02.09.2014 Views

A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames

A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames

A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Já o rubato estrutural, assim classificado<br />

por Ferguson (apud FARIA, 2004), influi<br />

tanto na estrutura da melodia quanto do<br />

acompanhamento. É mais amplamente<br />

utilizado que o rubato melódico e está<br />

presente <strong>em</strong> quase todas as músicas na<br />

forma <strong>de</strong> rallentando, ritenuto, acellerando,<br />

<strong>de</strong>ntre outros. Esse recurso po<strong>de</strong> ser usado<br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar a forma da<br />

música, separando frases ou seções.<br />

Em Canção Melancólica, além da indicação<br />

inicial <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, Mo<strong>de</strong>rato, não há nada que<br />

aponte para uma mudança <strong>de</strong> andamento<br />

na peça, somente indicações <strong>de</strong> rallentando<br />

e poco acellerando, esta última no início da<br />

Seção B, o que não caracteriza propriamente<br />

uma mudança do t<strong>em</strong>po. Seria essa<br />

indicação <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po suficiente?<br />

No tocante à mudança <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po,<br />

encontramos <strong>em</strong> sua obra para piano um<br />

ex<strong>em</strong>plo s<strong>em</strong>elhante ao caso estudado aqui,<br />

que é sua peça Divagando, para piano solo.<br />

A estrutura formal <strong>de</strong>ssa peça é a mesma da<br />

Canção Melancólica, além <strong>de</strong> também ser<br />

uma valsa lenta. Ainda segundo Thompson<br />

(2010, p. 81), a Seção B <strong>de</strong> Divagando<br />

é “i<strong>de</strong>ntificada com a indicação <strong>de</strong><br />

andamento ‘Piu mosso’”. A mesma situação<br />

é encontrada na Valsa da Sauda<strong>de</strong>, também<br />

para piano solo, on<strong>de</strong> o compositor escreve<br />

que a Seção B <strong>de</strong>ve ter o andamento “Mais<br />

movido” <strong>em</strong> relação ao t<strong>em</strong>po inicial da obra<br />

(THOMPSON, 2010, p. 95).<br />

Cláudio Coutinho recorda que, quando era<br />

aluno <strong>de</strong> violoncelo da EMES e estudou<br />

a Canção Melancólica, o professor Alceu<br />

costumava ouvir seus ensaios com piano:<br />

Quando chegava na segunda parte,<br />

que [...] é agitada, ela anda, Alceu<br />

pedia para puxar o t<strong>em</strong>po mesmo.<br />

[...] Ele pedia para acelerar e no final<br />

fazer um rallentando para voltar para<br />

o movimento anterior. [...] Era correria,<br />

a segunda parte passa rápido. Para<br />

po<strong>de</strong>r fazer música, porque senão fica<br />

chato. Acelerava b<strong>em</strong> o andamento<br />

para fazer uma melodia bonita. No<br />

final essa coisa morre e volta ao início<br />

com aquele caráter melancólico <strong>de</strong><br />

novo. (COUTINHO, Entrevista <strong>em</strong> 3 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2010)<br />

Consi<strong>de</strong>rando a s<strong>em</strong>elhança estrutural entre<br />

a Canção Melancólica e as peças Divagando<br />

e Valsa da Sauda<strong>de</strong>, para piano solo, o relato<br />

acima, as características da peça, b<strong>em</strong> como<br />

seus aspectos estilísticos, cr<strong>em</strong>os que,<br />

<strong>em</strong>bora a indicação no manuscrito seja <strong>de</strong><br />

poco acell., a intenção do compositor era<br />

promover uma mudança real no andamento,<br />

motivo pelo qual enten<strong>de</strong>mos que a<br />

indicação Piu Mosso seja mais a<strong>de</strong>quada.<br />

Ressaltamos ainda que a mudança efetiva<br />

<strong>de</strong> andamento irá auxiliar na construção do<br />

contraste entre as Seções A e B, conferindo<br />

maior expressivida<strong>de</strong> à obra.<br />

Como vimos, as mudanças <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po são<br />

ferramentas expressivas po<strong>de</strong>rosas para<br />

o intérprete. Por meio <strong>de</strong>las, é possível<br />

explicitar para o ouvinte o discurso musical<br />

que está sendo proposto. Alceu Camargo<br />

<strong>em</strong>prega esses dois recursos <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong><br />

agógica <strong>em</strong> Valsa, que po<strong>de</strong>m ser aplicados<br />

também <strong>em</strong> Canção Melancólica.<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!