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A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames

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escrevo”. [...] Outro que quis saber foi o<br />

Ernani Aguiar, que perguntou: “Como<br />

o senhor faz professor? Como escreve<br />

peças tão melodiosas?” Alceu riu e<br />

disse: “Eu sinto a música e escrevo”.<br />

(CAMARGO, Entrevista <strong>em</strong> 30 <strong>de</strong><br />

set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010)<br />

Encontramos outros compositores<br />

brasileiros que também se valeram da<br />

intuição para compor, como Francisco<br />

Mignone e Radamés Gnattali, por ex<strong>em</strong>plo.<br />

Azevedo (1948, p. 34), a respeito <strong>de</strong><br />

Mignone, afirma que “[...] sua arte nada t<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> cerebral. É instintiva. [...]<strong>de</strong>masiadamente<br />

instintiva. Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> […] vê <strong>em</strong><br />

Mignone […] o compositor do povo, porque<br />

o povo compreen<strong>de</strong> a sua música e com ela<br />

se entusiasma” (AZEVEDO, 1948, p. 34).<br />

Comparando Mignone, Gnattali e Camargo,<br />

v<strong>em</strong>os que os três são intuitivos, <strong>em</strong>bora<br />

os dois primeiros apresent<strong>em</strong> um sólido<br />

conhecimento das estéticas composicionais,<br />

diferindo <strong>de</strong> Camargo neste aspecto. As<br />

experiências que tiveram com a música<br />

popular brasileira, <strong>de</strong>vido ao trabalho que<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penharam no meio radiofônico no<br />

Brasil, também são marcantes nas trajetórias<br />

dos compositores citados. É a proximida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> suas composições com a música popular<br />

que <strong>de</strong>sperta o interesse do público,<br />

facilitando a compreensão e estimulando o<br />

gosto por elas.<br />

É certo que a experiência <strong>de</strong> Alceu Camargo<br />

com a música popular, por meio das<br />

orquestras <strong>de</strong> rádios e cassinos, e a sua<br />

intuição, são fatores que nos esclarec<strong>em</strong> a<br />

respeito <strong>de</strong> seu estilo <strong>de</strong> escrita. Contudo,<br />

seria exagerado creditar todo o seu trabalho<br />

somente à intuição ou inspiração.<br />

[...] <strong>de</strong> modo geral, a falta <strong>de</strong> consciência<br />

<strong>de</strong> como se dá o processo criativo do<br />

músico, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> v<strong>em</strong> sua “inspiração”,<br />

acaba <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bocando <strong>em</strong> uma série <strong>de</strong><br />

equívocos e mitificações. Os próprios<br />

músicos, com a “naturalização” do<br />

comportamento musical pela prática,<br />

per<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vista o seu processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e o tomam por<br />

“dom”, pensam já ter nascido assim.<br />

(SCHROEDER, apud FUCCI AMATO,<br />

2004, p. 83)<br />

Alceu Camargo aliou sua intuição apurada<br />

aos conhecimentos teóricos e práticos<br />

adquiridos, muitas vezes por meios não<br />

formais, ao longo <strong>de</strong> sua carreira como músico<br />

<strong>de</strong> orquestra, o que po<strong>de</strong> ser percebido <strong>em</strong><br />

suas composições. Por menos que houvesse<br />

passado por uma formação acadêmica<br />

mais estrita, ele possuía os conhecimentos<br />

necessários para materializar o processo<br />

criativo <strong>em</strong> suas composições.<br />

A obra para violoncelo <strong>de</strong> Alceu Camargo<br />

apresenta homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estilo, e<br />

as peças guardam muitas s<strong>em</strong>elhanças<br />

estruturais entre si. A respeito <strong>de</strong>sse<br />

con<strong>jun</strong>to <strong>de</strong> peças, Sanny Souza ressalta<br />

que, “<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> Brasil, elas não têm,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, um caráter folclórico[...], ou<br />

nacionalista[...]. Elas têm exatamente a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong>le [...]” (SOUZA, Entrevista <strong>em</strong> 5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

2009). Esse estilo peculiar <strong>de</strong> Alceu também<br />

se faz presente <strong>em</strong> Canção Melancólica.<br />

Cláudio Coutinho, seu ex-aluno, <strong>de</strong>staca que<br />

“as músicas <strong>de</strong>le têm uma ‘marca d’água’[...]<br />

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