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A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames

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e festas familiares no Brasil e <strong>em</strong> vários<br />

cantos do mundo. Quando apreciamos esta<br />

dança tão singela e respeitosa, que figura<br />

<strong>de</strong>stacadamente nas festas <strong>de</strong> <strong>de</strong>butantes<br />

e nos bailes <strong>de</strong> formatura, não conseguimos<br />

imaginar o quanto foi consi<strong>de</strong>rada obscena<br />

e imprópria, no passado, para qualquer<br />

moça <strong>de</strong> família ou senhora <strong>de</strong> respeito.<br />

Vamos <strong>de</strong>senvolver, a partir <strong>de</strong> agora,<br />

uma trajetória resumida da dança que<br />

inicialmente era consi<strong>de</strong>rada ultra<strong>jan</strong>te e<br />

que posteriormente tornou-se marca <strong>de</strong><br />

refinamento e beleza.<br />

Ainda não há como se afirmar precisamente<br />

a orig<strong>em</strong> da valsa. O que sab<strong>em</strong>os é que está<br />

ligada a pelo menos duas outras danças, à<br />

<strong>de</strong>utsche, que é uma dança al<strong>em</strong>ã, e ao<br />

ländler do final do século XVIII; ambas <strong>em</strong><br />

compasso ternário (Dicionário Grove <strong>de</strong><br />

<strong>Música</strong>, 1994, p. 977). Apesar da orig<strong>em</strong><br />

obscura, a valsa, durante o século XIX, se<br />

diss<strong>em</strong>inou pela Europa e atravessou os<br />

oceanos para conquistar outras terras. Este<br />

movimento <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são popular não se <strong>de</strong>u<br />

s<strong>em</strong> objeções: havia reprovação por parte<br />

da medicina (os rodopios eram vistos como<br />

um mal para a saú<strong>de</strong>) e dos valores morais<br />

(a intimida<strong>de</strong> vivida pelo par <strong>de</strong> dançarinos<br />

durante o bailado fazia ruborizar as faces<br />

mais tradicionais).<br />

A valsa teria sido admitida nos salões das<br />

cortes vienenses a partir do ano <strong>de</strong> 1815<br />

(2006, p. 763) 1 . Foi Sigismund Neukomm<br />

1 Kiefer (1990) distingue três<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> valsa: a valsa-peça-<strong>de</strong>concerto,<br />

a valsa-peça-<strong>de</strong>-salão e a valsadança.<br />

o compositor que conseguiu quebrar as<br />

barreiras que mantinham a valsa longe dos<br />

bailes da nobreza; também foi ele qu<strong>em</strong>, <strong>em</strong><br />

1816, veio ao Brasil e tornou-se professor<br />

<strong>de</strong> música <strong>de</strong> Dom Pedro I e <strong>de</strong> Dona<br />

Leopoldina.<br />

Ainda no século XIX, a valsa atraiu os<br />

compositores eruditos da Europa e do<br />

Brasil (2000, p. 803). Na Europa um dos<br />

gran<strong>de</strong>s consolidadores do gênero foi<br />

Johann Strauss (o pai); na década <strong>de</strong> 1860<br />

seus filhos Johann e Joseph a levaram ao<br />

seu apogeu. Mesmo que este t<strong>em</strong>po áureo<br />

não durasse eternamente, a valsa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

então, continuou atraindo compositores <strong>de</strong><br />

diferentes formações.<br />

A chegada da valsa ao Brasil, <strong>em</strong> 1816,<br />

t<strong>em</strong> uma aura <strong>de</strong> nobreza: ela brota dos<br />

salões da família real logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta se<br />

instalar no Brasil (Enciclopédia da <strong>Música</strong><br />

Brasileira Popular, Erudita e Folclórica, p.<br />

803). Teria Dom Pedro I sido o precursor<br />

dos compositores do gênero <strong>em</strong> terras<br />

brasileiras. A popularização <strong>de</strong>u-se <strong>em</strong><br />

seguida, influenciando a modinha e<br />

transformando-se <strong>em</strong> música <strong>de</strong> seresta<br />

executada por con<strong>jun</strong>tos instrumentais<br />

(que posteriormente foram <strong>de</strong>signados por<br />

choro 2 ); invadindo as salas das residências,<br />

<strong>de</strong> diversão e confeitarias. A sua aceitação<br />

e proliferação foi tão significativa que<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacá-la como el<strong>em</strong>ento<br />

importante das primeiras gravações feitas<br />

2 Para maiores esclarecimentos sobre a<br />

orig<strong>em</strong> do choro, consultar a tese <strong>de</strong> Doutorado<br />

<strong>de</strong> Marcelo Oliveira Verzoni, intitulada “Os<br />

primórdios do ‘choro’ no Rio <strong>de</strong> Janeiro”.<br />

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