A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames
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Nazareth, b<strong>em</strong> como tentar alinhavar uma<br />
sugestão para a interpretação <strong>de</strong> suas valsas.<br />
Na leitura por nós visitada algumas<br />
influências percebidas na obra <strong>de</strong> Nazareth<br />
receberam <strong>de</strong>staque especial; são elas:<br />
a música erudita e a música <strong>de</strong> salão<br />
importadas da Europa, e a sonorida<strong>de</strong> da<br />
música popular brasileira <strong>de</strong> então. Mário<br />
<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, já <strong>em</strong> 1926, nos chamava a<br />
atenção para a presença <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos da<br />
música <strong>de</strong> Chopin nas composições <strong>de</strong><br />
Nazareth (ANDRADE, 1976, p. 123) e da<br />
dança importada (p. 126):<br />
Duma feita, a uma pergunta proposital<br />
que fiz pra ele, Ernesto Nazareth me<br />
contou que executara muito Chopin. Eu<br />
já pensamenteara nisso, pela influência<br />
subtil do pianístico <strong>de</strong> Chopin sobre a<br />
obra <strong>de</strong>le. (...) Mas por vezes também<br />
essa obra se encontra pare<strong>de</strong>s-meias<br />
com a habanera (...) E a melódica<br />
europea também não é rara na obra <strong>de</strong><br />
Ernesto Nazareth.<br />
Itiberê (ITIBERÊ, 1946, p. 310 e 311) também<br />
se ocupa <strong>em</strong> falar dos diversos conteúdos<br />
musicais presentes no cotidiano <strong>de</strong> Nazareth<br />
e que constituíram a sua formação:<br />
(...) com papá Lambert [professor <strong>de</strong><br />
piano], Nazareth só estudava Czerny<br />
e tocava muito Chopin, nas horas<br />
vagas ouvia com <strong>de</strong>lícia a música<br />
popular da época: choros, serenatas,<br />
polcas e lundus. E durante o carnaval<br />
as melopéias bárbaras dos cucumbís<br />
e dos cordões. (...) é preciso levar <strong>em</strong><br />
conta, na formação <strong>de</strong> Nazareth (...) o<br />
pianeiro carioca, da época <strong>de</strong> 1900.<br />
Pinto (PINTO, 1963, p.33) explica que<br />
Nazareth sincretizou as danças importadas<br />
com as coreografias brasileiras:<br />
(..) foi o trabalho <strong>de</strong> Ernesto Nazareth<br />
, esse admirável compositor, que,<br />
longe <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r a sedução <strong>de</strong> imitar os<br />
mo<strong>de</strong>los importados, como a valsa,<br />
a polka, a habanera, a schottisch e a<br />
mazurka, - entregou-se, ao contrário,<br />
à tarefa <strong>de</strong> nacionalizá-los ao sabor<br />
<strong>de</strong> nossa sensibilida<strong>de</strong>. Com luci<strong>de</strong>z<br />
incomparável, sincretizou danças<br />
européias com algumas formas<br />
coreográficas brasileiras, dando-lhes<br />
novas cores mediante a aclimatação<br />
e ambientação do material rítmicomelódico.<br />
Mozart <strong>de</strong> Araújo também fala <strong>de</strong>sta<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nazareth <strong>em</strong> misturar<br />
e reformatar estes conteúdos musicais<br />
diversos (ARAÚJO, 1994, p. 167) e como esta<br />
con<strong>de</strong>nsação característica da obra <strong>de</strong>ste<br />
compositor trouxe novos recursos técnicos<br />
para o piano (p. 169):<br />
Diante <strong>de</strong>ste ambiente, caracterizado<br />
pela transfusão <strong>de</strong> valores musicais<br />
nativos, <strong>de</strong> um lado, e <strong>de</strong> valores musicais<br />
importados, <strong>de</strong> outro, Ernesto Nazareth<br />
não adotou a política reacionária do<br />
protesto ou da xenofobia. Preferiu a<br />
política sutil da <strong>de</strong>formação. As valsas<br />
<strong>de</strong> Strauss, <strong>de</strong> Waldteufel, <strong>de</strong> Cr<strong>em</strong>ieux<br />
ou <strong>de</strong> Berger se converteram na<br />
“Eponina”, na “Expansiva”, na “Coração<br />
que sente”, na “Gotas <strong>de</strong> Ouro”. A polca<br />
européia se transformou <strong>em</strong> “Apanheite,<br />
cavaquinho” e o tango ibérico<br />
ou a habanera se transfiguraram no<br />
“O<strong>de</strong>on”, no “Brejeiro”, no “Bambino”.<br />
Nazareth enxertava nos mo<strong>de</strong>los<br />
importados o sotaque, a ginga, o<br />
<strong>de</strong>ngue, o jeitinho nacional. Deformava<br />
para nacionalizar os gêneros que mais<br />
se afeiçoavam ao seu t<strong>em</strong>peramento<br />
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