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A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames

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O mo<strong>de</strong>lo eisensteiniano<br />

O cineasta Sergei Eisenstein (2002) 2<br />

enxergou <strong>de</strong> maneira vanguardista a<br />

relação sonoro-visual do cin<strong>em</strong>a. Para<br />

ele, a relação entre o som e a imag<strong>em</strong> no<br />

contexto fílmico vai além da idéia plástica.<br />

Ele <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a significância i<strong>de</strong>ológica<br />

v<strong>em</strong> da verda<strong>de</strong>ira e profunda relação entre<br />

as linguagens. Formado <strong>em</strong> engenharia<br />

mecânica, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre no circulo<br />

artístico <strong>de</strong> Moscou, trabalhando com<br />

teatro e mais tar<strong>de</strong> com cin<strong>em</strong>a, Eisenstein<br />

acompanhou o resultado <strong>de</strong> inclusão do<br />

som no cin<strong>em</strong>a. Como gran<strong>de</strong> pesquisador,<br />

estudando ativamente os processos que<br />

compõ<strong>em</strong> a linguag<strong>em</strong>, produziu muito<br />

ensaios, artigos e textos que tratavam da<br />

arte cin<strong>em</strong>atográfica. Para ele, no período<br />

do cin<strong>em</strong>a <strong>de</strong> atrações, a platéia olhava para<br />

os eventos cin<strong>em</strong>atográficos exatamente<br />

como olhava para os eventos cotidianos,<br />

tornando o cineasta mero canal através do<br />

qual a realida<strong>de</strong> seria reproduzida. Porém,<br />

com o advento do som no cin<strong>em</strong>a, o cineasta<br />

passa enxergar “o po<strong>de</strong>r criativo” <strong>de</strong>sta arte,<br />

on<strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong> “células” isoladas se faz<br />

um conteúdo cin<strong>em</strong>ático vivo. “Isso garante<br />

que as células irão interagir <strong>em</strong> montag<strong>em</strong><br />

polifônica e criar um “monismo <strong>de</strong> con<strong>jun</strong>to””<br />

(ANDREW, 2002, p. 63). Ele busca encontrar<br />

“a chave para a igualda<strong>de</strong> rítmica <strong>de</strong> uma<br />

faixa <strong>de</strong> música e uma faixa <strong>de</strong> imag<strong>em</strong>”.<br />

Essa igualda<strong>de</strong> torna capaz “unir ambas as<br />

faixas ‘verticalmente’ ou simultaneamente”<br />

2 Sergei Eisenstein (1898–1948), cineasta <strong>de</strong><br />

vanguarda russa, é diretor <strong>de</strong> O Couraçado Pot<strong>em</strong>kin,<br />

Outubro: <strong>de</strong>z dias que abalaram o mundo, Alexan<strong>de</strong>r<br />

Nevsky e Ivan, o terrível. Notabilizou-se por seus<br />

escritos sobre montag<strong>em</strong> cin<strong>em</strong>atográfica.<br />

(EISENSTEIN, 2002, p. 105-106).<br />

Explicando seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> montag<strong>em</strong><br />

vertical, Eisenstein diz que<br />

Segundo ele,<br />

Assim,<br />

Todos estão familiarizados com o<br />

aspecto <strong>de</strong> uma partitura orquestral.<br />

Há várias pautas, cada uma contendo<br />

a parte <strong>de</strong> um instrumento ou <strong>de</strong> um<br />

grupo <strong>de</strong> instrumentos afins. Cada parte<br />

é <strong>de</strong>senvolvida horizontalmente. Mas a<br />

estrutura vertical não <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha um<br />

papel menos importante, interligando<br />

todos os el<strong>em</strong>entos da orquestra<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada.<br />

Através da progressão da linha<br />

vertical, que permeia toda a orquestra,<br />

e entrelaçado horizontalmente, se<br />

<strong>de</strong>senvolve o movimento musical<br />

complexo e harmônico <strong>de</strong> toda a<br />

orquestra (EISENSTEIN, 2002, p. 54).<br />

Quando passamos <strong>de</strong>sta imag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

partitura orquestral para a da partitura<br />

audiovisual, verificamos ser necessário<br />

adicionar um novo it<strong>em</strong> às partes<br />

instrumentais: este novo it<strong>em</strong> é uma<br />

“pauta” <strong>de</strong> imagens visuais, que se<br />

suce<strong>de</strong>m e se correspon<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> acordo<br />

com suas próprias leis, ao movimento<br />

da música – e vice-versa (EISENSTEIN,<br />

2002, p. 54).<br />

Essa correspondência, ou relação,<br />

po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>screver <strong>de</strong> igual modo o<br />

que ocorre se substituirmos a imag<strong>em</strong><br />

da partitura orquestral pela estrutura<br />

<strong>de</strong> montag<strong>em</strong> do cin<strong>em</strong>a mudo<br />

(EISENSTEIN, 2002, p. 54).<br />

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