo de absorver um público maior no início de seu aprendizado<br />

musical, além de propiciar interação social, despertar maior interesse nos alunos iniciantes e<br />

incentivar para a continuação dos estudos através da dinâmica estimulante de classe de aula<br />

(YING, 2007).<br />

O ensino coletivo de instrumentos musicais, além de possibilitar um acesso de maior<br />

número de pessoas ao aprendizado musical, também contribui para um desenvolvimento<br />

sócio-crítico e cognitivo criando aspectos que estimulem uma interação muito maior no<br />

grupo, que não se restringe só à absorção de conhecimento, mas se amplia à compreensão e<br />

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socialização de aprendizado (CRUVINEL, 2004). Um aspecto considerado importante nas<br />

práticas pedagógicas coletivas de instrumentos musicais é a motivação, que proporciona ao<br />

aluno um maior interesse tornando-o participativo, criativo, competitivo (de forma saudável)<br />

e assíduo às aulas.<br />

Segundo Flávia Cruvinel (2003), o ensino coletivo de instrumentos musicais agrega<br />

em seu processo de aprendizagem vários benefícios. Dentre eles, destaca-se no<br />

comportamento social do aluno, a melhora na disciplina, na organização, na cooperação, na<br />

solidariedade, no respeito mútuo, na concentração, no desempenho técnico-musical, na<br />

consciência corporal, na assimilação e acomodação dos conteúdos, na interação entre os<br />

alunos despertando a socialização, a motivação. Sendo assim, pode-se dizer que o ensino<br />

coletivo de instrumentos musicais pode ser utilizado como uma alternativa motivadora e<br />

socializadora nos conservatórios, nas escolas de música e nas escolas públicas.<br />

Em relação ao repertório, Cruvinel (2003) destaca o desenvolvimento de maneira mais<br />

rápida; o desenvolvimento do ouvido harmônico do aluno; a economia de tempo no processo<br />

de aprendizagem nos aspectos instrumentais e musicais. Há também, um maior rendimento do<br />

aluno em sala de aula, baixo índice de desistência, melhora da auto-estima, maior estímulo,<br />

desinibição, ou seja, os alunos passam por uma transformação não só no que diz respeito ao<br />

comportamento, mas também no processo de aprendizagem coletiva (CRUVINEL, 2003, p.<br />

217).<br />

No ensino coletivo de instrumentos de musicais o aluno pode ser visto como um<br />

indivíduo que faz parte do processo de aprendizagem, onde não apenas recebe os<br />

ensinamentos como também participa ativamente das aulas. Valorizar o aluno e estimular sua<br />

participação em sala de aula de forma criativa e produtiva é apenas um dos vários pontos<br />

importantes para proporcionar ao indivíduo uma formação educacional na música prazerosa e<br />

sem traumas.<br />

Metodologia<br />

Para a elaboração e aplicação da proposta pedagógica de ensino coletivo do violino<br />

para crianças de 5 anos, utilizarei o estudo de caso, que de acordo com Adelman e Kemp<br />

(1995) consiste em uma descrição detalhada dos acontecimentos ocorrentes durante a<br />

pesquisa e suas relações internas e externas, desde que estejam dentro dos limites escolhidos e<br />

bem delimitados pelo investigador. Sendo que, caso ocorra algo que fuja dos limites<br />

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estabelecidos deve-se dar uma explicação adequada preservando assim, a pesquisadora e sua<br />

proposta de pesquisa.<br />

De acordo com Flick (2009), entende-se que a pesquisa qualitativa pode proporcionar<br />

a investigação possibilidade de formulação de estratégias de pesquisa de campo contínua,<br />

experimentação e uma exploração profunda da avaliação dos resultados de forma a<br />

contemplar não somente aspectos quantitativos. Sendo assim, entende-se que em princípio, as<br />

estratégias de estudos qualitativos melhor se adequarão a proposta de pesquisa aqui<br />

apresentada, o que não anula de fato a possibilidade da utilização de estratégias quantitativas<br />

caso se faça necessário. Utilizar-se-á também da observação participante devido a<br />

pesquisadora ser a professora que atuará em sala de aula.<br />

Como instrumentos de coleta de dados serão utilizados: questionários (aplicados aos<br />

pais antes e depois do processo), observação participante (cuja professora será a ministrante e<br />

a observadora que anotará as ocorrências em sala), vídeogravações (possibilidade de registrar<br />

em áudio e vídeo as aulas e retiradas de dúvidas posteriormente) e juízes independentes (para<br />

trazer legitimidade nas anotações e vídeogravações).<br />

Após a coleta de dados todo o material será analisado buscando similaridades e<br />

discordâncias entre si. Para isso se faz necessário utilizar de uma técnica metodológica<br />

chamada triangulação.<br />

A triangulação é uma técnica metodológica que visa ampliar o leque de<br />

informações (dados), colocando informações provenientes de diferentes<br />

fontes em interação, na interpretação realizada pela pesquisa (FREIRE,<br />

2010.p.32)<br />

A utilização da técnica de triangulação possibilitará a busca de confiabilidade e<br />

aprofundamento nos resultados dos dados o que promove uma maior fidedignidade na<br />

proposta de pesquisa.<br />

Diferentes fontes de informações (sujeitos internos ou externos ao processo,<br />

documentos etc.) propiciam diferentes ângulos de visão e, portanto,<br />

favorecem o aprofundamento e o enriquecimento das conclusões de<br />

pesquisa, o que torna a triangulação uma estratégia metodológica interessada<br />

para as abordagens qualitativas em especial (FREIRE, 2010.p.32)<br />

Segundo Fagundes (1999, apud. BELEI; MATSUMOTO; NASCIMENTO;<br />

PASCHOAL, 2008, p.5), para se considerar o processo de triangulação como ferramenta<br />

metodológica eficaz na análise dos dados, a margem aceitável quando a classificação do<br />

pesquisador e dos juízes atinge um índice de concordância mínimo de 70%. Sendo assim, será<br />

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considerado para essa pesquisa, o percentual de 70% como referência de cálculo de<br />

concordância entre as observações do pesquisador/participante e os juízes independentes.<br />

Conclusão<br />

O ensino coletivo de instrumentos musicais pode propiciar ao indivíduo uma formação<br />

musical integradora com benefícios que se estendem para a formação social do indivíduo,<br />

além de oportunizar um acesso maior da comunidade no processo de formação musical.<br />

É imprescindível que a Educação Musical, no contexto social contemporâneo, apóie<br />

seu entendimento dos processos pedagógicos em suas relações com a sociedade para o auxilio<br />

da criação de metodologias inovadoras que auxiliam a transformação social. A elaboração de<br />

projetos voltados ao ensino coletivo de instrumentos musicais com propostas pedagógicas<br />

inovadores e eficientes pode contribuir com novas vertentes do ensino de música<br />

especialmente no Brasil.<br />

Oportunizar uma formação que permita uma prática pedagógica musical que valorize e<br />

respeite o desenvolvimento do indivíduo como um todo, permite que o ensino da música não<br />

seja individualista e competitivo o que gera em sua maioria frustração nos alunos que não<br />

desejam a profissionalização. De acordo com discussões realizadas anteriormente neste<br />

trabalho, podemos dizer que a música exerce uma influência na vida do indivíduo, sendo<br />

assim se torna pertinente afirmar que o processo pedagógico do ensino coletivo de<br />

instrumentos musicais deve ser considerado como um dos fatores primordiais na formação do<br />

indivíduo. Estimular criação de projetos que proporcionem um aprendizado abrangente nos<br />

aspectos técnico e social é de suma importância para obtenção de sucesso no decorrer da<br />

aplicação dos mesmos.<br />

Faz-se necessário descrever algumas considerações vislumbrando perspectivas que<br />

possam contribuir para uma proposta de ensino coletivo de instrumentos musicais. Percebe-se<br />

a importância de um estudo conceitual à compreensão do meio enquanto fator motivador de<br />

hábitos, atitudes, enfim de comportamentos. A cultura que o indivíduo carrega dentro de si até<br />

a sala de aula deve ser considerada como um fator positivo para a sua formação. Respeitar a<br />

individualidade sugere ao aluno um ambiente de aprendizagem confortável e seguro.<br />

É pertinente dizer que a proposta de ensino coletivo de instrumentos musicais, não<br />

vem de maneira alguma anular o ensino considerado “tradicional de música instrumental”.<br />

Sabe-se que cada indivíduo possui características diferentes, assim adequando-se a diferentes<br />

formas de aprendizado. Sendo assim, permite-se dizer que o ensino coletivo de instrumentos<br />

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musicais, pode ser uma ferramenta de trabalho que oportuniza ao indivíduo a aquisição de<br />

benefícios que vão além de aprimoramentos técnicos. A prática coletiva de instrumentos<br />

musicais atinge também aspectos sociais como, por exemplo, a integração com o grupo,<br />

respeito e atenção para com o próximo e a sociabilidade com outros indivíduos.<br />

Considera-se também importante deixa-se registrado o quanto o ensino coletivo pode<br />

contribuir para a educação musical como uma proposta de ensino aprendizagem eficiente que<br />

beneficia o indivíduo não somente em aspectos técnicos, mas também contribui para uma<br />

formação mais integradora, social e motivadora.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ADELMAN, Clem; KEMP, Anthony E. Estudo de caso e investigação-acção.<br />

In: Introdução à investigação em educação musical. Lisboa: Fundação Calouste<br />

Gulbenkian.1995. p. 111-134.<br />

BELEI, Renata A; MATSUMOTO, Patrícia H; NASCIMENTO, Edinalva N; PASCHOAL,<br />

Sandra R. O uso de entrevista, observação e vídeogravação em pesquisa qualitativa.<br />

Cadernos de Educação | FaE/PPGE/UFPel | Pelotas [30]: 187 - 199, janeiro/junho. 2008.<br />

Disponível em: . Acesso em: 9<br />

de Abr. de 2011.<br />

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. 1998. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Referência Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC – SEF. V. III, 1998.<br />

BRITO, Joziely. Iniciação musical através do violino com crianças de 4 e 5 anos. 62 f.<br />

Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Estadual do Pará, Belém, 2002.<br />

______. Ensino Coletivo de Instrumentos de Cordas Friccionadas: catalogação crítica. 128f.<br />

Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Bahia, 2010.<br />

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Editora Sacra, 1989.<br />

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Uma Experiência Transformadora. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÁO<br />

BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 12. 2003. Florianópolis – SC.<br />

Anais...Florianópolis: ABEM, 2003. p. 326 - 332.<br />

CRUVINEL, Flavia Maria. Efeitos do Ensino Coletivo na Iniciação Instrumental de Cordas:<br />

A Educação Musical como meio de transformação social. Vol.1.Dissertação de Mestrado -<br />

Escola de Música e Artes Cênicas, Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2003.<br />

______. Ensino coletivo de instrumentos musicais: aspectos históricos. In: ENCONTRO<br />

NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS, 1.2004. Goiânia.<br />

Anais ... Goiânia: ENECIM, 2004. p. 76-80.<br />

______. Educação Musical e Transformação Social: Uma Experiência com o Ensino Coletivo<br />

de Cordas. Goiânia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 2005.<br />

______. 2006. Ensino Coletivo de Instrumento Musical: uma alternativa para uma Educação<br />

Musical ativa e transformadora por um mundo melhor. In: ENCONTRO NACIONAL DE<br />

ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS, 2. 2006. Goiânia. Anais...<br />

Goiânia: ENECIM, 2006. p.105-113.<br />

ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS, 1.<br />

2004. 101p. Goiânia. Anais... Goiânia: ENECIM, 2004.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS, 2.<br />

2006. 270p. Goiânia. Anais... Goiânia: ENECIM, 2006.<br />

FLICK, Uwe. Introdução à Pesquisa Qualitativa. 3º Edição. Porto Alegre: Editora Artmed,<br />

2009.<br />

FREIRE, Vanda B. Horizontes da Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: Editora 7 Letras,<br />

2010.<br />

GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Ed. Summus,<br />

1988.<br />

GORDON, Edwin E. Teoria de aprendizagem musical: competências, conteúdos e padrões.<br />

Lisboa: Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.<br />

ILARI, Beatriz. Em busca da mente musical: ensaios sobre os progressos cognitivos em<br />

música – da percepção à produção. Curitiba: Editora UFPR, 2006.<br />

MÁRSICO, Leda Osório. A criança e a música. Rio de Janeiro-Porto Alegre: Editora Globo,<br />

1982.<br />

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. 24º Edição. São Paulo: Editora Forense<br />

Universitária, 2001.<br />

SLOBODA, John. A mente musical a psicologia cognitiva da música. Londrina-PR: Editora<br />

EDUEL, 2008.<br />

SUZIGAN, Maria Lucia Cruz; SUZIGAN, Geraldo de Oliveira. 1986. Educação musical: um<br />

fator preponderante na construção do ser. 2º.Edição. Cadernos Brasileiros de Educação. São<br />

Paulo: CLR Balieiro e G4 Editora, 1986.<br />

YING, Liu Man. O ensino coletivo direcionado no violino. 225f. Dissertação de Mestrado –<br />

Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Adoniran Barbosa: educação e samba<br />

Ana Claudia Cesar<br />

Universidade Presbiteriana Mackenzie<br />

cavaco-ana@ig.com.br<br />

Resumo: O Samba como escola é uma reflexão sobre a cultura popular, é uma das muitas<br />

histórias sobre aquisição de conhecimento e propagação dos mesmos de maneira totalmente<br />

alternativa aos meios estabelecidos pela educação formal. Para isto busquei como exemplo o<br />

sambista Adoniran Barbosa, que nos revela em suas músicas a cidade de São Paulo sobre a<br />

ótica dos moradores que não estão inseridos nos planos de desenvolvimento desta grande<br />

metrópole.<br />

Palavras chave: Educação, cultura popular, samba<br />

Introdução<br />

O processo de ensino e aprendizagem tem considerado dentre outros fatores os saberes<br />

que vão além dos conteúdos educacionais oficiais que na sua grande maioria não revela todas<br />

as facetas e aspectos de transformação social, especialmente por focalizar e relevar apenas os<br />

interesses daqueles que detém o poder.<br />

No entanto, é mais que reconhecido em nossos dias que há saberes que se<br />

desenvolvem além das esferas educacionais tradicionais e que compõem a cultura de um povo<br />

levando-o a se reconhecer como sujeitos da história e não apenas como meros participantes<br />

passivos da mesma.<br />

Dentre outros lugares, encontramos nas músicas populares esse conteúdo crítico de um<br />

povo que ao cantar a sua história revela seus sentimentos, suas frustrações e esperanças,<br />

transmitindo assim, oralmente suas convicções sejam elas de ordem política, religiosa ou<br />

social. Tomando isso como base de pesquisa podemos compreender as transformações sociais<br />

que tomaram parte na história da cidade de São Paulo entre os anos 1950 a 1960 mirando<br />

especialmente o estabelecimento da região central que forçou a saída de imigrantes e negros<br />

que viviam naquela região. Para tanto, nos valemos das canções escritas e interpretadas pelo<br />

sambista Adoniran Barbosa que, além de ser considerado aquele que estabelece o samba<br />

paulista, interpreta seu tempo de forma criativa e profunda denunciando não apenas a<br />

ocupação espacial do centro de São Paulo mas também a segregação social existente no<br />

processo de desenvolvimento social.<br />

Adoniran Barbosa: educação e Samba<br />

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Talvez a maior discussão para Bourdieu esteja na dificil tarefa de desvendar os<br />

mecanismos da reprodução social que legitimam as diversas formas de dominação. Para<br />

empreender esta tarefa, Bourdieu desenvolve conceitos específicos, retirando os fatores<br />

econômicos do epicentro das análises da sociedade, a partir de um conceito concebido por ele<br />

como violência simbólica. Esta violência seria efetivamente legitimada pelas forças<br />

dominantes, que se expressam através dos gostos e de estilos destas classes.<br />

A roda de Samba e o Samba de Roda<br />

O samba desde a sua origem, é uma manifestação popular que narra a história não<br />

oficial. Desde que os negros chegaram ao Brasil que seus hábitos e costumes pouco a pouco<br />

foram se incorporando à cultura dos habitantes deste novo País. Os negros nas senzalas em<br />

seu pouco tempo livre aproveitavam para realizar seus rituais e pedir que o sofrimento da<br />

escravidão tivesse prazo pra acabar. Os negros formavam rodas e com vozes e palmas<br />

cantavam e dançavam num ritual onde um par entrava no centro da roda e com um gesto<br />

característico de umbigada iniciavam um solo da dança, na troca do par acontecia novamente<br />

o encontro dos umbigos. Este ritual foi tão marcante que o nome “Samba” teria sua origem<br />

em um dialeto africano de “Semba”, que significa umbigo.<br />

É o que nos confirma o historiador, pesquisador e escritor André Diniz: “O samba de<br />

roda da Bahia, o lundu, o coco, o calango e o cateretê são tradições musicais e coreográficas<br />

ligadas ao universo do negro que podem ser definidas como samba de umbigada”. (DINIZ,<br />

2008, p.47)<br />

Hoje a roda de samba é um lugar para se divertir, mas a brincadeira pode ser o desafio<br />

de versar, um participante lança um verso provocativo aos demais, e quem conseguir<br />

responder pode desafiar os outros. Estes versos improvisados são sempre intercalados por um<br />

refrão que é repetido por todos como parte da brincadeira, assim se caracteriza uma das<br />

formas mais populares da nossa música: o “Samba de Roda”.<br />

Para se fazer samba não é preciso possuir conhecimentos formais como ler e escrever,<br />

a narrativa é construída pela canção, que pode narrar o cotidiano de qualquer indivíduo que<br />

possua inspiração para cantar versos ritmados sobre qualquer assunto de seu universo<br />

existencial, totalmente inserido na tradição oral, característica inerente à cultura. A letra de<br />

um samba pode revelar o cotidiano do autor, mas pode também narrar a história não oficial da<br />

resistência dos negros oprimidos desde o início da colonização.<br />

O historiador e escritor Francisco Rocha nos ajuda a refletir sobre o tema:<br />

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Assim, em seu fazer artístico, o cancionista não tem de requisitar,<br />

necessariamente, um capital cultural relativo ao universo da cultura letrada, e<br />

uma vez que sua habilidade está em produzir ao canto, sua obra pode até<br />

renunciar à escrita, mas não pode prescindir da cultura oral, das<br />

representações do mundo que, entre outros suportes, fixam-se em narrativas<br />

orais. (...) Ao afirmar o paradoxo entre a boa letra de um samba e a condição<br />

de se ignorar o código escrito, caminha-se no campo de um discurso<br />

ambíguo, mas, por outro lado, delimita-se a relação de oposição entre dois<br />

universos culturais: cultura popular / cultura letrada ou oficial (ROCHA,<br />

2002, p. 107-108).<br />

O samba surge como resistência, como a voz de uma classe que não tem direito nem<br />

oportunidade de se manifestar, e que cria essa possibilidade artística para dizer o que sente e<br />

pensa, e isto pode se transformar na grande oportunidade de manifestação dos excluídos.<br />

Segundo Paulo Freire, “Faz parte do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer<br />

forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a<br />

substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.” (FREIRE, 1996, p.36)<br />

O termo escola de samba surge pelo simples fato de estar próxima de uma escola<br />

formal. O surgimento da escola de samba é sem dúvida a necessidade de se ter um lugar para<br />

reunir pessoas da mesma classe social, que eram constituídas por negros, mulatos e brancos<br />

pobres. É um lugar onde as pessoas encontravam respaldo e diversão além do respeito mútuo,<br />

era também um lugar propício para desenvolver e fomentar a própria cultura.<br />

As escolas de samba fazem parte da nossa história cultural e se preservam desde 1928,<br />

data da formação da primeira escola, que logo serviu de exemplo para a formação de várias<br />

outras em outros bairros cariocas.<br />

Grosso modo, o que pode ser um preconceito contra os compositores de<br />

samba, impondo a eles a condição do desconhecimento da linguagem escrita<br />

para a produção de sua arte, pode estar camuflado a revelação de um saber<br />

que se inscreve na arte do sambista. De fato, o domínio da palavra escrita<br />

não é o elemento primordial de tal arte (ROCHA, 1<strong>978</strong>, p. 106).<br />

A cidade de São Paulo também foi um celeiro de cultura popular, pois com a vinda de<br />

negros para a cidade as manifestações ligadas ao samba se fizeram cada vez mais presente.<br />

Mas a cidade também era um lugar de planejamento para um ideal de progresso, com o<br />

objetivo de alavancar a economia do País. Devido a este plano de progresso e<br />

desenvolvimento a cidade foi se reestruturando e se ampliando de forma marcante e<br />

avassaladora. Mas mesmo com todo este ideário a cultura popular continuou se manifestando<br />

com muita propriedade e personalidade, muitos são os compositores de samba que podem ser<br />

citados. Vou me ater a uma grande personalidade: Adoniram Barbosa.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Assim, estruturas sociais e agentes individuais se alimentam numa<br />

engrenagem de caráter conservador. É o caso da maneira como cada um lida<br />

com a linguagem. Tudo que a envolve - correção gramatical, sotaque,<br />

habilidade no uso das palavras e construção etc - está fortemente à posição<br />

social de quem fala e à função de ratificar a ordem estabelecida. Para<br />

Bourdieu, todas essas ferramentas de poder são essencialmente arbitrárias,<br />

mas isso não costuma ser percebido (FERRARI, 2008).<br />

Adoniran fazia parte da classe de brancos pobres, e com muita criatividade e humor<br />

revela uma outra cidade, que em sua crítica é desumana e cruel, pois não perdoa os que não<br />

estão incluídos no seu plano de progresso.<br />

Adoniran é o sambista das malocas, e narra pouco à pouco a expulsão de seus<br />

moradores, que sem ter muita alternativa acabam muitas vezes morando nas ruas.<br />

Em seu livro Almanaque do Samba , o escritor André Diniz fala sobre o sambista<br />

Adoniran Barbosa:<br />

“Adoniran percebia as mudanças na cidade e particularmente a perda de memória<br />

coletiva dos antigos espaços de sociabilidade, substituídos pelas modernas construções. Como<br />

um cronista privilegiado, registro também o linguajar do paulistano menos favorecido”<br />

(DINIZ, 2006, p. 81-82).<br />

Adoniran é o artista, o crítico, o cronista da cidade, é a história não oficial, e também é<br />

um formador de opinião com muito saber, pois revela em suas canções as mudanças e<br />

transformações arquitetônicas, e a expulsão dos que não estão incluídos neste projeto de<br />

desenvolvimento.<br />

Isto me remete a outra fala de Paulo Freire:<br />

Não posso virar conivente de uma ordem perversa, irresponsabilizando-a por<br />

sua malvadez, ao atribuir a forças cegas e imponderáveis os danos por elas<br />

causados aos seres humanos. A fome frente a frente à abastança e o<br />

desemprego no mundo são imoralidades e não fatalidades como o<br />

reacionarismo apregoa com ares de quem sofre por nada poder fazer. O que<br />

quero repetir, com força, e que nada justifica a minimização dos seres<br />

humanos, no caso das maiorias compostas de minorias que não perceberam<br />

ainda que juntas seriam a maioria. Nada, o avanço da ciência e/ou da<br />

tecnologia, pode legitimar uma ordem desordeira em que só as minorias do<br />

poder esbanjam e gozam enquanto às maiorias em dificuldades até para<br />

sobreviver se diz que a realidade é assim mesmo, que sua fome é uma<br />

fatalidade do fim do século. Não junto a minha voz à dos que, falando em<br />

paz, pedem aos oprimidos, aos esfarrapados do mundo, a sua resignação.<br />

Minha voz tem outra semântica, tem outra música. Falo da resistência, da<br />

indignação, da justa ira dos traídos e dos enganados. Do seu direito e do seu<br />

dever de rebelar-se contra as transgressões éticas de que são vítimas cada<br />

vez mais sofridas (FREIRE, 1996, p. 100-101).<br />

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Com este texto procuro criar uma ponte entre os estudos de Bourdieu e de Paulo<br />

Freire, pois ambos falam sobre classes dominantes e injustiças sociais, para isso construí uma<br />

ponte até o samba que é um representante da opressão social de uma classe não privilegiada, e<br />

desde sua origem é tido como a voz do povo.<br />

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um<br />

modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para<br />

aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para<br />

ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com<br />

uma ou com várias: Educação? Educações (BRANDÃO, 1995, p.7).<br />

Seja por qualquer via e das formas mais diversas e variadas, ninguém está livre de<br />

aprender. A existência é um eterno aprendizado.<br />

<strong>72</strong>


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

DINIZ, André. Almanaque do Samba: a história do carnaval, o que ouvir, o que ler, onde<br />

curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2006.<br />

______. Almanaque do Carnaval: a história do carnaval, o que ouvir, o que ler, onde curtir.<br />

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2008.<br />

FERRARI, Marcio. Educar para crescer. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 18 out. 2009.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á pratica educativa. São Paulo:<br />

Paz e Terra, 1996.<br />

ROCHA, Francisco. Adoniran Barbosa: o poeta da cidade. São Paulo: Ateliê Editorial, 1<strong>978</strong><br />

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? São Paulo: Brasiliense, 1995.<br />

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Aprendizagem Significativa / Aprendizagem Musical<br />

Ana Claudia Cesar<br />

Universidade Presbiteriana Mackenzie<br />

Cavaco-ana@ig.com.br<br />

Resumo: A aprendizagem significativa é sem dúvida uma forma efetiva de aprender, partindo<br />

de conhecimentos prévios do indivíduo é possível criar pontes cognitivas para novos<br />

conhecimentos. Para que isto aconteça temos que ter uma intencionalidade de todos os<br />

envolvidos nesta nobre missão, pois a intencionalidade é a peça fundamental desta<br />

engrenagem.Tanto o educador como o aluno tem que ter a intenção para que o conhecimento<br />

se consuma.Estudando este conceito descobri que o ensino da música é um ótimo exemplo<br />

para a demonstração efetiva da aprendizagem significativa. Para isto cito um grande educador<br />

musical húngaro, Kodály.Zoltan Kodaly defendia a ideia de que a música tinha que fazer<br />

parte da educação integral do ser humano desde o jardim de infância, com o mesmo número<br />

de horas e mesma ênfase dada às matérias convencionais durante toda a vida escolar dos<br />

jovens cidadãos.<br />

Palavras Chaves: Ensino, aprendizagem, intenção, música<br />

Introdução<br />

Assim como a educação formal, a educação musical sempre buscou modos para<br />

desenvolver novos métodos a fim de tornar cada vez mais acessível a aquisição de novos<br />

conhecimentos, buscando também na educação formal ajuda e possibilidades para se<br />

desenvolver e para atingir todos aqueles que desejam estudar a linguagem musical.<br />

Visto que eu trabalho com música, sempre tive interesse em pesquisar diversos<br />

educadores, principalmente os que desenvolveram métodos específicos para a aprendizagem<br />

musical.<br />

O estudo da aprendizagem significativa de Ausubel (1968) remeteu-me de imediato a<br />

um método musical que pesquisei e utilizo no desenvolvimento do meu trabalho como<br />

educadora musical.<br />

É o método de aprendizagem musical do húngaro Kodály. Tanto Ausubel como<br />

Kodály, estudiosos e pesquisadores contemporâneos, criaram e desenvolveram um método<br />

que era mais acessível à maioria dos alunos, partindo de conhecimentos prévios que os alunos<br />

já traziam em sua bagagem pessoal, e que a partir destes, estabelecessem novos<br />

conhecimentos. Este foi o ponto de partida que utilizei para o desenvolvimento deste trabalho<br />

entre educação formal e educação musical.<br />

Aprendizagem Significativa<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Ausubel (1918–2008) desenvolveu a teoria da aprendizagem significativa. Considero<br />

relevante comentar sua experiência infantil de insatisfação com as condições que a escola<br />

oferecia para o desenvolvimento e aprendizagem. Sua experiência pessoal, talvez, tenha sido a<br />

origem de seus estudos sobre a relação professor-aluno e os “caminhos a serem oferecidos<br />

para que a capacidade de perceber, compreender, elaborar fosse facilitada em situação de<br />

educação formal” (MASINI, 2008, p. 64). Em uma escola pública no bairro do Brooklin em<br />

Nova York, frustrou-se com os estudos e com o tratamento recebido. Filho de imigrantes<br />

judeus, Ausubel, aos seis anos, soltou um palavrão, o que bastou para sofrer represálias: além<br />

de ter sua boca lavada com sabão, foi exposto durante toda a aula de pé para que a humilhação<br />

servisse de exemplo para os demais alunos. Sua revolta levou-o a declarar que a escola era um<br />

verdadeiro cárcere para meninos. O vivido, talvez, tenha sido inspiração para um novo olhar<br />

sobre a educação. Este fato, sem dúvida, ajudou a definir o objeto de estudo de Ausubel, que<br />

assinala a importância da relação professor-aluno e da atenção do professor ao que o aluno<br />

sabe para ocorrência da aprendizagem, conforme afirma: “O mais importante fator isolado<br />

que influencia a aprendizagem é o que o aprendiz já sabe. Determine isto e ensine-o de<br />

acordo” (Ausubel, 1968, p. VI).<br />

O diálogo entre professor e aluno sem dúvida é a melhor forma de pesquisa de dados<br />

para a ocorrência da aprendizagem significativa, pois é através dele que se pode promover a<br />

interação com os alunos de uma classe. Uma conversa descontraída e informal pode ser fonte<br />

de um relevante acúmulo de dados sobre o que o aluno conhece para daí pinçar o que de fato<br />

pode ser usado como base para introduzir as novas informações. A revelação de gostos<br />

pessoais do cotidiano, como o time que torce, o filme que mais gostou de assistir, a<br />

reportagem jornalística que mais chamou a atenção ou o estilo de música preferida, sem<br />

dúvida pode ajudar o professor a criar pontes para o ensino propiciando elaboração cognitiva<br />

para um novo conhecimento.<br />

A aprendizagem é dita significativa quando uma nova informação (conceito, idéia,<br />

proposição) adquire significados para o aprendiz através de uma espécie de ancoragem em<br />

aspectos relevantes da estrutura cognitiva preexistente do indivíduo, isto é, em conceitos,<br />

idéias, proposições já existentes em sua estrutura de conhecimentos (ou de significados) com<br />

determinado grau de clareza, estabilidade e diferenciação (MOREIRA, 1997).<br />

São muitos os assuntos que podem servir de prévios pontos de apoio para aquisição de<br />

um novo conhecimento, isso envolverá a criatividade de cada professor.<br />

De acordo com Moreira (2008, p. 15-16), para Ausubel:<br />

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a aprendizagem significativa é aquela em que o significado do novo<br />

conhecimento é adquirido, atribuído, construído, por meio da interação com<br />

algum conhecimento prévio, especificamente relevante, existente na<br />

estrutura cognitiva do aprendiz. Interação é a palavra chave: interação entre<br />

conhecimentos novos e conhecimentos prévios. Se não há interação não há<br />

aprendizagem significativa.<br />

Os conhecimentos prévios são fundamentais para a aquisição de novos conhecimentos.<br />

Estes conhecimentos são chamados de subsunçores, e podem ser uma imagem, um símbolo,<br />

um conceito, ou qualquer outro tipo de dado que já esteja confortavelmente armazenado.<br />

Mas não basta ter estes conhecimentos, é fundamental que o educador desenvolva<br />

condições para ligar os conhecimentos que o aluno já possui, com os novos conhecimentos. O<br />

educador tem que propiciar pontes entre estes conhecimentos, pontes cognitivas que façam<br />

esta conexão. Se o material a ser introduzido é totalmente novo para o aluno, Ausubel propõe<br />

o recurso do uso dos organizadores prévios - materiais introdutórios apresentados com a<br />

principal função de servir de ponte entre o que o aprendiz já sabe e o que o professor irá<br />

ensinar. Os organizadores facilitam a aprendizagem na medida em que propiciam condições<br />

para o aluno compreender a nova informação. O educador, neste aspecto, partindo do que o<br />

aluno conhece, propicia a ele ser o construtor destas pontes cognitivas para aquisição do que é<br />

ensinado, concretizando assim a assimilação dos novos conhecimentos.<br />

É, portanto, fundamental ter acesso ao conhecimento prévio do aprendiz, para o<br />

aprendizado do novo conhecimento. O educador precisa coletar o maior número de<br />

informações sobre conhecimentos já existentes que sirvam de ponte para o novo<br />

conhecimento. Dei-me a liberdade de imaginar esta ponte como um arco-íris por algumas<br />

conexões que fiz com esta imagem, que além de ser bela, ainda traz vários significados.<br />

Como esclarece Moreira (2008, p. 19): “Os significados não estão nos materiais<br />

educativos. Eles estão nos alunos, nos professores e nos autores. Os materiais são apenas<br />

potencialmente significativos”.<br />

Uma questão relevante é a predisposição tanto dos alunos como dos professores. Se<br />

não houver esta predisposição de ambas as partes, nem o melhor dos professores e nem o<br />

mais aplicado aluno, conseguirá realizar esta árdua tarefa, pois essa é a questão fundamental<br />

para a aprendizagem.<br />

A predisposição para aprender não é exatamente aquilo que chamamos de<br />

motivação. É claro que implica motivação, mas é, antes, uma<br />

intencionalidade, um esforço deliberado para relacionar o novo<br />

conhecimento a conhecimentos prévios, mais inclusivos, mais diferenciados,<br />

existentes na estrutura cognitiva com certa estabilidade e clareza. É um<br />

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compromisso afetivo – não no sentido de gostar, mas sim de querer – de<br />

relacionar novos conhecimentos a conhecimentos prévios (Ibid, p. 20).<br />

Esta é sem dúvida a questão principal de qualquer aprendizagem: só se aprende se<br />

quiser aprender, se houver a intencionalidade, pois sem isto se torna impossível aprender<br />

qualquer coisa, e se o aluno não estiver predisposto e aberto à nova informação, será<br />

dificílimo realizar esta tarefa. Parece, assim, que a questão do resgate do prévio conhecimento<br />

poderá contribuir para a predisposição dos alunos; se o educador achar o elo pessoal que<br />

ligará o que o aluno já sabe com o novo conhecimento, esta tarefa poderá facilitar a<br />

construção dessa ponte cognitiva. Podemos, no entanto, dizer que não há aprendizado se não<br />

houver disposição para a aprendizagem: poderão ser apresentados organizadores prévios,<br />

conhecimento em diversos segmentos, mas não haverá aprendizagem se não houver interesse<br />

do aluno em relacionar e significar o conhecimento já existente com o novo que se apresenta.<br />

A intencionalidade se faz fundamental no processo de aprendizagem, mas podemos<br />

considerar também que os organizadores prévios poderão ser uma ferramenta (ponte) para que<br />

o professor possa trazer esse aluno para o aprendizado, descobrindo no aluno quais seus<br />

conhecimentos prévios particulares com os quais estará fazendo as ligações necessárias para<br />

auxiliar o aluno no entendimento de um novo conceito.<br />

Por isso uma educação que apenas pretenda transmitir significados que estão<br />

distantes da vida concreta dos educandos, não produz aprendizagem alguma,<br />

é necessário que os conceitos (símbolos) estejam em uma conexão com as<br />

experiências dos indivíduos. Voltamos assim à dialética entre o sentir<br />

(vivenciar) e o simbolizar. Este é o ponto fundamental no método de<br />

alfabetização do educador brasileiro Paulo Freire: Aprende-se a escrever<br />

quando as palavras se referem às experiências concretamente vividas.<br />

Aprender não é decorar. Aprender é um processo que mobiliza tanto os<br />

significados, os símbolos, quanto os sentimentos, as experiências a que eles<br />

se referem (DUARTE JR., 1991, p. 25).<br />

Para que o ensino se consuma, alunos e professores compartilham significados. A<br />

aprendizagem significativa ocorrerá se os professores propiciarem condições apropriadas para<br />

os alunos reconhecerem e resolverem problemas, compreenderem um novo fenômeno e<br />

construírem modelos mentais a respeito e, utilizando-os em novas situações, ampliar seus<br />

objetivos e sua própria aprendizagem.<br />

Uma Experiência de Aprendizagem Significativa de Música<br />

Para fazer uma breve conexão com o meu objeto de estudo, a música, escolhi dar o<br />

exemplo de um grande educador musical húngaro, Kodály (1882–1967).<br />

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Kodály defendia que a música tinha que fazer parte da educação integral do ser<br />

humano desde o jardim de infância, com o mesmo número de horas e mesma ênfase dada às<br />

matérias convencionais durante toda a vida escolar dos jovens cidadãos. (GUEDES, 2009)<br />

A música é uma manifestação do espírito humano, similar à língua<br />

falada. Os seus praticantes deram à humanidade coisas impossíveis de<br />

dizer em outra língua. Se não quisermos que isso permaneça um<br />

tesouro morto, devemos fazer o possível para que a maioria dos povos<br />

compreenda esse idioma (KODÁLY, 1966, apud GOULART, 2001) 1 .<br />

Kodály sustentava que, assim como na linguagem e na literatura, um país deve<br />

começar com a “musical mother tongue”, isto é, língua musical nativa, que para ele era a<br />

canção folclórica, e através dela ir expandindo até alcançar a compreensão da literatura<br />

musical universal.<br />

Considerava o canto como fundamento da cultura musical: para ele, a voz é o modo<br />

mais imediato e pessoal de nos expressarmos em música. Mesmo o acompanhamento<br />

harmônico é feito por vozes, pois o método enfatiza o canto coral. O canto não é apenas um<br />

meio de expressão musical, mas ele ajuda no desenvolvimento emocional e intelectual<br />

também. Para ele, quem canta com frequência obtém uma profunda experiência de felicidade<br />

na música. Através das nossas próprias atividades musicais, aprendemos conceitos como<br />

pulsação, ritmo e forma da melodia.<br />

Para Kodály a base da educação musical era o canto, mas não qualquer canto, e sim o<br />

ensino de músicas folclóricas húngaras para as crianças pequenas, como o início da<br />

alfabetização musical.<br />

Temos que educar músicos antes de formar instrumentistas. Uma<br />

criança só deve ganhar um instrumento depois que ela já sabe cantar.<br />

Seu ouvido vai se desenvolver somente se suas primeiras noções de<br />

som são formadas a partir de seu próprio canto, e não conectadas com<br />

qualquer outro estímulo externo visual ou motor. A habilidade de<br />

compreender música vem através da alfabetização musical transferida<br />

para a faculdade de ouvir internamente. E a maneira mais efetiva de se<br />

fazer isto é através do canto (Ibid.).<br />

Esse conhecimento era transmitido de forma espontânea, pois estas músicas podiam<br />

ser ensinadas por pais e professores, sem a preocupação do ensino formal de leitura de notas<br />

musicais. Este era o primeiro passo para o ensino da música em todas as escolas da Hungria.<br />

Kodály acreditava que a música era fundamental para o desenvolvimento do intelecto, das<br />

1 KODÁLY, Zoltán. Conferência sobre O Papel da Música na Educação, Universidade da California, 1966.<br />

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emoções, e de toda a personalidade do homem. Não podia ser entendida como um luxo para<br />

poucos, pois acreditava que a música é um alimento espiritual para todos. Por esta razão se<br />

dedicou a estudar uma forma de tornar a música uma linguagem acessível a todos os<br />

estudantes húngaros, e enfrentou essa questão de forma ideológica até conseguir realizar seu<br />

intuito. Depois de aprender as músicas folclóricas húngaras, as crianças estavam prontas para<br />

aprender a distinguir os sons de cada nota, em outras palavras, a distância entre os sons.<br />

Quando as crianças já tinham assimilado estes conhecimentos, elas então estavam prontas<br />

para serem alfabetizadas formalmente, isto é, pela leitura de partituras (GOULART, 2001).<br />

Neste caso específico, saber cantar as músicas folclóricas serviu de conhecimento<br />

prévio (subsunçores) para a aquisição de novos conhecimentos, que neste caso era aprender a<br />

distância entre os sons das notas destas canções, e isso finalmente serviu de âncora para a<br />

aprendizagem da música formal (leitura de partituras).<br />

Zoltán Kodály conseguiu, depois de muita insistência, a implantação do ensino de<br />

música no currículo formal de todas as escolas da Hungria. O resultado efetivo deste trabalho<br />

é que todos os estudantes húngaros saem das escolas totalmente musicalizados, podendo optar<br />

ou não pela profissionalização musical, afinal Kodály acreditava que o ensino musical era<br />

fundamental para a formação intelectual básica de um indivíduo.<br />

Considerações Finais<br />

Ao conhecer o método Kodály, comecei a trabalhar com o repertório de músicas que o<br />

aluno naturalmente trazia em sua memória. Sem ter conhecimento sobre a aprendizagem<br />

significativa, desenvolvi um trabalho musical ilustrativo da teoria da Aprendizagem<br />

Significativa de Ausubel: resgatei, da prática de conjunto, o que os alunos possuíam de<br />

prévios conhecimentos para a construção de um repertório musical específico. Trabalhar uma<br />

música para tocá-la em grupo é, sem dúvida, uma experiência essencial para todos os<br />

estudantes de música; para que isso se realize é preciso ficar em silêncio, estar atento, ouvir o<br />

outro, e muitas vezes até respirar junto para que a música aconteça.<br />

A reflexão sobre esta experiência de aprendizagem significativa de música é um<br />

exemplo vivo e atual de como a ideologia de um grande mestre, Kodály, conseguiu de fato<br />

transformar um país, e como esta transformação manifesta-se na concepção humana de cada<br />

cidadão húngaro. Hoje este método é muito difundido pelo mundo por ser possível e viável.<br />

Não podemos evidentemente esquecer que, em tudo, está presente a intencionalidade, não só<br />

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de quem aprende, mas de quem ensinam e, principalmente, de quem luta por uma idéia, com a<br />

certeza de que aquela idéia vai transformar os indivíduos e com isto transformar o mundo.<br />

A idéia do professor construtor é uma idéia viva, o professor é propiciador de<br />

construção de pontes cognitivas. Imagino estas pontes como arco-íris, talvez por intuir que no<br />

final do arco-íris existe de fato um pote de ouro, que simbolicamente é a maior riqueza da<br />

humanidade, o conhecimento.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

AUSUBEL, David Paul. Educational psychology: A cognitive view. New York: Holt,<br />

Rinehart &Winston, 1968.<br />

DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Porque arte-educação? 6. ed. Campinas: Papirus, 1991.<br />

GOULART, Diana. Dalcroze, Orff, Suzuki e Kodály: Semelhanças, diferenças,<br />

especificidades. Disponível em: .<br />

Acesso em: 08 mai. 2009.<br />

GUEDES, Chico Moreira. Kodály Zoltán, mestre da música. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 08 mai. 2009.<br />

MASINI, Elcie F. Salzano. O aprender na complexidade. In: MASINI, Elcie F. Salzano;<br />

MOREIRA, Marco Antonio. (Org.). Aprendizagem significativa: condições para ocorrência e<br />

lacunas que levam a comprometimentos. São Paulo: Vetor, 2008.<br />

MOREIRA, Marco Antonio. A teoria da Aprendizagem Significativa segundo Ausubel. In:<br />

MASINI, Elcie F. Salzano; MOREIRA, Marco Antonio. (Org.). Aprendizagem significativa:<br />

condições para ocorrência e lacunas que levam a comprometimentos. São Paulo: Vetor, 2008.<br />

MOREIRA, Marco Antonio. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. Disponível em:<br />

. Acesso em: 09 mai. 2009.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Um Estudo Sobre a Educação Musical Para a Pequena Infância no Brasil<br />

Aruna Noal Correa 1<br />

arunanoal@hotmail.com<br />

Resumo: Este artigo é proveniente de pesquisa em nível de doutorado pelo<br />

PPGEdu/FACED/UFRGS, e contempla como temáticas centrais as áreas de educação musical<br />

e educação infantil. Constituindo-se a partir de questionamentos acerca de como foi e como<br />

vem sendo organizada a educação musical para a pequena infância brasileira. Pretende-se<br />

investigar a organização da educação musical para a pequena infância no Brasil através das<br />

narrativas de pesquisadoras/educadoras musicais brasileiras. Optou-se por realizar uma<br />

investigação de caráter qualitativo, utilizando-se como método a pesquisa narrativa. O estudo<br />

prevê entrevistas com pesquisadoras/educadoras brasileiras da área de Educação Musical<br />

acerca de suas produções voltadas a crianças pequenas no país, construindo um apanhado a<br />

cerca do ensino da música e considerando suas percepções acerca da educação para a pequena<br />

infância no país nos espaços escolares de educação infantil atuais. A análise culminará em um<br />

entrelaçamento com a pedagogia italiana, visando-se confrontar a perspectiva de construção<br />

músico-pedagógica brasileira com a visão italiana de vínculo da infância com as artes, em<br />

especial nesta pesquisa, com a música. Ao final, visa-se contribuir com a efetivação do<br />

trabalho musical a ser contemplado nas matrizes curriculares das escolas de educação infantil<br />

na medida em que possibilitaremos através das narrativas das educadoras/pesquisadoras<br />

musicais uma perspectiva de como a educação musical brasileira poderia ser organizada e<br />

conduzida atualmente entre os espaços escolares de educação para a pequena infância no<br />

Brasil. Refletindo, consequentemente, na formação musical e pedagógico-musical dos<br />

professores unidocentes.<br />

Palavras chave: Educação musical, educação infantil, unidocentes<br />

O presente artigo é proveniente de pesquisa em desenvolvimento a nível de doutorado<br />

através do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande<br />

do Sul, e contempla como temáticas centrais as áreas de educação musical e educação infantil.<br />

A mesma vem constituindo-se a partir do questionamento acerca de como foi e como vem<br />

sendo organizada a educação musical para a pequena infância brasileira. Entendendo pequena<br />

infância como a faixa etária entre zero e três anos de idade.<br />

Pretende-se com esta, investigar a organização da educação musical para a pequena<br />

infância no Brasil a partir das narrativas de pesquisadoras/educadoras 2 consideradas na<br />

pesquisa pessoas-chave para a educação musical brasileira. Procurando sistematizar<br />

cronologicamente as narrativas das participantes acerca de suas propostas e práticas musicais,<br />

compreender o processo de musicalização infantil organizado pelas mesmas e, identificar em<br />

1 Acadêmica do Doutorado em Educação da PPGEdu/FACED/UFRGS. Orgão financiador: CAPES.<br />

2 Termo utilizado no feminino pela constituição da pesquisa ser de maioria feminina.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

suas narrativas perspectivas para a educação musical infantil nos espaços escolares e práticas<br />

musicais unidocentes 3 atuais.<br />

No âmbito da educação e da educação musical no país, diferentes pesquisas e práticas<br />

relativas a área de música foram e são produzidas sobre e para a educação infantil. Algumas<br />

destas, desenvolvidas pelas pesquisadoras/educadoras musicais Josette Feres, Walkyria<br />

Passos Claro, Lydia Hortélio, Carmen Mettig Rocha, Elvira Drummond, Esther Beyer (in<br />

memorian), Maria Teresa Alencar de Brito, Beatriz Ilari, Ilza Joly, Maria Cecília Cavalieri<br />

França, Leda Maffioletti, Ricardo Freire, Luciana Ostetto 4 . Parto do pressuposto de que<br />

pesquisas anteriores, assim como essa, presenciaram uma lacuna no que se refere a trajetória<br />

histórica da educação musical para a primeira infância do Brasil, em especial voltada as<br />

crianças de zero a três anos de idade, e pontuada pela atuação das professoras acima citadas.<br />

O Brasil é um país com vasta diversidade cultural, diversidade esta proveniente das<br />

diferentes influências advindas de nosso processo de colonização, do tamanho de nosso<br />

território e as influências originadas por nossas fronteiras, e os processos de povoamento dos<br />

diferentes momentos históricos que vivenciamos. Com vistas a esta multiplicidade,<br />

emergiram historicamente no país inúmeras práticas musicais diferenciadas, que muitas vezes<br />

passaram a contemplar também um trabalho musical com crianças pequenas.<br />

A partir de então, as práticas organizadas por essas educadoras musicais para a<br />

pequena infância no país em contextos diferentes, passaram consequentemente a ser base para<br />

novas práticas músico-educativas. Práticas estas, que deveriam fazer parte do processo<br />

reflexivo de formação profissional também dos professores unidocentes que trabalham<br />

diretamente, e em muito exclusivamente, com as crianças dessa faixa etária. Ou seja, banindo<br />

práticas que possam ser descontextualizadas e superficiais.<br />

Com base na Lei 11.769 de 2008, a música passou no corrente ano de 2011 a compor<br />

o currículo do ensino fundamental, instigando a reflexão sobre este tema. Contribuindo com<br />

as pesquisas que vem sendo desenvolvidas nessa direção, vide estudos de Bellochio (2000,<br />

2001, 2004), Figueiredo (2004), Spanavello (2005), Correa (2008), Furquim (2009),<br />

Oesterreich (2009), Werle (2010).<br />

Com isso, volto a enfatizar como em estudos anteriores, a necessidade de ações<br />

integradas entre as áreas e os diferentes profissionais para que estabeleçam-se mudanças<br />

3 No que se observa da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – 9.394/96) e do Referencial<br />

Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI/1998), o professor unidocente é a figura central para<br />

trabalhar educacionalmente com as crianças todas as áreas do conhecimento.<br />

4 São estas pesquisadoras/educadoras musicais que, dentro do possível, serão convidadas a narrar suas histórias<br />

profissionais para a presente pesquisa, constituindo a base de dados.<br />

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efetivas no interior das instituições e de cada comunidade escolar. Foi em virtude destes e<br />

outros aspectos, que emergiu a necessidade de conhecer como se estabeleceu no país a relação<br />

entre música, primeira infância, ensino e suas relações com a formação do unidocente ao<br />

construir práticas músico-educativas com crianças de educação infantil.<br />

O professor unidocente, figura central em turmas de crianças pequenas, tem suas<br />

práticas impregnadas por atividades musicais, no entanto, desconhece que estas ultrapassem<br />

momentos de cantar ou tocar algum instrumento musical, e ignoram que brincar de roda ou<br />

contar histórias, dentre outras atividades, envolvem também a formação musical das crianças.<br />

Em especial, porque na maioria das vezes, as práticas estão envoltas por atividades musicais<br />

que não são associadas a um trabalho dessa natureza, afirmando-se que o cotidiano das<br />

crianças está desvinculado de práticas musicais. Contudo, o que se apresenta é uma realidade<br />

totalmente avessa.<br />

Como a necessidade de refletir a respeito da prática e da função da música<br />

nem sempre é clara [...], muito do que existe em educação musical não se<br />

apresenta, na verdade, como musical ou artístico, mas, antes, como um<br />

conjunto de atividades lúdicas [...] O fato de a música ter ou não seu valor<br />

reconhecido coloca-a dentro ou fora do currículo escolar, dependendo de<br />

quanto é ou não considerada pelo grupo social. Se, em determinada cultura, a<br />

música for uma das grandes disciplinas do saber humano, o valor da<br />

educação musical também será alto [...] Esta é a questão crucial com que se<br />

depara [o] Brasil: o resgate do valor da música perante a sociedade, único<br />

modo de recolocá-la no processo educacional. (FONTERRADA, 2005, p.<br />

12-13)<br />

Dentre os fatores que desencadearam a realização dessa pesquisa estão ainda: a<br />

ausência de licenciados em música suficientes para o trabalho com música nas escolas, a<br />

necessidade de organização de um trabalho musical mais reflexivo e acessível aos pedagogos,<br />

a relevância do trabalho musical com crianças de educação infantil, em especial entre zero<br />

três anos de idade, a construção de uma perspectiva diferenciada de trabalho musical com<br />

bebês nesta faixa etária, a contribuição para a formação cultural e estética de bebês, a<br />

permanente formação musical e pedagógico-musical de pedagogos e as consequentes<br />

mudanças com relação as práticas musicais.<br />

Dentre os autores utilizados para o embasamento teórico desta investigação foram<br />

utilizados até o momento: Pinto e Sarmento (1997), Kohan (2007) e Cerisara (2002) voltados<br />

a sociologia da infância; Fuks (1991) e Borges (2007) relativos a trajetória histórica da<br />

educação musical no país; Planillo (2004, 2006) e Gandini e Edwards (2002) voltadas a<br />

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trajetória da proposta de Loris Malaguzzi; e, relacionado a metodologia foram base para essa<br />

proposta Josso (2004), Souza (2006) e Malaguzzi (1999), dentre outros autores.<br />

A educação musical na pequena infância<br />

Ao salientar que a música nunca esteve ausente dos espaços escolares e nem mesmo<br />

das salas de aula, destaco a impossibilidade de se entrar em uma sala de educação infantil sem<br />

cantar com as crianças. Influenciada, sobremaneira, pelas narrativas obtidas em meu<br />

mestrado, no qual, as professoras unidocentes entrevistadas, ressaltaram a intrínseca relação<br />

entre educação musical e a prática educativa na educação infantil, a necessidade de formação<br />

específica em música no curso de Pedagogia, e ainda, a presença do licenciado em Música na<br />

escola para um trabalho conjunto com as professoras unidocentes.<br />

Esse aspecto é, ainda hoje, relevante para refletir sobre a necessidade de uma base<br />

teórica consistente que permeie o trabalho musical com crianças pequenas, especificamente<br />

entre a faixa etária de zero a três anos, que ampare as professoras unidocentes e, especialistas<br />

em música para atuar nesse campo.<br />

Para as crianças nessa faixa etária, as descobertas acontecem em grande parte através<br />

do contato sonoro com nosso entorno. Ainda no útero materno, bebês identificam e<br />

familiarizam-se com o mundo que o cerca através dos sentidos, “o bebê já está em interação<br />

com seu meio externo desde suas vivências uterinas, o que lhe permite trazer uma bagagem<br />

significativa de conhecimentos quando ele nasce” (BEYER, 2005, p. 96).<br />

Aliás, assim também é com relação a música. Antes mesmo de nascermos, já tivemos<br />

nossas primeiras experiências sonoras. Apesar de estar ciente que os primeiros contatos com o<br />

mundo se dão basicamente pelo olfato, paladar e audição, é este último que instiga a pesquisar<br />

sobre as práticas músico-educativas para os espaços escolares no país, respeitando as questões<br />

sonoro-musicais que envolvem as descobertas e desenvolvimento de crianças pequenas em<br />

ambientes familiares e escolares.<br />

A educação musical frente a perspectiva italiana de educação da pequena<br />

infância<br />

Para o desenvolvimento da presente pesquisa tomo como base para sua estruturação,<br />

reflexão e análise, a experiência italiana organizada por Loris Malaguzzi, pedagogo italiano<br />

que junto as comunidades da Emilia Romagna, uma região ao norte da Itália, construiu<br />

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colaborativamente um trabalho inovador para a pequena infância. E, é de seu modo de<br />

compreender os indivíduos que organizo esta pesquisa.<br />

Este autor destacou aspectos obsoletos da educação, a necessidade de pesquisas que<br />

inviabilizassem cair na rotina improvisada, e uma atitude que deveria ser dotada de<br />

inconformismo, respeitando sempre os direitos das crianças.<br />

A educação em Reggio é descrita como qualquer coisa menos linear, foi organizada<br />

como uma espiral sem fim, na qual as crianças retomam incessantemente as diferentes<br />

experiências, reavaliando todo o processo. Nesta direção, as constantes transformações,<br />

experimentações e reexames excluem do processo educativo a rotina e a rigidez, jamais se<br />

tornando fixo. Com isso a abordagem recusa o termo modelo, enfatizando-a como projetos ou<br />

experiências.<br />

Na estrutura da proposta reggiana, o ano escolar não começa do zero, mas as escolas<br />

não possuem um currículo planejado seguindo unidades e subunidades. Ao contrário, a cada<br />

ano são elaborados projetos de diferentes proporções, dos quais os temas possibilitam um<br />

suporte, como uma linha condutora, mas são as crianças que direcionam a construção de<br />

maior ou menor relevância e a direção a ser tomada. “[...] O que sabemos realmente é que<br />

estar com crianças é trabalhar menos com certezas e mais com incertezas e inovações. As<br />

certezas fazem com que entendamos e tentemos entender” (MALAGUZZI, 1999, p. 101).<br />

A escola para a pequena infância de acordo com Malaguzzi deve se distanciar de um<br />

modo preparatório e de continuidade com o ensino fundamental, porque assim, estariam<br />

presos a um modelo que visa um único fim, estar apto a alguma coisa, estar preparado para<br />

alcançar, para ser capaz de. Visando os aspectos a serem alcançados para poder desempenhar<br />

uma outra tarefa que não a própria que se está envolvido. Como é o caso de distanciar a<br />

formação de músicos dos objetivos mais amplos que envolvem as práticas musicais escolares.<br />

Ainda, Malaguzzi contemplou em seu trabalho a perspectiva de uma pedagogia da<br />

escuta, pela qual o próprio autor instiga os professores mencionando que temos de admitir que<br />

falamos muito das crianças, falamos pouco com elas e muito menos as escutamos<br />

(MALAGUZZI, 1999). É imprescindível em sua perspectiva, que pratiquemos a escuta, estar<br />

atento e dar ouvidos, com todos os sentidos, a infância.<br />

Esta vem proporcionar ferramentas ao adulto, como o espanto, a maravilha, a reflexão<br />

e a alegria de estar com as crianças (PLANILLO, 2004b, p. 130). Uma pedagogia da escuta<br />

além do nível da audição, que faça o ouvinte refletir, apreciar, contemplar com uma postura<br />

ética e estética. Levando-nos a questionar a maneira como as crianças elaboram seus<br />

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pensamentos, desejam, etc. Uma atitude de escuta que transforma a observação, a<br />

interpretação e a aprendizagem, em vista de respeitar a cultura infantil.<br />

A proposta é ouvir aqueles que cotidianamente não temos tempo e nem mesmo<br />

paciência para ouvir. Na proposta de ouvir a criança, também ouvimos os mundos que as<br />

cercam, e isso pode ser explorado através das sonoridades, da sensibilização auditiva, da<br />

acuidade sonora do todo e das partes, trabalhar com o respeito em ouvir o mundo, ouvir o<br />

outro, ouvir-se.<br />

Nessa direção, a proposta italiana poderá fornecer subsídios para compreender em que<br />

proporção o trabalho musical que vem sendo desenvolvido no Brasil considera a visão das<br />

crianças, respeitando as suas potencialidades e necessidades.<br />

Os caminhos metodológicos<br />

O projeto de pesquisa em questão, propõe-se a investigar a educação musical para a<br />

pequena infância brasileira através dos relatos de algumas pesquisadoras/educadoras musicais<br />

do Brasil. Para tanto, optou-se por realizar uma investigação de caráter qualitativo, utilizandose<br />

como método a pesquisa narrativa.<br />

Inicialmente foi realizado um levantamento em publicações na área da educação e<br />

educação musical em vista de identificar pesquisadores e/ou educadores brasileiros com<br />

produção na temática da pesquisa, seja esta de educação musical infantil entre zero e três anos<br />

de idade. Ao considerar um número reduzido de profissionais que investiram seu trabalho<br />

musical com crianças pequenas (citados anteriormente no presente texto), será possível buscar<br />

o contato com todos, para a possibilidade de entrevista.<br />

O estudo prevê entrevistas gravadas em áudio com pesquisadoras/educadoras<br />

brasileiras da área de Educação Musical acerca de suas produções voltadas a crianças<br />

pequenas no país, construindo um apanhado a cerca do ensino da música e considerando suas<br />

percepções acerca da educação para a pequena infância nos espaços escolares de educação<br />

infantil atuais.<br />

A análise culminará em um entrelaçamento com a pedagogia italiana, em especial com<br />

o trabalho produzido na região de Reggio Emilia e conhecido através da atuação de Loris<br />

Malaguzzi, visando-se confrontar a perspectiva de construção músico-pedagógica brasileira<br />

com a visão italiana de vínculo da infância com as artes, em especial nesta pesquisa, com a<br />

música.<br />

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Contribuições<br />

Ao final, viso contribuir com a efetivação do trabalho musical a ser contemplado nas<br />

matrizes curriculares das escolas de educação infantil na medida em que possibilitaremos<br />

através das narrativas dos educadoras/pesquisadoras musicais da pesquisa, uma perspectiva de<br />

como a educação musical brasileira poderia ser organizada e conduzida atualmente entre os<br />

espaços escolares de educação para a pequena infância no Brasil. Refletindo,<br />

consequentemente, na formação musical e pedagógico-musical dos professores unidocentes.<br />

Não objetivo de forma alguma criar novas formas de ensinar música, ou simplesmente<br />

colocar no papel a história de grandes pesquisadoras/educadoras musicais de nosso país.<br />

Entretanto, procurarei refletir como as crianças gostariam de construir seus conhecimentos<br />

musicais nos espaços escolares.<br />

Através dessa pesquisa, objetivo integrar as temáticas da educação infantil e educação<br />

musical de maneira diferenciada, contribuindo na medida em que a criança será observada em<br />

todo o seu potencial, de forma integral, a partir de suas realidades, para vivenciarem<br />

musicalmente o contato com outras crianças, e com os professores, unidocentes e músicos, de<br />

forma lúdica e desafiadora.<br />

É importante ver as experiências musicais durante as primeiras fases das criancas<br />

como aliada para o desenvolvimento global. Este é “um caminho que passa pela aceitação a<br />

novos itinerários, a explorar velhos-novos territórios, dentro de si e a seu redor, arriscando<br />

novos olhares [...] (OSTETTO, 2006, p. 234)<br />

Propondo reflexões sobre o tema, talvez nós possamos organizar musicalmente o<br />

universo das crianças pequenas. Ostetto (2006) enfatiza que “alimentar o universo imaginário<br />

do educador, provocando o desejo, que faz mover a busca, implica tempo de espera. Não se<br />

dá instantaneamente. Talvez por isso a escassez de propostas educativas que incluam as<br />

múltiplas linguagens[...] (p. 234).<br />

E sobretudo, as pesquisas/práticas produzidas no país que comporão as narrativas das<br />

participantes da pesquisa, poderão representar, ao menos inicialmente, a trajetória histórica da<br />

educação musical para a pequena infância brasileira. O que viabilizará um panorama geral<br />

que poderá refletir sobre esta nova fase que vivencia a educação musical no ensino<br />

fundamental do país, desenvolvendo nas crianças brasileiras, dentre outros fatores de modo<br />

geral, uma mentalidade estética diferenciada.<br />

88


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Caminhos da Musicalização Infantil na UFBA<br />

Marineide Marinho Maciel Costa<br />

UFBA<br />

marineide.costa@gmail.com<br />

Resumo: Pretende-se através deste artigo, apresentar um pouco da história do Curso de<br />

Musicalização Infantil na UFBA, concebida através de: consulta a documentos dos arquivos<br />

da EMUS, entrevistas com ex-alunos, professores e coordenadores, atores do processo<br />

educativo em questão, que serão apresentados ao longo do texto. Organizado por períodos de<br />

acordo com a política pedagógica da instituição, observando principalmente a mudança da<br />

coordenação pedagógico-administrativa , o texto mostra os caminhos percorridos desde os<br />

anos de 1954 a 2011.<br />

Palavras chave: Musicalização, história, educação<br />

Primeiro Período: 1954 a 1969<br />

Era o ano de 1954, quando o então Reitor da Universidade da Bahia 1 , Edgar Santos,<br />

incentivado pela Professora Rosita Salgado Goes, institui o I Seminário Internacional de<br />

Música como cursos de extensão. Constatando nos programas dos Seminários Internacionais,<br />

que eram cursos de férias promovidos pela então Universidade da Bahia, percebe-se a<br />

preocupação desta instituição, para com a iniciação musical das crianças, visto que um dos<br />

cursos ministrados era o de Pedagogia e Iniciação Musical, ministrado pela Professora Maria<br />

Rosita Salgado Góes. 2 .<br />

Supondo a existência, de cursos para crianças buscou-se depoimentos de professores<br />

que participaram daquele momento, ou seja, da criação dos cursos de extensão geridos pelo<br />

então Seminários Livres de Música. Maria Angélica Bahia Koellreuter quando numa<br />

entrevista por telefone, foi questionada sobre o atendimento a crianças menores de seis anos,<br />

responde:<br />

O curso não tinha o nome de Iniciação Musical ou Musicalização<br />

Infantil, mas atendíamos a crianças de 6 anos, com as quais<br />

desenvolvíamos atividades de introdução ao instrumento com<br />

iniciação musical. O curso era chamado Pré-Universitário nos anos<br />

1 Até a primeira Reforma Universitária Decreto 62.241 de 13/02/1968 quando passou a UFBA.<br />

2 Folder do I Seminário Internacional de Musica (em anexo e powerpoint).<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

1956 e 1957. Eu tive alunos de 6 anos, como aluna do curso superior<br />

de piano sob a orientação do professor Benda. 3<br />

A presença da criança era constante, e na década 60, houve uma mudança no olhar e<br />

na postura dos professores quanto ao processo de educação, buscando conhecer e utilizar uma<br />

metodologia baseada nos princípios de psicologia aplicada ao ensino, respeitando o do<br />

desenvolvimento do sujeito como um todo. Os elementos básicos da música passam a ser<br />

transmitidos de maneira adequada ao nível cognitivo, afetivo, psicomotor e social do aluno e<br />

os métodos considerados ativos que defendiam a vivência como base para a construção do<br />

conhecimento teórico musical que surgem na Europa, com renomados teóricos, pedagogos e<br />

psicólogos, como J.Dalcroze, C.Orff, Edgard Willems entre outros chegam à Bahia.<br />

A Bahia estava na frente!<br />

Foi assim... pela primeira vez o renomado Pedagogo Edgard Willems veio à<br />

Bahia a convite do compositor e então diretor dos seminários Livres de<br />

Música, Hans Joachin Koellreuter, foi um curso intensivo de seis semanas;<br />

uma demonstração inigualável de competência, amor à música e às crianças<br />

(Carmen Mettig, site Congresso de Educação Musical Willems Brasil 2009,<br />

acesso em 24 jun. 2011). 4<br />

A professora Alda Oliveira conta que, em 1964, quando do seu ingresso SLM 5 , como<br />

aluna do curso de graduação, teve a oportunidade de ministrar aulas. Comenta posteriormente,<br />

referindo-se a Willems:<br />

ele me introduziu aos seus livros e me deu uma turma de crianças a<br />

partir de 6 anos de idade. Eram sempre turmas pequenas, de no<br />

máximo 12 crianças. De início, eu fazia as preparações e<br />

planejamentos das minhas aulas baseada no método Willems, que foi<br />

o início da minha formação em educação musical feita com o<br />

professor e compositor Ernst Widmer, que, como Edgard Willems, era<br />

também Suiço. 6<br />

Mais tarde, no final da década de 60, Oliveira comenta sua interessante experiência<br />

com crianças a partir de 3 anos de idade:<br />

3 Informação obtida através de entrevista pessoal. (Realizado em 25/06/2011). O questionamento enquanto<br />

entrevista a Maria Angélica foi: Havia atendimento ou cursos destinados à crianças menores de seis anos, no<br />

Seminários Livres de Música?<br />

4 N.A.Sobre este curso foram encontradas no Arquivo da EMUS, as cadernetas contendo os nomes dos alunos das<br />

duas turmas de crianças, sendo uma turma de 4 a seis anos e outra de 7 a 10, assim como participação de 30<br />

professores oriundos de várias Escolas de música de Salvador.<br />

5 SLM Seminários Livres de Música.<br />

6 Depoimento escrito de Alda realizado em 17/07/2011.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Nesse período aceitei como desafio na Escola de Música (sempre<br />

gostei de enfrentar problemas educacionais e artísticos), tomar uma<br />

turma de iniciação musical com crianças de 3 anos de idade. No<br />

princípio, comecei a fazer aulas no mesmo estilo, usando canções,<br />

improvisações etc. Mas com o passar do tempo, percebí que eu tinha<br />

de mudar a abordagem, pois elas não ficavam muito tempo na mesma<br />

atividade. Queriam mudar, pegar nos objetos, correr. Tive de me<br />

adaptar a isso e conseguir dar aula sozinha, sem nenhuma ajuda 7 .<br />

Convém ressaltar que Edgar Willems que aqui chegou em 1963 para ministrar um<br />

curso intensivo retornou em 1971 dando continuidade ao trabalho. Entretanto, oficialmente o<br />

professor que se preocupou com as questões de educação musical para aquele tempo, no<br />

SLM, era Ernst Widmer, que aqui chegou, convidado por Koellreutter em 1956.<br />

Vários foram os alunos do curso de graduação que tiveram a oportunidade de<br />

experimentar educação musical para crianças sob a orientação do professor E.Widmer, e em<br />

conversa com as Professoras Alda Oliveira e Carmen Mettig, elas lembravam nomes das<br />

colegas que também ministravam aulas de iniciação musical e iam citando, com naturalidade,<br />

como se estivessem vivendo aquele momento: Maria Amélia<br />

e Maria Amália Martins<br />

(Melinha e Malinha), Maria da Graça Santos, Aida Zollinger, Ida Meireles, Rosa Lúcia Mares<br />

Guia. Estes depoimentos demonstram que os estudantes sempre tiveram oportunidade de<br />

experimentar as teorias e metodologias estudadas durante curso.<br />

A década de sessenta termina com uma grande vitória para Educação Musical no<br />

Brasil e em especial na Bahia, com a criação do Curso de Licenciatura em Música mediante<br />

os documentos: Decreto nº 43/804 de 23/05/1958; pelo Parecer nº 1.284/76 e pela Resolução<br />

nº 10 de 10/10/1969. Sua primeira turma ocorreu em 1969, quando aconteceu o primeiro<br />

vestibular unificado. Graduação Licenciatura em Música.<br />

Curso de Iniciação Musical continua sendo o laboratório para o licenciando, aliás uma<br />

característica específica desta Escola quando utiliza, desde 1954, oportunidades na formação<br />

de professores para experimentação prática do que aprende e do que ele mesmo cria.<br />

A partir daí coordenado pela professora Carmen Mettig, tem em 1973 a primeira<br />

estagiária, a licencianda Jane Souza Palma que realizou seu estágio da disciplina Prática de<br />

Ensino em uma turma de crianças de 6 (seis) anos, sob a orientação da professora Carmen<br />

Mettig. 8 Conta a professora Carmen sobre o estágio:<br />

7 Idem.<br />

8 Depoimento da Professora Jane Palma em entrevista por telefone dia 24/06/2011e confirmado em entrevista<br />

com a Professora Carmen Mettig em 15/07/2011 no IEM Instituto de Educação Musical.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O estágio acontecia após o licenciando observar durante um ano as<br />

minhas aulas e durante o tempo de observação iam realizando<br />

atividades até ministrar a aula inteira, sempre sob meu olhar. Quando<br />

assumia a classe sabia dar aula! 9<br />

A metodologia usada era baseada no método Willems sob a orientação do próprio, que<br />

estava preparando a Professora Carmen Mettig, para mais adiante entregar-lhe o título de sua<br />

representante no Brasil e na América Latina.<br />

Segundo Período: 1970 a 1986<br />

Com a realização do primeiro vestibular para o curso de Licenciatura em Música,<br />

ocorrido em dezembro de 1969 a então Escola de Música e Artes Cênicas- EMAC recebe a<br />

sua primeira turma. Vale ressaltar que a EMAC não se adequou à Lei de Diretrizes e Bases de<br />

1971, que instituiu o ensino da Educação Artística nas escolas públicas, pelo fato de acreditar<br />

que cada uma das linguagens de Arte tem os seus conteúdos e objetivos específicos.<br />

Em 1971, a professora Carmen Mettig, então coordenadora do Curso de Música,<br />

ainda impactada com o que absorveu sobre o método Willems em 1963, solicita ao Diretor da<br />

EMAC, Ernst Widmer, o retorno do Pedagogo Willems para ministrar um curso na Semana<br />

de Educação Musical. 10 Contando com o apoio do coordenador do curso de Dança da UFBA,<br />

Rolf Gelewski, a solicitação foi atendida e a Semana de Educação Musical contou com a<br />

participação de Educadores de varias instituições do país.<br />

A Semana de Educação Musical acontecia anualmente com o objetivo de melhorar o<br />

desempenho dos professores de Educação Musical. Este movimento fortalecia a equipe de<br />

professores da UFBA e o curso de Iniciação Musical continuava sob a coordenação da<br />

Professora Carmen Mettig. A demanda por parte das crianças era grande e filas enormes se<br />

formavam na porta da Escola na ânsia para conseguir uma vaga. Nessa época se cobrava uma<br />

taxa simbólica que era administrada pela FAPEX e eram atendidas 200 (duzentas crianças<br />

entre 4 a 10 anos) no Projeto que na época se chamava “Iniciação Musical / Coral Infantil”.<br />

Os próprios professores e estagiários efetuavam as matrículas. A equipe era formada por<br />

estagiários do curso de Licenciatura, em Música entre as quais, lembra Carmen Mettig:<br />

Heloisa Leone, Isa Valois, Jane Palma de Souza, Marialva Rios, Doraneide.<br />

9 Entrevista com Carmen Mettig 15/07/2011 no IEM.<br />

10 Depoimento de Carmen Mettig no site do Congresso de Educação Musical Willems Brasil 2009e em entrevista<br />

no IEM dia 15/07/2011.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Ao final de cada semestre eram realizadas as apresentações na Reitoria ou no Teatro<br />

Castro Alves, sempre privilegiadas pelos reitores Germano Tabakof e Rogério Vargens, que<br />

apreciavam e prestigiavam com as suas presenças.<br />

responde:<br />

Ainda em conversa com Carmen, perguntando como eram escolhidos os estagiários,<br />

Terceiro Período: 1987 a 1993<br />

Os estagiários levavam um ano observando as minhas aulas e aos poucos<br />

iam assumindo atividades até ficar responsável pela classe. Quando<br />

terminavam, sabiam elaborar o seu plano de aula e executá-lo sem<br />

dificuldade.<br />

Em 1987, o então diretor da Escola de Música, Paulo Costa Lima reestrutura o Curso<br />

preparatório, transformando em curso básico de Música, dividido em: Pré-básico, com foco<br />

na Iniciação Musical e no ensino dos instrumentos para crianças até 12 anos e o curso Básico,<br />

com focos em Licenciatura, Composição, Regencia, Canto e Instrumentos a partir de 13 anos.<br />

Vale salientar que esta divisão era flexível tanto para o Pré-Básico quanto para o Básico<br />

Alda Oliveira nos relata no seu depoimento: 11<br />

Somente quando fomos fazer Mestrado em Boston (1977-1979) e Doutorado<br />

no Texas (1983-1986) é que não dei aulas e nem orientei na EMUS/UFBA.<br />

Em todos os demais periodos, trabalhei com isso. Carmem e eu dividíamos<br />

as responsabilidades de orientar, pois ambas trabalhavam com as disciplinas<br />

principais do curso de Licenciatura. Carmen, usando o método Willems e<br />

eu, tentando levar os professores para desenvolver os próprios projetos assim<br />

como as minhas idéias e propostas, como por exemplo as turmas de<br />

Iniciação Musical com Flauta Doce (com Barbara, do Instituto de Música,<br />

que já faleceu), as turmas de Iniciação Musical com Maratona Musical, a<br />

turma de Iniciação Musical com Capoeira, as turmas de Iniciação Musical<br />

com Introdução ao Teclado, o IMIT.<br />

As aulas aconteciam no mesmo espaço da graduação, até que as crianças foram<br />

transferidas para a casa em anexo onde funciona o Acervo do Grupo de Compositores da<br />

Bahia - Memorial Lindembergue Cardoso. O aumento do espaço proporcionou o aumento do<br />

número de alunos que chegou a ser de 450 (quatrocentos e cinqüenta crianças, distribuidas em<br />

3 (três) grandes projetos: IMMAR - Iniciação Musical com Maratona, a, IMCOR – Iniciação<br />

Musical/ Coral para e IMIT- Iniciação Musical com Introdução ao Teclado. A criança entrava<br />

na escola aos seis anos, sem teste de seleção em um dos cursos de Iniciação Musical, IMCOR<br />

ou IMMAR e depois de um ano de iniciação va musical, passa para o IMIT ou outro projeto<br />

11 Depoimento por escrito de Alda Oliveira em 17/07/2011.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

de iniciação ao instrumento (em grupo). Mediante o seu desempenho, ela<br />

seria indicada para submeter-se ao teste de ingresso ao pre-basico, cujas aulas de<br />

instrumento eram individuals.<br />

Com a aposentadoria da Professora Carmen Mettig em 1991, a coordenação passa ser<br />

da professora Alda Oliveira que depõe: 12<br />

eu fiquei responsável, mas também dividia as orientações dos estagiários<br />

com Profa. Celina Lopes, com Profa. Ana Margarida Lima, que trabalhava<br />

com violino, e até mesmo com o Prof. Horst Schwebel, quando o aluno era<br />

de instrumentos de sopros, de Banda. Sempre o nosso curso de Liceniatura<br />

em Música teve essa possibilidade de orientação específica para a tendência<br />

de especialização musical do aluno. Isso sempre ajudou muito a aproveitar<br />

os diversos talentos musicais dos estagiários. Entre os meus estagiários e<br />

pessoas que trabalharam comigo estão Adálvia Borges, Kátia Cucchi,<br />

Robertinho Castro (de construção de instrumentos), Marialva Rios, Regina<br />

Cajazeira, Juracy “Bemol” e muitos outros. Teve um período que criei até<br />

um curso Básico de Educação Musical (quem dava aula era eu mesma), que<br />

servia para preparar adultos que queriam fazer vestibular para Licenciatura<br />

em Música. Na primeira turma desse curso, participaram mais de 30 alunos,<br />

dentre eles Leila Dias (quando ainda era médica), Zezinho (cursou<br />

Licenciatura, fez Mestrado em Etnomusicologia), Lara Morelli, Ilma<br />

Nascimento, Patricia Hita, etc. Foi um curso muito proveitoso para a Escola.<br />

Depois eu não tive mais tempo de dar essas aulas e o departamento não teve<br />

interesse em continuar. Eu tinha muitas turmas do IMIT com crianças de<br />

várias idades e ainda os estagiários.<br />

Ainda em 1991, uma nova proposta para Iniciação Musical!<br />

“Aulas para bebês foram introduzidas na Escola de Música da UFBA como<br />

parte da disciplina Educação Musical Especial ministrada pela Profa. Diana<br />

Santiago nos anos de 1991, 1992 e 1996 no então curso de Mestrado em<br />

Música da UFBA. Foram ministradas pelos alunos da disciplina durante a<br />

segunda parte de cada um dos semestres letivos em que a disciplina foi<br />

oferecida, pelo período de 8 semanas em várias turmas e consistiam num<br />

encontro semanal dos professores, das crianças e seus pais. (A primeira parte<br />

dos semestres consistia em aulas teóricas sobre Educação Musical para a<br />

Primeira Infância). O formato das aulas foi baseado no MUSICTIME criado<br />

pela Profa. Dra. Donna Brink-Fox na Eastman School of Music (New York,<br />

USA) na década de 1980, com quem Diana Santiago estudou enquanto<br />

realizou seu Mestrado nos EUA. As aulas – em várias turmas – consistiam<br />

em 15 minutos de atividades lúdicas espontâneas, para as quais eram<br />

disponibilizados brinquedos musicais e instrumentos de percussão leves e<br />

seguros para serem manuseados pelas crianças, e cerca de 30 minutos de<br />

atividades conduzidas pelo (a) aluno (a) de mestrado que atuava como<br />

professor (a) da turma. Essas atividades incluíam atividades musicais para<br />

entrosamento, canções, lengas-lengas, atividades rítmicas e atividades<br />

musicais para imitação e locomoção. As aulas aconteceram na sede da<br />

EMUS.<br />

12 Idem.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Quarto Período: 1994 a 2011<br />

Além das atividades desenvolvidas com os alunos da pós-graduação, alunos<br />

da graduação (concluintes de curso e bolsistas de iniciação científica)<br />

também trabalharam com bebês, tendo sido treinados no método. Aulas para<br />

bebês, supervisionadas por Diana Santiago, foram por eles ministradas<br />

durante os anos de 1994 a 1997, na Organização de Auxílio Fraterno (OAF,<br />

entidade que atende a crianças carentes), na Creche da UFBA e na Escola<br />

Dorilândia, como parte dos projetos de pesquisa Padrões do<br />

desenvolvimento psicomotor e comportamentos musicais de resposta em<br />

crianças de classe social menos favorecida (1994-1995) e Atividades<br />

rítmicas e melódicas apropriadas à 1ª infância (1995-1997), bem como dos<br />

estágios de conclusão de curso das licenciandas em música Lara Morelli e<br />

Ilma Nascimento”. (Texto concedido por email pela Professora Doutora<br />

Diana Santiago em 22/07/2009). 13<br />

A professora Leila Dias, que retornava da Inglaterra onde fora realizar o seu mestrado<br />

em Música, assume a coordenação do curso de iniciação Musical por solicitação da então<br />

diretora da EMUS-UFBA, Prof. Dra. Alda Oliveira. Em 1996 convida a professora Marineide<br />

Costa recém aposentada pela Secretaria de Educação do Município de Salvador, para<br />

colaborar com a professora Leila no curso de Iniciação Musical que continuava atendendo a<br />

crianças de 4 anos e meio a 6 anos.<br />

As aulas eram ministradas pela professora Marineide. Eram cinco turmas de até 25<br />

(vinte e cinco crianças, sendo 2 turmas pela manhã e 3 turmas pela tarde, organizadas por<br />

idade cronológica. As do turno matutino uma de 4 e 5 anos e a outra de 6 anos. As do<br />

vespertino como a demanda era sempre maior, uma turma de 4 anos,uma de 5 anos e uma de<br />

6 anos, que eram observadas pelos alunos dos cursos de Licenciatura em Música da UFBA,<br />

assim como dos dos licenciandos do Instituto de Música da Universidade Católica de<br />

Salvador, por solicitação da professora Terezinha Requião, então orientadora e professora da<br />

disciplina Prática de Ensino.quanto da UCSAL.<br />

Nesse período, a observação dos licenciandos era realizada sob a supervisão dos seus<br />

professores, da disciplina Iniciação Musical II, que solicitavam um relatório da aula<br />

observada com a assinatura da professora que havia ministrado. No decorrer das aulas, os<br />

licenciandos que observavam, também participavam de algumas atividades, sem perder o<br />

olhar de observador, para que depois pudessem relatar e até realizar críticas. Após cada aula, a<br />

professora Marineide se reunia com os licenciandos para tirar dúvidas, fundamentar as<br />

atividades realizadas. Somente após um período de um ou dois semestres de observação,<br />

13<br />

Coordenadora - Núcleo de Pesquisa em Performance Musical e Psicologia Escola de Música da UFBA.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

podiam escolher uma turma para realizar o estágio exigido pela disciplina Prática de Ensino.<br />

Por esta experiência de observação passaram dezenas de estagiários, mas poucos se<br />

habilitavam a realizar o seu estágio nas turmas dos pequeninos de 4 a 6 anos, a exemplo:<br />

Micheline Fontal, Glicéria Santos, NelzaSuzart, Carmelito Lopes, Sérgio Teixeira e muitos<br />

outros.<br />

Vale a pena salientar que Sérgio Teixeira participou como estagiário da implantação<br />

do IMAV – Iniciação Musical com introdução ao Violino, em 1997 sob a orientação dos<br />

professores Dilson Peixoto e Marineide Costa. Esse projeto chegou a atender crianças a partir<br />

de 3(três) anos, quando foi utilizado o método Suzuki. 14<br />

Ainda na sua gestão como diretora da EMUS, Alda Oliveira cria o NEM- Núcleo de<br />

Educação Musical, com objetivos de:<br />

1. Atender às necessidades do curso Licenciatura em Música especialmente no que se<br />

refere às disciplinas pedagógicas, quer teóricas, ou práticas que são:<br />

Iniciação Musical I - Disciplina Teórica que fundamenta<br />

métodos e teorias da Educação Musical<br />

Iniciação Musical II-Disciplina Teórico-prática - Vivência dos métodos e<br />

teorias estudadas em Iniciação Musical I<br />

Prática de Ensino - Estágio - Disciplina Prática<br />

Orientação Para Prática de Ensino.<br />

2. Funcionar como laboratório dos cursos de Graduação e Pós-Graduação , através do<br />

programa de Extensão “Iniciação Musical” que oferece cursos para crianças e<br />

adolescentes.<br />

M.I. Musicalização Infantil para crianças de 4 a 6 anos<br />

IMIT Iniciação Musical com Introdução ao Teclado de 7 a 12 anos<br />

IMIV Iniciação Musical com Introdução ao Violão de 7 a 12 anos<br />

IMAV Iniciação Musical através do Violino de 7 a 12 anos<br />

IMAF Iniciação Musical através da Flauta Doce de 7 a 12 anos<br />

IMIP Iniciação Musical através da Percussão de 7 a 12 anos (novo,<br />

1ª experiência em 2003)<br />

Pré-básico de Piano<br />

após o 4º ano do IMIT<br />

desde 2004<br />

3- Atender a demanda da comunidade infantil, cumprindo assim o papel da extensão<br />

na Universidade.<br />

Os cursos oferecidos pelo Programa de Extensão “Iniciação Musical” têm como<br />

objetivo iniciar a criança ao conhecimento da música, preparando-a para participar de etapas<br />

mais avançadas do conhecimento musical, tanto nas oficinas quanto no curso básico, e,<br />

atualmente, estão com duração de 4 anos, com exceção de Musicalização Infantil que tem<br />

uma duração mínima de dois anos, podendo usar o tempo necessário para o amadurecimento<br />

das crianças. É um curso que não deve ser realizado com pressa, pois é a base da construção<br />

14 Método criado pelo Japonês Shinichi Suzuki.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

do conhecimento musical, que em países desenvolvidos começa muito antes dos 4 anos, idade<br />

mínima para os nossos cursos da EMUS.<br />

A coordenação do NEM é realizada por Marineide Costa, desde 2000 e cada projeto<br />

tem o seu coordenador. 15<br />

Em 1999, o espaço físico da Escola é modificado. O então diretor Oscar Dourado,<br />

transforma o antigo Salão de Orquestra em 3 salas de aula, sendo uma delas destinada às aulas<br />

de Iniciação Musical para as crianças também usada pela graduação para as disciplinas<br />

teóricas.<br />

Com a coordenação alternando entre as professoras Leila Dias e Marineide Costa, os<br />

vários cursos do NEM se mantinham com um número grande de alunos sendo necessário a<br />

inclusão de monitores, os estagiários que não faziam a disciplina Prática de Ensino<br />

começaram também a assumir turmas pelas quais recebiam uma quantia por hora aula<br />

ministrada. O processo para assumir uma turma continuava o mesmo. Primeiro observar no<br />

mínimo um semestre para depois assumir a turma. Nesse período, ou seja, a partir do ano<br />

2000, passaram vários monitores e estagiários que atualmente estão bem inseridos no<br />

mercado de trabalho como bons profissionais, ex: Carmelito Lopes, Jaqueline Leite, Michele,<br />

Valéria Badaró, Amélia Dias e outros.<br />

Em 2006, sob a coordenação da Professora Leila Dias o curso é ampliado com a<br />

implantação do curso de Musicalização de Bebês, atendendo crianças de 0 a 3 anos, e as aulas<br />

eram ministradas pela professora Angelita Broock, recém chegada na Bahia, vindo de<br />

Curitiba.<br />

A partir daí o curso de Musicalização Infantil que atendia crianças de 4 a 10 anos<br />

desde os anos 50, passa a atender crianças de 0 a 10anos.<br />

Em 2007, com a saída da professora Leila Dias para o doutorado fora de Salvador,<br />

assume a coordenação a professora Marineide Costa. O trabalho prossegue, bem aceito pela<br />

comunidade servida e começam a surgir trabalhos com a comunidade fora da escola,<br />

cumprindo assim a proposta da Universidade de servir à comunidade. Como por exemplo uma<br />

tarde<br />

de oficina com os bebês e suas mamães na Maternidade Climério de Oliveira,<br />

maternidade Escola da UFBA, oficinas pontuais em uma loja de móveis e decoração para<br />

bebês<br />

Em 2008, por conta de assumir a Coordenação Pedagógica dos Cursos de Extensão, a<br />

por solicitação do então diretor da EMUS Professor Horst Schwebel,a professora Marineide<br />

15 Informações obtidas através do Relatório escrito em 2004 para a Comissão de Extensão da EMUS em 2004.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

entrega à Professora e Doutouranda Angelita Broock a coordenação do Musicalização<br />

Infantil, curso que atende crianças de 0 a 6 anos, que até agora tem assumido com muita<br />

competência criatividade e seriedade.<br />

O curso continua sendo o laboratório dos cursos de graduação, tanto para os alunos de<br />

Licenciatura, quanto de Instrumento, ou composição, onde têm a oportunidade de<br />

experimentar os conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso. As turmas são<br />

organizadas por idade e as aulas tem duração de quarenta e cinco minutos por turma.<br />

As aulas das crianças de 0 a 2 anos são realizadas em companhia dos pais ou<br />

responsável e a partir de 3 anos já ficam sem os seus acompanhantes, que ficam do lado e<br />

fora da sala esperando<br />

Durante o caminho percorrido e relatado aqui, lá se vão cinco décadas<br />

de Musicalização Infantil na Escola de Música da UFBA. Um projeto<br />

que foi crescendo e amadurecendo junto com a Escola, adotando<br />

nomes diferentes, mas sempre com o objetivo de dar o melhor do<br />

mundo da música às crianças que aqui chegam.Leila dias parantão<br />

diretor dos Seminários Livres de o(1963) à convite do c<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ALDA DE JESUS OLIVEIRA. Entrevista realizada em 24 de junho2011.<br />

CARMEN MARIA METTIG ROCHA. Entrevista realizada em 25 de junho 2011.<br />

______. Entrevista realizada em 13 de julho 2011.<br />

DIANA SANTIAGO. Entrevista realizada em 22 de julho de 2011.<br />

LEILA DIAS. Entrevista realizada em 24 de junho 2011.<br />

HELOISA LEONE. Entrevista realizada em 24 de junho 2011.<br />

JANE PALMA. Entrevista realizada em 21 de junho 2011.<br />

OLIVEIRA, Alda de Jesus. Escola de Música da Universidade Fedral da Bahia: Cursos de<br />

Extensão. Salvador-Bahia. Revista ABEM, n’ 1, p. 53-56.<br />

PERRONE, Maria da Conceição Costa . Música, Contexto e Tradição: estudo sobre a criação<br />

de uma Instituição de Ensino. Tese de Doutorado em Música da UFBA. Salvador-Bahia,<br />

2008.<br />

ROCHA, Carmen Maria Mettig: Foi assim... Contato Método Willems no Brasil- Site do<br />

Congresso Internacional Willems Brasil 2009. Disponível em:<br />

. Acesso em: 24 jun. 2011.<br />

SÉRGIO EMMANOEL TEIXEIRA. Entrevista realizada em 8 de julho de 2011.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O Sapo Não Lava o Pé: cantando, tocando e escrevendo música com<br />

estudantes da educação infantil<br />

Cássia Vanessa O. Cotrim 1<br />

FUNORTE<br />

cassiaeanacotrim@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este relato de experiência é uma proposta educativa para alunos da educação<br />

infantil do segundo período desenvolvida com crianças por volta de cinco anos no ano<br />

letivo de 2010. A proposta não se encerra no âmbito da educação infantil, podendo ser<br />

utilizada nos diversos níveis da educação básica, desde que haja adequação à idade,<br />

repertório e exigência do conteúdo trabalhado com outros alunos. O objetivo da<br />

proposta foi trabalhar iniciação à escrita musical tradicional, unindo o gesto corporal à<br />

prática coral, desenvolvendo habilidades principalmente de leitura rítmica e corpórea<br />

com cerca de trinta crianças. Outros conteúdos extrínsecos à música fizeram parte do<br />

trabalho como socialização, leitura imagética, desenvolvimento do letramento e outros.<br />

Habilidades essas citadas no Referencial Curricular para a Educação Infantil- RCNEI,<br />

documento oficial do estado brasileiro para esta fase da educação básica. A canção<br />

utilizada foi “O sapo não lava o pé” de domínio público resultando na confecção de<br />

partitura alternativa e interpretação corporal e vocal da canção escolhida com muito<br />

entusiasmo.<br />

Palavras- Chave: Educação infantil, canção popular e notação musical<br />

Introdução<br />

Temos visto a crescente discussão em torno da música na escola, como por<br />

exemplo: quais são as concepções que devem estar inseridas no planejamento? Como<br />

devemos direcionar a construção do currículo? E ainda, quais profissionais que devem<br />

atuar em seu ensino? Tais indagações podem ser percebidas em anais de congressos e<br />

em textos diversos como Queiroz; Marinho (2009); Bellochio; Figueiredo (2009) e<br />

Beyer; Kebach (2009), entre tantos outros. Refletir sobre a música na escola é pertinente<br />

principalmente quando consideramos cada contexto educativo, pensando numa proposta<br />

que atenda à necessidades de cada local em que a música deverá ser ensinada, levando<br />

em consideração as especificidades de cada escola e clientela. O espaço da música<br />

perpassa todos os níveis do ensino básico brasileiro, seja com finalidade de<br />

aprendizagem musical ou não.<br />

1 Graduada em Artes/ Música pela Universidade Estadual de Montes Claros- UNIMONTES e pósgraduanda<br />

em Metodologia do ensino das Artes/ Processos Pedagógicos em Educação Musical pela<br />

Faculdades Unidas do Norte de Minas- FUNORTE/ SOEBRAS.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A presença da música na educação infantil é relatada em diversos trabalhos do<br />

campo da educação, pedagogia, educação musical e afins, pois se configura como<br />

prática enraizada no cotidiano desta fase da educação básica. “Nas escolas de educação<br />

infantil, devido aos programas de ensino serem abordados com uma certa flexibilidade,<br />

a música encontra-se presente no cotidiano da sala de aula de várias maneiras”<br />

(CISZEVSKI, 2010, p. 24). Pensando nestas questões, partimos para o registro de uma<br />

prática em educação musical na educação infantil que ao mesmo tempo contempla a<br />

realidade de uma escola particular e que também pode ser aplicada em diversas<br />

localidades de nosso país sendo adaptada a cada realidade de ensino.<br />

Esta proposta surgiu a partir da reflexão e necessidade de sistematização de<br />

nossa prática docente junto a alunos da Educação Infantil de uma escola da rede<br />

particular de ensino na cidade de Pirapora, situada na região norte do estado de Minas<br />

Gerais. O mesmo retrata o desenvolvimento das aulas de música com exploração do<br />

conteúdo de iniciação à escrita musical a partir do cancioneiro infantil brasileiro. Além<br />

de habilidades como pulsação em conjunto, percussão corporal e canto coral. As<br />

práticas em questão envolveram ainda a aprendizagem de conhecimentos extrínsecos à<br />

educação musical, como coordenação motora e gestual, linguagem visual e imagética, e<br />

ainda consciência de corpo e espaço.<br />

A proposta perpassou tais objetivos com a finalidade de ampliação de<br />

conhecimentos e habilidades para além do universo musical, uma vez que o limite entre<br />

“disciplinas” ou conteúdos não são bem delimitados na educação infantil como bem<br />

retrata Ponso (2008, p. 13). Dessa forma, a exploração dos conteúdos musicais não se<br />

encerrou nesta questão apenas. A proposta buscou reafirmar vários objetivos,<br />

desenvolvendo aptidões e capacidades diversas que por sua vez ajudam a preparar o<br />

estudante para avaliações futuras, em que mais de um conteúdo e habilidade são<br />

previstos.<br />

Entre as atribuições para além do universo musical temos o desenvolvimento do<br />

letramento com reconhecimento e leitura de palavras simples, a representação gráfica de<br />

palavras além de acentuação das mesmas, todos relacionado à área de linguagens e<br />

códigos.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

“O Sapo Não Lava o Pé... Não Lava Porque Não Quer!” Definições da<br />

atividade<br />

A escolha dos elementos que compuseram a proposta foi definida a partir dos<br />

propósitos gerais e específicos das aulas, porque acreditamos que toda a metodologia de<br />

ensino deve estar associada ao contexto de produção do conhecimento, os objetivos<br />

traçados e abordagens escolhidas pelo educador. Desta forma escolhemos a canção<br />

popular “O sapo não lava o pé” que é comum às crianças, parte do repertório deles e já<br />

foi trabalhada por outros professores em outros momentos com objetivos variados como<br />

letramento, treino de palavras simples, e outros. Sobre escolha, ampliação e<br />

desenvolvimento de repertório, Lima e Stencil recomendam:<br />

Devemos levar em consideração não só as diversas maneiras de nos<br />

relacionarmos com a música, num verdadeiro contexto<br />

interdisciplinar, como também associarmos a ela os diversos contextos<br />

culturais, por meio de um repertório que tenha significado e que parta<br />

dos alunos, valorizando a vivência das crianças, trazendo benefícios a<br />

outras áreas do currículo (LIMA; STENCEL, 2010, p. 90).<br />

Os aspectos rítmicos da peça foram facilitadores da realização desta prática, pois<br />

o acompanhamento da linha melódica foi facilmente adaptado à performance corporal<br />

que propusemos. O trabalho perpassou alguns dos aspectos que poderiam ser<br />

explorados através desta canção. O principal deles foi iniciação à escrita musical e<br />

desenvolvimento da prática interpretativa em conjunto. Sobre o primeiro aspecto,<br />

buscamos inicialmente trabalhar somente duas das figuras tradicionais: a mínima e a<br />

semínima. A exploração das mesmas se deu de forma gradual. Iniciamos mostrando<br />

quais elementos fazem parte das figuras (cabeça e haste) o que diferencia uma da outra<br />

(a cabeça cheia e outra vazia) bem como poderíamos representar cada uma delas.<br />

Fizemos ilustrações, descobrimos que com as mãos é possível fazer o desenho das duas<br />

figuras para somente depois disto tocá-las. Ao propor a execução, fizemos percussão<br />

corporal tocando duas semínimas batendo na coxa, uma de cada vez e a mínima com<br />

uma palma que se estendia pelo ar.<br />

As duas figuras musicais permitiram o desenvolvimento de variação rítmica de<br />

maneira simples, porém, estruturada de modo a ampliar o universo rítmico dos alunos e<br />

ainda compor um novo jeito de vivenciar a canção do sapo. O RCNEI- Referencial<br />

Curricular nacional para a Educação Infantil aponta:<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O trabalho com Música proposto por este documento fundamenta-se<br />

nesses estudos, de modo a garantir à criança a possibilidade de<br />

vivenciar e refletir sobre questões musicais, num exercício sensível e<br />

expressivo que também oferece condições para o desenvolvimento de<br />

habilidades, de formulação de hipóteses e de elaboração de conceitos<br />

(BRASIL, 1998, v.I, p. 48).<br />

Esta sensibilidade foi estimulada através da apreciação e exploração do contexto<br />

musical, explorando desenhos livres sobre a canção, versões gravadas, desenhos das<br />

figuras, exercícios rítmicos trazendo variações com as duas figuras até chegarmos à<br />

confecção de cartaz com a partitura já escrita e a maneira de execução e assim<br />

consolidar o conhecimento construído de maneira coletiva.<br />

O segundo aspecto citado: a prática interpretativa em conjunto, nos remete à<br />

formação musical em grupo que entre outras habilidades estimulam: solidariedade,<br />

confiança, companheirismo, amplia a visão de mundo dos envolvidos, desenvolve<br />

harmonia em grupo (COSTA, 2009, p. 84) e tantas outras habilidades que justificam<br />

este tipo de proposta de maneira bem consistente.<br />

O desenvolvimento das habilidades previstas no texto do RCNEI foi real na<br />

prática com a canção do sapo, pois os alunos uniram gesto corporal, acentuação rítmica<br />

e canto coral. No tocante ainda a interpretação, propomos a união do gesto corporal à<br />

música, prática que nos surgiu a partir da influência do movimento na canção. Para<br />

Rodrigues (2009, p. 37) é comum o uso do gesto como recurso pedagógico em aulas de<br />

música por ser esta uma das formas de vivenciar a própria música. Trazendo o sentido<br />

literal da canção escolhida, o sapo é um animal que constantemente se movimenta, ao<br />

explorarmos os deslocamentos do sapo já pretendíamos trazer à tona a pulsação contida<br />

na canção, alvo de nosso estudo a partir da perspectiva da distribuição dos sons em duas<br />

figuras musicais. Assim:<br />

A influência da música sobre o movimento é iniciada nas suas<br />

respectivas gêneses, pois quando Wisnik (op.cit) explica o pulso da<br />

música, utiliza para isso uma metáfora corporal, colocando que o<br />

universo sonoro e a música passam por padrões somáticos e psíquicos,<br />

trazendo à tona uma idéia fundamental: a música como fenômeno<br />

corporal (RODRIGUES, 2009, p. 39 e 40).<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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“Ele Mora Lá na Lagoa...” Estratégias de trabalho<br />

Escolhida a canção, as figuras musicais e após a sensibilização para a proposta,<br />

escolhendo a canção, ouvindo versões, interpretando-a cantando e com desenhos,<br />

partimos para a execução da proposta apresentada: Primeiro aprendemos a canção com<br />

a boa repetição típica do trabalho com esta faixa etária. Após a escola da música do<br />

sapo, cada um cantou as versões que conhecia, cantamos juntos, marcando a pulsação,<br />

dançando e explorando parâmetros do som: forte e fraco, grave e agudo e ainda o<br />

andamento, rápido e devagar. Exploramos toda a expressividade vocal que poderíamos<br />

utilizando os parâmetros citados acima, imitamos o som do sapo, inventamos a voz<br />

dele, o gesto que ele emitia ao falar entre outros. Tais estímulos trouxeram mais<br />

significado e verdade à interpretação das crianças nesta etapa da atividade.<br />

Após descobrirmos o sapo que “existia” dentro da cada um, partimos para a<br />

sensação do pulso da música para então apresentar a variação rítmica escolhida com as<br />

figuras mínima e semínima. O desenvolvimento do pulso foi estimulado através de<br />

brincadeiras circulares, marcação acompanhando a cação em cd e cantada pelos alunos,<br />

utilizamos a mesa, o corpo, pulos e palmas para marcar, sempre na perspectiva binária<br />

da canção: um tempo mais forte e outro fraco. Experimentamos a maneira de distribuir<br />

as figuras explorando variantes. Fizemos isto cantando esta e outras canções somente<br />

tocando a semínima com o corpo (batendo nas coxas alternadamente) tocando a<br />

semínima e a pausa, em andamentos diferentes. Daí, incluímos a mínima (com uma<br />

palma prolongada), juntamos as duas figuras em variações executadas com o corpo<br />

como: uma mínima e duas semínimas; pausa e mínima; semínima, pausa mínima;<br />

mínima e duas semínimas e tantos que eles mesmos foram criando. Até chegar ao<br />

resultado final apresentado na imagem abaixo em duas etapas da canção:<br />

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Imagem 01- Variação rítmica utilizada no acompanhamento<br />

corporal da canção “O sapo não lava o pé”, nas duas primeiras<br />

estrofes.<br />

A célula rítmica apresentada na Imagem 01 foi executada utilizando as coxas nas<br />

semínimas e uma palma prolongada pelo ar na mínima, sendo tocadas nas duas<br />

primeiras estrofes da canção:“O sapo não lava o pé / Não lava porque não quer”.<br />

A Imagem 02 traz o acompanhamento corporal (batidas nas coxas<br />

alternadamente nas semínimas e a palma prolongada na mínima) executado na segunda<br />

parte da canção, no trecho:“Ele mora lá na lagoa / Não lava o pé porque não quer /<br />

Mais que chulé!<br />

Imagem 02- Variação rítmica utilizada no acompanhamento<br />

corporal da canção “O sapo não lava o pé” nas três últimas<br />

estrofes.<br />

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“Não Lava o Pé Porque Não Quer...” definindo caminhos<br />

Façamos agora uma breve justificativa sobre as possibilidades que poderiam ter<br />

sido trabalhadas mas, que não exploramos nesta proposta, a fim de esclarecer objetivos<br />

e definir os caminhos trilhados pelos envolvidos (professora de música, monitora e<br />

crianças).<br />

Não nos preocupamos em entrar no estudo da fórmula de compasso, ficando esta<br />

sugestão para um outro trabalho com estudantes maiores. Prova disso é o final da<br />

canção que traz uma discrepância entre o valor das últimas figuras, possível de observar<br />

na análise da Imagem 02. Nosso objetivo foi utilizar as figuras não incorporando ao<br />

trabalho os valores das pausas nesta etapa do trabalho, acreditando da gradação de<br />

aquisição de conhecimentos como meio de conseguir uma aprendizagem significativa e<br />

não excludente. Trabalhamos as pausas anteriormente no processo de experimentação<br />

de variação das figuras musicais escolhidas, não na execução da peça do sapo.<br />

Exploramos anteriormente a notação não tradicional, extremamente importante<br />

para o trabalho tradicional, de maneira alguma inferior. Ciszevski já aponta um<br />

direcionamento quanto à utilização deste recurso pedagógico explicando que já em<br />

partituras contemporâneas há o uso de símbolos e desenhos bem próximos aos<br />

produzidos por crianças da educação infantil e séries iniciais (CISZEVSKI, 2010, p.<br />

28). Entretanto, apesar deste trabalho introdutório e não menos importante partimos<br />

para a escolha da notação tradicional como norteadora da proposta. Fica aqui o<br />

apontamento para possíveis desdobramentos.<br />

A imagem tem auxiliado muito na aprendizagem infantil, pois aproxima o tema<br />

da canção ao cotidiano dos alunos uma vez que estes representam a canção com<br />

símbolos específicos de seu repertório imagético. Em nossa proposta buscamos<br />

relacionar a canção à escrita das figuras musicais e não à ilustração da canção como é<br />

feito muitas vezes. Trabalho esse que sem dúvida dá subsídio à construção da<br />

apreciação musical bem como registro de músicas diversas com crianças de todas as<br />

idades. Eles perceberam através desta experiência, que podem escrever (representar) a<br />

música de outras formas, não mais somente por meio de desenhos. Esta experiência foi<br />

sem dúvida uma novidade para eles que anteriormente em sala de aula com professoras<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

não especialistas em música haviam explorado somente no âmbito do letramento e<br />

desenhos sobre o tema.<br />

“Mais que Chulééé...” finalizando!<br />

A construção da partitura (a ilustração das figuras musicais) foi feita pela<br />

professora de música, o que não impede a sugestão da confecção em conjunto com os<br />

alunos, estratégia até já utilizada com êxito em outros momentos. Utilizamos cartolina,<br />

pincel, régua e a ilustração de um sapo, colorido por uma das alunas. Para facilitar a<br />

associação da imagem ao gesto, organizamos a disposição das figuras exatamente aonde<br />

executaríamos o movimento corporal.<br />

A imagem a seguir é a foto da partitura pronta, após todo o processo exposto<br />

conseguimos:<br />

Imagem 03- Partitura da canção o sapo não lava o pé a partir da<br />

proposta apresentada.<br />

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Treinamos a execução juntamente com a leitura corporal da peça, unindo o gesto<br />

ao auxílio visual, expondo a partitura pronta para que todos pudessem ver e<br />

acompanhar. Primeiro analisamos todos os elementos contidos nela: as figuras, a letra<br />

da canção e a figura do sapo. Após essa exploração executamos a percussão corporal e o<br />

canto individualmente, depois incentivamos os alunos a cantarem sozinhos e<br />

produzirem os gestos separadamente para daí unirem tudo, sempre lembrando que a<br />

partitura estava presente em sala de aula para ser vista e lida por eles. Após duas<br />

semanas de “treino” apresentamos a canção à comunidade escolar por mais de uma vez,<br />

com aprovação dos pais, alunos e funcionários da escola.<br />

A experiência foi fruto de acesso a poucas alternativas para o trabalho com<br />

música na educação infantil, uma vez que o sistema de ensino que a escola adota, não<br />

oferece material didático específico de educação musical nesta fase de ensino. A escola<br />

nos disponibilizou o material necessário para a construção da partitura e ofereceu ainda<br />

o estímulo ao desenvolvimento e construção de atividades para executar com os alunos<br />

da EI, além do apoio nas apresentações, demonstrando interesse na divulgação das<br />

práticas educativas desenvolvidas nas aulas de música.<br />

Acreditamos que a busca por propostas educacionais para o trabalho com a<br />

música na escola deve ser contínua e constantemente renovada a partir das vivências de<br />

cada grupo de estudantes.<br />

Esperamos desta forma que este trabalho contribua para a prática incessante de<br />

professores de músicas de todo o país que pretende construir decididamente uma<br />

educação musical de qualidade em seu contexto de atuação. É válido ressaltar que esta<br />

proposta não se esgota nela mesma, sendo base para outras práticas e facilitadora da<br />

busca por alternativas condizentes com as perspectivas da área da educação musical<br />

brasileira, sendo apenas uma idéia a ser discutida e repensada em todo o tempo.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Referências<br />

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro; FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira. Cai, cai balão...<br />

Entre a formação e as práticas musicais em sala de aula: discutindo algumas questões<br />

com professores não especialistas em música. Música na educação básica. Porto<br />

Alegre, v. 1, n. 1, p. 36- 45. Outubro de 2009.<br />

BEYER, Ester; KEBACH, Patrícia (Org.). Pedagogia da Música: experiências de<br />

apreciação musical. Porto Alegre: Mediação, 2009.<br />

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: Conhecimento de<br />

Mundo. Brasília: MEC/SEF, 1998, v.3.<br />

CISZEVSKI, Wasti Sivério. Notação musical não tradicional: possibilidade de criação e<br />

expressão musical na educação infantil. Música na educação básica. Porto Alegre, v. 2,<br />

n. 2, p. 22- 33. Setembro de 2010.<br />

COSTA, Patrícia. Coro Juvenil nas escolas: sonho ou possibilidade? In: Música na<br />

educação básica. Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 83-91. Outubro de 2009.<br />

LIMA, Ailen Rose B. de; STENCEL, Ellen de Albuquerque B. Vivência musical no<br />

contexto escolar. Música na educação básica. Porto Alegre, v. 2, n. 2, p. 88- 103.<br />

Setembro de 2010.<br />

PONSO, Caroline Cao. Música em diálogo: ações interdisciplinares na educação<br />

infantil. Coleção Músicas. Porto Alegre: Sulina, 2008.<br />

QUEIROZ, Luis Ricardo Silva; MARINHO, Vanildo Mousinho. Práticas para o ensino<br />

de música nas escolas de educação básica. Música na educação básica. Porto Alegre, v.<br />

1, n. 1, p. 60- 75. Outubro de 2009.<br />

RODRIGUES, Márcia Cristina Pires. Apreciação Musical através do gesto corporal. In:<br />

BEYER, Ester; KEBACH, Patrícia (Org.). Pedagogia da Música: experiências de<br />

apreciação musical. Porto Alegre: Mediação, 2009. P. 37- 67.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Planejamento de atividades musicais para bebês com Síndrome de Down e<br />

suas famílias<br />

Ricardo José Dourado Freire<br />

UnB<br />

ricardo.dourado.freire@gmail.com<br />

Resumo: As atividades musicais propostas em um curso de música visam estimular aspectos<br />

específicos do desenvolvimento dos bebês com Síndrome de Down (SD), visando superar<br />

dificuldades fisiológicas congênitas além de contribuir para o estabelecimento de vínculos<br />

afetivos essenciais ao desenvolvimento. O planejamento das atividades musicais em grupo<br />

tem como objetivo a criação de um modelo de referência com boa colocação vocal e um rico<br />

repertório de padrões melódicos e rítmicos a partir da interação do adulto com a criança. O<br />

trabalho é realizado junto à família com bebês entre dois meses e dois anos. A aula é<br />

organizada em quatro momentos: 1) recepção e aquecimento, 2) movimento, 3) interações<br />

individuais e 4) carinho e acolhimento. As atividades realizadas são escolhidas entre canções<br />

sem palavras, parlendas, interações melódicas e rítmicas, colocação da voz de cabeça, canções<br />

conhecidas com sílabas específicas, interação com instrumentos e objetos musicais, histórias e<br />

livros musicais, canções do folclore e do cancioneiro infantil. A atuação em grupo permite a<br />

troca de informações entre as famílias e também a interação entre crianças da mesma faixa<br />

etária. O trabalho de estimulação musical é uma parceria do professor com as famílias em<br />

benefício da criança e as atividades são conduzidas de forma que a família possa utilizá-las<br />

em sua rotina, pois as aulas são apenas um pequeno momento da rotina semanal da criança. A<br />

verdadeira estimulação ocorre em casa de forma contínua, quando mães, pais, irmãos e<br />

cuidadores passam a “musicalizar” a vida das crianças.<br />

Palavras chave: Síndrome de down, educação musical, atividades musicais<br />

O Projeto de Extensão “Música para Crianças”, da Universidade de Brasília, oferece<br />

aulas de musicalização para <strong>85</strong>0 crianças desde o nascimento até o início do aprendizado de<br />

um instrumento musical (FREIRE, 2008). O curso teve inicio em agosto de 2002, com aulas<br />

de musicalização para crianças de 0 a 5 anos, e a partir de 2004 foi criada uma turma<br />

específica para bebês com Síndrome de Down (SD), desde o nascimento até os dois anos de<br />

idade. Este grupo também está aberto para crianças com outras necessidades especiais e teve a<br />

participação de crianças com paralisia cerebral, cegueira, e outras síndromes não<br />

diagnosticadas.<br />

A turma para crianças com Síndrome de Down surgiu a partir da necessidade de se<br />

oferecer um serviço de estimulação precoce e acompanhamento diferenciado para bebês e<br />

suas famílias. O acolhimento de uma família com bebê portador de Síndrome de Down é<br />

fundamental nos primeiros meses de vida, tanto para a integração da criança em um grupo<br />

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com atividades musicais, quanto para o contato da família com outras famílias de crianças<br />

SD.<br />

O trabalho com bebês e crianças portadores de Síndrome de Down (SD) é<br />

significativamente marcado pelas relações afetivas dessas crianças com seus pais, mães e<br />

irmãos (MATIAS; FREIRE, 2005). A aceitação da criança e a superação do “luto” pela<br />

família são aspectos fundamentais para que o acompanhamento e estimulação precoce da<br />

criança SD tenha êxito. A partir dos relatos das mães e observação das respostas das crianças,<br />

foi possível verificar que as atividades musicais tornaram-se muito importante para as<br />

famílias como mediadoras das relações afetivas. Além de estimular o desenvolvimento<br />

musical, cognitivo, social e psicomotor dos bebês, a música também teve impacto no<br />

desenvolvimento dos pais e mães, auxiliando estes na superação do “luto”.<br />

Voivodic (2004) considera importante que, desde os primeiros anos de vida da criança<br />

com Síndrome de Down, seja realizada uma estimulação precoce que "leve em conta seus<br />

diferentes modos e ritmos de aprendizagem, em função de suas necessidades especiais"<br />

(p.31). Considera também que a família tem um papel de fundamental importância no<br />

desenvolvimento social, emocional e cognitivo durante o período crítico (primeiros meses de<br />

vida) das crianças SD. Segundo diretrizes do MEC/SEESP de 1995, estimulação precoce "é o<br />

conjunto de atividades e recursos humanos e ambientais incentivadores que são destinados a<br />

proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para<br />

alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo" (s.p.).<br />

A turma realiza as aulas todas as sextas-feiras, no período da tarde, com duração de 50<br />

minutos. Quando as crianças completam 2 anos e já andam,<br />

são encaminhadas para a<br />

integração nas turmas com crianças comuns da mesma idade cronológica. A participação<br />

nesta turma é considerada fundamental como preparação para a integração efetiva nas turmas<br />

regulares, pois as crianças que participam da turma para bebês SD já conhecem a rotina da<br />

aula e conseguem acompanhar com ótimo desempenho as turmas da mesma faixa etária.<br />

Os conceitos e as referências para a montagem da estrutura de aula se baseiam na<br />

proposta de Dourado e Millet para o trabalho na área de artes cênicas: “Para uma melhor<br />

dinamização da aula, o mais eficaz seria dividi-la em quatro etapas sequenciadas: 1)<br />

aquecimento, 2) relaxamento-concentração, 3)elaboração e, 4) avaliação” (DOURADO;<br />

MILLET, 1998, p. 30). Estes conceitos são observados como diretrizes e adaptados aos<br />

objetivos de cada semestre para incluir e combinar etapas no processo, dessa forma, foi<br />

possível estabelecer um modelo próprio de rotina de aula que tem se mostrado produtivo para<br />

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o trabalho na turma específica. A estrutura da aula consiste em quatro momentos: recepção e<br />

aquecimento, 2) movimento, 3) interações individuais, e 4) carinho e acolhimento.<br />

Atividades musicais<br />

As atividades realizadas em aula são concebidas de forma que mães, pais e cuidadores<br />

também possam realizar atividades musicais em casa. O professor estimula as crianças em<br />

sala e orienta as famílias sobre como realizar brincadeiras musicais em casa. A criança com<br />

SD necessita de modelos consistentes e bem realizados em casa, uma vez que a repetição de<br />

um bom modelo irá facilitar a aprendizagem da criança.<br />

O repertório musical consiste de canções do universo infantil brasileiro, baseadas no<br />

folclore de diversas regiões, parlendas faladas, brinquedos musicais e canções da MPB.<br />

Dentro do Projeto “Música para Crianças”, foi criado um repertório especifico para<br />

musicalização infantil, formado por canções sem palavras nas quais são utilizadas músicas em<br />

diversos modos e também parlendas rítmicas em compassos irregulares. De acordo com<br />

Gordon (2000), a variedade de métricas e modos é fundamental para o desenvolvimento<br />

cognitivo musical da criança.<br />

1- Recepção e Aquecimento<br />

A chegada da criança e o início da aula podem ser considerados com uma transição<br />

entre as atividades cotidianas e o ambiente da musicalização. A aula é iniciada com a<br />

formação de uma roda, com as pessoas sentadas no chão, e começa com a canção de abertura<br />

que estabelece o padrão de interação musical entre as pessoas presentes. Cada semestre possui<br />

uma canção própria, sendo que todas as canções permitem a apresentação de cada criança e<br />

adulto presente na roda. O professor deve dar atenção a todos os participantes, mantendo<br />

contato visual e falando o nome de cada pessoa. Neste momento o professor estabelece o<br />

primeiro contato com a criança e sua família, abrindo as portas do relacionamento e<br />

permitindo que seja criado um vínculo de confiança entre ambas as partes.<br />

a) Respiração e Concentração<br />

A respiração, além de sua importância na expressividade musical, é um aspecto que<br />

deve ser muito estimulado com as crianças SD. Devido à fisiologia do nariz e uma propensão<br />

a irritações nas vias aéreas, as crianças SD apresentam tendência a desenvolver uma<br />

respiração curta e com pouco consumo de oxigênio. Nas aulas são realizadas atividades de<br />

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respiração acompanhadas do movimento dos braços para representar o fluxo da respiração. A<br />

aula inicia com o som de uma respiração profunda, realizada pelo nariz, acompanhada da<br />

movimentação dos braços se abrindo ou se movimentando para cima e para baixo. Em<br />

seguida são feitas várias brincadeiras com a movimentação das mãos acompanhadas de<br />

diversos tipos de respiração: rápida e devagar, funda e rasa, sibilar e nasal, utilizando vários<br />

sons e sílabas.<br />

O foco na respiração visa ilustrar a importância do ato de respirar antes de cantar ou<br />

falar. Esta abordagem também auxilia na concentração, uma vez que o grupo começa a<br />

respirar junto e o silêncio torna-se um fator de concentração coletiva. Todos acompanham o<br />

ato de inspirar e expirar, focalizando nos movimentos do grupo e despertando para a<br />

importância do outro dentro da roda.<br />

b) Voz de Cabeça<br />

Crianças com SD apresentam como característica a hipotonia muscular. Sua<br />

musculatura é mais flácida e apresenta maior dificuldade para criar tônus muscular. No caso<br />

do desenvolvimento da linguagem, os músculos da laringe também apresentam hipotonia e<br />

necessitam de um cuidado específico para o desenvolvimento do registro agudo. As vozes<br />

infantis apresentam nos primeiros anos uma tessitura específica entre Ré 3 (297 hz) e Lá<br />

3(440hz) sendo possível estender esta tessitura para uma oitava, até Ré 4 (594 hz). Algumas<br />

crianças SD apresentam uma voz muito grave e fora do registro infantil, sendo que a tessitura<br />

grave não permite uma definição de altura e prejudica muito a afinação musical. Torna-se,<br />

assim, muito importante trabalhar com as mães a construção de um modelo vocal que valorize<br />

o registro agudo e as crianças possam interagir com vozes agudas em casa, estimulando a<br />

procura de um timbre que utilize a “voz de cabeça” e não o timbre grave da “voz de peito”.<br />

Atualmente, na cultura brasileira, existe uma valorização extrema da voz feminina<br />

muito grave, sendo que as principais cantoras da MPB utilizam o registro de peito para cantar.<br />

Podemos observar o uso da voz grave em cantoras como: Ivete Sangalo, Ana Carolina, Zélia<br />

Duncan e Maria Bethânia. No entanto existem poucos modelos de vozes agudas e muitas<br />

mães se mostram desconfortáveis ao cantar com a voz aguda. Para que a criança possa<br />

desenvolver o registro agudo são realizadas várias atividades enfatizando a importância da<br />

“voz de cabeça”. Atividades específicas consistem em começar uma música mais grave e<br />

modular por graus conjuntos ascendentes até chegar ao registro infantil. Outra atividade visa<br />

explorar vozes de personagens ou animais que fazem sons agudos. O estimulo do uso do<br />

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registro agudo é fundamental para conseguir desenvolver o senso de afinação nas crianças, e o<br />

desenvolvimento da voz de cabeça precisa da participação e engajamento das mães na<br />

valorização da voz aguda da criança.<br />

c) Interação com instrumentos e objetos musicais<br />

A utilização de instrumentos musicais de sopro, corda ou percussão permite um foco<br />

em uma fonte sonora específica. Cada instrumento apresenta um timbre único que chama a<br />

atenção da criança, principalmente quando a frase musical é acrescentada de um gesto ou<br />

movimento. Instrumentos de sopro (flauta-doce, flauta, clarineta) possuem um<br />

direcionamento específico que permite a identificação do local de onde o som é gerado. Os<br />

instrumentos de percussão (pandeiros, tambores, chocalhos, agogôs) possuem uma<br />

característica visual muito forte e chamam atenção pela movimentação das mãos e do corpo.<br />

Os instrumentos de cordas dedilhadas (violão e cavaquinho), em geral oferecem apoio<br />

harmônico e rítmico para as canções, e atraem o contato direto das crianças que apreciam<br />

sentir a vibração das cordas. Permite-se que a criança entre em contato com os instrumentos,<br />

desde que haja cuidado para criança não se machucar ou haver dano para o instrumento.<br />

Algumas crianças SD desenvolvem perda auditiva devido ao acúmulo de secreção no<br />

canal auditivo e faz-se necessário verificar a lateralização auditiva das crianças,<br />

principalmente ao usar instrumentos que possam ser tocados atrás das crianças e observar se a<br />

criança acompanha o direcionamento do instrumento com os ouvidos. Neste caso, é<br />

importante não mostrar os instrumentos musicais na frente da criança, pois ela irá acompanhar<br />

o movimento do som com os olhos. Uma estratégia é colocar o estímulo musical por trás e<br />

observar se a criança tenta localizar com os olhos a fonte sonora que está tocando.<br />

Durante as aulas é possível observar a capacidade de reorganização emocional da<br />

criança, para tanto acontecem pequenos sustos durante as aulas. O professor pode exagerar na<br />

dinâmica de uma palavra ou tocar um instrumento um pouco mais forte. Muitas vezes as<br />

crianças choram nos primeiros encontros, mas o período de recuperação emocional torna-se<br />

cada vez mais rápido e as crianças passam a não se desequilibrar emocionalmente quando<br />

ocorrem sons inesperados.<br />

2- Movimento e Dança<br />

O movimento do corpo é essencial para o desenvolvimento da musicalidade, sendo<br />

que bebês e crianças são muito beneficiados da movimentação com um adulto. Podem ser<br />

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realizadas diversas atividades de movimento com os adultos dançando com as crianças em pé.<br />

Canções de roda permitem que todos se movimentem juntos, já a dança em pares permite uma<br />

interação muito íntima entre adulto e criança. Outra atividade é brincar de estátua: dançar<br />

quando tem música e parar quando houver pausa, neste caso enfatiza-se a relação entre<br />

música e movimento. Dançar vários tipos de ritmos oferece uma possibilidade de interação<br />

única, na qual a comunicação corporal é o elemento central na relação adulto-criança.<br />

3- Interações Individuais<br />

A interação individual professor-criança é um aspecto essencial nas aulas com bebês e<br />

crianças pequenas. O ato de olhar no olho, cantar e estabelecer uma comunicação não-verbal<br />

de cunho musical modifica a relação com a criança. A interação musical permite a troca de<br />

sons, balbucios, sílabas e movimentos entre professor e criança, possibilitando que o<br />

professor entre em sintonia com as expressões da criança. A partir das interações individuais é<br />

possível estabelecer um diálogo sonoro que favoreça a organização do material musical em<br />

pequenas unidades: os padrões musicais. Um padrão musical ocorre quando dois ou mais<br />

sons/ritmos são organizados como uma unidade musical. Por exemplo, dois sons que juntos<br />

fazem o movimento Lá – Ré ou duas sílabas (pa-pa) que juntas formam duas colcheias.<br />

Os bebês entre 6 e 18 meses estão na fase inicial de aquisição da linguagem, este<br />

período de tentativa no uso de sílabas e palavras é denominado balbucio e Gordon (2000)<br />

considera que existe também um período de tentativas na utilização dos elementos musicais à<br />

qual denomina balbucio musical. Nesta fase a criança começa a explorar os sons do ambiente<br />

e a organizá-los em pequenas unidades, para as quais serão associados significados musicais.<br />

A criança começa a emitir sons que podem ser relacionados com as notas de determinadas<br />

músicas ou padrões melódicos que estão sendo cantados na aula, ou interagir dentro de um<br />

acorde de tônica ou dominante. Do ponto de vista rítmico existe um balbucio específico,<br />

quando as crianças começam a criar grupos de sons que podem ser relacionados a figuras<br />

rítmicas e frases rítmicas. A realização de parlendas com sílabas neutras estimula que as<br />

crianças a emitirem sons que podem ser imitados pelo professor como um padrão rítmico. A<br />

emissão de qualquer som pode ser o início de um diálogo musical no qual, muitas vezes o<br />

professor inicia a comunicação e a crianças imita o professor, mas também acontecem<br />

situações nas quais a criança toma iniciativa e o professor imita a criança.<br />

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a) Histórias e livros musicais<br />

Crianças com necessidades especiais terão um processo de alfabetização próprio, serão<br />

alfabetizadas a partir das suas capacidades e precisarão desenvolver recursos de leitura de<br />

diversos códigos visuais. A estimulação da leitura também começa com os bebês, e a<br />

preparação da família para a alfabetização pode ser iniciada nos primeiros anos. A partir do<br />

momento que a criança começa a fixar o olhar, é possível a interação por meio de livros<br />

infantis. O uso de ilustrações claras, que ofereçam um foco visual por página, permite a<br />

criação de uma trilha sonora para os personagens e objetos que reforçam o conteúdo do livro.<br />

O livro pode ser considerado como um brinquedo interativo, que deverá ser mediado por um<br />

adulto. A leitura de histórias e poesias também reforça a capacidade de concentração da<br />

criança, pelo ritmo da leitura e pela musicalidade das frases que embalam as histórias.<br />

b) Canções com sílabas específicas<br />

Em geral, o trabalho de desenvolvimento da linguagem é realizado com especialistas<br />

da área de fonoaudiologia, que são os responsáveis diretos por estimularem a colocação da<br />

língua, o desenvolvimento dos músculos faciais e promoverem a articulação das sílabas. A<br />

aula de música faz uma estimulação indireta, ao promover a articulação e a expressividade da<br />

palavra cantada e das músicas que são apresentadas em aula. Uma atividade que promove a<br />

intersecção das duas áreas é a realização de músicas conhecidas dos adultos com o uso das<br />

sílabas recomendadas pelos fonoaudiólogos. Em cada aula existe um momento em que os<br />

adultos escolhem uma música que todos conhecem, olham diretamente para as crianças e<br />

cantam repetindo a mesma sílaba do começo ao final da música. As sílabas mais comuns para<br />

o uso com crianças pequenas são PA, DA, MA e BA, mas existem variações na utilização das<br />

vogais E, I, O e U. Esta estimulação é feita para que a música cantada com sílabas específicas<br />

seja inserida nas atividades cotidianas de estimulação da criança.<br />

4- Canções de acolhimento e carinho<br />

O processo de aceitação de uma criança SD é diferente para cada uma das famílias. A<br />

realização de canções de acolhimento em grupo é um forte estímulo para as famílias<br />

superarem o luto e fortalecerem os vínculos com a criança. Canções de carinho permitem a<br />

expressão musical de pequenos atos de amor para com a criança. As atividades de carinho são<br />

realizadas ao final da aula, quando o professor pede para que as mães e pais sejam os<br />

protagonistas das atividades musicais e o professor passa a oferecer o acompanhamento<br />

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musical para as interações dos adultos com as crianças. Neste momento, a aula adquire a<br />

característica de promover os encontros autênticos entre crianças e adultos, sendo estes<br />

encontros mediados pela música, que se torna muito significativa para as famílias<br />

participantes na aula.<br />

Conclusão<br />

A música pode ser parte do processo de estimulação de bebês e crianças com SD<br />

desde os primeiros meses de vida. Sabe-se que a maior parte do tratamento clínico é realizado<br />

de maneira individual e as famílias possuem poucas oportunidades de observar o<br />

comportamento de outras crianças da mesma idade. Aulas de música para bebês com<br />

Síndrome de Down podem ser a primeira experiência escolar da criança. Nas aulas de música<br />

a interação entre crianças e entre famílias é um aspecto muito positivo que permite a troca de<br />

informações tanto sobre as crianças, como também sobre clínicas de acompanhamento e<br />

escolas que oferecem serviços de boa qualidade.<br />

Entretanto, trabalhar a estimulação precoce de crianças SD exige um planejamento<br />

rigoroso e cuidadoso. Os planos de aula visam valorizar a concentração e a interação durante<br />

as atividades realizadas na aula. Cada bebê é visto como capaz de estabelecer uma<br />

comunicação musical e estimulado a responder aos estímulos feitos em grupo e<br />

individualmente. Qualquer som emitido pelo bebê é incorporado nas atividades e o contato<br />

visual torna-se elemento fundamental para que a criança possa imitar os adultos e crianças<br />

presentes na aula. Bons modelos vocais e rítmicos são fundamentais para que a criança possa<br />

construir sua experiência musical de maneira sólida. A colocação da voz de cabeça e<br />

valorização do movimento corporal são elementos que preparam a crianças para serem<br />

integrados de maneira efetiva tanto em atividades musicais futuras quanto na escola regular.<br />

O trabalho de estimulação musical é uma parceria do professor com as famílias em<br />

benefício da criança, e as aulas são apenas um pequeno recorte na vida da criança. A<br />

verdadeira estimulação ocorre em casa, quando as mães, pais, irmãos e cuidadores passam a<br />

“musicalizar” a vida das crianças, colocando música em vários momentos do dia. Desde a<br />

hora de acordar, passando pelas brincadeiras do dia a dia, os passeios no carro, hora de comer,<br />

hora de tomar banho e também na hora de dormir. As atividades musicais podem ser um<br />

elemento de alegria e descontração, ao permitir pequenos prazeres musicais que são essenciais<br />

no cotidiano das famílias.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

DOURADO, Paulo; MILLET, M.E. Manual de Criatividades. Salvador: EGBA, 1998.<br />

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Pré-escolar. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 2000.<br />

MATIAS, R.B., FREIRE, R. J. D. A importância da música no fortalecimento de vínculos<br />

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VOIVODIC, M. A. Inclusão Escolar de Crianças com Síndrome de Down. Petrópolis: Vozes,<br />

2004.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O Educador Musical no Ensino Infantil: sua presença na rede regular de<br />

ensino<br />

Carolina Chaves Gomes<br />

carolinacg@ymail.com<br />

Resumo: Este trabalho objetiva apresentar um levantamento das escolas que oferecem aulas<br />

de música com um educador musical nas aulas regulares da educação infantil na cidade de<br />

Natal. Trata-se de um recorte da primeira etapa de uma pesquisa em nível de mestrado que<br />

buscou analisar as concepções e práticas pedagógicas que caracterizam a atuação dos<br />

professores de música na educação infantil em escolas públicas municipais e privadas da<br />

cidade de Natal/RN. Foram contatadas 208 escolas privadas e 71 da rede pública municipal de<br />

ensino, dentre as quais verificou-se uma demanda para o educador musical nas escolas que<br />

possuem esse nível de ensino na rede privada, bem como a distribuição de 1 ou 2 educadores<br />

em cada região na rede pública municipal.<br />

Palavras chave: Educação infantil, educador musical, levantamento<br />

A educação musical constitui-se hoje como um campo diversificado. Mais<br />

recentemente, a pesquisa em educação musical tem aprofundado questões diversas e, como<br />

aponta Figueiredo (2010, p. 173) “crescido sistematicamente, como se pode observar através<br />

das produções bibliográficas que tratam das mais diversas temáticas e estão cada vez mais<br />

disponíveis”.<br />

Dentro da abrangência da área de educação musical na atualidade, este trabalho<br />

apresenta resultados de uma pesquisa em nível de mestrado que se insere no âmbito da<br />

educação musical para o ensino infantil. Tendo como objetivo analisar as concepções e<br />

práticas pedagógicas que caracterizam a atuação dos professores de música na educação<br />

infantil em escolas públicas municipais e privadas da cidade de Natal/RN, a pesquisa<br />

realizada foi dividida em duas etapas: a primeira identificando as escolas de Natal que<br />

oferecem aulas específicas de música na educação infantil, bem como aspectos gerais de seus<br />

espaços, práticas, concepções, formação, dentre outros; e a segunda realizando dois estudos<br />

de caso para verificar com maior profundidade essas características.<br />

Para este artigo apresento o início da primeira etapa da pesquisa, que trata<br />

especificamente da identificação das escolas que oferecem aulas de música com um educador<br />

musical nas aulas regulares da educação infantil. Espera-se que essa pesquisa auxilie no<br />

delineamento dos atuais espaços de atuação do educador musical, além de apresentar<br />

especificamente a realidade natalense acerca de suas demandas emergentes no que diz<br />

respeito ao ensino de música.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Com efeito, foi considerado como educador musical ou professor de música, aqueles<br />

que atuam no ensino da disciplina específica de música na escola regular, possuem formação<br />

na área, ou conferem ênfase à música em sua prática na disciplina Artes de modo a constituir<br />

uma disciplina específica. Assim, foram incluídos docentes que lecionavam a disciplina há<br />

mais de cinco anos e que possuíam alguma formação mínima em música, bem como<br />

graduandos do curso Música-Licenciatura que também eram responsáveis pela disciplina<br />

específica na escola regular.<br />

1. Contexto e metodologia de pesquisa<br />

Na cidade de Natal apesar da Licenciatura em Música ser um curso recente (até o ano<br />

de 2004 ainda ingressavam alunos no curso de Educação Artística-Música), a Secretaria<br />

Municipal de Educação (SME) admite a necessidade de um professor específico de Arte na<br />

educação infantil quando esta estiver presente no projeto político pedagógico da escola,<br />

aspecto previsto pela Resolução 002/08 SME/PMN (PREFEITURA MUNICIPAL DE<br />

NATAL, 2008).<br />

Para identificação dos educadores musicais recorreu-se à abordagens específicas para<br />

a rede pública e rede privada. Para as escolas públicas municipais solicitei através de ofício<br />

autorização da Secretaria Municipal de Educação, apresentando a pesquisa e o objetivo geral,<br />

seguido dos procedimentos metodológicos que seriam realizados posteriormente<br />

(questionário, entrevistas, observação), explicando a relevância desse estudo para a SME e<br />

afirmando que, ao final, disponibilizarei os dados analisados sobre a situação do ensino de<br />

música na educação infantil na cidade de Natal, como forma de auxílio no estabelecimento<br />

das estratégias municipais.<br />

Recebi a autorização a qual permitia a realização da pesquisa e comunicava às escolas<br />

e Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) a realização do estudo. Junto a esse<br />

documento me foi concedida uma lista com 28 escolas e CMEIs que possuem professor de<br />

Artes atuando na Educação Infantil. Ainda assim, complementarmente foi utilizada a lista<br />

geral de escolas e centros municipais de ensino disponibilizada no site da Secretaria.<br />

Posteriormente, para identificar o professor de música atuante na educação infantil, foco desta<br />

investigação, utilizei contato telefônico com as escolas, participei da primeira reunião mensal<br />

de professores de Artes do Município e da Mostra de Arte, Cultura e Conhecimento das<br />

escolas municipais, bem como recorri a contatos pessoais.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Para as escolas privadas optei em fazer contatos por telefone, de acordo com a lista<br />

telefônica, Listel on-line dos anos 2009 e 2010, da cidade de Natal. Foi realizado também<br />

contato telefônico, bem como autorizado pelas professoras da Universidade Federal do Rio<br />

Grande do Norte o acesso às escolas que eram campos de estágio de observação das duas<br />

turmas da disciplina “Atividades Orientadas I: metodologia do ensino da música na educação<br />

infantil e fundamental”. Assim, a lista final de escolas privadas totalizou 208 instituições de<br />

ensino.<br />

2. Identificando escolas e professores: caracterização do universo de<br />

pesquisa na rede pública e privada<br />

2.1 O ensino de música na rede privada na cidade de Natal<br />

As escolas privadas da cidade de Natal investigadas para constituição do universo de<br />

pesquisa perfizeram um total de 208 escolas. O GRAF. 1 apresenta as categorias surgidas<br />

desses contatos:<br />

Gráfico 1: Total de escolas privadas.<br />

As “instituições que não foi possível contatar” são aquelas cujo número de telefone<br />

não existe, não atende ou a ligação não é completada. Para cada uma dessas escolas foram<br />

feitas no mínimo três tentativas de contato telefônico em dias e horários distintos.<br />

“Escolas sem educação infantil” refere-se às que são apenas ensino fundamental,<br />

cursinho, aulas de reforço dentre outros. Ainda assim, nessa categoria, foram encontradas<br />

duas escolas de ensino regular que possuíam professor de música.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

“Escolas com educação infantil sem professor de música” contabilizaram <strong>85</strong><br />

instituições ou 40,9% do total. Ressalte-se que neste grupo encontram-se escolas que possuem<br />

ensino infantil, fundamental e médio, ou ensino infantil e fundamental, ou somente ensino<br />

infantil.<br />

“Escolas com professor de música sem atuar na educação infantil”, compreendem<br />

aquelas que possuem educação infantil e docente em música, contudo, este atua com<br />

atividades extracurriculares ou apenas a partir do fundamental.<br />

Por fim, as “escolas com professor de música atuando na educação infantil”<br />

contabilizam 24 instituições, correspondentes a 11,54% do total de escolas pesquisadas.<br />

Assim, do total de 208 escolas, encontrou-se 114 que possuem educação infantil e<br />

apenas 24 com educador musical atuando nesse espaço. Contudo, apesar de representarem 24<br />

escolas da rede privada, são apenas 15 docentes encontrados que atuam nas aulas regulares da<br />

educação infantil na cidade de Natal. Considerando apenas as escolas que possuem educação<br />

infantil, conforme o GRAF. 2, a maioria ainda não possui educador musical atuante (74,6%).<br />

Gráfico 2: Total de escolas privadas com educação infantil.<br />

Contudo, dentre as escolas que possuem educação infantil e um educador musical<br />

(GRAF. 3), percebe-se a predominância do espaço infantil para atuação desse profissional.<br />

A atuação do educador musical no ensino infantil, provavelmente é uma solicitação<br />

advinda da própria escola, que cria esse espaço e demanda para profissionais capacitados<br />

nesta categoria de ensino, demanda verificada também através dos questionários.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Gráfico 3: Total de escolas privadas com educação infantil e professor de<br />

música.<br />

Sobre essa questão, Beyer (2001) já afirmava que:<br />

São pouquíssimos os Centros públicos de Educação Infantil. No entanto, há<br />

milhares de escolas particulares de Educação Infantil [...]. Quantas destas<br />

tem Educação Musical? Talvez 2 a 5%, muito pouco em relação ao número<br />

imenso de crianças que deixarão de ter aulas de música na Educação Infantil.<br />

Mesmo assim, há muita procura atualmente para a música nestes espaços”<br />

(BEYER, 2001, s.p.).<br />

Felizmente na cidade de Natal essa projeção de até 5% foi superada se verificarmos<br />

apenas as escolas que possuem educação infantil. Ou seja, dentre as escolas privadas<br />

pesquisadas na cidade de Natal, percebe-se claramente uma demanda para aulas de música na<br />

educação infantil nas instituições que possuem esse nível de ensino. Algo que, enquanto<br />

educadora musical, vinha percebendo empiricamente ao longo da minha formação, tanto em<br />

virtude das propostas de empregos quanto em conversas com gestores e pais.<br />

Cabe, portanto atenção para esse nível de ensino durante a formação de professores,<br />

para que contemplem as especificidades que lhe cabem enquanto espaço institucional de<br />

ensino e aprendizagem de crianças de até cinco anos (GOMES, 2009). Especificamente no<br />

curso de Licenciatura em Música na UFRN há um componente curricular exclusivo para<br />

ensino infantil e fundamental denominada Atividades Orientadas I - Metodologia do ensino<br />

da música na educação infantil e fundamental (MUS5011), cuja ementa diz que é realizada<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

“atividade de observação de metodologias de ensino de música utilizadas na Educação infantil<br />

com subsequente desenvolvimento de atividades práticas a partir dessas observações”<br />

(UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2011), ou seja, é uma<br />

disciplina do tipo atividade que enfatiza a relação teoria-prática neste universo. Contudo,<br />

ressalta-se que apenas os profissionais que ingressaram a partir do ano de 2005 tiveram acesso<br />

a esse componente curricular.<br />

2.2 O ensino de música na rede pública na cidade de Natal<br />

As escolas públicas municipais da cidade de Natal investigadas para constituição do<br />

universo de pesquisa foram agrupadas por zonas de distribuição, seguindo a organização da<br />

lista disponível no endereço eletrônico da SME.<br />

Buscou-se abranger a maior quantidade possível de escolas, sendo que, do total de<br />

cada região foi investigado o seguinte número de escolas (GRAF. 4):<br />

Gráfico 4: Total de escolas públicas versus escolas públicas pesquisadas.<br />

Na Zona Norte, contatou-se 27 dentre 54 escolas da rede; na Zona Sul, 17 dentre 19<br />

escolas; da Zona Leste, 9 dentre 17 instituições; da Zona Oeste, 24 dentre 46 estabelecimentos<br />

de ensino. Assim, de um universo de 136 instituições, foram investigadas um total de 71<br />

escolas da rede pública municipal de ensino, correspondente a 52,2%.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Ainda assim, dentre a lista entregue pela SME de escolas e CMEIs que possuem um<br />

professor de Artes atuando na Educação Infantil, foram investigadas todas as 28 escolas<br />

mencionadas no documento. Investigar os demais 43 estabelecimentos – que totalizam 71<br />

escolas - foi iniciativa própria em virtude da pequena representatividade do número de escolas<br />

apresentado no documento pela Secretaria.<br />

Dentre as escolas investigadas, foram identificados pelo menos 1 professor de música<br />

atuante na educação infantil em cada região, sendo que na Zona Oeste há 2 educadores<br />

musicais e um deles lecionava na educação infantil de 2 escolas distintas, totalizando 5<br />

docentes na rede pública municipal (GRAF. 5).<br />

Gráfico 5: Escolas públicas com ensino de música na educação infantil<br />

versus professores de música atuantes na educação infantil.<br />

Totalizando 6 escolas públicas com ensino de música na educação infantil, tal<br />

realidade corresponde à apenas 4,41% do total de escolas, ou 8,45% do total de escolas<br />

pesquisadas.<br />

Em virtude da organização e funcionamento do sistema público, ainda não foram<br />

absorvidos os profissionais advindos das licenciaturas específicas, já que a primeira turma da<br />

Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte concluiu no ano de<br />

2009, e o primeiro concurso com vagas destinadas à profissionais com habilitação específica<br />

em Música realizado em 2010. Assim, a maioria dos profissionais que atuam no ensino de<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Artes da rede pública municipal de ensino são aqueles formados na Educação Artística, que<br />

permite uma atuação polivalente da qual as licenciaturas específicas vêm findar.<br />

Acredito que tal fato também esteja relacionado aos poucos profissionais da música<br />

atuantes na educação infantil. Entretanto, recentemente (11 de fevereiro de 2011) foram<br />

convocados 21 novos professores específicos de música para atuarem no município de Natal,<br />

dentre os quais estão profissionais formados em Educação Artística habilitação Música e os<br />

primeiros alunos egressos do curso Música Licenciatura.<br />

Outros fatores que provavelmente estão relacionados é a falta de educadores, em geral,<br />

e em Artes, o que levou a Secretaria Municipal de Educação a criar o cargo professor de<br />

Múltiplas Linguagens, nome que surgiu diversas vezes durante os contatos com as<br />

instituições. Tal profissional caracteriza-se por ser responsável pelas aulas de Artes, Educação<br />

Física e recreação (como mencionaram alguns gestores). Em alguns casos é um pedagogo, um<br />

fisioterapeuta ou um professor de Arte (formado e atuando com linguagem distinta da<br />

música). Contudo, a tendência é que esses profissionais sejam substituídos por professores de<br />

Arte ao longo do tempo, fazendo valer a Resolução 002/08 SME/PMN, que afirmar que, se<br />

contemplado no Projeto Político Pedagógico da educação infantil, as aulas de Artes e<br />

Educação Física deverão ser ministradas por professor específico.<br />

Desse modo, no contexto do ensino de música na rede pública municipal da cidade de<br />

Natal, percebe-se que existe pelo menos um educador musical atuando na educação infantil<br />

em cada região, sendo esses professores formados em Educação Artística. É notável também a<br />

falta de professores com formação em Arte na rede municipal de Natal, considerando a falta<br />

desses profissionais na educação infantil – o que é previsto na legislação municipal – e a<br />

criação do cargo “professor de Múltiplas Linguagens” – com formação diversificada – para<br />

atender essa demanda.<br />

3. Considerações Finais<br />

A cidade de Natal vem traçando um delineamento de políticas, ações e demandas que<br />

se identificam com o momento de ressignificação da música na escola a partir da Lei<br />

11.769/08. A legislação que especifica professor específico de Artes atuando no ensino<br />

regular da educação infantil, a oferta de licenciatura específica e a demanda verificada pelo<br />

profissional no espaço infantil escolar, são alguns exemplos.<br />

Foram percebidos diferentes configurações da presença do educador musical a partir<br />

da rede de ensino que se encontra: pública municipal ou privada. Na rede pública municipal<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

de ensino percebe-se uma participação mais tímida dos educadores musicais no ensino<br />

infantil. Contudo, mostra-se representado por ao menos 1 docente em cada região da cidade,<br />

que, em geral se apresenta em escolas que possuem o nível fundamental e infantil no mesmo<br />

prédio, e no qual o educador leciona em ambos os níveis.<br />

Verificou-se que o contexto do ensino de música na escola privada da cidade de Natal<br />

apresenta-se com uma demanda para aulas de música na educação infantil nas instituições que<br />

possuem esse nível de ensino. Portanto, pelo fato de ser um espaço que vem solicitando a<br />

presença de um educador musical, faz-se necessário uma atenção a esse nível de ensino<br />

durante a formação de professores, aspecto minimamente revelado na estrutura curricular do<br />

Curso de Licenciatura em Música da UFRN.<br />

Assim, percebe-se que o ensino de música na educação infantil na cidade de Natal é<br />

uma realidade emergente, que parte das configurações atuais desse contexto e apresenta-se<br />

como um campo diversificado a partir das dinâmicas de seus educadores, escolas e<br />

legislações.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BEYER, Esther. O formal e o informal na educação musical: o caso da educação infantil. In:<br />

IV Encontro Regional da ABEM-Sul e I Encontro do Laboratório de Ensino de Música.<br />

Anais... Santa Maria/RS, 23 a 25 mai 2001.<br />

FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. Considerações sobre a pesquisa em educação<br />

musical. In: FREIRE, Vanda. Horizontes da pesquisa em música. Rio de Janeiro: 7Letras,<br />

2010. p. 155-175.<br />

GOMES, Carolina Chaves. Perspectivas para atuação do professor de música na Educação<br />

Infantil. In: II FÓRUM PARAIBANO DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 2, 2009, João Pessoa.<br />

Anais...João Pessoa: UFPB, 2009. p. 35-41.<br />

PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO.<br />

Referenciais Curriculares para Educação Infantil. Natal, RN: SME, 2008. Disponível em:<br />

Acesso em: 27 abr. 2009.<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. SISTEMA INTEGRADO DE<br />

GESTÃO DE ATIVIDADES ACADÊMICAS. Dados Gerais do Componente Curricular:<br />

MUS5011-Atividades Orientadas I - Metodologia do ensino da música na educação infantil e<br />

fundamental. Disponível em:<br />

Acesso em: 21 jan.<br />

2011.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A Resposta Emocional à Música<br />

Kamile Santos Levek<br />

Universidade Federal da Bahia<br />

kamilesl@hotmail.com<br />

Diana Santiago<br />

Universidade Federal da Bahia<br />

disant@ufba.br<br />

Resumo: Alguns estudos procuraram demonstrar como a música provoca emoções nos seres<br />

humanos. Porém, este é um tema bastante espinhoso, pois é sabido que existem vários fatores<br />

além da própria música, que também podem ser determinantes para a resposta emocional à<br />

música. O presente estudo é uma revisão de literatura sobre o assunto, e tem por objetivo<br />

esclarecer alguns aspectos relacionados ao tema, como a definição de emoção, quais os<br />

elementos musicais que influenciam as respostas emocionais à música, e quais outros<br />

elementos também podem determinar essas respostas emocionais, como a memória do<br />

ouvinte e a cultura em que este está inserido.<br />

Palavras chave: emoção, música, educação musical<br />

Introdução<br />

Os estudos relacionados às emoções são bastante complexos, já que a própria<br />

definição de emoção ainda é muito vaga, e isso se deve a diversos fatores. Um deles é que as<br />

emoções são difíceis de serem mensuradas (JUSLIN; SLOBODA, 2001) e, segundo Damásio<br />

(2000), existem mais emoções do que palavras para defini-las. Quando tratamos de emoção<br />

em música, o assunto se torna ainda mais dificultoso.<br />

A maioria das pessoas conhece emoções como sinônimo de sentimentos, e alguns<br />

estudiosos da psicologia, por vezes, tratam dessa maneira. Porém, segundo alguns<br />

pesquisadores, existe uma certa diferença com relação às emoções e aos sentimentos.<br />

Goleman sugere que "a emoção se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos,<br />

estados psicológicos e biológicos, juntamente com suas combinações, variações e matizes.”<br />

(GOLEMAN, 1995, p. 303). Segundo Delgado (1971), o sentimento é algo que apenas o<br />

sujeito pode notar, ou seja, é percebido apenas interiormente, e a emoção é expressa, na<br />

maioria das vezes, por mudanças fisiológicas no corpo, podendo ser percebida pela expressão<br />

externa do sujeito. Já Reeve aponta que os sentimentos são apenas uma parte da emoção, e<br />

que as emoções podem ser sentimentos subjetivos, pois nos fazem sentir de determinado<br />

modo, tal como zangados ou alegres (REEVE, 2006).<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

De acordo com Damásio (1996), alguns sentimentos estão relacionados com as<br />

emoções, mas muitos não estão. Segundo o pesquisador, "todas as emoções originam<br />

sentimentos, se se estiver desperto e atento, mas nem todos os sentimentos provém de<br />

emoções" (DAMÁSIO, 1996). Segundo Oatley e Jenkins (apud JUSLIN, 2001; ZENTNER,<br />

2002), o termo emoção refere-se a reações mais breves e intensas, que levam a mudanças<br />

relevantes no estado da pessoa. Em outras palavras, o termo será definido, para este estudo,<br />

como reações breves (no estado emocional da pessoa) a determinado estímulo.<br />

Emoção<br />

Emoção Versus Razão<br />

Antigamente a emoção era considerada algo irracional, oposto à razão. Porém, nos<br />

dias de hoje, a emoção é entendida como um elemento determinante para o raciocínio<br />

(DAMÁSIO, 2000; DELGADO, 1971; FILLIOZAT, 1998). Segundo Goleman (1995),<br />

temos duas mentes, a que raciocina e a que sente. A mente racional é mais destacada na<br />

consciência, mais atenta e capaz de ponderar e refletir. Já a mente emocional é considerada<br />

como um sistema de conhecimento impulsivo e poderoso, embora às vezes ilógico. Contudo,<br />

a mente emocional e a racional trabalham juntas, mas é a emocional que guia nossas decisões,<br />

e quando se trata de moldar nossas decisões e ações a emoção é, por vezes, mais significativa<br />

que a razão. Isso pode ser comprovado por acontecimentos em que uma ação ocorre devido a<br />

uma determinada emoção, que surge antes mesmo de qualquer pensamento. Em outras<br />

palavras, a reação à emoção provocada é muitas vezes imediata, portanto, é bastante provável<br />

que o fator emocional seja predominante em algumas decisões racionais. Portanto, o<br />

conhecimento sobre as emoções é fundamental para o ser humano. Segundo Goleman (1995),<br />

ser emocionalmente alfabetizado é tão importante quanto a matemática e a leitura.<br />

Inatas ou Aprendidas?<br />

Existe também a possibilidade de algumas respostas emocionais à música serem<br />

inatas, pois as crianças já nascem com capacidade de sentir emoções consideradas básicas<br />

como alegria, tristeza e zanga (HARRIS, 1996). Em estudos mais recentes relacionados à<br />

emoção em música, alguns pesquisadores consideram alegria, tristeza, raiva e medo como<br />

emoções básicas (ver ESPOSITO; SERIO, 2007).<br />

Alguns estudiosos ainda sugerem a possibilidade de as emoções serem aprendidas<br />

(LEDOUX, 1998; SLOBODA, 19<strong>85</strong>) e de que o fator cultural altera as respostas emocionais<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

(MEYER, 1956). Apesar disso, um determinado estímulo é capaz de provocar a mesma<br />

resposta emocional em culturas diferentes quando as emoções primárias ou universais são<br />

consideradas (DAMÁSIO, 2000). Porém, não se sabe ainda se essas asserções são válidas<br />

quando consideramos a percepção de emoção em música.<br />

Emoção em Música<br />

Todas as culturas experienciam a música, em suas distintas funções, sendo esta um<br />

comportamento universal e social bastante complexo (CROSS, 2001; TRAINOR, 2010), que<br />

instiga muitos pesquisadores devido às suas respostas emocionais. Segundo Krumhansl<br />

(2002), o efeito emocional provocado pela música é a principal motivação para ouvir música,<br />

e o fato de a maioria das pessoas gostarem de música também pode ser explicado por esta<br />

provocar emoções (JOHNSON-LAIRD; OATLEY, 1992).<br />

Há indícios de que a percepção de emoção em música se inicie já nos primeiros dias<br />

de vida (MILLIGAN et al., 2003; TRAINOR; AUSTIN; DESJARDINS, 2000; citados em<br />

LEVEK; ILARI, 2005), talvez pela influência do canto e da fala direcionada aos bebês (ver<br />

SLANEY; MCROBERTS, 2003; citado em SCHUBERT; MCPHERSON, 2006). Essa fala<br />

tem como uma das características a afetividade para com a criança, podendo ser fundamental<br />

para o desenvolvimento emocional. Contudo, estudos experimentais vêm confirmando que os<br />

bebês, apesar de possuírem experiências relativamente limitadas com a música, exibem certas<br />

capacidades perceptivo-musicais bastante semelhantes às dos adultos (ver ILARI, 2006;<br />

NAWROT, 2003), inclusive no que diz respeito à percepção de emoção (TREHUB, 2001;<br />

NAKATA, 2002; KASTNER; CROWDER, 1990, citado em NAWROT, 2003). Segundo<br />

Izard et al. (1995; citado em SCHUBERT; MCPHERSON, 2006), aos 7 meses de idade, os<br />

bebês são capazes de reconhecer as seguintes emoções: alegria, tristeza, raiva, prazer (joy),<br />

surpresa e medo. Alguns pesquisadores consideram essas emoções básicas, já que são<br />

possíveis de serem experenciadas pelas crianças de mesma idade, em todas as culturas (ver<br />

MALATESTA et. al, 1989; CAMRAS, 1992 citados em SCHUBERT; MCPHERSON,<br />

2006).<br />

Em um estudo, pesquisadoras verificaram as respostas emocionais à música por<br />

crianças de 6 anos de idade e compararam as respostas com adultos (ESPOSITO; SERIO,<br />

2007). Os participantes ouviram 8 excertos musicais que representavam alegria, tristeza, raiva<br />

e medo, com aproximadamente 20 segundos de duração cada. Os resultados do estudo<br />

sugerem que não há diferenças significativas no reconhecimento de emoções em música por<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

adultos e crianças. Isso demonstra que algumas respostas emocionais à música podem ser<br />

inatas, porém sabe-se que muitas dessas respostas são aprendidas (Sloboda, 19<strong>85</strong>), incluindose<br />

as convenções pré-estabelecidas pela psicologia da música (Meyer, 1956).<br />

Outro estudo, realizado no Brasil (BUENO; MACEDO, 2004), procurou verificar a<br />

percepção de emoção em música por 82 crianças de 5 a 9 anos de idade, com relação ao<br />

reconhecimento das emoções alegria, tristeza, espanto, raiva e medo. Este reconhecimento foi<br />

realizado através de carinhas expressivas onde as crianças deveriam associar as carinhas aos<br />

estímulos musicais ouvidos. Diferente da maioria dos estudos relacionados à emoção em<br />

música, onde os estímulos musicais são provenientes de músicas eruditas, este estudo utilizou<br />

14 trechos de músicas populares, com enfoque principal no estilo musical. Os resultados<br />

apontaram que as emoções alegria e tristeza foram mais facilmente associadas pelas crianças.<br />

Segundo Swanwick (2003), quando uma música provoca emoção é porque essa tem<br />

alguma relação com as experiências humanas já vividas, e que, por sua vez, se fundem com<br />

novas experiências. Portanto, as respostas emocionais à música variam de pessoa para pessoa<br />

dependendo de suas experiências passadas, que são múltiplas e pessoais. Entretanto, ouvintes<br />

sem uma cultura musical geralmente concordam com o caráter emocional de uma<br />

determinada peça musical mesmo sem tê-la ouvido antes (HEVNER, 1936 apud SLOBODA,<br />

19<strong>85</strong>), o que contrasta com a idéia de que as respostas emocionais à música têm, como fator<br />

decisivo, experiências já vividas pelo ouvinte (SWANWICK, 2003).<br />

Contudo, não se pode esquecer-se de considerar a diferença de percepção entre as<br />

pessoas. Por exemplo, se uma pessoa é consciente de altura e outra não, a que não é<br />

consciente estará sujeita a perceber apenas o que ouve de acordo com seu estudo musical, ou<br />

seja, suas respostas emocionais estarão de acordo com o que ouve. A pessoa que percebe<br />

altura estará sujeita a respostas afetivas à altura, e a outra nem tanto. Imagens de altura,<br />

memórias de altura, pensamentos relacionados à altura, emoções provocadas por altura, entre<br />

outros, evocam fortes sentimentos de atração ou repulsão, de concordância ou discordância. O<br />

mesmo acontece com andamento, intensidade e timbre (SEASHORE, 1967).<br />

Há ainda aqueles que questionam a percepção de emoção por pessoas. Por exemplo,<br />

Hindemith (1961) nega que a música provoca efeito emocional no ouvinte, devido à rapidez<br />

com que a composição musical muda seu caráter emocional. Aponta que as pessoas não têm<br />

capacidade de mudar o estado emocional tão rapidamente. Hanslick (1989) sugere que, na<br />

música, não existe um conteúdo único cujo entendimento é compartilhado por todos os<br />

ouvintes. Portanto, como linguagem “indeterminada” não consegue traduzir conceitos, então a<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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conclusão de que ela pode expressar sentimentos determinados é psicologicamente irrefutável<br />

(HANSLICK, 1989).<br />

Convenções<br />

De acordo com a psicologia da música, os elementos musicais mais importantes na<br />

distinção entre feliz e triste são o tempo e o modo. As convenções pré-estabelecidas sugerem<br />

que o andamento rápido pode representar felicidade, enquanto o andamento lento pode<br />

representar tristeza. O mesmo acontece com a tonalidade: uma música em tonalidade maior<br />

tende a ser percebida como feliz, enquanto uma música em tonalidade menor tende a ser<br />

percebida como triste (DALLA BELLA et al, 2001). Algumas pessoas percebem uma relação<br />

com os acordes também, onde os acordes menores soam “tristes” e os maiores “felizes”.<br />

Segundo Wisnik (1989), as cores do modo maior e menor são, respectivamente, “luminosas”<br />

ou “sombrias” e “alegres” ou “tristes”. Uma vez que essas associações se tornam habituais, a<br />

presença do próprio estímulo musical irá provocar respostas emotivas convencionais<br />

(MEYER, 1956). Isso pode ser observado com frequência em programas de televisão ou<br />

filmes, sendo pouco freqüente a sonoplastia de uma cena triste conter uma música em<br />

tonalidade maior e andamento rápido. Cabe citar que os estudos sobre essas convenções ainda<br />

são recentes, e existe a possibilidade de a atribuição de emoções relacionadas à música<br />

diferenciar-se substancialmente, dependendo do lugar, região e cultura (MEYER, 1956). Por<br />

exemplo, um estudo realizado no Brasil (LEVEK; ILARI, 2005) demonstrou que as<br />

convenções pré-estabelecidas pela psicologia da música não são concretas na idade dos 5 aos<br />

7 anos, e que não há diferença significativa se comparadas as respostas de meninos e meninas.<br />

Contudo, na faixa etária dos 8 aos 10 anos já há diferença significativa por gênero. No estudo<br />

supracitado (LEVEK; ILARI, 2005), as meninas de 8 a 10 anos apresentaram um melhor<br />

rendimento em relação aos meninos da mesma idade, de acordo com algumas convenções<br />

pré-estabelecidas pela psicologia da música. Talvez haja, portanto, um aprendizado das<br />

convenções com maior intensidade, nessa faixa etária, por parte das meninas, o que reflete o<br />

modo de como as meninas e os meninos aprendem nesta idade. Vale ressaltar que a diferença<br />

cultural pode ser um fator relevante em estudos como este, ou seja, talvez o resultado<br />

encontrado nesse estudo não seja o mesmo de estudos similares realizados em outros países.<br />

Todavia, dificilmente um elemento musical designa respostas emocionais quando<br />

utilizado separadamente, mas são feitas associações e combinações onde um elemento reforça<br />

o outro. A altura, por exemplo, não é suficiente para designar uma conotação emocional<br />

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complexa: outros aspectos como andamento, dinâmica, tonalidade, caráter rítmico e textura<br />

também são importantes. Se o compositor deseja escrever uma obra que possua um caráter<br />

religioso, ele não irá apenas empregar o instrumento (timbre) apropriado, mas também irá<br />

utilizar técnicas específicas de composição como modalidade, polifonia, e outras que tenham<br />

a mesma conotação. É o conjunto de elementos combinados que causa determinada<br />

“impressão” (MEYER, 1956). Essas conotações, porém, mudam com o decorrer do tempo.<br />

Na música ocidental, por exemplo, a harpa já não é mais associada aos assuntos religiosos<br />

como era na Idade Média (MEYER, 1956). Portanto, é provável haver um desenvolvimento<br />

na percepção de emoção em música com o decorrer do tempo. Neste sentido, é de extrema<br />

importância que novos estudos sobre a percepção de emoção em música sejam realizados,<br />

sobretudo em populações de culturas e faixas etárias variadas.<br />

Além dos elementos musicais já citados, há outros elementos que influenciam essa<br />

distinção: o timbre do órgão, como exemplo, é associado muitas vezes à religião; a escala<br />

pentatônica foi muito utilizada no século XIX para representar elementos pastorais; e alguns<br />

intervalos também foram e continuam sendo usados para indicar certas idéias ou estados de<br />

espírito (MEYER, 1956). Um exemplo é o trítono ser freqüentemente chamado de “intervalo<br />

do diabo”. Ainda há a possibilidade de a música imitar sons de objetos ou eventos com<br />

conotações emocionais (KRUMHANSL, 2002), o que implica em uma possível memória do<br />

ouvinte, capaz de influenciar na resposta emocional à música. Segundo Swanwick (2003), é<br />

possível que os padrões musicais também “estejam em movimento”, assim como nossos<br />

pensamentos e sentimentos constantemente mudam. A habilidade da música em sugerir esse<br />

movimento sem apontar para um evento determinado pode nos levar, erroneamente, a pensar<br />

que a expressão musical é um tanto vaga e sem “conteúdo”.<br />

Contudo, o uso de música na infância é universal tem seu início nos primeiros anos de<br />

vida. As crianças utilizam a música para brincar, dançar, entre outras coisas e, com o decorrer<br />

do tempo, a finalidade de ouvir música vai mudando. É provável que a percepção de emoção<br />

em música também mude juntamente com as funções e a maneira de se ouvir música ao longo<br />

da vida.<br />

Fatores que Influenciam a Percepção de Emoção em Música<br />

Levinson (1997) sugere a existência da "emoção estética" ("aesthetic emotion"), sendo<br />

esta diferente das emoções cotidianas, especialmente provocada pela percepção de trabalhos<br />

artísticos (LEVINSON, 1997). Portanto, as emoções provocadas pela música são diferentes, e<br />

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as experiências e características do ouvinte são determinantes para as respostas emocionais à<br />

música. Segundo Juslin & Sloboda (2001), a música é sempre ouvida em um contexto social,<br />

em determinado momento e lugar, com ou sem outras pessoas presentes, e com ou sem outras<br />

atividades acontecendo, tendo sua própria fonte de significado e emoção. As respostas<br />

emocionais podem ser influenciadas ou até mesmo determinadas por esse contexto. Em outras<br />

palavras, as respostas emocionais à música dependem das situações em que a música é ouvida<br />

(JUSLIN; SLOBODA, 2001).<br />

A tabela seguinte, com base nos estudos já citados, sugere alguns fatores<br />

determinantes para as respostas emocionais à música:<br />

Tabela 1: Fatores que influenciam a percepção de emoção em música<br />

ALGUNS FATORES QUE INFLUENCIAM AS RESPOSTAS EMOCIONAIS À MÚSICA<br />

convenções préestabelecidas:<br />

padrões estabelecidos<br />

para determinar certas<br />

emoções, o que o<br />

compositor procurou<br />

expressar através da<br />

música e padrões<br />

possivelmente<br />

aprendidos.<br />

humor (estado<br />

de espírito):<br />

junto com a<br />

emoção<br />

provocada pela<br />

música ouvida,<br />

provoca<br />

determinada<br />

emoção.<br />

memória:<br />

as experiências<br />

vivenciadas<br />

anteriormente pelo<br />

ouvinte podem ser<br />

relembradas por<br />

músicas ou<br />

elementos musicais,<br />

provocando<br />

determinada emoção.<br />

gosto musical:<br />

padrões já<br />

estabelecidos pelo<br />

ouvinte que o farão<br />

gostar ou não de<br />

determinada música e,<br />

consequentemente,<br />

sentir uma emoção<br />

positiva ou negativa.<br />

A partir da tabela, pode-se entender que esses fatores se interligam, e é a junção dos<br />

mesmos que provocará determinada resposta emocional à música ouvida:<br />

convenções + humor + memória + gosto + música ouvida<br />

=<br />

emoção provocada pela música<br />

Portanto, são muitos os elementos "extra-musicais" que influenciam a resposta<br />

emocional à música, sendo necessária a realização de diversos estudos para verificar até que<br />

ponto as experiências vividas e os conhecimentos adquiridos pelo ouvinte são fundamentais<br />

para a resposta emocional à música. Além disso, é importante verificar também quais os<br />

elementos musicais capazes de provocar emoções, e se existem aqueles que são comuns para<br />

diversas culturas.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Educação Infantil e Música: o que dizem as pesquisas?<br />

Mônica Luchese Marques<br />

Universidade de Brasília<br />

monicaluchese@hotmail.com<br />

Maria Cristina de Carvalho Cascelli de Azevedo<br />

Universidade de Brasília<br />

criscarvalhocazevedo@gmail.com<br />

Resumo: Como tema recorrente em estudos da Educação e da Educação Musical, a relação<br />

entre a Música e a Educação Infantil está presente em diversas pesquisas dessas áreas. Como<br />

recorte da revisão de literatura da pesquisa de mestrado em andamento fez-se um<br />

levantamento no banco de teses e dissertação da CAPES com o intuito de verificar o que as<br />

pesquisas sobre a temática estudada estão trazendo em seus resultados. Com isso esta<br />

comunicação tem os seguintes objetivos: 1) verificar o que dizem os resultados das pesquisas<br />

brasileiras sobre a relação Música e Educação Infantil; e 2) Identificar o que esses resultados<br />

trazem em comum e divergem. Com o mapeamento realizado, em um total de 40 teses/<br />

dissertações, podemos perceber a predominância de trabalhos que relatam a prática musical de<br />

professores generalistas e especialistas. As principais necessidades apontadas por esses<br />

trabalhos foram: a presença do profissional especializado em Música na Educação Infantil e a<br />

formação continuada e musical de professores generalistas.<br />

Palavras chave: Estado da arte, música e educação infantil, pesquisas<br />

Introdução<br />

A relação Música e Criança é tema recorrente em estudos da Educação e da Educação<br />

Musical considerando-se diferentes abordagens teóricas e metodológicas de pesquisa. Em<br />

levantamento 1 realizado para pesquisa de mestrado em andamento, cujo objetivo é<br />

compreender a ação pedagógica de professor(a) de música em escola regular de Educação<br />

Infantil, foi possível constatar um total de 40 teses e dissertações que envolvem o tema<br />

Música e Educação Infantil e a sua relação com o desenvolvimento musical. Entre as<br />

temáticas encontradas percebemos uma predominância em trabalhos que focam a prática<br />

docente (40%). Nestes, o professor é a principal fonte de informação e de dados. Outros<br />

trabalhos discutem o desenvolvimento musical infantil (15%), o repertório musical (15%), o<br />

papel da Música na Educação Infantil (15%), a formação de professores (7,5%), a importância<br />

da Música na Educação Infantil (5%) e os materiais didáticos (2,5%). A partir dessas<br />

temáticas buscou-se aprofundar quais são as principais questões e debates nessa área, como<br />

1 Esse levantamento buscou caracterizar as pesquisas que envolvem a Música e a Educação Infantil de acordo<br />

com as universidades e áreas aonde foram realizadas, sua abordagem metodológica e suas temáticas. O artigo foi<br />

publicado nos anais do X Encontro Regional Nordeste da ABEM.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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elas estão sendo investigadas e que resultados estão sendo divulgados. Dando origem assim<br />

aos seguintes questionamentos: o que dizem os resultados das pesquisas brasileiras sobre a<br />

relação Música e Educação Infantil? O que os resultados trazem em comum e como eles<br />

divergem? Até que ponto esses resultados contribuem com a ação pedagógico-musical de<br />

professores de Educação Infantil? Até que ponto esses resultados definem uma prática<br />

pedagógico musical na educação Infantil?<br />

Para responder as seguintes questões foi realizado um mapeamento de cunho<br />

bibliográfico enfatizando o que essas pesquisas destacam e privilegiam dentro desse conjunto<br />

de investigações que permeiam o universo infantil em que se encontra a pesquisa de mestrado<br />

em andamento. Esse tipo de estudo caracteriza um levantamento denominado “Estado da<br />

arte”. Segundo Ferreira (2002),<br />

Nos últimos quinze anos tem se produzido um conjunto significativo de<br />

pesquisas conhecidas pela denominação “estado da arte” ou “estado do<br />

conhecimento”. Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer<br />

em comum o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica<br />

em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e<br />

dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e<br />

lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas<br />

dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e<br />

comunicações em anais de congressos e de seminários. Também são<br />

reconhecidas por realizarem uma metodologia de caráter inventariante e<br />

descritivo da produção acadêmica e científica sobre o tema que busca<br />

investigar, à luz de categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais em<br />

cada trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser<br />

analisado (FERREIRA, 2002, p. 258).<br />

Para realizar esse “mapeamento” das pesquisas que envolvem Música e Educação<br />

Infantil, adotou-se como referência a base de dados de Teses e Dissertações da CAPES 2 , fonte<br />

legítima de pesquisas realizadas no âmbito nacional. A metodologia utilizada para busca<br />

seguiu os seguintes passos: 1) digitação das palavras-chaves: Educação Musical e Educação<br />

Infantil e Música, com a seleção do tópico “todas as palavras”; 2) seleção da opção de<br />

“expressão exata” com os termos: Educação Musical e Educação Infantil, Música e Educação<br />

Infantil, Música na Educação Infantil, Educação Infantil e Música e Educação Musical<br />

Infantil. Todos os termos foram digitados na categoria “assunto”. Optou-se assim, partir de<br />

um assunto mais amplo e com a análise quantitativa dos resultados obtidos seguir realizando<br />

um recorte mais específico por meio do tópico “expressão exata”. Dos resultados encontrados,<br />

um total de 86 teses/dissertações, foi realizado um recorte para a análise, e somente as<br />

2 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior<br />

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investigações que abordam a Música e a Educação Infantil foram levantadas sendo<br />

desconsiderados, para este mapeamento, os trabalhos que tinham apenas uma dessas áreas<br />

como eixo de pesquisa. Assim, após esse recorte tivemos um total de 40 teses/dissertações<br />

para a análise sendo dessas 6 teses de doutorado e 34 dissertações de mestrado.<br />

A Música e a Educação Infantil<br />

A Música é muito presente nas instituições infantis e essa presença é descrita pelo<br />

Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (RCNEI) com diversas finalidades:<br />

disciplinares; para desenvolver atitudes e valores; comemorar datas e festividades do<br />

calendário escolar; memorizar conteúdos e executar instrumentos de “bandinhas”<br />

reproduzindo e imitando padrões sonoros e rítmicos (BRASIL, 1998, p.46). Ou seja, a Música<br />

está presente em vários momentos da rotina das crianças visando diferentes objetivos, porém<br />

como afirma o mesmo documento, a presença da Música nessas instituições não pode ser<br />

restrita a apenas essas práticas, ela deve ser contemplada como uma linguagem e deve ser<br />

vivenciada pela produção, apreciação e reflexão (BRASIL, 1998, p. 43).<br />

A forma como a Música vem sendo abordada e a sua função nas instituições infantis<br />

são apontadas pelas pesquisas levantadas, assim como o RCNEI, de acordo com suas diversas<br />

finalidades na escola associada a rotina com ênfase: no controle disciplinar, no lúdico, no<br />

entretenimento e em objetivos pedagógicos. A presença e importância da Música nessas<br />

instituições de ensino são relatadas a partir da prática de professores, da fala de coordenadores<br />

e da análise de repertório musical e do papel da Música. Os estudos destacam a ausência de<br />

objetivos musicais na rotina das crianças, o que é explicado pela falta de um profissional<br />

especializado e pela insegurança das professoras unidocentes em trabalhar com conteúdos<br />

musicais. Assim, as pesquisas enfatizam a importância desse profissional na Educação<br />

Infantil e a necessidade de uma formação básica em Música e formação continuada para os<br />

professores generalistas.<br />

A prática docente nessa faixa etária é pesquisada por Tiago (2007), Piva (2008), Soler<br />

(2008), Toledo (2004), Oliveira (2007), Stavracas (2008), Diniz (2005), Loureiro (2009),<br />

Tozetto (2003), Abrahão (2006), Cunha (2006), Vieira (2004), Paiva (2009), Sugahara<br />

(2008), Darezzo (2004), Beaumont (2003), Mosca (2009), Wrobel (1999), Siqueira (2000),<br />

Moraes (2009), Pires (2006), Bonna (2006), Martins (2003), Guimarães (2003), Brook (2009)<br />

e Carvalho (2005).<br />

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Com relação às práticas de professoras, alguns trabalhos abordam os professores<br />

unidocentes e têm como foco a formação continuada e a necessidade de conhecimentos<br />

básicos musicais em sua formação. Dentre eles, as pesquisas de Pacheco (2005), Makino<br />

(2003), Krobot (2006) e Aquino (2007) relatam experiências de pesquisa-ação e de análise de<br />

currículo de cursos superiores de pedagogia. Fernandes (2009) e Luly (2000) apontam para a<br />

formação continuada de professores de música<br />

O repertório musical que está presente na Educação Infantil é focado e analisado por<br />

Bessa (2007), Souza (2007) e Furlanetto (2006).<br />

Todas essas pesquisas enfatizam a importância da Música para o desenvolvimento<br />

infantil e por isso a necessidade da presença dessa na escola, os trabalhos que retratam o<br />

desenvolvimento infantil também enfatizam essa importância, dos estudos listados temos:<br />

Soares (2007), Pacheco (2009), Jordão (1997), Stifft (2008) e Fonseca (2009).<br />

Resultados: Análise e Descrição das pesquisas<br />

Pela análise da prática docente de professores generalistas e especialistas em Música<br />

as pesquisas retratam a rotina musical das crianças na Educação Infantil. Diniz (2005) e Soler<br />

(2008) realizaram um survey para investigar como a Música é inserida e utilizada nas práticas<br />

pedagógicas de professoras da Educação Infantil. A primeira realizou seu estudo na rede<br />

municipal de Porto Alegre (RS) e a segunda na rede municipal e em escolas privadas da<br />

cidade de Indaiatuba (SP). As autoras afirmam que a música é muito presente nas práticas<br />

pedagógicas das professoras unidocentes e que ela é utilizada de diversas formas de acordo<br />

com os contextos e a formação dessas professoras. As respondentes afirmam não se sentirem<br />

seguras para trabalhar com conteúdos musicais e destacam a necessidade e a importância do<br />

profissional específico de Música na escola. A análise das práticas musicais confirma a<br />

presença da música para desenvolver atitudes e valores, comemorar datas e festividades;<br />

memorizar conteúdos e executar instrumentos de “bandinhas”, como é apontado pelo RCNEI.<br />

Em sua pesquisa, Soler (2008) investiga ainda o professor de Música e os professores<br />

generalistas de escolas particulares, esses dois grupos afirmaram a importância da presença de<br />

profissionais especializados em Música nessas instituições. Esses resultados revelam que os<br />

professores unidocentes não abordam conteúdos específicos de música porque não têm<br />

formação qualificada. Assim, podemos afirmar que a presença de um professor de música na<br />

Educação Infantil é fundamental sob os seguintes aspectos: o desenvolvimento de habilidades<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

e conhecimento musical, a atuação colaborativa entre os professores especialistas e<br />

unidocentes e a formação continuada de professores generalistas.<br />

Essa função da Música, para desenvolver atividades sem objetivos musicais, nas<br />

instituições infantis também foi relatada nos resultados encontrados por Oliveira (2007),<br />

Stavracas (2008) e Loureiro (2009). As duas últimas autoras realizaram suas pesquisas com<br />

professores da cidade de São Paulo (SP) e investigaram como a música está sendo utilizada na<br />

Educação Infantil. Sob essa mesma perspectiva, porém com sujeitos de pesquisa diferente,<br />

Oliveira (2007) coletou seus dados por meio de entrevistas com a Supervisora Estadual da<br />

Superintendência Regional de Ensino e com a coordenadora da área de Artes do Município de<br />

Uberlândia (MG). A autora afirma que a situação do ensino de Música na Educação Infantil e<br />

no Ensino Fundamental ainda não contempla as orientações oficiais, e enfatiza a utilização da<br />

música para diversos fins não musicais, visto que essa é ministrada por professores<br />

unidocentes e que não existe a disciplina Música como integrante do currículo escolar. Essas<br />

investigações nos mostram que o papel restrito da Música na Educação Infantil está ligado<br />

não somente a prática educativa do professor, mas também a necessidade de políticas públicas<br />

educacionais voltadas a inserção da Música nessa modalidade de ensino.<br />

A análise das práticas musicais de professores também foi investigada com o intuito<br />

de verificar a presença, consciente ou inconsciente, de princípios construtivistas (WROBEL,<br />

1999). A análise da utilização do construtivismo na ação pedagógica dessas professoras foi<br />

realizada por meio de entrevistas e questionários. Siqueira (2000), nessa mesma abordagem<br />

teórica, investigou esses princípios nas canções utilizadas nas escolas de Educação Infantil e<br />

de Ensino Fundamental. Seus resultados apontam que a canção é composta por importantes<br />

elementos musicais (instrumentação e arranjo) e extra musicais (contextualização histórica da<br />

letra e de compositores) que a caracterizam como uma rica fonte de conhecimentos musicais<br />

essenciais para a formação básica e cultural da criança. Esses conhecimentos são<br />

experienciados e adquiridos em um processo construtivo de ensino e aprendizagem. Apesar<br />

de Siqueira (2000) investigar as canções da rotina infantil e destacar suas possibilidades<br />

pedagógicas para o ensino e aprendizagem da música na Educação Infantil, o processo de<br />

construção do conhecimento depende da ação pedagógica do(a) professor(a).<br />

A prática relacionada com os saberes docentes foi pesquisada por Tiago (2007) e<br />

Beaumont (2003), com o foco também nos relatos de professores. Tiago (2007) realizou sua<br />

pesquisa com três professoras generalistas que atuam na Educação Infantil em uma escola<br />

municipal de Uberlândia (MG), por meio de entrevistas e observação participante seus<br />

145


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

resultados mostram que as professoras trabalham muito com a música e que esta é muito<br />

importante para suas práticas, porém as atividades musicais se restringem ao cantar. Por isso a<br />

autora afirma a necessidade de formação continuada a essas professoras e enfatiza a<br />

necessidade de profissionais especializados em Música, recursos materiais e estrutura<br />

adequada para as atividades com Música na Educação Infantil. Beaumont (2003) buscou<br />

compreender a inter-relação entre os saberes e as práticas por meio de cinco entrevistas, três<br />

com professoras da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental e duas com<br />

professoras de musicalização. Por meio dessa inter-relação ela aponta a expectativa de<br />

professoras unidocentes e especialistas para trabalharem com a Música de modo integrado às<br />

demais disciplinas escolares. Seus resultados apontam para a necessidade de uma formação<br />

musical reflexiva inserida no contexto atual e no curso de formação das professoras<br />

generalistas. Para a pesquisadora é importante que esses cursos conheçam, ampliem e<br />

aprofundem tanto os saberes que esses profissionais possuem, quanto as práticas que<br />

desempenham com a Música. A relação entre os saberes e as práticas musicais dos<br />

professores generalistas pesquisados nos mostra que a formação desses docentes não esta<br />

contemplando a Música como um fim de suas ações educativas, não a contempla de forma<br />

reflexiva dentro de seu corpo de conhecimentos necessário para sua atuação docente.<br />

A importância da formação de professores dentro desse cenário atual e real da<br />

Educação Infantil também é abordada por Aquino (2007) que buscou investigar a Música na<br />

formação inicial do pedagogo dos cursos localizados no Centro-Oeste. Diante do quadro<br />

encontrado pela autora, com poucas instituições de nível superior que possuem disciplinas<br />

ligadas a Artes e Música, ela afirma que os pedagogos da região Centro-Oeste não são<br />

formados, ou seja, preparados para lidar com a Música na escola regular. Essa necessidade de<br />

formação musical para o aluno de pedagogia também é enfatizada por Krobot (2006) que<br />

pesquisou a inclusão da modalidade Música no curso de pedagogia em Jaraguá do Sul (SC).<br />

Por meio das práticas de professores e de observação da rotina escolar alguns<br />

trabalhos focaram o repertório musical que permeia as crianças em seu ambiente de<br />

aprendizagem, como as investigações de Bessa (2007), Souza (2007) e Furlanetto (2006).<br />

Bessa (2007) pesquisou o uso das músicas “politicamente corretas” nas instituições infantis, a<br />

partir dessas observações a autora relata a presença da memória afetiva nas práticas docentes.<br />

Souza (2007) e Furlanetto (2006) pesquisaram a canção infantil. O primeiro realizou sua<br />

pesquisa na cidade de São Paulo e investigou a canção infantil urbana: sua história, sua<br />

estrutura, meios de produção e divulgação e sua utilização prática em sala de aula. A segunda<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

pesquisadora buscou as concepções de infância presentes no processo histórico da Educação<br />

Infantil, e como elas se articulam às canções ensinadas nessa tipologia de ensino. Como<br />

resultados vemos a utilização de canções como meio de manifestação do conceito de infância<br />

presentes nas políticas educacionais brasileiras correspondente a um determinado período<br />

histórico social. A utilização de canções sem a reflexão do docente sobre seus elementos<br />

musicais e não musicais em sua ação educativa pode gerar equívocos ou a não exploração do<br />

conteúdo em sua atuação. A ação educativa é caracterizada por Sacristán (1999) como sendo<br />

pessoal e social, ou seja, ela traz consigo as crenças e individualidades do professor como um<br />

ser único que compartilha, colabora e é influenciado por toda a cultura educativa e social em<br />

que está inserido.<br />

Soares (2007) investigou os movimentos de bebês, de quatro a vinte e quatro meses de<br />

idade, em uma creche pública em Goiânia (GO). Analisando seus movimentos, a partir dos<br />

critérios de Wallon, pode-se perceber como os bebês se movimentam e se expressam por<br />

meio da Música, os benefícios trazidos pelas atividades realizadas e identificar as<br />

possibilidades e os limites para o trabalho de musicalização para bebês. Em seus resultados a<br />

autora também enfatiza a importância da qualificação profissional como um dos fatores mais<br />

importantes para a promoção de padrões de qualidade de ensino. Sobre a prática de<br />

musicalização para bebês Stifft (2008) analisou a influência das relações interpessoais no<br />

desenvolvimento musical de bebês, sua investigação foi realizada nas aulas de musicalização<br />

do projeto de Extensão do Departamento de Música da Universidade Federal do Rio Grande<br />

do Sul (UFRGS).<br />

Ainda sobre o desenvolvimento musical infantil, Pacheco (2009) realizou um estudo<br />

correlacional que buscou investigar as relações entre as habilidades musicais e a consciência<br />

fonológica em crianças de quatro e cinco anos de idade. Seu estudo buscou replicar<br />

parcialmente o estudo de Anvari et al. (2002) com crianças brasileiras. Em seus resultados a<br />

autora traz a correlação entre as habilidades musicais e a consciência fonológica, com isso<br />

pode-se sugerir o compartilhamento de mecanismos auditivos e/ou cognitivos entre a Música<br />

e a linguagem. Fonseca (2009) estudou o canto espontâneo de crianças entre dois e seis anos<br />

de idade com o intuito de analisar os conteúdos musicais presentes neles como: ritmo,<br />

direcionamento, forma, estruturação melódica, caráter expressivo, contrastes, texto e<br />

influências culturais específicas. A partir desses elementos a pesquisadora investigou a<br />

construção da percepção do tempo dessas crianças. Como resultados a autora aponta que o<br />

tempo é a característica do canto espontâneo mais influenciado pela idade da criança e coloca,<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

de acordo com as características do canto espontâneo, que esse, assim como a Música, pode<br />

ser considerado um instrumento metodológico importante para investigações acerca do<br />

desenvolvimento da criança. Essas pesquisas sobre o desenvolvimento musical infantil nos<br />

ajudam a compreender como esse é construído a partir de diferentes abordagens teóricas e<br />

experiências de campo. A importância da Música no desenvolvimento infantil, apresentado<br />

nessas investigações, enfatizam a necessidade do ensino de qualidade dessa nas instituições<br />

de ensino infantil.<br />

Conclusão<br />

A partir da análise das pesquisas levantadas com a temática Educação Infantil e<br />

Música podemos verificar como esses assuntos estão sendo abordados nas diversas<br />

investigações. Desse modo, nos permite avaliar a contribuição da pesquisa de mestrado em<br />

andamento para os estudos na área de Educação Musical e discutir o que as investigações<br />

realizadas acrescentam a pesquisa.<br />

A forma como a Música é inserida na Educação Infantil, em diversas cidades e estados<br />

do Brasil, pode ser percebida pela descrição e análise de práticas docentes, do repertório<br />

musical, do papel e importância dessa nessas instituições de ensino. Como resultados<br />

recorrentes dessas pesquisas temos a necessidade de formação musical aos professores<br />

generalistas e a presença do professor especialista na Educação Infantil. A troca de<br />

conhecimentos e experiências entre esses profissionais pode consolidar a prática musical de<br />

qualidade nessas escolas, pois a socialização da ação docente permitirá práticas e vivências<br />

musicais explicitadas nos documentos legais. Porém, essa realidade ainda está distante do<br />

contexto atual, visto que são poucas as políticas públicas que contemplam o professor<br />

especialista na Educação Infantil. Assim, com a obrigatoriedade do ensino de Música na<br />

Educação Básica, temos que cuidar o como a Música esta sendo inserida nessas escolas,<br />

buscando sua inserção com qualidade, surgindo assim os seguintes questionamentos: Quem<br />

deve ministrar a aula de Música na Educação Infantil? Qual será sua formação? Qual é a<br />

função do profissional especialista nessas escolas? Quais são os saberes e habilidades<br />

necessários a esses professores de Música para atuarem em instituições infantis?<br />

148


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

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3° volume. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.<br />

1° Volume. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

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educador musical a partir de uma perspectiva crítica. Dissertação de mestrado. 2006<br />

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150


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151


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A Música e o Jogo na Educação Infantil<br />

Elizabeth Carrascosa Martínez<br />

UNICAMP<br />

elicarras@hotmail.com<br />

Beatriz Senoi Ilari<br />

University of Southern California<br />

Resumo: Este artigo descreve uma experiência interdisciplinar realizada em uma escola<br />

pública na Espanha durante o ano letivo de 2008-2009. O projeto chamado "Brincando<br />

fazemos amigos: brincadeiras de 5 continentes” permitiu trabalhar o multiculturalismo,<br />

desenvolver valores e promover a convivência entre os alunos da escola. Usando os jogos<br />

não-competitivos em sala de aula, nos quais os alunos devem trabalhar juntos para alcançar<br />

um objetivo, estamos incentivando a coesão do grupo e ajudando a criar laços afetivos entre<br />

os alunos. Este projeto teve como objetivo implementar os princípios estabelecidos pela nova<br />

lei de educação, usando o jogo como ferramenta metodológica no ensino de música na escola<br />

regular.<br />

Palavras chave: A música no sistema educativo espanhol, o jogo na musicalização infantil,<br />

projetos interculturais<br />

Introdução<br />

Neste artigo descrevemos o projeto intercultural “Brincando fazemos amigos: jogos de<br />

5 continentes”, que foi realizado no Centro de Educação Infantil e Ensino Fundamental Nove<br />

de Outubro de Alcàsser, escola localizada em Valência (Espanha) durante o ano escolar 2008-<br />

2009.<br />

Primeiramente, examinaremos brevemente a situação da música no sistema educativo<br />

espanhol, com ênfase na etapa da educação infantil. Em seguida, discutiremos a importância<br />

da brincadeira para o desenvolvimento integral das crianças e suas implicações para a<br />

educação musical. Por fim, descreveremos os detalhes da experiência e suas contribuições.<br />

A Música no Sistema Educativo Espanhol<br />

A música foi introduzida como disciplina obrigatória nas escolas espanholas, graças à<br />

Lei Orgânica 1/1990 de 3 de outubro, de Ordenação Geral do Sistema de Educação (LOGSE),<br />

que estabeleceu a escolaridade obrigatória em um período de 10 anos. Como resultado desta<br />

lei, a educação musical passou a ser obrigatória nos níveis de ensino fundamental (6-12 anos)<br />

e médio (12 a 16 anos).<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A LOGSE substituiu a antiga lei de 1970, comumente chamada de lei Villar Palasí,<br />

que estabelecia o ensino básico (EGB) até os 14 anos de idade e não considerava a música<br />

como disciplina obrigatória. Nessa lei (Lei 14/1970, de 4 de agosto da Educação Geral) a<br />

música era introduzida nas atividades escolares à mercê da vontade, disposição e capacidade<br />

dos professores. Na grande maioria das escolas, a presença da música era praticamente<br />

inexistente, e nas poucas em que estava presente, esta se reduzia à aulas extracurriculares de<br />

flauta doce, violão ou canto coral.<br />

A partir da LOGSE, se abriram novas perspectivas para a educação musical na<br />

Espanha. A obrigatoriedade da música nas escolas permitiu que se criassem nas universidades<br />

espanholas as titulações específicas de educação musical, visando atender às exigências da lei<br />

no artigo 16:<br />

O ensino fundamental será ministrado por professores, que terão<br />

competências em todas as áreas deste nível. O ensino da música, da<br />

educação física, das línguas estrangeiras ou de outras matérias que se<br />

determinem, será ministrado por professores com a especialização em<br />

questão (ESPANHA, 1990).<br />

Seguindo essa nova demanda uma infinidade de vagas para professores de educação<br />

musical nas escolas e colégios em todo o estado espanhol foram abertas. Com a chegada dos<br />

novos especialistas o cenário da educação musical começou a mudar na Espanha.<br />

A situação específica da música em Valência<br />

A Comunidad Valenciana, uma das dezessete regiões espanholas, está localizada na<br />

região do Mediterrâneo e tem pouco mais de 5 milhões de habitantes. Esta região da Espanha<br />

tem duas línguas oficiais: valenciano e castelhano (espanhol), ambos integrados no sistema<br />

educativo.<br />

A situação da música nesta pequena região da Espanha é notável. A música tem um<br />

papel particularmente importante na cultura e na sociedade, como parte de celebrações, e<br />

manifestações culturais tradicionais. A região de Valência tem mais de 500 sociedades<br />

musicais e escolas de música federadas, mais de 100 coros que incluem mais de 3.000<br />

membros do coro, 33 Conservatórios Profissionais de música e 3 Conservatórios Superiores<br />

de Música. De acordo com a Associação de Professores de Música (AULODIA) "Valência<br />

tem mais de 200.000 músicos com titulação superior (de nível profissional), incluindo mais de<br />

1.000 que trabalham na principais orquestras espanholas e estrangeiras."<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Devido a essas circunstâncias, o Departamento de Educação estabeleceu o<br />

fornecimento de materiais didáticos e equipamentos específicos 1<br />

para todas as escolas<br />

públicas, a fim de garantir uma educação musical de qualidade. O Departamento também<br />

criou cargos de especialista nos centros de formação de professores 2 , a fim de organizar e<br />

ministrar cursos de educação musical, contribuindo deste jeito para a formação dos<br />

professores de música.<br />

Devido à mudança de governo em 2000, em 2002 foi aprovada a LOCE, Lei Orgânica<br />

10/2002 de 23 de dezembro de 2002, de Qualidade da Educação. As consequências da<br />

aplicação desta lei não foram muito favoráveis para a educação musical, posto que o número<br />

de horas dedicadas ao ensino de música no nível fundamental e médio foi reduzido.<br />

A mais recente reforma educacional teve lugar em 2006, na sequência de outra<br />

mudança de governo em 2004, que introduziu a Lei Orgânica de Educação, LOE (Lei 2 /<br />

2006, 03 de maio). Esta lei, que define os objetivos, conteúdos e critérios de avaliação para as<br />

diferentes áreas em todas as etapas da educação, se baseia em três princípios fundamentais: 1.<br />

proporcionar educação de qualidade a todos os cidadãos em todos os níveis da educação; 2.<br />

promover a colaboração entre todos os membros da comunidade educativa; e 3. Seguir as<br />

metas para o século 21 estabelecidas pela União Europeia (ESPANHA, 2006a).<br />

Após a aprovação desta legislação foi adotado na Espanha a aprendizagem por<br />

competências. De acordo com Philippe Perrenoud, sociólogo da Universidade de Genebra, a<br />

competência é "a capacidade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos<br />

(conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais) para lidar com pertinência e<br />

eficácia em diferentes situações problemáticas” (GENTILE e BENCINI, 2000, p. 19).<br />

Os decretos que se desenvolvem na LOE no ensino fundamental (RD 1513/2006) e<br />

médio (RD 1631/2006) estabelecem, no Anexo 1, as oito principais competências:<br />

competência em comunicação linguística, a competência matemática,<br />

competência do conhecimento e interação com o mundo físico,<br />

processamento de informação e competência digital, competência<br />

social e cívica, a competência cultural e artística, competência para<br />

aprender a aprender e autonomia e iniciativa pessoal (ESPANHA,<br />

2006b, p. 43).<br />

1 Na maioria das escolas e colégios da região de Valência, a música é ministrada em uma sala específica equipada<br />

com instrumentos Orff, instrumentos de pequena percussão, teclado ou sintetizador, aparelho de som, livros, Cds<br />

e em alguns casos computador, televisão e vídeo.<br />

2 Centros de formação, inovação e recursos educacionais (CEFIRES) dependente do Serviço de Formação de<br />

Professores de Valência.<br />

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A música se encontra principalmente no contexto da competência artística e cultural.<br />

A Música na Educação Infantil<br />

A educação infantil na Espanha é uma etapa não obrigatória que compreende a faixa<br />

etária dos 0 aos 6 anos de idade. Esta etapa está dividida em dois ciclos: de 0 a 3 anos, e de 3<br />

a 6 anos, sendo o segundo de ensino gratuito.<br />

De acordo com a LOE, “a educação infantil, tem como objetivo primordial contribuir<br />

para o desenvolvimento físico, emocional, social e intelectual das crianças, em estreita<br />

cooperação com as famílias" (ESPANHA, 2006a, artigo 12). Para isso a LOE estabelece que<br />

as crianças devem desenvolver 6 habilidades básicas dentre as quais duas estão<br />

especificamente relacionadas com a educação musical: desenvolver habilidades de<br />

comunicação em diferentes linguagens e formas de expressão, e iniciação ao movimento, no<br />

gesto e no ritmo (ESPANHA, 2006c, p. 17167).<br />

Para o desenvolvimento das capacidades mencionadas acima, os conteúdos do ensino<br />

fundamental estão organizados em três áreas: autoconhecimento e autonomia pessoal,<br />

conhecimento do ambiente e das linguagens, comunicação e representação. Todas elas devem<br />

ser abordadas de maneira globalizada (ESPANHA, 2006d, p.475). Cada área é dividida em<br />

vários blocos de conteúdo, apresentados na Tabela 1:<br />

Conhecimento de si<br />

mesmo e autonomia<br />

pessoal<br />

O corpo e a própria<br />

imagem<br />

Tabela 1: Blocos de conteúdos<br />

Conhecimento do meio<br />

Linguagens: comunicação e<br />

representação<br />

Meio físico: elementos, Linguagem verbal<br />

relações e medida<br />

Jogo e movimento Aproximação à natureza Linguagem audiovisual e<br />

tecnologias da informação e<br />

da comunicação<br />

A atividade e a vida<br />

cotidiana<br />

O cuidado pessoal e a<br />

saúde<br />

Cultura e vida em<br />

sociedade<br />

Linguagem artística<br />

Linguagem corporal<br />

A educação musical está incluída no contexto da área de linguagens (mais<br />

especificamente no bloco de conteúdo da linguagem artística e linguagem corporal), com base<br />

em uma abordagem que integra música e movimento, conforme sugerido por Orff e Keetman<br />

(GOODKIN, 2002).Sendo assim, as atividades de musicalização infantil sugeridas no RD<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

1630/2006 incluem: cantar, tocar, manipular e experimentar com instrumentos e objetos<br />

sonoros, criar, brincar com sons, ouvir, dançar, entre outros (ESPANHA, 2006d).<br />

A LOE (2006a) estabelece também como devem ser tratados os conteúdos e as<br />

atividades na educação infantil: "Os métodos de trabalho se basearão em experiências,<br />

atividades e jogos e serão aplicados em uma atmosfera de afeto e confiança, para melhorar a<br />

autoestima e a integração social" (p. 17167). Destaca-se nesse texto a importância de<br />

atividades práticas e lúdicas para garantir a aprendizagem significativa. Mais adiante<br />

aprofundaremos a discussão sobre o valor educativo do jogo como ferramenta metodológica<br />

na educação.<br />

O Jogo no Desenvolvimento Integral do Indivíduo<br />

O homem só joga quando é plenamente homem e é plenamente homem quando joga<br />

Friedrich Schiller<br />

Segundo Huizinga (1971) o jogo é uma atividade de grande importância para o<br />

desenvolvimento da civilização. Trata-se de uma necessidade "antropológica e cultural"<br />

(BUSQUÉ; PUJOL, 1996, p. 12). Da pré-história às grandes civilizações da antiguidade e aos<br />

dias de hoje, os seres humanos têm utilizado atividades lúdicas para diversos fins. Jogamos<br />

para nos divertir, relaxar, passar o tempo, para descobrir nossos próprios limites, para<br />

desenvolver habilidades específicas ou para nos relacionarmos com os outros.<br />

Jogar não depende de idade, e o jogo está presente durante a infância, adolescência,<br />

idade adulta e velhice. “No homem, o jogo aparece desde muito cedo, a partir das primeiras<br />

etapas do período sensório-motor. [...] Depois, experimenta uma longa evolução que vai<br />

cedendo lugar a diferentes tipos de jogos e que se prolonga até a idade adulta” (DELVAL,<br />

1998, p. 90). Porém, seu papel é especialmente importante durante a infância e assim é<br />

considerado em 1977 pela Associação Internacional pelo Direito de Brincar da Criança (IPA)<br />

e desde 1989, pela Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada pela Assembleia Geral<br />

das Nações Unidas, conforme o artigo 31 3 :<br />

1. Os Estados Membros reconhecem o direito das crianças a repouso e<br />

lazer, a brincar e a realizar atividades recreativas adequadas a sua<br />

idade e assim como o direito de participar livremente na vida cultural<br />

e as artes.<br />

3 IPA- Espanha, Associação Internacional pelo direito das crianças a brincar http://www.marinva.es/; Nações<br />

Unidas- Direitos Humanos http://www.ohchr.org/<br />

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2. Os Estados Partes respeitarão e promoverão o direito da criança a<br />

participar plenamente na vida cultural e artística e encorajarão<br />

oportunidades apropriadas, em condições de equidade, de participar de<br />

atividades culturais, artísticas, recreativas e de lazer.<br />

Como apontado por Louro (2006, p. 105), "filósofos como Platão, Aristóteles e,<br />

posteriormente, Quintiliano, Montaigne e Rousseau, destacaram o papel do jogo na<br />

educação". Grandes autoridades da psicologia do desenvolvimento, tais como Piaget,<br />

Vygotsky e Bruner salientam a importância do brincar no desenvolvimento do indivíduo”.<br />

Vygotsky (2001) afirma que o jogo contribui para o desenvolvimento mental, emocional e<br />

sociocultural, ou seja, o desenvolvimento integral do indivíduo.<br />

Na educação infantil, foi Froebel (1989) quem estabeleceu o jogo como ferramenta<br />

pedagógica. Para as crianças é muito motivador aprender através de jogos. Segundo Louro<br />

(idem, p. 106) "o jogo em si possui componentes do cotidiano e o envolvimento desperta o<br />

interesse do aprendiz, que se torna um sujeito ativo do processo".<br />

O Jogo na Educação Musical<br />

Para a área de educação musical, o jogo desempenha um papel fundamental. Os<br />

principais educadores do século 20, concordam com a necessidade de utilizarmos o jogo<br />

como ferramenta didática na educação musical. Podemos, inclusive, encontrar muitas<br />

referências a este respeito nos trabalhos de Dalcroze (apud BACHMANN, 1998), Orff-<br />

Keetman (apud GOODKIN, 2002), e Willems (2002), entre outros.<br />

O jogo é um ato espontâneo e voluntário. As crianças estão dispostas a jogar pelo<br />

simples prazer, o que torna o jogo um recurso ideal para levar música para os estudantes.<br />

Jogos com música permitem desenvolver determinados competências musicais ao mesmo<br />

tempo em que proporcionam uma experiência real e contextualizada da música.<br />

Em muitas culturas, há uma grande variedade de jogos que usam a música como<br />

elemento essencial. Podemos classificar os jogos musicais de diferentes maneiras. Busqué e<br />

Pujol (1996), os classificam como: jogos com deslocação, sem deslocação, jogos dançados, e<br />

jogos com objetos. Delalande (1984 apud BRITO, 2003, p. 31) "relaciona as formas de<br />

atividades lúdica propostas por Piaget à três dimensões presentes na música: jogo sensóriomotor,<br />

jogo simbólico e jogo com regras.” Ao agruparmos os jogos com base em seu<br />

elemento musical mais significativo, podemos encontrar:<br />

1. Jogos vocais: ecos, provérbios, rimas, adivinhações, jingles, trava-línguas e<br />

brincadeiras de escolhas que desenvolvem a capacidade respiratória, a emissão, a articulação,<br />

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a impostação, a ampliação da tessitura, que permitem o trabalhar elementos melódicos<br />

específicos, desenvolver audição interior, construir vocabulário, reforçar a aprendizagem de<br />

idiomas, facilitar a compreensão da forma musical e criatividade.<br />

2. Jogos rítmicos: com instrumentos, com objetos, percussão corporal que<br />

desenvolvem o senso rítmico, a memória, a identificação de células rítmicas, a técnica<br />

instrumental, a descoberta das possibilidades sonoras dos instrumentos e a improvisação.<br />

3. Jogos com movimento: canções com gestos, canções de pular a corda, canções de<br />

roda, jogos de mãos, jogos de dedos, jogos de equilíbrio, jogos pulados, jogos de velocidade,<br />

jogos de perseguição e jogos de improvisação de movimentos que permitem o<br />

desenvolvimento de habilidades motoras, o desenvolvimento espacial, a coordenação, a<br />

lateralidade e o esquema corporal.<br />

4. Jogos educativo-musicais (ou didático-musicais): jogos com os nomes das notas,<br />

jogos para distinguir entre o som e o silêncio, a origem/direção do som, timbres, alturas,<br />

durações, intensidades, que permitem aprender as grafias da linguagem musical e discriminar<br />

as propriedades do som.<br />

Entre os jogos que contêm a música como elemento principal destacam-se os jogos<br />

tradicionais e folclóricos. "Através de jogos populares, podemos conhecer certas tradições e<br />

costumes que compõem a nossa herança cultural, e que formam parte de nosso passado e<br />

conformam a nossa identidade" (SOLÉ, In: BUSQUÉ; PUJOL, 1996, p. 9). Infelizmente,<br />

porém, muitos desses jogos tradicionais estão se perdendo nos tempos atuais. Devido às<br />

mudanças do modo de vida na sociedade contemporânea, "a criança vem perdendo as<br />

referências educativas do jogo e da brincadeira para ficar imersa num mundo consumista e<br />

alienante [...]" (RAMOS, 2008, p. 13).<br />

Como dito acima, jogar é uma necessidade e um direito, mas para que nossos alunos<br />

possam exercer este direito na sua totalidade, pais e educadores precisam fomentar a<br />

utilização deste tipo de atividades lúdicas no tempo livre das crianças.<br />

A experiência descrita adiante exemplifica como a escola pode contribuir<br />

expandir o repertório de jogos e brincadeiras infantis das crianças. O uso destes recursos de<br />

forma voluntária e espontânea permitirá a interação entre os alunos nesta etapa crucial do<br />

desenvolvimento da socialização.<br />

para<br />

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Brincando na Sala de Aula: uma experiência na Espanha<br />

O projeto intercultural "Brincando fazemos amigos: jogos de cinco continentes" foi<br />

realizado na escola de ensino infantil e fundamental “9 de Outubro” na cidade de Alcàsser em<br />

Valência. Este projeto foi realizado durante todo o ano letivo 2008-2009, e de forma<br />

interdisciplinar com todas as áreas do currículo de ensino infantil e fundamental.<br />

O objetivo principal do projeto foi recuperar os jogos tradicionais de diversas partes<br />

do mundo, especialmente da região de Valência, e dos países de origem dos estudantes<br />

estrangeiros da escola. O intuito secundário foi de promover o respeito pelas diferenças e<br />

conscientização de todos os alunos em relação à outras culturas, bem como o de fornecer uma<br />

ampla gama de jogos para as crianças brincarem no horário do recreio escolar.<br />

A ideia de resgatar os jogos tradicionais teve como justificativa os problemas de<br />

convivência detectados na escola após a chegada de um número considerável de famílias<br />

estrangeiras à localidade. Para ser trabalhado em cada curso foi selecionado um país de um<br />

continente diferente. A equipe de professores da escola preparou um dossiê com informações<br />

sobre os diversos países, contendo mapas, rimas, poemas, obras de arte, jogos tradicionais,<br />

canções e danças a serem trabalhados em sala de aula com seus respectivos grupos.<br />

Tomando como referência os objetivos, capacidades e conteúdos estabelecidos nos<br />

currículos da educação infantil e do ensino fundamental foram propostos pequenos projetos<br />

ou tarefas integradas.<br />

Atividades realizadas no segundo ciclo da educação infantil<br />

No segundo ciclo da educação infantil foi trabalhado o tema Espanha, mais<br />

especificamente a Comunidad Valenciana, com o intuito de partir da realidade mais próxima<br />

à criança de 3 a 5 anos de idade e contribuir para uma aprendizagem significativa. Com base<br />

em uma abordagem abrangente, foi utilizado como elemento motivador a tela Kinderspiele<br />

(Jogos de crianças) do pintor flamengo Pieter Brueghel 4 .<br />

4 A ideia de utilizar esta pintura foi tirada de uma oficina de música ministrada pela professora Sofía López-Ibor<br />

durante a Conferência Nacional Orff-Schulwerk nos Estados Unidos, em 2007.<br />

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Figura 1 - Jogos de crianças (1560), Pieter Brueghel,<br />

Kunsthistorisches Museum de Viena. 118 x 161 cm. óleo sobre tábua.<br />

Esta tela retrata 86 jogos tradicionais do século 16 representados por 249 personagens,<br />

que foram catalogados por Navacerrada (2007). Algumas das atividades iniciais se<br />

concentraram na descrição da cena, na localização de uma determinada atividade ou a<br />

imitação dos movimentos representados pelas figuras na imagem, conforme demonstra a<br />

figura 2.<br />

Figura 2 e 3 - Jogo da bola. Aluna da Escola 9 de Outubro e detalhe da<br />

tela de Brueghel.<br />

Visando partir dos conhecimentos prévios dos alunos, foi realizada uma lista de suas<br />

brincadeiras preferidas. Cada aluno teve que ensinar um jogo novo para seus companheiros.<br />

Também foi solicitado aos alunos que descobrissem um jogo popular com música, pedindo<br />

ajuda a seus pais ou avós e eles tiveram que explicar e mostrar o jogo para o restante da<br />

classe. Essa experiência ajudou a desenvolver valores e atitudes de respeito entre alunos e<br />

reforçou os laços de amizade entre eles (vide figuras 3 e 4).<br />

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Figuras 3 e 4. Alunos da Educação Infantil (5 anos) aprendendo a<br />

brincadeira tradicional catalã “A comprar Peix”<br />

Ao longo do ano letivo os alunos do terceiro ao quinto anos aprenderam diversos jogos<br />

representados na pintura de Brueghel que ainda estão presentes na cultura Valenciana como<br />

galinha cega, “la piñata”, boliche, cadeira da rainha, fazer bolhas de sabão, o peão, entre<br />

outros (vide figuras 5 e 6).<br />

Figura 5 e 6. Jogo da cadeira da Rainha. Detalhe da pintura de<br />

Brueghel.<br />

Os jogos musicais tradicionais serviram para trabalhar diferentes aspectos musicais do<br />

currículo da educação infantil. Abaixo está uma lista de jogos ensinados na educação infantil<br />

e no primeiro ano do fundamental:<br />

Jogos musicais da Espanha: Al pasar la barca , Al Corro la Patata, Chocolate<br />

molinillo, ¿Dónde están las llaves?, El juego chirimbolo, El patio de mi casa, en Salamanca<br />

tengo, En el salón del Prado, Este corro es un jardín, Pasimisí, Soy la reina de los mares, Un<br />

Cocherito leré.<br />

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Figura 7. Brinquedo de roda “Chocolate molinillo”<br />

Jogos musicais de Valência: A la cadireta, Peu regató, Pissi -pissiganya, La Xata<br />

Merenguera, Palmeja, La tia Monica, Aserrín aserrán, El sambori, La Caterineta, Els quatre<br />

llauradors, En Joan Petit, Volta cap aquí, El ball de la civada, El ball de Sant Corneli, Els<br />

esclops d´en Pau.<br />

Figuras 8. Brinquedo de roda “Pissi, pissiganya”<br />

Para atingir o objetivo de envolver as famílias na vida escolar, conforme estabelecido<br />

pela LOE, os pais e os avós dos alunos tiveram a oportunidade de participar em várias<br />

atividades do projeto, contando histórias e ensinando brincadeiras tradicionais a todos. Os<br />

alunos concluíram que eles conheciam uma quantidade menor de jogos do que seus pais e<br />

avós, e que estes brincavam com objetos simples, como pedras ou paus enquanto eles utilizam<br />

brinquedos sofisticados e caros.<br />

Como ponto culminante do trabalho desenvolvido ao longo do curso, os alunos<br />

tiveram a oportunidade de compartilhar o aprendizado com os colegas, pais e parentes em<br />

uma apresentação musical. A atividade final consistiu na representação de brincadeiras<br />

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musicais de vários países aprendidas na aula de música, e concluiu com uma dramatização<br />

coletiva da pintura "Jogos de Crianças", com representantes de todos os cursos da escola.<br />

Esta apresentação consistiu em uma "viagem musical ao redor do mundo", integrando<br />

diferentes linguagens: corporal, verbal, musical e plástica. Os alunos recitaram versos e<br />

poemas, cantaram, tocaram instrumentos, dançaram e dramatizaram os jogos selecionados<br />

(vide figura 9).<br />

Figura 9. Atividade final, dramatização da pintura de Brueghel.<br />

Conclusão<br />

A partir deste projeto, foi possível recuperar uma grande quantidade de jogos<br />

tradicionais. Os alunos e alunas da escola aprenderam jogos de diferentes países, o que<br />

facilitou uma aproximação à cultura de seus pares. Os estudantes gradualmente incorporaram<br />

esses jogos em seu tempo livre e estreitaram suas relações interpessoais. Na aula de música,<br />

os alunos trabalharam conteúdos e habilidades por meio dos jogos e aprenderam a desfrutar<br />

da música brincando.<br />

Vivemos em uma sociedade multicultural. Acreditamos que ensinando aos alunos<br />

jogos populares pertencentes ao seu meio bem como jogos de outros países, estamos ajudando<br />

a restaurar e manter as nossas tradições, oportunizando o conhecimento de aspectos de outras<br />

culturas, criando assim um ambiente intercultural que pode ajudar a torná-los mais tolerantes<br />

e solidários.<br />

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Referências<br />

BACHMANN, Marie-Laurie. La Rítmica Jaques-Dalcroze: una educación por la música y<br />

para la música. Madrid: Pirámide. 1998.<br />

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil: propostas para a formação integral da<br />

criança. 2. Ed. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2003.<br />

BUSQUÉ, Montserrat; PUJOL, M. Antònia. Ximic, Jocs tradicionals. Berga: Amalgama<br />

Edicions ,1996.<br />

DELVAL, Juan. Crescer e pensar. A construção do conhecimento na escola. Porto Alegre:<br />

editora artes médicas, 1998.<br />

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14/1970, de 4 de agosto. Madrid: Jefatura de Estado, 1970.<br />

______.Ley Orgánica de Ordenación General del Sistema Educativo (LOGSE). Ley 1/1990,<br />

de 3 d Octubre. Madrid: Jefatura del Estado, 1990.<br />

______. Ley Orgánica de Calidad de la Educación (LOCE). Ley 10/2002, de 23 de<br />

diciembre. Madrid: Jefatura del Estado, BOE, 2002.<br />

______. Ley Orgánica de Educación (LOE). Ley 2/2006, de 3 de mayo. Madrid: Jefatura del<br />

Estado, BOE, 106 de 4/5/2006. 2006a.<br />

______.Real Decreto 1631/2006, de 29 de diciembre, por el que se establecen las enseñanzas<br />

mínimas correspondientes a la Educación Secundaria Obligatoria. Madrid: Jefatura del<br />

Estado, 2006b.<br />

______.Real Decreto 1513/2006, de 7 de diciembre, por el que se establecen las enseñanzas<br />

mínimas de la Educación primaria. Madrid: Jefatura del Estado, 2006c.<br />

______. Real Decreto RD 1630/2006, de 29 de diciembre, por el que se establecen las<br />

enseñanzas mínimas del segundo ciclo de Educación Infantil. Madrid: Jefatura del Estado,<br />

2006d.<br />

FROEBEL, Frederich. L´Educació de l´home i el jardí d´infants. Barcelona: Vic, 1989<br />

GENTILE, Paola; BENCINI, Roberta. Construindo competências: Entrevista com Philippe<br />

Perrenoud. In Nova Escola. Brasil , 2000, p. 19-31.<br />

GOODKIN, Doug. Play, sing & dance: an introduction to Orff Schulwerk. Miami, US: Schott<br />

Music Corporation, 2002.<br />

HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. O Jogo como elemento da cultura. São Paulo:<br />

Perspectiva/editora da USP, 1971.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

LÓPEZ-IBOR, Sofía. Playing the Old Games. The Orff Echo Volume XL, Number 1 (Fall):<br />

9-10, 2007.<br />

LOURO, Viviane dos Santos. Educação musical e deficiência: propostas pedagógicas. Sao<br />

José dos Campos, SP: Ed. do Autor, 2006.<br />

NAVACERRADA, Ricardo. 2007. Jeux d´enfants: una visión detallada del juego tradicional<br />

en el Renacimiento europeo. Buenos Aires: www. efdeportes.com/ Revista Digital.<br />

RAMOS, José Ricardo da Silva. Dinâmicas, brincadeiras e jogos educativos. Rio de Janeiro:<br />

DP&A, 2008.<br />

VIGOTSKY, Liev. El papel del juego en el desarrollo del niño. In El Desarrollo de los<br />

procesos Psicológicos Superiores. Barcelona: Ed. Crítica, 2001<br />

WILLEMS, Edgar. El valor humano de la educación musical. Barcelona: Paidos ibérica,<br />

2002.<br />

ZARAGOZÁ, Josep Lluís. Didáctica de la música en la educación secundaria. Competencias<br />

docentes y aprendizaje. Barcelona: Graó, 2009.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A Educação Musical e o Universo Radiofônico Infantil<br />

Melissa Lima<br />

UFBA<br />

melissablima@gmail.com<br />

Mara Pinheiro Menezes<br />

UFBA<br />

Mara.kroger@gmail.com<br />

Resumo: O presente relato tem como foco agregar a educação musical infantil e o universo<br />

radiofônico na comunicação, expressão e desenvolvimento humano. A meta do projeto<br />

Educação Musical e Rádio Infantil, projeto de estágio da graduanda Melissa Lima,<br />

supervisionado por Mara Menezes e dado início em março do ano de 2011, é auxiliar e<br />

incentivar o aluno a pesquisar, criar e produzir dois programas radiofônicos infantis, os quais<br />

serão veiculados na Rádio Educadora FM, 107.5, através do Programa Rádio Legal. A Rádio<br />

Legal é um projeto de 54 programas radiofônicos infantis, inscrito para o Edital do IRDEB e<br />

aprovado em 2008. A data prevista para início da veiculação dos programas é agosto de 2011.<br />

O objeto do projeto de estágio Educação Musical e Rádio Infantil é um grupo de oito alunos,<br />

que se encontram semanalmente no espaço de educação musical “A Casa da Música”<br />

participando de vivências, produções e discussões tanto especificamente musicais quanto de<br />

um contexto artístico integrado. Algumas produções são capturadas, selecionadas e<br />

arquivadas, para ao fim do projeto, fazerem parte da edição do programa radiofônico. Dentre<br />

os resultados parciais do projeto podemos citar, além do desenvolvimento musical, as<br />

respostas de cunho humano, que são claramente percebidas a cada encontro, desde autoreflexões,<br />

desinibições e aumento da liberdade e força de expressão musical, como a sutileza<br />

com que os sons e produções musicais são geradas e observadas por seus geradores. Nas<br />

atividades de captura do áudio das produções musicais e no registro da imagem de momentos<br />

singulares de socialização em sala de aula, os alunos demonstraram ser capazes de fazer gerar<br />

autoanálises e autodisciplina, percebendo a importância, por exemplo, do som e silêncio (do<br />

saber ouvir e expressar-se em momentos distintos).<br />

Palavras chave: Educação musical, rádio infantil, estágio supervisionado, desenvolvimento<br />

musical e humano<br />

A Educação Musical, o Rádio e o Desenvolvimento do Ser Humano<br />

O fazer musical é um fenômeno universal, pois está presente em todos os tempos e<br />

grupos sociais (PENNA, 2010, p.22). Porém, cada cultura percebe a música como uma<br />

linguagem distinta, e por que não dizer, uma linguagem cultural. A música comunica,<br />

expressa e ainda estabelece-se como identidade cultural para a sociedade que a produz e<br />

reproduz. Nota-se atualmente, que muitas culturas já tratam a estética musical como algo<br />

naturalmente enraizado e ligeiramente rígido desde a escuta musical na infância. A criança<br />

como ser, ainda no início da formação das suas capacidades cognitivas e intelectuais, deveria<br />

ser incentivada a manter-se aberta a construções próprias acerca do fazer e do apreciar<br />

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musicalmente. Conforme Gurdjieff (2011), a música, acima de tudo, deve servir para conduzir<br />

a humanidade a um despertar.<br />

Muito do que ouvimos, contudo, é música "subjetiva". Não apenas ela flui<br />

do estado subjetivo do compositor, mas ela afeta cada ouvinte de acordo com<br />

o estado subjetivo no qual, por acaso, ele se encontra. Infinitamente mais<br />

rara é a música "objetiva", que requer um conhecimento objetivo da natureza<br />

humana, mais especificamente, da função e propriedades do sentimento e de<br />

como o sentimento é afetado pela "qualidade" específica de cada vibração. A<br />

música objetiva afeta todas as pessoas da mesma maneira. Ela não só toca os<br />

sentimentos como os transforma, trazendo o ouvinte a um estado unificado<br />

ou "harmonioso" dentro de si mesmo e, dessa maneira, a uma nova relação<br />

com o Universo que é em si um campo de vibrações. (INSTITUTO<br />

GURDJIEFF BRASIL, 2011).<br />

De acordo com Schafer, “O rádio é uma voz invisível, e como é uma voz invisível,<br />

tem poder e tem influência que pode ser amigável ou aterrorizante...” (1998, p.83). Esse<br />

pensamento nos permite mergulhar em um mar de possibilidades educativas que permeia o<br />

universo radiofônico. É preciso, de antemão, conceber a importância do compromisso com o<br />

conteúdo e o formato das informações que serão passadas através do rádio como um veículo<br />

de comunicação em massa e ater-se à qualidade. O rádio propõe ao ouvinte desenvolver um<br />

ambiente de construção de pensamentos críticos, educacionais, culturais, sociais e humanos,<br />

porém é notório que não é normalmente usado com esse intuito. Sabendo-se desse potencial,<br />

vale ressaltar um pensamento defendido por Schafer:<br />

O rádio poderia ser um instrumento educacional muito mais forte do que é..<br />

A televisão é fria, o rádio é quente... quer dizer, o rádio tem mais impacto<br />

imediato que a televisão. A televisão é mais textura e cor, mas não tão forte e<br />

imediata como uma voz súbita no rádio pode ser. (SCHAFER, 1998, p.87).<br />

O universo radiofônico estimula na criança seu potencial natural: o poder criativo no uso do<br />

imaginário. Apesar de estimulada diretamente por apenas um canal de aprendizagem, o auditivo, a<br />

criança inconscientemente aciona outros meios que poderão ajudá-la a formular um entendimento<br />

mais elaborado ou satisfatório. A relação entre essa percepção auditiva e o imaginário estabelece-se<br />

através de visualizações cênicas, remetendo-se a cores, cheiros, texturas e lembranças. Com isso, é<br />

notória a importância qualitativa com a resposta que a paisagem sonora radiofônica passará para o<br />

ouvinte infantil. Se observarmos pontos de interesse para o público adulto, principalmente pedagogos,<br />

pais, dentre outros interessados, podemos constatar duas principais atuações advindas do universo<br />

radiofônico. Uma, é aquela em que o adulto ouvinte consegue agregar novas técnicas didáticas<br />

intrinsecamente sugeridas ao longo do programa. A outra é a resultante das diversas abordagens<br />

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culturais e musicais, agregando valores sociais e educacionais, satisfazendo pedagogicamente tanto ao<br />

adulto ouvinte quanto à demanda infantil a qual ele julga necessária.<br />

O Projeto “Rádio Legal” e a Prática de Ensino<br />

Diante da meta final do projeto de Rádio e Educação Musical, que é a produção de<br />

dois programas radiofônicos infantis, será disponibilizado espaço para veiculação dos<br />

programas na Rádio Educadora FM, 107.5, inseridos no Programa Radiofônico Infantil:<br />

Rádio Legal. Em suprimento da aprovação do edital do IRDEB (2008) de Programa<br />

Radiofônico Infantil, o projeto Rádio Legal é encarregado de criar o tema, conteúdo, roteiro e<br />

gravação de 54 programas radiofônicos voltado para o público de 5 a 10 anos. Esses<br />

programas já estão sendo gravados e editados desde o começo de 2011. Cada programa<br />

precisa ter 30 minutos de edição e será veiculado aos sábados às 9 horas da manhã (horário<br />

que poderá sofrer alterações segundo a programação interna da Educadora FM) na Rádio<br />

Educadora FM, 107.5. A estrutura do programa integra blocos fixos com músicas, sempre<br />

respeitando e dialogando com o tema proposto no dia. Como exemplo de estrutura, temos:<br />

1. Vinheta (vinheta de entrada da Rádio Legal gravada);<br />

2. “Apresentação” (vinheta específica do bloco e apresentação do tema);<br />

3. “Vamos Ouvir Música!” (vinheta específica do bloco e músicas relacionadas<br />

ao tema);<br />

4. “Curiosidades” (vinheta específica do bloco e curiosidades ou entrevista com<br />

participação das crianças);<br />

5. Músicas;<br />

6. “Contação de Histórias” (vinheta específica do bloco e contação de história<br />

literária relacionada ao tema com participação das crianças);<br />

7. Músicas;<br />

8. “Trava-língua” (vinheta específica do bloco e trava-línguas gravados por<br />

crianças);<br />

9. “Paisagem Sonora” (vinheta específica do bloco e instantes de sonoridades<br />

capturadas em ambientes diversificados, lançando a pergunta: “Que paisagem<br />

sonora é essa?”);<br />

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10. “Brincadeiras” (vinheta específica do bloco e brincadeiras de crianças,<br />

gravadas por elas);<br />

11. “Fazendo Som!” (vinheta específica do bloco e improvisações de sons e<br />

músicas gravadas pelas crianças);<br />

12. “Poesias” (vinheta específica do bloco e recital de poesias compostas e<br />

gravadas pelas crianças);<br />

13. Músicas;<br />

14. “Agenda Cultural” (vinheta específica do bloco e divulgação cultural sem<br />

datas, apresentando lugares e movimentos culturais fixos pela cidade);<br />

15. (Gravações engraçadas – “erros de gravação de blocos e comentários, risadas,<br />

fechando uma sessão bem descontraída e engraçada”);<br />

16. Créditos.<br />

O programa é pensado, construído respeitando o formato do roteiro e o tema escolhido<br />

para o mesmo, gravado e editado. Somente depois disso é enviado para a Rádio Educadora<br />

para futura veiculação. Os programas são elaborados por adultos (em sua maior parte) e<br />

crianças. As gravações contam com crianças de escolas públicas e privadas de toda Salvador.<br />

Profissionais de cada área de tema abordado são convidados especialmente para a sessão de<br />

entrevista, onde as crianças fazem as perguntas.<br />

Ao iniciar a veiculação do primeiro programa será lançada a proposta de parceria com<br />

a diretoria e o grêmio acadêmico das escolas regulares de Salvador, disponibilizando parte do<br />

programa para divulgação de feiras e projetos culturais e de ciência (ocorridos nas escolas),<br />

onde crianças envolvidas nos mesmo trarão conclusões experimentais, informações. Assim,<br />

estará sendo permeada a inter-relação dos conteúdos e disciplinas escolares no<br />

desenvolvimento do tema de cada programa.<br />

A partir de todas essas informações anteriormente citadas, é válido pontuar que os<br />

programas gerados como produto do projeto Rádio e Educação Musical aderem ao formato<br />

estipulado pelo programa infantil Rádio Legal. Julga-se, a partir disso, que estará sendo<br />

estimulado o comprometimento das crianças, enquanto produtores de programas radiofônicos<br />

profissionais, em manter essa formatação. O resultado humano é o desenvolvimento da<br />

responsabilidade.<br />

O projeto Educação Musical e Rádio, atual prática de ensino da graduanda Melissa<br />

Lima, orientada por Mara Menezes, busca agregar momentos de produção musical e de<br />

experimentos especificamente pedagógicomusicais, como jogos e atividades musicais e de<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

elementos do som por exemplo, com o universo radiofônico. Essa tarefa nem sempre é fácil,<br />

pois há a demanda humana (individual e social) e dos prazos a serem cumpridos.<br />

Percebe-se assim, necessidade de avaliação do quão necessário e importante é o<br />

processo dos encontros das aulas e suas produções. Com a escolha do tema do programa já<br />

brota um arsenal de possibilidades de músicas, brincadeiras, travalínguas, parlendas, histórias,<br />

questionamentos para a entrevista, dentre outros elementos. Os alunos trabalham a apreciação<br />

musical através da seleção das músicas a fazerem parte do programa. Ampliam seu repertório<br />

musical e sonoro, além de conhecerem e se apropriarem de novos significados e<br />

experimentações musicais e lúdicas.<br />

O Rádio Como Ambiente do Pensar, Fazer e Comunicar Musical e<br />

Sonoramente<br />

O processo de elaboração de um programa de rádio tendo como fator a educação<br />

musical mostra-se efetivo em suas metas educacionais e humanas. Uma das mais prazerosas<br />

observações é a avaliação que surge a cada encontro. Durante esses momentos em sala ou<br />

estúdio, são notórias as transformações de comportamento. A proposta é claramente quebrar<br />

os condicionamentos de conduta. O aluno com baixa autoestima é estimulado delicadamente e<br />

didaticamente para posicionar-se, encontrar-se no grupo e expressar-se verbalmente e<br />

musicalmente. Sente-se valorizado e importante ao ouvir suas colocações e produções<br />

gravadas. O mesmo acontece com o aluno muito agitado e com dificuldade de concentração.<br />

Ele precisa (mesmo que não seja a prioridade para ele no momento) ouvir, esperar, silenciar<br />

para conseguir atingir sua meta: ouvir-se nas gravações. Sutilmente são trabalhados fatores<br />

terapêuticos.<br />

A “Natureza” foi o primeiro tema escolhido pelas crianças. Esse tema foi discutido,<br />

pesquisado e desenvolvido pelos alunos dentro e fora da sala de aula através de interessantes<br />

experiências de diálogos e vivências sonoras. Curiosidades foram aparecendo ao longo das<br />

aulas (o que continua até o momento presente) e dando asas a confecções de poesias,<br />

sonorizações e ensaios de diálogos. Muitos momentos desse processo foram registrados. As<br />

crianças puderam mergulhar no universo radiofônico com a intenção de repassar o que<br />

aprenderam e descobriram sozinhas ou coletivamente, através das trocas de informações com<br />

o grupo.<br />

Perante a vastidão de oportunidades que o universo radiofônico pode sugerir, há a<br />

conexão entre os temas abordados na rádio e o desenvolvimento do seu conteúdo e a<br />

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interdisciplinaridade das escolas regulares. Aproveitando as feiras de ciências e feiras<br />

culturais das escolas, alunos, diretores e professores poderão ser convidados a participar de<br />

entrevistas elaboradas e conduzidas pelos alunos e em concordância com o tema. Assim, tanto<br />

estará sendo trazido para dentro do contexto radiofônico a abordagem escolar, quanto o<br />

contrário. Percebe-se a importância para a formação do pequeno aprendiz como ser pensante e<br />

mobilizador de ideias e divulgador de conceitos.<br />

A Educação Musical Antroposófica<br />

Se trouxermos o olhar para a importância da criação e da expressão artística das<br />

crianças, constatamos que uma educação musical antroposófica as deixa mais livres para<br />

experimentar, pois há, prioritariamente, o cuidado com o conteúdo humano. O pesquisador,<br />

educador, músico e biólogo Marcelo Petraglia afirma que:<br />

Quando pensamos agora em uma real formação do indivíduo, queremos<br />

acima de tudo desenvolver suas potencialidades. Torná-lo apto a, no futuro,<br />

aprender tudo que quiser e precisar, ter à disposição infinitas formas de<br />

pensar, sensibilidade para perceber sua relação com os outros e o mundo e<br />

vontade de agir e transformar seu meio ambiente. Isto significa que a criança<br />

em fase escolar deveria ter a possibilidade de desenvolver as potencialidades<br />

de sua alma, sem contudo dar a seus processos uma forma cristalizada e<br />

definitiva. (...) nesse sentido, as artes e em especial a música são uma<br />

ferramenta poderosa e indispensável (PETRAGLIA, 2011).<br />

Uma educação musical com olhar antroposófico visa otimizar a relação do ser humano<br />

com seu desenvolvimento holístico e com a natureza, através da linguagem musical. Há então<br />

o despertar de novos conceitos e pontos de vista, onde a música é uma pura forma de<br />

expressão e autoconhecimento. Nessa busca devem-se quebrar os parâmetros convencionais<br />

do fazer musical, assim como a estética musical (pré) existente. Isso se amplia para a forma<br />

como os instrumentos devem ser tocados, possibilitando criativamente a curiosidade e<br />

nascimento de novas formas de experimentar e conduzir sonoridades de instrumentos<br />

convencionais e não convencionais.<br />

Apesar da proliferação de novos métodos, teorias e abordagens para o ensino de<br />

música, ainda vemos prevalecer o ensino tradicional focado na leitura e escrita musicais.<br />

Percebemos que há um universo equivocado onde, para uma boa educação musical, o aluno<br />

deve, indispensavelmente, dominar a escrita e leitura da partitura formal. Devemos<br />

reconhecer outras necessidades implícitas que há por trás desta formalidade da escrita<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

musical. A expressão musical no aspecto criativo nos permite ir além. Olhar as necessidade e<br />

buscar supri-las também com criatividade.<br />

Dentre muitas alternativas, a simbologia musical se constitui como uma rica<br />

possibilidade pedagógico musical. Elementos, desenhos, cores, gráficos, texturas, paisagens<br />

sonoras, entre tantos outros, podem ser considerados argumentos de comunicação musical. O<br />

aluno, enquanto pequeno compositor, elaborando suas próprias peças sonoras e/ou musicais,<br />

pode ser encorajado a registrá-las. Mas como, se o mesmo ainda não lê “as bolinhas pretas”?<br />

Seria o objetivo final da educação musical a leitura e escrita da notação tradicional?<br />

Músicas, sons e sonoridades, num sentido mais amplo da palavra, podem ser<br />

transcritas para o papel, sem que haja pentagrama, notas ou figuras de tempo conhecidas ou<br />

reconhecidas por músicos acadêmicos. Surge então a importância de, criativamente, achar ou<br />

adequar elementos que mais auxiliem o pequeno músico a registrar seus sons e músicas<br />

produzidos. Que textura tem esse instrumento? É forte ou piano? Qual movimento sonoro ele<br />

produz? E quanto à dinâmica? Onde há o silêncio? Quando o som retorna? E através, de<br />

perguntas como essas, podemos fazer com que a criança mergulhe em um mar de<br />

possibilidades descritivas do som por ela produzido.<br />

Vale salientar que um dos blocos radiofônicos é a Paisagem Sonora, onde o fator<br />

pedagógico musical permeia na escuta do ambiente sonoro. A criança ouvinte se remete a<br />

uma viagem de espaço, tempo e memórias ao lidar com o poder da imaginação auditiva.<br />

A Música Enquanto Fator de Desenvolvimento Holístico do Ser<br />

Se ampliarmos nosso olhar, percebemos que há um diálogo regido entre a música e o<br />

ser humano. Esse diálogo promove alterações de estados do campo emocional, físico e mental<br />

do indivíduo, enfatizando a importância da relação entre a música, a natureza e o homem.<br />

Holisticamente, os diferentes timbres são capazes de produzir reações e conexões com<br />

aspectos humanos peculiares e que estão associados à melodia, ritmo e harmonia e aos<br />

elementos da natureza. O som, antes mesmo de ser formatado por nosso cérebro como tal, é<br />

vibração sonora. De acordo com Petraglia “o fenômeno externo e presente em toda a natureza<br />

é vibração. Quando somos tocados por ela temos uma sensação e, se conseguimos extrair do<br />

fenômeno um sentimento artístico, estamos diante de um fato musical.” (2010, p.186). Assim,<br />

a vibração sonora além de captada por nosso ouvido interno é percebida por todo nosso corpo.<br />

Ela é capaz de produzir ressonâncias com nossa estrutura física e nosso campo energético.<br />

Sobre a percepção humana para os fatores sonoros e musicais Petraglia defende que:<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Esta percepção que se dirige ao eterno observador dentro de nós é recebida<br />

em diversos níveis, desde uma suave sensação de movimento, a evocação<br />

dos mais variados sentimentos até o reconhecimento de um significado que<br />

revela a essência do fenômeno percebido. Devemos reconhecer também que<br />

a impressão recebida do mundo externo é altamente modulada por nossos<br />

próprios processos e memórias subjetivas (PETRAGLIA, 2010).<br />

Estudos de sonocitologia tem mostrado que as células sadias do corpo humano<br />

mantém vibrações. Essas, quando colocadas em escala audível formam um padrão constante<br />

de som. Sabe-se ainda que uma célula cancerígena, por exemplo, expressa um “ruído”, pois<br />

não estabelece um padrão de vibração, por ter sido “quebrado”. Hoje, a Massagem Sonora<br />

tenta (re)organizar esse padrão vibratório através de estímulos de vibrações sonoras no<br />

paciente. Geralmente são utilizados instrumentos de vibração sonora direta (Mesa-lira ou<br />

Monochord Table ou ainda os Bowls Tibetanos) onde instrumentos são colocados sobre ou<br />

sob o corpo humano e instrumentos de vibração sonora indireta (Flautas, Tambores,<br />

chocalhos, Carrilhão de Tubos metálicos, Didgeridoo, entre outros), havendo o cuidado com a<br />

frequência de cada instrumento usado. Cada paciente recebe vibratoriamente e sonoramente<br />

sua composição.<br />

A música nos permite sensações subjetivas incríveis. Podemos acessar memórias<br />

sonoras, podemos promover a sensação hedônica da curiosidade, do prazer ou ainda da<br />

tristeza. Com a música podemos acender ou apagar o interesse e com isso ganhar ou perder<br />

chances de promoção do bem-estar ou de ensinamentos sociais e humanos. Podemos ainda<br />

auxiliar para autorreflexões do ouvinte. Gurdjieff, quando amplia o pensamento sobre a<br />

vibração acústica, a música e a relação de ambas com o ser humano ressalta que:<br />

Quando se toca uma determinada nota num instrumento, outro instrumento<br />

próximo ressoa a mesma nota. É uma lei. Quando uma melodia toca a<br />

música do universo, o universo ressoa, da mesma forma. Quando uma<br />

melodia toca a música do universo e o universo ressoa, nosso universo<br />

interior também ressoa, matematicamente na mesma medida (Instituto<br />

Gurdjieff Brasil, 2011).<br />

Diante disso, percebemos que a troca musical se dá em um contexto mais amplo, o que<br />

implica uma maior responsabilidade para os agentes envolvidos nos processos da produção<br />

radiofônica, tanto para quem cria e veicula o programa, quanto para quem recebe essa<br />

produção, ou seja, o ouvinte.<br />

Conclusão<br />

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Os resultados preliminares da nossa Prática de Ensino indicam que a metodologia<br />

utilizada tem se mostrado eficaz à medida que proporciona ao aluno a oportunidade de criar e<br />

manipular ideias musicais criativamente dentro do contexto radiofônico. Tem sido percebida a<br />

expansão da expressão musical, corporal, oral, poética e social de cada criança durante os<br />

momentos da prática pedagógica. Em autoavaliações os alunos trouxeram entusiasmo e<br />

emoção ao perceberem-se indo além em suas colocações e atuações individuais e coletivas.<br />

Faz-se notório o universo radiofônico como contexto de atuação de amplo conceito<br />

pedagógicomusical, assim como meio de exercícios e reflexões para melhor desenvolver os<br />

potenciais do ser humano.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2011.<br />

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WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Musicalização Infantil na Escola Pública: um relato de experiência<br />

Roseane Ramos Mota<br />

UFBA<br />

roseaneramos86@hotmail.com<br />

Resumo: Este artigo trata de um relatório de estágio que aconteceu na Escola Municipal de<br />

Paripe, em Salvador - BA no ano de 2010. O trabalho foi desenvolvido com crianças entre 5 e<br />

6 anos de idade, de classe econômica e social menos favorecida. O objetivo geral do trabalho<br />

foi promover uma vivência musical com estas crianças, onde se utilizou diversos<br />

instrumentos, músicas de várias etnias, contextos culturais, estilos e épocas. Foram<br />

desenvolvidas atividades práticas envolvendo conceitos de música e vivenciados de forma<br />

lúdica e intuitiva.<br />

Palavras chave: Musicalização infantil, escola pública, bairro de Paripe<br />

Introdução<br />

O presente artigo relata uma experiência com musicalização infantil vivenciado na<br />

Escola Municipal de Paripe, localizada no subúrbio ferroviário de Salvador- BA. Tratou-se de<br />

um estágio supervisionado com carga horária de 68h de aulas teóricas com o professor<br />

orientador e 68h de aulas práticas. Este teve início em março de 2010 e finalizado em<br />

dezembro do mesmo ano.<br />

O objeto do estágio foi a abordagem da educação musical na escola pública –<br />

musicalização para crianças entre 5 e 6 anos de idade. O relatório de estágio, assim como este<br />

artigo, procurou trazer as reflexões realizadas durante o processo de musicalização das<br />

crianças e os resultados alcançados nessa prática de ensino, além de ser uma forma de<br />

observar e estruturar uma metodologia adaptada à realidade dessas crianças e ao contexto no<br />

qual ocorreu o estágio.<br />

A Escola Municipal de Paripe<br />

A Escola Municipal de Paripe, localizada no subúrbio ferroviário de Salvador é uma<br />

instituição de médio porte que atende a comunidade durante os turnos matutino, vespertino e<br />

noturno. Nessa escola é oferecida a educação básica que se inicia do pré-escolar (Grupo 5) e<br />

vai até o 5º ano do ensino fundamental I no período diurno. Durante o período noturno é<br />

oferecida uma educação voltada para jovens e adultos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.<br />

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A Turma<br />

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A turma era composta por 21 crianças entre 5 e 6 anos que cursavam o pré-escolar, ou<br />

seja, o primeiro nível que a escola oferece, atualmente chamado de Grupo 5.<br />

As crianças durante o período do estágio sempre se mostraram participativas e<br />

entusiasmadas em realizar as atividades, algumas mais animadas do que outras, porém todas<br />

queriam desfrutar daquele momento que não era comum nos outros dias de aula da semana.<br />

Metodologia<br />

As aulas foram realizadas na escola Municipal de Paripe, na sala de aula das crianças<br />

do Pré-escolar, Grupo 5. Aconteceram às quartas-feiras e esporadicamente às segundas-feiras<br />

com duração de 1h, iniciando às 13h 30 min.<br />

As atividades propostas foram baseadas nos métodos Willems, Dalcroze, Kodály e<br />

Martenot com influências de teóricos como Swanwick, Schafer e do educador Paulo Freire.<br />

Estrutura das aulas<br />

As aulas seguiam uma estrutura que variava de acordo às necessidades da turma e das<br />

atividades desenvolvidas em cada aula. Adaptou-se esta estrutura com base em estudos de<br />

Broock (2009), e criou-se uma forma que organizasse melhor as aulas, principalmente porque<br />

os alunos desta faixa etária necessitam de organização e rotina, isto segundo algumas<br />

educadoras musicais (BEYER, 2000; JOLY, 2003; FERES, 1998 apud BROOCK, 2009,<br />

p.44), que consideram a rotina como algo importante na educação das crianças. Acredita-se<br />

que essa importância possibilita sentimentos de estabilidade, segurança e facilidade de<br />

organização espaço-temporal.<br />

A sequência de atividades das aulas eram as seguintes:<br />

1) Acolhida- Novidades: Todos se sentavam no chão em forma de roda. Cada criança<br />

contava uma novidade. Exemplo: Como foi o final de semana, se viajou, fez algo que gosta<br />

muito, etc;<br />

Este momento era proposto para que a criança se sentisse recepcionada e pudesse<br />

compartilhar com os demais uma novidade.<br />

2) Canção de boas-vindas: Cantava-se a música do “Boa Tarde” no qual o nome de<br />

cada criança era pronunciado;<br />

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Neste momento além da canção de boas-vindas marcar o início da aula, era também<br />

para as crianças se sentirem presentes e importantes por estarem ali.<br />

3) Atividade de locomoção ou expressão corporal (roda, dança, brincadeira):<br />

Cantava-se ou ouvia-se uma música que sugeria movimentos;<br />

Este também era um momento de integração no qual as crianças, de acordo com<br />

Willems, são estimuladas a alongar o corpo, colocando-as prontas para cantarem, tocarem e<br />

criarem juntas. Dalcroze também traz o movimento corporal como importante para o trabalho<br />

da motricidade, socialização, memória, concentração, ouvido interior, criatividade.<br />

(FONTERRADA, 2008)<br />

4) Atividade de pulsação: Cantava-se ou ouvia-se uma música que era acompanhada<br />

por um instrumento de percussão ou pelo corpo;<br />

Este momento tinha como objetivo trabalhar e desenvolver o sentido de pulsação e<br />

também a apreciação musical propiciando o desenvolvimento auditivo.<br />

5) Execução musical: Tocava-se um instrumento de percussão onde era feita a<br />

execução de uma canção ou leitura de gráfico sonoro, etc;<br />

Neste momento era trabalhado o desenvolvimento auditivo como também a execução<br />

musical. Willems sugere que em uma aula de música deve conter atividades que possam<br />

trabalhar a escuta musical de diversas maneiras. Swanwick traz a execução como um dos<br />

aspectos musicais que devem ser trabalhadas em sala de aula, assim como a técnica,<br />

composição, literatura e apreciação musical. (FONTERRADA, 2008)<br />

6) (Re)Conhecimento de um instrumento da orquestra ou algum outro: A cada<br />

aula apresentava-se um instrumento e apreciava-se o seu som;<br />

Neste momento as crianças tinham contato direto ou indireto (através de imagens e<br />

áudio) com instrumentos diversos, (re)conhecendo o seu som e explorando diferentes<br />

maneiras de fazê-lo soar, sendo este um instrumento que todos pudessem experimentar.<br />

7) Relaxamento: Todos deitavam no chão e apreciavam uma música. A professora<br />

passava para fazer um carinho (cafuné) em cada criança;<br />

Neste momento a professora sugeria que as crianças pensassem nas atividades que<br />

fizeram, o que aprenderam e mais gostaram. Também “sussurrava” para cada criança o seu<br />

aproveitamento na aula.<br />

8) Auto-avaliação: Relembrar atividades realizadas na aula para que cada criança<br />

relatasse aquela em que gostou de fazer.<br />

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Este momento marcava o final da aula no qual as crianças faziam críticas e citavam<br />

atividades que mais gostaram de realizar durante o encontro. É necessário salientar que essa<br />

estrutura de aula era apenas uma sugestão a seguir, sendo que se podia suprimir ou<br />

acrescentar momentos no decorrer da aula, dependendo do interesse da turma e da<br />

flexibilidade do professor.<br />

Materiais Didáticos<br />

Nas aulas de musicalização infantil com as crianças do pré-escolar foram usados em<br />

sua grande maioria instrumentos de percussão como pandeiros de tamanhos menores,<br />

confeccionados especialmente para o trabalho com crianças, caxixis, ovinhos de percussão,<br />

agogô, xequerê, maraca, tamborzinho, cabuletê, pau-de-chuva, clava, além de metalofone,<br />

xilofone, teclado, flauta doce, dentre outros.<br />

É necessário salientar que a professora estagiária dispõe dos instrumentos de<br />

percussão que foram utilizados nas aulas, principalmente os pandeiros e caxixis que tem em<br />

maior quantidade, em que todas as crianças podiam tocar o mesmo instrumento numa<br />

determinada atividade. Dispõe também de instrumentos que foram supracitados.<br />

A instituição de ensino dispõe de diversos instrumentos que também foram utilizados<br />

nas aulas, como o teclado, o metalofone, o atabaque, as clavas. Esses instrumentos foram<br />

adquiridos através de uma solicitação realizada pelo professor de música dessa instituição do<br />

período noturno.<br />

Havendo necessidade, a professora estagiária utilizava além dos instrumentos musicais<br />

outros materiais alternativos como fitas, lencinhos de cores diversas, bonecos de pelúcia,<br />

gravuras, gráficos sonoros e jogos musicais. Além desses materiais utilizou-se o aparelho de<br />

som e CDs.<br />

Repertório<br />

Nas aulas de musicalização o repertório abrangeu músicas de várias etnias, contextos<br />

culturais, estilos e épocas, como abarca também o Referencial Curricular Nacional para<br />

Educação Infantil (RCNEI, 1998), considerando a flexibilidade do professor à inserção destas<br />

nas aulas e os objetivos específicos em relação aos conteúdos musicais a serem trabalhados.<br />

O RCNEI (1998, p. 64), também sugere que sejam trabalhados nas aulas de<br />

musicalização abrangendo crianças de quatro a seis anos: o “reconhecimento de elementos<br />

musicais básicos: frases, partes, elementos que se repetem etc. (a forma) e informações sobre<br />

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as obras ouvidas e sobre seus compositores para iniciar seus conhecimentos sobre a produção<br />

musical”.<br />

“O trabalho com a apreciação musical deverá apresentar obras que despertem o desejo<br />

de ouvir e interagir, pois para essas crianças ouvir é, também, movimentar-se, já que as<br />

crianças percebem e expressam-se globalmente” (RCNEI, 1998, p. 64).<br />

Conceitos<br />

Nas aulas as crianças vivenciaram os conceitos musicais de forma lúdica e intuitiva.<br />

Eram trabalhados elementos como o som e suas propriedades, andamento, silêncio, forma<br />

musical, escala diatônica, pulsação, improviso, instrumentos diversos, dentre outras<br />

habilidades como socialização, respeito, psicomotricidade e regras.<br />

Avaliação da Turma<br />

A avaliação feita durante o processo de musicalização se deu de forma processual, no<br />

qual se avaliou o desenvolvimento musical de cada criança, o seu desenvolvimento social,<br />

afetivo e motor. Também avaliou-se a participação das mesmas em aula, na realização das<br />

atividades e a assiduidade.<br />

Geralmente, quando se pensa em avaliação logo se associa a aplicação de testes,<br />

provas e a atribuição de notas, no entanto, de acordo com Sant’ana (1995, p. 17)<br />

Para avaliar podemos usar instrumentos que testem e/ou meçam, mas é<br />

muito mais do que atribuir um número, quantificar, pesar, qualificar e<br />

atribuir um valor quantitativo e/ou qualitativo; é, acima de tudo, confirmar a<br />

validade de um empreendimento. É constatar se a estratégia escolhida, na<br />

busca de algo, funcionou, era a mais adequada à situação e compensou, isto<br />

é, satisfez nossas expectativas.<br />

Partindo destas considerações podemos dizer que o educador é levado a pensar e<br />

refletir em diferentes pontos de avaliar o desenvolvimento e progresso de um aluno.<br />

O projeto de musicalização proposto e relatado aqui objetivou promover uma vivência<br />

musical ativa na qual o processo de avaliação não se submeteu a provas e atribuição de uma<br />

nota. Preocupou-se, principalmente em realizar observações constantes considerando as<br />

diferenças e peculiaridades de cada criança, o seu tempo de responder e reagir aos estímulos<br />

pelos quais estavam sendo expostas, possibilitando auxiliá-las em suas necessidades e pontos<br />

a serem superados. De acordo com Hoffmann (1993, p. 43),<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O aluno constrói o seu conhecimento na interação com o meio em que vive.<br />

Portanto, depende das condições desse meio, da vivência de objetos e<br />

situações, para ultrapassar determinados estágios de desenvolvimento e ser<br />

capaz de estabelecer relações cada vez mais complexas e abstratas.<br />

Assinala-se que a vivência da linguagem musical requer uma avaliação que vai além<br />

de provas, notas, conceitos, sendo que o trabalho de musicalização é sucessivo e infinito para<br />

o indivíduo. A busca pelo novo nos possibilita criar, recriar, adaptar, alterar, no qual o<br />

desenvolvimento musical e capacidade de criação passam por diferentes etapas de<br />

aprimoramento e amadurecimento, sendo um processo inacabado.<br />

É necessário salientar que todas as aulas foram filmadas e o professor estagiário pode fazer<br />

uma segunda avaliação mediante os vídeos assistidos, podendo observar com mais atenção<br />

episódios que no momento não foram percebidos.<br />

Os critérios utilizados para avaliação foram: Relacionamento com o grupo;<br />

Participação, atenção e concentração nas aulas; Desenvolvimento nas atividades individuais e<br />

em grupo; Desenvolvimento do canto; Percepção e discriminação dos sons; Percepção e<br />

execução rítmica; Leitura, interpretação e execução de gráfico sonoro.<br />

Resultados<br />

As crianças durante o processo de musicalização puderam treinar e desenvolver a<br />

atenção, concentração, memória e principalmente o hábito de parar para ouvir, escutar o<br />

outro, ouvir a si mesmo, ouvir atentamente os sons em geral para, posteriormente reconhecer<br />

e discriminar diferenças e semelhanças de alturas, durações, intensidades e timbres, sendo que<br />

a princípio foi mais trabalhoso obter e manter a atenção e uma concentração proveitosa da<br />

turma.<br />

As crianças desenvolveram também o sentido de pulsação, a percepção rítmica e<br />

melódica através de exercícios de imitação e criação. O desenvolvimento do canto deu-se com<br />

a conscientização das crianças com relação à intensidade com que se empregava na entoação,<br />

o que foi mais trabalhado durante as aulas, pois estas tinham o hábito de cantar da mesma<br />

forma que falavam, geralmente aos gritos. Foi trabalhada também a forma musical, na qual as<br />

crianças vivenciaram a partir da mudança de movimento corporal, tanto enfatizados pela letra<br />

da música quanto por movimentos sincronizados e sugeridos pela professora estagiária ou<br />

pelas próprias crianças.<br />

Com a vivência musical, as crianças puderam desenvolver maior confiança na<br />

realização das atividades avançando para a leitura, interpretação e execução dos gráficos<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

sonoros. Foram realizadas atividades de prática instrumental em conjunto, em que pudessem<br />

desenvolver o hábito de ouvir e tocar com o outro, respeitando o seu tempo e o do colega, o<br />

que de fato alcançaram êxito. As crianças conseguiram perceber a necessidade de parar para<br />

ouvir, escutar com atenção e assim lograr nas atividades que envolvem basicamente a<br />

percepçãoauditivo musical.<br />

Todos esses pontos supracitados serviram de base e estratégias eficazes para o trabalho<br />

e desenvolvimento das habilidades musicais durante o processo de alfabetização musical.<br />

Com isso, pode-se notar uma melhor compreensão e desenvoltura da turma na realização das<br />

atividades musicais propostas.<br />

Considerações Finais<br />

Durante o estágio buscou-se promover uma vivência musical ativa com as crianças<br />

participantes do projeto, para estas desenvolverem durante o processo de musicalização tanto<br />

habilidades musicais como também linguísticas, psicomotoras, cognitivas e sócio-afetivas.<br />

Houve também a preocupação em oferecer as crianças um leque de variedades em relação as<br />

suas vivências musicais anteriores, considerando que todos nós estamos expostos ao que é<br />

mostrado, oferecido ou imposto pela mídia, tanto como positivo ou negativo.<br />

Feita uma observação prévia das necessidades da turma e dos alunos individualmente,<br />

foram propostas atividades nas quais as crianças pudessem desenvolver principalmente o<br />

hábito de ouvir, de escutar atentamente.<br />

Durante o processo tornou-se nítido o desenvolvimento das crianças com relação à<br />

escuta consciente. Para este fim foram realizados, além de atividades musicais, momentos em<br />

que cada criança pudesse comentar algo, compartilhar uma canção, ou seja, tanto atividades<br />

musicais que despertassem na criança o interesse em ouvir e escutar atentamente, como<br />

também momentos em que era necessário ouvir o outro, ouvir a si mesmo.<br />

Pode-se concluir que a maioria dos objetivos específicos foi alcançada e as crianças do<br />

Pré-escolar, Grupo 5, iniciaram um processo de vivência musical consciente, a fim de<br />

futuramente se optar por um gosto musical, tornando-se apreciadoras musicais conscientes,<br />

desenvolvendo também o seu lado crítico em relação à música.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BROOCK, Angelita Maria Vander. A Abordagem Pontes na Musicalização para Crianças<br />

entre 0 e 2 anos de idade. Dissertação (Mestrado em Música). Escola de Música, UFBA,<br />

Salvador, 2009.<br />

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Referencial Curricular para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3 v,: il.<br />

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De Tramas e Fios: Um ensaio sobre música e<br />

educação. 2.ed. - São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: Funarte, 2008.<br />

HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à<br />

universidade. Porto Alegre. Editora Mediação, 1993. 20ª Edição revista, 2003<br />

SANT’ANA, Ilza Martins. Por que avaliar? Como avaliar? Critérios e instrumentos.<br />

Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

“Poemas para Cantar”: uma proposta para a ampliação do repertório<br />

musical na educação infantil. Relato de experiência a partir do estágio<br />

supervisionado<br />

Maria Teresa de Souza Neves<br />

Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES<br />

mariateresaneves@yahoo.com.br<br />

Resumo: O presente texto trata de um relato de experiência sobre um trabalho realizado em<br />

torno de poemas de Vinícius de Moraes, durante a prática do estágio supervisionado, com<br />

uma turma do 2º período do ensino infantil de uma escola municipal da cidade de Montes<br />

Claros, entre maio e junho do ano de 2011. Durante o estágio supervisionado, após a<br />

observação da turma, foi elaborado o projeto “Poemas para Cantar” com o intuito de ampliar<br />

o repertório musical das crianças, incentivando a apreciação musical e o aprender a ouvir,<br />

bem como conhecer algumas obras literárias musicadas. Observou-se ao final do processo um<br />

grande interesse das crianças pelas músicas estudadas e a viabilidade em trabalhar projetos<br />

temáticos em educação musical infantil sobre uma determinada obra musical.<br />

Palavras Chaves: Estágio supervisionado, música na escola, educação musical infantil<br />

Introdução<br />

Na área de educação musical nas últimas décadas, questões relacionadas à<br />

importância da música nas escolas de educação básica, aos desafios que marcam a trajetória e<br />

a prática docente nesse contexto, bem como aos conteúdos e metodologias que devem<br />

alicerçar a atuação do educador musical nessa realidade têm sido amplamente debatidas.<br />

Queiroz e Marinho (2009) afirmam que:<br />

tal fato se deve, sobretudo, ao reconhecimento da necessidade e da<br />

importância de propostas consistentes de educação musical nas escolas.<br />

Propostas que permitam estabelecer, de maneira abrangente, um cenário<br />

musical educativo coerente, consistente e contextualizado com o que se<br />

almeja para a formação plena do indivíduo (QUEIROZ e MARINHO, 2009,<br />

p. 61).<br />

A música na escola pode adquirir um papel relevante se tratada como uma área de<br />

conhecimento que requer estudo, diversidade, prática e reflexão, de forma que esteja inserida<br />

nos planejamentos e no cotidiano escolar de maneira significativa, compondo com as demais<br />

áreas um conjunto de saberes fundamentais para o desenvolvimento sociocognitivo e humano<br />

dos alunos. No dizer de Bellochio e Figueiredo (2009),<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Ensinar música na escola envolve a experiência musical de forma direta,<br />

ouvindo, apreciando, cantando, tocando, compondo, improvisando, dentre<br />

outras. Falar sobre música com os alunos é uma atividade que também<br />

envolve conhecimentos musicais, mas não os coloca em contato direto com a<br />

linguagem musical. Ensinar música envolve fazer música, produzir<br />

sonoramente e estar atento a essa produção sonora. Estar atento implica<br />

apreciar e entender o que se está fazendo, buscar alternativas para fazer<br />

melhor (BELLOCHIO e FIGUEIREDO, 2009, p.39-40).<br />

Dentro dessa proposta de apreciação musical, durante o estágio supervisionado na área<br />

de música, foi elaborada uma proposta para ampliar o repertório musical das crianças do 2º<br />

período, de uma escola municipal a partir da realidade observada. ‘’O estágio em licenciatura<br />

(...) constitui o alicerce para a formação de profissionais de todas as categorias e,<br />

principalmente, daquelas que exigem formação acadêmica” (BIANCHI, ALVARENGA,<br />

BIANCHI, 2009, p.5). O Estágio Supervisionado é de grande relevância, pois através dele o<br />

acadêmico estabelece a relação entre a teoria e a prática.<br />

O estágio é onde é concedida a oportunidade de vivenciar tudo aquilo que (não)<br />

aprendemos em sala de aula. É a oportunidade de refletir sobre nossas “escolhas” a partir da<br />

observação de um meio e estabelecer as formas mais adequadas para atingir os objetivos, o<br />

que ensinar e quais as formas de agir no futuro ambiente de trabalho. O estágio deve ser<br />

pensado como uma forma de unir o saber com o fazer. Porém antes da aplicação do saber é<br />

necessário que se faça uma leitura da realidade estudada para saber o que fazer. O “fazer”<br />

deve proporcionar mudanças nesse meio, de formar a atenuar as discrepâncias sociais, de<br />

modo que o educando seja capaz de atuar na sociedade de maneira crítica e transformadora.<br />

Desenvolvimento<br />

O Estágio Supervisionado I (Ensino Infantil)<br />

A escola escolhida para desenvolver o estágio supervisionado foi a Escola Municipal<br />

Professora Maria da Conceição de Almeida Costa CEMEI - Cintra, na cidade de Montes<br />

Claros - MG. Fui recebida pela diretora da escola, e expliquei a ela a proposta do estágio<br />

supervisionado, área de concentração Artes-música, e assim como a professora orientadora do<br />

estágio da universidade sugeriu, foi solicitada a classe das crianças maiores do Ensino<br />

Infantil. A Turma do 2º período (nascidos até 31/03/2006, 5 anos) foi indicada para o<br />

desenvolvimento das atividades de observação e regência.<br />

Iniciei o estágio de observação, no período matutino, acompanhando o trabalho<br />

pedagógico desenvolvido, bem como a rotina das crianças. A turma composta por 17 crianças,<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

sendo uma delas portadora de necessidades especiais (cadeirante). Devido a esse motivo além<br />

da professora regente, havia uma professora especialista que acompanhava esse aluno e estava<br />

presente durante a aula. Observei um ambiente escolar de muita afetividade e respeito entre<br />

todos, o que proporcionava às crianças acolhimento e segurança ao se sentirem amadas e<br />

respeitadas.<br />

O trabalho pedagógico desenvolvido pela professora regente, na área de música,<br />

esteve voltado à concepção tradicional, onde a música estava reduzida a forma canção,<br />

servindo sempre como estratégias para obtenção de padrões de comportamento, hábitos e<br />

atitudes, tais como formar fila, iniciar aula, memorizar dias da semana, lanchar (músicas de<br />

comando). Outra prática observada foi a utilização da música dentro do calendário de<br />

festividades: música para o dia das mães.<br />

Em um primeiro momento de regência também quis reduzir minha prática às<br />

festividades. Adentrando ao mês de junho propus trabalhar o baião, escolhi uma música do<br />

gênero e quis mais uma vez reproduzir movimentos estereotipados sem considerar a riqueza<br />

do processo de exploração e expressividade. Porém não obtive sucesso.<br />

No dizer de<br />

Nachmanovitch (1993), se não cometermos erros, provavelmente não chegaremos a fazer<br />

nada. Ele afirma que:<br />

os erros e acidentes são grãos de areia que se transformarão em pérolas; eles<br />

nos oferecem oportunidades imprevistas, são em si fontes frescas de<br />

inspiração. Aprendemos a considerar novos obstáculos como ornamentos,<br />

oportunidades a serem aproveitadas e exploradas. (...) Prática é autocorreção<br />

e refinamento, é trabalhar em busca de uma técnica mais clara e mais<br />

confiável. Mas, quando um erro ocorre, podemos encará-lo como uma<br />

informação sem valor sobre nossa técnica ou como um grão de areia a partir<br />

do qual será possível produzir uma pérola” (NACHMANOVITCH ,1993,<br />

p.87-88).<br />

A partir do erro, comecei a questionar: como trabalhar o ensino musical com crianças<br />

pequenas? O que ensinar?<br />

De acordo com a educadora musical Gainza (1988) “O objetivo específico da<br />

educação musical é musicalizar, ou seja, tornar o indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno<br />

sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical” (p.101). Para Penna<br />

(2008) apud Souza e Joly (2010) musicalizar é:<br />

[...] desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o<br />

indivíduo possa ser sensível à música, apreendê-la, recebendo o material<br />

sonoro/musical como significativo. Pois nada é significativo no vazio, mas<br />

apenas quando relacionado e articulado ao quadro das experiências<br />

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acumuladas, quando compatível com os esquemas de percepção<br />

desenvolvidos. (p. 31).<br />

O ensino de música nas escolas tanto de Educação Infantil, pode contribuir não só para<br />

a formação musical dos alunos, mas principalmente como uma ferramenta eficiente de<br />

transformação social. As educadoras musicais Hentschke e Del Ben (2003) apud Souza e Joly<br />

(2010) destacam que:<br />

é importante que a educação musical escolar, seja ela ministrada pelo<br />

professor unidocente ou pelo professor de artes e/ou música, tenha como<br />

propósito expandir o universo musical do aluno, isto é, proporcionar-lhe a<br />

vivência de manifestações musicais de diversos grupos sociais e culturais e<br />

de diferentes gêneros musicais dentro da nossa própria cultura. (p. 181).<br />

Dentro dessa proposta de expandir o universo musical, proporcionar a ampliação e o<br />

enriquecimento de saberes à produção da área, foi elaborado o projeto “Poemas para Cantar”,<br />

como uma forma de ampliar o repertório musical, através da apreciação musical, e permitir<br />

acesso a práticas lúdicas, visando estimular a criatividade e a expressividade da criança.<br />

O RCNEI refere-se a apreciação musical como a audição e interação com músicas<br />

diversas e propõe escuta de obras musicais de diversos gêneros, estilos, épocas e culturas, da<br />

produção musical brasileira e de outros povos e países, bem como informações sobre as obras<br />

ouvidas e sobre seus compositores para iniciar seus conhecimentos sobre a produção musical.<br />

Projeto “Poemas para Cantar”<br />

Faixa etária: 4-5 anos<br />

Conteúdo: linguagem musical<br />

Introdução: Nessa sequência de atividades, além de ampliar seu repertório musical, as<br />

crianças podem conhecer um pouco mais sobre a canção, uma composição normalmente<br />

curta, que combina música (uma melodia), com poesia (letra), bem como seus compositores.<br />

Objetivos:<br />

- Ampliar o repertório musical das crianças;<br />

- Aprender a ouvir/apreciar músicas diversas;<br />

- Conhecer alguns poemas ou obras literárias musicadas.<br />

Conteúdos específicos:<br />

Escuta musical, repertório musical, poesias e canções.<br />

Desenvolvimento da Atividade:<br />

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Fazer um levantamento dos conhecimentos prévios da criança sobre o tema do poema ou<br />

texto.<br />

Ler o poema, texto ou a letra da canção<br />

Ouvir a canção em roda (áudio ou vídeo).<br />

Estimular a criatividade da criança sobre o tema (Dramatizações, desenhos livres,<br />

sonoridades.)<br />

Elaborar Cd com as canções trabalhadas e um livreto contendo as letras das canções e as<br />

atividades (dobraduras, desenhos...) realizados pelas crianças.<br />

Poema 1. O Relógio<br />

Composição: Vinícius de Moraes/ Paulo Soledade<br />

“Sensibilização”<br />

-Fazer o levantamento prévio dos conhecimentos sobre a função do relógio (levar um relógio<br />

grande).<br />

-Levar a criança a perceber a noção de dia e de noite.<br />

-Perguntar às crianças o que elas fazem normalmente nas horas do dia (6hs, 7hs, 8hs, 9hs<br />

etc.). Pedir q elas façam mímica. (Tempo e Ação)<br />

-Incentivar as crianças a imitar o som do relógio (tic-tac).<br />

-Ler o poema enquanto elas fazem tic-tac. Ouvir a canção<br />

- Dramatizar o poema utilizando expressões corporais e sonoridades do texto.<br />

-Estimular a criatividade da criança através de criação de desenhos espontâneos sobre o<br />

poema.<br />

Poema 2: A Casa<br />

Composição: Vinicius de Moraes<br />

“Sensibilização”<br />

-Fazer o levantamento prévio dos conhecimentos sobre “casa” (todas as casas são do mesmo<br />

tamanho? São da mesma cor? De que material é feita?).<br />

-Levar gravuras de casas, réplicas de casas (casa de pedra), casas de animais (João de Barro).<br />

-Refletir sobre a importância da casa (lar), independente do seu tamanho..<br />

- Escutar o audio da música “A Casa”<br />

-Indagar sobre como é a casa apresentada na música<br />

-Entender o significado de cada frase da música.<br />

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-Ler o poema “A Casa” de Vinícius de Moraes.<br />

-Estimular a criatividade da criança através de dobraduras de casas.<br />

- Assistir vídeo da música.<br />

Poema 3. O Pato<br />

Composição: Vinícius de Moraes/Toquinho/Paulo Soledade<br />

“Sensibilização”<br />

-Assistir DVD da música O pato<br />

-Conversar com as crianças: O Pato é igual a gente? O que o pato tem de diferente? Como é a<br />

voz do pato?<br />

-Imitar o Pato<br />

-Estimular a criatividade da criança através de criação de desenhos espontâneos sobre o<br />

poema.<br />

Considerações Finais<br />

De acordo com Bianchi, Alvarenga e Bianchi (2009), ”(...)‘O aluno não pode ser<br />

insensível aos problemas do mundo contemporâneo’ e deve contribuir com todas as suas<br />

forças para dar respaldo e solução, no que lhe compete, à sociedade que atuará” (p.4).<br />

A Escola é uma das organizações da sociedade onde o conhecimento científico<br />

fundamenta o saber humano. Cabe ao professor/acadêmico lançar de todas as disciplinas da<br />

licenciatura para elaborar sua proposta de trabalho de forma a conscientizar o aluno da<br />

importância social do seu papel enquanto educador.<br />

Durante o período em que foram desenvolvidas as aulas com as crianças, pude<br />

constatar que como educadora, as minhas ações devem ser planejadas e estudadas antes de ir à<br />

frente da turma, assim como o processo de reflexão não apenas após o término, mas também<br />

durante a ação. Dessa maneira, valorizar os conhecimentos prévios dos alunos e fazer com<br />

que tivessem a liberdade para apresentá-los tornou-se uma ferramenta valiosa em minha<br />

prática educativa.<br />

A escolha pelas músicas do gênero infantil a partir da obra literária de Vinícius de<br />

Moraes, “A Arca de Noé”, foi feita propositalmente com o intuito de apresentar músicas que<br />

talvez as crianças não teriam acesso se não fosse no meio escolar, ampliando seu repertório e<br />

proporcionando também acesso a práticas lúdicas visando estimular a criatividade e a<br />

expressividade.Ao fim do projeto observei um grande interesse das crianças pelas músicas<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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estudadas. Foi confeccionado um livreto com as atividades realizadas por cada uma das<br />

crianças e gravado um cd com as músicas trabalhadas e outras da mesma obra, com a<br />

finalidade de permitir que as crianças continuassem a expandir seu universo musical em casa.<br />

Outra observação significativa na minha prática foi a viabilidade em trabalhar um projeto<br />

temático na educação infantil, através de uma determinada obra literária musical.<br />

Verificar a transformação na minha prática foi algo muito relevante para minha<br />

formação. Como ressalta Moita “Ninguém se forma no vazio. Formar-se supõe troca,<br />

experiência, interações sociais, aprendizagens, um sem fim de relações”. (MOITA, 1992, p.<br />

115). Sendo assim, estamos em constante formação se nossa ação estiver sempre<br />

acompanhada da reflexão durante e depois da prática. De acordo com Freire “Ninguém<br />

começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce<br />

educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como<br />

educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática”. (FREIRE, 2000, p. 58).<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro; FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. Cai, cai balão…<br />

Entre a formação e as práticas musicais em sala de aula: discutindo algumas questões com<br />

professoras não especialistas em música. Revista Música na Educação Básica. Porto Alegre,<br />

v. 1, n. 1, outubro de 2009. p 36-45.<br />

BIANCHI, Ana Cecília de Moraes; ALVARENGA, Marina; BIANCHI, Roberto. Manual de<br />

Orientação-Estágio Supervisionado. Editora Cengage Learning 4º edição, 2009.<br />

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília, MEC/SEF, v.3, 1998.<br />

FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.<br />

GAINZA, Violeta Hemsy. Estudos de Psicopedagogia Musical. Tradução de Beatriz A.<br />

Cannabrava. São Paulo: Summus, 1988.<br />

MOITA, Maria da Conceição. Percursos de formação e de trans-formação. In: NÓVOA,<br />

Antônio (Org.). Vidas de Professores. Porto: Porto Editora, 2º edição, 1995. p 111-140.<br />

MORAES, Vinicius de. A Arca de Noé. Companhia das Letrinhas, 2º edição, 1991.<br />

MORAES, Vinicius de. A Arca de Noé. Vol. 1. Polygram, 1980.<br />

NACHMANOVITCH, Stephen. Ser Criativo – O Poder da Improvização na Vida e na Arte.<br />

Tradução de Eliana Rocha. São Paulo: Summus, 1993.<br />

QUEIROZ, Luis Ricardo Silva; MARINHO, Vanildo Mousinho. Práticas para o ensino da<br />

música nas escolas de educação básica. Revista Música na Educação Básica. Porto Alegre, v.<br />

1, n. 1, outubro de 2009. p 60-75.<br />

SOUZA, Carlos Eduardo de; JOLY, Maria Carolina Leme. A Importância do Ensino Musical<br />

na Educação Infantil. Cadernos da Pedagogia. São Carlos, Ano 4 v. 4 n. 7, jan -jun. 2010,<br />

p 96 – 110.<br />

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A Improvisação Livre na Educação Infantil: algumas reflexões a partir das<br />

ideias da Prof.ª Dr.ª Chefa Alonso<br />

Débora Niéri<br />

deboranieri@ig.com.br<br />

Resumo: Objetiva-se refletir sobre a importância da improvisação musical livre na Educação<br />

Infantil (EI), a partir das ideias apresentadas no Seminário “Técnicas Básicas de Improvisação<br />

Musical Livre e Orquestra de Improvisadores” pela professora Chefa Alonso da Espanha, em<br />

abril de 2011 no Instituto de Artes da Unesp. Essa reflexão justifica-se pela necessidade de<br />

fomentar propostas pedagógico-musicais que atentem para o desenvolvimento da<br />

musicalidade da criança, por meio da atuação do professor generalista, oportunas nesse<br />

momento de implantação legal da música como conteúdo obrigatório no ensino básico, o que<br />

instiga a contemplação do Eixo Música apontado nos Referenciais Curriculares Nacionais<br />

para a Educação Infantil (1998).<br />

Palavras chave: Música, improvisação livre, educação infantil<br />

Introdução<br />

A improvisação livre é um dos campos da Educação Musical que apesar de “presente<br />

há mais de quarenta anos no mundo musical da maior parte dos países da Europa, Estados<br />

Unidos e Canadá” (ALONSO, 2008, p.8), segue marginalizada tanto no meio artísticomusical,<br />

como no campo do ensino da música.<br />

A improvisação livre consiste em outra forma de fazer música mais ligada à expressão<br />

do corpo, voz ou instrumento pela exploração sonora e escuta do que ao apego a um<br />

determinado repertorio estilo ou sintaxe musical. Baseia-se num conceito de música que<br />

contempla sonoridades diversas, formas de composição diferentes das tradicionais, incluindo<br />

o ruído, as explorações sonoras e as variações timbrísticas como elementos chave no processo<br />

de criação.<br />

Caracteriza-se pela “ausência de um marco normativo”, onde é só para lugar o melhor<br />

é no qual os limites impostos pela presença de uma gramática ou de um contexto regulado por<br />

regras do contraponto ou da harmonia, são substituídos “pelo desejo de criar no momento e<br />

coletivamente uma música nova” (ALONSO, 2008, p. 8).<br />

O processo de criação baseado na improvisação livre não possui relações hierárquicas,<br />

nem estimula a competitividade e tampouco se sujeita às convenções. O prazer estético não<br />

consiste no esperado, e sim, no imprevisto.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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A improvisação livre reveste-se de um posicionamento político contestador,<br />

questionador das convenções estabelecidas. Sem território fixo, assim como os nômades,<br />

“alimentam o imaginário coletivo de um mundo igualitário, sem fronteiras, a existência de<br />

uma irmandade universal” (apostila do curso, p.7). Os improvisadores desafiam a relação<br />

preestabelecida com o tempo cronológico, medido pelo relógio, demorando-se,<br />

perambulando, vagueando, testando, experimentando, prescrevendo um tempo irregular,<br />

impreciso, desinteressado que busca as possibilidades do tempo real.<br />

Há nessa postura músico-pedagógica uma preocupação com a ampliação dos conceitos<br />

de composição musical e do ensino musical baseado no repertório tradicional, principalmente,<br />

o europeu. A improvisação livre inspira-se no desejo de aproximar a música das pessoas, de<br />

“democratizar” o fazer musical, buscando relações com as atividades e experiências do<br />

cotidiano. Coloca em jogo a subjetividade do improvisador, uma vez que ele tem de<br />

relacionar-se não só com a música, numa atitude individualista, mas com os outros, num<br />

processo coletivo.<br />

Opostamente ao pensamento de que improvisar é ‘fazer qualquer coisa’ a<br />

improvisação livre guia-se pelo sentir e ouvir o outro, num processo de profunda<br />

concentração e respeito pelo grupo, ampliando as possibilidades de exploração, de liberdade e<br />

criatividade musicais.<br />

Sentir e ouvir o outro, dentro de uma perspectiva coletiva e criativa. Essa concepção<br />

pedagógica sempre me impulsionou enquanto educadora. Mas, minha formação musical como<br />

pianista dentro da tradição erudita, pautada principalmente pelo repertório romântico do<br />

século XIX, não respaldava minha atuação didático-musical nas classes da Educação Infantil.<br />

Sempre à procura por cursos, tive a oportunidade, em abril deste ano, de participar do<br />

Seminário “Técnicas Básicas de Improvisação Musical Livre e Orquestra de Improvisadores”,<br />

ministrado pela saxofonista e improvisadora Prof.ª Dr.ª Chefa Alonso (La Coruña - Espanha)<br />

de 11 a 28 de abril de 2011, no Instituto de Artes da UNESP. O curso foi organizado pelo<br />

GEPEMIA, Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Musical do IA/UNESP sob liderança<br />

da Prof.ª Dr.ª Marisa Trench Fonterrada. Destinado a instrumentistas de qualquer nível,<br />

envolveu alunos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Música, e de Pós-Graduação<br />

em Música (Mestrado e Doutorado) de diversos lugares da capital paulistana.<br />

O curso viabilizou o entendimento dos princípios educacionais, tangenciando também<br />

objetivos políticos, da improvisação livre, e permitiu, também, uma vivencia prática com a<br />

Orquestra de Improvisadores. Nesse conjunto, a ênfase era desaprender o aprendido, e, ao<br />

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mesmo tempo, ampliar as referencias sonoras, entender o espaço individual e o momento de<br />

atuar, descobrir novos materiais ou maneiras de desenvolver o já estabelecido, e empreender<br />

um trabalho em grupo.<br />

Discussão<br />

Com base nas ideias de Chefa Alonso, trago à discussão alguns princípios da<br />

improvisação livre que podem ser pertinentes para os contextos educativo, musical e infantil.<br />

O primeiro refere-se à arte como provocadora de mudanças sociais, o segundo, à<br />

improvisação livre no ensino musical, e o terceiro enfatiza a improvisação livre na Educação<br />

Infantil.<br />

A arte (e a improvisação livre) na educação como promotora de mudanças sociais e<br />

políticas<br />

Para Chefa Alonso a música não pode ser entendida desvinculada de seu contexto<br />

histórico, social e politico, uma vez que reflete o espirito de uma época, de uma sociedade ou<br />

de um grupo social, seus conflitos e tensões.<br />

Baseada no conceito de Andrei Tarkovsky (2005) de que a sociedade tende à<br />

estabilidade enquanto o artista busca a mudança, almeja à transformação (p. 217) e nas ideias<br />

de Jacques Attali veiculadas em seu livro Ruido: la politica econômica de la musica (1977),<br />

no qual toma a música como metáfora do real, Alonso observa que essa arte “prevê” o futuro,<br />

adiantando-se aos acontecimentos sociais que se desenrolarão (p.65). Alonso coloca em pauta<br />

o papel social do artista de violar as regras do sistema estabelecido, instaurando novas<br />

possibilidades formais e exigências de sensibilidade. Observa que o artista tem de perturbar a<br />

estabilidade, provocar o desequilíbrio, gerando novas formas e maneiras de ver o mundo. Tem<br />

de estar atento às transformações sociais e fazer a música do seu tempo.<br />

O ponto que Alonso quer estabelecer é o caráter desafiador e contestador da prática da<br />

improvisação: está à margem do consumo massificado, por isso não interessa ao mercado; não<br />

busca a fragmentação, a especialização que pode gerar a competitividade e, como tal, nem<br />

interessa às políticas públicas. Seu sentido é promover um engajamento que representa<br />

desestabilidade e desequilíbrio na manutenção do poder.<br />

Numa perspectiva educacional, o desafio que se impõe no século XXI é o de<br />

integração de saberes, religando a multiplicidade de dimensões fragilizadas pela fragmentação<br />

tão eficazmente perpetuada pelo paradigma cartesiano vigente. Essas expectativas emergentes<br />

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impõem um paradigma conectado ao pensamento em rede, não linear, e baseia-se no<br />

processo, na construção, na diferença, no vir a ser, no não estabelecido, em outra relação de<br />

tempo, em alianças. Alinhada à perspectiva ideológica e política, a improvisação livre<br />

apresenta-se como um caminho para o ensino de música, pois reflete possibilidades de novas<br />

formas de ser, pertencer e estar no mundo, tendo “relações com o pensamento político da auto<br />

gestão, da autonomia e da democracia radical” (ALONSO, 2008, p.6) e caracterizando-se<br />

como prática de uma sociedade alternativa. Constitui-se, portanto, numa verdadeira ‘ameaça’<br />

às políticas que visam à o controle social.<br />

Os princípios de uma educação para a paz (KOELLREUTTER, 1997, p.60), estão<br />

embutidos nos preceitos e ideais da improvisação livre.<br />

A improvisação livre na educação musical<br />

A improvisação livre para Chefa Alonso (2008, p. 8-21) se define como um modo de<br />

fazer música baseado em atividade coletiva e com ênfase na perspectiva criativa.<br />

O ensino de musica calcado na tradição europeia, de maneira geral, segrega o tocar da<br />

atividade de compor, de criar, de experimentar. Essa concepção fortalece os mitos arraigados<br />

na cultura de que música “é difícil” ou “para poucos”, ou para os “gênios” ou ainda, para<br />

quem “tem dom”, o que pode provocar um distanciamento do das pessoas em relação ao<br />

aprendizado e interesse na linguagem. Alonso observa que “é fácil encontrar um compositor<br />

que não toca nenhum instrumento, um intérprete que não sabe improvisar ou um improvisador<br />

que não escreve música” (2008, p. 10). Critica esse ensino musical padronizado, fragmentado,<br />

limitado ao repertório do passado e cunhado fundamentalmente na atividade individualista,<br />

pela ausência da improvisação nos currículos escolares como técnica básica de aprendizagem<br />

musical, pessoal e social, pois pela improvisação o aluno pode aprender a aceitar o diferente,<br />

a buscar soluções, a confiar em si mesmo e nos outros, e a adquirir uma linguagem própria e a<br />

técnica necessária para expressar-se.<br />

A improvisação tornaria a formação do estudante de música (escolas especificas de<br />

música) e do aluno (na escola regular) mais completa, pois contemplaria tanto a abordagem<br />

intuitiva, com o foco na escuta e na organização centrada no momento, como a orientação<br />

para a atividade analítica, de cunho individualista, com base na memória e na forma, com a<br />

música escrita.<br />

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O educador musical e compositor Koellreutter alertava sobre a necessidade da<br />

educação musical que fosse estética e crítica de forma a levar o aluno à investigação, à<br />

especulação, à pesquisa.<br />

um ensino que indica caminhos para a invenção e criação de novas ideias,<br />

novos conceitos e novos princípios de ordem; que treina o ouvido como<br />

exercício de ler e ouvir, produzir, distinguir e definir qualquer fenômeno<br />

sonoro, incluindo o ruído e o som artificial; que faz o aluno improvisar sem<br />

determinação do material a ser usado (...) (KOELLREUTTER, 1994, p.13).<br />

A preparação e o aprendizado da improvisação livre se dão pela exploração do próprio<br />

instrumento, que passa a ser uma fonte de material. A técnica não é considerada um fim em si<br />

mesmo, mas sujeita aos aspectos criativos, dando-lhe suporte, pois “desprovida de sua relação<br />

com o instrumentista e com as suas necessidades de expressão, conduz apenas a uma<br />

profissionalização fria e desumanizada” (ALONSO, 2008, p.15). Busca-se o<br />

desenvolvimento de habilidades como flexibilidade, adaptabilidade, eficiência,<br />

expressividade, fluidez, tolerância, independência, coerência e inventividade.<br />

A integração, a exploração das relações entre os músicos, a generosidade para<br />

sacrificar as preferencias individuais e a capacidade para agir e tomar decisões são as<br />

características marcantes dos improvisadores.<br />

E mais ainda, como o improvisador é responsável pelo resultado sonoro do grupo, é<br />

imposto a ele a necessidade de concentração, de respeito, habilidade de escuta, e liderança<br />

para tomadas de decisões durante o processo de criação. Segundo Alonso, o grupo tem que se<br />

descobrir, sentir-se junto, compondo e improvisando em tempo real, seja nos ensaios ou frente<br />

ao publico, em uma atitude coletiva e que revele integração.<br />

A improvisação livre na Educação Infantil<br />

A conexão entre música e cotidiano que a improvisação livre busca estabelecer<br />

contribui para a aproximação e construção de significados musicais por parte da criança, pois<br />

é principalmente durante a infância que se dá a apropriação do mundo social pelo<br />

engajamento em trocas recíprocas que permitem compartilhamento de experiências sociais, de<br />

apropriação cultural, de elaboração de significados, que constituem o referencial, os valores e<br />

a identidade do sujeito. A experiência e a aprendizagem, que se dão a partir da perspectiva<br />

cultural, do cotidiano, da realidade social, exercem papel preponderante no desenvolvimento.<br />

Assim, pela ação e experiência, a vivencia musical propiciada pela improvisação, permite a<br />

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construção e reconstrução em nível cognitivo de esquemas sensoriais, motores e operatórios<br />

que, em relação com a cultura, constituirão a referencia musical das crianças.<br />

A educadora musical argentina, Violeta Gainza, também observa que a improvisação<br />

esta implicada no processo da cultura infantil por contribuir ativamente para a “mobilização e<br />

metabolismo das estruturas musicais internacionalizadas, promovendo a absorção de novos<br />

materiais e estruturas mediante a exploração e manipulação criativa dos objetos sonoros” 1 .<br />

No sistema público de ensino no Brasil, o trabalho com a música na Educação Infantil<br />

é enfatizado pelo eixo especifico apresentado no III volume dos Referenciais Curriculares<br />

Nacionais da Educação Infantil (1998). Fundamentado em uma concepção musical<br />

contemporânea, que atenta para o “criar instantaneamente, o eixo música orienta-se por<br />

alguns critérios pré-definidos, mas com grande margem a realizações aleatórias, não<br />

determinadas” (p. 57) e contempla o fazer musical baseado nos jogos de improvisação,<br />

entendidos como “ações intencionais que possibilitam o exercício criativo de situações<br />

musicais” (p.57).<br />

Nesse sentido a improvisação livre pode ser um caminho para que a música venha a<br />

ser trabalhada na EI pelo professor generalista, pois não necessita de um conhecimento prévio<br />

e especifico da sintaxe musical. Pode ser trabalhada por meio de jogos e brincadeiras que<br />

envolvem elementos sonoros básicos e diversos conforme a percepção do professor.<br />

A proposta de improvisação livre na Educação Infantil corrobora o objetivo especifico<br />

da educação musical que segundo Gainza (1988, p. 101) “é de musicalizar, ou seja, tornar o<br />

individuo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo,<br />

respostas de índole musical” (1988, p. 101), pois tem como foco principal a relação do<br />

individuo com o som e com o grupo.<br />

A “paisagem sonora” da Educação Infantil torna-se um gancho para o aprendizado<br />

musical, como aponta Arianna Sedioli (2003) “a natureza oferece aos bem pequenos as folhas<br />

caindo, a chuva, o trovão, entre outros sons que privilegiam os parâmetros sonoros, uns mais<br />

que outros” (p.27).<br />

Sedioli (2003, p.27) afirma que as crianças pequenas são atraídas pela sonoridade<br />

daquilo que os circunda e iniciam uma interação com o ambiente em forma de jogo<br />

explorativo. Demonstram que passam por um processo de construção, desenvolvimento e<br />

formação de repertório sonoro, uma vez que se apropriam das descobertas sonoras e a<br />

utilizam em seu cotidiano imitando-as e ampliando-as. Sendo assim, se tornam<br />

1<br />

IN Cadernos de Estudos de Educação Musical n.1. s/d. Disponível em www.atravez.org.br. Acesso em<br />

25/04/2010.<br />

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simultaneamente, consumidores, produtores e reconstrutores dos sons do ambiente que os<br />

cercam.<br />

A própria produção sonora das crianças, tais como o balbucio, a lalação (sons com<br />

lábios e boca), o choro, os gritos, a experimentação com os sons do corpo, o olhar atento, a<br />

expectativa do silencio, o toque, pode ser transformada em criações musicais pela mediação<br />

do professor, pois a criança pequena está sempre atenta, interagindo consigo e com seus<br />

pares, com movimentos corporais diversos, demonstrando interesse por situações e estímulos<br />

novos.<br />

Mas a relação do tempo medido pelo relógio, que entra em conflito com os propósitos<br />

da improvisação livre pela necessidade de tempo para explorar, descobrir, analisar, criar e se<br />

apropriar, também se modifica com o aprendizado e as descobertas infantis. A criança precisa<br />

de tempo para brincar, jogar, descobrir, inventar e reinventar, construir significados e pontes<br />

com o conhecimento musical, pois é “mediante a expressão do corpo, mente, emoções e<br />

sentimentos que a criança manifesta suas necessidades e expressa seu conhecimento; há um<br />

outro tempo e um outro espaço na relação adulto-criança” (HADDAD, 2006, p.539). Segundo<br />

a educadora musical Teca Alencar de Brito “o modo como as crianças percebem, apreendem e<br />

se relacionam com os sons, no tempo-espaço, revela o modo como percebem, apreendem e se<br />

relacionam com o mundo que vêm explorando e descobrindo a cada dia” (2003, p.41).<br />

Além da construção do conhecimento musical por meio do professor generalista, a<br />

improvisação livre pode viabilizar uma formação instigadora de novas maneiras de estar e ser<br />

no mundo. Além de ampliar as possibilidades sonoras das crianças, uma formação integral,<br />

ativa e participativa contribui para o desenvolvimento da autonomia, pois como afirma<br />

Moema Craveiro de Campos “improvisar é ter coragem de se colocar, expor-se musicalmente<br />

de acordo o momento, de maneira muito própria, única, expressando o sentimento vivido no<br />

instante” (2000, p.93).<br />

Para Abramowicz, Levcovitz e Rodrigues “uma educação não fascista concebe a<br />

infância como experiência, aceita um currículo pautado no pensamento nômade e vê no<br />

espaço-tempo da aula a possibilidade do ato de criação” (2009).<br />

É certo há de se “romper com a resistência das condutas pré-estabelecidas no bloqueio<br />

e nas fixações pedagógicas” (GAINZA, ibid) e isso não constitui tarefa fácil. Mas, diante<br />

desse desafio,<br />

podemos nos agarrar ao que esta passando ou já passou, ou podemos nos<br />

manter abertos e acessíveis - até mesmo entregues - ao processo criativo,<br />

sem insistir em conhecer de antemão o resultado final que nos advirá - para<br />

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nós, para nossas instituições, para nosso planeta. Quem aceitar esse desafio<br />

estará acalentando a liberdade, abraçando a vida e encontrando um sentido<br />

para ela (NACHMANOVITCH, 1993, p.170).<br />

Pois, a improvisação “não propõe o absoluto, o estável, o certo e o errado, mas a<br />

mutação, e por isso, é também vida. É a oportunidade de renovação da educação musical”<br />

(CAMPOS, 2000, p.94).<br />

Considerações Finais<br />

O ensino de música hoje, na educação infantil, encontra-se em processo de construção<br />

diante das grandes transformações pelas quais essa arte passou no século XX e continua<br />

passando no nosso tempo.<br />

Há, atualmente no Brasil, políticas públicas voltadas para esse segmento escolar,<br />

políticas que apontam diretrizes, referenciais e incentivam expectativas de aprendizagens.<br />

O momento é propicio para que pesquisas teóricas e de campo sejam realizadas, para<br />

que as atuações nesse nível de ensino venham a corresponder às expectativas da educação<br />

para o século XXI: educação baseada na diversidade, na flexibilidade, na pesquisa, e na<br />

valorização dos conhecimentos culturais- locais e mundiais.<br />

Por tudo o que foi levantado, considera-se que a improvisação musical livre alinha-se<br />

a essa postura educacional, atendendo a esses princípios educacionais contemporâneos, e<br />

poderá constituir-se em mola propulsora de pesquisas, projetos e realizações sonoro-musicais<br />

no contexto da educação infantil. Os fundamentos da improvisação musical livre respondem<br />

(ou atendem) ao princípio contemporâneo da educação geral, uma vez que contempla, na<br />

prática, o educar, o brincar e o integrar-se socialmente.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ABRAMOWICZ, Anete; LEVCOVITZ, Diana; RODRIGUES, Tatiane Consentino. Infâncias<br />

em Educação Infantil. IN Revista Pro-Posições. Vol.20. n.3. Campinas. set/dez, 2009.<br />

Disponível em . Acesso em: 24 mai. 2010.<br />

ALONSO, Chefa. Improvisación Libre: la composición em movimiento. Baiona: Editora Dos<br />

Acordes, 2008.<br />

ATTALI, Jacques. Ruido: la politica econômica de la musica. Editorial Ruedo Ibérico, 1977.<br />

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Referencial Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3.vol.<br />

BRITO. Teca de Alencar. Música na educação infantil. 2.ed. São Paulo: Petrópolis, 2003.<br />

CAMPOS, Moema Craveiro. A Educação Musical e o Novo Paradigma. Rio de Janeiro:<br />

Enelivros, 2000.<br />

GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. Tradução de Beatriz A.<br />

Cannabrava. São Paulo: Summus Editorial, 1988.<br />

HADDAD, Lenira. Políticas integradas de educação e cuidado infantil: desafios, armadilhas e<br />

possibilidades. In: Cadernos de Pesquisa. V.26, nº 129, p.519-46. São Paulo. Set/dez. 2006.<br />

Disponível em: Acesso em: 17 set. 2009.<br />

KOELLREUTTER, H. J. O Humano: objetivo de estudos musicais na escola moderna.<br />

SIMPÓSIO PARAENSE DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 3. Anais... Londrina, p.10-17, 1994.<br />

______. Educação e cultura em um mundo aberto como contribuição para promover a paz.<br />

Cadernos de Estudos: Educação Musical. N 16. Belo Horizonte, Ed: Atravez, fev, 1997.<br />

NACHMANOVITCH, Stephen. Ser criativo: o poder da improvisação na vida e na arte. São<br />

Paulo: Summus, 1993.<br />

SEDIOLI, Ariana. Sonorità in gioco. In: MAZZOLI, F; SEDIOLI, A; ZOCCATELLI, B<br />

(orgs). I giochi musicali dei piccoli. Bergamo, Itália: Ed. Junior, 2003. p. 49-90. (Quaderni<br />

Operativi).<br />

TARKOVSKY, Andrei. Esculpir en el tempo. Ediciones Rialp, 2005.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A Compreensão das Funções Harmônicas Básicas (Tônica e Dominante)<br />

Através da Aprendizagem de Acordeom: um olhar a partir do fazer<br />

musical de crianças<br />

Jonas Tarcísio Reis<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul<br />

(UFRGS)/PPGEDU/CAPES -EDUCAMUS/CNPq<br />

jotaonas@yahoo.com.br<br />

Leda de Albuquerque Maffioletti<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul<br />

(UFRGS)/PPGEDU - EDUCAMUS/CNPq<br />

leda.maffioletti@gmail.com<br />

Resumo: O presente trabalho trata de um projeto de pesquisa em andamento que tem como<br />

objetivo compreender e explicar como as crianças de seis a oito anos chegam a compreender<br />

as funções harmônicas básicas (tônica e dominante) no contexto da aprendizagem de<br />

acordeom. A pesquisa está sendo realizada com três crianças de idade entre seis a oito anos,<br />

em um Lar para crianças e adolescentes, localizado na cidade de Porto Alegre – RS. O<br />

desenho metodológico da pesquisa se apóia em princípios do método clínico piagetiano. Os<br />

dados estão sendo coletados através de entrevistas e observações clínicas. O registro dos<br />

dados se dá por meio de diários de campo e filmagens das aulas. Escolheu-se este espaço<br />

educativo-musical pelo fato de os educandos estarem imersos em um processo de educação<br />

musical com acordeom apianado. Utilizaremos como subsídio teórico o conceito de tomada<br />

de consciência proposto por Piaget et. al. (1977; 1<strong>978</strong>). As questões complementares a serem<br />

respondidas são: Quais as estratégias empregadas pela criança para definir a mudança de<br />

função harmônica no acompanhamento da melodia em estudo, e a natureza das explicações<br />

construídas para justificar suas próprias escolhas? Quais as noções que prefiguram ou estão<br />

implicadas na compreensão das funções harmônicas básicas (tônica e dominante) na<br />

aprendizagem de acordeom?<br />

Palavras chave: Acordeom, harmonia, tomada de consciência<br />

1. Introdução<br />

É notório que as músicas e o ensino e aprendizagem de instrumentos populares no<br />

Brasil, tais como acordeom, gaita de boca, viola caipira, cavaquinho, bandolim, entre outros,<br />

somente agora vêm adquirindo mais espaço no ensino superior.<br />

O acordeom foi um instrumento inventado para ser usado na interpretação de música<br />

tonal (com harmonia tonal), embora, também, seja utilizado na interpretação de repertório<br />

atonal na atualidade, principalmente em países onde ele já foi amplamente incorporado aos<br />

circuitos da música erudita, como na Europa e Ásia.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A baixaria do acordeom é a parte onde se toca o acompanhamento rítmico-harmônico.<br />

Foi organizada considerando o círculo das quintas, possibilitando o fácil deslocamento entre<br />

as funções harmônicas básicas do sistema tonal, a saber: Tônica, Subdominante e Dominante.<br />

Complementarmente, é necessário frisar que a baixaria do acordeom está disposta fisicamente<br />

de modo igual em todos os modelos, variando apenas em números de botões (baixos). A<br />

técnica para a construção de acompanhamento nessa parte do instrumento é semelhante nas<br />

diferentes culturas musicais que fazem uso do acordeom. Porém, algumas variações são<br />

encontradas de acordo com a cultura musical propagada (REIS, 2010a, p. 29). Muitos são os<br />

conhecimentos musicais a serem produzidos na aprendizagem de acordeom, a harmonia é um<br />

deles. E ela vem sendo pouco abordada nas pesquisas da área de Educação Musical.<br />

“Acordes maiores, menores, de sétima da dominante e sétima da diminuta são obtidos<br />

ao apertar apenas um baixo. Tal mecanismo facilita a construção dos acompanhamentos<br />

rítmico-harmônicos na baixaria” (REIS, 2010a, p. 23). O acompanhamento é como se fosse<br />

uma espécie de plataforma por onde andam os sons principais presentes na melodia. O que<br />

fica em nossas mentes em um primeiro momento são as melodias, mas, embora muitas vezes<br />

não tenhamos consciência, elas estão escritas, construídas com base em um suporte<br />

harmônico consciente ou inconscientemente concebido pelo compositor (LEVITIN, 2010).<br />

Parece que a peculiaridade concebida ao acordeom pelo fato de a baixaria ter de ser<br />

tocada sem podermos visualizar as ações motoras nela empregadas têm implicações na<br />

aprendizagem das funções harmônicas básicas (Tônica e Dominante) da harmonia tonal. Esta<br />

peculiaridade oportuniza ao aprendiz a criação de outros mecanismos para usar a baixaria com<br />

eficiência, por não poder ver o que está fazendo. É possível olhar a baixaria caso se queira,<br />

mas é dificílimo fazê-lo durante a interpretação musical com o instrumento.<br />

Assim, esta pesquisa buscará trazer avanços conceituais e teóricos para a área de<br />

Educação Musical. Terá implicações diretas na minha formação profissional, pois poderá<br />

revelar a natureza das dificuldades que os alunos enfrentam na interpretação de música tonal<br />

no acordeom 1<br />

ao ter de conciliar a interpretação simultânea de melodia (no teclado) e<br />

acompanhamento rítmico-harmônico (na baixaria). Procurará trazer para o campo da<br />

psicologia da aprendizagem musical, novas reflexões acerca da compreensão e da<br />

aprendizagem de harmonia no acordeom, bem como sobre a conceituação harmônica por<br />

parte de crianças. Servirá também para compreendermos como a aprendizagem de harmonia<br />

funciona neste instrumento para podermos exercitá-la com base em um conceito claro, uma<br />

1 Existem vários modelos de acordeom. Nesta pesquisa usamos o acordeom apianado de 24 baixos que facilita o<br />

manuseio por parte de crianças pelo seu tamanho reduzido.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

vez que dominar alguns princípios da lei harmônica tonal subsidia: a atividade de “tirar<br />

música de ouvido”, muito presente na prática musical popular; o acompanhamento<br />

instrumental de canções na figura das improvisações; como requisito à prática composicional<br />

tonal.<br />

2. Objetivo Geral<br />

Compreender e explicar como as crianças de seis a oito anos chegam a compreender as<br />

funções harmônicas básicas (tônica e dominante) no contexto da aprendizagem de acordeom.<br />

2.1 Objetivos específicos<br />

Identificar as estratégias empregadas pela criança para definir a mudança de função<br />

harmônica no acompanhamento da melodia em estudo, e a natureza das explicações<br />

construídas para justificar suas próprias escolhas.<br />

Identificar as noções que prefiguram ou estão implicadas na compreensão das funções<br />

harmônicas básicas (tônica e dominante) na aprendizagem de acordeom.<br />

3. Justificativa<br />

A prática musical com acordeom é um fato muito presente na Música Popular<br />

Brasileira (MPB) - maiormente nos regionalismos compostos por gêneros musicais mais<br />

antigos, anteriores a década de 1950, como na: Música Popular Gaúcha (MPG); Música<br />

Caipira; Música Nordestina; etc. Contudo, a sua discussão no âmbito acadêmico é<br />

severamente escassa. Isso é explicado pela ausência significativa do acordeom no contexto da<br />

música erudita, que ainda impera como atriz principal no palco das graduações em música<br />

desta nação.<br />

Com isso, são poucos os trabalhos de discussão sobre os fenômenos culturais e<br />

educacionais envolvendo o acordeom. Na literatura brasileira temos três monografias relativas<br />

à processos educativo-musicais com acordeom (PERSCH 2006; MACHADO, 2009; REIS,<br />

2010a) nove artigos (REIS, 2009, 2010b, 2010c, 2010d, 2010e, 2010f; REIS; BEYER, 2010;<br />

REIS; BÜNDCHEN, 2010; WEISS; LOURO-HETTWER, 2010), e uma dissertação<br />

(ZANNATA, 2005) escrita no campo das ciências sociais. Assim, na condição de professorpesquisador,<br />

seguimos empreendendo esforços para compreender melhor o ensino e a<br />

aprendizagem de acordeom em contextos brasileiros. Mas, agora, o foco estará mais voltado<br />

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para a compreensão da aprendizagem de acordeom do que para o ensino deste instrumento,<br />

diferentemente de empreitadas anteriores (REIS, 2009, 2010a).<br />

A discussão sobre cognição musical no campo da harmonia requer fôlego e novas<br />

investidas investigativas, uma vez que a área, ainda, é carente de pesquisas nesse sentido.<br />

Poucos são os trabalhos acerca da aprendizagem e compreensão harmônica musical. Destacase<br />

o trabalho realizado por Pecker (2009), que buscou compreender os processos cognitivos<br />

que asseguram as conquistas das crianças de dois a cinco anos de idade sobre os modos do<br />

sistema tonal. Pecker (2007) também traz reflexões nesta mesma linha temática. Na literatura<br />

internacional os trabalhos de Costa-Giomi (1994a; 1994b; 2001a; 2001b; 2003) sobre o<br />

desenvolvimento da percepção harmônica na infância igualmente podem ser mencionados<br />

como relevantes para as reflexões que queremos projetar nesse estudo. Do ponto de vista<br />

cognitivo entendemos, neste estudo, percepção como um primeiro reconhecimento, por parte<br />

do sujeito, de algo existente em objetos com os quais interage.<br />

A harmonia é o eixo central da música. Ela estabelece as relações entre os objetos<br />

sonoros que formam as obras musicais, e por isso, cada indivíduo que manipula e cria algo<br />

que pode ser chamado de música estará fazendo uso singular de leis harmônicas já existentes,<br />

ou, então, estará promovendo uma nova invenção. Foi através desse tipo de promoção que os<br />

novos sistemas harmônicos emergiram e emergem no mundo atual. Nesse sentido, do ponto<br />

de vista educacional que nos apetece, levar o educando à compreensão do aspecto individual<br />

da invenção harmônica consiste em uma das mais importantes tarefas de um ensino de<br />

harmonia para a produção artística (MOTTE, 1994, p. 18). A eficácia, aplicabilidade e<br />

receptividade das relações harmônicas criadas ou reproduzidas em novas obras musicais é<br />

fruto direto da interação entre o sujeito - seja este, alguém que crie, recrie, aprecie, dance, ou<br />

interaja de algum outro modo possível com os conglomerados sonoros - e o material musical<br />

em foco. Assim, a compreensão de determinadas elaborações harmônicas contidas nas<br />

músicas de específicos grupos humanos depende dos mecanismos cognitivos social e<br />

culturalmente desenvolvidos destes.<br />

Nessa perspectiva, como educadores musicais e pesquisadores, nosso desejo se<br />

encontra numa circunscrição que aponta e reside na inquietação de compreender e explicar<br />

como as crianças de seis a oito anos chegam a compreender as funções harmônicas básicas<br />

(tônica e dominante) no contexto da aprendizagem de acordeom. Trata-se de uma temática<br />

ainda não interpelada pela área de educação musical. E é necessário sabermos como o sujeito<br />

aprende tal elemento da linguagem musical, desvelando os possíveis obstáculos que podem<br />

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emergir no processo de ensino-aprendizagem, para posteriormente subsidiarmos a<br />

estruturação de práticas pedagógico-musicais que facilitem os processos de construção de<br />

conhecimento musical. O estudo sobre como as crianças aprendem é necessário para melhorar<br />

a educação musical.<br />

4. Desenho metodológico<br />

Esta pesquisa se caracteriza pela sua natureza qualitativa. Qualitativa por que<br />

buscaremos compreender, interpretar e apreender a estrutura do pensamento da criança. Sem<br />

com isso almejar mensurações ou quantificações como pressupõe as pesquisas de natureza<br />

quantitativa, muito menos usar classificações de modo a enquadrar os sujeitos em modelos de<br />

certo ou errado estritamente. Pelo contrário, queremos aprofundar-nos no estudo das causas<br />

que levam o sujeito a pensar de modos específicos, nos atendo aos detalhes que lhe são<br />

inerentes no que tange a compreensão harmônica musical via aprendizagem de acordeom.<br />

Tal investida é desafiadora, porque sabemos que fazer pesquisa sobre a construção de<br />

conhecimento em crianças é difícil, uma vez que a clareza no discurso delas é uma<br />

característica quase ausente para subsidiar a compreensão do pesquisador acerca de como elas<br />

aprendem e pensam. E isso já fora constatado pelos estudiosos da Epistemologia Genética,<br />

liderados por Jean Piaget. Tendo essa premissa como fato consumado, a alternativa que se<br />

apresenta com melhores sinalizações de viabilização da compreensão do pensar infantil, é o<br />

uso de alguns princípios do Método Clínico como estratégia básica para a presente pesquisa<br />

em comum acordo com os alinhavos teóricos que sustentarão a interpretação dos dados e<br />

exposição dos resultados.<br />

Kebach (2003), Maffioletti (2005) e Pecker (2009) já fizeram uso deste método em<br />

pesquisas no campo da cognição musical. Ele engloba observação, experimentação e<br />

entrevista clínica. A experimentação é uma situação criada para observar a ação do sujeito<br />

diante de um objeto específico. A entrevista foca a representação verbal do sujeito acerca de<br />

suas ações (KEBACH, 2002).<br />

O método clínico é um procedimento de coleta e análise de dados para o estudo do<br />

pensamento humano. A coleta é realizada por meio de “entrevistas” ou “situações muito<br />

abertas”, onde a meta é acompanhar o curso do pensamento do sujeito diante de uma situaçãoproblema,<br />

“fazendo uso de novas perguntas para esclarecer respostas anteriores. Consta,<br />

portanto, de algumas perguntas básicas e de outras que variam em função do que o sujeito vai<br />

dizendo e dos interesses que orientam a pesquisa que esta sendo realizada” (DELVAL, 2002,<br />

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p. 12). Usa-se da contra-argumentação “do seu ponto de vista para captar a lógica mais<br />

profunda sobre a qual se apóia” e “compreender sobre quais bases assenta-se seu raciocínio”<br />

(MAFFIOLETTI, 2005, p. 137-136).<br />

O estudo será feito com três crianças 2 de seis a oito anos de idade, de um Lar para<br />

crianças e adolescentes situado na cidade de Porto Alegre, com consentimento legal para<br />

participarem da pesquisa. A entidade fora escolhida por ser o local onde são desenvolvidas<br />

atividades pedagógico-musicais com acordeom para crianças desta faixa etária. É uma<br />

entidade não-governamental que presta serviços de amparo a crianças e adolescentes menores<br />

de dezoito anos de idade.<br />

4.1 Coleta de dados<br />

Os dados serão coletados através de entrevistas semi-estruturadas e observações do<br />

fazer musical dos educandos nas aulas individuais de acordeom. Esse tipo de entrevistas se<br />

constitui de perguntas básicas comuns para todos os sujeitos, que irão sendo “ampliadas e<br />

complementadas de acordo com as respostas dos sujeitos para poder interpretar o melhor<br />

possível o que vão dizendo” (DELVAL, 2002, p. 147).<br />

As entrevistas serão feitas durante os eventos educativo-musicais, mais precisamente<br />

no momento da aprendizagem da conjugação das duas mãos na interpretação musical com<br />

acordeom, instigando as crianças a explicar o que estão fazendo, o que fizeram, e o que<br />

pensaram em fazer para desempenhar tal tarefa musical. Isto será feito durante doze semanas<br />

de aulas, com uma hora de aula de acordeom por semana com cada criança, totalizando doze<br />

horas de aulas por sujeito.<br />

Durante estas aulas as crianças aprenderão três músicas (três valsas compostas<br />

exclusivamente para este fim) com evolução harmônica idêntica (quatro compassos iniciais<br />

feitos com acompanhamento de acorde de Tônica, seguidos de quatro compassos com<br />

acompanhamento de acorde de Dominante, e um nono compasso na Tônica, finalizando a<br />

composição), porém em tonalidades diferentes, para verificarmos a construção de<br />

conhecimento harmônico. Durante a aprendizagem, as atenções do professor-pesquisador<br />

estarão voltadas para a compreensão das estratégias empregadas pelas crianças para chegar à<br />

interpretação tocando melodia e acompanhamento rítmico-harmônico concomitantemente.<br />

2 Para preservar a identidade dos sujeitos de pesquisa, usaremos letras escolhidas aleatoriamente para referir-nos<br />

aos mesmos.<br />

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As entrevistas serão usadas para que as crianças verbalizem sobre as estratégias<br />

empregadas no curso da sua aprendizagem, e comuniquem as suas representações mentais<br />

acerca do seu fazer para compreendermos como elas pensam. Para as entrevistas, as perguntas<br />

básicas serão:<br />

- Como você sabe quando tem que mudar o acompanhamento na baixaria?<br />

- No que você se baseia para tocar as duas partes juntas (acompanhamento e melodia)?<br />

- Como você sabe o momento de mudar?<br />

- Esta música tem algo de parecido com a outra que tocastes?<br />

- Nos baixos tem alguma coisa que você faz baseado na outra música, ou é tudo novo?<br />

Quando o sujeito estiver tocando a segunda e terceira músicas, será questionado por<br />

que razão achou que devia trocar o acompanhamento em determinado momento a fim de<br />

identificarmos os processos cognitivos envolvidos e se faz relações entre as evoluções<br />

harmônicas das músicas. Posteriormente, será colocado aos educandos o desafio de identificar<br />

semelhanças entre as obras estudadas e o que se faz igual ou não em termos de<br />

acompanhamento nelas, valendo-se estritamente de suas memórias.<br />

Quando envolvidas no seu fazer musical com acordeom questionarei as crianças sobre<br />

quais estratégias estão empregando para saber quando mudar o acompanhamento. Procurarei<br />

apreender o nível de compreensão que as crianças contraem sobre seu próprio fazer, e que<br />

mecanismos elas põem em ação para saber o momento exato de mudar o acompanhamento do<br />

campo da Tônica para a Dominante e vice-versa, e a natureza das explicações construídas<br />

para justificar suas próprias escolhas. Buscarei tornar explícitas: as possíveis causas da<br />

estruturação do saber harmônico como necessário a continuação da aprendizagem no<br />

acordeom, identificando o que das ações anteriores fora generalizado; as coordenações<br />

inferenciais e de ações que possibilitam a aprendizagem harmônica no uso do acordeom; as<br />

noções que prefiguram ou estão implicadas na compreensão das funções harmônicas básicas<br />

(tônica e dominante) na aprendizagem de acordeom; a composição de generalizações acerca<br />

dos encadeamentos idênticos entre as funções harmônicas básicas presentes no repertório<br />

tonal em estudo.<br />

4.2 Registro dos dados<br />

Os dados serão registrados através de diários de campo de acompanhamento<br />

individualizado, e gravação audiovisual das aulas e entrevistas para podermos rever as ações<br />

dos sujeitos. Serão doze horas de gravação de aulas por educando. Desse total serão<br />

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recortadas partes onde as entrevistas clínicas foram realizadas. Nos diários de campo serão<br />

registradas as análises das aulas de acordeom, e todas as atitudes e manifestações dos<br />

educandos que possam implicar na estruturação do conhecimento harmônico. Com base nos<br />

dados registrados, far-se-á a composição de protocolos únicos para cada sujeito pesquisado<br />

descrevendo a sua aprendizagem.<br />

Os procedimentos para a composição dos protocolos serão:<br />

- Degravação integral das entrevistas, e parcial das aulas (partes onde a problemática<br />

harmônica se mostrar evidente na aprendizagem musical com acordeom);<br />

- Síntese analítica das sequências de ações dos educandos durante as aulas a partir dos<br />

registros no diário de campo, com identificação do sujeito e datação do acontecimento<br />

educacional;<br />

- Avaliação das entrevistas e observações com base nos conceitos teóricos (adaptação,<br />

assimilação, acomodação, esquema, coordenações de ações, inferência, generalização,<br />

compreensão, tomada de consciência, conceituação, fazer e compreender) adotados à<br />

pesquisa. Esse procedimento irá permitir o mapeamento das peculiaridades identificadas no<br />

fazer e compreender dos indivíduos pesquisados, viabilizando a construção de articulações<br />

entre o processo de compreensão das funções harmônicas básicas dos três sujeitos<br />

pesquisados.<br />

4.3 Parâmetros das análises<br />

O desenvolvimento da compreensão das funções harmônicas básicas (Tônica e<br />

Dominante) será analisado a partir do fazer musical das crianças com o acordeom, dos<br />

diálogos verbais estabelecidos com o professor na sala de aula, e pelas condutas dos alunos<br />

frente aos questionamentos colocados nas entrevistas clínicas realizadas nas aulas. Isso<br />

permitirá destacar a conduta do educando frente aos desafios da aprendizagem de acordeom,<br />

procurando perceber no que o sujeito baseou-se para aprender a música em questão na aula.<br />

Será possível identificar se o apoio encontra-se em aspectos motores estritamente, decorando<br />

por contagem de tempos o momento de mudar de função harmônica no acompanhamento<br />

rítmico-harmônico, ou se fundamenta na cadência e na sensação de tensão e repouso existente<br />

na melodia para guiar a interpretação do acompanhamento. Assim, identificaremos, o apoio<br />

sobre a noção de ritmo harmônico, caracterizando, por conseguinte e, com efeito, a efetuação<br />

de generalizações a partir das experiências de aprendizagem construídas com as três músicas<br />

empregadas no estudo. Desse modo será possível desvelar os enlaces lógicos que constituem a<br />

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compreensão das funções harmônicas como conhecimento estruturado e também como<br />

subsídio a aprendizagem de outras obras musicais, ancorado no aparato teórico<br />

epistemológico que embasa esta pesquisa.<br />

Os parâmetros para as análises dirigem a atenção diretamente para as ações das<br />

crianças frente à junção da interpretação da melodia com o acompanhamento rítmicoharmônico<br />

das músicas em estudo. Através das próprias ações das crianças no fazer musical<br />

poderemos observar as relações e conexões do seu pensamento, podendo, eventualmente,<br />

pedir esclarecimentos sobre como conseguiram desempenhar determinada tarefa, ou superar<br />

um obstáculo posto em evidência. O interesse é explicar o desenrrolar da compreensão das<br />

funções harmônicas básicas no acordeom, sabendo que é preciso fazer para compreender, e<br />

tendo a hipótese de que é preciso ter construída as noções tensão, repouso e cadência da<br />

harmonia tonal, estando envolvidas as noções de consonância e dissonância (sons que<br />

combinam ou não). A observação clínica será baseada nestes princípios teóricos previamente<br />

estabelecidos pelo pesquisador, do contrário ficaríamos a observar qualquer coisa.<br />

Tendo o pesquisador acompanhado o desenrolar do fazer musical dos educandos,<br />

buscará a coerência entre o fazer musical deles durante as aprendizagens e a maneira como<br />

refletem sobre elas, como as verbalizam. Na análise visaremos à interpretação: das reações do<br />

sujeito frente às atividades propostas; das explicações fiduciosas e hesitosas dadas sobre como<br />

fazia para aprender; dos seus comentários arbitrários durante as aulas, revelando momentos<br />

ricos do seu pensar e refletir. Buscar-se-á, sempre, coerência entre os dados analisados e o<br />

corpo teórico proposto, o que caracterizará o grau de confiabilidade da novidade trazida pelo<br />

estudo.<br />

Na análise dos dados, mediante as leituras dos protocolos, pretende-se estabelecer<br />

paralelos entre o pensamento de um e de outro aluno no sentido de identificar patamares<br />

comuns na estruturação do conhecimento sobre as funções harmônicas básicas. O<br />

procedimento comparativo é necessário para aprofundar a compreensão a respeito de um<br />

fenômeno específico para, verdadeiramente, compreender possíveis nuances e diferenças na<br />

aprendizagem musical harmônica, sem, com isso, almejar hierarquizações ou quantificações.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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A Recriação Musical no Teclado: reflexões pedagógico-musicais com “O<br />

Filho do Piano”<br />

Jonas Tarcísio Reis<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul<br />

(UFRGS)/PPGEDU/CAPES -EDUCAMUS/CNPq<br />

jotaonas@yahoo.com.br<br />

Filipe Batista Minho<br />

Secretaria Municipal de Educação<br />

de Porto Alegre (SMED)<br />

fbminho@msn.com<br />

Resumo: A conjuntura atual de efervescência tecnológica resulta em efeitos diretos no ensino<br />

de música, implicando novas possibilidades de vivência e construção de conhecimento<br />

musical. Neste sentido, este trabalho congrega reflexões sobre possibilidades de ensino e<br />

aprendizagem de teclado com crianças, tendo como campo empírico aulas particulares<br />

realizadas por dois professores de música na região metropolitana de Porto Alegre - RS.<br />

Discute-se a importância de considerar o desejo do educando e o seu saber musical informal<br />

na recriação musical no teclado. Abordam-se os recursos disponíveis no instrumento para o<br />

enriquecimento da prática pedagógico-musical, visando a aproximar o aluno do “filho do<br />

piano” (teclado) através de recursos tecnológicos disponíveis nele.<br />

Palavras chave: Teclado, ensino e aprendizagem musical, recriação musical<br />

Introdução<br />

No tempo atual borbulham abundantemente novas informações e surgem, cada vez<br />

mais, novas tecnologias. Isso repercute diretamente na aula de música. Nesse contexto, que<br />

não é novo, o teclado emergiu no cenário do ensino e aprendizagem de instrumentos musicais.<br />

Surgiu não de forma a tomar o espaço do piano - que já está consolidado na cultura musical<br />

ocidental, principalmente -, mas, sim, em um movimento em que as novas tecnologias<br />

permeiam frequentemente as aulas de instrumentos musicais. Esse momento histórico, onde a<br />

tecnologia é grande atriz, leva ao surgimento de interesses diferentes pela aprendizagem<br />

musical, onde a possibilidade de trabalhar e brincar com timbres e outras características do<br />

som e da música, em um instrumento musical harmônico ligado ao nosso tempo, insere os<br />

alunos em um contexto que é inevitável: o de seu cotidiano, da modernidade, da diversidade,<br />

dos sons eletrônicos, etc.<br />

Levando em consideração tais ponderações, este artigo busca trazer reflexões sobre o<br />

ensino de teclado para crianças em alguns contextos específicos, apresentando considerações<br />

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para a área de estudos sobre a recriação 1 musical à luz do legado teórico de Jean Piaget e de<br />

discussões realizadas na área de educação musical acerca do ensino do referido instrumento<br />

(SANTOS, 2005, 2006; AMARAL e TAVARES, 2011; VERHAALEN, 1989; OBA e<br />

LOURO, 2010; PEREIRA, 2004; NEVES, 2002). A base empírica advém de aulas realizadas<br />

em escolas particulares de música de Porto Alegre, e também de aulas desenvolvidas no<br />

LARCAMJE (Lar da Criança e do Adolescente Menino Jesus) 2 , localizado na mesma cidade.<br />

Como as aulas foram desenvolvidas pelos autores, todas as reflexões partem diretamente da<br />

prática destes.<br />

A discussão buscará evidenciar os específicos caminhos seguidos durante a prática<br />

docente que visa a aproximar o aluno do instrumento através de recursos tecnológicos que<br />

estão disponíveis no “filho do piano”. Chamamos “filho do piano” porque o teclado advém<br />

desta necessidade, por razão da evolução tecnológica, de suprir aspectos não saciados no<br />

piano e em seu ensino, sem desconsiderar a técnica e o legado histórico deste. Ou seja,<br />

consideramos que o teclado é a continuação (ramificação) do piano em um contexto moderno<br />

– que está em constante inovação e transformação –, assim como uma família constitui sua<br />

descendência através do nascimento de filhos. Diante disto, encontra-se uma das principais<br />

características do ensino de teclado. As novas possibilidades educacionais musicais<br />

influenciadas pela evolução tecnológica também se tornaram um fator de inclusão de muitos<br />

alunos, tendo também importância a emergência do acesso em larga escala a instrumentos<br />

mais baratos, pois produzidos em grande quantidade.<br />

Considerando o Desejo do Aluno na Recriação Musical no Teclado<br />

No LARCAMJE a proposta de educação musical desenvolvida visa a propiciar o<br />

acesso dos moradores do Lar à educação musical formal, em uma perspectiva construtivista e<br />

1 Ao invés de usar o conceito de execução musical como comumente se tem empregado na área científica de<br />

Educação Musical no Brasil, optou-se pelo termo recriação, pelo fato de que nenhuma obra musical pode ser<br />

apresentada, tocada ou cantada duas vezes da mesma maneira, do ponto de vista psicológico. Toda execução<br />

musical, embora possa ser da mesma música, nunca será idêntica a anteriores, principalmente pelo fato de cada<br />

interprete aplicar os seus conhecimentos musicais no fazer musical específico. Então, cada execução,<br />

verdadeiramente, trata-se de uma recriação musical, visto que emerge visual e sonoramente com variações.<br />

Estas variações podem ser facilmente observadas e identificadas, ou surgir tão sutilmente que somos capazes de<br />

dizer que uma interpretação se dera de modo igual à outra específica apresentação que tomamos por base.<br />

Todavia, os elementos presentes em uma apresentação sempre se diferenciam em algum ponto dos elementos<br />

que constituíram modelos anteriores. Portanto, por mais que determinado professor, sendo adepto de uma visão<br />

epistemológica empirista, queira que a interpretação da obra musical específica, que é objeto de estudo em<br />

determinado momento, seja uma “reprodução mecânica” (KEBACH, 2008), pura, feita pelo aluno, ela não<br />

ocorrerá, por causa dos fatores supracitados.<br />

2 Entidade filantrópica que presta serviços de amparo a crianças e adolescentes menores de dezoito anos de idade<br />

oriundos de situações de vulnerabilidade social.<br />

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libertadora, fundamentada em alguns dos pressupostos teóricos piagetianos e freirenianos, tais<br />

como o respeito ao tempo de aprendizagem do aluno, a valorização do saber informal e das<br />

interações sociais e a autonomia e liberdade para aprender, propiciando uma postura<br />

educativo-musical fomentadora de aprendizagens significativas para os educandos. O foco<br />

principal do ensino é a musicalização por meio da prática de conjunto de flauta doce, canto e<br />

percussão, e individual de teclado e acordeom, enfatizando atividades calcadas no eixo<br />

triádico formado por apreciação, recriação e criação musical 3 . As músicas usadas para se<br />

aprender a tocar, e aprofundar o nível de domínio sobre o teclado, são as mesmas utilizadas<br />

no ensino dos instrumentos supracitados. São músicas folclóricas e obras musicais retiradas<br />

do cancioneiro popular brasileiro. Isso acontece desta maneira porque o conhecimento prévio<br />

das melodias e dos ritmos das obras musicais tocadas naqueles instrumentos permite a<br />

dedicação maior a outros elementos da música, como harmonia e forma, e da técnica<br />

específica de tocar teclado por parte das crianças. Portanto, no aprendizado a atenção se volta,<br />

inicialmente, para a formação de esquemas motores próprios para a interpretação musical no<br />

teclado das obras que são escolhidas pelos alunos dentre aquelas que já conhecem.<br />

Um dos princípios das aulas de teclado é não expor o aluno à aprendizagem de uma<br />

série grande de elementos musicais ao mesmo tempo, mas sim desenvolver cada conteúdo<br />

musical para promover a construção do conhecimento musical, de forma que a criança se<br />

aproprie e compreenda cada aspecto musical trabalhado em aula. Destarte, também a busca<br />

não é por ensinar a tocar por partitura, compreendendo esse instrumento na sua complexidade<br />

imediatamente, ou fazer com que os alunos sejam detalhistas ou ensinar desde as primeiras<br />

aulas as obras musicais nos seus mais variados elementos formadores, nos mínimos detalhes.<br />

Os processos de ensino e aprendizagem ocorrem com agregação gradual de elementos<br />

musicais que, ao final, resulta na interpretação quase fiel 4 da obra tomada como conteúdo. O<br />

indivíduo é levado, através da prática pedagógica e da manipulação ativa do objeto musical a<br />

sucessivas tomadas de consciência (PIAGET et al., 1977; 1<strong>978</strong>), que o conduzem ao domínio<br />

cada vez mais aprofundado da linguagem musical.<br />

Sabemos que cada sujeito manipula o objeto musical de uma forma diferente, visto<br />

que possui esquemas mentais diferentes (BEYER, 1996). Desta forma, por desenvolverem<br />

diferentes processos de aprendizagem, vários indivíduos que compõem um mesmo corpo<br />

discente assumem objetivos musicais diversos. Por isso, uma recriação musical em conjunto,<br />

3<br />

Para aprofundamentos sobre o ensino musical no LARCAMJE, ver REIS, 2009a; 2009b; 2009c.<br />

4 Usa-se a expressão quase fiel, por tratar-se de uma interpretação que contém elementos e intenções de cada<br />

indivíduo.<br />

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por exemplo, é o somatório das interpretações semelhantes dos interpretes envolvidos. A<br />

recriação musical de uma mesma música por diferentes pessoas carrega características<br />

próprias, principalmente quando aliada a liberdade expressiva, culminando no<br />

desenvolvimento de condutas criativas no fazer musical coletivo.<br />

No entanto, esta recriação musical coletiva normalmente não acontece na escola de<br />

música. Somente ocorrerá se em tal instituição forem oferecidas aulas em grupo que<br />

oportunizem tal vivência aos seus alunos. No entanto, uma das principais características da<br />

aula particular de um instrumento musical, principalmente no ensino do teclado, é a recriação<br />

musical individual.<br />

Em um modelo pedagógico mais clássico, o professor disponibiliza, ao início da aula,<br />

a partitura da nova música que deve ser aprendida até o fim da aula, e o produto final<br />

satisfatório é a simples reprodução do que está escrito na pauta. Por causa de ações docentes<br />

como estas, muitos são os alunos que se decepcionam, porque não vêem relação daquilo que<br />

fazem em aula com o que, verdadeiramente, desejam vivenciar como indivíduos ativos<br />

musicalmente. Desta forma, não há interesse para fazer e, consequentemente, o aluno não<br />

ativa instrumentos cognitivos para resolver problemas e transcender dificuldades.<br />

Portanto, como professores libertadores conscientes de nosso papel educacional,<br />

sabemos que o desejo discente é fundamental para o processo de aprendizagem e, muitas<br />

vezes, este anseio está explícito em frases constantemente ouvidas nas aulas, como “quero<br />

formar uma banda de...”, “vim aprender porque entrei em grupo”, “quero só tocar com<br />

minha família e amigos”, “quero tocar porque gosto do som...”, entre outras, seja da resposta<br />

mais simples a mais complexa, são recorrentes nos discursos de alunos particulares de<br />

instrumento. Entretanto, no ensino tradicional, o professor nem ao menos oportuniza ao aluno<br />

um espaço de liberdade para conhecer sua vivência musical, perguntando sobre suas cobiças e<br />

experiências prévias relacionadas à música. E é neste ponto que se encontra uma das<br />

principais diferenças entre o modelo tradicional e a abordagem construtivista e libertadora.<br />

Neste sentido, levá-lo até a exaustão com reproduções individuais constantes, sem<br />

proporcionar liberdade expressiva e o desenvolvimento da capacidade criativa, ou não<br />

oportunizar momentos onde o aluno possa vislumbrar sua interpretação individual no âmbito<br />

coletivo, pode não produzir relações de significado e, consequentemente, frustrar as<br />

expectativas geradas pelo aluno a respeito do próprio aprendizado musical. E, assim, muitos<br />

são aqueles que, por causa destes motivos, não permanecem nem ao menos seis meses em<br />

uma aula particular de instrumento.<br />

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Na contramão disto, o ensino do teclado reaproxima este aluno, em sala de aula, do<br />

contexto modernizado no qual ele está inserido no dia-a-dia. Através dos recursos disponíveis<br />

no teclado, que podem ser utilizados para ampliar a ludicidade como fator preponderante nas<br />

aulas para as crianças, o professor desenvolve práticas que abordam diversos conteúdos, como<br />

pulsação, ritmo, acompanhamento na interpretação musical, reconhecimento de timbres e<br />

estilos, parâmetros do som, etc., de modo ímpar.<br />

Tudo isso se torna mais prático quando contemplamos uma situação típica de uma aula<br />

de teclado. Cada indivíduo cultiva suas preferências musicais e as leva para o aprendizado do<br />

instrumento (sobre o ensino centrado no aluno, ver GLASER; FONTERRADA, 2006). Se o<br />

professor em questão tiver sua ação pedagógica baseada no pensamento construtivista, ele<br />

trabalhará também com o conhecimento e gosto musical trazido pelo aluno, compreendendo<br />

que nunca se aprende algo novo do nada, nunca se parte do zero, pois as bases para as novas<br />

construções, de alguma forma, mesmo sendo esta elementar, já estão lançadas. Nisso, o<br />

diálogo saber formal e saber informal musical (ARROYO et al. , 2000; WILLE, 2003; REIS,<br />

2009d) surge na aula de música como uma ferramenta e uma prática indispensável para a<br />

construção do conhecimento musical do educando de maneira significativa, pois permite o<br />

estabelecimento de relações entre o que se sabe, o que se quer saber, e o que é necessário<br />

saber para atingir um fim que é construído democraticamente entre docente e discente.<br />

Os Desafios do Repertório<br />

Abordar o ensino de músicas pertencentes a estilos musicais recorrentes nos discursos<br />

dos alunos, como o rock, o pop, o pagode, etc., evidencia outra problemática, visto que há a<br />

necessidade de mais instrumentos e pessoas para alcançar o produto sonoro desejado pelo<br />

aluno através de sua interpretação. É neste aspecto que o teclado se encaixa perfeitamente,<br />

evidenciando algumas de suas possibilidades para o trabalho com esse tipo de repertório.<br />

Neste caso, a bateria da versão original da música estudada pode ser programada no teclado.<br />

Podemos programar, também, outros instrumentos musicais, como baixo, guitarra, violão,<br />

entre tantos outros encontrados no instrumento teclado. Logo, o aluno é levado a um processo<br />

de recriação musical em nível de produção de arranjo musical, uma interpretação individual<br />

diferente, que contempla características da música original.<br />

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Outro aspecto constantemente vivenciado nesta recriação musical no teclado concerne<br />

à instrumentação da música escolhida. Muitas das grandes obras da música erudita ocidental 5<br />

foram compostas para orquestra. Dessa forma, utilizar esse repertório no piano nem sempre<br />

gera o resultado sonoro esperado pelo aluno. As notas que devem ser tocadas, a pulsação<br />

imprimida e a expressão podem estar perfeitas, de acordo com o que foi estipulado, mas “não<br />

é este som que está na música que eu ouço...”, “não está igual à música do CD”, “está<br />

faltando alguma coisa”, são algumas das frases que os alunos costumam afirmar. Como<br />

exemplo, pode-se citar “Assim Falou Zaratustra”, de Richard Strauss, e a “5ª Sinfonia”, de<br />

Ludwig van Beethoven, como obras da música erudita que permanecem no cotidiano musical<br />

da sociedade, seja através da mídia ou relacionamentos familiares ou de amizade. Isto nos<br />

leva a acreditar que este repertório não está distante dos ouvidos das crianças, e que o teclado,<br />

através de seus recursos, pode reaproximar cada vez mais o aluno de estilos musicais que não<br />

seriam contemplados em outras abordagens. Por exemplo, ao interpretar músicas como estas<br />

no piano, a sensação do aluno é que, por mais que as notas estejam corretas, a música não está<br />

completa ainda. Ora, em parte, ele está certo!<br />

Por conseguinte, sendo os alunos de teclado também conhecedores do produto sonoro<br />

destas músicas, muitas vezes, não estarão satisfeitos em ouvi-las somente com a sonoridade<br />

do piano. Nesse ponto se encontra mais um recurso disponível no teclado: a seleção de<br />

timbres. Dessa forma, a mesma interpretação, de uma obra para orquestra, que seria feita no<br />

piano tem um produto sonoro mais aproximado do original, gerando outro significado para o<br />

aluno quando feito no teclado com a seleção de timbres de cordas.<br />

Outro recurso trazido pela evolução tecnológica é a gravação. Assim como acontece<br />

com a voz cantada, tocar e logo após ouvir a interpretação serve como ferramenta para a<br />

correção de erros e lapidação dos resultados obtidos. Isso é possível também no ensino do<br />

teclado, permitindo o acompanhamento da construção do conhecimento musical do aluno a<br />

partir da análise da recriação musical gravada. E, acima de tudo, essa análise não é feita<br />

somente pelo professor, mas, sim, e muito mais, pelo próprio aluno que, ao ouvir sua<br />

recriação, julga quais ações foram corretas e quais devem ser reformuladas na próxima vez,<br />

em um processo constante de ação-reflexão-ação. De tal modo, este recurso tem sido cada vez<br />

mais utilizado pelos professores com o intuito de mostrar para o próprio aluno o<br />

5<br />

Utiliza-se como exemplo a música erudita ocidental com o intuito de fomentar estratégias educativo-musicais<br />

no teclado, trabalhando o repertório comumente utilizado no ensino do piano, mostrando uma abordagem<br />

diferente desse repertório.<br />

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desenvolvimento do seu processo de construção do conhecimento musical: as etapas pelas<br />

quais passa até a obtenção de um produto final.<br />

Nessa linha reflexiva, convém lembrar que o caminho da aprendizagem é regado<br />

também por dois aspectos indispensáveis para qualquer aula de música, seja individual ou<br />

coletiva: interesse e significação. Por exemplo, o aluno que está na aula de teclado ou piano<br />

por que este é o sonho dos seus pais poderá não demonstrar a mesma vontade daquele que<br />

descobriu por si mesmo a preferência em tocar um ou outro instrumento musical. Não basta<br />

estar presente em aula: é necessário o interesse em fazer. Isso produz significado para toda e<br />

qualquer ação discente e gera efetividade para toda e qualquer ação docente. E, atualmente, o<br />

aluno está inserido em um tempo onde o conhecimento sobre o avanço e a evolução<br />

tecnológica é essencial para a sua convivência social. Por esta razão, dentre outras, como a<br />

necessidade de saber mais e de ser mais (FREIRE, 2005), seu desejo em continuar<br />

conhecendo está relacionado com a significação e com a constante construção de novos<br />

conhecimentos a cada aula, a cada instante em que age musicalmente sobre os objetos<br />

musicais e estes sobre ele.<br />

Ao oferecer um ensino em que a cada nova aula coloca-se um novo desafio a ser<br />

superado para o aprofundamento no saber musical, uma nova informação para ser convertida<br />

em conhecimento, e um novo conceito para ser construído, estamos gerando movimentos pela<br />

busca no aperfeiçoamento da arte de tocar teclado. Constantemente, o aluno se sente<br />

desafiado e munido do desejo de superar barreiras e de contornar problemas, que quando<br />

efetivamente resolvidos, fazem com que o aluno passe a acreditar com mais segurança no seu<br />

poder de realização de determinadas tarefas. O indivíduo passa a crer com mais força, com<br />

convicção nas suas capacidades, não só como músico, mas também como ser humano que faz,<br />

que é capaz, que é ativo como aqueles com os quais convive ou dos quais tem informações<br />

(FREIRE, 2005).<br />

Considerações Finais<br />

Refletindo a respeito do aproveitamento das aulas e da transformação das informações<br />

em conhecimento pelos educandos, também fazemos a seguinte aferição: não basta termos<br />

instrumentos, boa infra-estrutura, ótimas intenções pedagógicas e excelente metodologia, pois<br />

o aluno precisa ser cúmplice nesse processo de acreditar no valor da música e do<br />

conhecimento musical para a vida, estando motivado (no sentido de ter desejo de fazer) para<br />

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agir sobre a música e dela retirar elementos para a complexificação da sua cognição musical.<br />

Desse modo, a proposta de educação musical significativa será concretizada.<br />

Por exemplo, Mansion (1999, p. 17) fala sobre a voz, que não basta tê-la, é necessário<br />

fazê-la vibrar melodiosamente, “e para isso se requer muitas condições, mas primeiro e,<br />

sobretudo, o desejo de cantar e o amor ao canto” (idem, tradução nossa). Transportando e<br />

generalizando essa ideia no âmbito da educação musical, entende-se que os alunos, em nosso<br />

caso específico as crianças, precisam ter vontade de tocar, cantar ou fazer atividades<br />

relacionadas à música. Do contrário, estar-se-á desenvolvendo uma prática de ensino<br />

infrutífera, pois os alunos não estarão construindo o conhecimento musical da forma mais<br />

sadia, visto que ninguém aprende aquilo que não quer aprender. Além disso, também não se<br />

estará transformando as vivências musicais em experiências significativas na sala de aula, nas<br />

quais infelizmente o professor obriga, muitas vezes, seus alunos a determinadas práticas e<br />

atividades distantes do interesse e das preferências deles.<br />

A propósito, o gosto por estudar música e por conhecer mais detalhadamente esta área<br />

do conhecimento humano precisa ser cultivado e incentivado desde os primeiros momentos de<br />

vida de uma criança, não basta querer que ela aprenda um ou outro instrumento no momento<br />

que o adulto deseja, como acontece com muitos pais de alunos nossos. Na educação musical<br />

formal isto não deve ser diferente, visto que é dever do educador musical mobilizar recursos<br />

próprios da arte de ensinar ao organizar estratégias que possibilitarão o diálogo do educando<br />

(e tudo aquilo que ele almeja e que, consequente e umbilicalmente, está diretamente ligado às<br />

possibilidades de seu tempo histórico) com a arte musical, com os objetos musicais em<br />

destaque na sala de aula e fora dela, primando pela manutenção em longo prazo deste contato<br />

(REIS, 2010). Esse diálogo é sinônimo de manipulação ativa do objeto musical, de construção<br />

do conhecimento musical subjetivo e também coletivo. Nesse sentido, a prática democrática<br />

da recriação musical individual e em conjunto contribui para a construção de conhecimento<br />

musical de forma efetiva e singular, pois considera o aluno na sua individualidade e lhe<br />

oferece maneiras de expressar a sua subjetividade musical na aula, sem necessariamente estar<br />

ligado a uma prática reprodutivista musical essencialmente.<br />

Ou seja, a necessidade primeira é estruturar um modelo didático-pedagógico<br />

específico em um ambiente democrático para se alcançar a realização de vivências<br />

significativas com a música e de música deveras, contemplando um processo de ensino e<br />

aprendizagem musical progressivo, onde a interação sujeito-objeto é premissa para a<br />

construção de conhecimento musical. Para isso, é crucial estabelecer um diálogo sadio entre o<br />

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saber musical do educando e os conteúdos a serem tratados nas aulas de teclado. Mais do que<br />

aprender e ensinar a tocar teclado é preciso fazê-los dialogando com o professor sobre música<br />

e com música, fomentado uma educação musical onde o processo de ação-reflexão-ação tem<br />

espaço privilegiado e a aprendizagem se dá significativamente por que docente e discente<br />

traçam objetivos juntos.<br />

Por fim, cabe lembrar que,<br />

ao professor de música lhe está reservada uma importante e difícil tarefa.<br />

Seu papel deve ser o de um discreto observador e o de um hábil condutor<br />

que descubra nas atitudes de seus alunos aqueles elementos válidos e, com<br />

singular sutileza focado atue, sem imposições autoritárias caprichosas, de tal<br />

maneira que a criança, trabalhando em um ambiente de liberdade não se<br />

sinta submetida a uma atividade na qual tudo se reduz a repetição de<br />

elaborações alheias (GONZÁLEZ, 1963, p. 19, tradução nossa).<br />

Enfim, cabe ressaltar que este texto é pontual, é sobre um determinado modelo de ação<br />

pedagógico-musical com o teclado. Ele configura-se como um patamar e foco específico das<br />

reflexões dos autores, suscitadas a partir de suas práticas profissionais de educação musical<br />

através do teclado, embasadas na visão epistemológica construtivista piagetiana, que perpassa<br />

todo o texto e a ação em sala de aula dos professores. Acreditamos que as supracitadas<br />

informações e pensamentos sobre práticas pedagógicas com o referido “filho do piano” (assim<br />

chamado o teclado, por derivar diretamente do piano), situadas social e culturalmente, possam<br />

contribuir para novas e produtivas realizações no campo da educação musical, não só no<br />

âmbito da educação infantil, de onde advém a base empírica das menções anteriormente<br />

expostas, mas também em outros níveis de ensino.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Reflexões Acerca do Ensino Musical para Crianças do LARCAMJE:<br />

práticas musicais em um contexto não-escolar<br />

Jonas Tarcísio Reis<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul<br />

(UFRGS)/PPGEDU/CAPES<br />

Lar da Criança e do Adolescente<br />

Menino Jesus (LARCAMJE)<br />

jotaonas@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este trabalho revela reflexões acerca de práticas educativo-musicais ocorridas no<br />

LARCAMJE (Lar da Criança e do Adolescente Menino Jesus), localizado em Porto Alegre -<br />

RS. A proposta de educação musical desenvolvida nessa instituição busca propiciar o acesso<br />

de crianças e adolescentes, moradores do Lar, à educação musical formal. O foco principal do<br />

ensino é a musicalização através da prática musical com flauta doce, canto, teclado, acordeom<br />

e percussão, enfatizando atividades de apreciação, interpretação e criação musical. O artigo<br />

visa contribuir com a área de educação musical, baseado no exame dos acontecimentos<br />

educativo-musicais realizados na instituição, que foram registrados na forma de relatórios e<br />

gravações das aulas. Tem por meta, também, cooperar com o alargamento das discussões que<br />

vêm acontecendo no âmbito da educação musical não-escolar infantil e infanto-juvenil, e os<br />

desafios de se trabalhar a música com classes heterogêneas de crianças e adolescentes.<br />

Palavras chave: Ensino instrumental e vocal, espaço não-escolar, educação musical infantil<br />

Introdução<br />

Com a promulgação da Lei 5.692, de 1971, o ensino de música passou a perder seu<br />

espaço nos currículos escolares e na educação básica de um modo geral. Diante da<br />

problemática da polivalência trazida pela referida lei, e pela histórica desvalorização da<br />

profissão de professor da educação básica, os profissionais da educação musical passaram a<br />

ocupar mais extensiva e intensivamente os espaços alternativos para o ensino da música. 1<br />

Assim, a educação musical se projetou de forma determinante nos espaços não-escolares,<br />

consolidando um campo de atuação que hoje, expressivamente, se apresenta rico em<br />

experiências. Nesse sentido, abordaremos práticas de educação musical realizadas em um<br />

destes espaços tidos como não-escolares, denominado LARCAMJE (Lar da Criança e do<br />

Adolescente Menino Jesus).<br />

O LARCAMJE é uma ONG onde acontecem práticas de educação musical nãoescolar,<br />

porém formais. Esta instituição, além de sanar as necessidades básicas de alimentação<br />

1 Com a promulgação da LDB de 1996 (BRASIL, 1996), e da Lei 11.769/2008 (BRASIL, 2008), a música vem<br />

retomando gradativamente o seu espaço no âmbito da educação básica formal (ver SOBREIRA, 2008).<br />

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e habitação dos residentes, oferece aulas de reforço escolar, de artes plásticas, artesanato,<br />

acompanhamento psicológico, recreação e, logicamente, aulas de música, tudo no contraturno<br />

escolar. Dessa forma, as crianças e adolescentes que residem na entidade não possuem<br />

tempo ocioso. Eles vivem uma situação semelhante a um regime escolar de tempo integral.<br />

Isso se dá por que a maior preocupação da instituição é formar cidadãos humanos, ativos e<br />

críticos, munidos da maior bagagem possível de conhecimentos para viverem de forma<br />

autônoma na vida adulta, serem donos de seus destinos e poderem escolher uma profissão que<br />

lhes agrade quando ingressarem na fase adulta.<br />

Nesse ambiente as aulas são desenvolvidas com flauta doce, teclado, acordeom,<br />

percussão e canto, ora coletivamente, ora individualmente. O número de alunos varia de três a<br />

doze nas aulas coletivas de música. A faixa etária predominante é de crianças de seis a dez<br />

anos. No texto que segue trataremos de alguns elementos pontuais extraídos e refletidos a<br />

partir da prática de dois anos de educação musical desenvolvida nesse ambiente social,<br />

focando com mais profundidade a prática de canto.<br />

Delineamentos da Educação Musical no LARCAMJE<br />

As concepções de didática e de ensino musical que compõem a metodologia<br />

pedagógica buscam privilegiar a natureza interativa dos alunos, sendo preocupação dominante<br />

que eles participem na procura, no entendimento e elaboração do saber musical, procurandose,<br />

simultaneamente, atingir a dimensão do saber fazer música, ou seja, proporcionar aos<br />

indivíduos experiências musicais que os ajudem no seu processo de humanização, na sua<br />

busca pelo “ser mais” (FREIRE, 1996), tocando, cantando, criando, recriando, apreciando<br />

música e discutindo sobre ela. Nisso, o trabalho pedagógico-musical apetecido constrói uma<br />

base que abre novas portas para a real aproximação desses educandos com o universo sonoro<br />

desenvolvido e criado pela humanidade ao longo da sua evolução e nas suas diferentes<br />

culturas.<br />

Como na instituição a flauta doce é abordada, cabe lembrar que muitos autores já<br />

falaram sobre o ensino dela, perspectivando diferentes enfoques e em diferentes espaços, com<br />

diversas faixas etárias. Dentre os trabalhos mais recentes podemos destacar Beineke (1997;<br />

2003), Beineke, Torres e Souza (1998), Garbosa (2009), Cuervo (2009), Garcia (2003),<br />

Santos (2007), Souza, Massirer e Garbosa (2010), Weiland (2006), Weiland e Valente (2007),<br />

Diniz e Morato (2005), Vechi e Uriarte (2009), Amaral et. al. (2009), Reis (2009a; 2009b;<br />

2009c; 2011), Fernandes (2009), entre outros que nos ajudam a refletir sobre as possibilidades<br />

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de se trabalhar o ensino desse instrumento, que hoje se encontra bastante difundido na área de<br />

educação musical, sendo parte integrante ou carro chefe de inúmeras propostas de<br />

musicalização espalhadas pelo país.<br />

Como a musicalização formal tem, muitas vezes, sido iniciada pelo ensino da flauta<br />

doce, seja na educação básica ou em espaços não-escolares, existe uma grande quantidade de<br />

material didático para o ensino desse instrumento, entre os quais se encontram Suzigan e<br />

Mota (2001; 2002), Frank (2005; 2006), Videla (19<strong>85</strong>), Tirler (1993, 2006a; 2006b), Beineke<br />

e Freitas (2006), Beineke (2001; 2002), Velloso (2006), para citar apenas os materiais que são<br />

utilizados para a pesquisa de repertório para ser interpretado pelos alunos do Lar.<br />

Existem algumas rotinas no Lar, que às vezes são quebradas, mas em geral a prática de<br />

conjunto de flauta doce é a primeira coisa que acontece. Eles acompanham na partitura a<br />

leitura das alturas das notas musicais, e o ritmo é aprendido por imitação. Em alguns casos um<br />

ou outro aluno toca teclado acompanhando os demais colegas nas flautas e na percussão. O<br />

canto acontece concomitantemente às aulas de flauta doce. Algumas canções não são<br />

cantadas, embora possuam letras, pois os alunos demonstram maiores interesses pela<br />

interpretação instrumental, e também por termos a intenção de montar uma mini orquestra de<br />

flautas doces com um repertório próprio, para posteriormente fazermos apresentações. Mas<br />

não nos enganemos, porque a intenção basilar é formar indivíduos educados musicalmente no<br />

sentido holístico da expressão.<br />

O ensino de percussão também é trabalhado. Os instrumentos de percussão como<br />

pandeiro, bombo, agogô, triângulo e chocalho, aparecem para possibilitar o enriquecimento<br />

da massa sonora obtida na interpretação conjunta dos arranjos, que são construídos<br />

principalmente com obras musicais do folclore nacional e do folclore de outros povos também<br />

(ver REIS, 2009c). O ensino e a aprendizagem de ritmos típicos de gêneros populares como<br />

marchinha, samba e valsa, é facilitado com a utilização de instrumentos de percussão por<br />

permitir que o sujeito se preocupe exclusivamente com o ritmo, o que não acontece através do<br />

canto nem através da flauta doce. Isso traz resultados musicais quase que imediatamente,<br />

gerando cada vez mais desejo ao estudo musical.<br />

O Canto Como Possibilidade Educativo-Musical Ampla<br />

Como afirmado anteriormente, o ensino do canto acontece juntamente com o ensino<br />

de flauta, intercalando um e outro. Ele se dá através das mesmas canções interpretadas na<br />

flauta doce. Além de fixar as melodias e outros parâmetros das músicas trabalhadas na flauta<br />

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doce, a aprendizagem de canto por meio de canções tem implicações diretas na construção e<br />

expansão do vocabulário dos alunos, bem como no seu modo de falar, entoar a voz e articular<br />

as palavras com boa dicção, facilitando a comunicação no dia-a-dia - são habilidades e<br />

competências extramusicais adquiridas com a prática do canto e técnica vocal. “Por meio de<br />

uma canção se põe em prática mecanismos que permitem relacionar logicamente<br />

conhecimentos que de outra maneira a criança acumularia de forma isolada, sem integrá-los<br />

adequadamente no complexo utilitário da sua vida” (GONZÁLEZ, 1963, p. 12, tradução<br />

nossa).<br />

Mansion (1999) fala que o estudo do canto resulta em um desenvolvimento físico e<br />

moral mais saudável da criança:<br />

Primeiro porque a obriga a conquistar uma boa postura do corpo e<br />

desenvolver sua caixa torácica, por meio dos exercícios de cultura física;<br />

segundo porque provoca uma imensa oxigenação, por intermédio dos<br />

exercícios respiratórios; terceiro porque durante a exploração dos<br />

ressonadores, se acusam, nas crianças cujos ressonadores estão<br />

enfraquecidos, deformações e outros problemas, que reclamam os cuidados<br />

de um fonoaudiólogo e/ou um laringologista; quarto porque a prática da<br />

articulação corrige desde o princípio os defeitos de pronunciação das<br />

palavras; e quinto porque o estudo do canto desenvolve o gosto artístico e<br />

por meio do canto em conjunto, cria na criança o espírito de grupo (idem, p.<br />

22, tradução nossa).<br />

Pensando sobre a prática do canto, podemos notar que o trabalho e a utilização da<br />

memória acontecem não só pelo processo de decorar as letras das canções, mas também inclui<br />

a memorização das melodias e movimentos rítmicos das obras musicais. Decorar a letra, a<br />

melodia e o ritmo propiciam a ativação de redes maiores de neurônios entre as diferentes<br />

partes do nosso cérebro. Isso ocasiona uma construção mais concreta, consolidada a nível<br />

cognitivo do conhecimento musical, pois se o indivíduo quiser se lembrar de uma canção que<br />

canta ou já cantou, terá a possibilidade de acessá-la recordando-se do ritmo e/ou melodia e/ou<br />

letra, para citar os três pontos mais evidentes e presentes de uma canção e sem limitar o<br />

incontável número de relações ou informações que nos permitem lembrar algo.<br />

Segundo Janzen (2008, p. 44), muitos estudos que foram realizados sobre a memória e<br />

a aprendizagem musical mostraram “que a memória musical requer memórias associativas,<br />

como por exemplo, aquelas que resgatam informações acerca do gênero, título, compositor,<br />

forma e estrutura dos eventos musicais, mudança de instrumentação, modulações”.<br />

Numa perspectiva semelhante, González (1963) ressalta pontos importantes sobre o<br />

canto, a memória e a aprendizagem musical e seus problemas. Mas creio que o problema<br />

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central não seja o mau uso da memória nas atividades de canto. Acredito que o problema<br />

resida no fator denominado má emissão das alturas. Pois os alunos de canto podem ter<br />

bastante atenção, de modo que estejam suficientemente concentrados na obra musical que está<br />

sendo estudada, também podem estar ouvindo e memorizando perfeitamente, mas ainda não<br />

possuem a capacidade de emitir as notas e as melodias através da sua voz de modo idêntico ao<br />

professor ou como pede a partitura, mesmo que, às vezes, eles não percebam que estão<br />

errando as notas ao cantar, desafinando. Uma hipótese para isso é que eles não possuem<br />

esquemas mentais 2<br />

para desempenhar essa função de afinação conforme os padrões e o<br />

modelo de escalas e alturas convencionadas socialmente, nem possuem um domínio vocal<br />

sobre a emissão de notas mais agudas ou graves, pois - no caso de nossos alunos - em muitos<br />

momentos conseguem cantar afinadamente as notas centrais das melodias, sem muitos saltos.<br />

Quanto à desafinação, González (1963) destaca que as causas para ela podem se<br />

condensar em quatro principais, sendo a primeira a falta de atenção do aluno, a segunda a<br />

memória pouco cultivada, onde “os alunos desafinam porque não chegaram a apreender tudo<br />

o que fora escutado e, em consequência, inventam o que não puderam lembrar” (idem, p. 23,<br />

tradução nossa). A terceira é a má audição, “seja ela por má formação orgânica do aparato<br />

auditivo ou por razões patológicas. Uma má audição tem como resultado uma repetição<br />

defeituosa: a criança repete o que ouve” (idem). E a quarta é a má emissão, “também por má<br />

formação orgânica, defeitos no aparato fonador, ou falhas no mecanismo da voz. É<br />

relativamente fácil encontrar casos de alunos que ouvem bem, mas não podem repetir com<br />

exatidão devido a uma falha de seu aparelho fonador” (idem).<br />

Um elemento que ajuda na afinação das notas cantadas é o fato de os alunos do Lar já<br />

tocarem na flauta doce as obras musicais utilizadas no canto. Desse modo, o aprendizado das<br />

canções ocorre de maneira tranquila, pois os alunos têm, apenas, que transportar para o canto<br />

os esquemas metais que já possuem acerca do contorno melódico e rítmico das músicas.<br />

Assim, o principal desafio é decorar as letras das canções. Nota-se que os alunos procuram as<br />

alturas certas das notas com a voz, eles notam que existe uma forma certa de repetir com a sua<br />

voz a canção ouvida, mas ainda não tem consciência do que seja afinação, o propósito é ir<br />

criando essa consciência primeiramente através da prática e posteriormente teorizar acerca<br />

dela.<br />

2 Quanto à definição de esquemas mentais, Beyer (1995, p. 25) afirma que, “os esquemas são um modo prático<br />

da atividade de assimilação do indivíduo. [...] São conjuntos de ações generalizáveis ou possíveis de serem<br />

repetidas e aplicadas a diversas situações ou objetos”.<br />

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A Reflexão Constante Sobre o Fazer Pedagógico-Musical do Docente<br />

Complementarmente às informações discutidas até agora, se faz oportuno falar que os<br />

alunos são sempre ouvidos durante e depois das aulas, de modo que estas se desdobram de<br />

acordo com as suas intenções, seus pedidos, enfatizando e aperfeiçoando aquilo que eles mais<br />

têm apreço, que mais gostam de fazer. Entender o aluno como um ser ativo na sala de aula e<br />

como foco principal do ensino é militar por uma educação humana, libertadora e que permite<br />

aos educandos a tomada de consciência de que eles não são objetos, mas, sim, sujeitos nos<br />

eventos educativo-musicais e sujeitos da sua aprendizagem.<br />

Com certeza, este processo ao qual chamamos aprendizagem é infinito e ininterrupto.<br />

Todos os seres que possuem vida estão constantemente aprendendo e apreendendo algo do<br />

meio ao qual estão inseridos. O aprender à que me refiro, diz respeito ao aprendizado que<br />

afeta diretamente a vida do indivíduo, aquele que acontece através de nossas experiências, dos<br />

problemas para os quais buscamos soluções. A todo o momento necessitamos aprender mais,<br />

precisamos nos atualizar para lidar com as exigências do mundo externo para com nós, tendo<br />

como finalidade a nossa sobrevivência. Para concluir este pensamento, poderíamos dizer que<br />

o ser humano é o próprio processo do aprender, pois ele se auto-constrói, e se modifica para<br />

seguir aprendendo.<br />

O ser humano só aprende aquilo que quer, aquilo que é necessário, aquilo que<br />

provocará modificações significativas na sua vida, na sua personalidade ou nas suas atitudes.<br />

Por isso a importância de considerar a opinião do educando no processo de ensinoaprendizagem,<br />

visto que o interessado maior é ele. Ele experimentará uma educação musical<br />

mais significativa quando os seus anseios estiverem sendo contemplados na pedagogia<br />

musical de seu educador, pois aprender é buscar o que há de melhor para nós, buscar a<br />

felicidade - em nosso caso através do fazer musical - e todas as outras formas de realização<br />

humana.<br />

O problema que ocupa um ponto central nas reflexões desencadeadas durante e depois<br />

das aulas, e diríamos também que este é o foco principal e desencadeador dos processos de<br />

formulação e reformulação da proposta metodológica e pedagógico-musical desenvolvida<br />

com os educandos do Lar, se defini pela busca da compreensão acerca do desenvolvimento<br />

cognitivo, afetivo e comportamental desses indivíduos. A lógica central dessas reformulações<br />

reside na procura de soluções para problemas técnicos, práticos e expressivos no tocante ao<br />

ensino e à aprendizagem musical.<br />

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Nesse sentido, se origina a procura por um ensino que avalia o desenvolvimento<br />

musical dos alunos, que observa as suas participações em aula, as suas atitudes frente aos<br />

diferentes modos de se abordar e vivenciar a música nesse espaço, bem como o<br />

aproveitamento e a transformação de informações em conhecimento concreto e consolidado a<br />

nível cognitivo e exteriorizado.<br />

A meta norteadora é identificar possíveis problemas cognitivos, comportamentais e<br />

emocionais que têm implicações diretas e determinantes, não só na aprendizagem musical,<br />

mas no desenvolvimento global dos alunos. Essa meta coaduna-se com o sentimento de<br />

comprometimento social e humano que todo o educador precisa nutrir na sua prática diária<br />

pelo seu público alvo, os alunos, almejando atingir e suscitar o desenvolvimento do ponto de<br />

vista intelectual, ético e humano, no sentido mais intenso dessas palavras. Aqui, toma forma e<br />

força o objetivo idealizado de promover o acesso a educação musical formal, e<br />

consequentemente a uma gama inumerável de saberes que refletirão de forma decisiva na<br />

formação individual desses alunos.<br />

Busca-se, também, interpretar os acontecimentos de aula, focando-se ora em um aluno<br />

ora em outro, procurando compreender como esses alunos estão sentindo a aula. Se eles estão<br />

aproveitando consideravelmente as aulas. Se as atividades são interessantes, ou se elas estão<br />

aquém daquilo que os educandos são capazes de realizar, e se os saberes discutidos em aula<br />

estão sendo compreendidos, assimilados, interiorizados pelos educandos.<br />

Em muitos momentos, solicita-se para os alunos explicações sobre determinada<br />

passagem musical, sobre determinada entrada, sobre dinâmicas específicas, sobre a existência<br />

ou não de acidentes musicais nas melodias, sobre a mudança de andamento, entre outros<br />

questionamentos para mensurar na prática o nível de compreensão das informações<br />

trabalhadas em aula. Eis aí a busca pela construção de saber musical autêntico, definido dessa<br />

forma pelo jeito como emerge. Surge a partir da prática e vai em direção a explicitação verbal<br />

dos conhecimentos adquiridos. Não que a construção desse saber não seja notada nos gestos<br />

musicais durante as práticas em conjunto, mas, sim, pela objetivação da construção teórica,<br />

conceitual acerca de fenômenos musicais.<br />

Considerações Finais<br />

Entender o mundo interno de cada indivíduo do grupo em questão, e como esse mundo<br />

se estrutura, pressupõe ouvir os alunos, ficar a par de suas angústias, desejos, quereres,<br />

anseios e objetivos de vida, mesmo que em um processo de metamorfose constante, não só<br />

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quanto à música em específico, mas, também, em relação às suas expectativas de vida futura e<br />

presente, suas metas pessoais quanto a sua existência e atuação num futuro próximo.<br />

As limitações, sejam da ordem mental ou motora, podem gerar na aula de música o<br />

sentimento de solidariedade com o outro, a construção mútua do conhecimento musical<br />

acontece à medida que as pessoas vão interagindo, umas ajudando as outras. Existe certo<br />

companheirismo crucial para a consolidação de uma educação musical de qualidade. Com<br />

base nessa aferição podemos pensar na busca pelo “ser mais” de cada indivíduo (FREIRE,<br />

1996), que se transforma também, pela transformação do “ser mais” dos outros, onde a<br />

experiência do colega influencia na concretização de sua própria experiência. Principalmente<br />

quando estamos tratando de interpretação musical e aprendizagem em conjunto. Nessas<br />

práticas há a relevância e a importância em se aprender não só com a própria experiência, mas<br />

do mesmo modo com os erros e acertos de nossos pares.<br />

Considera-se, também, com base me nossa experiência no LARCAMJE, que não se<br />

pode mais sustentar um ensino musical baseado em atividades específicas e repetitivas, pois<br />

com isso o interesse dos alunos pela busca e aperfeiçoamento na linguagem musical se<br />

apresenta comprometido. O ensino e aprendizagem formal de música só acontecem<br />

efetivamente quando as proposições da instituição, do professor e dos alunos culminam em<br />

uma única meta. Conteúdos de música só são aprendidos quando estes passam a fazer sentido<br />

para os educandos. Ou seja, se a música não assume uma aplicabilidade própria na vida dos<br />

educandos, o trabalho pedagógico-musical perde força e eficácia na busca por impactar<br />

significativamente a construção humana, cognitiva e intelectual dos sujeitos educandos.<br />

É mister para o educador musical, independentemente do contexto institucional,<br />

social e cultural em que desenvolva seu trabalho, pensar com dedicação e observar com<br />

acuidade o modo como os educandos estão agindo em sala de aula e fora dela também. Temos<br />

notado a importância disso no LARCAMJE. Saber se a aula fora agradável do ponto de vista<br />

deles; procurar compreender como realmente se dera o desenvolvimento da aula; quais foram<br />

as dificuldades e facilidades apresentadas durante o processo educativo; quem gostou disso,<br />

quem gostou daquilo; o que funcionou, o que não funcionou com esse grupo, são todos<br />

questionamentos que precisam estar presentes na práxis do professor de música. Assim o<br />

processo de ação-reflexão-ação é um caminho a ser percorrido sempre que o objetivo de<br />

desenvolver uma prática de ensino musical atual, comprometida e significativa for um<br />

pensamento norteador.<br />

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Referências<br />

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VECHI, H.; URIARTE, M. Z. A educação musical através da flauta doce. In: ENCONTRO<br />

REGIONAL DA ABEM-Sul, 12, e FÓRUM CATARINENSE DE EDUCAÇÃO MUSICAL,<br />

5, 2009, Itajaí. Anais... Itajaí: ABEM, 2009, p. 01-05.<br />

VELLOSO, C. A. Sopro Novo Yamaha: caderno de flauta doce contralto. São Paulo: Irmãos<br />

Vitale, 2006.<br />

VIDELA, M. Método para Flauta-doce soprano. Vol. 1. São Paulo: Ricordi Brasileira, 19<strong>85</strong>.<br />

TIRLER, H. Vamos tocar flauta doce: 38 canções infantis brasileiras muito fáceis em arranjos<br />

para das flautas-soprano. 29ª Edição. Vol. 01. São Leopoldo: Sinodal, 2006a.<br />

______. Vamos tocar flauta doce: 36 canções infantis brasileiras muito fáceis em arranjos<br />

para das flautas-soprano. 15ª Edição. Vol. 02. São Leopoldo: Sinodal, 2006b.<br />

______. Vamos tocar flauta doce: canções de Natal. Vol. 05. São Leopoldo: Sinodal, 1993.<br />

WEILAND, R. L. Aspectos figurativos e operativos da aprendizagem musical de crianças e<br />

pré-adolescentes, por meio do ensino de flauta doce. Dissertação (Mestrado em Educação) –<br />

Universidade Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Educação, Curitiba, 2006.<br />

WEILAND, R. L.; VALENTE, T. S. Aspectos figurativos e operativos da aprendizagem<br />

musical de crianças e pré-adolescentes, por meio do ensino de flauta doce. Revista da ABEM.<br />

Porto Alegre, V. 17, 49-57, set. 2007.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Notação Musical na Infância: um processo gerador de subjetividade<br />

Sandra Rhoden<br />

smrarte@yahoo.com.br<br />

Resumo: a presente comunicação é um recorte da minha pesquisa de Mestrado que aborda a<br />

subjetividade presente no fazer musical infantil. De modo específico, busca compreender os<br />

processos subjetivos das notações musicais, de um grupo de nove crianças, com idade entre 4<br />

a 6 anos, alunos de musicalização da FUNDARTE. A epistemologia da pesquisa qualitativa e<br />

subjetividade, defendida por Gonzáles Rey, orienta a escolha metodológica e os conceitos<br />

relevantes da investigação, adotando-se o estudo de caso como estratégia de pesquisa. A<br />

subjetividade das notações musicais das crianças foi compreendida, a partir de núcleos<br />

configurados em torno da materialidade, das narrativas, das relações interpessoais e<br />

simbologias compartilhadas no processo dialógico que envolveu as crianças participantes e o<br />

pesquisador. Os aportes teóricos de Silvia Helena Cruz e colaboradores (2008) possibilitaram<br />

que as interações dessa pesquisa fossem guiadas pela voz das crianças, para então apreender<br />

os fundamentos de sua subjetividade.<br />

Palavras-Chave: Notação musical, subjetividade, pesquisa com crianças<br />

Introdução<br />

Compreender o que meus alunos estavam representando no papel, e qual o sentido e o<br />

significado subjetivo, para si mesmos, dessas representações, passou a ser uma inquietação<br />

para mim no decorrer da minha prática pedagógica. Para entender melhor suas produções,<br />

procurei dialogar com as crianças, buscando saber um pouco mais sobre a presença de<br />

elementos, não necessariamente musicais, que surgiam nos registros de suas criações<br />

musicais. Solicitei que as crianças falassem sobre o que tinham anotado, e pude perceber que<br />

suas explicações ultrapassavam as questões musicais, parecendo estar completamente absortas<br />

ao registro dos elementos formadores da música (altura, duração, intensidade, timbre, ritmo e<br />

melodia).<br />

A partir das inquietações sobre as notações musicais, realizadas pelos meus alunos, e,<br />

considerando, principalmente, os comentários que faziam sobre as notações musicais que<br />

realizavam, percebi que essas informações eram preciosas e que necessitavam de um maior<br />

questionamento: por que as crianças trazem elementos de sua vida pessoal e social para as<br />

notações musicais? O que ocorre durante o processo da atividade de notação musical? Qual o<br />

sentido e o significado subjetivo das notações musicais das crianças?<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Estudos Sobre a Notação Musical da Criança<br />

Revisando a literatura sobre a notação musical, encontrei pesquisas recentes e<br />

importantes para a área da educação musical, dedicadas à alfabetização musical<br />

(BAMBERGER 1990; CESTARI 1983; FREY-STREIFF 1990; LINO 1998; SALLES 1996).<br />

As pesquisas focalizam a compreensão da criança ao realizar a notação musical do ritmo e da<br />

melodia, buscando também uma explicação para o desenvolvimento cognitivo que ocorre<br />

nesse processo. Também chamam a atenção sobre as formas de organização e reorganização<br />

que o sujeito realiza ao apreender e realizar a notação musical. Além de traduzir o seu<br />

conhecimento musical, ao realizar notações, adquire e desenvolve o conhecimento cognitivo.<br />

Refletindo sobre os estudos, verifica-se que não foi intenção dos autores analisarem o<br />

lado subjetivo do sujeito e, sim, como ele representa graficamente aspectos relacionados à<br />

música, juntamente com as contribuições para o seu desenvolvimento cognitivo. De acordo<br />

com Cruz (2008, p. 12) “os julgamentos, os desejos, os receios, as preferências das crianças,<br />

geralmente não têm sido alvo de interesse de estudo”. Nesse sentido, percebi a necessidade de<br />

ampliar o olhar da pesquisa, prestando atenção no que a criança revela, em todo o processo de<br />

notação, uma vez que o contexto das crianças é evidente e presente nas suas grafias.<br />

Estudos Sobre o Método<br />

A pesquisa qualitativa orienta-se pela produção de sentidos subjetivos e significados<br />

do sujeito participante, no espaço em que ela ocorre. Por esse motivo, compreende a<br />

importância da subjetividade inserida no método.<br />

A subjetividade é caracterizada pelo mundo interno do ser humano, através do seu<br />

íntimo, expressando emoções, sentimentos e pensamentos, que serão responsáveis pelas<br />

relações com as outras pessoas.<br />

De acordo com Gonzáles Rey (2005b, p. 36), o termo subjetividade é definido como<br />

“um sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos na vida cultural<br />

humana”. A subjetividade está presente tanto no sujeito individual, como nos vários espaços<br />

sociais em que ele se insere, sendo, tanto o individual quanto o social, aspectos constituintes<br />

da subjetividade.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Subjetividade: sentido e significado<br />

A nossa realidade é constituída por elementos objetivos, que influenciam a formação<br />

da nossa subjetividade. Essa mesma realidade não deixa de ser subjetiva, quando os elementos<br />

objetivos ganham um sentido subjetivo, a partir das significações já construídas, que fazem<br />

parte da nossa história e das significações do momento atual. Essa relação forma uma<br />

complexidade, dificilmente, compreensível fora do terreno das significações.<br />

O sujeito se expressa e se integra no processo de fazer sentido no que Gonzáles Rey<br />

chama de “configurações”, tornando-se capaz de agir, de modo colaborativo. A dimensão<br />

social da subjetividade não significa que ela é externa, mas que forma, com a dimensão<br />

interna, uma só configuração, capaz de gerar vários sentidos e significados. Para debater sobre<br />

o sentido e o significado é preciso compreender para apreender a complexidade que esses<br />

termos geram.<br />

Para Aguiar e Ozella (2006, p. 225), “os significados são produções históricas e<br />

sociais, são eles que permitem a comunicação, a socialização de nossas experiências”. Desse<br />

modo, qualquer atividade realizada pelo sujeito gera significados, pois ele “transforma a<br />

natureza e a si mesmo na atividade”. O significado também pode ser compreendido pelas<br />

apropriações que o sujeito constitui e compartilha, a partir da sua subjetividade. Sob o ponto<br />

de vista de Gonzáles Rey (2004, p. 60), “os significados não geram emoções de forma direta”,<br />

sendo o contrário do sentido que transcende o significado, pois não pode ser entendido como<br />

uma dialética natural externa do sujeito.<br />

De acordo com Aguiar e Ozella (2006, p. 227), “o sentido coloca-se em um plano que<br />

se aproxima mais da subjetividade que, com mais precisão, expressa o sujeito, a unidade de<br />

todos os processos cognitivos, afetivos e biológicos”. Da mesma forma, Gonzáles Rey<br />

(2005a) amplia o seu olhar pelo sentido, quando diz que:<br />

O sentido não aparece de forma direta na expressão intencional do sujeito,<br />

mas sim diretamente na qualidade da informação, no lugar de uma palavra,<br />

em uma narrativa, na comparação das significações atribuídas e conceitos<br />

distintos de construção, no nível de elaboração diferenciado no tratamento<br />

dos temas, na forma como se utiliza a temporalidade, nas construções<br />

associadas a estados anímicos diferentes nas manifestações gerais do sujeito<br />

em seus diversos tipos de expressão (GONZÁLES REY, 2005a, p. 116).<br />

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Partindo das contribuições teóricas sobre o sentido e o significado, podemos<br />

compreender que o significado é o ponto de partida para a configuração do sentido subjetivo<br />

do sujeito. A determinação de um espaço simbólico, onde o sujeito realizará alguma<br />

atividade, oportunizará a produção de sentido. Para abordar o sentido e o significado das<br />

representações sociais do sujeito, intrínsecas na subjetividade social e individual, Gonzáles<br />

Rey sugere a criação de um cenário de pesquisa<br />

Com a finalidade de compreender o sentido e o significado subjetivo da notação<br />

musical das crianças, esta pesquisa foi construída, na perspectiva da pesquisa qualitativa e<br />

subjetividade experimentada e defendida por Gonzáles Rey 1 . Para este autor, o estudo da<br />

subjetividade está vinculado aos métodos de pesquisa, que tornam possíveis a sua observação.<br />

No caso da presente pesquisa, as manifestações empíricas dos sujeitos assumem o valor de<br />

informação, a partir do qual o pesquisador construirá novos conhecimentos.<br />

Outro fator importante abordado na Epistemologia Qualitativa é a legitimação do<br />

singular como instância de produção de conhecimento científico. A singularidade na produção<br />

de conhecimento está intimamente conectada à compreensão subjetiva do sujeito investigado,<br />

à sua cultura e à sociedade na qual se insere.<br />

Seguindo os passos da pesquisa qualitativa e subjetividade, compreendi que a<br />

construção do conhecimento, a partir das manifestações empíricas, é um processo vivo e<br />

constante, uma descoberta que acontece entre o pesquisador e os sujeitos participantes da<br />

pesquisa, sendo assim possível atribuir o sentido e o significado ao que se constrói.<br />

Para a realização das notações, inicialmente, deixei as crianças vivenciarem,<br />

individualmente ou em pequenos grupos, os instrumentos de percussão (coco, clavas, pau-dechuva,<br />

caxixi, tambor, metalofone, xilofone, entre outros). Para Maffioletti (2005), esta é uma<br />

das etapas em que o professor deve ter um olhar direcionado. Nas palavras da autora:<br />

A exploração livre dos instrumentos musicais é um espaço para muitas<br />

aprendizagens, tanto para o aluno como para o professor. Nem tudo o que a<br />

criança realiza traduz-se em aprendizagem, porque ela poderá ou não<br />

integrar suas experiências; poderá modificar ou não sua forma de interação<br />

com os instrumentos musicais (MAFFIOLETTI, 2005, p. 34).<br />

Após explorarem os instrumentos e escolherem um para trabalhar, solicitei que<br />

formassem duplas ou trios para a realização da composição musical. Para Leite (2008, p.<br />

124), o trabalho em grupo favorece os ecos e vozes diferentes, bem como “a concepção de<br />

1 Fernando Luis Gonzáles Rey – é doutor em Psicologia, pelo Instituto de Psicologia Geral e Pedagógica de<br />

Moscou e doutor em Ciências (pós-doutorado), pelo Instituto de Psicologia da Academia de Ciências da União<br />

Soviética.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

linguagem e o papel do outro na constituição do sujeito e na formação da consciência”.<br />

Procurei colocar sempre uma dupla ou trio de crianças em frente à câmera de vídeo, para<br />

capturar todo o processo de trabalho realizado por eles, bem como os momentos de<br />

intervenção do pesquisador. Sem ter que deslocar a câmera, enquanto circulava pelos outros<br />

grupos, tinha em mãos um gravador MP4, pois a gravação em áudio garantiria a captura do<br />

processo dialógico das crianças, ao elaborarem suas criações musicais e notações. Minha<br />

intervenção nos grupos não tinha caráter de entrevista, pois não estava prevista, na<br />

metodologia, uma relação de perguntas fechadas; porém, realizei algumas questões que<br />

puderam ampliar o processo dialógico.<br />

Ao tocarem e narrarem suas produções, o sentido e o significado subjetivo, eram<br />

traduzidos pelas emoções vividas e proporcionadas, na atividade de notação musical.<br />

Observei minuciosamente suas vozes, seus gestos e a intenção em revelar suas produções, de<br />

maneira viva.<br />

A maneira como as crianças se organizavam, nos grupos de trabalho, as ações que<br />

realizavam, as concordâncias e as divergências, levaram-me aos indicadores necessários para<br />

a construção dos futuros núcleos de análise.<br />

Os indicadores, presentes nos trechos de informação, me possibilitaram a identificação<br />

de conteúdos importantes, que surgiam com frequência nos momentos analisados. De acordo<br />

com Aguiar e Ozella (2006, p. 231), a partir da “articulação dos conteúdos semelhantes,<br />

complementares ou contraditórios seria possível verificar as transformações e contradições<br />

que ocorrem no processo de sentido e significado”. Conforme essa orientação, a análise dos<br />

núcleos, na minha pesquisa, estaria alicerçada em trechos de informações, com relação à<br />

maneira como o sujeito pensa, age, sente e se expressa, em todo o processo da notação<br />

musical.<br />

A Construção dos Núcleos<br />

Partindo dos indicadores que expressavam regularidades, na expressão das condutas<br />

das crianças, e que pudessem revelar a presença de sentido e significado subjetivo, intrínsecos<br />

em todo processo referente à notação musical, foram identificados quatro núcleos para<br />

análise. Esses núcleos compreendem os conteúdos principais expressos pelas crianças que, de<br />

alguma maneira, traduzem o envolvimento emocional, dos sujeitos participantes.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Baseando-me nos estudos de Correia e Meira (2008), elaborei os meus núcleos. Esses<br />

núcleos foram categorizados como materialidade, narrativa, relações interpessoais e<br />

simbologia.<br />

Os núcleos geradores da subjetividade<br />

Os núcleos tornaram inteligíveis os processos de construção de sentido e significado<br />

subjetivo produzidos pelas crianças. Para valorizar as informações em que os núcleos se<br />

fazem presentes, recortei dos protocolos os trechos dialógicos que anunciavam a presença da<br />

materialidade, da narrativa, as relações interpessoais e simbologias. Retomando as leituras<br />

sobre a pesquisa qualitativa e subjetividade, defendida por Gonzáles Rey (2005a), a<br />

articulação entre o material empírico e a teoria deu lugar ao processo construtivointerpretativo<br />

do conhecimento, gerado por essa pesquisa. A partir desse momento, as<br />

manifestações empíricas foram compreendidas como informações essenciais, na interpretação<br />

da realidade analisada.<br />

Com base nas análises realizadas, entendo que o sentido subjetivo e o significado da<br />

notação musical das crianças não pode ser identificado em um núcleo apenas, mas estão<br />

presentes em todo o processo que inclui a escolha dos instrumentos, a criação de narrativas, as<br />

relações interpessoais e a simbologia. Às vezes, com maior intensidade, em um momento do<br />

que em outro.<br />

A subjetividade, que a criança expressa em suas notações, são reveladas no modo<br />

como ela constrói suas notações musicais, na maneira como se organiza, como desenvolve<br />

suas narrativas, pelo seu imaginário, pelo seu contexto individual e social. Também se<br />

expressa no modo como se relaciona com seus pares, até eleger um símbolo, onde representa<br />

suas vivências como uma totalidade integrada.<br />

Conclusões<br />

Sendo a subjetividade um tema de grande complexidade, entendo que minhas<br />

inquietações não se esgotariam nessa investigação, e, por isso, procurei delimitar, ao máximo,<br />

minhas expectativas, adotando um único referencial teórico que abordasse, em sua<br />

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metodologia, estudos sobre a subjetividade, procedimentos e conceitos relevantes sobre o<br />

tema.<br />

A materialidade, a narrativa, as relações interpessoais e a simbologia são modelos de<br />

interpretação teórica, que tornaram inteligíveis os processos de sentido e significado subjetivo<br />

das notações musicais das crianças, porque valorizaram o sujeito individual concreto, sua<br />

história e sua capacidade de reflexão e construção.<br />

A materialidade apareceu como primeiro núcleo, pois foi o momento em que as<br />

crianças escolheram os instrumentos para a atividade de notação musical e definiram, a partir<br />

do som de cada instrumento, os personagens ou elementos que dariam vida à notação musical.<br />

A construção do significado depende da significação que cada criança atribui para o<br />

instrumento de sua preferência.<br />

A narrativa teve como objetivo principal gerar subjetividade. O corpo da notação<br />

musical foi construído, a partir da narração de vivências, histórias e imaginação, trazidas da<br />

subjetividade individual e social de cada criança, como parte de um único sistema, gerando<br />

sentido e significados, através do que a criança falou, e na maneira como se expressou.<br />

As relações interpessoais foram responsáveis pelo surgimento dos recursos subjetivos<br />

empregados pelas crianças frente às possíveis situações de conflitos. O acolhimento das<br />

sugestões entre os participantes, a liderança e a negação em participar da atividade de notação<br />

musical, o modo de agir, falar ou se expressar corporalmente, foram formas de manifestação<br />

das emoções vividas e geradoras de sentido.<br />

A simbologia traduziu, através do desenho, o resultado de todo o caminho que foi<br />

percorrido pelo grupo de trabalho, da materialidade à simbologia. Cada integrante pertencente<br />

a um grupo de trabalho foi representado e significado simbolicamente, trazendo um contexto<br />

de sentido para cada uma das notações. Várias condições subjetivas foram retratadas nestes<br />

contextos.<br />

Ao realizarem a atividade de notação musical, as crianças trouxeram elementos de sua<br />

subjetividade individual, atreladas à subjetividade social, que são os diferentes espaços por<br />

onde ela transita. O individual e o social de cada criança estiveram presentes em todo o<br />

processo, sendo possível perceber este elo na maneira como se expressaram e o que disseram,<br />

gerando, assim, sentidos e significados subjetivos para as notações musicais.<br />

A elaboração desta investigação também possibilitou o contato com pesquisas e<br />

artigos relacionados à Psicologia e à Sociologia da Infância, que enfatizam a importância de<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ouvir e realizar pesquisa com crianças, bem como as bases metodológicas para a sua<br />

realização.<br />

A presente pesquisa foi um estudo de caso realizado com um grupo de crianças<br />

dotadas de uma singularidade própria. Por essa razão, não pode ser enquadrada em uma<br />

concepção única sobre a subjetividade das notações musicais, realizadas pelas crianças.<br />

Ao identificar o sentido e o significado das notações musicais das crianças, desenvolvi<br />

um novo olhar para as suas produções. Acredito que esta pesquisa poderá contribuir como um<br />

referencial para futuras pesquisas, a serem realizadas em outros contextos e áreas da<br />

educação, contemplando o sentido e o significado.<br />

Retomando e reforçando a importância da voz da criança nesse processo, recomendo o<br />

desenvolvimento de pesquisas que enfoquem, em sua concepção epistemológica, a<br />

investigação com crianças e não sobre crianças.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Referências<br />

AGUIAR, Wanda Maria Junqueira; OZELLA, Sergio. Núcleos de Significação como<br />

Instrumento para a Apreensão da Constituição de Sentidos. Psicologia: ciência e profissão.<br />

Brasília, v.26, n.2, p.222-245, jun. 2006. Disponível em: <br />

Acesso em: 10 mai. 2010.<br />

BAMBERGER, Jeanne. As estruturas cognitivas da apreensão e da notação musical de ritmos<br />

simples. In: SINCLAIR, Hermine (Org). A produção de notações na criança: linguagem,<br />

número, ritmos e melodias. São Paulo: Cortez, 1990, p. 97-124.<br />

CESTARI, Maria Luiza. A representação gráfica da melodia numa perspectiva<br />

psicogenética. Porto Alegre: 1983. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de<br />

Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.<br />

CORREIA, Mônica F. B.; MEIRA, Luciano R. L. Explorações acerca da Construção de<br />

Significados na Brincadeira Infantil. Psicologia Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v. 21, n. 3,<br />

2008, p. 356-364. Disponível em: Acesso em: 06 dez. 2009.<br />

CRUZ, Silvia Helena Vieira. Apresentação. In: CRUZ, Silvia Helena Vieira (Org.) A criança<br />

fala: a escuta de crianças e pesquisas. São Paulo: Cortez, 2008, p. 11-31.<br />

FREY-STREIFF, Marguerite. A notação de melodias extraídas de canções populares. In:<br />

SINCLAIR, Hermine (Org). A produção de notações na criança: linguagem, número, ritmos<br />

e melodias. São Paulo: Cortez, 1990, p. 125-168.<br />

GONZÁLES REY, Fernando Luiz. Pesquisa Qualitativa e Subjetividade: os processos de<br />

construção da informação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005a.<br />

______. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. São Paulo: Pioneira<br />

Thomson Learning, 2005 b.<br />

LEITE, Maria Isabel. Espaços de narrativa: onde o eu e o outro marcam encontro. In: CRUZ,<br />

Silvia Helena Vieira (Org.) A criança fala: a escuta de crianças e pesquisas. São Paulo:<br />

Cortez, 2008, p. 118-140.<br />

LINO, Dulcimarta Lemos. Pensar com os sons: um estudo na notação musical como um<br />

sistema de representação. Porto Alegre: 1998. Dissertação (Mestrado em Educação).<br />

Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.<br />

MAFFIOLETTI, Leda de Albuquerque. Diferenciações e integrações: o conhecimento novo<br />

na composição musical infantil. Porto Alegre: 2005. Tese (Doutorado em Educação).<br />

Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.<br />

SALLES, Pedro Paulo. Gênese da Notação Musical na Criança. São Paulo, 1996.<br />

Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Notação Musical ou Alfabetização Musical: perspectivas para a atuação na<br />

educação musical infantil<br />

Samara Pires da Silva Ribeiro<br />

UnB - Faculdade de Educação<br />

samara_prs@hotmail.com<br />

Ricardo Dourado Freire<br />

UnB - Projeto Música para Crianças<br />

freireri@unb.br<br />

Resumo: Dentro do conceito da musicalização e se tratando da linguagem musical, são<br />

apresentadas discussões conceituais sobre a notação musical e a alfabetização musical, no<br />

contexto das áreas de pedagogia e educação musical. O artigo relata ainda como que estes<br />

conceitos são entendidos no ambiente musical e como é compreendida o conceito de notação<br />

nos documentos e na literatura utilizada neste trabalho, bem como o conceito de alfabetização,<br />

considerando o contexto de letramento e de processo de alfabetização.<br />

Palavras chave: Alfabetização musical, notação, musicalização<br />

O ensino de música na escola é regulamentado pelos documentos bases da educação<br />

sendo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Artes e o Referencial Curricular<br />

Nacional da Educação Infantil (RCNEI) as principais referências para o ensino de música nas<br />

escolas. Foi realizada uma discussão dos termos alfabetização musical e notação musical no<br />

contexto das áreas de educação musical e pedagogia a partir dos documentos oficiais.<br />

O contato visual com uma partitura ou com um texto desperta o interesse e a<br />

curiosidade, por parte das crianças, em entender o que está escrito. Ao vivenciar o processo de<br />

musicalização, como sendo um processo orientado visando o desenvolvimento da linguagem<br />

musical, e partindo das experiências em sala de aula, eis os questionamentos que foram feitos:<br />

Como o processo de aquisição da leitura e escrita musical está relacionado com a<br />

alfabetização? Em termos conceituais como é vista a alfabetização musical e a notação<br />

musical no contexto da educação musical?<br />

O presente trabalho tem por objetivo discutir a relação entre conceitos de alfabetização<br />

e notação musical com base nos documentos oficiais e na literatura das áreas de música e<br />

pedagogia.<br />

A partir da reflexão das propostas conceituais será possível estabelecer um referencial<br />

teórico para orientar as práticas pedagógicas. No contexto da educação infantil, a<br />

musicalização envolve a linguagem musical e o fazer musical e faz-se necessário a discussão<br />

das concepções de alfabetização presentes tanto na pedagogia quanto na educação musical. O<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

contexto da pesquisa foram aulas de música do Programa de Extensão Música para crianças<br />

da Universidade de Brasília com crianças de 5 a 7 anos, que estão iniciando também o<br />

processo de alfabetização nas escolas, a partir da interação destas crianças com o processo de<br />

leitura e escrita musical gerou-se o interesse em discutir o assunto neste artigo.<br />

Alfabetização Musical ou Notação Musical?<br />

Rubem Alves (2002), em seu livro “Por uma educação romântica”, mostra como nos<br />

dias de hoje o conceito de alfabetização é utilizado de forma simplista. Ele afirma que<br />

“Alfabetizar é ensinar a ler. A palavra alfabetizar vem do “alfabeto”. “Alfabeto” é um<br />

conjunto das letras de uma língua, colocadas numa certa ordem” (p. 39). Para reforçar esse<br />

pensamento ele ainda faz uma comparação com o termo para o ensino de música. No capítulo<br />

“O prazer da leitura”, Alves (2002) coloca:<br />

Se é assim que se ensina a ler, ensinando as letras, imagino que o ensino da<br />

música deveria se chamar “dorremizar”: aprender o dó, o ré, o mi... Juntamse<br />

as notas e a música aparece! Posso imaginar, então, uma aula de iniciação<br />

musical em que os alunos ficassem repetindo as notas, sob a regência da<br />

professora, na esperança de que, da repetição das notas, a música<br />

aparecesse... (ALVES, 2002, p. 40)<br />

A proposta de Alves é adotada na prática a partir da perspectiva do ensino da notação<br />

musical, que advém de uma atuação descontextualizada, sem considerar uma discussão<br />

conceitual de princípios de aprendizagem ou ação de alfabetização.<br />

O processo histórico da alfabetização está vinculado com a compreensão e a reflexão<br />

da linguagem, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa. O<br />

processo de alfabetização, segundo o PCN, no início dos anos 80, mudou seu foco do que se<br />

ensina para o que se aprende. Um dos principais trabalhos destinado a compreender o<br />

processo da leitura e da escrita foi a psicogênese da língua escrita. Com o deslocamento do<br />

foco para o aprendizado foi possível identificar a relação da criança com o processo de<br />

alfabetização, na qual, compreendeu-se que a criança possui um conhecimento adquirido fora<br />

da escola (BRASIL, 1997).<br />

Ferreiro (19<strong>85</strong>), uma das pioneiras desse trabalho, considera que a alfabetização deve<br />

ser um processo contínuo e que não está restrito à sala de aula. Um dos pontos principais na<br />

pesquisa dessa psicóloga é a compreensão do processo de alfabetização independente dos<br />

métodos. Deve-se considerar que a criança aprende porque ela possui uma curiosidade inata e<br />

vontade de conhecer o mundo. A partir daí, a criança tem condições suficientes de assimilar a<br />

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leitura e escrita. “através da teoria de Piaget [o] sujeito (...) procura ativamente compreender o<br />

mundo que o rodeia, e trata de resolver as interrogações que este mundo provoca.”<br />

(FERREIRO, 19<strong>85</strong>, p.26).<br />

O sujeito, primeiramente, tem um contato com o que quer apreender, por meio da<br />

interação com o mundo, transformando, assim, a realidade em experiências. A aprendizagem<br />

é uma conseqüência, uma síntese realizada pelas funções psíquicas e físicas.<br />

Ainda segundo Ferreiro (2001), há a denominação de escrita alfabética, como sendo<br />

“sistemas de representação cujo intuito original – e primordial – é representar as diferenças<br />

entre os significantes.” (FERREIRO, 2001, p.13). Ao falar de escrita alfabética, faz-se<br />

necessária a referencia à notação alfabética, que segundo Morais (2006)<br />

constitui em si um domínio cognitivo, um objeto de conhecimento com<br />

propriedades que o aprendiz precisa reconstruir mentalmente, a fim de vir a<br />

usar, com independência, o conhecimento de relações letra-som, que lhe<br />

permitirá ser cada vez mais letrado (MORAIS, 2006, p.3).<br />

Nos Parâmetros Curriculares Nacional da Língua Portuguesa, o termo notação é<br />

compreendido com relação ao ensino da ortografia da língua. Ao discutir a conceituação de<br />

notação, porém no contexto da educação musical, observa-se o vínculo com a grafia musical.<br />

O termo nos PCNs de artes aparece vinculado à linguagem musical e ao sistema de escrita<br />

musical tradicional (BRASIL, 1997)<br />

Em relação a alfabetização, Soares (2010) coloca que “em seu sentido próprio,<br />

específico [é o] processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita.”<br />

(SOARES, 2010, p. 15) Essa primeira conceituação sobre o termo implica a aquisição de um<br />

código, sendo ele pertencente de uma linguagem que pressupõe organização e compreensão.<br />

Um conjunto de palavras sem organização não pode ser considerada linguagem enquanto não<br />

apresentar regras que combinem formando orações. (FERREIRO 19<strong>85</strong>)<br />

O conceito de Alfabetização discutido por Magda Soares (2010) “é um processo de<br />

representação de fonemas em grafemas, e vice-versa, mas é também um processo de<br />

compreensão/expressão de significados por meio do código escrito.” (SOARES, 2010, p.16).<br />

Além disso, o processo de alfabetização<br />

deve levar à aprendizagem não de uma mera tradução do oral para o escrito,<br />

e deste para aquele, mas à aprendizagem de uma peculiar e muitas vezes<br />

idiossincrática relação fonemas-grafemas, de um outro código, que tem, em<br />

relação ao código oral, especificidade morfológica e sintática, autonomia de<br />

recursos de articulação do texto e estratégias próprias de<br />

expressão/compreensão. (SOARES, 2010, p. 17)<br />

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Alves (2009) discute que em qualquer sistema de comunicação escrita deve-se<br />

considerar as experiências sociais dos sujeitos e também refletir sobre o papel do professor e<br />

demais instâncias ao longo do processo. A “alfabetização como o aprendizado do alfabeto e<br />

de sua utilização como código de comunicação” (ALVES, 2009, p.3) necessariamente implica<br />

a compreensão e a utilização nas práticas sociais, pois a comunicação por meio desse código<br />

pressupõe socialização. Ser alfabetizado pressupõe a aquisição de habilidades tanto<br />

“habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas da capacidade de<br />

interpretar, compreender, criticar, resignificar e produzir conhecimento.” (ALVES, 2009, p.<br />

3). Soares (2003), afirma que:<br />

uma teoria coerente da alfabetização deverá basear-se em um conceito desse<br />

processo suficientemente abrangente para incluir a abordagem "mecânica"<br />

do ler/escrever, o enfoque da língua escrita como um meio de<br />

expressão/compreensão, com especificidade e autonomia em relação à língua<br />

oral, e, ainda, os determinantes sociais das funções da aprendizagem da<br />

língua escrita (SOARES, 2003, p. 18).<br />

É interessante pensar na resignificação e unificação do conceito de alfabetização, ao<br />

invés de criar outra palavra para tentar explicar o que a alfabetização já faz. O que se deve<br />

pensar, como já foi muito estudado, é tratar a alfabetização como um processo e não como o<br />

objeto que ao nos apropriarmos dele não temos mais nada a aprender sobre esse objeto. O<br />

principal motivo para afirmar o processo é considerar que o sujeito que aprende está em<br />

constante transformação e ao adquirir um conhecimento tem a capacidade de resignificá-lo de<br />

acordo com as suas experiências e vivencias, pois os sujeitos são seres culturais, sociais e<br />

históricos.<br />

Além disso, o sujeito deve compreender que o processo de alfabetização, mais<br />

especificamente a aquisição da leitura e escrita, é a representação de uma linguagem, como<br />

explica o PCN de língua portuguesa:<br />

que a alfabetização não é um processo baseado em perceber e memorizar, e,<br />

para aprender a ler e a escrever, o aluno precisa construir um conhecimento<br />

de natureza conceitual: ele precisa compreender não só o que a escrita<br />

representa, mas também de que forma ela representa graficamente a<br />

linguagem (BRASIL, 1998).<br />

Este é o conceito utilizado neste trabalho que compreende o processo de aprendizagem<br />

e transformação do conhecimento em escrita. O aluno deve ter a oportunidade de levar a<br />

música para a sala e aula, dentro de uma proposta de ensino que considere os aspectos<br />

culturais e as diversidades de meios de comunicação devido aos avanços tecnológicos. As<br />

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atividades devem ser significativas para os alunos possibilitando a abertura da diversidade<br />

cultural, no entanto, sem deixar de ser um ensino contextualizado. (BRASIL, 1998)<br />

A música e a língua materna são linguagens presentes na sociedade, sendo a música a<br />

primeira forma de expressão. “A música é a nossa forma mais antiga de expressão, mais<br />

antiga do que a linguagem e a arte; começa com a voz e com a nossa necessidade<br />

preponderante de nos dar os outros” (MENUHIN E DAVIS 1981, p.1 apud PENNA 2008).<br />

Penna (2008) coloca a “musicalização como um processo educacional orientado que se<br />

destina a todos que, na situação escolar, necessitam desenvolver ou aprimorar seus esquemas<br />

de apreciação da linguagem musical” (PENNA, 2008, p. 44)<br />

Uma criança no processo de apropriação da linguagem, tanto verbal quanto musical,<br />

passa pelo reconhecimento do mundo por meio da linguagem em que está aprendendo. No<br />

contexto da educação musical a apropriação dessa linguagem ocorre por meio da<br />

musicalização. Penna (2008) afirma<br />

o indivíduo se torne capaz de apropriar-se criticamente das várias<br />

manifestações musicais disponíveis em seu ambiente – o que vale dizer:<br />

inserir-se e, seu meio sociocultural de modo crítico e participante. Esse é o<br />

objetivo final da musicalização, na qual a música é o material para um<br />

processo educativo e formativo mais amplo, dirigido para o pleno<br />

desenvolvimento do indivíduo, como sujeito social (PENNA, 2008, p.49).<br />

Watanabe (2009) afirma que “a Música enquanto linguagem tem um sistema de<br />

códigos de grafia. O processo de codificação e decodificação desta linguagem torna<br />

necessária a sua alfabetização” (p.20). Por alfabetização essa autor entende que é “um<br />

processo de apropriação de instrumentos de interpretação de significantes.” (WATANABE,<br />

2009, p.21) Significante é o sistema de significação do som em forma de registro, podendo ter<br />

registro do som da palavra ou da música.<br />

Com a invenção da escrita gráfica e musical os signos vieram substituir os<br />

desenhos e assim, iniciou-se toda a teorização para a sua aprendizagem. [...]<br />

A gênese da grafia sonora é comparativamente semelhante à gênese dos<br />

vocábulos, das funções classificatórias e da imitação (ABRAHÃO, 2005,<br />

p.91 apud WATANABE, 2009).<br />

Watanabe (2009) na citação acima apresenta uma relação entre a alfabetização e a<br />

alfabetização musical convergente na necessidade do homem em criar um registro gráfico<br />

para significar o som.<br />

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Considerações Finais<br />

O conceito de notação parte de princípios de organização do material gráfico,<br />

principalmente após as experiências de linhas ativas nas quais a criança representa o som que<br />

compreende de maneira livre. As diferentes posturas entre construção livre da notação e<br />

aprendizagem da notação tradicional muitas vezes entram em conflito, mas na gênese<br />

pedagógica apresentam conceitos diametralmente opostos.<br />

O processo de aprendizagem dos códigos de uma linguagem passa pelo domínio dos<br />

símbolos que constituem a própria linguagem. No caso da escrita, o código é o alfabeto, mas<br />

no caso da música o código refere-se a conjunção de elementos melódicos e rítmicos usados<br />

na partitura musical.<br />

Os documentos oficiais oferecem uma conceituação clara do processo de alfabetização<br />

da língua materna, definindo-o como o processo de aquisição da linguagem. No entanto os<br />

conceitos de notação são limitados por tentar focar na grafia de elementos musicais. No caso<br />

da música a alfabetização musical possa ser considerada um processo de construção do<br />

conhecimento de natureza conceitual, no qual a criança precisa compreender o que a escrita<br />

musical representa e principalmente como a escrita representa graficamente a linguagem<br />

musical.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ALVES, Bruna Pereira. As distintas concepções acerca dos conceitos de alfabetização.<br />

Revista Urutágua – revista acadêmica multidisciplinar, n,17. Maringá: Paraná<br />

dez.2008/jan./fev./mar. 2009. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

25 out. 2010.<br />

ALVES, Rubem. Por uma Educação Romântica. Campinas: Papirus, 2002.<br />

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. B823p Parâmetros curriculares nacionais:<br />

língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: DF. 144p. Disponível<br />

em: Acesso em: 22 nov. 2010.<br />

FERREIRO, Emília; Teberosky, ANA. Psicogênese da língua escrita. Trad. de Diana<br />

Myriam Lichtenstein, Liana Di Marco e Mário Corso. Porto Alegre: Artes Médicas, 19<strong>85</strong>.<br />

284p.<br />

FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. 24. ed. São Paulo: Cortez, 1981.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. 2. Ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Sulina, 2010. 246p.<br />

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 4.ed. Belo Horizonte: Autêntica,<br />

2010. 128p.<br />

WATANABE, Maria Kyoko Arai. A leitura e a escrita do som na educação infantil.<br />

Universidade Estadual de Londrina. Disponível em: < http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais17/txtcompletos/sem14/COLE_11.pdf>.<br />

Acesso em 20 mar.<br />

2011<br />

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A Canção no Contexto Escolar: filosofia, linguagem, cultura escolar e<br />

práxis<br />

Alexandre Rebouças de Santana<br />

Mestrando pelo Programa de<br />

Pós-graduação em Educação - UFBA<br />

Resumo: Este artigo discute a Música no contexto escolar tendo como recorte a canção em<br />

uma abordagem fenomenológica, considerando cultura, cultura escolar e práxis pedagógica<br />

face à implantação da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Iniciamos com um breve<br />

relato histórico da educação musical no Brasil. Para tal, definimos um conceito de cultura,<br />

relação entre linguagem e linguagem musical, fenomenologia como aporte teórico e<br />

filosófico, análise temática de alguns compositores infantis e apresentação de parte de nossa<br />

produção e estudos advindos da nossa prática profissional na esperança de apontar novas<br />

possibilidades de utilização da canção no contexto escolar frente aos desafios contemporâneos<br />

de educar para o século XXI.<br />

Palavras-chave: Educação, música, canção<br />

1. Introdução<br />

Este trabalho é fruto da reflexão e estudos centrados na cultura, práxis, linguagem e<br />

música no contexto escolar sob o enfoque das perspectivas e desafios da educação no século<br />

XXI.<br />

Visa-se encontrar outros enfoques que podem assumir a práxis pedagógica da música,<br />

ou melhor, a canção, face a implantação da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996,<br />

discutindo, principalmente, o seu conteúdo textual. O tema passa por uma reflexão sobre<br />

cultura, cultura escolar, perspectiva história da educação musical no Brasil, semelhança entre<br />

linguagem musical e verbal, perspectiva da construção de uma possibilidade de abordagem<br />

filosófica para a educação musical e aponta alguns compositores infantis que se dedicam a<br />

investigar novas propostas musicais para a Educação Infantil.<br />

2. Educação Musical no Brasil<br />

Com a aprovação da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996 a ABEM (Associação<br />

Brasileira de Educação Musical) preocupou-se em debater sob qual enfoque se daria a<br />

educação musical em sala de aula. Colaborando com este debate vislumbramos algumas<br />

perspectivas para a utilização da música, especificamente a canção no contexto escolar.<br />

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Para compreendermos melhor a educação musical da canção em sala de aula<br />

buscamos, através da história, retomar alguns momentos nos quais a música se fez presente<br />

para, assim, refletirmos sobre suas perspectivas filosóficas, culturais e suas possíveis<br />

implicações pedagógicas.<br />

De acordo com Salvarez destacamos, dentre muitos movimentos históricos, três<br />

períodos relevantes como marco inicial das nossas reflexões sobre a educação musical dentro<br />

da realidade brasileira. São eles: Período Colonial, Período Independente e Metodologias<br />

Contemporâneas, conforme classificação do autor.<br />

No Período Colonial, destacamos a influência jesuítica na música, tendo o Auto da<br />

Pregação Universal (1555) como a primeira peça musical brasileira cujo título já define a<br />

filosofia e ideologia musical dominante da época.<br />

No Período Independente, temos dois marcos importantes regulamentados através de<br />

leis. O primeiro, em 1847, que estabelece os conteúdos musicais para serem ensinados sendo<br />

divididos em solfejo, instrumentos de sopro, instrumentos de orquestra e harmonia. Em 1<strong>85</strong>1,<br />

a lei 650 estabelece o ensino de música nas escolas primárias e secundárias, todas duas leis<br />

sancionadas por D. Pedro II.<br />

No início do século XX, em que surgem as Metodologias Contemporâneas,<br />

influenciado por tendências educativas advindas de outras áreas do conhecimento, inicia-se<br />

outra fase na qual temos como expoente brasileiro o maestro Villa Lobos. 1 Atualmente,<br />

podemos observar o ecletismo de tendências pedagógicas nas quais cada educador possui seu<br />

princípio filosófico e teórico que fundamentam suas práticas educativas. Dentre muitos que<br />

desenvolveram métodos, abordagens ou filosofia destacamos o próprio Villa Lobos, além de<br />

outros como Suzuki, Dalcroze, Willems, Swanwick, Sá Pereira, Martenot etc.<br />

Diante do que foi visto historicamente, passemos agora a compreender como esta<br />

cultura vai se modificando e, consequentemente, a sua práxis, em função de movimentos<br />

históricos, ideológicos, políticos e filosóficos. Não nos interessa abordar todos estes<br />

segmentos, mas apenas recortá-los para compreensão de como se fundamenta e norteiam a<br />

nossa perspectiva e estudos frente aos desafios para o século XXI.<br />

3. Cultura Escolar, Práxis Pedagógica e Linguagem<br />

1 Não é de interesse, neste momento, discorrer sobre seu envolvimento com a ideologia e política deste período,<br />

apenas o citamos por sua influência pedagógica e musical internacionalmente reconhecida, apesar deste fato se<br />

constituir também como grande relevância social.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Apontamos três tendências em que linguagem, cultura escolar e práxis se<br />

entrecruzam para formar uma concepção pedagógica para o exercício profissional do<br />

educador. Baseado em autores que discutem esses temas, como Grideon, Inbert, Peréz,<br />

Sacristan, Silva, dentre outros, reproduzimos abaixo, em função das perspectivas pedagógicas,<br />

este cruzamento entre linguagem, cultura escolar e práxis.<br />

Quadro 1: Cruzamento entre cultura, linguagem, práxis e perspectivas educativas.<br />

Uma vez compreendida como cultura escolar, práxis e linguagem interagem nesta<br />

discussão acreditamos ser necessário definirmos um conceito de cultura que permeei todas<br />

estas relações. Para isto, compreendemos a cultura como “o tecido de significados,<br />

expectativas e comportamentos discrepantes ou convergentes que um grupo humano<br />

compartilha” (PERÉZ, 2001, p. 15). Nessa perspectiva, este movimento<br />

[...] requer, ao mesmo tempo, tomar consciência do caráter flexível e plástico<br />

do seu conteúdo. As produções simbólicas não podem ser entendidas como<br />

as produções materiais. As relações mecânicas entre os elementos<br />

confundem mais do que esclarecem a verdadeira natureza das interações<br />

humanas.[...] A cultura é um texto ambíguo, inacabado, metafórico, que<br />

requer constante interpretação. (PERÉZ, 2001, p. 15).<br />

A cultura, como fenômeno radicalmente interativo e hermenêutico, requer<br />

interpretação mais do que explicação casual. De acordo com a autora<br />

Conhecer, inclusive, a própria cultura é um empreendimento sem fim. O<br />

próprio fato de pensá-la e repensá-la, de questioná-la ou compartilhá-la<br />

supõe seu enriquecimento e sua modificação. Seu caráter reflexivo implica<br />

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sua natureza cambiante, sua identidade auto construtiva, sua dimensão<br />

criativa e poética. (PERÉZ, 2001, p. 15).<br />

Esta definição de cultura nos ajuda a compreender a importância da música inserida na<br />

escola e no processo de sensibilização dos atores envolvidos na cultura escolar.<br />

Passemos, assim, a compreender como a linguagem se entrelaça neste contexto para<br />

dialogar com a canção na escola. Lembremos que a canção é, necessariamente constituída por<br />

melodia e texto, por isso seu recorte dentro da música e a escolha feita por nós como objeto de<br />

reflexões.<br />

4. A Linguagem Musical<br />

De acordo com Fonterrada (1994), a educação musical segue duas tendências,<br />

atualmente: a primeira delas é a “[...] ‘tradicional’ que se ocupa do ensino de instrumentos<br />

musicais e, para isso, se serve de técnicas e práticas mundialmente aceitas como eficazes para<br />

que seus objetivos sejam atingidos”. Esta tendência tem por objetivo o de<br />

[...] promover a formação de instrumentistas, cantores, compositores e<br />

regentes através da vivência musical, obtida pelo contato com o som e com<br />

instrumentos musicais; proporcionar ao aluno a aquisição de técnicas de<br />

execução e leitura, bem como o domínio técnico necessário à sua formação.<br />

Desta forma, a autora continua esclarecendo que, dentro desta perspectiva, sua forma<br />

de arte é reprodutora e não há muito espaço para o desenvolvimento do pensamento criativo.<br />

Sendo assim, o papel do professor pode ser “caracterizado como o de um determinador e<br />

orientador da ação: seu principal objetivo é ensinar”. (FONTERRADA, 1994).<br />

A segunda tendência entende a Música como derivada da Arte-educação e é chamada<br />

de “alternativa” e isso implica dizer que<br />

Esta forma de educação musical não está especificamente interessada na<br />

formação do músico profissional, mas, sim, de apreciadores de música. A<br />

vivência musical se dá através do contato com o som, instrumentos de<br />

percussão pequenos, ou fabricados com sucata. (FONTERRADA, 1994).<br />

A arte é considerada como inerente a todos os seres humanos e o pensamento criativo<br />

predomina sobre a aquisição de técnicas. Além disso, o papel do professor é o de “coordenar a<br />

ação com o mínimo de interferência”. (FONTERRADA,1994).<br />

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Neste momento, torna-se relevante aproximarmos a linguagem musical a linguagem<br />

verbal quando tratamos de inseri-los no contexto escolar através da canção transformando<br />

assim a cultura escolar e a práxis.<br />

Existe uma tendência na área da Música a classificar, de acordo com a linguagem<br />

verbal, a linguagem musical. Sendo assim, muitos músicos se expressam e analisam as obras<br />

seccionando-as em frases, períodos, etc. assim como fazemos nas orações literais. Logo, um<br />

ponto, vírgula e interrogação também têm seu respectivo na linguagem musical, porém<br />

Fonterrada (1994) vai tratar este assunto em uma perspectiva fenomênica e hermenêutica. Ela<br />

parte desta visada, fenomênica existencial, e dialoga, com base neste referencial, sua<br />

influência e proximidade com a linguagem musical. O resultado dessa visão é que linguagem,<br />

aprendizagem e a experiência musical se assemelham, logo podemos obter uma visão<br />

filosófico-experencial-fenomênica aplicada à educação musical.<br />

5. Filosofia e Música<br />

Considerando-se que a diretriz política também influencia a perspectiva cultural<br />

escolar e a práxis pedagógica, nossas reflexões e estudos fenomenológicos buscam<br />

compreender a linguagem musical e verbal dentro da cultura escolar vigente apontando novas<br />

possibilidades no trato da música neste contexto, valendo-se da canção. Neste percurso, faz-se<br />

necessária uma reflexão dos conceitos filosóficos de Ponty (2011), no que se refere ao ato<br />

vivencial e experiencial do ser no mundo e implicado no mundo, de onde importantes<br />

referências podemos assumir frente à música e, de um modo geral, da música enquanto Arte.<br />

De acordo com Ponty (2011, p. 244),<br />

[...] toda linguagem se ensina por si mesma e introduz seu sentido no espírito<br />

do ouvinte. Uma música ou uma pintura que primeiramente não é<br />

compreendida, se verdadeiramente diz algo, termina por criar por si mesma<br />

seu público, quer dizer, por secretar ela mesma sua significação.<br />

Quando analisado o fenômeno da fala, este autor afirma que<br />

É preciso reconhecer em primeiro lugar que o pensamento, no sujeito<br />

falante, não é uma representação, quer dizer, que este não põe expressamente<br />

objetos ou relações. O orador não pensa antes de falar, nem mesmo enquanto<br />

fala; sua fala é seu pensamento. (PONTY, 2011, p. 244).<br />

Assim Ponty (2011, p. 245) conclui que<br />

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[...] não temos um pensamento à margem do próprio texto, as palavras<br />

ocupam todo o nosso espírito, elas vêm preencher exatamente nossa<br />

expectativa e nós sentimos a necessidade do discurso, mas não seríamos<br />

capazes de prevê-lo e somos possuídos por ele. O fim do discurso ou do<br />

texto será o fim de um encantamento.<br />

Queremos situar este encantamento como, dentro da própria filosofia de Ponty, entre o<br />

ser no mundo e aberto para o mundo onde nesta relação de abertura vivemos a experiência de<br />

sermos ou do vir a ser, ou seja, tornar-se. Vejamos o que o autor comenta sobre a relação<br />

entre palavra, fala e o artista<br />

[...] a palavra é um certo lugar de meu mundo linguístico, ela faz parte de<br />

meu equipamento, só tenho um meio de representá-la para mim, é<br />

pronunciá-la, assim como o artista só tem um meio de representar-se a obra<br />

na qual trabalha: é preciso que ele a faça. (PONTY, 2011, p. 246).<br />

Quando aproximamos o fenômeno da fala a expressão, operação da expressão e<br />

potência da expressão associadas à música, Ponty (2011, p. 248) nos ajuda a compreender que<br />

A operação de expressão, quando é bem-sucedida, não deixa apenas um<br />

sumário para o leitor ou para o próprio escritor, ela faz a significação existir<br />

como uma coisa no próprio coração do texto, ela a faz viver em um<br />

organismo de palavras, ela a instala no escritor ou no leitor como um novo<br />

órgão dos sentidos, abre para nossa experiência um novo campo ou uma<br />

nova dimensão. Essa potência da expressão é bem conhecida na arte e, por<br />

exemplo, na música.<br />

Esta aproximação parece limitar a capacidade de percebermos a música, pois<br />

Se nos parece sempre que a linguagem é mais transparente do que a música,<br />

é porque na maior parte do tempo permanecemos na linguagem constituída,<br />

damo-nos significações disponíveis e, em nossas definições, limitamo-nos,<br />

como o dicionário, a indicar equivalências entre elas. (PONTY, 2011, p.<br />

255).<br />

Diante do que foi visto sobre a fenomenologia podemos situar a escola como este<br />

espaço multicultural e multi referencial em que as relações sociais se estreitam e se<br />

entrecruzam para formar um contexto vivencial e experiencial no qual cada aluno está exposto<br />

a uma ampla possibilidade do vir-a ser. É neste espaço que suas ações-reflexões ganham<br />

“vida”, ou seja, no contato do seu corpo com o mundo e aberto para o mundo onde há a<br />

possibilidade de vivenciar novas experiências.<br />

Considerando este enfoque vejamos como a arte, corpo, ser humano e significações<br />

são apresentadas por Ponty (2011, p. 210):<br />

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[...] um romance, um poema, um quadro, uma peça musical são indivíduos,<br />

quer dizer, seres em que não se pode distinguir a expressão do expresso, cujo<br />

sentido só é acessível por um contato direto, e que irradiam sua significação<br />

sem abandonar seu lugar temporal e espacial. É nesse sentido que nosso<br />

corpo é comparável à obra de arte. Ele é um nó de significações vivas e não<br />

a lei de um certo número de termos co-variantes.<br />

Observamos como a abordagem filosófica da fenomenologia pode contribuir e<br />

embasar uma possibilidade diferente de percepção do fenômeno musical ampliando assim a<br />

visão sobre sua utilização no contexto escolar frente a educação para o século XXI.<br />

6. A Canção Na Escola<br />

Passemos agora a analisar a canção, gênero musical que contém letra e melodia dentro<br />

das tradições ou cultura escolar, atualmente utilizada nas salas de aulas. Na busca por<br />

pesquisadores preocupados com este tema, no que se refere a canções e conteúdos<br />

pedagógicos em sala de aula, encontramos em Maffioletti (2003) a confirmação de que a<br />

música não é devidamente trabalhada por não oferecer objetivos claros. No desenvolvimento<br />

do seu texto, a autora utiliza a canção “De olhos vermelhos de pelo branquinho...” para<br />

descobrir, junto às professoras, os possíveis conteúdos trabalhados nesta canção. Desta forma,<br />

ela afirma que estes conteúdos levantados pelas professoras – esquema corporal, coordenação<br />

motora, lateralidade, expressividade e criatividade – não alcançam o objetivo principal, que<br />

seria “[...] permitir a criança conhecer o coelho, fazendo relações entre a forma do seu corpo<br />

com o modo como ele se movimenta, sua alimentação e seus hábitos.”, ou seja, não possibilita<br />

a criança conhecer o objeto em suas características fundamentais e não contempla nem a<br />

motricidade sugerida, pois os movimentos corporais geralmente são estereotipados em uma<br />

coreografia criada por um adulto. Logo, a criatividade e a expressividade também não são<br />

trabalhadas.<br />

Uma vez tomado isso como verdade, deveríamos nos preocupar com os tipos de<br />

relações que são construídas quando se utiliza a música em sala de aula, pois, muitas vezes,<br />

estamos distantes de uma aprendizagem significativa para a construção da inteligência das<br />

crianças, além de perdermos a oportunidade de ampliar o vocabulário, a compreensão de<br />

mundo, criar novas significações simbólicas, experiência estética, desenvolvimento do<br />

pensamento, dentre outros.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

7. Para Além das Aparências<br />

Encontramos na obra de Ponty (2011) a identificação com a música, no sentido de não<br />

se separar o objeto do sujeito. Acreditamos, assim como Ponty, que o corpo no mundo aberto<br />

ao mundo é o espaço de estar no mundo vivenciando-o, assumindo-o e se responsabilizando<br />

por sua permanência no próprio mundo, ou seja, assumindo as suas escolhas nesse mundo<br />

complexo, dinâmico, multi referencial, multilingual, etc.<br />

Como acabamos de ver, podemos, através da canção, oferecer uma possibilidade quase<br />

infinita de relações culturais, vivenciais e experienciais para o sujeito. Podemos caminhar<br />

tanto na letra como na música em si para diversas áreas de conhecimento, por isso,<br />

enumeramos alguns compositores cujo foco recai nos conteúdos mais relevantes da sua<br />

produção artística descritos assim: Esquema corporal – Bia Bedran; Universo infantil –<br />

Palavra Cantada; Alfabetização – Teco Treco; Multi referencial sonoro – Hélio Ziskind,<br />

dentre outros.<br />

8. Nossa Pesquisa<br />

Assim como alguns dos artistas citados acima que são compositores, intérpretes e/ou<br />

músicos e, considerando a nossa experiência profissional em sala de aula, apresentamos uma<br />

das nossas composições desenvolvidas com o objetivo de exemplificar os conceitos discutidos<br />

ao longo deste artigo. Esta canção busca equacionar a problemática entre cultura escolar,<br />

cultura musical, práxis pedagógica e filosofia em sua utilização na sala de aula.<br />

VAMO DANÇÁ<br />

Letra e Música:<br />

Alexandre Rebouças<br />

Olha a quadrilha, João<br />

Fazendo o balancê<br />

An avant tour no salão (Bis)<br />

Damas prum lado<br />

Cavalheiros pro outro<br />

Vai começar o namoro<br />

Paquera moça<br />

Pisca e beija meu bem<br />

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Lá vem o túnel<br />

Simbora no trem<br />

A festa é boa<br />

O rasta pé tá animado<br />

O corpo todo suado<br />

E o sapato furado (Bis)<br />

Nesta canção, abordamos a festa junina, uma de nossas manifestações culturais, de<br />

forma lúdica e com ampla possibilidade de exploração textual. Quanto a parte vivencial<br />

deixamos a critério dos professores regente ou de música chamando a atenção para a ideia da<br />

expressão corporal da dança, ou seja, a quadrilha, formação típica da festa de São João.<br />

Assim, acreditamos que os conteúdos textuais, musicais, experienciais e vivenciais, centrados<br />

no corpo, serão valorizados e contribuirão para uma aprendizagem integrada e significativa<br />

dos participantes da atividade.<br />

9. Conclusão<br />

Acreditamos, desta forma, poder contribuir para as indagações sobre a ampliação das<br />

possibilidades educativas no século XXI frente aos novos desafios encontrados na área da<br />

Educação. Tecemos algumas reflexões, que acreditamos serem relevantes, para a utilização da<br />

canção no contexto escolar, e assim, colaborarmos para que a Arte e a Música sejam mais<br />

participativas e atuantes neste contexto, pois muitas vezes, observamos durante a nossa<br />

prática profissional, que estas áreas de conhecimento são utilizadas de forma estereotipada e,<br />

em alguns casos, menosprezadas por diversos grupos sociais dentro da própria escola.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Referências<br />

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29 mai. 2011.<br />

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culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995.<br />

IMBERT, Francis. Para uma práxis pedagógica. Brasília: Plano Editora, 2003.<br />

MAFFIOLETTI, L. In: Educação - Pra que te quero? Cramem Craidy, Gladis E. Kaercher.<br />

Porto Alegre: Artmed, 2001.<br />

PERÉZ-GOMÉZ, A. I. A Cultura Escolar na sociedade neoliberal. Tradução: Ernani Rosa.<br />

Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.<br />

PONTY, Maurice Merleau. In: Fenomenologia da percepção. 4ª edição. São Paulo: Martins<br />

Fontes, 2011.<br />

SACRISTÁN, Gimeno; GÓMEZ, Pérez. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre:<br />

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SALVAREZ, Sérgio Luís de Almeida. 500 Anos de Educação Musical no Brasil: aspectos<br />

históricos. Disponível em:<br />

. Acesso em: 13 jun. 2011.<br />

SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos<br />

culturais em educação. Petropólis: Vozes, 1995.<br />

TOSQUELLES, François. Éducation et psycothérapie institutionelle. In: Mantes-la-Ville.<br />

Hiatus, 1984. In IMBERT, Francis. Para uma práxis pedagógica. Brasília: Plano Editora,<br />

2003.<br />

VÁZQUEZ. A. S. Filosofia da Práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Humanizando, Socializando e Intervindo Através da Musicalização Infantil<br />

Felipe Rocha Santos 1<br />

fellyperocha_2007@hotmail.com<br />

Resumo: O educador Paulo Freire deixou a todos nós educadores um legado inestimável de<br />

como educar e substantivamente formar. Aplicamos a Pedagogia Freireana a Educação<br />

Musical Infantil, afim de através da prática musical, acolher e valorizar a Cultura Ancestral<br />

Africana de nossas crianças. Utilizar as concepções freireanas na musicalização infantil<br />

permitiu que promovêssemos um real acesso a arte e a cultura e contribuíssemos na<br />

construção de uma sociedade de com relações étnico-racias e culturais mais justas e iguais.<br />

Palavras chave: Freire, cultura, música<br />

Introdução<br />

Humanizar, socializar e intervir era o que desejamos realizar através da musicalização<br />

infantil na Escola Municipal Irmã Elisa Maria da Secretária Municipal de Educação e Cultura<br />

de Salvador, localizada em uma região carente da cidade. As atividades de musicalização são<br />

realizadas por educadores provenientes do Brasil, da Argentina e do Chile, que através dos<br />

estudos em cultura africana encontraram uma maneira de musicalizar levando em<br />

consideração a cultura ancestral contida na comunidade em que a escola está inserida.<br />

Os educadores fazem parte de programas educacionais desenvolvidos nessa instituição<br />

e realizam o voluntariado educativo como tecnologia social e ferramenta pedagógica. O<br />

objetivo da prática voluntária, utilizando o fazer artístico-musical é criar um currículo<br />

integrador e inovador e ajudar a criança a respeitar as diferenças e viverem a diversidade<br />

musical presente em sua cultura e na de outros povos.<br />

Para estimular a criatividade e tornar mais completa a formação da criança, optou-se<br />

por criar um ensino musical infantil que fosse além do lúdico e do passageiro e que ajudasse a<br />

perpetuar a cultura da criança e de sua comunidade. Assim, as atividades de musicalização<br />

distribuídas entre quatro educadores, além de possuir as ações musicalizadoras comumente<br />

utilizadas incluem canto africano e música percussiva que se unem as aulas de canto coral,<br />

jogos rítmicos e ensino de instrumento. Esse trabalho oferece uma rotina diária de estudos e<br />

vivências que ocorrem no contra-turno e fins de semana e são monitoradas por regentes,<br />

solistas e coreografas psicomotricistas com vasta experiência internacional na pesquisa e<br />

ensino de música, canto e dança africana.<br />

1 Escola Municipal Irmã Elisa Maria.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O trabalho atinge mais de 150 crianças entre cinco e oito anos de idade que cursam o<br />

Ensino Fundamental I e são originárias de famílias negras e afro-descendentes. As atividades<br />

ocorrem desde o primeiro semestre de 2011 com um total até então de 400h de atividades<br />

artísticas.<br />

Todo e qualquer trabalho nessa área visam à constituição do sujeito e soerguimento de<br />

sua personalidade e sensibilidade através da música e do movimento corporal com pano de<br />

fundo a sua cultura ancestral.<br />

As contribuições do educador Paulo Freire<br />

Para Paulo Freire (2001) devemos construir o nosso “ser no mundo com os outros”<br />

pela relação com as pessoas, com a sociedade e com sua cultura. Helena Trope (1993, p.108)<br />

diz que “o educador, ou o músico-educador ou o educador-músico é membro de um grupo<br />

social. E, por isto, tem compromisso com a música e com a sociedade.” Assim para Paulo<br />

Freire e Helena Trope a escola e as atividades que nela ocorrem, o que inclui a educação<br />

musical, deveria acolher a cultura, a história da comunidade e do povo. Por isso encaramos a<br />

metodologia freireana uma um aspecto importante nas atividades de musicalização infantil, já<br />

que a mesma incentiva o engajamento do educador com a comunidade popular, com sua<br />

música e cultura.<br />

Paulo Freire muito destaca o papel da escola na promoção da cultura popular e a<br />

importância dos conhecimentos prévios. Nas nossas atividades musicalizadoras colocamos<br />

como referência de trabalho a Cultura Africana e Afro-brasileira presente no patrimônio<br />

imaterial da cidade de Salvador como meio de valorização dos conhecimentos prévios e da<br />

cultura do aluno que em geral está relacionada a essa manifestação cultural.<br />

Para esse fim, de acordo com as orientações pedagógicas encontradas na Pedagogia<br />

Freireana, construímos um currículo musicalizador que estivesse em compasso com os<br />

conceitos, filosofias e modos de vida da comunidade baiana que é basicamente formada por<br />

descendentes de africanos. Conforme abordado por Alicia Loureiro (2003, p. 190) “é<br />

necessário interagir e complementar práticas pedagógicas, como procedimentos organizados<br />

com os modos de pensar e agir, com as experiências vividas e os estímulos diversos que<br />

cercam o mundo das crianças e dos jovens.”<br />

Utilizando o Método Paulo Freire<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Em 1962, Paulo Freire desenvolveu o que hoje é conhecido como “Método Paulo<br />

Freire”, um método educacional usado inicialmente na alfabetização de jovens e adultos que<br />

visava à valorização da Cultura do Povo. O professor era um animador de debates que sempre<br />

ensinava, ou melhor, desenvolvia suas atividades, a partir de conhecimentos prévios e das<br />

experiências vividas por eles, isso era um estimulo o seu desenvolvimento cognitivo,<br />

emocional e cultural. Para esse fim, os educadores utilizavam três momentos: (1) Investigação<br />

Temática, (2) Tematização e (3) Problematização.<br />

Nós educadores, na Escola Municipal Irmã Elisa Maria construímos o currículo<br />

musical da instituição através dessa metodologia. Apresenta-se agora como o método foi<br />

utilizado.<br />

No momento de Investigação Temática cada um preocupou-se em conhecer as<br />

influências musicais presentes no cotidiano da criança a fim de tornar o ensino de música<br />

mais integrado com a comunidade social e sua cultura. Através de vivências e Rodas<br />

Musicais, o educador buscava compreender o modo de pensar musical da criança e as<br />

manifestações artísticas de sua comunidade. Paulo Freire (1996, p. 41) disse que “uma das<br />

tarefas mais importantes na prática educativo-crítica é propiciar condições em que os<br />

educandos em suas relações com o professor ou professora ensaiam a experiência profunda de<br />

assumir-se.” Percebeu-se devido a alguns fatos e no decorrer de vivências musicais que a<br />

criança necessitava assumir-se como ser social, criador, transformador, pensante e cultural.<br />

Ela necessitava individualmente assumir a sua identidade como pertencente à Comunidade<br />

Negra, e para conseguirmos isso se decidiu utilizar referências musicais da cultura ancestral.<br />

Na Tematização estudamos um meio de elaborar um tema gerador interdisciplinar<br />

que buscasse o reconhecimento da identidade cultural (FREIRE 1996, p. 41). O tema “Cultura<br />

Musical e Dançante Africana e Afro-brasileira” nos fornece a possibilidade de instituir um<br />

significado social à música dentro da escola. Esse tema ajuda cada criança a melhor<br />

compreender a sua cultura e identidade, já que a música em si, como linguagem artísticocultural<br />

é uma pratica social. A memória, historia e saberes do povo negro tornou-se objeto de<br />

educação musical infantil. Hentschke (1991, p. 59) nos recorda que o valor multicultural da<br />

música é ‘tentar evitar o isolamento de sub-culturas, bem como a imposição ás mesmas da<br />

cultura dominante do país em que se situam'.<br />

A fase de Problematização é o momento em que usamos, para fazer do educador<br />

musical um problematizador e orientador de aprendizagem o que ajuda a criança a colocar-se<br />

pessoalmente como construtora de conhecimento e saberes musicais, nós nos 'educamos em<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

comunhão' (FREIRE 1981, p. 79). Aqui buscamos musicalizar através de valores culturais<br />

africanos e estimulamos a criatividade, a excussão e a composição utilizando instrumentos,<br />

canções e gêneros da cultura ancestral. A problematização é importante para desafiar a<br />

criança a novas aprendizagens através da prática musical, ao ser estimulada, ela percebe que<br />

necessita aprender mais, “seus modos de perceber, suas formas de ação e pensamento” são<br />

aguçadas (FONTERRADA, 1994, p.141). E isso é importante, pois Porcher (1982, p.15) nos<br />

esclarece que “não existe espontaneidade natural nem liberdade imediatamente criativa. É<br />

preciso dá a criança os instrumentos necessários para sua auto-expressão”.<br />

As idéias democráticas de Freire muito nos ajudam a musicalizar crianças. Tais<br />

conceitos nos ajudam a perceber cada criança e família como fazedores de cultura e valorizar<br />

tais saberes. Além do mais, colocar as artes negras como objeto de estudo musical contribuí<br />

para desfazer a visão etnocêntrica de alguns e construir uma Pedagogia Musical Anti-racista e<br />

Multicultural.<br />

Paulo Freire também destaca a necessidade da dialógicidade no momento educativo ao<br />

dizer que “a educação é comunicação, é diálogo” e utilizar o método dialógico-pedagógico<br />

contribui muito para que sempre elaboremos atividades musicais voltadas para o<br />

desenvolvimento social, cultural e integral da criança (FREIRE 1982, p. 69).<br />

No entanto, a grande contribuição de Freire nos trabalhos é a sua insistência de que a<br />

escola deveria tornar-se um espaço cultural e que toda cultura deveria ser acolhida como meio<br />

de apreensão de conhecimentos. Como disse ainda Koellreutter (1997 p. 38-39) a arte é um<br />

“instrumento de libertação” e não de “alienação social” e Freire (1996, p. 81) ainda contribui<br />

em dizer que não podemos 'de maneira alguma, nas nossas relações politico-pedagógicas com<br />

grupos populares desconsiderar seu saber e experiência feito' e nós não desconsideramos nem<br />

mesmo a sua música, sua arte e cultura. Procuramos valorizar a diversidade musical dos<br />

povos negros na África e na diáspora.<br />

A Arte Negra e Educação Musical Infantil<br />

Jusamara Souza (1996, p. 26) disse que o significado musical é “construído<br />

culturalmente, em dadas condições contextuais, e ignorá-las pode implicar a projeção de<br />

preconceitos e distorções, por isso entendemos que considerar a diversidade musical na<br />

educação de crianças é construir um modelo pluridimencional da música.<br />

Um currículo musicalizador que busca referências na Cultura de Matriz Africana tem<br />

sido importante na valorização das concepções estéticas baseadas na cultura de nossas<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

crianças negras, presente, no entanto, no cotidiano de pessoas negras e não-negras da escola e<br />

da comunidade em que realizamos o trabalho de educação musical. Isso se mostra positivo,<br />

pois a maioria das escolas em suas atividades musicalizadoras “não inclui em suas atividades<br />

pedagógicas, referências do patrimônio cultural e artístico africano e, quando contempla a arte<br />

afro-brasileira, geralmente, o faz de modo folclorizado ou sem devida menção de que se trata<br />

de uma manifestação oriunda da matriz africana, valorizando-a” (SECRETARIA<br />

MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA DE SALVADOR 2005, p. 67).<br />

Corpo, Cultura e Música<br />

Na arte negra o corpo é o centro é o centro da produção artístico-musical. Ele é<br />

essencial para criar e recriar. De acordo com determinada publicação “sobre o corpo se<br />

assenta toda uma rede de sentidos e significações” (MEC, 2010 p. 58). O corpo, portanto, é<br />

um espaço importante para concepção, produção e recriação da vida. Trabalhar o corpo na<br />

musicalidade africana é ir além do teórico e pratico a fim de alcançar uma dimensão holística.<br />

Paulo Freire também nos fala sobre a importância do corpo ao dizer que “nas culturas<br />

em que o corpo não foi submetido a um intelectualismo racionalizante (...) em que o corpo<br />

consciente encontrando-se em maior liberdade em suas relações com a natureza, move-se<br />

facilmente de acordo com seus ritmos” (FREIRE, 1<strong>978</strong> p. 111).<br />

Em nosso trabalho musical o corpo assumiu essa dimensão integral e integrante do<br />

processo de musicalização. Através de vivências a música corporal foi sendo trabalhada para<br />

produção de sons, diferentes ritmos, tonalidades e intensidades.<br />

Nas aulas de instrumento e canto coral focalizou-se a necessidade de “ouvir” a música<br />

do próprio corpo. Ele (corpo) tornou-se o centro das produções musicais. Fazer isso era<br />

importante, pois a criança, ao compreender que seu corpo produzia diferentes sons, aprendeu<br />

de maneira mais concreta que a sua própria voz ou os instrumentos são capazes de<br />

semelhantemente expressar-se em diferentes sons, ritmos, intensidades e tonalidades.<br />

A cultura foi uma questão e continua sendo, muito trabalhada na educação musical<br />

infantil. Procuramos de todos os modos evitar o isolamento de sub-culturas dando a cada<br />

criança a oportunidade de conhecer e executar gêneros de diferentes grupos étnico-culturais<br />

africanos formadores de nossa brasilidade. Por isso, ela teve a oportunidade de se familiarizar<br />

com gêneros musicais do oeste e sul africano, do recôncavo baiano e da cidade de Salvador.<br />

Também buscamos inspiração em Freire para tornar a educação musical algo<br />

nitidamente musical para as crianças. Ele nos ensinou que a cultura é resultado do trabalho e<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

do acréscimo humano de algo ao mundo que ele não fez. E essa realidade cultural de trabalho<br />

e acréscimo pode manifestar-se em diferentes linguagens, inclusive na música. Por isso cada<br />

povo ou comunidade produziu e produz cultura, cultura que deve ser valorizada e trabalhada<br />

pelo educador. (FREIRE 1983, p. 108-109). Portanto a construção de um currículo musical<br />

infantil que dá significado e valor a cultura ancestral da criança é um meio de tornar a escola<br />

mais envolvida com a vida e história do educando e de seu povo, nosso povo na verdade.<br />

Saberes Prévios<br />

Para Freire o educador teria de levar em conta os saberes e experiências de vida do<br />

educando, pois ninguém é vazio de conhecimento. Para esse fim, fazia-se necessário um<br />

esforço dele de se comunicar com o educando. Essa relação dialógica seria capaz de buscar<br />

significados e ressignificados (FREIRE 1982, p. 69). Isso é importante na educação musical<br />

infantil, pois Penna (1990, pp. 19-20) disse que não adianta colocar o aluno “submerso na<br />

escola com uma malha de conteúdos e metodologias desconexos”<br />

Tomados por esse modo de pensar freireano procuramos valorizar os saberes prévios e<br />

experiências musicais da criança. Portanto, a musicalização sempre parte de estilos<br />

conhecidos pelas crianças. Nas aulas de Linguagem Musical Percussiva, por exemplo, o<br />

educador musical tem o cuidado de associar determinados gêneros musicais africanos a<br />

produções musicais conhecidas pelas crianças, comparações com o tão difundido pagode são<br />

mais comuns.<br />

As crianças na comunidade crescem ouvindo pagode, estilo que nasceu e se<br />

desenvolveu nas regiões periféricas de Salvador. Como se utilizou esse estilo popular na<br />

musicalização infantil? De modo geral a criança sabia executar em instrumentos percussivos<br />

esse estilo musical, daí o educador ao ensinar formas de execução de gêneros originários do<br />

oeste africano, comparava os estilos em sua intensidade e diferenciava a tonalidade. Além do<br />

mais o educador não se negava a ouvir e executar a música ouvida pela criança fora da escola,<br />

aprimorando, no entanto, o seu modo de executá-la e senso crítico-musical. Como nos disse<br />

Snyders (1992, p. 88) “a aula de música constitui uma ocasião bastante privilegiada de<br />

colocar-se em ‘uníssono’ com os outros, de escutar uns aos outros, com habituais<br />

ressonâncias de conhecer-se, apreciar-se, aceitar-se”.<br />

Portanto a educação musical infantil em nossa experiência procura emergir do próprio<br />

meio do educando ou senão, aproximar-se ao máximo dele. Esse esforço está em harmonia<br />

com o comentário de Loureiro (2003, p. 176) que disse:<br />

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Resultados e Conclusões<br />

Compreender o modo como os jovens se relacionam com a música, seus<br />

gostos e estilos, significa uma abertura ao diálogo permanente com a<br />

realidade sócio-cultural na qual estão engajados os mais diferentes grupos<br />

socais, inclusive do professor.<br />

“Como educador preciso ir lendo cada vez melhor a leitura do mundo que os grupos<br />

populares com quem trabalho fazem de seu contexto imediato e do maior de que esse é parte”,<br />

disse Freire (1997 p. 90). Por isso a tarefa do educador é “Ler o mundo” dos educandos,<br />

conhecê-los, respeitá-los e valorizar a sua cultura, acolhendo as suas diferenças.<br />

Através de educação musical infantil a escola tem dado as crianças negras o apoio para<br />

que elas possam construir de maneira positiva a sua identidade social e cultural como<br />

pertencente ao grupo afro-descendente. E de uma maneira geral contribuímos para que todos<br />

reconheçam a Arte Negra e sua musicalidade como saber socialmente construído e<br />

reconhecendo a África como uma das matrizes legitimas da cultura humana e especialmente,<br />

da brasileira.<br />

A valorização de tradições musicais e costumes da cultura da criança e de seu povo<br />

têm dado suporte ao aprendizado musical. E o trabalho com música africana e afro-brasileira é<br />

um meio de acolher para o seio da escola a diversidade cultural.<br />

Acolher a Pedagogia Freireana na musicalização infantil nos fornece o desafio diário<br />

de “promover o real acesso ao saber, a cultura e a arte” (PENNA 1996, p. 23). Acesso este<br />

que é dado através da valorização das memórias, histórias e artes do povo negro, que<br />

majoritariamente compõem nossa clientela. O Método Paulo Freire nos permiti conhecer de<br />

maneira mais profunda o modo de pensar musical da criança e sempre partir de suas<br />

experiências musicais, permitindo a nós, mergulhar em sua cultura e ajudá-la a prezar suas<br />

raízes ancestrais.<br />

Destaca-se também que essa perspectiva musical diversificada, construída em direção<br />

a um processo aberto e dialógico contribui para a aproximação das crianças a nós educadores,<br />

ao saber, as artes e a música. Considerado aspectos formativos da personalidade da criança<br />

acreditamos que o acesso a arte e a música na vida de cada criança tem se transformado “num<br />

instrumento de soerguimento da personalidade e de estimulo a criatividade”<br />

(KOELLEREUTTER 1997, pp. 38-39).<br />

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A educação para Freire (1997, p. 100-105) era uma forma de intervenção no mundo.<br />

Portanto a musicalização infantil por nós desenvolvida contribui para reforçar o projeto de<br />

construção de uma sociedade com relações étnico-raciais e culturais mais igualitárias.<br />

Assim em nossa experiência estamos comprovando a responsabilidade que nós<br />

educadores musicais temos de ‘abrir portas, de dar acesso ao conhecimento<br />

musical’(SWANWICK 1993, p.29-30), mais também, o nosso maior dever com a sociedade<br />

brasileira em perpetuar a sua cultura, a sua ancestralidade e de fazer com que esses<br />

importantes elementos constituintes de nossa identidade façam parte da musicalização<br />

infantil.<br />

Referências<br />

BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Orientações e Ações para Educação das<br />

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Cadernos de Estudo: Educação Musical, n. 4 e 5. São Paulo, p. 41, 1994<br />

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FREIRE, Paulo. Ação cultural para liberdade. 15. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981<br />

FREIRE, Paulo. Extensão e Comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982<br />

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,<br />

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PENNA, Maura. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo: Loyola, 1990.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

SOUZA, Jusamara. Contribuições teóricas e metodológicas da sociologia para a pesquisa em<br />

educação musical. V ENCONTRO ANUAL DA ABEM. V SIMPÓSIO PARANAENSE DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL. Anais... Londrina: Abem, pp. 11-40, 1996.<br />

SNYDERS, George. A escola pode ensinar as alegrias da música? São Paulo: Cortez, 1992.<br />

SWANWICK, Keith. Permanecendo fiel a música na educação musical. II ENCONTRO<br />

ANUAL DA ABEM. Anais... Porto Alegre: Abem, pp.19-32, 1993.<br />

TROPE, Helena R. As músicas da America Latina e a educação Musical. VI ENCONTRO<br />

ANUAL DA ANPPOM. Anais... Rio de Janeiro: <strong>Anppom</strong>, pp. 47-53.<br />

270


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Música e Cultura Popular com Crianças na Educação Básica<br />

Leila Cristina Pereira dos Santos<br />

Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)<br />

Lekasmusic@hotmail.com<br />

Valéria Poliana Silva<br />

Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)<br />

Lelapolly@hotmail.com<br />

Resumo: A cultura popular brasileira é ampla e diversificada, refletindo diretamente nas<br />

formas de expressão cultural dos sujeitos. A compreensão dos elementos culturais e sua<br />

diversidade são importantes dispositivos de entendimento dos sujeitos inseridos em processos<br />

de ensino e aprendizagem, tornando assim o âmbito escolar apropriado para o<br />

desenvolvimento de atividades que valorizem elementos da cultura popular. Na relação<br />

cultura-educação é possível proporcionar aos envolvidos o autoconhecimento e o respeito à<br />

diversidade. Nessa perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo principal, estimular a<br />

presença da cultura popular através da educação musical na educação básica, buscando<br />

entender à adoção dessa temática em projetos de extensão universitária. A realização desse<br />

trabalho foi possível, através da revisão bibliográfica e pela participação no Projeto Tesouros<br />

do Tempo.<br />

Palavras chave: Cultura popular, educação musical, extensão universitária<br />

1. Introdução<br />

O presente trabalho aborda a presença da cultura popular no contexto escolar da<br />

educação básica, seguindo de descrição sobre a importância da valorização cultural e do<br />

respeito à diversidade na formação do aluno. As ações são articuladas com o GPAM (Grupo<br />

PET Artes Música) 1 programa vinculado ao MEC e financiado pela CAPES no intuito de<br />

produzir conhecimento em torno da temática música na escola.<br />

É perceptível que a cultura popular encontra-se conectada à diversidade social do<br />

nosso país, que segundo Lima (2002, p. 23) configura-se como uma das mais diversificadas<br />

sendo assim, a mesma torna-se importante instrumento que juntamente com a música pode<br />

auxiliar de forma intensa e eficaz no ensino-aprendizagem no âmbito escolar. Compartilhando<br />

com, Cristina Rolim Wolffenbüttel a sala de aula é um local interessante para se tratar da<br />

cultura popular, pois apresenta uma grande diversidade cultural entre os alunos presentes<br />

1 Grupo Pet Artes Música da Unimontes, sob tutoria do Prof. Ms. Luciano Cândido e Sarmento têm como<br />

objetivo desenvolver as ações de ensino, pesquisa e extensão em música, bem como compreender e desenvolver<br />

a educação musical e assim promover o desenvolvimento sócio cultural dos sujeitos, destacando a importância<br />

da música no contexto escolar.<br />

271


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

(WOLFFENBÜTTEL, 2000, p. 31). Além disso, trabalhar a cultura popular em sala de aula é<br />

a oportunidade do autoconhecimento e do respeito à diversidade.<br />

Diante disso, nota-se que as universidades brasileiras vêm adotando a cultura popular<br />

como base em projetos de extensão universitária. Dessa forma, o projeto Tesouros do Tempo 2<br />

vinculado ao Pólo Arte na escola da Universidade Estadual de Montes Claros –<br />

UNIMONTES se propôs a retratar a história cultural da cidade de Montes Claros com<br />

crianças em cinco escolas públicas municipais, no período de outubro a dezembro de 2009.<br />

Fundamentado na participação no projeto Tesouros do Tempo e em pesquisas bibliográficas<br />

(Corrêa 2007, Kater 2004, Laraia 2010, Lima 2002, Queiroz 2004, Queiroz 2009, Santos<br />

2011, Souza 2010, Wolffenbüttel 2000), como em livros e artigos científicos. Buscamos nesse<br />

estudo estimular a presença da cultura popular através da educação musical na educação<br />

básica, procurando entender à adoção dessa temática em projetos de extensão universitária.<br />

Esperamos que esse trabalho contribua para valorização da cultura popular na<br />

formação do aluno e para exemplificar através do projeto Tesouros do Tempo, o papel da<br />

extensão universitária para os acadêmicos e sociedade. Contribuindo ainda, para o<br />

fortalecimento das pesquisas relacionadas à educação musical, cultura popular e extensão<br />

universitária o que é de grande relevância para nosso constante desenvolvimento. Pois<br />

acreditamos que através da pesquisa ampliamos os conhecimentos e encontramos respostas as<br />

nossas inquietações.<br />

2. Desenvolvimento<br />

Sabemos que a cultura de um povo é constituída por vários elementos, crenças valores,<br />

mitos, jeito de falar, modo de vestir, alimentação, dança, música, folclore, entre outros. Mas<br />

vale ressaltar que, a cultura popular não se limita às manifestações festivas e tradições, esta<br />

também se refere à organização e expressão de todos os elementos citados anteriormente.<br />

Diante do exposto, concordamos com Freire (2003), citado por Gabriel:<br />

Quando falamos de cultura popular estamos nos referindo não apenas às<br />

manifestações festivas e às tradições orais e religiosas do povo brasileiro,<br />

mas ao conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se<br />

expressa, aos significados e valores que atribui ao que faz [...] (FREIRE<br />

apud GABRIEL, 2005, p.5).<br />

2 Tesouros do Tempo refere-se a um projeto desenvolvido de um musical com o mesmo nome.<br />

2<strong>72</strong>


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Para a continuidade deste estudo é importante compreender a valorização da<br />

identidade cultural e sobre o meio em que ela é disseminada, como afirma Laraia:<br />

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é<br />

herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a<br />

experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o antecederam. A<br />

manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as<br />

inovações e as invenções. (LARAIA, 2001, p.41)<br />

Baseado na afirmação de Laraia, podemos concluir que a cultura popular não muda de<br />

um dia para o outro, ela advêm de um processo acumulativo que percorre gerações. Como<br />

podemos observar, a cultura refere-se a uma temática ampla e complexa, porém o foco deste<br />

trabalho é em específico na área musical.<br />

2.1 Música e cultura popular na sala de aula<br />

A cultura musical se relaciona com inúmeros aspectos da vida humana, baseado nos<br />

resultados de Queiroz quando o mesmo afirma que “a música na e como cultura representa<br />

uma forte e complexa fonte de significados, sendo parte intrínseca da experiência de cada<br />

sujeito”. (QUEIROZ, 2004, p.105/106). Por conseguinte, observamos que por meio da música<br />

é possível identificar elementos da identidade cultural da realidade em que foi desenvolvida.<br />

No que se refere ao ensino aprendizagem em sala de aula, a música vem sendo<br />

trabalhada de diferentes maneiras com diversas finalidades, uma dessas possibilidades é a de<br />

valorização da cultura popular e o respeito pela diversidade cultural. Souza enfatiza que:<br />

A cultura popular, além de apresentar elementos de riquíssimas<br />

possibilidades para o trabalho com a música na sala de aula, nos faz entender<br />

sobre diferenças culturais, nos faz sair de cada experiência, de cada<br />

brincadeira, mais felizes e principalmente mais humanizados (SOUZA,<br />

2008, p.80).<br />

Em torno de trabalhos culturais através da educação musical na educação básica,<br />

Queiroz e Marinho (2009) vem nos dizer que, “lidar com diferentes expressões culturais<br />

permite contemplar uma série de objetivos fundamentais para o ensino da música nas<br />

escolas.” (QUEIROZ; MARINHO, 2009, p. 66). Mas para que isso aconteça e necessário<br />

estarmos cientes que não basta simplesmente abordar a cultura popular, é imprescindível que<br />

se faça de forma eficaz, desenvolvendo práticas significativas, que contemplem a realidade<br />

dos alunos. Proporcionando aos envolvidos um real entendimento das atividades<br />

desenvolvidas, para assim, possibilitar a valorização e o respeito as diversidades culturais<br />

273


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

presentes nesse contexto. Seguindo esse pensamento, é possível afirmar a importância da<br />

relação cultura e educação. Assim concordamos com Kater (2004), quando mesmo diz que a<br />

união de música e educação contribui para ampliação do conhecimento e do<br />

autoconhecimento, pois se tornam ferramenta de formação.<br />

Música e educação são, como sabemos, produtos da construção humana,<br />

de cuja conjugação pode resultar uma ferramenta original de formação,<br />

capaz de promover tanto processos de conhecimento quanto de<br />

autoconhecimento. Nesse sentido, entre as funções da educação musical<br />

teríamos a de favorecer modalidades de compreensão e consciência de<br />

dimensões superiores de si e do mundo, de aspectos muitas vezes pouco<br />

acessíveis no cotidiano, estimulando uma visão mais autêntica e criativa da<br />

realidade (KATER, 2004, p.440).<br />

Deste modo, é compreensível o envolvimento da música em projetos que visam à<br />

educação, humanização e que prezam tanto pelo respeito à diversidade, quanto pela<br />

valorização da cultura popular.<br />

2.2 Extensão Universitária<br />

Nota-se que nas universidades brasileiras há uma crescente adoção da cultura popular<br />

como base na confecção de projetos de Extensão Universitária. Os mesmos visam difundir e<br />

recriar os elementos do cotidiano local, fazendo assim um diálogo entre universidade e<br />

sociedade.<br />

Conforme Corrêa (2007 p.17), “A Extensão Universitária é o processo educativo,<br />

cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a<br />

relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade”. Logo, podemos afirmar que a<br />

Extensão Universitária possibilita um novo espaço de aprendizagem. Concordamos com<br />

Santos (2010, p.13), pois além de formar profissionais as Instituições de Ensino Superior,<br />

devem promover a socialização e democratização do conhecimento, fazendo uma difusão<br />

entre universidade e sociedade. Segundo o mesmo, complementa a formação dos discentes e<br />

docentes é uma das oportunidades onde os acadêmicos colocam em prática os conhecimentos<br />

que vem adquirindo em sala de aula, ou seja, vivenciam o fazer profissional. Dessa forma é<br />

possível afirmar que a extensão não beneficia apenas a sociedade, e sim, todos os envolvidos<br />

O Projeto Tesouros do Tempo vinculado ao Pólo Arte na escola da Universidade Estadual de<br />

Montes Claros – UNIMONTES foi uma dessas formas de diálogo entre universidade e<br />

sociedade.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Esse projeto foi idealizado pela professora Raquel de Paula 3 , na execução contou com<br />

a participação das professoras Raiana Maciel e Fátima Mendes do departamento de Artes e<br />

departamento de Estágio e Práticas Escolares da Universidade Estadual de Montes Claros -<br />

Unimontes e com acadêmicos de Música e Teatro da mesma instituição juntamente com a<br />

parceria entre Secretária Municipal de Educação de Pró-Reitoria de Extensão. Vale ressaltar,<br />

que essa participação para alguns acadêmicos foi à primeira experiência no que se refere à<br />

extensão e estágio, já que o convite para se integrar no projeto se estendeu aos alunos de todos<br />

os períodos.<br />

Esse projeto foi desenvolvido em cinco escolas municipais da cidade de Montes<br />

Claros, sendo elas, Escola Municipal Jair de Oliveira, Escola Municipal Jason Caetano, Escola<br />

Municipal Professora Maria de Lourdes, Caic do Maracanã (Escola Municipal Dominguinhos<br />

Pereira) e Caic do Renascença (Escola Municipal Dominguinhos Pereira). A proposta foi<br />

transmitir através de canções, parlendas e brincadeiras a história cultural da cidade de Montes<br />

Claros no contexto escolar e assim prestar uma homenagem ao centenário de Hermes de<br />

Paula 4 . Em torno disso, Paula (2009) 5 diz: “poderemos homenageá-lo acreditando que a<br />

escola possa e deve ser um espaço de formação ampla do educando. Acreditando, podemos<br />

contribuir para o processo de humanização, através de experiências culturais significativas”.<br />

Vale destacar, que entendemos cultura popular como várias manifestações que<br />

resultam de interações entre pessoas, o que reflete nas diversidades culturais. Diante<br />

disso, torna-se perceptível a importância do trabalho com a cultura popular na escola, pois<br />

nesse contexto lidamos com a diversidade, devido à cultura que cada um carrega consigo.<br />

Visando trabalhos educativos com a cultura popular, é importante conscientizar os alunos as<br />

concepções de significados que as manifestações culturais apresentam para aqueles que estão<br />

inseridos nessa cultura. Contribuindo para o respeito e melhor convívio em grupo.<br />

3. Considerações finais<br />

Com base nas discussões apresentadas nesse estudo e através da participação no<br />

projeto Tesouros do Tempo, podemos concluir que o trabalho com a cultura popular através<br />

da música pode ser considerado importante fator para formação do indivíduo crítico, criativo<br />

e participativo. Lembrando que a educação musical é importante instrumento de socialização,<br />

3 Idealizadora e coordenadora geral do projeto “Tesouros do Tempo”.<br />

4 Médico, escritor, historiador, importante folclorista da cidade de Montes Claros.<br />

5 Citação retirada do projeto “Tesouros do Tempo”, organizado pela Professora Raquel Helena Mendonça de<br />

Paula no ano de 2009. Esse documento não foi publicado.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

e que através da música podemos vivenciar manifestações culturais, possibilitando contato<br />

com outras realidades.<br />

Sabendo que a escola é detentora de valores que auxiliam diretamente nessa formação,<br />

acreditamos ser relevante articular a cultura popular nesse contexto de ensino e aprendizagem.<br />

Assim, para desenvolver ações com essa temática, se faz necessário abrir os olhos para as<br />

muitas vertentes da diversidade cultural, presente nos distintos contextos. Portanto,<br />

percebemos que a convivência entre alunos e professores em sala de aula contribui<br />

diretamente na formação da identidade cultural dos indivíduos.<br />

Quanto ao Projeto Tesouros do Tempo, consideramos o trabalho satisfatório uma vez<br />

que, desenvolveu um trabalho grandioso em pouco tempo alcançando um grande número de<br />

pessoas. Um fator significativo foi que além de ensinar o repertório, as equipes envolvidas<br />

tiveram a preocupação em saber se as crianças sabiam o que estavam trabalhando. Para tanto<br />

à medida que o roteiro era transmitido, a história de Montes Claros era contada para as<br />

crianças, e elas também compartilhavam o conhecimento que já tinham sobre a cidade, o que<br />

reforça a idéia de que a extensão universitária é mesmo uma forma de diálogo entre a<br />

Universidade e a Sociedade uma troca de saberes. Diante disso, explica-se a adoção da<br />

temática em projetos de extensão que possibilitam a integração da teoria com prática, fazendo<br />

chegar à sociedade o resultado do conhecimento construído na universidade.<br />

276


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

CORRÊA, Edilson José. Extensão Universitária: organização e sistematização / Fórum de<br />

Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Belo Horizonte Ed.<br />

Coopemed., 2007.<br />

KATER, Carlos. O que podemos esperar da educação musical em projetos de ação social.<br />

Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 10, p. 43-51, 2004.<br />

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14ª ed. Rio de Janeiro:<br />

Jorge Zahar, 2001.<br />

LIMA, Sonia Regina Albano de. As rupturas ideológicas do processo cultural brasileiro e seus<br />

reflexos na educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, V.7, p. 21-29, 2002.<br />

QUEIROZ, Luis Ricardo Silva. Educação musical e cultura: singularidade e pluralidade<br />

cultural no ensino e aprendizagem da música. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 10, p. 99-<br />

107, 2004.<br />

QUEIROZ, Luiz Ricardo Silva; MARINHO, Vanildo Mousinho. Práticas para o ensino da<br />

música na educação básica. Música na educação básica. Porto Alegre, v.1, n.1, p.60-75,<br />

2009.<br />

SANTOS, Marcos Pereira dos. Contributos da Extensão Universitária Brasileira à formação<br />

acadêmica docente e discente no século XXI: Um debate necessário. Revista Conexão UEPG,<br />

Ponta Grossa, V.6, n1, p. 10-15, 2010 - ISSN 1808-6578. Disponível:<br />

http://www.uepg.br/revistaconexao/revista/edicao06/1.pdf. Acesso: 29 abr. 2011.<br />

SOUZA, Fernanda de. O brinquedo popular e o ensino de música na escola. Revista da<br />

ABEM, Porto Alegre, V. 19, p.75-81, mar. 2008. Disponível em:<br />

www.abemeducacaomusical.org.br/Master/reevista19/revista19_artigo8.pdf Acesso em: 10<br />

mar. 2010.<br />

WOLFFENBÜTTEL, Cristina Rolim. A Presença das Raízes Culturais na Educação Musical.<br />

Revista da ABEM, V. 5, p.31-37 setembro 2000.<br />

277


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Produção Fonográfica “A Turma da Maré”: um relato de experiência<br />

Elaine Maria da Silva<br />

Ufal<br />

nany_music18@hotmail.com<br />

Elias Pereira Laurentino Júnior<br />

Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar A Turma da Maré, projeto iniciado em<br />

2009 pelos alunos da disciplina Projetos Integradores IV do curso de Licenciatura em Música<br />

da Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Este projeto resultou em composições musicais<br />

que estão sendo utilizadas nos conteúdos de educação musical nas escolas de ensino<br />

fundamental em Maceió. A Turma da Maré é um trabalho fonográfico em CD<br />

disponibilizado, também, em um livro didático. Tem, ainda, como uma das propostas, a<br />

utilização de ritmos nacionais e internacionais integrados a elementos e/ou espécies da fauna<br />

aquática em geral.<br />

Palavras chave: Educação musical, produção musical e cultura<br />

A Turma da Maré<br />

Este relato de experiência tem por objetivo destacar o projeto de educação musical, A<br />

Turma da Maré, que surgiu em 2008 com os alunos da disciplina Projetos Integradores I na<br />

Universidade Federal de Alagoas – UFAL.<br />

A disciplina Projetos Integradores IV do curso de Licenciatura em Música da<br />

Universidade Federal de Alagoas - UFAL está presente em oito semestres, sendo incluída na<br />

grade curricular de todas as licenciaturas da UFAL. Em música, os professores da graduação<br />

têm autonomia para o planejamento do conteúdo desta disciplina de acordo com o plano<br />

político pedagógico. Com isso, em 2008 participamos do primeiro PI-1 1 ministrado pela<br />

docente especialista em educação musical que nos apresentou como proposta: a elaboração de<br />

atividades educativo-culturais, tendo como principal objetivo a construção de atividades<br />

relacionadas à educação musical, com foco nas peculiaridades de nossa geografia referenciada<br />

nos elementos e/ou espécies da fauna marítima, lagunar e fluvial. Os discentes elaboraram<br />

canções com temas relacionados a animais aquáticos e parâmetros com objetivos didáticos e<br />

adequados para cada faixa etária. Após essa construção produzimos os arranjos para cada<br />

canção.<br />

Esse trabalho integrou disciplinas como metodologia, história da música, harmonia,<br />

percepção e prática de conjunto. No segundo semestre de 2009 no PI-4 foi possível editar a<br />

1 Projetos integradores: disciplina.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

proposta do PI-1. Com isso, reelaboramos o projeto com o seguinte objetivo: a produção de<br />

um CD com 10 faixas e um livro com as informações didáticas para cada canção.<br />

Justificativa<br />

Mas como produzir se não há recursos? Sabemos que uma produção fonográfica e<br />

elaboração de livros didáticos requerem investimentos elevados. Todavia, não foi obstáculo<br />

para que os alunos elaborassem uma logística para a realização deste projeto. Um dos<br />

discentes que é arranjador e produtor musical propôs patrocinar este projeto com idealização<br />

do trabalho em estúdio próprio para gravação de cada canção como forma de minimização<br />

dos custos de produção. Das etapas do cronograma de execução: 1) revisão das composições<br />

realizadas em 2008 no PI-1; 2) elaboração dos arranjos; 3) a gravação em estúdio e; 4) a<br />

produção das atividades didáticas em um livro.<br />

O professor de música deve possuir uma capacidade que o habilite a realizar a sua<br />

tarefa com êxito e com máximo de rendimento. Essa capacidade compreende o conhecimento<br />

profundo sobre a matéria que se ensina e sua preparação pedagógica para tanto. (JOLY, 2003,<br />

p. 123). É importante que o professor compreenda que o ensino da música na escola não é só<br />

feito por materiais conjugados aos métodos ativos, é preciso que a criação seja de acordo com<br />

a necessidade do aprendizado.<br />

Em Maceió cerca de 110 escolas privadas do ensino básico, 10% exploram em seu<br />

currículo o conhecimento musical no ensino fundamental 1 e 2, já a rede pública promove<br />

projetos de música com a participação de docentes formados em licenciatura em musica. Em<br />

visita a biblioteca do setor de artes, observamos que grande a carência de material didático na<br />

área de educação musical. Após a Lei 11.769/08, constatou-se que algumas instituições de<br />

ensino têm se manifestado, por meio de seus docentes, sobre os materiais que poderiam ser<br />

trabalhados na sala de aula no ensino regular. Logo, percebemos que a intervenção desta<br />

referida lei nos permitiria a criação de trabalhos didáticos para ajudar e capacitar os trabalhos<br />

já existentes na cidade de Maceió.<br />

Objetivos<br />

Compor canções com objetivos didáticos para faixa etária infantil e uma atividade<br />

teórico musical que evidencie a estética e os objetos das canções, utilizando referências dos<br />

métodos ativos e contemporâneos na produção contextualizados dentro da realidade temática<br />

da nossa cultura.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A criação do arranjo construirá o molde do Cd com 9 faixas, todas voltadas para o<br />

conteúdo teórico musical, brincadeiras e curiosidades sobre a geografia e cultura de Alagoas.<br />

Fundamentação teórica<br />

A partir desses conteúdos sentimos a necessidade de elaborar as canções que<br />

abordassem conceitos como lúdico, criatividade e apreciação musical. Do caráter lúdico a<br />

música permite o clima infantil, mesmo possuindo conteúdos complexos, por que isso se<br />

torna uma forma de inserção da criança na familiarização com a linguagem musical utilizando<br />

aquilo que faz parte da infância, o divertimento e a brincadeira. “A arte infantil é<br />

essencialmente lúdica. Porém, não apenas como livre brincadeira ou enquanto brincadeiras, o<br />

lúdico na linguagem artística envolve o expressivo, o sensível, o estético e introduz a criança<br />

na esfera do artístico.” (CORAGEM, 2002, p. 90).<br />

O fazer musical pressupõe uma atitude ativa do pensamento humano, pois é neste<br />

momento que o indivíduo busca as soluções frente aos desafios proporcionados pela música.<br />

É uma oportunidade de adquirir novas perspectivas e fazer descobertas. Já da criatividade<br />

segundo (GAINZA, 1988 p. 107) não surge de improviso na pedagogia moderna. Quase todos<br />

os métodos da primeira época da nova pedagogia musical do século XX (Dalcrose, Orff,<br />

Kodály, Willems) preocuparam-se em estimular e desenvolver a capacidade criadora da<br />

criança. A visão de criatividade exposta na afirmação seguinte exprime este ideal:<br />

Na educação, e considerando o aspecto da transmissão de conhecimentos, o<br />

professor tem todas as respostas, e os alunos, a cabeça vazia – pronta para<br />

assimilar informações. Numa classe programada para a criação não há<br />

professores: há somente uma comunidade de aprendizes. O professor pode<br />

criar uma situação com uma pergunta ou colocar um problema; depois disso,<br />

seu papel de professor termina. Poderá continuar a participar do ato de<br />

descobertas, porém não mais como professor, não mais como a pessoa que<br />

sempre sabe a resposta (SCHAFER, 1992, p. 286).<br />

Sob outro aspecto é possível inferir que a criação é uma ferramenta de formação da<br />

identidade cultural do ser, é um instrumento de auto-reconhecimento e de comunicação. Isto<br />

pode ser corroborado nesta ótica:<br />

Criar é transformar. Perceber, sentir, mobilizar-se relacionar-se internamente<br />

e formalizar-se para se comunicar com o exterior – a criatividade permite ao<br />

indivíduo estar atualizado consigo mesmo, renovando-se e<br />

consequentemente sentindo-se presente ao se comunicar com o externo<br />

(CAMPOS, 2000, p. 80).<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Constitui-se também num trabalho de apreciação musical, já que é um trabalho<br />

embasado no contexto músico-cultural de nosso país e uma oportunidade de aproximar as<br />

crianças e professores, contribuindo para o distanciamento do pensamento da música<br />

unicamente com o caráter de entretenimento largamente oferecido pela mídia cada vez mais<br />

crescente. Essa preocupação pode ser vista na seguinte afirmação:<br />

O abandono da educação musical por parte das escolas e do governo foi<br />

acompanhado por profundas modificações na sociedade, que se abriu para o<br />

lazer e os entretenimentos ofertados pelos meios de comunicação de massa,<br />

afastando-se a população escolar, cada vez mais, da prática da música como<br />

atividade pedagógica, aderindo, em vez disso, aos hits do momento e ao<br />

consumo da música da moda, do conjunto instrumental da moda, do cantor<br />

da moda (FONTERRADA,2008 p. 13).<br />

O contato com a apreciação musical é um passo primordial para o bom<br />

desenvolvimento musical, pois na fase inicial do aprendizado ele se tornará um mecanismo de<br />

aguçar a percepção musical em todas suas nuances. Isso é defendido por Beyer e Kebach, haja<br />

vista:<br />

Metodologia<br />

A apreciação permitirá às crianças construírem esquemas mentais que<br />

possibilitem novas produções sonoras, ou seja, organizações posteriores<br />

sobre forma, timbres, ritmos intensidades e variações na dinâmica para obter<br />

determinados resultados em execuções ou criações, como terminar uma<br />

criação, etc. (BEYER; KEBACH, 2009, p. 35).<br />

A primeira etapa consistiu em revisões dos temas escolhidos pelos alunos, uns dos<br />

requisitos desta revisão foram: rima, atividade didática e arranjo. Foram produzidas dez<br />

canções com caráter educativo para o cd intitulado A Turma da Maré, são elas: o tema a<br />

turma da maré, maré, a peleja do pescador, o tubarão, a escala do polvo, a baleia e o<br />

golfinho, cavalo marinho, o caranguejo, a piranha Morgana e mororó – um peixe dançarino.<br />

Apresentaremos os objetivos de cada canção partindo da prática da aprendizagem musical do<br />

trabalho em geral.<br />

Na segunda etapa do processo, pesquisamos sobre a diferença entre canções infantis e<br />

canções para educação infantil. Após a análise das canções infantis, percebemos que na<br />

maioria dos casos possuem ênfase em ritmos acelerados e atribuindo à letra da música uma<br />

função pouco significante sob o ponto de vista pedagógico-musical. Já as canções para<br />

educação musical, o ritmo e o arranjo têm a função de acompanhamento propriamente dito e a<br />

letra, por sua vez, passa a ser o principal fator para apropriação do lúdico e o educacional.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Baseados nessas informações, os arranjos foram trabalhados para que os conteúdos fossem<br />

transmitidos a partir do caráter lúdico e apreciativo. Para Luis Maria Pescetti (apud<br />

BEINEKE, 2007, p.3), há três elementos para a produção musical infantil: (1) as letras que se<br />

referem ao mundo infantil; (2) o trabalho com elementos musicais reduzidos/essenciais e (3) a<br />

presença do jogo.<br />

A produção, terceira etapa, durou cerca de dois meses e para os arranjos utilizamos um<br />

sistema totalmente seqüenciado, onde simulamos através de um teclado arranjador, baterias,<br />

baixos e sons sintetizados para fazer o acompanhamento. Dando foco aos instrumentistas<br />

deste trabalho, utilizamos instrumentos acústicos e elétricos como violão, flauta, sax, guitarra<br />

e clarinete. E, para interdisciplinar esse conjunto, convidamos dois cantores: um interprete<br />

feminino do curso de bacharelado em canto e um interprete masculino que já era integrante do<br />

grupo. É importante salientar que a figura do produtor musical, decisivamente, influenciou na<br />

plasticidade do produto musical no momento de sua gravação, assumindo o papel de<br />

executivo nas funções administrativas para viabilização de todo o desempenho do projeto.<br />

Na quarta etapa produzimos atividades didáticas para cada canção, de acordo com<br />

todos os conteúdos sugerimos algumas atividades, sempre com o pensamento voltado para o<br />

lúdico. Foi pensado também em composições que valorizassem a rima, permitindo-se uma<br />

maior proximidade e interação da criança com este gênero literário comum em nosso país<br />

como forma de interdisciplinaridade. A preocupação inicial foi sempre fazer tudo em contato<br />

com a diversão, porém diversão aqui mencionada é concernente à ludicidade através da<br />

aprendizagem coletiva, logo, pois, estas canções poderão ser executadas com instrumentos ou<br />

com a voz. Por isso deixamos um espaço flexível às atividades para possíveis recriações de<br />

cada docente ou apreciador do nosso trabalho.<br />

Dos conteúdos teórico-musicais encontraremos figuras rítmicas como: síncope,<br />

colcheia, semínima, mínima, semibreve; propriedade sonora: sons onomatopaicos;<br />

instrumentos como guitarra, trompa, sax, clarinete, flauta transversal, flauta doce e piano;<br />

escala de Dó maior; ritmos como frevo, baião, coco de roda, country, swing, pop, rock, valsa<br />

e improvisação. Contando com esse conteúdo A Turma da Maré oferece o uso do play-back<br />

para cada atividade.<br />

Resultados do trabalho<br />

O trabalho concluiu-se com dez canções lúdicas e divertidas para o ensino/<br />

aprendizagem seguindo o objetivo da temática alagoana, vejamos:<br />

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1. A canção que inicia caracteriza o tema e chama-se A Turma da Maré, e tem por<br />

objetivo a chamada de cada canção, exemplo: quando diz: Cai na rede caranguejo que chegou<br />

a sua vez, coloca-se o nome do animal da próxima música no lugar da palavra caranguejo.<br />

Ela pode ser cantada em semicírculo, com os alunos de mãos dadas caminhando para<br />

frente na primeira frase e retornando na segunda. No verso: é um é dois é três, é quatro é<br />

cinco é seis, pode usar palmas. E na última frase, posiciona-se a turma para a próxima canção.<br />

2. A segunda faixa tem como tema A Maré, onde se utiliza uma grande brincadeira de<br />

roda cuja simulação do movimento das águas compreende alguns elementos da dinâmica<br />

musical, tais como crescendo e decrescendo. E esses elementos podem ser articulados através<br />

da voz, palmas entre outros.<br />

3. A Peleja do Pescador, nesta faixa utilizou síncopes e o grupo de quatro<br />

semicolcheias como caracterização dos ritmos nordestinos - o coco e o baião. Durante o solo<br />

de flauta, sugeri-se que sejam feitas rápidas coreografias, semelhante ao uso de objetos como<br />

a rede de pescador, simulando uma pesca.<br />

4. O Tubarão, essa canção utiliza-se de ações onomatopéicas, pois o compositor, por<br />

meio do conhecimento da espécie marinha, inseriu os sons para os diversos tipos de tubarões,<br />

como: tubarão tigre, tubarão lixa e tubarão gato. A Intenção é produzir os sons e ruídos. Nesta<br />

música há momentos de silêncio antes dos ruídos de cada tipo de tubarão, por tanto o<br />

professor pode iniciar a idéia de pausa, mostrando a importância dela numa composição.<br />

5. A Escala do Polvo, o animal citado é da ordem octopoda, que significa oito pés.<br />

Inserimos esse animal ao conteúdo de escala musical, onde a criança pode associar às oitos<br />

pernas com oitos sons numa escala musical. Com dinâmica executamos a escala ascendente e<br />

descente, pois vimos que as crianças obtêm dificuldade em entoar a escala da direção<br />

ascendente para descendente.<br />

6. A Baleia e o Golfinho é uma canção que propõe trabalhar com dois grupos de<br />

alunos ou dois alunos de cada vez, divididos entre “baleias e golfinhos”. A intenção não é<br />

fazer com que os alunos imitem o som da respiração em si, mas que criem a cada repetição<br />

um novo ruído ou timbre com a utilização da voz, o corpo ou instrumentos musicais. Há ainda<br />

a possibilidade de ser cantada com duas vozes se aproveitando dos dois grupos, uma primeira<br />

voz, mais aguda, e mais grave, no trecho em que se canta “faz a baleia” “faz o golfinho”.<br />

7. Cavalo Marinho, em estilo de ninar, esta canção utiliza figura rítmica, (mínima,<br />

semínima e colcheia), além da execução da flauta doce. É também uma música que foi<br />

pensada com o objetivo de mostrar que existem vários tipos de andamentos na música, mas<br />

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que para esta composição foi escolhido o andamento, andante, andamento nem lento nem<br />

rápido.<br />

8. O Caranguejo, com a presença do ostinato poderá ser valorizado a unidade de<br />

tempo, unidade de compasso e o movimento por fraseado que a música oferece. As crianças<br />

poderão andar na unidade de tempo e bater palma do ritmo do ostinato ou andar neste ritmo<br />

para os lados imitando o andar do caranguejo.<br />

9. A Piranha Morgana, a intenção é fazer com que o ritmo dançante do rock conduza a<br />

criança a movimentos livres, como os da piranha na busca por seu alimento, afim de que a<br />

criatividade seja o ponto máximo do fazer musical. Na parte: destemida, atrevida (...) até (...)<br />

querendo ser sua amiguinha, dá-se a ideia de um ostinato rítmico que por meio da repetição se<br />

criem movimentos de ranger de dentes, pular, bater com as mãos, com os pés etc...<br />

10. O mororó, esta música foi criada para ser cantada e dançada com um ritmo<br />

ternário conhecido como valsa. Há nesta música a possibilidade de se trabalhar o uso das<br />

terças, como percepção melódica, além de inserir um timbre de instrumento de metal, a<br />

trompa, para mostrar o uso das oitavas no trecho posterior em que se canta “solfejando<br />

assim:”. Têm basicamente três pulsações, configurando o ritmo valsa, cuja complementação<br />

se dá com um pequeno trecho de uma valsa bastante conhecida de um exímio compositor de<br />

valsas que foi John Strauss. A valsa é também um ritmo dançante, partindo disso, a sugestão é<br />

que os alunos formem-se aos pares e dancem a valsa, mas que não se limitem apenas a esta<br />

possibilidade de expressão corporal dançante. O professor poderá fazer pulsações rítmicas<br />

com palmas, pulos e solfejar a segunda parte da música tocada pelos instrumentos, permitindo<br />

a todos solfejarem juntos os mesmo trechos.<br />

O Serviço Social da Indústria – SESI promoveu um evento intitulado 24 HORAS DE<br />

CULTURA, cuja programação consistiu de apresentações infantis e a convite da instituição, A<br />

Turma da Maré testou o trabalho com 25 crianças com idade de 2 a 6 anos de escolas da rede<br />

privada da cidade de Maceió. O objetivo do projeto citado era recriar e proporcionar o lúdico<br />

às crianças através da música. Compreendendo o objetivo do projeto citado, elaboramos uma<br />

apresentação musical com tempo máximo de 40 minutos. Escolhemos quatro canções,<br />

prevendo o tempo de 10 minutos para cada uma delas, as canções foram: A Maré, A Escala do<br />

Polvo, O Tubarão e Piranha Morgana. Elaboramos nossa metodologia de apresentação da<br />

seguinte forma: 1) interpretação das canções através do play-back pelos cantores do cd A<br />

turma da Maré; 2) a repetição das frases das canções utilizando movimentos corporais para<br />

memorização da música; 3) a brincadeira e a interpretação coletiva. O objetivo foi apresentar<br />

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as canções do cd A Turma da Maré com o intuito de observar a aceitação das crianças com o<br />

ritmo e letra. Dos resultados, constamos que as crianças de 2 a 4 responderam sem inibição<br />

aos nossos objetivos. Já as crianças de 5 e 6 anos ficaram tímidas com a utilização do<br />

movimento corporal, mas com interpretação da letra o objetivo foi alcançado.<br />

Conclusão<br />

A Turma da Maré é um trabalho musical educativo com dez canções que enaltece a<br />

cultura alagoana. E, neste atual contexto de música nas escolas vale salientar o papel da<br />

universidade como viabilizadora do conhecimento necessário para ações como A Turma da<br />

Maré. Nossa experiência com este projeto foi muito relevante porque nos permitiu conhecer<br />

de perto a realidade educacional vivida em Maceió, onde constatamos que existem programas<br />

sociais promovidos pelos governos de Alagoas como o Primeiro Tempo e no município o<br />

PET (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e, que utilizam as aulas de música<br />

através dos professores já existentes na rede pública que possuem licenciatura em música e<br />

não estão no ensino regular.<br />

Verificamos que as lacunas no âmbito da educação musical ainda são latentes em<br />

Maceió, seja pela carência de professores e com uma boa formação musical acadêmica<br />

presentes nas escolas privadas, seja pela falta de um bom planejamento no tocante ao projeto<br />

político pedagógico para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem nas escolas públicas.<br />

No entanto, iniciativas como a Turma da Maré são os primeiros passos e exemplo afim de<br />

transformar essa realidade.<br />

Não pretendemos esgotar todo conteúdo musical nas atividades propostas, no entanto<br />

objetivamos mostrar que o aprender música pode ser algo prazeroso e atrativo. Fornecemos<br />

apenas mais um subsídio necessário para educação musical fortalecendo sua práxis.<br />

Nosso trabalho, a Turma da Maré, é apenas um exemplo de como podemos fazer um<br />

trabalho voltado para o ensino e aprendizado musical é necessário um conhecimento<br />

fundamentado na apreciação musical e na criação. Em se tratando de um trabalho direcionado<br />

à criança, tornar-se-á indispensável haver uma proposta baseada, também, na ludicidade.<br />

O transcorrer de toda produção do cd nos mostra um desafio para a comunidade<br />

acadêmica em geral, a necessidade das universidades terem seus próprios laboratórios de<br />

produção musical, entendemos que isso oportunizará um maior contato com as tecnologias<br />

próprias de estúdios de gravação, que na verdade está no atual contexto musical e deve fazer<br />

parte da formação acadêmico-musical. Este projeto foi contemplado pelo Edital de número<br />

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003/09 de incentivo à produção de CDs e/ou DVDs de música em Alagoas realizado pela<br />

Secretaria de Estado da Cultura – SECULT, com recursos do Fundo de Desenvolvimento de<br />

Ações Culturais – FDAC em 09 de abril de 2010.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BEINEKE, Viviane; FREITAS, Sérgio Paulo Ribeiro de. Canção infantil e educação musical:<br />

uma reflexão sobre a produção de música para crianças. ABEM - associação brasileira de<br />

educação musical, 2007. Anais... Disponível em: . Acesso em: 09 mar. 2011.<br />

CAMPOS, Moema Craveiro. A educação musical e o novo paradigma. Rio de Janeiro:<br />

Enelivros, 2000.<br />

CORAGEM, Amarílis Coelho. Desenvolvimento e aprendizagem. Belo Horizonte: Editora da<br />

UFMG; Proex – UFMG, 2002. p. 89-96.<br />

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e<br />

educação. 2.ed. São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: Funarte, 2008.<br />

GAINZA, Violeta Hemsy. Estudos de psicopedagogia musical. Tradução Beatriz A.<br />

Cannabrava. São Paulo: Summus, 1988.<br />

JOLY, Ilza Zenker Leme. Educação e educação musical: conhecimentos para compreender a<br />

criança e suas relações com a música. In: HENTSCHKE, Liane. BEM, Lucia Del. (org.)<br />

Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Pualo: Moderna, 2003.p.<br />

113-126.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Algre: Sulina, 2008.<br />

SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1992.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Aula de Música na Escola Municipal Martagão Gesteira: música e<br />

alfabetização para uma aprendizagem significativa<br />

Ana Luiza Lemos Tomich<br />

analuizatomich@gmail.com<br />

Resumo: Este artigo relata a experiência em andamento do estágio do curso de Licenciatura<br />

em Música da UFBA, que está sendo realizado na Escola Municipal Martagão Gesteira, onde<br />

o ensino de música auxilia o processo da alfabetização. A partir do diagnóstico feito da turma<br />

do 3° ano do ensino fundamental, com faixa etária de 8 a 14 anos, onde a maioria sabe copiar,<br />

mas não sabe ler e escrever, sendo considerados pela escola pré-silábicos ou silábicos,<br />

procurei caminhos onde a música e a alfabetização se convergem, com o objetivo de melhorar<br />

a qualidade da aprendizagem nesta fase tão crucial para o desenvolvimento da inteligência.<br />

Todo o processo tem por base a apreensão da cultura oral: o repertório de canções, ritmos,<br />

brincadeiras, trava-línguas, estórias, cordéis, dentre outras manifestações populares do Brasil,<br />

com o intuito de trazer para o cotidiano destes alunos o conhecimento de sua própria cultura<br />

e, a partir desta apropriação cultural, construir uma ambiência favorável para uma<br />

aprendizagem significativa que envolva a música e a alfabetização. A fundamentação teórica<br />

é de caráter transdisciplinar, conciliando idéias da área da Educação Musical e da Linguística,<br />

dentre outras que permeiam estas.<br />

Palavras-chave: Música e alfabetização, cultura oral, aprendizagem significativa<br />

Música na Escola Martagão Gesteira<br />

Ao chegar no ambiente escolar, o professor de música se depara com inúmeras<br />

dificuldades, desde a falta de recursos materiais à questão: como ensinar música na escola<br />

regular de modo significativo? Compreender o conceito de aprendizagem significativa de<br />

David Ausubel é de suma importância para a compreensão dos rumos tomados nesta<br />

experiência. De acordo com Ausubel, (1963; 1968), aprendizagem significativa é o processo<br />

através do qual um novo conhecimento se relaciona de maneira não-arbitrária e substantiva à<br />

estrutura cognitiva do aprendiz (p.1). Ou seja, para que o material potencialmente<br />

significativo interaja com as estruturas cognitivas do indivíduo, é necessário que seja<br />

especificamente relevante. Para isso, é necessário que haja um conhecimento prévio, que<br />

servirá como ponto de ancoragem; e, o que é incorporado à estrutura cognitiva é a substância<br />

do novo conhecimento, e não o “veículo” de sua expressão: as formas de signos (p.2).<br />

Respondendo a pergunta acima, cada situação terá muitas possibilidades de caminhos<br />

a percorrer, sendo que, nas palavras de Maura Penna (2010, p.28), da parte do professor cabe<br />

ter “disposição de buscar e experimentar alternativas de modo consciente; e, encarar a<br />

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música em sua diversidade e dinamismo”. A experiência relatada neste artigo trata-se de uma<br />

adequação das aulas de música de acordo com o perfil do professor e a realidade da turma.<br />

A Escola Municipal Martagão Gesteira, fica no bairro Engenho Velho de Brotas, na<br />

cidade de Salvador. O bairro tem em torno de 25.000 moradores, que são na maior parte<br />

negros. A desigualdade social é uma das marcas do bairro, pois no mesmo, encontram-se<br />

vários condomínios, onde vivem pessoas da classe média e, ao redor, existem casas<br />

construídas sem planejamento urbano, com saneamento básico precário. Quando cheguei à<br />

escola, não pude deixar de notar a falta de um espaço de lazer, portanto, os alunos não têm o<br />

horário do recreio e merendam dentro da sala. É uma escola que não tem professor de artes e<br />

nem de esportes. O diagnóstico da turma foi logo se apresentando nas primeiras aulas: alunos<br />

com dificuldade de aprendizagem; alunos que sabem copiar, mas não sabem ler e nem<br />

escrever; índice alto de violência dentro da sala de aula; muita resistência ao novo, no caso, às<br />

atividades propostas na aula de música. Senti nestes alunos uma infância sem identidade, pois,<br />

no início das aulas a maioria achava sem graça as brincadeiras e canções que eu propunha,<br />

como se fossem infantis demais para eles, mas quando se permitiam participar, tudo fluía<br />

prazerosamente. Percebi que estes alunos tinham medo de se exporem e dos outros colegas<br />

rirem (o clima entre eles é bastante conflituoso); que preferiam negar a participar de uma<br />

atividade alegando não saber fazer do que tentar; e a falta de conhecimento relacionado à<br />

própria cultura, demonstrando o domínio da cultura de massa, e também, cada vez mais a<br />

preferência pela Igreja Evangélica, discriminando a cultura afro-brasileira e os rituais do<br />

Candomblé, numa cidade onde a maior parte da população é afro-descendente. A partir de<br />

tantas complexidades, percebo que a entrada da música nas escolas deve estar mais de acordo<br />

com a realidade brasileira, podendo estar auxiliando outros aspectos de relevância social,<br />

como a melhoria do rendimento escolar, a valorização da cultura, a não violência, dentre<br />

tantos outros assuntos que devem ser conscientizados no ambiente escolar. Por isso, decidi<br />

mudar o programa que havia elaborado para o estágio, trazendo a música para este contexto<br />

escolar como um instrumento de auxílio à alfabetização. Não deixaria a música ficar em<br />

segundo plano, apenas enfatizaria os pontos de convergência entre estas. Minha decisão em<br />

fazer este trabalho também se deve a oportunidade que tive de assistir a palestra do professor<br />

de metodologia do ensino da língua portuguesa, Claudemir Belintane, onde coordena o<br />

projeto “Ensinando a leitura a partir de diagnósticos orais”.<br />

“Como se observou nas duas fases da pesquisa, a renitência do aluno diante<br />

da escrita é progressiva, tornando-se cada vez mais complexa ao longo dos<br />

anos. (...) O que fica claro é que o foco das pesquisas e das ações<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

pedagógicas deve se centrar mais nas singularidades pessoais e culturais da<br />

criança brasileira.” (BELINTANE, 2009, p.1).<br />

Para o professor Claudemir, aquele aluno que não aprendeu a ler depois de passar da<br />

1°, 2° e 3° série, quando chega na 4° está totalmente fechado à aprendizagem, cria<br />

resistências, dizendo, por exemplo, que não quer aprender a ler (p. 1). Esse é um dos possíveis<br />

motivos da evasão escolar. De acordo com os dados do INEP, Instituto Nacional de Estudos<br />

Anísio Teixeira, a cada 100 alunos que ingressam na escola na 1° série, apenas 5 concluem o<br />

ensino fundamental, sendo, 20,3% da população analfabetos funcionais, que são aqueles que<br />

freqüentaram até 4 anos de escolaridade (IBGE, 2007). E, 9,7% da população acima de 15<br />

anos são analfabetos, que corresponde a 14,1 milhões de pessoas, sendo o maior índice na<br />

região nordeste (IBGE,2010).<br />

Musicalização e Alfabetização: pontos de convergência<br />

As perguntas que nortearam este trabalho foram: Como a música pode auxiliar a<br />

alfabetização? E, como a aquisição da linguagem verbal, pode auxiliar a musicalização? E<br />

outra pergunta veio posteriormente: Qual é o ponto de convergência entre as duas áreas?<br />

Com o objetivo de visualizar tais semelhanças, trago à reflexão o termo - linguagens<br />

artísticas, que também é empregado na música. Atualmente existem discussões acerca do<br />

conceito linguagem, se é correto ou não utilizar o termo para outras áreas que não seja a da<br />

lingüística. Maura Penna (2010) abre a discussão no capítulo 4, “Contribuições para uma<br />

revisão das noções de arte como linguagem e como comunicação”, com o objetivo de tornar<br />

este conceito preciso e consistente, sem ambigüidades. Baseado em análises dos<br />

posicionamentos diametrais de Susanne Langer (1989) e Marcuschi (1995), Maura Penna<br />

conclui:<br />

Em contraposição à visão dos significados lingüísticos como fixos,<br />

permanentes e literais, articulados em sucessão no discurso, como defendido<br />

por Langer, Marcuschi concebe, portanto, a significação como resultante de<br />

um conjunto de fatores, entre eles a inserção contextual. Dessa forma, são<br />

possíveis múltiplas leituras de um mesmo texto, mas não qualquer leitura,<br />

uma vez que, entre os diversos fatores envolvidos, atua também o próprio<br />

sistema lingüístico. Em suma, embora a significação dependa dele, ela não<br />

se esgota no funcionamento do sistema lingüístico (PENNA, 2010, p. 71).<br />

Outra discussão que aproxima a música e a linguagem verbal é feita por Jonh A.<br />

Sloboda (2008), onde ele examina dois teóricos: o lingüista Chomsky e o musicólogo<br />

Schenker, no qual os dois argumentam em suas respectivas áreas que “o comportamento<br />

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humano deve ser sustentado pela capacidade de formar representações abstratas<br />

subjacentes”. Sloboba faz uma revisão destes trabalhos empíricos que demonstram que a<br />

música e a linguagem compartilham não só de elementos comportamentais como também<br />

formais (p.17). O esquema analítico que Sloboba utiliza é baseado na subdivisão da<br />

linguagem e da música nos termos da lingüística: fonologia, sintaxe e semântica. Ele também<br />

faz outras comparações mostrando as principais semelhanças entre musica e linguagem.<br />

A melhor analogia lingüística para a composição musical não é tanto a<br />

enunciação de uma sentença nova, mas a enunciação de uma não sentença<br />

(como o poema); neste caso, o enunciador leva em conta as competências<br />

lingüísticas de seu ouvinte; por isso, a não sentença (o poema) é significativa<br />

para o ouvinte (SLOBOBA, 2008, p.67).<br />

Com o objetivo de acrescentar a esta discussão, vou apresentar as comparações feitas<br />

por Sloboba, e em seguida as comparações feitas por mim:<br />

(a) Tanto a linguagem quanto a música são características da espécie<br />

humana.(...); (b) Tanto a linguagem quanto a música são capazes de gerar<br />

um número ilimitado de seqüências novas.(...); (c) As crianças parecem<br />

possuir uma habilidade natural de aprender as regras da linguagem e da<br />

música através da exposição a exemplo das mesmas.(...); (d) O meio natural<br />

de transmissão, tanto da linguagem quanto da música é auditivo vocal.(...);<br />

(e) Embora o modo auditivo-vocal seja o primário, muitas culturas<br />

desenvolveram maneiras de escrever música. (...) O analfabetismo é<br />

reconhecido como um problema social enorme em quase todas as culturas<br />

letradas, e a habilidades de ler à primeira vista atormenta um número grande<br />

de performers.(...); (f) As habilidades receptivas precedem as habilidades<br />

produtivas no desenvolvimento infantil. (...); (g) As formas adotadas pela<br />

linguagem natural e pela música natural diferem entre as culturas mas<br />

existem elementos universais que restringem essas formas. (...); (h) É<br />

comum considerar a linguagem humana como composta de três<br />

componentes: a fonologia(...), a sintaxe(...), e a semântica(...). A música<br />

parece dividir-se exatamente nos mesmos três componentes (...).<br />

(SLOBOBA. 2008, pp. 25-31).<br />

Quando comecei a pensar sobre as semelhanças entre música e linguagem verbal, a<br />

primeira coisa que veio em minha mente foi: tanto a música quanto a palavra são constituídas<br />

por som e sentido. No caso da música, temos o som com sentido subjetivo que prevalece<br />

sobre o objetivo, pois a interpretação vai estar mais de acordo com o ouvinte. Para a música<br />

ter um som com sentido objetivo, tem que haver algum som com sentido simbólico, como por<br />

exemplo, o piar dos pássaros, a sirene da polícia ou o próprio instrumento musical ou vocal<br />

imitando estes sons que são simbólicos para nós, seres humanos. Na linguagem verbal<br />

acontece exatamente o contrário, o som com sentido objetivo prevalece, representando<br />

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palavras com significado simbólico, mas quando se trata de uma poesia passa a ser subjetivo,<br />

pois o significado pode não ter tanta importância quanto o sentido do som ou da interpretação<br />

do leitor ou ouvinte. As duas utilizam a representação de signos, portanto passam a ser<br />

imagens sonoras com sentido. Temos, portanto, a capacidades de ler um texto ou uma<br />

composição musical e escutar estes sons em nossa mente, que são carregados de sentido. O<br />

resultado deste raciocínio foi bastante matemático: um está contido no outro! Então, comecei<br />

a pensar nas atividades que trabalham as duas áreas simultaneamente. No caso, o objetivo não<br />

é de fato ensinar a notação musical. Eu não poderia atravessar o carro na frente dos bois! Os<br />

alunos não tiveram a oportunidade de serem musicalizados o suficiente para estarem<br />

aprendendo a escrita musical. Mas eles estão precisando aprender a ler e a escrever a língua<br />

falada com urgência, pois estão na fase escolar em que são cobrados por isso.<br />

Música, Alfabetização e Oralidade<br />

Indispensável ouvir qualquer som. A manhã, sem pássaros, sem folhas e<br />

sem ventos, progredia num silêncio de morte. (...) Sinhá Vitória precisava<br />

falar. Se ficasse calada, seria como um pé de mandacaru, secando, morrendo.<br />

(Graciliano Ramos, Vidas Secas.)<br />

A cultura oral é aquela transmitida oralmente de geração a geração, e que abarca<br />

narrativas, brincadeiras, canções, sabedorias, manifestações populares tradicionais, e diversas<br />

informações da própria cultura. É o nosso patrimônio cultural oral. A oralidade é vista neste<br />

trabalho como alimento para as estruturas cognitivas do aprendiz, de David Ausubel (1963,<br />

1968), pois, como poderíamos ensinar música, ou, a ler e escrever se não tiver onde ancorar<br />

tais conhecimentos? Segundo Belintane (2008), o aproveitamento da oralidade constitui<br />

estratégias indispensáveis na preparação das bases da alfabetização e da leitura.<br />

Se o aluno sabe ouvir, contar e relacionar histórias (intertextualidade<br />

temática) se tem textos lúdico-poéticos na memória e aprendeu a identificar<br />

os elementos estéticos de cada gênero oral (paralelismos, aliterações,<br />

assonâncias, rimas e outras iterações), muito provavelmente sua leitura e seu<br />

manejo da escrita se tornará mais dinâmicos e significativos<br />

(BELINTANE, 2010 p.695).<br />

As atividades que foram selecionadas para serem desenvolvidas em sala de aula têm<br />

como característica e objetivo central alcançar a área de convergência entre a música e a<br />

linguagem verbal. Para isso, foi utilizado o vasto repertório já conhecido da oralidade<br />

brasileira, e atividades adaptadas por mim.<br />

292


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Tabela 1: Atividades de música e alfabetização<br />

Atividades Características Objetivos<br />

Estórias<br />

musicadas<br />

Literatura de<br />

cordel<br />

Cantigas<br />

roda<br />

de<br />

Trava-línguas<br />

Parlendas<br />

Jogos de<br />

mãos e copos<br />

Percussão<br />

brasileira<br />

Fichas<br />

Gráficos<br />

sonoros<br />

silábicos<br />

Apreciação<br />

musical<br />

com desenho<br />

Cantigas<br />

Versos<br />

Diagnóstico<br />

da memória<br />

de<br />

São narrativas acompanhadas<br />

por instrumentos musicais.<br />

São poesias cantadas,<br />

acompanhadas pela viola,<br />

que falam do cotidiano e do<br />

imaginário nordestino.<br />

São cantigas cantadas<br />

em roda, que pode haver<br />

uma brincadeira.<br />

São desafios orais em forma de<br />

versos, com o<br />

agrupamento de palavras<br />

difíceis de pronunciar.<br />

São versos com o objetivo de<br />

aprender novas palavras e a<br />

contar.<br />

Brincadeiras de mãos e de copos<br />

que trabalham o canto, o ritmo<br />

do verso e a coordenação<br />

motora.<br />

Ritmos e instrumentos que<br />

fazem parte das manifestações<br />

musicais do Brasil.<br />

São fichas que contém os nomes<br />

dos instrumentos e dos sons<br />

onomatopéicos dos ritmos e dos<br />

diversos sons ao nosso redor.<br />

São gráficos que representam as<br />

intensidades, alturas e duração<br />

com a utilização de sílabas.<br />

Escutar música e desenhar<br />

São cantigas que possibilitam a<br />

entrada de versos, criados<br />

espontaneamente.<br />

Percepção musical e<br />

Memória oral<br />

Enriquecer o repertório oral<br />

dos alunos e estimular<br />

a percepção dos diversos sons.<br />

Trabalhar a rima, o verso, e discutir<br />

sobre o tema do cordel.<br />

Trabalhar o canto, o ritmo e a<br />

coordenação motora de forma<br />

lúdica, além de enriquecer o<br />

repertório oral do aluno.<br />

Trabalhar o desenvolvimento da fala<br />

e a sonoridade das palavras<br />

Trabalhar o ritmo do verso e<br />

enriquecer o repertório oral<br />

Trabalhar a coordenação motora,o<br />

ritmo dos versos, o canto, e<br />

enriquecer o repertório oral.<br />

Conhecer as diversas manifestações<br />

e seu contexto histórico; tocar os<br />

instrumentos; aprender as células<br />

rítmicas através das palavras (ex:<br />

tum tum ta).<br />

Reconhecer os nomes dos<br />

instrumentos e os sons<br />

onomatopéicos de cada ritmo e<br />

outros sons.<br />

Desenvolver a leitura dos gráficos<br />

sonoros utilizando diversas sílabas.<br />

Trabalhar a leitura musical e a<br />

formal simultaneamente.<br />

Desenvolver a habilidade de<br />

expressar a apreciação musical por<br />

meio do desenho(o desenho é a préescrita).<br />

Desenvolver a composição<br />

espontânea de versos; trabalhar o<br />

canto.<br />

Reconhecer a música através da<br />

melodia; lembrar as canções<br />

trabalhadas nas aulas anteriores; e<br />

compartilhar seu repertório oral.<br />

293


Conclusão<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Já consigo perceber mudanças positivas no que se refere à receptividade dos alunos, ao<br />

interesse e ao desenvolvimento da aprendizagem, tanto musical quanto na aquisição da leitura<br />

e escrita verbal. A professora Nilzete, que acompanha esta turma desde o 1° ano, afirmou que<br />

está tendo resultados positivos, e fazia questão de anotar as atividades que aconteciam nas<br />

aulas de música para poder dar continuidade em suas aulas. Pude notar tais mudanças, a partir<br />

das atividades: de apreciação e desenho, que foram se tornando mais criativos e coloridos; de<br />

memória, pois, sempre eles lembravam quais músicas cantamos na aula anterior, e alguns<br />

deles compartilhavam do seu repertório oral; na atividade de fichas, onde ocorre a associação<br />

das palavras onomatopéicas ao objeto sonoro e dos sons onomatopéicos às palavras; e, na<br />

realização de gráficos musicais. Espero alcançar mais resultados positivos. Para isso, sei que<br />

ainda tenho disponibilidade, criatividade e consciência para planejar aulas interessantes e<br />

cheias de significâncias.<br />

294


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BELINTANE, Claudemir. A oralidade que faz escrever. Revista Educação, Jun de 2009.<br />

Disponível em: . Acesso em:<br />

27 de mai. de 2011.<br />

______. Leitura e alfabetização no Brasil: Uma busca para além de polarização. Mai/Ago de<br />

2006. Disponível em: . Acesso em: 27 de<br />

mai. de 2011.<br />

______. Oralidade, alfabetização e leitura: enfrentando diferenças e complexidades na escola<br />

pública. Set/ dez de 2010. Disponível em: .Acesso em: 27 de mai. de 2011.<br />

BIANCARDI, Emília. Raízes musicais da Bahia. Salvador: Omar G, 2000.<br />

Moreira, M.A. Aprendizagem significativa: Um conceito subjacente. 1997. Disponível em:<br />

. Acesso em: 3 de junho de 2011.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2010.<br />

SARAIVA, Alessandra. IBGE: Brasil ainda tem 14,1 milhões de analfabetos.<br />

ESTADÃO.COM.BR, 08 de set. de 2010. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 27 mai. de 2011.<br />

SLOBODA, Jonh A. A mente musical: Psicologia Cognitiva da Música. Tradução de Beatriz<br />

Ilari e Rodolfo Ilari. Londrina: EDUEL, 2008.<br />

295


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

As Culturas Musicais em Turmas Multietárias na Educação Infantil<br />

Kelly Werle 1<br />

kelly_werle@hotmail.com<br />

Cláudia Ribeiro Bellochio 2<br />

claubell@terra.com.br<br />

Resumo: O presente trabalho faz parte de um projeto de pesquisa vinculado ao Programa de<br />

Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria (PPGE/UFSM) e ao<br />

grupo Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical (FAPEM). Tem por objetivo<br />

investigar como o professor percebe o protagonismo infantil e a produção de culturas<br />

musicais no cotidiano de uma turma multietária de educação infantil. Os pressupostos<br />

teóricos, que orientam a pesquisa, se sustentam basicamente nos estudos de Vygotsky (1984),<br />

de Prado (2006), os quais abordam a construção de conhecimentos a partir da interação social<br />

entre crianças de diferentes idades; e Lino (2008) no que diz respeito às culturas musicais da<br />

infância. Como abordagem metodológica, optou-se pela pesquisa participante, a qual será<br />

realizada através de observações, entrevistas e registros no diário de campo. A pesquisa está<br />

em fase inicial de construção e de revisão de literatura.<br />

Palavras chave: Culturas musicais; educação infantil; agrupamento multietário<br />

Agrupamentos multietários na educação infantil<br />

A interação social e a produção de culturas infantis, através das relações estabelecidas<br />

entre crianças maiores e menores, têm sido um tema tratado em pesquisas no campo da<br />

Educação Infantil, a exemplo de Prado (2005). A autora em questão aponta como<br />

possibilidade a riqueza das interrelações das crianças, buscando superar concepções<br />

tradicionais psicogenéticas que estabelecem fases do desenvolvimento, tendo como critério<br />

fixo a idade cronológica da criança. Prado entende que as teorias desenvolvimentistas criam<br />

falsas categorias acerca do desenvolvimento infantil, ao fixar idades e períodos cronológicos<br />

para a superação de determinadas etapas. A crítica que se faz é que, a partir dessa concepção,<br />

crianças maiores não poderiam brincar com crianças menores e vice-versa, porque não se<br />

entenderiam, já que estão em fases diferenciadas de desenvolvimento. Essa acepção é<br />

superada...<br />

[...] dado que a idade não corresponde a uma variável natural e que a<br />

variabilidade de desenvolvimento biológico, psicológico e social nem<br />

sempre permite estabelecer uma correspondência coerente entre tamanho,<br />

1 Doutoranda em Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE, Universidade Federal de Santa<br />

Maria/UFSM.<br />

2 Profª Drª adjunta do Departamento de Metodologias de Ensino/MEN, Universidade Federal de Santa<br />

Maria/UFSM.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

idade e competências, o fato de se ser mais frágil do ponto de vista físico não<br />

significa, necessariamente, ser mais novo, nem implica, do ponto de vista<br />

das interações, uma menor competência cognitiva ou social (FERREIRA,<br />

2004 apud PRADO, 2005, p. 6<strong>85</strong>).<br />

Nesse contexto, emergem pesquisas que tratam de uma nova concepção de infância, a<br />

qual transcende os limites etários e compreende as crianças como produtoras de cultura,<br />

reinventoras da realidade.<br />

O fato de nem sempre encontrarmos uma correspondência coerente entre<br />

tamanho, idade e competências entre as crianças pequenas (não só das<br />

crianças) coloca, pois, em questão, a própria noção de infância e de educação<br />

infantil. Se as crianças nos surpreendem, propondo o inusitado, o imprevisto<br />

num espaço previsto, planejado e organizado, então, não detemos o controle<br />

sobre seus pensamentos e atitudes como ousamos supor (PRADO, 2005, p.<br />

3).<br />

Os resultados da pesquisa de doutoramento de Prado (2006), através da análise de uma<br />

variedade de materiais coletados junto às crianças (desenhos, histórias, canções, etc) apontam<br />

para a impossibilidade de precisar as idades em um coletivo de crianças maiores e menores.<br />

“Nas diversas produções das crianças foi possível observar a diversidade de formas, estilos,<br />

cores, figurações e elementos presentes, sem que fosse possível identificar as idades das<br />

crianças. O que isso significa?” (PRADO, 2005, p. 3).<br />

Em consonância com esse entendimento sobre as diversas possibilidades de<br />

construção e expressão infantil - não limitadas à categoria etária, recorre-se às teorias sóciointeracionistas<br />

(VYGOTSKY, 1984) para sustentar a relevância da interação entre crianças<br />

maiores e menores no que diz respeito à construção do conhecimento. As trocas realizadas<br />

entre crianças com diferentes idades permitem que a aprendizagem possa ocorrer na zona de<br />

desenvolvimento proximal (ZDP), que é a distância entre o nível de desenvolvimento real<br />

(que se constitui em função daquilo que a criança já pode fazer sem auxílio) e o nível de<br />

desenvolvimento potencial (que se entende como sendo aquilo que a criança poderá fazer sob<br />

orientação de um adulto ou com o auxílio de outro par). A ZDP compõe um conjunto de<br />

informações que a criança tem a potencialidade de aprender, mas ainda não completou o<br />

processo, isto é, conhecimentos fora de seu alcance atual, mas potencialmente atingíveis<br />

(VYGOTSKY, 1984).<br />

297


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Culturas musicais infantis<br />

Compreender as crianças pequenas, como produtoras de culturas infantis, implica em<br />

considerar seu protagonismo diante da construção do conhecimento. Diferentemente do que<br />

durante muito tempo se acreditava, as crianças não são receptores passivos da realidade; elas<br />

são sujeitos ativos que interagem, descobrem e recriam possibilidades, buscando representar e<br />

compreender situações cotidianas da vida, construindo variadas hipóteses, até chegar à<br />

sistematização de conhecimentos mais elaborados. “As manifestações infantis são<br />

provenientes de uma cultura própria das crianças. Suas expressões, nas variadas linguagens<br />

decorrem da relação com a cultura que as cerca, ou seja, dos bens culturais que a sociedade<br />

disponibiliza para elas” (COUTINHO, 2005 p. 8).<br />

Na medida em que as crianças brincam, (re)criando espaços e (re)inventando a<br />

realidade, elas reelaboram os conhecimentos construídos socialmente, produzindo, assim,<br />

culturas infantis, que são representativas de vivências culturais mais amplas. Portanto, “as<br />

culturas infantis não nascem no universo simbólico exclusivo da infância, esse universo não é<br />

fechado – pelo contrário, é, mais do que qualquer outro, extremamente permeável – nem lhes<br />

é alheio à reflexibilidade global” (PINTO; SARMENTO, 1997 apud COUTINHO, 2005, p.8).<br />

Deste modo, assim como há diferentes infâncias, coexistem também diferentes<br />

culturas infantis, as quais são influenciadas por questões de gênero, etnia, contexto social,<br />

crenças religiosas, etc. “[...] A criança não é só produto, mas também criadora de cultura, [...]<br />

possui desejos, sonhos, paixões. Que se expressa fundindo sentimento e linguagens, ações e<br />

reações, fantasia e realidade” (COUTINHO, 2005, p.12).<br />

No que diz respeito às culturas musicais infantis, elas constituem um tema que ainda<br />

carece investigação no campo da educação musical. Posterior ao contexto de aprovação da<br />

Lei 11.769/08, a qual estabelece a obrigatoriedade da Música como conteúdo do componente<br />

curricular Arte, muitas pesquisas têm se destinado a problematizar o ensino de música na<br />

escola, tanto na perspectiva de professores especialistas em Música (HENTSCHKE;<br />

AZEVEDO; ARAÚJO, 2006; PENNA, 2007), quanto na de professores unidocentes<br />

(BELLOCHIO, 2000; FIGUEIREDO, 2004; SPANAVELLO, 2005; CORREA, 2008;<br />

WERLE, 2010). Embora essas pesquisas sejam relevantes para a constituição do campo da<br />

educação musical na escola, se faz necessário, também, investigar a música a partir da ótica<br />

das crianças, buscando conhecer suas culturas, preferências e vivências musicais.<br />

Lino (2008) pesquisou a música da infância na escola através do cotidiano de um<br />

grupo de crianças da educação infantil. Em sua tese, ele afirma que<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

[...] Ainda conhecemos muito pouco a respeito da música das crianças, seus<br />

valores, crenças e compreensões sonoras do mundo. A pesquisa em<br />

educação musical ainda tem dedicado todo um corpo teórico a pensar como<br />

tornar as crianças mais afinadas, mais adaptadas à destreza instrumental,<br />

mais sujeitas à intervenção e conduta aos esquemas de aprendizagem e<br />

desenvolvimento instrumental (LINO, 2008, p. 32).<br />

A autora caracteriza a música das crianças como barulhar, que corresponde a uma<br />

dimensão ficcional em que a música não opera somente com sons; mas também, com a<br />

escuta. “Todas as crianças produziram insistentemente barulhadas, vivendo o descontínuo<br />

como presença na natureza sonora ao expor uma miríade de explorações com a música como<br />

experimentação, jogos de escuta ou narrativas sonoras” (LINO, 2008, p. 8).<br />

Percebe-se que, para as crianças, a música está vinculada ao brincar. Isso demonstra o<br />

caráter lúdico da música na infância. As crianças não brincam porque gostam de criar e<br />

imaginar. Brincam porque, através do brincar, tem a possibilidade de representar e<br />

compreender a realidade. Brincando, as crianças produzem culturas. Segundo Pinto e<br />

Sarmento (1997, apud COUTINHO, 2005, p. 10) “o que caracteriza a cultura das crianças é a<br />

relação sempre presente entre fantasia e realidade, entre o possível e o impossível, entre o<br />

presente e o imaginário. Para as crianças, a realidade é fantasiosa”.<br />

As culturas musicais da infância estão interrelacionadas a um contexto sociocultural<br />

que influencia as vivências e os gostos musicais das crianças. A música é trazida para o<br />

cotidiano da educação infantil, independente da vontade ou das intervenções dos professores,<br />

por meio das manifestações das crianças, que muitas vezes, estão imersas na cultura midiática<br />

e contexto sociocultural. Contudo, ressalta-se que<br />

A música da infância não é apenas a folclórica, a disciplinar, a erudita, a<br />

mpb, a cantiga de roda, a gaúcha, a pequeninha, a com mensagem e texto<br />

reduzido, etc. A música é essa e aquela simultânea e heterofonicamente,<br />

porque, como um substantivo plural, ela acolhe e se nutre de vários<br />

repertórios que lhe conferem um identidade multicultural (GARBIN, 2001) e<br />

servem a diversão e a alegria, expondo a necessidade de experimentar<br />

sentidos. Música que movimenta o ator plural nas redes complexas e<br />

múltiplas de significações, crenças e hábitos das culturas infantis dados na<br />

socialização possível nos tempo de ser a música da infância, essa ação<br />

inabordável e encantadora de conjugar diversidade, multiplicidade e escutas<br />

num só corpo de sonoridades (LINO, 2008, p. 31).<br />

Nesse contexto, esta pesquisa está organizada com vistas a problematizar, junto a<br />

educadores infantis, um olhar para as culturas da infância que estão sendo produzidas no<br />

cotidiano de determinada instituição de educação infantil. “Escutar sensivelmente a música<br />

nas culturas da infância requer que contemplemos o ponto de escuta das crianças em seu<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

encontro com o mundo, buscando uma aproximação com a complexidade desse encontro”<br />

(LINO, 2008, p. 35).<br />

Considera-se relevante que os professores possam aguçar seu olhar para as culturas<br />

construídas na coletividade das relações estabelecidas entre crianças de diferentes faixas<br />

etárias. Assim, com o decorrer da pesquisa, objetiva-se investigar como o professor percebe o<br />

protagonismo infantil e a produção de culturas musicais no cotidiano de uma turma<br />

multietária na educação infantil.<br />

Delineamentos metodológicos<br />

A pesquisa está em fase inicial de elaboração e revisão de literatura. Pretende-se<br />

adotar uma abordagem participante com a finalidade de possibilitar a discussão e reflexão<br />

junto a professores que atuam na educação infantil no Núcleo de Educação Infantil Ipê<br />

Amarelo (NEIIA), locus da pesquisa.<br />

O Ipê Amarelo está vinculado à UFSM e vem desenvolvendo suas atividades junto a<br />

grupos de crianças, construindo sua trajetória há 22 anos, demonstrando e demarcando<br />

possibilidades de construções e de descobertas na educação infantil. Dentre o trabalho que<br />

vem sendo realizado, destaca-se a proposição de turmas de crianças a partir do critério de<br />

agrupamento multietário; ou seja, crianças de 01 a 05 anos convivendo no mesmo espaço,<br />

interagindo, construindo e produzindo culturas infantis, constituindo, assim, uma turma<br />

composta na/pela diversidade.<br />

Há três anos, foi criada a primeira turma composta por crianças de 1 a 5 anos, a qual se<br />

denominou de “Integração”. A partir das constatações, observação atenta e avaliação das<br />

conquistas obtidas, no corrente ano, foram criadas mais três turmas “Integração” (nos turnos<br />

manhã e tarde). As turmas “Integração” têm se constituído um verdadeiro desafio aos<br />

professores e aos pais, que necessitam ressignificar a importância atribuída em demasia às<br />

idades, no que se refere ao desenvolvimento infantil, buscando considerar que crianças<br />

maiores e menores aprendem umas com as outras, independente de faixa etária, mediadas<br />

pelas problematizações e pelas intervenções do professor.<br />

Dessa forma, o Ipê Amarelo constitui-se locus de realização desta pesquisa em função<br />

da proposição de turmas multietárias. Como instrumentos metodológicos, têm-se observações<br />

participantes nas turmas, entrevistas semi-estruturadas com as professoras, registros no diário<br />

de campo e filmagens.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Estão sendo realizadas inserções e observações participantes no contexto das turmas<br />

de Integração do NEIIA, como parte de uma pesquisa de campo com a finalidade de perceber<br />

as múltiplas relações e construções das crianças, tendo por base o protagonismo infantil e as<br />

mediações realizadas pelos professores.<br />

Pretende-se realizar observações e gravações, buscando verificar as interações das<br />

crianças em diferentes momentos do cotidiano, suas construções e produções de culturas<br />

musicais. Essas gravações serão usadas posteriormente para discutir e problematizar os<br />

recortes de cenas do cotidiano junto às professoras, a fim de analisarmos como elas percebem<br />

o protagonismo infantil e a produção de culturas musicais no contexto do agrupamento<br />

multietário.<br />

Algumas considerações iniciais<br />

A partir das inserções da pesquisa de campo que estão sendo realizadas junto às<br />

turmas multietárias do NEIIA, foi possível observar as interações e construções das crianças<br />

em momentos de atividades dirigidas e mediadas pelas professoras, bem como momentos de<br />

atividades livres, em que as crianças organizavam suas brincadeiras. Percebe-se que o<br />

trabalho pedagógico realizado tem foco nas crianças, de modo que são suas curiosidades e<br />

questionamentos, os quais ao serem problematizados pelas professoras, que constituem o(s)<br />

tema(s) do projeto da turma (BARBOSA; HORN, 2008). Desta forma, torna-se visível o<br />

protagonismo da criança diante da elaboração e dos encaminhamentos da proposta de<br />

trabalho.<br />

Nos momentos de atividades mais livres, os quais também são entendidos como<br />

relevantes para o desenvolvimento infantil, é possível observar a forma como as crianças se<br />

organizam para brincar, as questões de poder e de liderança, a representação dos papéis<br />

sociais e das regras acordadas. São comuns brincadeiras que envolvam um grupo de meninos<br />

e meninas, o qual representa uma organização familiar, e eles desempenham a função de<br />

mamãe, papai, irmão(ã) mais velho(a) ou mais novo(a), tio(a), primo(a), etc.<br />

Nesse jogo simbólico de representar as relações estabelecidas no cotidiano de uma<br />

família, as crianças constroem e expressam variadas relações que envolvem gênero, classe,<br />

etnia, poder, etc. Neste contexto, manifestações musicais também adentram e fazem parte do<br />

brincar. Como, por exemplo, certa menina que desempenhava papel de mãe cantora e<br />

realizava um show para os seus filhos e amigos. Todos resolvem fazer parte do show, subindo<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

numa parte mais elevada do terreno, imaginando estar segurando microfones ou instrumentos<br />

musicais enquanto cantavam “fada, fada querida, dona da minha vida”.<br />

Constata-se, portanto, que as crianças pequenas da educação infantil produzem<br />

culturas musicais; todavia, há que se problematizar e questionar, junto a esses professores da<br />

infância, o modo como percebem essas culturas no cotidiano de seu fazer pedagógico – foco a<br />

que se destina a presente pesquisa.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Referências<br />

BARBOSA, Maria Carmen Silveira; HORN, Maria da Graça Souza. Projetos pedagógicos na<br />

educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.<br />

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. A educação musical nas séries iniciais do ensino<br />

fundamental: olhando e construindo junto às práticas cotidianas do professor. Tese<br />

(Doutorado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de<br />

Educação, Porto Alegre, 2000.<br />

CORREA, Aruna Noal. Programa LEM: Tocar e Cantar: Um estudo acerca de sua inserção<br />

no processo músico-formativo de unidocentes da Pedagogia/UFSM. Dissertação (Mestrado<br />

em Educação), Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Educação, Santa Maria, 2008.<br />

COUTINHO, Ângela Maria Scalabrin. Culturas infantis: conceitos e significados no campo<br />

da pesquisa e no cotidiano da educação infantil. Zero-a-seis. Florianópolis, n. 12, jul./dez.<br />

2005. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10<br />

jun. 2011.<br />

FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. A preparação musical de professores generalistas no<br />

Brasil. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 11, p. 55-62, 2004.<br />

HENTSCHKE, Liane; AZEVEDO, Maria Cristina de Carvalho C. de; ARAÚJO, Rosane<br />

Cardoso de. Os saberes docentes na formação do professor: perspectivas teóricas para a<br />

educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 15, p. 49-58, 2006.<br />

LINO, Dulcimarta Lemos. Barulhar: a escuta sensível da música nas culturas da infância.<br />

Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de<br />

Educação, Porto Alegre, 2008.<br />

PENNA, Maura. Não basta tocar? Discutindo a formação do educador musical. Revista da<br />

ABEM, Porto Alegre, v. 16, p. 49-56, 2007.<br />

PRADO, Patrícia Dias. Contrariando a idade: condição infantil e relações etárias entre<br />

crianças pequenas da educação infantil. Tese (Doutorado em Educação), Universidade<br />

Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 2006.<br />

______. “A gente gosta é de brincar com os outros meninos!” Relações sociais entre crianças<br />

num jardim de infância. Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 683-688,<br />

Maio/Ago. 2005. Disponível em: . Acesso em: 13 maio 2011.<br />

SPANAVELLO, Caroline da Silveira. A educação musical nas práticas educativas de<br />

professores unidocentes: um estudo com egressos da UFSM. Dissertação (Mestrado em<br />

Educação), Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Educação, Santa Maria, 2005.<br />

VYGOTSKY, Lev Semenovitch. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,<br />

1984.<br />

303


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

WERLE, Kelly. A música no estágio supervisionado da Pedagogia: uma pesquisa com<br />

estagiárias da UFSM. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal de Santa<br />

Maria, Centro de Educação, Santa Maria, 2010.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Sonorizando Histórias e Discutindo a Formação e as Práticas Musicais de<br />

Pedagogas na Educação Infantil<br />

Kelly Werle 1<br />

kelly_werle@hotmail.com<br />

Cláudia Ribeiro Bellochio 2<br />

claubell@terra.com.br<br />

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discutir a formação e atuação pedagógicomusical<br />

de pedagogas na educação infantil, apontando para a sonorização de histórias como<br />

uma possibilidade metodológica para o trabalho com a educação musical. O relato decorre de<br />

uma pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal<br />

de Santa Maria (PPGE/UFSM) e ao grupo Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical<br />

(FAPEM) que objetivou investigar como as estagiárias concebem, organizam e potencializam<br />

a música no processo de construção da docência, através de um grupo composto por quatro<br />

estagiárias e mestranda (ou pesquisadora). A partir dos resultados obtidos se identificou as<br />

histórias sonorizadas como práticas recorrentes adotadas pelas estagiárias no trabalho com a<br />

educação musical, foco metodológico que será abordado no decorrer deste texto.<br />

Palavras chave: Educação musical, educação infantil, sonorização de história<br />

Introdução<br />

O presente texto decorre de uma pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao<br />

Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria e ao<br />

grupo Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical (FAPEM). A pesquisa buscou<br />

investigar como estagiárias do curso de Pedagogia/UFSM concebem, organizam e<br />

potencializam a música durante a realização do estágio supervisionado na educação infantil 3 .<br />

Como abordagem metodológica utilizou-se a pesquisa participante, a qual foi realizada por<br />

intermédio de um grupo composto por quatro estagiárias da Pedagogia e a mestranda. Como<br />

instrumentos metodológicos foram utilizados: entrevistas semi-estruturadas, observações,<br />

caderno de registros dos encontros do grupo e das observações e caderno de registro das<br />

participantes.<br />

Este texto constitui um recorte de parte dos resultados da pesquisa e focaliza a<br />

sonorização de histórias, prática recorrente adotada pelas estagiárias no trabalho com a<br />

1 Doutoranda em Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação/PPGE, Universidade Federal de Santa<br />

Maria/UFSM.<br />

2 Profª Drª adjunta do Departamento de Metodologias de Ensino/MEN, Universidade Federal de Santa<br />

Maria/UFSM.<br />

3 Na ocasião deste texto está sendo enfocada a educação infantil, mas a pesquisa também abarcou os anos iniciais<br />

do ensino fundamental.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

educação musical durante o estágio supervisionado na educação infantil. Pretende-se discutir,<br />

ao longo do texto, acerca da educação musical na formação acadêmico-profissional 4 do curso<br />

de Pedagogia apontando para a sonorização de histórias como uma das possibilidades para o<br />

trabalho com a educação musical, através de um relato, registrado no caderno de uma das<br />

participantes da pesquisa, envolvendo uma atividade vivenciada com uma turma de crianças<br />

da educação infantil.<br />

A Formação Musical e Pedagógico-Musical no Curso de Pedagogia<br />

A música está presente em nossa vida e permeia nossas relações e construções com o<br />

mundo, desde muito cedo. Basta exercitarmos um pouco nossa memória para percebermos<br />

que crescemos e nos constituímos humanos envoltos por um ambiente sonoro e musical<br />

característico de nosso cotidiano e contexto social e cultural, repleto de sentidos e significados<br />

que nos são únicos e também se mesclam com experiências musicais de outros sujeitos.<br />

Somos seres musicais e temos a capacidade de responder sonoramente e musicalmente<br />

à cultura em que estamos inseridos. Algumas pessoas afirmam “não ter dom para música”,<br />

sem ter a consciência, contudo, que o fazer musical, não é algo concedido naturalmente sem<br />

influência do meio ou esforço próprio. Portanto, a música não é um dom concedido a uns e<br />

negado a outros, o que ocorre é que, no decorrer de nossas trajetórias de vida possuímos<br />

maiores ou menores oportunidades de estarmos nos desenvolvendo musicalmente.<br />

Assim, não existe uma pessoa amusical, pois “a musicalidade é uma característica da<br />

espécie humana e [...] todos os seres humanos estão aptos a se desenvolverem musicalmente”<br />

(FIGUEIREDO; SCHMIDT, 2008).<br />

Essa concepção acerca da música também pode ser levada para a discussão quando<br />

pensamos na professora 5 que atua com a educação infantil e anos iniciais. Pois, refletir sobre<br />

o trabalho com a educação musical na escola, implica em considerar essas múltiplas relações<br />

e construções acerca da música que perpassam pela trajetória pessoal e profissional.<br />

Neste contexto, é importante que na formação acadêmico-profissional as futuras<br />

professoras possam ter a oportunidade de ampliarem seus conhecimentos musicais e<br />

pedagógico-musicais. Para que, a partir de suas experiências, em consonância com novas<br />

4 Tomo por formação acadêmico-profissional o conceito adotado por Diniz-Pereira (2008), o qual opta por esse<br />

termo em detrimento da formação inicial porque acredita que a formação inicia-se muito antes da entrada em um<br />

curso superior. Assim, o autor defende a utilização do termo formação acadêmico-profissional para a etapa da<br />

formação que acontece no interior das instituições de ensino superior.<br />

5 Utilizo o gênero feminino devido à expressividade de mulheres atuando como professoras nesses níveis de<br />

ensino.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

vivências possam desenvolver conhecimentos, que as possibilitem trabalhar com a educação<br />

musical na docência.<br />

É relevante lembrar que, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais para o<br />

curso de Pedagogia, o egresso deve estar apto a “ensinar Língua Portuguesa, Matemática,<br />

Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às<br />

diferentes fases do desenvolvimento humano” (BRASIL, 2006).<br />

Recentemente, as diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental de nove<br />

anos orientam em seu artigo 31, que “do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os<br />

componentes curriculares Educação Física e Arte poderão estar a cargo do professor de<br />

referência da turma, aquele com o qual os alunos permanecem a maior parte do período<br />

escolar, ou de professores licenciados nos respectivos componentes” (BRASIL, 2010). No<br />

parágrafo 2º deste artigo orienta-se que “nos casos em que esses componentes curriculares<br />

sejam desenvolvidos por professores com licenciatura específica (conforme Parecer<br />

CNE/CEB n 2/2008), deve ser assegurada a integração com os demais componentes<br />

trabalhados pelo professor de referência da turma”.<br />

Considerando que mediante a homologação da Lei 11.769/2008 fica determinada a<br />

obrigatoriedade da Música como conteúdo do componente curricular Arte, o egresso em<br />

Pedagogia também necessita ter conhecimentos acerca da música para poder desenvolvê-la e<br />

integrá-la ao seu contexto de docência, o que implica em formação neste campo do saber.<br />

Certamente que essa formação musical e pedagógico-musical na Pedagogia não substitui a<br />

necessidade de um professor especialista em música atuando nas escolas, trabalho que poderá<br />

ser construído conjuntamente nesses níveis de ensino. Mas, salienta-se a importância da<br />

professora da infância desenvolver um trabalho musical com desempenho mais qualificado,<br />

maior clareza e criticidade junto aos alunos.<br />

A Universidade Federal de Santa Maria tem uma trajetória formativa em educação<br />

musical no curso de Pedagogia há 25 anos. Desde 1984, o curso de Pedagogia possui<br />

disciplinas obrigatórias de educação musical, as quais foram reconfiguradas e mantidas após<br />

as reformulações e adaptações curriculares ocorridas em 2004 e 2006. A formação<br />

proporcionada pelas disciplinas vem sendo ampliada e complementada pelas oficinas<br />

musicais ofertadas pelo “Programa LEM: Tocar e Cantar” 6<br />

desde 2003. Esse espaço<br />

formativo da educação musical na Pedagogia tem propiciado um ambiente fértil para a<br />

6 Projeto de extensão coordenado pela Profª Drª Cláudia Ribeiro Bellochio e pela Profª Drª Luciane Wilke<br />

Freitas Garbosa, o qual oferta gratuitamente oficinas musicais, ministradas por licenciandos em Música, para<br />

acadêmicos do curso de Pedagogia e outras graduações, bem como comunidade em geral.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

produção de pesquisas tendo como lócus a formação musical do curso de Pedagogia da<br />

UFSM, como Bellochio (2000), Spanavello (2005), Correa (2008), Furquim (2009) e<br />

Oesterreich (2010); Werle (2010).<br />

Embora, o trabalho com a educação musical possa representar um grande desafio para<br />

as professoras de educação infantil, já que na maioria das vezes tiveram poucas vivências<br />

musicais formais em sua trajetória de vida, acredita-se que através de um processo<br />

longitudinal de vivências musicais e acompanhamento das práticas, seja possível que as<br />

pedagogas possam potencializar a educação musical junto aos alunos.<br />

A seguir são apresentados partes dos registros de uma história sonorizada a qual foi<br />

criada por uma estagiária participante da pesquisa e desenvolvida em uma turma de educação<br />

infantil, com crianças de 3 anos de idade.<br />

“Vamos Passear na Floresta?”: sonorizando histórias<br />

Parte I<br />

Olhos curiosos e atentos à organização da sala que estava diferente. Em um<br />

canto da sala, um tapete grande com alguns objetos sonoros, no outro uma<br />

caverna construída com panos e cadeiras, e interligando os dois, um amplo<br />

espaço livre sem qualquer objeto. Cortinas abertas... luzes apagadas... um<br />

estranho mistério no ar. A professora, então, convida como quem se propõe a<br />

iniciar uma aventura: - Vamos passear na floresta? Eis que no segundo<br />

seguinte a sala se transforma por completo! Tudo foi tomado por árvores e<br />

plantas que cresciam, não se sabe de onde, tornando o ambiente inusitado e<br />

desconhecido. A possibilidade de haverem animais e feras na floresta<br />

aumentava a cada instante. Ouvidos muito atentos à jornada que estava para<br />

começar (Caderno de registro, estagiária Dora, set. 2009).<br />

Como já sabido, as histórias são muito importantes para o desenvolvimento e<br />

construção do pensamento simbólico das crianças. Segundo Brito (2003, p. 161)<br />

Ouvindo e, depois, criando histórias, elas estimulam sua capacidade<br />

inventiva, desenvolvem o contato e a vivência com a linguagem oral e<br />

ampliam recursos que incluem o vocabulário, as entonações expressivas, as<br />

articulações, enfim, a musicalidade da própria fala.<br />

Neste sentido, as histórias podem se tornar metodologia para o trabalho com a música,<br />

a partir do momento que se busca torná-las mais expressivas e sonoras. A forma como se<br />

narra uma história, variando a entonação de voz conforme as diferentes partes: ora mais<br />

grave, mais agudo, pronunciando mais rápido ou lentamente, suave ou mais forte, enriquecem<br />

a história e despertam as crianças para as variações sonoras que estão ocorrendo.<br />

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As histórias sonorizadas são uma possibilidade para o trabalho com música de fácil<br />

acesso para professoras da educação infantil, pois essas professoras conhecem o contexto de<br />

suas turmas, sendo possível identificar os elementos e temas que lhes são mais significativos e<br />

que possam aguçar ainda mais a imaginação e a criatividade, contribuindo para a construção<br />

da história sonorizada.<br />

Além disso, neste tipo de atividade não se faz necessário habilidades vocais ou o uso<br />

de instrumentos musicais convencionais, podendo ser utilizados uma variedade de objetos<br />

sonoros.<br />

Durante a realização da pesquisa constatou-se que trabalhar com histórias sonorizadas<br />

foi uma prática utilizada por todas as estagiárias que participaram do estudo. As histórias<br />

surgiam a partir de interesses demonstrados pelas crianças e de temáticas que estavam sendo<br />

desenvolvidas.<br />

É importante que o ambiente a ser realizado a história possa ser pensado, organizado e<br />

planejado, a fim de que possa ser convidativo às crianças adentrarem na história proposta,<br />

contribuindo assim com a criação durante o processo de sonorização.<br />

Parte II<br />

- Vamos passear na floresta?<br />

- Vamos!!<br />

E o passeio começa com todas as crianças sentadas no tapete, que já não era<br />

mais um tapete, mas sim um barco que navegava pelo rio da floresta.<br />

- Vocês estão ouvindo o som do rio? Como podemos fazer o som do rio?<br />

Rapidamente as crianças passam a explorar os sons dos instrumentos e<br />

objetos sonoros, e a cada desafio proposto pela professora, iam sonorizando<br />

e vivenciando a história, ora com os objetos disponíveis, ora com sons do<br />

próprio corpo.<br />

Uma cascata se aproxima, é chegada a hora de abandonar rapidamente o<br />

barco, nadar até a margem. Na medida em que se movimentavam por todos<br />

os espaços iam desvendando os mistérios da floresta. A caminhada, o trecho<br />

do mato fechado, a trilha de pedrinhas, a escalada nas árvores, a colméia, o<br />

encontro com os macacos, tudo ia somando muita sonorização e estimulando<br />

a imaginação com as situações que as próprias crianças iam sugerindo. Até<br />

que, copiosamente, começou a chover, a trovejar e a ventar... E agora? Para<br />

onde ir? (Caderno de registro, estagiária Dora, set. 2009)<br />

Realizar uma história sonorizada junto aos alunos implica em elaborar um enredo e<br />

um cenário sonoro pelo qual a mesma será contada ou vivenciada, conforme a situação<br />

exemplificada. A história a ser sonorizada pode ser alguma já conhecida de livros infantis,<br />

uma adaptação e construção da professora ou uma construção coletiva da turma. Na situação<br />

relatada, a história foi uma adaptação realizada pela professora a partir de “Vamos passear na<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

floresta?” (faixa 8 do CD que integra guia prático para professores Música 1 – editora Lua,<br />

2006).<br />

Os elementos a serem utilizados para sonorizar uma história podem variar conforme as<br />

possibilidades de materiais disponíveis. Nessa atividade foram usados objetos sonoros<br />

confeccionados, anteriormente, pelas próprias crianças, como por exemplo: tambores feitos<br />

com latas de diversos tamanhos; chocalhos feitos com potes de iogurte acrescido de pedrinhas<br />

e sementes; móbiles feitos com chaves; reco-reco e claves feitos com pequenos bastões de<br />

madeiras; lixas; pau de chuva. Também foram utilizados negativos de exame de raios-X e<br />

pedaços de mangueiras amarelas usadas em construções, pois costumam causar um bom<br />

efeito semelhante ao som de trovoadas e do vento – quando a mangueira é segurada em uma<br />

das extremidades e balançada rapidamente em movimentos circulares.<br />

Por outro lado, quando não houver objetos sonoros, está atividade também pode ser<br />

realizada utilizando objetos da própria sala de aula dos quais seja possível extrair algum tipo<br />

de som, como, por exemplo, passar o lápis ou caneta na mola do caderno, abrir e fechar o<br />

estojo ou mochila, friccionar o giz no quadro, dentre outros. Pode-se desafiar os alunos a<br />

explorar as possibilidades sonoras da sala de aula para criar um cenário sonoro para a história.<br />

Parte III<br />

- A caverna! Vamos correr para a caverna!<br />

Protegidos da chuva, inicia-se a exploração da caverna e dos sons deste<br />

inusitado lugar. Que criatura habitaria a caverna?<br />

- Gente, olha lá! É peludo, tem rabo comprido... Que cheiro é esse?<br />

- É um gambá!<br />

Todos corriam para fora da caverna fugindo do gambá. Era necessário fazer<br />

todo o caminho de volta e muito rápido.<br />

* * *<br />

No dia seguinte, uma criança chega à sala de aula acompanhada de um<br />

gambá de pelúcia. A turma revive a história e agora ganha um novo mascote<br />

que passa a acompanhá-los nas próximas atividades. “O gambá de pelúcia<br />

virou o mascote da turma. As crianças disputavam ele, tratavam ele como<br />

uma pessoa, tudo por causa da história ‘Vamos passear na floresta’. Até no<br />

banheiro levaram o gambá junto” (Caderno de registro, estagiária Dora, set.<br />

2009).<br />

A história sonorizada teve como dispositivo a mediação da professora buscando<br />

desafiar as crianças a explorar as diferentes possibilidades sonoras dos objetos<br />

disponibilizados. Na medida em que, a professora contava a história também conduzia a<br />

sonorização da mesma, de modo que todas as crianças pudessem participar da trilha sonora.<br />

Além disso, as intervenções da professora possibilitaram que as crianças pudessem<br />

pensar ao produzir os sons, realizando pequenas variações, como por exemplo, no trecho da<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

história em que começou a chover: a chuva iniciou lenta, aos poucos foi aumentando a<br />

intensidade até que se tornou um temporal com chuva forte, ventos e trovadas.<br />

Percebe-se que a problematização da professora é fundamental, para que as crianças<br />

possam ser estimuladas não só a produzir sons, mas também a ouvir os sons que estão sendo<br />

produzidos pelos colegas, de modo atento, organizado e reflexivo. Após a história foram<br />

feitos questionamentos acerca dos efeitos produzidos por esses sons, bem como comparações<br />

entre as propriedades dos mesmos: longo ou curto (diz respeito à duração), fraco ou forte<br />

(intensidade), agudo ou grave (altura 7 ), etc. A professora propôs diferentes organizações para<br />

que os sons não fossem produzidos somente de modo concomitante, e assim seus efeitos<br />

pudessem ser explorados separadamente e alternadamente.<br />

Algumas Considerações<br />

Entende-se que as histórias sonorizadas têm potencial metodológico para o trabalho<br />

sonoro-musical a ser realizado junto às crianças. Contudo, é importante que a professora, ao<br />

conceber a relevância da educação musical como parte do desenvolvimento integral da<br />

criança, possa colocar-se em um constante movimento de busca por alternativas diferenciadas<br />

as quais possam estar contemplando em sua prática docente. Para isso, é preciso ressignificar<br />

a sua relação com a música, não restringindo ou limitando a sua atuação por não ter o domínio<br />

de certa habilidade vocal ou com instrumentos musicais convencionais.<br />

A possibilidade da professora de educação infantil trabalhar com a música em suas<br />

práticas amplia a capacidade de contextualização e significação a ser construída acerca da<br />

música pelas crianças. Na medida em que a professora organiza seu projeto e sua ação<br />

pedagógica e articula as áreas do conhecimento, integrando à música, as aprendizagens<br />

passam a ter mais sentido para as crianças.<br />

7 Para que essa propriedade possa ser compreendida mais facilmente pela criança, pode-se fazer referência ao<br />

som agudo associando-o a um som mais “fino”, ao passo que um som grave pode ser referido como um som<br />

mais “grosso”.<br />

311


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BELLOCHIO, C. R. Formação de professores e práticas em educação musical: transformando<br />

o existente e gerando alternativas. In: BEYER, E. (Org.). Som e Criatividade. 1. ed. Santa<br />

Maria: Editora da UFSM, 2005. v. 1. p. 199-219.<br />

BELLOCHIO, C. R. A educação musical nas séries iniciais do ensino fundamental: olhando e<br />

construindo junto às práticas cotidianas do professor. 2000. Tese – Curso de Doutorado em<br />

Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.<br />

BRASIL, Diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia. Resolução CNE/CP n. 1, de 15<br />

de maio de 2006. Disponível em: .<br />

Acesso em: jun. de 2009.<br />

BRASIL, Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental de 9 anos. RSL N.7, de<br />

14 de dezembro de 2010, sobre o ensino fundamental.<br />

Disponível em: . Acesso em: fev. 2011.<br />

BRITO, T. A. de. Música na educação infantil: Propostas para a formação integral da criança.<br />

São Paulo: Peirópolis, 2003.<br />

CORREA, A. N. Programa LEM: Tocar e Cantar: um estudo acerca de sua inserção no<br />

processo músico-formativo de unidocentes da Pedagogia/UFSM. 2008. Dissertação – Curso<br />

de Mestrado em Educação, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa<br />

Maria.<br />

DINIZ-PEREIRA, J. A formação acadêmico-profissional: compartilhando responsabilidades<br />

entre universidades e escolas. In: EGGERT, E. et al. Trajetória e processos de ensinar e<br />

aprender: didática e formação de professores. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2008. P. 253-266.<br />

FIGUEIREDO, S. L. F. de.; SCHMIDT, L. M. Refletindo sobre o talento musical na<br />

perspectiva de sujeitos não-músicos. In: SIMPÓSIO DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS,<br />

4., 2008, São Paulo, SP. Anais... São Paulo: SIMCAM, 2008. Disponível em:<br />

. Acesso em: abr. de 2009.<br />

FURQUIM, A. S. dos S. A formação musical de professores em cursos de Pedagogia: um<br />

estudo das universidades públicas do Rio Grande do Sul. 2009. Dissertação – Curso de<br />

Mestrado em Educação, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa<br />

Maria.<br />

OESTERREICH, F. A história da disciplina de música no curso de Pedagogia da UFSM<br />

(1984-2008). 2010. Dissertação – Curso de Mestrado em Educação, Centro de Educação,<br />

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.<br />

SPANAVELLO, C. da S. A educação musical nas práticas educativas de professores<br />

unidocentes: um estudo com egressos da UFSM. 2005. Dissertação – Curso de Mestrado em<br />

Educação, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

WERLE, K. A música no estágio supervisionado da Pedagogia: uma pesquisa com<br />

estagiárias da UFSM. 2010. Dissertação – Curso de Mestrado em Educação, Centro de<br />

Educação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.<br />

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Pôsteres


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Corridos de Capoeira na Creche: prática pedagógica musical e diversidade<br />

étnico-cultural<br />

Flávia de Jesus Damião 1<br />

Creche da UFBA<br />

flaviad@ufba.br/afroflaviadamiao@gmail.com<br />

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo identificar ações e interações de meninas e<br />

meninos entre 1 e 2 anos a partir da inserção dos corridos de capoeira na prática pedagógica<br />

musical em sala a fim de verificar se os mesmos se configuram como uma ferramenta<br />

educativa que contribui para o desenvolvimento musical, na construção de identidade étnicocultural,<br />

bem como, na formação e ampliação de um repertório musical infantil plural pautado<br />

na contribuição do legado dos afro-brasileiros para música brasileira. O presente estudo<br />

privilegia a interface de estudos nas áreas da educação infantil: Brasil, 1998; Rocha,1998; da<br />

educação musical infantil: Santiago e Nascimento, 1996; Ilari, 2002; Brito, 2003; Russell,<br />

2006, da história e cultura afro-brasileira: Oliveira, 2003; 2005; Cunha, 2005; Munanga,<br />

2004; da educação das relações étnico-raciais: Cavalleiro, 2000; Machado, 2002(a); Brasil,<br />

2004(a); Brasil, 2004(b) dentre outros. Metodologicamente, o trabalho caracteriza-se pela<br />

abordagem qualitativa da pesquisa-ação. A escolha por tal abordagem deve-se ao fato da<br />

inserção da pesquisadora no lócus da pesquisa, e por considerarmos as crianças como atores<br />

sociais que participam do processo de pesquisa. O lócus do trabalho é a creche da<br />

Universidade Federal da Bahia em Salvador. Os sujeitos da pesquisa serão 20 crianças entre 1<br />

e 2 anos que freqüentam o grupo I e seus pais. Nosso ponto de partida é que a prática<br />

pedagógica na creche deve atuar no sentido de fomentar a construção positiva de identidades,<br />

das crianças negras, brancas, indígenas através do acesso aos referenciais sócio-históricos e<br />

das matrizes culturais que nos constitui.<br />

Palavras chave: Educação em creche, prática pedagógica musical, diversidade étnico-cultural<br />

Introdução<br />

A conformação histórica, política e social do Brasil, sinalizam para a existência de um<br />

país multi-étnico e pluricultural. Entretanto, a sociedade brasileira negou-se como<br />

pluricultural, escondeu a questão étnica e estabeleceu um projeto de Estado destacando<br />

valores hegemônicos oficiais brancos (Nery, 2004).<br />

De acordo com Munanga (2004) o discurso de formação do povo brasileiro, de forte<br />

caráter ideológico, esteve ligado a construção da idéia de nação e de identidade nacional<br />

ocorrido nos fins do século XIX até meado do século XX. Para forjar essa idéia de nação,<br />

elegeu-se o biótipo do homem branco e a cultura ocidental européia como modelo sobre o<br />

1 Pedagoga-UFBA; Especialista em Educação Infantil- UNEB; Mestre em Educação-UFC; Professora<br />

do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico na Creche da UFBA<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

qual erigir-se a nação brasileira. À indígenas, africanos foram relegados a periferia da historia<br />

e cultura do Brasil.<br />

Dada a impossibilidade de negar a existência da população negra e indígena, vários<br />

intelectuais brasileiros se dedicaram ao projeto de construção da idéia do povo brasileiro. Um<br />

povo que resultaria da mestiçagem - mistura - entre as três raças (branca, negra e índia).<br />

Pensando com Marques (1994) compreendemos que neste processo o que estava em jogo era<br />

o controle social, a homogeneização. Era preciso “administrar” a diversidade.<br />

A construção dos discursos e de práticas de invisibilização das diferenças e da<br />

diversidade no país reverberou em todas as dimensões da vida dos brasileiros. Desde as<br />

esferas das micro-relações, como as relações afetivas, por exemplo; até o âmbito do acesso<br />

aos bens sociais, econômicos, políticos e culturais.<br />

No campo da educação, a conseqüência dessas práticas de negação do outro se<br />

traduziu de muitos modos: proibição de acesso à educação; práticas pedagógicas racista e<br />

discriminatórias com prevalência da pedagogia do embranquecimento; silenciamento e<br />

negação do patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro; práticas de desqualificação da<br />

identidade étnica; política de baixo investimento em sistemas públicos de educação, quando a<br />

população negra, começou a ter acesso a ele; dentre outros.<br />

O cenário acima descrito, nos revela da omissão do Estado brasileiro em oportunizar à<br />

parcela da população afro-brasileira condições dignas de acesso e permanência à educação de<br />

qualidade. No vácuo institucional deixado pelo estado, os afro-brasileiros vêm ao longo dos<br />

tempos se (pre)ocupando com a educação dos seus. Assim, os negros, de modo individual, ou<br />

articulados em movimentos se incumbiram da tarefa de educar-se e de cuidar da educação dos<br />

seus.<br />

Ao longo dos cinco séculos da presença de africanos e seus descentes em terras<br />

brasileiras, estes sempre reivindicaram o acesso à educação, bem como, propuseram<br />

estratégias educacionais ora mantidas por eles mesmos, ora de responsabilidade do Estado. A<br />

partir do século XX, os movimentos negros, passaram a apontaram de modo mais enfático: a<br />

necessidade de políticas e diretrizes educacionais públicas de reparação a população negra, o<br />

reconhecimento e valorização da história e cultura afro-brasileira, ações afirmativas, e<br />

relações étnico-raciais positivas na educação. (Brasil, 2004(a).<br />

Essa demanda da comunidade afrodescendente brasileira pela afirmação do direito a<br />

educação foi contemplada/apoiada com a promulgação da Lei 10.634/2003, que alterando a<br />

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº9.394/1996 (LDB), torna obrigatório o<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimento de ensino fundamental<br />

e médio. Ainda, seguindo a referida Lei, tais conteúdos serão ministrado no âmbito de todo<br />

currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História<br />

Brasileiras.<br />

Apesar da Lei 10.639/2003 não se referir a Educação Infantil, dois marcos legais<br />

incluem a Educação da Relações Étnico-raciais e o Ensino da História e Cultura Afro-<br />

Brasileira desde a educação infantil. São eles; o Parecer do CNE/CP nº3 de 2004 e a<br />

Resolução nº 1 de 2004 do Conselho Nacional de Educação(CNE).<br />

No Parecer nº03/2004 isso fica explicito quando aborda diz que a História e Cultura<br />

Afro-Brasileira precisa ocorrem em todos os níveis e âmbitos da Educação. “O ensino de<br />

História e Cultura Afro-brasileira e Africana, a educação das relações étnico-raciais, tal como<br />

explicita o presente parecer, se desenvolverão no cotidiano das escolas, nos diferentes níveis e<br />

modalidades de ensino,(...)”. E, quando fala das responsabilidades dos níveis de ensino para<br />

com o cumprimento da Lei. “Para tanto, os sistemas de ensino e os estabelecimentos de<br />

Educação Básica, nos níveis de Educação Infantil, Educação Fundamental, Educação Média,<br />

Educação de Jovens e Adultos, Educação Superior, precisarão providenciar (...)”. (Brasil,<br />

2004(a).<br />

Já na Resolução nº 1 de 2004 do Conselho Nacional de Educação(CNE) que institui as<br />

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação da Relações Étnico-Raciais e para o<br />

Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e, também o Parecer do CNE/CP nº3<br />

de 2004 inclui a História e Cultura Afro-Brasileira e a Educação da Relações Étnico-raciais<br />

desde a educação infantil.<br />

Nesse contexto, compreendemos que a inserção da cultura de matriz africana, na<br />

prática educativa de creches e escolas de educação infantil, é um movimento indispensável no<br />

sentido de buscarmos superar o etnocentrismo europeu e desalienar os processos pedagógicos<br />

desde o primeiro âmbito da educação infantil. Fundamentalmente, porque as crianças de 0 a<br />

3 anos são sujeitos de direitos, e, como tal tem direito de freqüentar uma ambiência educativa<br />

onde o respeito às diferenças, a diversidade étnica, a pluralidade cultural e alteridade do ser<br />

sejam elementos basilares de sua ação.<br />

É necessário que a prática pedagógica na creche atue no sentido de fomentar a<br />

construção positiva de identidades, das crianças negras, brancas, indígenas, etc; através do<br />

acesso aos referenciais sócio-históricos e das matrizes culturais que nos constitui, de modo<br />

equânime. Essas ações, são estratégias necessárias, para que as instituições de educação da<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

primeira infância em Salvador, sejam, efetivamente espaços democráticos e plurais nos quais<br />

a diversidade não seja trascodificada em desigualdade.<br />

Justificativa<br />

Partindo da compreensão apresentada anteriormente, é que o presente trabalho busca<br />

dar conta de uma lacuna, qual seja: articular discussões acerca da educação de crianças em<br />

creches, práticas pedagógicas musicais, cultura de matriz africana e diversidade étnico-racial.<br />

Quando pensamos na presença da cultura de matriz africana na prática pedagógica na<br />

creche, vislumbramos sua inserção através das múltiplas linguagens simbólica. Primeiro,<br />

porque é através delas que a criança pequena realiza o duplo movimento de lançar-se no<br />

mundo, e ao mesmo tempo, tomá-lo para si. Segundo, porque as a cultura de matriz africana<br />

utiliza-se de inúmeras elementos simbólicos para assegurar sua existência. A música é uma<br />

das linguagens quais os afrodescendentes (re)elaboraram no Brasil a cultura originária no<br />

continente africano.<br />

As práticas pedagógicas musicais das creches precisam contemplar a música<br />

produzida no continente africano, bem como, aquela elaborada pelos afrodescendentes em<br />

terras brasileiras. O importante é assegurar que as crianças de 0 a 6 anos possam ter<br />

oportunidade de produzir, apreciar e sentir diferentes ritmos e sonoridades de modo lúdico e<br />

prazeroso.<br />

Pressupostos Teóricos<br />

De caráter interdisciplinar, o presente estudo privilegiará a interface de estudos e<br />

pesquisas nas áreas da educação infantil Brasil, 1998; Rocha, 1998; Brasil, 1999; Rosemberg,<br />

1999, Machado, 2002(b); Dahlberg; Moss e Pence, 2003; Quinteiro, 2002, da educação<br />

musical infantil Santiago e Nascimento, 1996; Brasil,1998; Ilari, 2002; brito, 2003; Oliveira,<br />

2006; Russell, 2006, da história e cultura afro-brasileira Oliveira, 2003; 2005; Cunha, 2005;<br />

Munanga, 2004; Adriano, 2006, da educação das relações étnico-raciais Oliveira, 1994; Dias,<br />

1997; Lopes, 2001; Cavalleiro, 2000; Machado, 2002(a); Gusmão 2003; Brasil, 2004(a);<br />

Brasil, 2004(b); Brasil, 2005. Nessa perspectiva, os referidos trabalhos serão nossos guias no<br />

processo de produção de novos conhecimentos em educação infantil.<br />

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Objetivo Geral<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A presente pesquisa tem por objetivo identificar ações e interações de meninas e<br />

meninos entre 1 e 2 anos a partir da inserção dos corridos de capoeira na prática pedagógica<br />

musical em sala a fim de verificar se os mesmos se configuram como uma ferramenta<br />

educativa que contribui para o desenvolvimento musical, na construção de identidade étnicocultural,<br />

bem como, na formação e ampliação de um repertório musical infantil plural pautado<br />

na contribuição do legado dos afro-brasileiros para música brasileira.<br />

Questões de Pesquisa<br />

questões:<br />

Diante do exposto, o presente trabalho teve por objetivo responder as seguintes<br />

Quais as ações e interações são produzidas por meninas e meninos entre 1 e 2 anos de<br />

idade a partir da inserção dos corridos de capoeira na prática pedagógica musical em sala?<br />

Os corridos contribuem para o desenvolvimento musical de crianças entre 1 e 2 anos?<br />

De que forma?<br />

Os corridos favorecem a construção da identidade étnico-cultural? Como?<br />

Os corridos se configuram como musicas que podem integrar e/ou ampliar o repertório<br />

musical infantil destacando sua origem ligada aos afro-brasileiros?<br />

Quais as compreensões, posturas, reações, dos pais das crianças acerca dos corridos de<br />

capoeira e da inserção dos mesmos na prática pedagógica musical em sala?<br />

Metodologia<br />

Metodologicamente, o presente trabalho caracteriza-se como uma abordagem<br />

qualitativa da pesquisa-ação. Para Thiollent (1988) “a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa<br />

social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou<br />

a resolução de um problema.”. A escolha por tal abordagem deve-se ao fato de que estamos<br />

interessadas em melhor compreender um aspecto do processo educacional em creche, pela<br />

inserção da pesquisadora no lócus da pesquisa, pelo compromisso da pesquisadora com a<br />

população pesquisada, e, principalmente, por considerarmos as crianças como atores sociais<br />

que, possuindo ação e voz, participam do processo de pesquisa.<br />

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Sujeitos e Lócus<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Sujeitos da pesquisa serão 20 crianças entre 1 e 2 anos que freqüentam mesmo grupo<br />

em uma creche e seus pais. O lócus do trabalho é a creche da Universidade Federal da Bahia<br />

em Salvador.<br />

Dimensão ética<br />

Nas questões éticas de investigação com crianças deve considerar-se uma trilogia entre<br />

direitos, deveres e danos/benefícios, devendo o trabalho do investigador social orientar-se pela<br />

observância destes três pilares fundamentais. (Alderson,1995),<br />

Partindo de tal compreensão inicialmente o projeto será apresentado a coordenação geral<br />

da creche e as profissionais que trabalham no grupo I; No momento seguinte far-se-á uma reunião<br />

com pais das crianças para apresentar o projeto de pesquisa, solicitá-los a autorizar a participação<br />

dos filhos(as) e convidá-los também a participarem; A participação das crianças do grupo terá<br />

como eixo a observação cuidadosa das reações faciais, corporais e verbais de bem-estar das<br />

mesmas. Sob nenhuma hipótese as crianças serão obrigada a realizarem uma atividade que não<br />

desejem.<br />

Ferramentas metodológicas<br />

A fim de alcançarmos os objetivos a que esta pesquisa se propõe usaremos um amplo<br />

conjunto de ferramentas metodológicas a fim de nos aproximarmos do fenômeno a ser<br />

estudado. Da interação das crianças serão privilegiadas: desenhos infantis; observação de<br />

situações de brincadeiras; observação do seu movimento corporal; fotos e filmagens; diários<br />

de observação. Na parte da pesquisa que envolver os pais serão usados questionários.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ADRIANO, J. A. Capoeira na Educação Infantil. Review Especial: Portal Capoeira, fev.<br />

2006. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10 out. 2007.<br />

ALDERSON. P. Listening to children: children, ethics, and social research. Essex: Barnardos.<br />

IN: SOARES, N.A investigação participativa no grupo social da infância. Currículo sem<br />

fronteiras, v. 6, n.1, pp. 25-40, Jan/Jun, 2006.<br />

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.<br />

Referencial curricular para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3 v,: il.<br />

______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Resolução Ceb nº 1,<br />

Conselho Nacional de Educação. Brasília, 7 de abril de 1999.<br />

______. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para<br />

o ensino de história e cultura afro-brasileira. Brasília, 2004.(a)<br />

______. Resolução CNE nº1, de 17 de junho. Diretrizes curriculares nacionais para a<br />

educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira.<br />

Brasília 2004.(b)<br />

______. Parecer CNE/CEB nº18. Setembro de 2005.<br />

BRITO, T. A. Música na Educação Infantil, propostas para a formação integral da criança.<br />

São Paulo: Peirópolis, 2003.<br />

CAVALLEIRO, E. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e<br />

discriminação na educação infantil. São Paulo: Contexto, 2000.<br />

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Cadernos de Pesquisa, São Paulo: Fundação Carlos Chagas, n. 31, 1979.<br />

______. Nós afrodescendentes: história africana e afrodescendente na cultura brasileira. In:<br />

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2005.<br />

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FARIA,A.; PALHARES,M. Educação Infantil pós LDB: rumos e desafios. Campinas:<br />

Autores Associados, 1999.<br />

321


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

GUSMÃO, N. M. M. Linguagem, cultura e alteridade: imagens do outro. São Paulo:<br />

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cultura e educação: olhares cruzados. São Paulo: Biruta, 2003<br />

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ano de vida. Revista da ABEM, Porto Alegre, 2002. p. 83-90.<br />

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Kabengele. (org.). Superando o racismo na escola. 3. ed. Brasília: MEC, 2001<br />

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MACHADO, M. L. de A. Encontros e Desencontros em Educação Infantil. São Paulo:<br />

Cortez, 2002.(b)<br />

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(Mestrado) – PUC, São Paulo, 1994.<br />

OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. ; FORMOSINHO J. (orgs.). Associação Criança: um<br />

contexto de formação em contexto. São Paulo: Pioneira, 2002.<br />

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(Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará,<br />

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QUINTEIRO, J. Infância e educação no Brasil: um campo de estudos em construção. In:<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ROCHA, E. A. C. Infância e Pedagogia: dimensões de uma intricada relação. Revista<br />

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ROSEMBERG, F. Expansão da educação infantil e processo de exclusão. Cadernos de<br />

Pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos chagas, n. 107, jul. 1999.<br />

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interpretação e prática. Revista da ABEM, n.14, Porto Alegre, 2006. p. 7-16.<br />

SANTIAGO, D. NASCIMENTO, I. Atividades rítmicas e melódicas apropriadas a primeira<br />

infância. De 19<strong>85</strong>-1986.<br />

SANTIAGO, D. NASCIMENTO. I. Ensinar “disposições”: o caminho do meio na Educação<br />

Musical pré-escolar. 1996. Disponível em:<br />

. Acesso em: 18 jun. 2011.<br />

SUZIGAN, G. O. & SUZIGAN, M. L. C. Educação Musical – Um fator preponderante na<br />

construção do ser. São Paulo: G4 Editora, 2003.<br />

THIOLLENT, Michel. Metodologias da pesquisa-ação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1998.<br />

323


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Oficinas de música no Projeto de Extensão Multicampi da Universidade<br />

Estadual de Montes Claros<br />

Talita Daniele Alves Gomes<br />

talitinhagomes@yahoo.com.br<br />

Resumo: O presente trabalho relata uma experiência pedagógico-musical realizada a partir do<br />

Projeto de extensão “Multicampi” da Universidade Estadual de Montes Claros-MG. As<br />

vivências musicais foram desenvolvidas no primeiro semestre de 2011, mais especificamente<br />

entre os meses de abril e junho, nas cidades de Salinas e Almenara, respectivamente. No<br />

projeto foram atendidos alunos provenientes de escolas públicas municipais (que<br />

apresentavam baixo IDH - índice de desenvolvimento humano) com faixa etária de 06 à 10<br />

anos de idade. Este trabalho musical se insere em um conjunto mais amplo de atividades<br />

extensionistas que incluem práticas voltadas à educação infantil, a saúde e a atividades<br />

esportivas. O trabalho teve como objetivo proporcionar aos alunos momentos musicais<br />

lúdicos e significativos que pudessem contribuir na sua formação básica. As oficinas foram<br />

realizadas em contextos diversificados e assim, não ficaram restritas à sala de aula. Acreditase<br />

que os relatos aqui transcritos poderão contribuir para a reflexão sobre trabalhos que vêm<br />

sendo realizados com vistas ao desenvolvimento de atividades musicais nos espaço escolares.<br />

Palavras chave: Educação infantil, música, oficinas<br />

Introdução<br />

Sou acadêmica bolsista do PET (Programa de Educação Tutorial) que é um projeto do<br />

MEC, financiado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino<br />

Superior). A ação tem por objetivo propiciar aos alunos participantes, sob a orientação de um<br />

tutor, a realização de atividades extracurriculares que complementem a formação acadêmica<br />

do estudante e atendam às necessidades do próprio curso de graduação (BRASIL, 2006).<br />

Buscando aprofundar minha formação acadêmica, elaborei o projeto “Oficinas<br />

Itinerantes”. A proposta tem como principal objetivo realizar capacitações para futuros e já<br />

atuantes, professores de música no contexto escolar.<br />

As atividades são desenvolvidas por meio de oficinas com aplicação de temas práticos<br />

e teóricos. Assim, as atividades buscam desenvolver práticas musicais dentro do próprio<br />

contexto visando à mobilização e sensibilização dos alunos contemplados.<br />

O projeto visa unir a proposta extensionista do Multicampi com a prática exercida nas<br />

oficinas itinerantes. Assim, reestruturei o projeto de forma que atendesse às demandas<br />

solicitadas pela Coordenadoria de Apoio ao Estudante, a qual é responsável pela orientação e<br />

realização das oficinas dos Multicampis, a fim de atender a crianças da educação infantil com<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

idade entre 06 e 10 anos com oficinas de curta duração dentro das áreas de educação, saúde,<br />

esporte e cultura.<br />

Realizadas no 1º semestre de 2011, as oficinas itinerantes de música no projeto<br />

Multicampi se destacam por propiciar aos alunos contemplados uma nova experiência com a<br />

música no contexto escolar, diferente do que estão acostumados vivenciando a prática e a<br />

escuta musical em um pequeno espaço de tempo.<br />

Este artigo buscará relatar como as oficinas foram realizadas e assim, serão apontados<br />

os objetivos, a metodologia, os recursos e as concepções pedagógicas que nortearam o<br />

trabalho.<br />

Detalhamento da experiência pedagógica<br />

O projeto Multicampi é um projeto extensionista da Coordenadoria de Apoio ao<br />

Estudante vinculado à Pró-Reitoria de Extensão Cultural da Universidade Estadual de Montes<br />

Claros e tem como principal objetivo levar às cidades que possuem campus da Unimontes<br />

oficinas práticas e rápidas de áreas diversas bem como saúde, esporte, educação, cultura e<br />

lazer. O Multicampi é realizado durante dois dias nas cidades contempladas durante todo o<br />

período diurno atendendo às crianças da faixa etárias de 06 a 10 anos matriculadas em escolas<br />

publicas e/ou municipais.<br />

Segundo Gonçalves (São Paulo, Brasil 2009) a música é uma ferramenta que contribui<br />

para formação integral do ser humano. Por meio dela a criança entra em contato com o mundo<br />

letrado e lúdico. Ensinar utilizando-se da música ajuda a criança a valorizar uma peça<br />

musical, teatral, concertos, pois, dando a oportunidade do conhecimento dos vários gêneros<br />

musicais ela tem a oportunidade de construir sua autonomia, criatividade, aquisição de novos<br />

conhecimentos e criticidade.<br />

Essa proposta teve como objetivo de desenvolver um trabalho prático e rápido nas<br />

oficinas que se desenvolvem no projeto Multicampi. Assim, relato experiências que vivi no<br />

mesmo, com o intuito de mostrar uma realidade que encontramos hoje no segmento da<br />

educação infantil de algumas cidades do estado de Minas Gerais, tendo como objetivo ainda<br />

relatar algumas atividades realizadas nas oficinas como forma de dissociação das idéias<br />

utilizadas.<br />

Presentes em todo o trabalho extensionista as práticas metodológicas estão ligadas<br />

diretamente com o lúdico, imaginário e recreativo sendo desenvolvidas atividades práticas<br />

com utilização de materiais informativos de tal forma que os alunos recebam o maior número<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

de informação possível em um curto espaço de tempo. São utilizados recursos audiovisuais<br />

como o data show, reais como instrumentos musicais e ainda recursos lúdicos como desenhos,<br />

pinturas e retratos do imaginário.<br />

Nas oficinas de música foram realizadas algumas atividades de diferentes objetivos.<br />

Iniciou-se com a sensibilização das crianças cantando músicas do cancioneiro infantil as quais<br />

as crianças têm um momento de recreação. É realizado também um trabalho de coordenação<br />

motora com batidas alternadas nas pernas e palmas acompanhando a melodia da música<br />

trabalhada. Após a sensibilização é realizado uma atividade que trabalha a identidade dos sons<br />

onde se é cantado uma música que fala de uma fazenda onde se citam nomes de animais onde<br />

as crianças projetam os sons referentes aos animais citados. Segue a letra da música com a<br />

idealização da dinâmica:<br />

A fazenda<br />

Na fazenda pato tem (quém quém)<br />

Tem um cão (au au)<br />

Tem peru (glu glu)<br />

Carneiros brancos como algodão (béééé)<br />

Ainda tem um galo se achando um valentão (cocoricóóó)<br />

Tem um gato angorá (miau miau)<br />

Passarinhos sempre a cantar (assobios)<br />

Quando o boi se põe a mugir (muuuuu)<br />

A casa ameaça até cair. (nesta hora se levanta os dois braços na intenção de não se deixar a<br />

casa cair)<br />

Bem cedinho de manhã (duas palmas)<br />

Quando o sol (duas palmas)<br />

Levantar (duas palmas)<br />

Todos os bichos vão acordar (nesta hora os meninos fazem o movimento de espreguiçar e<br />

imitam vários bichos ao mesmo tempo)<br />

É hora da fazenda trabalhar (duas palmas)<br />

Após esta atividade pedimos às crianças que retratem em forma de desenho os bichos<br />

citados na música ensinada pelos acadêmicos.<br />

Realizando estas atividades práticas percebi que a metodologia utilizada pela equipe<br />

sendo trabalhada de uma maneira mais informal possibilitava uma maior recepção dos alunos<br />

com a música. As crianças eram recepcionadas em sala de aula e a maioria das vezes<br />

apresentavam um comportamento agitado o qual era trabalhado pelos oficineiros do curso de<br />

música, por meio da sensibilização, prática rítmica e de coordenação motora e percepção da<br />

identidade dos sons bem como sua intensidade, altura e timbre. Dentro de todas as condições<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

possíveis a equipe realizava um trabalho especial com as crianças com forma de possibilitar<br />

um momento de sensibilização e aproveitamento da música infantil.<br />

Para Siqueira (São Paulo, Brasil, 2009) As atividades musicais realizadas na escola<br />

não visam à formação de músicos, e sim, através da vivência e compreensão da linguagem<br />

musical, propiciara abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções,<br />

ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser.<br />

Outra atividade também realizada pela equipe era a brincadeira de “Qual é a música?”.<br />

Nesta prática musical uma parte dos oficineiros apresentava melodias de músicas do<br />

cancioneiro infantil, MPB, sertanejo com ênfase nas músicas cantadas por eles. A música se<br />

representava com forma real onde os oficineiros executavam instrumentos bem como o<br />

violão, a flauta transversa e alguns instrumentos de percussão tocando a melodia onde as<br />

crianças dividas por equipes deveriam realizar uma corrida para estourar um balão o qual<br />

dava direito à criança de responder qual era o nome da música e marcar ponto para sua<br />

equipe. Ao final presenteamos a todos agradecendo pela participação e aproveitamento das<br />

atividades oferecidas.<br />

Conclusão<br />

A elaboração de oficinas rápidas e práticas no Projeto Multicampi da Universidade<br />

Estadual de Montes Claros contribuiu de forma favorável às crianças que participam uma vez<br />

que as mesmas realizam contato direto com práticas musicais, e estas permitem uma<br />

integração com outras áreas, além de servirem como forma de recreação e desenvolvimento<br />

de percepção auditiva e rítmica.<br />

Segundo Almeida (2005) o bom senso, a humildade em reconhecer sua incompletude,<br />

o aprender com o aluno, a paciência, a tolerância, a responsabilidade, a preocupação com o<br />

social e o respeito aos alunos e à comunidade são também reconhecidas como necessidades na<br />

atuação do professor de música.<br />

Tendo como foco deste trabalho o relato de uma experiência vivida no Projeto<br />

Multicampi, enfatizo a importância destas oficinas para a formação acadêmica dos alunos do<br />

curso de graduação da Universidade Estadual de Montes Claros, as quais proporcionam uma<br />

vivência mais ampla com uma realidade da educação básica como forma de experiência com<br />

diversos tipos de alunos e locais. Esta proposta possibilita ao acadêmico uma significativa<br />

experiência com o cotidiano vivido pelas crianças da educação infantil.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Referências<br />

GONÇALVES; SIQUEIRA; SANCHES, Adriana Rodrigues; Geyza Mara; Thiago Palma. A<br />

importância da música na Educação Infantil com crianças de 5 anos. Lins, SP, 2009<br />

ALMEIDA, Cristiane Maria Galdino de; DEL BEN, Luciana Marta. Educação musical nãoformal:<br />

Um estudo sobre a atuação do profissional em projetos sociais de Porto Alegre – RS<br />

Ministerio da educação – Secretaria de Educação Superior; Departamento de Modernização e<br />

programas de Educação Superior. Manual de Orientações básicas. Brasília – DF, dezembro<br />

de 2006.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A Música na Educação Infantil em Pelotas: mapeando as escolas privadas<br />

Isabel B. Hirsch<br />

isabelhirsch@ymail.com<br />

Vitor H. R. Manzke<br />

vitormanzke@gmail.com<br />

Marilúcia D. da Silva<br />

maridusil@hotmail.com<br />

Janaina P.V. Cruz<br />

janinhapvc@hotmail.com<br />

Resumo: Este texto apresenta elementos de uma pesquisa em andamento e faz parte de um<br />

mapeamento do ensino de música em toda a educação básica das redes pública e privada de<br />

Pelotas – RS após a Lei 11.769/08. Nesta comunicação, será mostrado apenas o projeto de<br />

pesquisa nas escolas infantis privadas do município de Pelotas na zona sul do estado do Rio<br />

Grande do Sul. Tem por objetivo geral mapear o ensino de música nas escolas infantis<br />

privadas e por objetivos específicos identificar quem é o profissional que trabalha com a<br />

música nas escolas; reconhecer quais as atividades musicais que são desenvolvidas nas<br />

escolas; e, identificar quais são as necessidades dos profissionais que trabalham com música<br />

nas escolas. O método desenvolvido é o survey de desenho interseccional e o instrumento de<br />

coleta de dados é o questionário auto-administrado. A pesquisa encontra-se na fase de coleta<br />

de dados e pretende contribuir com a compreensão do trabalho musical realizado nas escolas.<br />

Palavras-chave: educação musical em escolas privadas, educação infantil, mapeamento<br />

Introdução<br />

Muito se tem discutido sobre o ensino de música nas escolas desde que a Lei nº 11.769<br />

foi homologada em 18 de agosto de 2008 instituindo a obrigatoriedade da música como<br />

conteúdo do componente curricular da educação básica.<br />

De acordo com Figueiredo (2010),<br />

Apesar do avanço que a legislação pode trazer, ainda restam diversas<br />

questões sobre a educação musical na escola a partir da nova lei. A questão<br />

do professor adequado para ensinar música na escola ainda não está definida<br />

com toda a clareza necessária, pois a lei 11.769/2008 é genérica; cabe aos<br />

estados e municípios, estabelecerem os detalhes desta questão. A prática<br />

polivalente para o ensino das artes ainda está muito presente nos sistemas<br />

educacionais brasileiros e, para vários deles, a nova lei não acrescenta<br />

modificações (FIGUEIREDO, 2010, p.4).<br />

329


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Pelo que se pode observar, o que mais deixou dúvidas em boa parte da população<br />

brasileira é sobre quem será o profissional que irá trabalhar com a música nas escolas: o<br />

professor especialista ou o não-especialista?<br />

De acordo com Verle & Bellochio (2009), o professor de educação infantil tem papel<br />

fundamental para fazer com que a música seja uma realidade nas escolas. Além disso, as<br />

autoras complementam que<br />

É imprescindível que o professor tenha conhecimentos musicais suficientes<br />

para que possa trabalhar com esta área do saber. Todavia, é bom destacar<br />

que esse professor não é especialista em música e sim no desenvolvimento<br />

de crianças pequenas, é responsável pela educação da criança numa<br />

perspectiva integral, evitando fragmentações curriculares, trabalhando com<br />

todas as áreas do conhecimento de maneira articulada, incluindo-se,<br />

portanto, a educação musical (VERLE; BELLOCHIO, 2009, p.106).<br />

Nem sempre as escolas da rede pública ou da rede privada de ensino dispõem de um<br />

profissional habilitado para desenvolver atividades musicais. Além disso, não há informação<br />

de que todos os cursos de formação inicial de futuros pedagogos tenham também alguma<br />

disciplina sobre metodologia da educação musical no currículo. De acordo com Pacheco<br />

(2007),<br />

a Educação Musical não tem recebido atenção no que se refere a sua<br />

inclusão nos currículos de formação de futuros professores pedagogos.<br />

Ainda são poucos os cursos de graduação que oferecem essa disciplina na<br />

sua matriz curricular (PACHECO, 2007, p.89).<br />

unidocente<br />

Mesmo assim, sem esta devida atenção, Pacheco (2007) propõe ao professor<br />

a possibilidade de pensar e discutir como a música pode-se tornar [...] um<br />

elemento importante do processo educativo das crianças destes níveis da<br />

educação básica (PACHECO, 2007, p.95).<br />

Para ambos os autores, o professor não-especialista pode sim contribuir com o<br />

professor especialista nas atividades musicais nas escolas, desde que tenham condições de<br />

fazê-lo.<br />

De acordo com Gomes (2010), sobre o espaço de trabalho nas escolas,<br />

a educação musical infantil tem contemplado abordagens metodológicas<br />

diversas e, apesar de ser espaço do professor unidocente, o educador musical<br />

tem encontrado lugar na instituição (GOMES, 2010, p. 815).<br />

330


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Além da preocupação sobre o profissional que irá trabalhar nas escolas, também se<br />

questiona quais conteúdos serão abordados e em que contexto. A educação musical não<br />

possui um currículo obrigatório e nem a Lei 11.769/08 definiu o que deverá ser trabalhado e<br />

abordado nas escolas. Neste sentido, Figueiredo (2008) afirma que<br />

temos valorizado a diversidade ao invés da busca de modelos únicos para<br />

todos, compreendendo e respeitando as diferenças locais e regionais. Creio<br />

que esta é a direção que deveríamos assumir daqui para frente para o<br />

estabelecimento de orientações ou diretrizes para as escolas brasileiras. A<br />

diversidade deve ser respeitada em primeiro lugar, e isto inclui a diversidade<br />

de músicas e a diversidade de abordagens para o ensino de música<br />

(FIGUEIREDO, 2008, p.7).<br />

Tendo o autor comentado a respeito da diversidade, é importante também que o<br />

trabalho desenvolvido seja de qualidade para a contribuição da formação dos alunos.<br />

Para que os alunos das escolas tenham um ensino de qualidade, é necessário que os<br />

professores também tenham uma formação de qualidade. Para isso, pensa-se que a formação<br />

continuada busca um aperfeiçoamento para a atuação dos profissionais para as possíveis<br />

mudanças na educação. Para Queiroz & Marinho (2007), a formação continuada é entendida<br />

como<br />

um projeto contínuo, que possibilita aos professores caminhos para que, de<br />

forma coletiva e contextualizada com o universo de atuação de cada<br />

profissional, possam criar alternativas para (re)discutir, (re)definir e<br />

transformar o seu pensamento e, consequentemente, a sua prática docente<br />

(QUEIROZ; MARINHO, 2007, p.1).<br />

Com este contexto, de formação e atuação dos professores, sentiu-se a necessidade de<br />

pesquisar como a música está presente nas escolas de educação infantil da rede privada do<br />

município de Pelotas – RS. Por rede privada de ensino entende-se que<br />

É um sistema caracterizado por possuir instituições de ensino privadas,<br />

assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas<br />

de direito privado, conforme estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da<br />

Educação (LDB), de 1996. A rede particular de ensino geralmente é mantida<br />

por recursos próprios ou através de anuidades pagas pelos alunos,<br />

englobando escolas abertas e outras de vários tipos, como as de orientação<br />

religiosa, as mantidas por sindicatos de classe ou grupos empresariais ou,<br />

ainda, as escolas cooperativas, mantidas por grupos de pais de alunos<br />

(MENEZES; SANTOS, 2002).<br />

331


Objetivos<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Esta pesquisa tem por objetivo geral mapear o ensino de música nas escolas infantis<br />

privadas e por objetivos específicos identificar quem é o profissional que trabalha com a<br />

música nas escolas; reconhecer quais as atividades musicais que são desenvolvidas nas<br />

escolas; e, identificar quais são as necessidades dos profissionais que trabalham com música<br />

nas escolas.<br />

Justificativa<br />

Esta pesquisa se justifica porque, ao darmos continuidade às pesquisas já realizadas<br />

e/ou em andamento pelo grupo de pesquisa Formação Docente e Educação Musical,<br />

apresentaremos um panorama geral sobre a presença da música em parte da rede privada de<br />

ensino de Pelotas. As pesquisas na rede privada são muito escassas fazendo com que haja a<br />

necessidade, também, de mapear a presença da música nesta rede de ensino. Além disso,<br />

resultará em dados que subsidiem parcerias entre a UFPel e as escolas privadas, para que<br />

venham atender as necessidades destas escolas e de seus professores.<br />

Metodologia<br />

De acordo com os objetivos da pesquisa, o método utilizado foi o survey de desenho<br />

interseccional. Para Cohen e Manion (1994),<br />

os surveys agrupam dados em um determinado momento com a intenção de<br />

descrever a natureza das condições existentes, ou de identificar padrões com<br />

os quais essas mesmas condições existentes podem ser comparadas, ou de<br />

determinar as relações que existem entre eventos específicos (COHEN;<br />

MANION, 1994, p.83).<br />

Como os dados desta pesquisa serão coletados em uma única vez, num determinado<br />

período de tempo, este trabalho caracterizou-se como um survey de desenho intersecccional.<br />

De acordo com Babbie (2005, p. 101), o survey de desenho intersecccional permite descrever<br />

uma população maior na mesma ocasião.<br />

Foi selecionado como unidade de análise (Babbie, 2005, p.98) o profissional que<br />

trabalha com a música nas 97 escolas de educação infantil privadas do município de Pelotas –<br />

RS. As 97 escolas selecionadas para esta pesquisa são escolas oficialmente regularizadas no<br />

Conselho Municipal de Educação de Pelotas.<br />

332


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Antes da coleta de dados, entraremos em contato com todas as 97 escolas para<br />

averiguar se estão todas em funcionamento, se os endereços estão corretos e, ainda, se existe a<br />

figura do professor de música, ou, se existe outro profissional que trabalha com a música. A<br />

partir destes dados iniciais é que serão distribuídos os questionários auto-administrados. Para<br />

Babbie (2005), o questionário é “um documento com perguntas e outros tipos de itens que<br />

visam obter informações para análise” (BABBIE, 2005, p. 504). Esse instrumento parece ser<br />

o mais adequado, pois o universo de professores a serem pesquisados é num total de 97. Para<br />

Laville e Dionne (1999), uma das vantagens do questionário é que “permite alcançar rápida e<br />

simultaneamente um grande número de pessoas” (LAVILLE; DIONNE,1999, p. 184).<br />

O questionário, construído com base nos questionários elaborados Hirsch (2007),<br />

inclui questões que fornecem dados sobre formação inicial e continuada dos professores,<br />

tempo e áreas de atuação, atividades musicais desenvolvidas nas escolas, recursos disponíveis<br />

para a realização das atividades musicais bem como necessidades dos professores.<br />

Os questionários serão entregues aos professores das escolas e, juntamente com ele,<br />

uma carta para a direção e outra carta ao professor, explicando os objetivos da pesquisa, a<br />

necessidade da participação e a garantia da não-exposição do nome da escola e nem do<br />

professor no trabalho. Neste documento também será incluída uma provável data de<br />

devolução do questionário para a validação do mesmo. Após, os dados serão analisados,<br />

principalmente, com base na literatura da área de educação musical, focalizando estudos que<br />

investigaram a presença da música, especificamente, nas escolas de educação infantil em<br />

diversas regiões do país.<br />

Considerações finais<br />

Espera-se que, com essa investigação, possamos mapear a situação do ensino de<br />

música nas escolas de educação infantil da rede privada do município de Pelotas. Levantando<br />

dados sobre a presença da música, mais especificamente sobre os profissionais que trabalham<br />

com música nestas escolas, as atividades que eles desenvolvem e suas necessidades,<br />

esperamos poder contribuir com parcerias que venham colaborar na formação continuada<br />

desses profissionais, visando estratégias para o fortalecimento da educação musical nas<br />

escolas.<br />

333


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BABBIE, Earl. Métodos de Pesquisas de Survey. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005.<br />

COHEN, Louis.; MANION, Lawrence. Research Methods in Education. London: Rutledge,<br />

1994.<br />

FIGUEIREDO, Sérgio. A ABEM e o projeto nacional de música na escola. 2008. Disponível<br />

em:. Acesso em: 25 jun. 2011.<br />

______. O processo de aprovação da Lei 11.769/2008 e a obrigatoriedade da música na<br />

Educação Básica. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO,<br />

15, 2010, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: ENDIPE, 2010.<br />

GOMES, Carolina. Educação Musical para o Ensino Infantil: levantamento acerca das<br />

produções brasileiras. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL, 19, 2010, Goiânia. Anais... Goiânia: ABEM, 2010. p 814-821.<br />

HIRSCH, Isabel B. Música nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio: um<br />

survey com professores de arte/música de escolas estaduais da região sul do Rio Grande do<br />

Sul. Dissertação (Mestrado em música) - Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio<br />

Grande do Sul. Porto Alegre, 2007.<br />

LAVILLE, Christian; DIONE, Jean. A construção do saber: manual da metodologia da<br />

pesquisa em ciências humanas. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.<br />

MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Dicionário Interativo da<br />

Educação Brasileira – EducaBrasil, 2002. Disponível em<br />

. Acesso em: 26 jun. 2011.<br />

PACHECO, Eduardo. Pedacursão: uma experiência de formação em Educação Musical na<br />

pedagogia. Cadernos de Educação, FaE/PPGE/UFPel, Pelotas [29]: 89 - 104, julho/dezembro<br />

2007.<br />

VERLE, Kelly; BELLOCHIO, Cláudia. A educação musical e o professor de educação<br />

infantil e anos iniciais: um mapeamento das produções da ABEM. In: ENCONTRO ANUAL<br />

DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 18, 2009, Londrina.<br />

Anais... Londrina: ABEM, 2009. p.104-110 .<br />

334


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Música na Escola: um musical infantil para alunos do ensino fundamental I<br />

Gabriel Alamino Martins Iglesias<br />

iglegabriel@gmail.com<br />

Felipe Veiga de Lara Gomes<br />

felipeveigamus@gmail.com<br />

Lineu Formighieri Soares<br />

lineusoares@gmail.com<br />

Regina Helena Cunha Mota Maier<br />

reginamota@gmail.com<br />

Resumo: O presente trabalho relata um projeto de pesquisa em andamento, realizado por<br />

professores e alunos do curso de Educação Artística – Habilitação em Música – do Centro<br />

Universitário Adventista de Ensino, campus Engenheiro Coelho, interior de São Paulo. O<br />

grupo reúne-se há um ano, com o intuito de estudar temas ligados à criação musical. Como<br />

primeiro projeto, decidiu-se por música direcionada às crianças do Ensino Fundamental I, a<br />

ser realizado em três etapas. A primeira, foi uma apreciação do material disponível para<br />

utilização em salas de aula dessas séries. Como segunda etapa, passou-se à composição<br />

musical em si, com a criação de um enredo e canções que contam uma história através da qual<br />

são trabalhados aspectos musicais, noções de respeito à natureza e conhecimentos da fauna e<br />

flora brasileiras. A terceira fase consiste numa pesquisa de campo. O objetivo, ao término do<br />

projeto, é contribuir com o ensino de música em escolas, oferecendo opções para o dia a dia<br />

em sala de aula, bem como possibilidades de produções culturais envolvendo a escola como<br />

um todo.<br />

Palavras chave: Música na escola, canto infantil, criação musical<br />

1. Introdução<br />

Com a Lei No. 11.769/2008, que complementa a LDB homologada em 1996, surge, no<br />

Brasil, uma demanda redobrada por professores de música. Com isso, as escolas precisam<br />

buscar profissionais que possam oferecer aos alunos uma base musical integrada a outros<br />

conteúdos do currículo, garantindo o bom aproveitamento das aulas. Na experiência vivenciada<br />

por este grupo como professores, regentes, alunos de música e estagiários em escolas públicas e<br />

particulares, observa-se que parte do material utilizado na educação musical não é apropriado<br />

para este fim. Funcionam como lampejos repentinos, apenas visando a descontração e não<br />

utilizando a música como meio de ensinar valores e proporcionar o desenvolvimento cognitivo<br />

do aluno em vários níveis. Segundo Dewey, é importante não haver separação entre a vida e a<br />

educação, fomentando, assim, uma contínua reconstrução de experiências (apud CUNHA,<br />

335


2007, p. 22).<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Por outro lado, levando em consideração o docente, parece ser fundamental a produção<br />

de materiais que venham somar-se àqueles que têm dado suporte ao ensino, mantendo<br />

princípios pedagógicos sem perder o potencial da experiência musical. O professor precisa<br />

buscar a interação entre a vida social e a escolar, levando em consideração o discurso musical<br />

do aluno (SWANWICK, 2003) e estimulando sua criatividade e interesse. É essencial uma<br />

atualização constante dos materiais produzidos, pois se “hoje não se ouvem mais os mesmos<br />

ruídos do tempo de Mozart,” é preciso “fazer a música do nosso tempo” (ZAGONEL, 1999, p.<br />

3).<br />

2. Etapa inicial: pesquisa<br />

O projeto ora relatado começou em 2010, quando três alunos e dois professores de<br />

licenciatura em música decidiram formar um grupo de estudos com o intuito de compor e<br />

produzir material para crianças. Como primeira atividade, o grupo iniciou uma revisão do<br />

material fonográfico direcionado às crianças e produzido no Brasil nos últimos vinte anos. Em<br />

encontros semanais, paralelamente à pesquisa auditiva, iniciou-se a leitura de textos de<br />

referência na área de educação musical. O foco foram os relatos de experiências e pesquisas<br />

sobre o ensino de música escritos nos últimos dez anos. Entre as inúmeras publicações<br />

passíveis de estudo, o grupo aprofundou-se nos textos de PENNA, 2008, ZAGONEL, 1999,<br />

ILARI, 2006, e MATEIRO, 2008. Esse levantamento de material visava uma construção de<br />

conhecimento daquilo que tem sido produzido no Brasil recentemente, gerando parâmetros<br />

que delimitariam a criação musical.<br />

Uma terceira vertente do projeto envolve, ainda, uma pesquisa de campo,<br />

entrevistando – até o momento – vinte e dois (22) professores de música de treze estados do<br />

país. Os entrevistados advém de distintas realidades: sala de aula e prática coral em escolas<br />

públicas e particulares, bem como conservatórios. Os resultados da pesquisa, nestas três<br />

frentes da primeira etapa, têm possibilitado, até agora, uma idéia parcial daquilo que está<br />

disponível aos professores em escolas de várias partes do país. A reflexão sobre as<br />

descobertas feitas até o momento, corroboram os objetivos iniciais do grupo, que incluem a<br />

criação e viabilização de material que venha a acrescentar ao que atualmente é oferecido aos<br />

professores de música. Lembrando que, por mais que tenha havido crescimento nos últimos<br />

anos, não existe, ainda, abundancia de material musical à disposição dos professores do<br />

ensino básico. O grupo crê que a diversidade de opções é um fator de motivação para o<br />

336


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

docente, que, na fartura de alternativas poderá escolher aquelas que melhor se adaptam à sua<br />

realidade.<br />

2. Criação: fase de composição e escrita do musical<br />

No cronograma de trabalho do grupo, após a fase inicial, exclusivamente de pesquisas,<br />

teve início a segunda etapa: criação de um musical infantil para os alunos do Ensino<br />

Fundamental 1. O projeto propõe uma integração entre música, artes cênicas e artes plásticas<br />

(criação de figurinos e cenário). Além das expressões artísticas, busca-se abranger, no<br />

trabalho, conceitos de ética, ciência e ecologia. Não pretende-se algo que acarrete simples<br />

entretenimento, ou apenas apreciação musical, embora estes também façam parte do conjunto<br />

dos objetivos. O grupo tem observado que o essencial é ensinar música através do próprio<br />

fazer musical, justificando, assim, a idéia de integrar vários conhecimentos num programa<br />

com roteiro fechado. A prática demonstra que a possibilidade de reunir música e encenação<br />

pode tornar o aprendizado musical mais interessante e proveitoso para os alunos.<br />

O primeiro passo da criação foi a concepção de um argumento. A partir dele, o<br />

trabalho dividiu-se em criação do roteiro e composição de canções que integram-se ao<br />

mesmo. O trabalho era feito individualmente e, mais tarde, apresentado ao restante do grupo.<br />

Assim, num primeiro momento, roteiro e composições surgiam da soma de criações<br />

independentes. Com o texto do roteiro finalizado, o grupo – atualmente composto de dois<br />

professores e dois alunos – iniciou uma fase de criação colaborativa, reunindo-se para compor<br />

letra e música juntos. As canções ainda não escritas já têm temas definidos e cada<br />

componente tem liberdade para trazer novas contribuições, as quais são desenvolvidas em<br />

grupo.<br />

O roteiro conta a história de uma menina da cidade – Paloma – que um dia, de repente,<br />

encontra-se numa fazenda. Lá, é abordada por um pica-pau e um burro, que a levam para um<br />

passeio, mostrando a realidade e as dificuldades dos animais em conseqüência de uma<br />

queimada num canavial. No desenrolar da trama, os bichos da fazenda e os animais silvestres<br />

passam por situações em que a união de todos e o fazer musical em conjunto ajuda-os a<br />

vencer os problemas. Na história, a música aparece como um meio de superação e contribui<br />

para reforçar mensagens de respeito à natureza, em geral, e às plantas e animais,<br />

especificamente.<br />

As canções que já foram compostas tiveram como referência a música brasileira, já<br />

que a valorização da música de raiz – suas características regionais e os diferentes estilos<br />

337


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

existentes em distintos estados do Brasil – está dentro dos objetivos do grupo a longo prazo.<br />

Além disso, as peças têm caráter poético, facilitando a memorização das letras através de<br />

rimas, assonâncias e outros recursos literários. Tanto este, como os aspectos ligados à fauna e<br />

flora brasileiras, podem ser trabalhados de forma interdisciplinar com os programas de<br />

português/literatura e ciências.<br />

3. Objetivos musicais e pedagógicos<br />

No plano pedagógico, a intenção é que as melodias apresentem noções de percepção<br />

de forma progressiva. Assim, nas primeiras canções aprendidas, as melodias, saltos de<br />

intervalos, figuras rítmicas, andamento e harmonia dos instrumentos, são simples e fáceis para<br />

que o crescimento do conhecimento musical do aluno aconteça de forma gradual. Porém, para<br />

que não deixe de ser significativo, a proposta é que, no decorrer do aprendizado,<br />

gradualmente os aspectos musicais se tornem mais complexos e desafiadores. Além disso, a<br />

instrumentação de cada peça tem sido planejada no sentido de aumentar as referências<br />

musicais dos alunos, ampliando o espectro de referencias auditivas.<br />

A progressão na construção do conhecimento também será enriquecida com o fato de<br />

as canções, utilizadas em sala, poderem ser reunidas em forma de musical ao final de um<br />

período. O objetivo é que o professor explore, no dia a dia das aulas, as competências<br />

musicais previstas nas canções, enriquecendo o ensino de cada uma delas com atividades<br />

variadas. Ao final do ciclo – ano letivo, semestre, ou outro período definido pelo professor de<br />

acordo com sua realidade – a montagem do musical poderá funcionar como revisão e<br />

fechamento de todos os elementos musicais trabalhados com os alunos.<br />

Como laboratório inicial do material criado até aqui, o grupo pretende trabalhar na<br />

escola básica do próprio campus em Engenheiro Coelho, a partir do segundo semestre de<br />

2011. A escola, que é particular e já trabalha com música em seu currículo há vários anos, faz<br />

parte do trabalho de estágio dos alunos de licenciatura. Os alunos do grupo de pesquisa fazem<br />

estágio nos 3 o e 4 o anos do ensino fundamental e as crianças destas classes serão as primeiras<br />

com as quais o grupo testará as composições musicais.<br />

Os objetivos do grupo, a médio e longo prazo, incluem a produção de material para<br />

utilização em escolas de ensino fundamental. Durante os três primeiros anos, o objetivo é<br />

gerar um livro ilustrado, partituras das canções e manual para o professor, bem como um<br />

CD/DVD, este último utilizando uma escola da região – ainda a ser definida – como<br />

laboratório de ensaios e montagem do musical.<br />

338


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Referências<br />

CUNHA, Marcus V. John Dewey: uma Filosofia para Educadores em Sala de Aula. 4ª ed.<br />

Petrópolis: Editora Vozes, 2007.<br />

ILARI, Beatriz Senoi. Desenvolvimento Cognitivo-Musical no Primeiro ano de Vida. In:<br />

________. (org). Em Busca da Mente Musical: ensaios sobre os processos cognitivos em<br />

musica – da percepção à produção. Curitiba: Editora UFPR, 2006, cap. 8.<br />

MATEIRO, Teresa da Assunção Novo. Educação Musical nas Escolas Brasileiras:<br />

Retrospectiva Histórica e Tendências Pedagógicas Atuais. Arte Online: Periódico online de<br />

Artes. Volume 2: novembro 1999/fevereiro 2000. Disponível em:<br />

. Acesso em: 21 fev.<br />

2008.<br />

PENNA, Maura. Caminhos para a conquista de espaços para a música na escolar: uma<br />

discussão em aberto. Revista da ABEM, Universidade Estadual Paraíba (UEPB), No. 19, p. 57-<br />

64, Março, 2008.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina<br />

Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

ZAGONEL, Bernadete. Em Direção a um Ensino Contemporâneo de Música. Revista Ictus.<br />

Salvador, no. 1, p. 1-15, 1999.<br />

339


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Ensinando a Ensinar Música: experiências de prática de ensino em uma<br />

relação espelhada de ensino-aprendizagem<br />

Tiago Madalozzo<br />

UFPR<br />

tmadalozzo.ufpr@gmail.com<br />

Resumo: Neste relato procuro registrar aspectos relacionados à prática de ensino na disciplina<br />

de Metodologia do Ensino das Artes para o 3º ano do curso de Formação de Docentes em um<br />

colégio estadual de Curitiba. A partir de pesquisas teóricas e documentais, observações e<br />

questionários, construiu-se um panorama teórico, chegando-se a uma questão: o que era<br />

possível fazer para que minhas aulas fossem produtivas, já que talvez fossem os únicos<br />

momentos em que a turma teria aulas específicas de música? E quais procedimentos utilizar<br />

para “ensinar a ensinar” música, uma vez que se tratava de uma turma de professores em<br />

formação? O tema gerador do plano de ensino foi a percepção do som como matéria-prima de<br />

todo evento musical, tendo como objetivos a apresentação dos elementos sonoros e sua<br />

organização em torno da forma musical, além da ênfase na discussão de metodologias de<br />

aplicação destes conteúdos teóricos a partir de jogos musicais e da apreciação musical ativa,<br />

sempre com variado repertório (França, 2002; Joly, 2003; Palheiros e Wuytack, 1995;<br />

Schafer, 2001). Desta forma, foi possível promover a sensibilização musical dos alunosprofessores<br />

em formação, mostrando novas possibilidades de ensino e de construção de<br />

planos de aula musicalmente ricos e criativos.<br />

Palavras chave: Prática de ensino, formação de docentes, metodologias de ensino<br />

Introdução<br />

A disciplina de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado para o curso de Música –<br />

Educação Musical da UFPR engloba dois semestres, o primeiro voltado à prática no Ensino<br />

Médio, e o segundo, no Ensino Fundamental. No primeiro semestre de 2009, tive a<br />

oportunidade de realizar o estágio com uma turma do curso de Formação de Docentes de um<br />

colégio em Curitiba.<br />

O início da prática foi justamente um período de questionamentos: como funciona um<br />

curso de Formação de Docentes? O que se aprende em música neste caso, e como se aprende<br />

a ensinar música? É suficiente o contato com a música em uma disciplina de poucas horas<br />

dividida, teoricamente, entre as quatro áreas artísticas? E por onde começar um trabalho de<br />

ensino de música frente a estas especificidades?<br />

A partir de leituras iniciais e atividades práticas como observações de aula e aplicação<br />

de questionário aos alunos, construí um panorama teórico cujos principais apontamentos estão<br />

registrados abaixo. Isso serviu como ponto de partida para novo questionamento: frente a<br />

várias possibilidades, o que escolher para ensinar aos futuros professores em uma curta<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

unidade didática com seis aulas (meu tempo de contato com eles)? A abordagem escolhida e o<br />

tema gerador da prática estão especificados neste relato, destacando-se ainda a curiosa relação<br />

de simetria de condições que se estabeleceu em sala de aula, afinal, os alunos eram<br />

professores em formação.<br />

Apresento a seguir as principais conclusões do panorama teórico inicial e os<br />

desdobramentos da prática, registrando questionamentos e possíveis soluções encontradas ao<br />

longo do trabalho, tendo em vista a ideia de que aqueles breves momentos de prática<br />

poderiam ser os únicos destinados a aulas exclusivas de música em toda a vida acadêmica da<br />

maioria dos alunos.<br />

Panorama Teórico<br />

De acordo com a LDB (1996), a Formação de Docentes se dá em vários níveis;<br />

entretanto, é admitida como formação mínima para o ensino do magistério na educação<br />

infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental a oferecida em nível médio, na<br />

modalidade Normal. Dessa forma, o contexto de prática de ensino descrito neste trabalho é<br />

uma das habilitações oficiais para a formação docente.<br />

Entre as possibilidades de trabalho destes professores em formação, a Arte, enquanto<br />

disciplina do currículo básico do colégio, é bastante valorizada de acordo com informações<br />

contidas no Projeto Político-Pedagógico do colégio: considera-se a escola como espaço de<br />

formação de indivíduos com uma identidade cultural e de democratização do acesso dos<br />

alunos às linguagens artísticas e manifestações culturais (GOVERNO, 2007).<br />

A ementa da disciplina de Metodologia do Ensino de Artes, oferecida para o 3º ano do<br />

curso de Formação de Docentes, é voltada para as quatro linguagens artísticas (música, teatro,<br />

artes visuais e dança), com uma grande quantidade de conteúdos – apenas em Música, resumo<br />

da seguinte forma: toda a história, os gêneros, as técnicas de composição e execução.<br />

Por se tratar de uma disciplina de Metodologia, desde o início procurei dar ênfase para<br />

a parte específica de estratégias de trabalho e prática com as linguagens artísticas, tendo a<br />

intenção de apresentar o maior número de ideias possíveis para que os alunos pudessem<br />

oportunamente desenvolver ainda novas ideias para seus planos de aula (tipo de trabalho<br />

comum da disciplina).<br />

Cabe salientar que, de acordo com dados dos questionários, nenhum dos alunos<br />

possuía formação musical, e poucos já haviam trabalhado com música em suas aulas. Além<br />

disso, a partir das observações constatei que a turma era bastante interessada nas estratégias<br />

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de ensino de conteúdos de outras disciplinas, e estava bastante ansiosa para o trabalho com<br />

Música.<br />

Musicalização: um caminho metodológico<br />

Há várias abordagens para o ensino da Música; contudo, a partir de experiências<br />

pessoais anteriores em educação musical, procurei insistir na valorização da sensibilização<br />

musical dos alunos, o que está relacionado à ideia de musicalização. Para alguns autores, a<br />

musicalização é um processo de educação musical em que noções teóricas são ensinadas aos<br />

alunos a partir de atividades lúdicas; portanto, toma-se o jogo musical como suporte para<br />

transmissão de conteúdos. Isto faz sentido ao se pensar que, para o ensino infantil – o<br />

“público” dos docentes formados no curso –, o jogo é a forma de expressão, é a atividade<br />

fundamental da infância, conforme considera Ilza Joly (2003, p. 116): “A criança, por meio da<br />

brincadeira, relaciona-se com o mundo que descobre a cada dia e é dessa forma que faz<br />

música: brincando”.<br />

A sensibilização pode começar, então, por um conceito fundamental: nas palavras de<br />

R. Murray Schafer (2001, p. 61-62), “abrir os ouvidos” para os sons que nos cercam, pois a<br />

partir de exercícios de “limpeza de ouvidos” é possível trabalhar as ideias de som, silêncio e<br />

ruído. Ou seja, a partir da densa paisagem sonora que nos cerca todos os dias, é preciso<br />

prestar atenção para aquilo que é a matéria-prima de qualquer trabalho musical: o som. Desta<br />

forma, considerei que o tema gerador da unidade didática deveria ser baseado no<br />

entendimento das propriedades do som, uma vez que seria lógico que um futuro trabalho<br />

destes professores em formação tivesse uma estruturação semelhante em torno do som.<br />

Após um trabalho minucioso com o som, seria possível discutir com a turma uma<br />

definição de “música” enquanto organização de sons, e, a partir daí, trabalhar-se com<br />

estruturas musicais maiores – e por isso escolhi apresentar noções de forma musical, a<br />

alternância de momentos de tensão e relaxamento que caracteriza boa parte da música<br />

ocidental.<br />

Para que isso acontecesse de forma eficiente, outro conceito de grande importância é a<br />

apreciação musical ativa, ou seja, a audição musical através de um processo de escuta nãopassiva<br />

por parte do ouvinte, conforme apresentado por Graça Boal Palheiros e Jos Wuytack<br />

(1995, p. 9-13), em que os autores sugerem a associação de outros elementos ao ato de escuta<br />

a fim de tornar o evento musical “palpável” ou “visível”, e dessa forma facilitar o<br />

entendimento do conceito de forma musical.<br />

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A Estruturação do Plano de Ensino<br />

A fim de discutir a estratégia de ensino e a abordagem metodológica, registro abaixo o<br />

eixo temático da unidade didática, os objetivos e os conteúdos do plano de ensino.<br />

Eixo temático: Apreciação ativa, entendimento, compreensão e reflexões sobre a<br />

aplicação metodológica do som como elemento que faz parte do cotidiano de todos, e é a<br />

gênese de qualquer fazer musical.<br />

Objetivos: 1) apresentar e estimular a compreensão e a apreciação das propriedades do<br />

som e da forma musical; 2) fornecer referencial teórico para pesquisa dos conteúdos acima,<br />

além de metodologias e repertórios-modelo para a sua aplicação; 3) esclarecer informações<br />

relativas à legislação que regulamenta as especificidades do ensino da música no Brasil.<br />

Conteúdos: 1) propriedades do som: ruído, som, silêncio, timbre, altura, intensidade,<br />

dinâmica, duração, densidade, ritmo, melodia, música; 2) forma musical: organização dos<br />

sons segundo o princípio básico da alternância de repetição e contraste, unidade e variedade: a<br />

forma A B A e variações; 3) metodologias de ensino de música: canções de saudação, limpeza<br />

de ouvidos, escala musical, apreciação musical ativa, danças, canções com gestos, cânones<br />

rítmicos e melódicos, construção de instrumentos, imitação rítmica, canções de despedida.<br />

Trabalhando Numa Relação Espelhada de Ensino-Aprendizagem Para a<br />

Educação Musical Infantil<br />

Toda a experiência de ensino foi pensada para um contexto bastante específico, em<br />

que destaco esta “relação espelhada” de ensino-aprendizagem: meus alunos eram professores<br />

em formação. Por este motivo, procurei trabalhar a partir da abordagem da musicalização<br />

infantil, uma vez que dizia respeito diretamente ao universo com o qual os futuros professores<br />

trabalhariam, a educação infantil.<br />

Quando me refiro a este abordagem, listo alguns fatores importantes que procurei<br />

destacar: a) o trabalho em sala de aula a partir da atividade – ou seja, o fazer musical como<br />

foco; b) as atividades construídas sempre a partir de um suporte lúdico; c) uma grande<br />

variedade de repertório para ser usada em sala – lembrando que, concordando com uma série<br />

de pesquisadores, a música levada para crianças pequenas não deve ser, de forma nenhuma,<br />

música “simples” mas, pelo contrário, se deve trabalhar com muitos tipos diferentes de<br />

música; e d) principalmente, não se deve deixar que a aula de música seja “recreação” – deve,<br />

sim, ser muito bem estruturada em termos de objetivos e conteúdos claros, sendo estes<br />

objetivos e conteúdos ligados a elementos musicais. Sobre este último fator: é importante que,<br />

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no contexto da educação musical infantil, não se trabalhe com objetivos extramusicais, mas<br />

sim, com metas muito claras de desenvolvimento e formação musical. Por este motivo é que<br />

optei por mostrar uma possibilidade aos alunos: conteúdos relacionados às propriedades do<br />

som, ou seja, claramente “musicais”.<br />

Há várias formas de se trabalhar com música. Algumas insistem na teoria; outras, na<br />

notação musical (escrita na partitura). Mas há, também, a musicalização, em que os<br />

conhecimentos musicais devem ser trabalhados através dos exercícios práticos. Não se pode,<br />

porém, fazer isso sem o estabelecimento de objetivos claros.<br />

Procurei mostrar que repertórios variados são interessantes, mas um trabalho com<br />

músicas do cancioneiro tradicional brasileiro – ou músicas diferentes que conhecemos, que<br />

lembramos da nossa infância – é igualmente importante, pois podemos estabelecer uma<br />

ligação clara com o universo infantil, além de eventualmente ter mais segurança a partir de<br />

um trabalho com músicas bem conhecidas.<br />

Tudo com que trabalhei foi discutido intensamente com os participante do curso:<br />

desde conversas sobre a abordagem da musicalização, passando pela legislação e chegando a<br />

experiências sobre o uso de instrumentos musicais contruídos em sala junto com as crianças.<br />

Enfim, procurei ligar todas as propostas levadas com a realidade de sala de aula dos futuros<br />

professores, trabalhando com exemplos musicais relevantes.<br />

Discussão e considerações finais<br />

Os planos de aula reuniram atividades em que não só procurei ensinar música aos<br />

alunos, como também ensinar a ensinar tais conteúdos. Um ponto positivo do trabalho foi a<br />

introdução de conteúdos de forma intuitiva, ou seja, chegando-se à teoria a partir da prática –<br />

a metodologia da “sensibilização musical”. Absolutamente todos os conceitos trabalhados<br />

foram comentados e discutidos a partir das atividades musicais, e apenas depois nomeados<br />

teoricamente.<br />

Optei por insistir na expressão corporal e vocal, incluindo nas aulas repertório de<br />

conhecimento pessoal dos alunos, principalmente cantigas de roda que remetiam à sua<br />

infância, por acreditar que teriam mais segurança ao trabalhar com repertório conhecido.<br />

Ainda assim, procurei enfatizar a importância de uma pesquisa constante por novos<br />

repertórios; mas as canções de domínio público pareceram ser um bom ponto de partida.<br />

Alguns conteúdos foram modificados ou inseridos nos planos de aula ao longo da<br />

prática, de acordo com questionamentos e demanda dos próprios alunos. A prática levou em<br />

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conta atividades de apreciação ativa, fazer musical (a parte que é deixada um pouco de lado<br />

nas atividades normais da disciplina) e reflexão sobre estas duas para se chegar à teoria, de<br />

forma a contemplar a chamada “proposta triangular” de trabalho com Arte. Isso garantiu certa<br />

coerência estrutural ao trabalho.<br />

Como exemplo de conteúdo inserido oportunamente, destaco a noção de pulso, que<br />

acabou permeando boa parte das atividades musicais desempenhadas pelos alunos, e também<br />

foi um conceito apresentado a partir da prática. Outro tópico solicitado pelos alunos foi a<br />

construção de instrumentos com materiais alternativos, que acabou originando um trabalho<br />

avaliativo.<br />

A notação musical não foi a ênfase do trabalho, mas houve a necessidade de se<br />

registrar as atividades de forma não-convencional (utilizando materiais alternativos como<br />

cartolinas e gráficos). Um ponto de grande interesse dos alunos foi minha escolha por gravar<br />

todas as canções em sala de aula. Isso possibilitou a confecção de um CD que foi<br />

posteriormente entregue a todos, e auxiliou no cumprimento de uma expectativa registrada<br />

nos questionários aplicados aos alunos antes da prática: a aquisição de repertório.<br />

A avaliação foi além da simples participação em aula: em três trabalhos, solicitei aos<br />

alunos que pesquisassem repertórios, criassem estratégias de aplicação de conteúdos musicais<br />

aprendidos nas aulas através de atividades lúdicas, e construíssem instrumentos também com<br />

objetivos musicais e pedagógicos, além de estéticos. Com estes trabalhos procurei estimular a<br />

criação de atividades de aplicação de conteúdos da disciplina de forma ativa, não se<br />

resumindo à escrita de planos de aula, prática comum nos outros bimestres.<br />

Experimentar fazer música acabou abrindo precedente para o ensino de conteúdos<br />

musicais básicos, que não só foram interessantes para os alunos em sua vida acadêmica, mas<br />

também para sua formação docente, porque a variedade de atividades que foram apresentadas<br />

para trabalhar esses conteúdos poderá abrir caminho para a construção de planos de aula mais<br />

criativos.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BRASIL. Lei n. 11.769, de 18 de agosto de 2008a. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro<br />

de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino<br />

da música na educação básica. Diário Oficial da União, Brasília, 19 ago 2008. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

08 jun. 2009.<br />

BRASIL. Mensagem nº 622, de 18 de agosto de 2008b. Mensagem de veto parcial, por<br />

contrariedade ao interesse público, ao Parágrafo único do Art. 2º do Projeto de Lei no 2.732,<br />

de 2008 (no 330/06 no Senado Federal), que Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de<br />

1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da<br />

música na educação básica. Disponível em: . Acesso em: 08 jun. 2009.<br />

CORRÊA, Bianca C. “A educação infantil”. In: OLIVEIRA, Romualdo P.; ADRIÃO,<br />

Theresa (orgs). Organização do ensino no Brasil: níveis e modalidades na Constituição<br />

Federal e na LDB. 2. ed. São Paulo: Xamã, 2007. p. 13-30.<br />

FRANÇA, Cecília C.; SWANWICK, Keith. Composição, apreciação e performance na<br />

educação musical: teoria, pesquisa e prática. In: Em Pauta, Porto Alegre, v. 13, n. 21, dez.<br />

2002. p. 5-41. Disponível em: .<br />

Acesso em: 12 mar. 2011.<br />

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Projeto Político Pedagógico. Curitiba: Colégio<br />

Estadual Paulo Leminski, 2007.<br />

JOLY, Ilza. Educação e educação musical: conhecimentos para compreender a criança e suas<br />

relações com a música. In: HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana (orgs.). Ensino de<br />

música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p. 113-126.<br />

PALHEIROS, Graça Boal; WUYTACK, Jos. O lugar da audição na educação musical. In:<br />

Audição Musical Activa. Porto, Portugal: Associação Wuytack de Pedagogia Musical, 1995.<br />

p. 9-13.<br />

SCHAFER, R. M. Limpeza de ouvidos. In: O ouvido pensante. São Paulo: UNESP, 2001. p.<br />

67-118.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

A Música de Casa na Aula de Música: a proposta do projeto "Música para<br />

Bebês" da UEM<br />

Vânia Gizele Malagutti<br />

DMU – UEM<br />

vmalagutti@hotmail.com<br />

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar a proposta de aulas de música para<br />

crianças de zero a cinco anos realizada no projeto de extensão “Música para Bebês”, da<br />

Universidade Estadual de Maringá. Iniciado em 2009, tem por objetivo oportunizar a<br />

iniciação musical de crianças por meio de atividades de apreciação, criação e execução<br />

musical. A ação, além de promover o contato da Universidade com a comunidade, tem<br />

oportunizado a formação de professores reflexivos, já que procura refletir sobre metodologias<br />

e fundamentos do ensino de música para crianças. O projeto utiliza como referencial teórico<br />

autores como Souza (2000) e Delgado e Müller (2005), que consideram as crianças como<br />

“atores sociais plenos”, bem como autores que discutem o desenvolvimento musical infantil,<br />

como Ilari (2006) e Beyer (2003). Dessa forma, o curso conta com uma metodologia que<br />

procura entrelaçar duas propostas: o cotidiano e o cognitivo.<br />

Palavras chave: Educação musical, cotidiano, criança<br />

A universidade é uma instituição social e tem como principais tarefas “o<br />

desenvolvimento de conhecimentos, a educação e a cultura” (MARQUES, 2004, 114). Para<br />

tanto, constrói-se a partir de um tripé indissociável: o ensino, a pesquisa e a extensão<br />

(MARQUES, 2004). Dentro desse tripé, a extensão assume a função de oportunizar os<br />

conhecimentos produzidos na universidade à comunidade, e, segundo Penna (2006),<br />

oportuniza a formação de professores, uma vez que possibilita uma maior compreensão da<br />

realidade, bem como a solução de problemas nela encontradas (PENNA, 2006, p. 41).<br />

Com o objetivo de atender a essa prerrogativa, a Universidade Estadual de Maringá<br />

mantém, desde 2006, o projeto de Extensão “Educação Musical, Escola e Comunidade”. O<br />

projeto atua em frentes distintas e complementares, oferecendo aulas de música para a<br />

comunidade (alunos da educação básica, pessoas com deficiência visual e bebês),<br />

proporcionando cursos de formação continuada à professores da educação básica e<br />

configurando-se em um espaço de ações pedagógico-musicais para a formação do educador<br />

musical (FIALHO, 2009).<br />

Dentro da proposta de extensão, é oferecido à comunidade de Maringá o curso de<br />

“Música para Bebês”. O curso foi iniciado em 2009 atendendo crianças de zero a três anos e<br />

nesse ano, o projeto foi estendido a crianças de até cinco anos. As aulas têm como objetivo<br />

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estimular o fazer musical das crianças por meio do canto, movimento, criação, apreciação e<br />

execução musical.<br />

O projeto se justifica a partir de pesquisas como a de Ilari (2006), que considera que os<br />

benefícios da música para as crianças vão além do desenvolvimento cognitivo. A autora<br />

aponta que a música traz benefícios psicológicos, fisiológicos, culturais, auditivoeducacionais<br />

e estético-musicais (ILARI, 2006). Beyer e Braga (2006), afirmam que, no caso<br />

dos bebês, as experiências sonoras podem auxiliar o desenvolvimento da fala e do canto.<br />

Cerca de dezesseis crianças participam do projeto, e são divididas em três turmas, de<br />

acordo com a faixa etária. São aulas semanais, de aproximadamente 40 minutos, ministradas<br />

por acadêmicas do terceiro e quarto ano de licenciatura em música, que trabalham em duplas<br />

e com uma co-repetidora ao piano. Na turma de crianças de até dois anos, os pais ou<br />

responsáveis acompanham as atividades.<br />

Isso porque, entendemos que essa presença traz segurança às crianças, e, além disso,<br />

possibilitam que os pais também aprendam como estimular musicalmente seus filhos. Dessa<br />

forma, possibilita trocas de conhecimento e incentivo, que, de acordo com Bandura (1994)<br />

citado por Cavalcanti (2009), torna as experiências das crianças mais eficazes. Como relata<br />

uma mãe que participou do projeto no ano de 2009,<br />

ao compartilhar o que aconteceu na aula, ao querer cantar as músicas e<br />

mostrar o que aprendeu temos um momento só nosso, de troca de<br />

olhares, toque, elogios e incentivo, ampliando nosso vínculo de mãe e<br />

filha (MALAGUTTI; GÓES, 2009, p. 6)<br />

As bases metodológicas do projeto consideram as crianças como “atores sociais<br />

plenos” (DELGADO; MÜLLER, 2005, p. 352). Sem a idéia do “reducionismo biológico,<br />

substituído pelo reducionismo sociológico” (PROUT, 2004, citado por DELGADO E<br />

MÜLLER, 2005, p. 1-2), procuramos uma interdisciplinaridade entre as áreas. Dessa forma,<br />

as aulas estão fundamentadas dentro de uma linha da sociologia que é ouvir o cotidiano e<br />

estar atento a ele. Isso possibilita que as aulas sejam planejadas levando em consideração,<br />

além das especificidades de cada faixa etária (ILARI, 2006; BEYER, 2003), também as<br />

preferências musicais das crianças e suas vivências musicais fora das aulas de música<br />

(SOUZA, 2000).<br />

Após dois anos de projeto, nesse ano surgiram diversos questionamentos sobre a<br />

forma de planejar as aulas. Isso foi muito significativo pois, como corrobora Souza (2003, p.<br />

48), “toda prática educativa tem como condição básica ser reflexiva, porque é saindo da<br />

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prática, indo para a reflexão e voltando para a prática que o professor fortalece a sua ação,<br />

renova sua competência e ganha mais segurança”.<br />

A partir de discussões e reflexões, optamos por não utilizar uma estrutura préestabelecida<br />

para as atividades, como acontecia nos anos anteriores. De acordo com as<br />

ministrantes de 2009, a metodologia consistia em uma rotina<br />

Essa rotina foi dividida em partes que se realizavam na seguinte<br />

seqüência: canto de entrada; expressão corporal; movimento com<br />

locomoção; movimento sem locomoção; percussão corporal;<br />

socialização; execução instrumental; relaxamento e hora da despedida.<br />

Dentre essas partes, foram inseridas criações e apreciações musicais<br />

(MALAGUTTI e GÓES, 2009, p. 7).<br />

Essa metodologia é decorrente dos estudos de educadoras como Feres (1998) e Beyer<br />

(2003). Decidimos por deixar como rotina apenas o “canto de entrada e a hora da despedida”,<br />

possibilitando uma maior flexibilidade para adptar as atividades a cada turma e a cada<br />

professor. Russell (2005), a partir da análise de uma aula de música para crianças com uma<br />

proposta semelhante a nossa, fala sobre a função desses itens em uma aula de música<br />

A introdução teve um valor social e musical, pois assinalou o início da<br />

aula e ajudou as crianças a ajustarem-se rapidamente às tarefas da aula<br />

de música. No decorrer da seção de conteúdo básico as crianças<br />

vivenciaram conceitos e habilidades musicais. O encerramento<br />

marcou o final da aula e também teve uma função social (RUSSELL,<br />

2005, p. 84).<br />

Deixando como rotina apenas o canto de entrada e a hora da despedida, optamos por<br />

construir as aulas a partir de temas. Com um tema escolhido, criaram-se histórias para serem<br />

contadas durante as aulas, para que, por meio da narrativa, as atividades musicais sejam<br />

ligadas, um “senso de Gestalt ou totalidade”, evitando a fragmentação das atividades<br />

(RUSSEL, 2006, p. 83). O primeiro tema escolhido foi “carrinhos e bonecas”, para ser<br />

trabalhado durante quatro aulas e os objetivos estabelecidos foram a exploração de sons,<br />

percepção, execução, apreciação e criação musical. Dessa forma, a aula é realizada de<br />

maneira contínua, trazendo<br />

Os planejamentos também são flexíveis no sentido de levar em consideração o<br />

interesse demonstrado pelas crianças, possibilitando explorar ao máximo as vivências que as<br />

mesmas trazem para as aulas de música. Nosso objetivo é que, a partir das aulas de música, as<br />

crianças estabeleçam um vínculo com seu cotidiano, e promovam trocas entre a vivência<br />

musical em casa e as aulas de música no projeto. Para tanto, são utilizados materiais<br />

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diversificados, desde instrumentos musicais a sacolas plásticas, e, freqüentemente, é<br />

solicitado aos pais que tragam materiais do cotidiano das crianças, como seus brinquedos ou<br />

objetos, oportunizando a exploração de materiais em casa, juntamente com os pais.<br />

Segundo Souza (2000), “ao tentar se aproximar do “mundo vivido”, o interesse da aula<br />

de música não está nas atividades padronizadas, mas sim, nas experiências musicais que os<br />

alunos realizam diariamente fora da escola”. (SOUZA, 2000, p. 40). Para a aproximação entre<br />

o cotidiano das crianças e a aula de música, foram realizadas entrevistas com os pais para<br />

investigar quais as músicas que os bebês gostam de ouvir e como é a vivência musical da<br />

família. Esse procedimento de investigar o ambiente musical das crianças em cursos para<br />

bebês também é verificado em trabalhos como de Broock (2008) e Beyer (2009). Para Beyer<br />

(2009), esse diagnóstico traz reflexões acerca da forma como planejar aulas para bebês e<br />

questionamentos acerca de qual repertório abordar nas aulas.<br />

Considerando que é nossa a primeira experiência com aulas de música para crianças<br />

com esse formato, ainda há muitas dúvidas e reflexões. Cada aula aplicada é refletida e<br />

discutida para que possamos fazer aulas prazerosas e produtivas no que diz respeito ao<br />

aprendizado musical dos alunos. Como afirma Parizzi (2006), a educação musical “deve<br />

procurar enfatizar a estimulação da criança através de experiências musicais plenas e<br />

prazerosas, capazes de motivá-la a levar adiante seu entusiasmo e alegria com relação à<br />

música” (PARIZZI, p.47, 2006).<br />

O projeto também tem sido um importante espaço para a formação de professores<br />

reflexivos. A partir das reflexões de metodologias e mudanças na forma de planejar e<br />

conduzir as aulas pretendemos a formação de professores que não sejam repetidores de ações<br />

pedagógicas, mas que reflitam, questionem e experimentem novas formas de trabalhar<br />

objetivando a qualidade de ensino. Como Libâneo (2002) recomenda, é na reflexão sobre a<br />

sua prática que o professor adota teorias que se configuram como um marco para as melhorias<br />

das práticas de ensino e avaliação dos resultados.<br />

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Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BEYER, Esther. A interação musical nos bebês: algumas concepções. Educação: Revista do<br />

centro de educação. Santa Maria: v. 28, n. 2, p. 87 – 97, 2003.<br />

______. Diversidade e preferências musicais dos bebês. Revista de Educação Musical:<br />

Espaços e Contextos. Universidade Federal de São Carlos – UAB. Ano 1 – 2009. V.1. Junho,<br />

2009. P. 1 – 5. Disponível em: . Acesso em: abr.<br />

2011.<br />

BEYER, Esther; BRAGA, Cláudia. Contornos melódicos do canto e da fala em bebês de 12 a<br />

24 meses. In: ENCONTRO NACIONAL DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 1, 2006.<br />

Curitiba, Anais... Curitiba: 2006. p. 100-105<br />

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e Sociedade. São Paulo: Cortez; Campinas, vol. 26, n. 91. p. 351-360, Maio/Ago. 2005<br />

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e da extensão. In: Revista Expressão. Mossoró: 2004. n 35; p.113-120<br />

351


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

PARIZZI, Maria Betânia. O canto espontâneo da criança de zero a seis anos: dos balbucios às<br />

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SOUZA, Jusamara (Org.). Música, Cotidiano e Educação. Porto Alegre: PPG – Música<br />

UFRGS, 2000.<br />

352


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Trabalhando Interdisciplinarmente o Sentido da Audição: música e ciências<br />

na educação infantil<br />

Vitor H. R. Manzke<br />

vitormanzke@gmail.com<br />

Isabel B. Hirsch<br />

isabelhirsch@ymail.com<br />

Joséti R. Manzke<br />

josetimanzke@gmail.com<br />

Vitor H. B. Manzke<br />

vimanzke@gmail.com<br />

Resumo: Este trabalho é um relato de experiência que integra parte do curso de Formação<br />

Continuada ministrado aos professores de educação infantil da rede pública de ensino da<br />

região sul do Estado do Rio Grande do Sul. O curso é desenvolvido no âmbito da Rede<br />

Regional de Ciências promovida pelo NECIM – Núcleo de Estudos em Ciências e<br />

Matemáticas – do Campus Pelotas Visconde da Graça – CAVG/IFSul, localizado no<br />

município de Pelotas – RS. Teve por objetivo subsidiar os professores da educação infantil<br />

com metodologias alternativas para o desenvolvimento do tema “sentido da audição”. Além<br />

disso, compreender os parâmetros do som; estimular a percepção auditiva por meio de<br />

atividades musicais, criando estratégias para o desenvolvimento da percepção auditiva em<br />

sala de aula. As atividades foram desenvolvidas durante uma tarde com professores da rede de<br />

ensino público pertencentes à área de abrangência da Rede Regional. Dada a especificidade<br />

do trabalho com professores não especialistas em música, consideramos que os resultados<br />

foram satisfatórios dentro da proposta do Núcleo, que é refletir sobre as diferentes formas de<br />

trabalhar as ciências da natureza e a matemática de forma interdisciplinar utilizando-se dos<br />

mais diversos conteúdos em cada etapa da educação infantil.<br />

Palavras chave: Educação infantil, interdisciplinaridade, música, formação de professores<br />

Introdução<br />

Muitos são os trabalhos que têm focado o professor não-especialista em música, como,<br />

por exemplo, Bellochio (2002, 2007, 2008, entre outros), Figueiredo (2003, 2004, 2007, entre<br />

outros) e Pacheco (2007). Mesmo que cada autor dê um enfoque diferente em seus contextos,<br />

os textos revelam a necessidade que os professores dos cursos de pedagogia têm de uma<br />

formação inicial e continuada em música para atender uma demanda que, cada vez mais, está<br />

sendo solicitada. Pacheco, 2007 afirma que,<br />

A área de Educação Musical vem assumindo um grau de importância nas<br />

discussões referentes à formação de professores e a relevância da Educação<br />

353


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Musical nas práticas escolares das crianças das Séries Iniciais e Educação<br />

Infantil (PACHECO, 2007, p.89).<br />

Com a instituição da obrigatoriedade da música como conteúdo do componente<br />

curricular da educação básica, homologada pela Lei nº 11.769/08, o professor unidocente tem<br />

um papel preponderante para que a educação musical seja desenvolvida nas escolas. De<br />

acordo com Figueiredo (2004),<br />

Professores especialistas (em música) e generalistas (unidocentes) poderiam<br />

ser preparados para entender a escola nas suas múltiplas perspectivas. Um<br />

profissional não substituirá o outro. É preciso que se busquem mais ações<br />

que propiciem o desenvolvimento de uma escola integrada, interdisciplinar,<br />

onde cada profissional desempenha um papel único e relevante na formação<br />

escolar (FIGUEIREDO, 2004, p.60).<br />

Embora não seja proposta de trabalho do NECIM atuar com a educação musical, o<br />

convite para ministrar uma oficina de percepção auditiva para integrar o curso de formação<br />

continuada com professores da educação infantil vai ao encontro do pensamento destes<br />

autores.<br />

As ciências em muitos casos são vistas como única e de maior importância entre “as<br />

ciências”. Entretanto, um olhar mais holístico sobre o tema por certo levará a uma discussão<br />

mais ampla sobre as diversas formas de ver uma determinada realidade. O aluno em sua<br />

individualidade deve ter a possibilidade de interpretar o conteúdo da maneira que mais lhe<br />

interessar. A interação entre este, o aluno, e o seu cotidiano, por certo, lhe mostrará vários<br />

caminhos para alcançar o objetivo traçado pelo professor.<br />

Formação continuada com os professores de educação infantil<br />

Sou acadêmico do Curso de Música – modalidade Licenciatura da Universidade<br />

Federal de Pelotas – UFPel e este relato, especificamente, contempla o trabalho desenvolvido<br />

com os professores da educação infantil da rede municipal da cidade do Capão do Leão-RS e<br />

São Lourenço do Sul minha participação no curso foi realizada na sede do NECIM/CAVG/IF-<br />

Sul no dia 02 de março de 2011. Nenhum dos professores participantes possuía algum tipo de<br />

formação musical.<br />

A proposta inicial do curso de formação continuada em Ciências é instigar os<br />

participantes refletirem sobre as diferentes formas que temos de trabalhar os mais diversos<br />

conteúdos específicos referentes às atividades desenvolvidas em cada etapa da educação<br />

354


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

infantil, buscando assim, formas alternativas de trabalhar temas tradicionais, desde a forma de<br />

abordar cada tema até a escolha dos materiais didáticos a serem utilizados.<br />

Pensei em como trabalhar música e ciências de uma forma interdisciplinar. De acordo<br />

com Jupiassu,1976 interdisciplinaridade é, também, uma prática coletiva, onde se faz um<br />

diálogo com outras disciplinas reconhecendo a necessidade de aprender com outras áreas do<br />

conhecimento (JAPIASSU, 1976, p. 82).<br />

Parte do conteúdo do Curso de Formação Continuada em Ciências para os professores<br />

de educação infantil é trabalhar os cinco sentidos, e, fui convidado a desenvolver atividades<br />

voltadas para o sentido da audição. Foi a primeira vez em que a música integrou o programa,<br />

interdisciplinarmente, e, como forma de projeto piloto, foram desenvolvidas atividades<br />

musicais, mais especificamente, com a percepção auditiva.<br />

De acordo com a proposta do curso, organizei o conteúdo e a forma de como deveria<br />

ser trabalhado de modo que as professoras participantes pudessem vivenciar as atividades<br />

para que, posteriormente, viessem a desenvolvê-las em sala de aula com as crianças. Neste<br />

relato, descreverei, além dos passos iniciais da oficina, duas das seis dinâmicas trabalhadas<br />

com os alunos.<br />

Primeiramente, de uma forma bastante simples, trabalhei os conceitos de som e dos<br />

parâmetros do som, conforme Med 1996, já que nenhum dos professores tinha qualquer<br />

conhecimento musical. Desta forma, para eles, ficou mais fácil de entender qual era minha<br />

proposta de trabalho.<br />

Após esta introdução com a apresentação breve dos conceitos, passei para a primeira<br />

parte prática da proposta de trabalho, que foi a confecção de um chocalho. Optei por construir<br />

este instrumento, não só em função de sua simplicidade de confecção e manuseio, mas<br />

também porque apesar de ser um instrumento relativamente simples, proporciona diversas<br />

formas de aplicabilidade em atividades lúdicas e é feito de material alternativo, sendo fácil de<br />

encontrar. Segundo Pacheco 2007,<br />

O trabalho com materiais alternativos propõe para os seus participantes uma<br />

atuação que implica um exercício de pesquisa e de criatividade. Tocar, fazer<br />

música com material alternativo exige que se procure, que se investigue,<br />

buscando possibilidades sonoras (PACHECO, 2007, p.92).<br />

Para a confecção do chocalho, utilizamos garrafas PET, sendo o tamanho de cada<br />

garrafa escolhido por cada aluno, e porções de areia e pó de brita. Normalmente trabalha-se<br />

com grãos, porém, optei por trabalhar com areia e pó de brita pela função educativa de não<br />

trabalhar com alimentos.<br />

355


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Cada aluno confeccionou dois chocalhos, sendo um com garrafa e areia e o outro com<br />

garrafa e pó de brita. Após cada aluno confeccionar seus dois chocalhos, iniciei a proposição<br />

de atividades a seres trabalhadas com o a utilização do instrumento confeccionado. A primeira<br />

atividade proposta foi à diferenciação dos parâmetros timbre, altura, intensidade e duração.<br />

Para isso, solicitei aos participantes que, por sua conta, descobrissem as mais variadas<br />

formas de produção de sons possíveis com os dois chocalhos e, que, junto com essas<br />

possibilidades, fossem se familiarizando com os sons que cada forma de manuseio produzia.<br />

Após alguns minutos de livre utilização do chocalho, propus uma atividade que<br />

chamei de Fantoches Musicais. Esta atividade consiste em criar uma história com duração de<br />

30 segundos, com tema de livre escolha, utilizando os chocalhos como fantoches. Para esta<br />

atividade separei o grande grupo em duplas, e, foi dado de 10 a 15 minutos com o intuito de<br />

que criassem e ensaiassem a história. Em cada história, além do enredo criado, deveriam ser<br />

utilizados todos os parâmetros do som trabalhados.<br />

Ao término do tempo dado para a criação e ensaio, cada dupla apresentou o seu<br />

trabalho ao grande grupo. Embora tenha sido proposto que fosse uma história criada por cada<br />

dupla, duas das duplas não se sentiram em condições de criar e solicitaram então que<br />

representassem histórias clássicas infantis, já que durante nossa apresentação da proposta de<br />

trabalho com os fantoches musicais, expus que o trabalho poderia ser iniciado com as crianças<br />

através das representações das fábulas já conhecidas por elas, inclusive com a caracterização<br />

de cada fantoche, até que as crianças se sentissem a vontade com a atividade para que então<br />

criassem suas próprias histórias.<br />

Após a apresentação de cada dupla, solicitei ao grande grupo que apontassem a<br />

utilização de cada um dos parâmetros do som que estavam presentes em cada uma das<br />

histórias apresentadas. É importante salientar que o grande grupo apontou não só os<br />

parâmetros presentes em cada uma das histórias apresentadas, mas também apontou, sem que<br />

fosse solicitado, os parâmetros que não foram apresentados, pois algumas duplas não<br />

utilizaram todos os parâmetros.<br />

Além disso, devo registrar que, talvez pela preocupação em utilizar os parâmetros do<br />

som, todas as duplas deixaram bem marcados os momentos em que elas tinham consciência<br />

que estavam usando algum parâmetro.<br />

A segunda dinâmica proposta, chamada de Memória Auditiva, trata de um jogo onde<br />

os alunos são chamados individualmente frente ao grande grupo, posicionam-se junto à mesa<br />

onde existem dois chocalhos construídos da mesma forma, porém com materiais diferentes.<br />

356


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Nesta atividade os dois eram de garrafas PET de 500 ml, porém, um continha em seu interior<br />

areia e o outro continha pó de brita. Por serem de materiais diferentes, o resultado sonoro de<br />

seu manuseio também era distinto. Tendo em vista essa diferença, a cada aluno que era<br />

chamado, era dado até um minuto para que se familiarizasse com as possíveis sonoridades<br />

emitidas por cada um dos chocalhos. Após este minuto, solicitava ao aluno que se voltasse de<br />

costas para os chocalhos e de frente para o restante da turma, e a cada som emitido, o aluno<br />

deveria dizer qual chocalho foi utilizado para aquele resultado sonoro. Cada chocalho foi<br />

utilizado para produzir sons no mínimo de três formas diferentes, e cada forma era repetida no<br />

máximo três vezes. Foi possível fazer com que todos os alunos passassem por essa<br />

experiência, e por se tratar de um grupo pequeno, podemos fazer com que os alunos<br />

tomassem a posição de professor e manuseassem os chocalhos para que os colegas de curso<br />

concluíssem de qual dos dois chocalhos estava sendo produzido o som.<br />

Conclusão<br />

Após esta primeira investida, ainda que se tratando de um “experiência piloto”,<br />

percebi que mais do que possível, é necessário que todas as ciências, que teimam em sustentar<br />

suas unanimidades e individualismos, unam-se em prol dos alunos. Pois como já tratamos<br />

acima, o objetivo que devemos atingir enquanto educadores não devem depender de uma<br />

única e exclusiva forma de ensino-aprendisagem, devemos ofertar aos alunos os mais diversos<br />

meios, para que então ele escolha a forma mais confortável e de fácil assimilação para<br />

chegarmos juntos aos objetivos traçados. E uma das formas que acredito seja adequada a este<br />

formato de ensino-aprendisagem, é a interdisciplinaridade, pois através da união dos<br />

conhecimentos específicos de cada área, neste caso de música e ciências, foi possível<br />

trabalhar o sentido da audição não só enquanto teoria dos cinco sentidos, mas principalmente<br />

como forma de dar subsídios às professoras da educação infantil afim de que trabalhem em<br />

sala de aula o estímulo a percepção auditiva.<br />

357


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BELLOCHIO, C. R. A formação musical de professores da infância no ensino superior:<br />

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FIGUEIREDO, S. L. F. de. A pesquisa sobre a prática musical de professores generalistas no<br />

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 12., 2003, Florianópolis.<br />

Anais... Porto Alegre: ABEM, 2003. Disponível em CD-ROM.<br />

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.<br />

MED, Bohumil. Teoria da música. Brasília: MusiMed, 1996.<br />

358


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Classe Hospitalar HUPES: educação musical em ambiente hospitalar<br />

Luciano Medeiros de Moraes<br />

Universidade Federal da Bahia<br />

lucianosilva.moraes@bol.com.br<br />

Resumo: A educação musical com crianças e adolescentes em ambiente hospitalar tem como<br />

objetivo essencial, proporcionar aos alunos-pacientes o contato com o universo sonoro através<br />

das percepções auditiva, visual e tátil. Fazê-los reproduzir os sons com o corpo e ter contato<br />

com os instrumentos musicais, observando-se a maneira como se expressam individualmente<br />

e coletivamente pela música. Contribuir à promoção do desenvolvimento cognitivo e psíquico<br />

desses pacientes hospitalizados e/ou portadores de doenças crônicas, afastadas das rotinas<br />

acadêmicas de ensino-aprendizagem, sendo possível, ainda, o uso da música como uma<br />

ferramenta terapêutica que controla a ansiedade e o estresse.<br />

Palavras chave: Classe hospitalar; educação musical; terapia musical; aluno-paciente<br />

FIGURA 1 1 - Acervo do Autor FIGURA 2<br />

A Classe Hospitalar é uma modalidade de atendimento escolar prestada às crianças e<br />

adolescentes internados em hospitais. É oficialmente reconhecida pelo MEC e estimulada<br />

pelas políticas de humanização do SUS. Existem aproximadamente treze Classes Hospitalares<br />

na cidade do Salvador, mas nem todas possuem professor de música especializado na área. No<br />

Hospital das Clínicas a educação musical já está presente há dois anos.<br />

Os alunos da UFBA, bolsistas do PROAE - Programa Permanecer, são beneficiados<br />

em seus currículos pela proposta da Educação Musical em Classe Hospitalar. Aos<br />

alunos/professores é dada a oportunidade de compreender a docência como um exercício<br />

desafiador de flexibilidade de métodos e técnicas pedagógicas que caracterizam o ambiente<br />

no qual estão inseridos.<br />

1 Fig.1 e 2 - O professor orienta sobre as particularidades de cada instrumento musical, escolhe um ritmo e uma<br />

canção para ser executada junto com os alunos. Nesse contexto, o papel da música é atuar como uma ferramenta<br />

que educa, diverte e possibilita de modo terapêutico a melhora da saúde física e mental dos alunos-pacientes.<br />

359


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

O trabalho didático de escolarização no Hospital das Clínicas (HUPES) com crianças<br />

internadas tem de ser bastante adaptado, por isso o professor de uma classe hospitalar deve<br />

interar-se de tudo um pouco: de jogos recreativos; de música, de artes plásticas; de contação<br />

de histórias, de dramatizações, de material audiovisual, de brinquedos educativos, da internet,<br />

de jogos eletrônicos, de passeios, de muito recurso lúdico e de tudo mais que sua criatividade<br />

e flexibilidade sugerirem.<br />

Nesse contexto e de acordo com as referências curriculares da educação brasileira, a<br />

musicalização infantil torna-se obrigatória, possibilitando de maneira privilegiada uma<br />

atuação como área do conhecimento que desenvolve o psíquico e o cognitivo. A música<br />

também age de modo terapêutico, na medida em que diminui o estresse ocasionado pela<br />

condição de hospitalização.<br />

FIGURA 3 2 FIGURA 4<br />

A vivência musical em ambiente hospitalar torna-se imprescindível, na medida em que<br />

esta possibilita a inserção de momentos de entretenimento, ludicidade e descontração, em<br />

busca de melhorar e amenizar sensivelmente as condições físicas e psíquicas do alunopaciente.<br />

A intenção é ainda fazer a música atuar como “antídoto” de efeito positivo e<br />

terapêutico que reverbera na saúde do corpo e do espírito, considerando-se, também, que cada<br />

elemento que constitui a música possa está despertando de maneira particular ou generalizada<br />

sob o indivíduo, desenvolvendo, portanto, sua psicomotricidade, sensibilidade e/ou cognição.<br />

A aprendizagem musical é garantida oportunamente com exercícios e atividades<br />

pedagógicas adequadas à realidade do ambiente hospitalar, levando-se em consideração a<br />

condição de cada paciente e sua enfermidade. O nosso intuito é também promover o bem-<br />

2 Fig. 3 e 4 - A música como objeto de integração social, realizando o encontro com o próximo, fortalecendo os<br />

laços de amizade e afetividade.<br />

360


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

estar do paciente, diminuir o estresse e a ansiedade, buscando aliviar a dor e<br />

consequentemente fazê-lo reagir aos estímulos causados pela música.<br />

Práticas pedagógicas que possibilitem a expressão individual e coletiva devem ser<br />

estimuladas como: a percepção dos sons ao nosso redor, o ritmo do corpo coordenado, a<br />

interpretação musical, o contato com os instrumentos musicais e a audição de repertório<br />

variado. O papel do professor é reinventar maneiras de ensinar a música, observando as<br />

reações comportamentais dos alunos-pacientes através dos exercícios propostos.<br />

FIGURA 5 3<br />

Nesse contexto, o papel responsável do professor enquanto agente transmissor e<br />

transformador é o de ter a capacidade de enxergar no outro as possibilidades de sempre<br />

assimilar algo. Aprender primordialmente é entender que aquilo existe saber fazer e entender<br />

será num outro momento. Por isso, a música existe, deve-se agora despertar o interesse em<br />

conhecê-la, saber da dimensão dela e da sua influência em nossos comportamentos, deixá-la<br />

tocar no corpo e no espírito - envolvendo nossos pensamentos e sentimentos - fluindo por<br />

vibrações sonoras revitalizantes.<br />

3 Fig. 5 - A música tem a capacidade de adentrar ambientes nem sempre convencionais, entretanto torna-se<br />

necessária a sua presença para alimentar nossas esperanças.<br />

361


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ALVIM, Neide; BERGOLD, Leila; Cabral, Ivone. O lugar da música no espaço do cuidado<br />

terapêutico: sensibilizando enfermeiros com a dinâmica musical. Texto e Contexto Enferm.<br />

Florianópolis, 2006. p. 262-269.<br />

CARMO, Rosângela; CUNHA, Eudes. Educação musical em ambiente hospitalar: uma<br />

experiência no município de Salvador. IX Encontro Regional da ABEM Nordeste. Anais...<br />

Junho/2010. Rio Grande do Norte.<br />

CARVALHO, Ana Maria; VALLADARES, Ana Claudia. A arteterapia e o desenvolvimento<br />

do comportamento no contexto da hospitalização. Revista Esc. de Enfermagem – USP. São<br />

Paulo, 2006. p.350-355, 2006.<br />

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MATOS, Elizete. Escolarização hospitalar: educação e saúde de mãos dadas para humanizar.<br />

Rio de Janeiro. Petrópolis, 2003.<br />

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RUUD, Even. Caminhos da musicoterapia. Tradução Vera Wrobel. São Paulo: Summus,<br />

1990.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina<br />

Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

362


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Musicalização Infantil da UFPB: primeiros passos<br />

Andréa Matias Queiroz<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

vlnandrea@yahoo.com.br<br />

Samara Rodrigues de Oliveira<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

Rodrigues.samara84@gmail.com<br />

Caroline Brendel Pacheco<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

carolbrendel@gmail.com<br />

Resumo: Este artigo trata-se de um relato de experiência que tem como objetivo além de<br />

promover uma breve reflexão acerca da musicalização infantil, descrever a experiência do<br />

ensino de música para crianças de zero a seis anos promovido pelo do Grupo de Estudos de<br />

Educação Musical Infantil da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. A primeira parte<br />

deste trabalho traz um relato das aulas. Posteriormente são apresentadas algumas discussões<br />

acerca da literatura referente a musicalização infantil e, por fim, serão apontados os próximos<br />

passos da musicalização infantil na cidade de João Pessoa – PB, bem como as suas<br />

implicações para a educação musical.<br />

Palavras chave: Musicalização infantil, desenvolvimento infantil, musicalização na UFPB<br />

Introdução<br />

O presente trabalho aborda a nossa experiência no Grupo de Estudos de Educação<br />

Musical Infantil da Universidade Federal da Paraíba, que teve início no ano de 2010 sob a<br />

coordenação da professora Ms. Caroline Pacheco. Trazemos aqui, além da reflexão sobre<br />

nossas experiências no decorrer das aulas, uma breve discussão acerca do ensino de música<br />

para crianças de zero a seis anos de idade.<br />

Refletir acerca da importância do ensino de música para as crianças é de suma<br />

importância, pois como apontam alguns estudos existentes na área (FREIRE; PRESTES;<br />

PORTO, 2007; PARIZZI, 2006; GONÇALVES, 2004; FERREIRA, 2010; ILARI, 2009) as<br />

crianças possuem um grande potencial para desenvolver musicalmente, que deve ser<br />

estimulado desde cedo, beneficiando também o desenvolvimento geral da criança. Nesse<br />

sentido, Freire, Prestes e Porto (2007) explicam que,<br />

A musicalização tem como objetivos oferecer a crianças de zero a cinco anos<br />

e suas famílias uma experiência musical significativa que sirva como<br />

elemento enriquecedor para o desenvolvimento da criança. Os aspectos<br />

afetivo, social, psicomotor e cognitivo são valorizados como os alicerces do<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

processo de construção do conhecimento musical (FREIRE; PRESTES;<br />

PORTO, 2007, p. 04).<br />

Deste modo, as aulas oferecidas para as crianças na Musicalização Infantil da UFPB<br />

buscaram proporcionar uma vivência musical bastante rica e proveitosa não só para as<br />

crianças da comunidade, mas igualmente aos seus pais e/ou cuidadores que também<br />

participaram das atividades.<br />

A seguir apresentamos um relato das atividades e do contexto em que aconteceram as<br />

primeiras aulas de musicalização infantil, uma breve reflexão acerca de alguns estudos<br />

realizados a musicalização e as crianças pequenas, e posteriormente, as implicações para a<br />

educação musical, especialmente no contexto da cidade de João Pessoa/ PB.<br />

As Aulas de Musicalização Infantil<br />

A proposta de dar aulas de música para crianças surgiu da necessidade de se criar um<br />

ambiente que abordasse a musicalização para crianças de zero a seis anos, tendo em vista que<br />

as escolas de música da cidade de João Pessoa oferecem aulas apenas para crianças a partir<br />

dos sete anos.<br />

O projeto de Musicalização Infantil da UFPB teve início, no ano de 2010, como um<br />

grupo de estudo coordenado por uma professora especialista na área e constituído por alunos<br />

do curso de Licenciatura em Música da UFPB, uma professora de música da rede básica de<br />

ensino da cidade João Pessoa e colaboradores.<br />

Nos encontros semanais efetuados pelo grupo eram realizadas diversas leituras,<br />

reflexões, discussões e também atividades práticas sempre direcionadas à educação musical<br />

infantil. Além dos encontros semanais, o grupo realizou quatro aulas abertas de musicalização<br />

infantil para a comunidade. Essas aulas iniciais funcionaram como um meio de praticar<br />

nossos conhecimentos adquiridos durante os encontros semanais, além de beneficiar a<br />

comunidade com a socialização desses conhecimentos adquiridos.<br />

As duas primeiras aulas fizeram parte da programação da I Semana de Ciências,<br />

Tecnologia, Esporte, Arte e Cultura – SECITEAC, evento interno realizado anualmente na<br />

UFPB. Como as atividades programadas eram aulas abertas, não foi necessário realizar<br />

inscrições prévias. As crianças que chegavam eram divididas de acordo com a faixa etária e<br />

participaram de aulas com cerca de 40/50 minutos de duração.<br />

As atividades e canções eram diferenciadas para cada turma. Os bebês estavam<br />

acompanhados de seus pais ou cuidadores, pois, como explica Parizzi (2006), eles são<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

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fundamentais nesse processo de aprendizagem. Segundo a autora a forma como articulam<br />

com os filhos é um modelo de predisposição inconsciente, ou seja, ao se dirigir às crianças, os<br />

pais se comunicam de uma maneira diferenciada, utilizando distintos timbres, alturas,<br />

contornos melódicos, mudanças de intensidade e padrões rítmicos, que serão os primeiros<br />

estímulos musicais na vida delas. Já as crianças maiores participaram da roda de atividades<br />

sozinhas, mas sob o olhar atento dos pais e também de outras pessoas da comunidade que<br />

vieram para conhecer esta nova atividade, ainda pouco divulgada no estado da Paraíba.<br />

O Que a Literatura Nos Diz Sobre a Musicalização<br />

Alguns estudos da neurociência apontam para a infância como um período favorável<br />

para o desenvolvimento do cérebro (KOTULAK, 1997 apud ILARI, 2003; CARDOSO;<br />

SABATINI, 2000). Do nascimento aos 10 anos de idade, o cérebro da criança está em pleno<br />

desenvolvimento e apresenta as melhores condições de aprendizado (ILARI, 2003).<br />

Alguns autores (CARDOSO; SABATINI, 2000; ILARI, 2002; 2003; 2009) sugerem<br />

que a música pode ser um estímulo importante para o desenvolvimento cerebral da criança.<br />

Para isso, se faz necessário um ambiente bastante estimulante, onde a criança possa vir a ter<br />

um desenvolvimento satisfatório.<br />

A educação de crianças em um ambiente sensorialmente enriquecedor desde<br />

a mais tenra idade pode ter um impacto sobre suas capacidades cognitivas e<br />

de memória futuras. A presença de cor, música, sensações, [...] variedade de<br />

interação com colegas e parentes das mais variedades idades, exercícios<br />

corporais e mentais podem ser benéficos (desde que não sejam excessivos)<br />

(CARDOSO; SABBATINI, 2000).<br />

Antes mesmo de nascer, os bebês têm contato com diversos sons presentes no útero<br />

materno, como explica Soares (2008) “desde a vida intra-uterina, o bebê é cercado por um<br />

ambiente sonoro, convive tanto com ruídos externos quanto com os sons interiores causados<br />

pelo funcionamento do corpo da mãe e pela sua voz” (SOARES, 2008, p.80). Ilari (2003)<br />

acrescenta ainda que, após o nascimento,<br />

O hábito de cantar e dançar com bebês e crianças, presente em praticamente<br />

todas as culturas do mundo, auxilia no aprendizado musical, no<br />

desenvolvimento da afetividade e socialização, e também no progresso da<br />

aquisição da linguagem (ILARI, 2003, p. 14).<br />

Quando o bebê nasce, essa relação sonora se amplia. Os sons percebidos com<br />

limitadas ações motoras passam a ser reagidos. Eles também passam a responder aos<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

estímulos musicais por meio de movimentos corporais e de algum tipo de produção sonora.<br />

Em seu estudo sobre os balbucios musicais, Beyer (2005) explica que, “a exploração sonora<br />

do bebê contempla todos os parâmetros sonoros, mas que vai variar conforme o contexto<br />

sonoro-musical em que o bebê está inserido” (BEYER, 2005, p. 101).<br />

Deste modo, apesar de ainda haver quem pense no bebê apenas como um ouvinte<br />

passivo, as reflexões a respeito da musicalização para crianças já existentes na área, nos<br />

mostram que elas também são capazes de reagir e responder aos estímulos sonoros (ILARI,<br />

2002).<br />

O trabalho com os sons nesta idade é fundamental, pois a criança explora várias<br />

capacidades musicais, estimulando seu desenvolvimento musical e geral. Logo, a<br />

musicalização de crianças de zero a três anos tem o objetivo de trabalhar com a música<br />

desenvolvendo competências como ouvir, perceber, discernir e interagir com diferentes<br />

universos sonoros. Com as crianças de quatro a seis anos os objetivos a serem explorados são<br />

basicamente os mesmos, embora sejam trabalhados de forma mais aprofundada. Nesse<br />

sentido, Penna (2008) acrescenta que,<br />

Musicalizar é desenvolver os instrumentos de percepção necessários para<br />

que o indivíduo possa ser sensível à música, apreendê-la, recebendo o<br />

material sonoro/musical como significativo. Pois nada é significativo no<br />

vazio, mas apenas quando relacionado e articulado ao quadro das<br />

experiências acumuladas, quando compatível com os esquemas de percepção<br />

desenvolvidos (PENNA, 2008, p.31).<br />

Alguns estudos confirmam que a musicalização infantil é importante para a formação<br />

das crianças, pois ela desenvolve aspectos sociais, afetivos, psicomotores e cognitivos<br />

(ILARI, 2002; GONÇALVES, 2004; FERREIRA, 2010). Gonçalves (2004) ainda comenta<br />

que, “as atividades físicas realizadas nessa faixa etária resultam em maior domínio do corpo,<br />

desenvolvendo a força, a resistência, a flexibilidade, a destreza e a autonomia”<br />

(GONÇALVES, 2004, p. 34).<br />

Assim sendo, a prática musical nesta fase é essencial para o processo do<br />

desenvolvimento infantil, pois permite que as crianças experimentem e vivenciem a música,<br />

as atividades realizadas na musicalização infantil fazem com que elas passem a explorar e<br />

desenvolver o seu universo sonoro.<br />

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Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Implicações Para a Educação Musical: como seguiremos aqui em João<br />

Pessoa<br />

Os estudos e as atividades extensionistas ligadas a musicalização infantil vêm sendo<br />

desenvolvidos em algumas universidades do Brasil - como UFPR, UFBA, UNB, UFRGS,<br />

entre outras - mas, pelo que se tem notícia, ainda não existia nenhuma proposta semelhante no<br />

estado da Paraíba.<br />

Os motivos que levaram à criação do grupo de Musicalização Infantil da UFPB foram<br />

o interesse de seus participantes na área de educação musical infantil, assim como a ausência<br />

de projetos e/ou escolas que ofereçam atividades musicais para essa faixa etária na cidade de<br />

João Pessoa. Embora o ensino de música para crianças pequenas seja de fundamental<br />

importância para o desenvolvimento infantil, as principais escolas de música da cidade só<br />

oferecem musicalização para crianças a partir de sete anos de idade.<br />

Este trabalho teve como objetivo relatar a nossos primeiros passos com a<br />

musicalização infantil. Acreditamos que a iniciativa de realizar aulas abertas foi de grande<br />

importância, pois além de beneficiar as crianças da comunidade, nos deu a oportunidade de<br />

vivenciar o nosso aprendizado obtido ao longo dos encontros do Grupo de Estudos de<br />

Educação Musical Infantil. A partir dessa experiência, pudemos observar como as atividades<br />

acontecem realmente, pois é também na prática, com todas as particularidades existentes e até<br />

mesmo com a risada e o choro de cada criança, que vemos de fato, como é gratificante e<br />

proveitoso participar da atividade.<br />

Recentemente o nosso grupo tornou-se projeto de extensão universitária<br />

(FLUEX/PROBEX), com o propósito de ampliar a oferta de atividades de musicalização<br />

infantil para a comunidade pessoense e contribuir para a formação profissional dos alunos da<br />

UFPB. Como parte desse projeto, ofereceremos a partir do mês de agosto, aulas semanais de<br />

musicalização para as crianças de zero a seis anos de idade.<br />

Portanto, além de oferecer musicalização para bebês e crianças da nossa comunidade e<br />

colaborar para o desenvolvimento musical infantil, o projeto contribui como um laboratório<br />

para formação de educadores musicais especializados no atendimento à infância.<br />

367


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

BEYER, Esther. (Org.). O som e a criatividade: reflexões sobre experiências musicais. Santa<br />

Maria: Ed. UFSM, 2005.<br />

FERREIRA, Tânia Barbosa. Diálogo entre a pedagogia e a música. Aparecida de Goiânia,<br />

2010. Disponível em:<br />

. Acesso em 14<br />

jun.2011.<br />

FREIRE, Ricardo D. ; PRESTES, Clarisse; ROSA, Larissa. Aspectos da avaliação do<br />

desenvolvimento musical de crianças do nascimento aos 5 anos e seu impacto na família.<br />

Revista da ABEM, Campo Grande, 2007.<br />

GONÇALVES, Alessandra de Araújo. Psicomotricidade na educação infantil a influência do<br />

desenvolvimento psicomotor na Educação Infantil. Universidade Candido Mendes Pós-<br />

Graduação "Lato Sensu" Projeto Vez do Mestre Psicomotricidade, Rio de Janeiro, 2004.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso em: 14 jun.2011.<br />

ILARI, Beatriz Senoi. Música na infância e na adolescência: um livro para pais, professores e<br />

aficionados. Curitiba: Ibpex, 2009.<br />

______. Bebês também entendem de música: a percepção e a cognição musical no primeiro<br />

ano de vida. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 7, 83-90, set. 2002.<br />

______. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a<br />

educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 9, 7-16, set. 2003.<br />

PARIZZI, Maria Betânia. O canto espontâneo da criança de zero a seis anos: dos balbucios às<br />

canções transcendentes. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 15, 39-48, set. 2006.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu Ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.<br />

SOARES, Cíntia Vieira da Silva. Música na creche: possibilidades de musicalização de<br />

bebês. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 20, 79-88, set. 2008.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Música na Educação Infantil: um mapeamento das práticas pedagógicomusicais<br />

da rede municipal de ensino de Belo Horizonte<br />

Rosa Maria Ribeiro<br />

UFMG<br />

rosinha1963@gmail.com<br />

Resumo: Na observância da lei de inclusão da música no currículo das escolas do nosso país<br />

e com a conseqüente necessidade de se construir propostas de educação musical adequadas a<br />

realidade brasileira, torna-se imprescindível esclarecer a real situação do ensino da música na<br />

escola regular. Diante deste contexto, esta pesquisa visa mapear o ensino de música nas<br />

Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEI’s) da Rede Municipal de Educação da<br />

Prefeitura de Belo Horizonte/MG. Para isso, serão delineados os perfis dos professores que<br />

ministram atividades musicais nas UMEIs; será analisado o status da música utilizada como<br />

componente dos currículos escolares; serão identificados os tipos de atividades musicais<br />

desenvolvidas e os recursos disponíveis para a realização dessas atividades; serão levantadas<br />

as necessidades dos professores para desenvolver o ensino de musica na educação infantil. A<br />

metodologia utilizada é o survey, sendo que os dados serão coletados por meio de<br />

questionário junto aos professores das Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEI).<br />

Palavras chave: Educação musical, educação infantil, formação de professores<br />

Introdução<br />

Educadores musicais têm manifestado sua preocupação com a observância da Lei<br />

Diretrizes e Base da Educação Nacional nº 9394/96, da Lei nº 11.769/08 de inclusão da<br />

música no currículo das escolas do nosso país e com a construção significativa de uma<br />

educação musical adequada à realidade brasileira e às necessidades e características do aluno.<br />

Na LDBEN de 1996, a educação infantil, recebeu destaque inexistente nas legislações<br />

anteriores, sendo tratada como primeira etapa da educação básica, com finalidade de<br />

desenvolver de forma integral a criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico,<br />

psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.<br />

Em agosto de 2008, a Lei nº 11.769 veio acrescentar a obrigatoriedade do ensino de<br />

música na educação básica. Visando assegurar o cumprimento dessa Lei, a Fundação<br />

Nacional de Artes (Funarte) tem firmado parceria entre o Ministério da Cultura e o Ministério<br />

da Educação e está organizando encontros regionais com acadêmicos, especialistas,<br />

Secretarias de Educação e Associações de Estudos Musicais para realizar mapeamentos do<br />

ensino de Música nos estados brasileiros. 1<br />

1 Revista Nova Escola. Disponível em (http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/legislacao/musicasera-conteudo-obrigatorio-educacao-basica-541248.shtml)<br />

acessado no dia 27 de abril de 2010.<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

Conjuntamente, a Prefeitura de Belo Horizonte tem promovido reuniões com o intuito<br />

de discutir a política educacional expressa na rede de ensino, bem como examinar as possíveis<br />

marcas que revelem a postura da instituição diante da prática musical nas escolas e políticopedagógicas<br />

entre os docentes desde a sua obrigatoriedade. Nessa intenção, em 2009,<br />

elaborou-se um documento que apresenta as Proposição Curriculares para a Educação Infantil<br />

em que o ensino de música foi contemplado. Para efeito de organização didática, esse<br />

documento apresenta a Natureza, Sociedade e Cultura e o Brincar como eixos estruturadores<br />

em torno das quais as sete linguagens 2<br />

se desenvolvem e, estas não se apresentam<br />

fragmentadas nem isoladas, mas, na prática, se interligam e se complementam.<br />

Apesar da existência das Proposições Curriculares, a Rede Publica de Belo Horizonte<br />

não dispõe de dados mais abrangentes sobre a prática do ensino de música nos diferentes<br />

níveis da educação básica. Diante deste contexto, surgiram as seguintes questões para<br />

delineamento desta pesquisa: qual a real situação do ensino de música na Unidade Municipal<br />

de Educação Infantil (UMEI’s) de Belo Horizonte? Como a música está presente? Quais são<br />

as necessidades para desenvolver o ensino de música? As condições de trabalho são<br />

favoráveis? Os profissionais sentem-se capazes de atuar frente à realidade encontrada nas<br />

escolas? Os professores têm formação específica para lecionar esta área do conhecimento?<br />

Como capacitar os professores generalistas 3<br />

música?<br />

a atuarem de maneira eficaz no ensino de<br />

2 Linguagens: Artes plásticas visuais; Corporal; Digital; Escrita; Musical; Matemática e Oral)<br />

3 Com formação em curso Normal (Nível Médio) e/ou com nível superior em Pedagogia (Graduação)<br />

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II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

FIGURA 1 – UMEI BH / MG<br />

Justificativa<br />

É incontestável a influência da música no desenvolvimento da criança, confirmada por<br />

inúmeras pesquisas desenvolvidas em diferentes países e épocas, particularmente nas décadas<br />

finais do século XX e, principalmente, no Brasil no início do século XXI (CARNEIRO &<br />

PARIZZI, 2011; PARIZZI, 2010, 2009; CARNEIRO, 2006; BEYER, 2005, 2003a, 2001a,<br />

2001b; MARINO, 2005; FIGUEIREDO & SCHMIDT, 2005; ARROYO, 2004; DEL BEN,<br />

2003; BRITO, 2003; PENNA, 2002a; SOUZA ET AL, 2002; ARAUJO, 2001)<br />

Para implementar um retorno consciente e consistente do ensino de música, torna-se<br />

imprescindível o esclarecimento das questões relativas à real situação da escola regular na<br />

atualidade. Esse mapeamento é, pois, de grande interesse para diversas vertentes que<br />

discutem, analisam e pesquisam questões relativas à fundamentação para o ensino de música<br />

na educação infantil, formação do professor para esse segmento da educação básica, práticas<br />

pedagógicas e alternativas metodológicas adequadas para a atuação do profissional em<br />

consonância com a realidade social.<br />

FIGURA 2 – UMEI BH / MG<br />

Objetivos<br />

Geral<br />

Mapear a situação do ensino de música no contexto das Unidades Municipais de<br />

Educação Infantil (UMEI) da Rede Municipal de Educação da Prefeitura de Belo<br />

Horizonte/MG.<br />

371


Específicos<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

• Identificar quem são os professores que atuam na área, sua formação e suas<br />

demandas em relação à sua atuação;<br />

música.<br />

Metodologia<br />

• Analisar o status da música como componente dos currículos escolares;<br />

• Levantar as atividades musicais predominantes;<br />

• Identificar os recursos disponíveis nas escolas para a realização das aulas de<br />

• A metodologia escolhida é o survey que busca coletar dados sobre populações<br />

amplas, visando descrever e compreender uma determinada situação social, verificando<br />

condições existentes, bem como fazendo comparação de condições para resolver um<br />

problema prático (BABBIE, 2005).<br />

• Núcleo fornecedor de informações: o educador que atua nas 57 unidades<br />

municipais de educação infantil (UMEI’s) das 7 regionais da Rede Municipal de Educação;<br />

• Tamanho da amostra: 292 professores. Este número foi determinado por meio<br />

de um estudo estatístico que considerou para o calculo o número total de 1.202 professores;<br />

• Os dados serão coletados por meio de questionários com questões fechadas e<br />

abertas, respondidos por 292 educadores infantis;<br />

• Está sendo realizado um levantamento bibliográfico com uma maior atenção à<br />

análise conjunta de estudos semelhantes já realizados em outros estados do Brasil.<br />

• Após a coleta, será feita a análise, interpretação dos dados, consubstanciados<br />

pela fundamentação teórica estudada.<br />

Resultados Esperados:<br />

Espera-se que esta pesquisa possa identificar “onde acontece”, “como acontece”,<br />

“quem faz acontecer” a educação musical infantil na rede municipal de educação em Belo<br />

Horizonte. Assim, haverá maior segurança, clareza e delineamento na orientação dos caminhos<br />

a seguir para construção de práticas pedagógico-musicais eficazes voltadas para essa faixa<br />

3<strong>72</strong>


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

etária. Este fato trará contribuições para a formação e ações de cada um dos educadores,<br />

considerando os processos indissociáveis do cuidar e educar de cada criança 4 .<br />

FIGURA 3 – UMEI BH / MG<br />

4 Proposições Curriculares Educação Infantil:.<br />

373


Referências<br />

II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

ARAÚJO, Rosane C. A situação do ensino de música nas séries iniciais das escolas<br />

municipais de Curitiba no ano de 2000. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade<br />

Tuiuti do Paraná, Tuiuti, 2001.<br />

ARROYO, Margarete. Música na educação básica: situações e reações nesta fase pós-<br />

LDBEN/96. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 10, p. 29-34, mar. 2004.<br />

BABBIE, Earl. Métodos de pesquisa de survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.<br />

BEYER, Esther. Do balbucio ao canto do bebê em sala de aula. In: 1º SIMPÓSIO<br />

INTERNACIONAL DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 2005, Curitiba. Anais...<br />

Curitiba: Deartes, 2005. p. 350-356.<br />

BEYER, Esther.; STIFFT, Kelly. A relação mãe-filho no Projeto "Música para Bebês”: um<br />

estudo sobre possíveis interferências no desenvolvimento musical dos bebês. Revista Do<br />

Centro de Educação/UFSM, Santa Maria/RS, v. 28, n. 01, p.93-99, 2003a.<br />

BEYER, Esther. Interagindo com a música desde o berço: um estudo sobre o<br />

desenvolvimento musical em bebês de 0 a 24 meses. In: XIII ENCONTRO NACIONAL DA<br />

ANPPOM. Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 2001a. v. II. p. 617-620.<br />

BEYER, Esther. O formal e o informal na educação musical: o caso da educação infantil. In:<br />

ENCONTRO REGIONAL DA ABEM SUL, 4., 2001, Santa Maria. Anais... Santa Maria:<br />

ABEM, 2001b, p. 45-52.<br />

BRASIL. Ministério da Educação. LDBEN n o 9.394/96. Brasília, 1996. Disponível em:<br />

Acesso em 27 de abril de 2010.<br />

______. Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008, altera a Lei n o 9.394, PARA DISPOR<br />

SOBRE A OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA.<br />

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil – propostas para a formação integral<br />

da criança. São Paulo: Ed. Peirópolis, 2003.<br />

CARNEIRO, Aline Nunes e PARIZZI, Maria Betânia. Parentalidade intuitiva e musicalidade<br />

comunicativa: conceitos fundants da educação musical no primeiro ano de vida. Revista da<br />

ABEM, n. 25, maio, 2011.<br />

CARNEIRO, Aline Nunes. Desenvolvimento musical e sensório-motor da criança de zero a<br />

dois anos: relações teóricas e implicações pedagógicas. Dissertação (Mestrado em Música).<br />

Escola de Música. UFMG. 2006.<br />

DEL BEN, Luciana M. Um estudo com escolas da rede estadual de ensino básico de Porto<br />

Alegre, RS: subsídios para a elaboração de políticas de educação musical. In: Revista Hodie,<br />

Porto Alegre, 2003. Disponível em:<br />

. Acesso em: 26 abr.<br />

2010.<br />

374


II Seminário Brasileiro de Educação Musical Infantil<br />

Escola de Música da UFBA, PPGMUS - Salvador, de 01 a 03 de agosto de 2011<br />

FIGUEIREDO, S. L. F.; SCHMIDT, L. M. Discutindo o talento musical. I SIMPÓSIO<br />

INTERNACIONAL DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS (SINCAM). Anais... Curitiba:<br />

UFPR, p.386-392, 2005.<br />

MARINO, Gislene. Educação musical escolar: análise do ensino de música nas escolas<br />

municipais de Belo Horizonte. 2005. (Dissertação de Mestrado em Educação) - Faculdade de<br />

Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.<br />

PARIZZI, Maria Betânia. Influências da educação musical nas respostas vocais e de interação<br />

social em crianças nascidas prematuras. In: XX ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO<br />

NACIONAL DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÂO EM MÙSICA. Anais... Florianópolis:<br />

Udesc, 2010.<br />

PARIZZI, Maria Betânia. O desenvolvimento da percepção do tempo em crianças de dois a<br />

seis anos: um estudo a partir do canto espontâneo. 2009. 232 f. Tese (Doutorado em Saúde e<br />

Música). Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte,<br />

2009.<br />

PENNA, Maura (Coord.). A arte no ensino fundamental: mapeamento da realidade nas<br />

escolas públicas da Grande João Pessoa. João Pessoa: D’Artes/UFPB, 2002.<br />

SOUZA, Jusamara, et al. O que faz a música na escola? Concepções e vivências de<br />

professores do ensino fundamental. Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Música do<br />

Instituto de Artes da UFRGS, 2002. (Série Estudos, 6)<br />

375

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