A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames
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se ao fato da intimida<strong>de</strong> do pianista com<br />
seu instrumento. Como intérprete <strong>de</strong> um<br />
repertório difícil, que consta <strong>de</strong> peças <strong>de</strong><br />
Chopin, Beethoven, Men<strong>de</strong>lssohn, etc<br />
(VERZONI, 1996, p. 31), este compositor<br />
conhecia muito b<strong>em</strong> as possibilida<strong>de</strong>s<br />
oferecidas pelo piano e sabia dominar<br />
suas dificulda<strong>de</strong>s técnicas. A respeito <strong>de</strong>ste<br />
domínio e habilida<strong>de</strong> no uso dos recursos<br />
do instrumento Afifi diz:<br />
Nazareth explorou os recursos do<br />
piano <strong>de</strong> forma ampla. Todos os<br />
efeitos objetivos são utilizados na<br />
extensão <strong>de</strong> sua obra. Fixou-se na<br />
região aguda, nas polcas “Apanheite<br />
Cavaquinho”, “Ameno Resedá”. Na<br />
região grave, na valsa “Confidências”,<br />
no “Duvidoso”, “Turuna”, “Tenebroso”.<br />
Usou notas repetidas, simples e<br />
duplas no “Escorregando” e no<br />
“Sarambeque”. Trouxe o cantabile<br />
lírico do piano no “Pássaros <strong>em</strong> Festa”.<br />
O brilho vistuosísitco do instrumento<br />
<strong>em</strong> “V<strong>em</strong> cá, Branquinha”. Suscitou o<br />
“toque staccato”, usou oitavas, acor<strong>de</strong>s<br />
arpejados, ornamentos e saltos... Enfim,<br />
“Fon-fon”, “Encantada”, “Improviso”,<br />
“Sarambeque”, “Batuque”, “Nenê”,<br />
Labirinto”, “Gaúcho”, “Escorregando”,<br />
são peças, assim como a maioria,<br />
que por sua importância pianística,<br />
requer<strong>em</strong> um preparo técnico<br />
cuidadoso e apurado (AFIFI, 1984, p.<br />
43).<br />
Certamente a maioria das valsas não é para<br />
ser lida e tocada instantaneamente. Os<br />
fatores que contribu<strong>em</strong> para a dificulda<strong>de</strong><br />
técnica são: o uso <strong>de</strong> tonalida<strong>de</strong>s com muitas<br />
alterações na armadura (Réb M, Láb M, Mib<br />
M, Lá M e Mi M), <strong>de</strong> inúmeras alterações no<br />
<strong>de</strong>correr das peças e, <strong>em</strong> vários momentos,<br />
<strong>de</strong> longas sequências <strong>de</strong> acor<strong>de</strong>s arpejados<br />
e oitavas. Chamou-nos a atenção, também,<br />
a beleza da gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>stas valsas.<br />
Po<strong>de</strong>mos dizer, então, que a dificulda<strong>de</strong><br />
técnica e a gran<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> elaborar<br />
suas composições são características<br />
presentes no <strong>de</strong>correr da obra <strong>de</strong> Nazareth;<br />
não sendo diferente <strong>em</strong> suas valsas.<br />
Ainda consi<strong>de</strong>rando o que é recorrente<br />
po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar o uso constante e<br />
significativo das apogiaturas na estruturação<br />
das melodias das valsas compostas por<br />
Ernesto Nazareth. Após executarmos e<br />
analisarmos todas as valsas perceb<strong>em</strong>os<br />
que, neste quesito, as melodias das valsas<br />
são elaboradas, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte, <strong>em</strong><br />
torno das notas do acor<strong>de</strong> que <strong>de</strong>fine a<br />
harmonia <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado compasso<br />
e, ligadas a estas notas, há a inserção <strong>de</strong><br />
inúmeras apogiaturas. Esta técnica, além<br />
<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong> uma riqueza melódica<br />
muito significativa, produz alguns eventos<br />
dissonantes: como as apogiaturas são notas<br />
que escapam da harmonia do acor<strong>de</strong> que<br />
preenche o compasso, naturalmente elas se<br />
mostram um pouco ou bastante dissonantes<br />
<strong>em</strong> muitas ocasiões.<br />
A fim <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plificarmos a utilização<br />
<strong>de</strong>sta técnica <strong>de</strong> estruturação melódica,<br />
apresentamos, na página seguinte, um<br />
trecho da seção A <strong>de</strong> Dirce (Fig. 1). Observe<br />
que a apogiatura, na valsa <strong>em</strong> questão,<br />
ocorre s<strong>em</strong>pre na cabeça do primeiro e do<br />
segundo t<strong>em</strong>po; justamente no momento<br />
<strong>em</strong> que a força tonal do acor<strong>de</strong> se mostra<br />
mais explicitamente.<br />
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