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A Tempo - Revista de Pesquisa em Música - n°2 (jan/jun ... - Fames

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tornou-se autônoma, conquistou<br />

seu enquadramento. A exteriorida<strong>de</strong><br />

da imag<strong>em</strong> visual enquanto única<br />

enquadrada (extracampo) foi<br />

substituída pelo interstício entre dois<br />

enquadramentos, o visual e o sonoro,<br />

corte irracional entre duas imagens, a<br />

visual e a sonora (DELEUZE, 1990, apud<br />

FLORES, 2006, p. 98).<br />

Para um nível mais completo <strong>de</strong> compreensão,<br />

a construção sensorial/linguística<br />

do sujeito receptor <strong>de</strong>ve ser exercitada. O<br />

perceber musical fundamenta este campo,<br />

gerando bases para compreensão e criação.<br />

Eisenstein (2002, p. 115) acredita que a<br />

“coincidência do movimento da música com<br />

o movimento do contorno visual” fará a impressão<br />

do espectador mais surpreen<strong>de</strong>nte<br />

e imediata, uma vez que tal sincronia enfatiza<br />

o movimento fílmico.<br />

Ao se combinar imag<strong>em</strong> e som, po<strong>de</strong>se<br />

chegar à sincronização que preenche<br />

todas essas potencialida<strong>de</strong>s (apesar<br />

<strong>de</strong> isto muito raramente ocorrer), ou<br />

ela po<strong>de</strong> ser construída com base<br />

numa combinação <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos não<br />

afins, s<strong>em</strong> tentar ignorar a dissonância<br />

resultante entre os sons e as imagens.<br />

Isto ocorre frequent<strong>em</strong>ente. Quando<br />

ocorrer, costuma-se explicar que as<br />

imagens “exist<strong>em</strong> por si mesmas”,<br />

que a música “existe por si mesma”:<br />

som e imag<strong>em</strong>, cada um corre<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, s<strong>em</strong> se unir<strong>em</strong><br />

num todo orgânico. É importante<br />

ter <strong>em</strong> mente que nossa concepção<br />

<strong>de</strong> sincronização não presume<br />

coincidência. Nesta concepção<br />

exist<strong>em</strong> plenas possibilida<strong>de</strong>s<br />

para a execução <strong>de</strong> ambos,<br />

“movimentos” correspon<strong>de</strong>ntes e nãocorrespon<strong>de</strong>ntes,<br />

mas <strong>em</strong> qualquer<br />

dos casos a relação <strong>de</strong>ve ser controlada<br />

composicionalmente. É evi<strong>de</strong>nte que<br />

qualquer uma <strong>de</strong>ssas abordagens <strong>de</strong><br />

sincronização po<strong>de</strong> servir como fator<br />

“principal”, <strong>de</strong>terminante da estrutura,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da necessida<strong>de</strong>. Algumas<br />

cenas requer<strong>em</strong> ritmo como um fator<br />

<strong>de</strong>terminante, outras são controladas<br />

pelo tom, e assim por diante<br />

(EISENSTEIN, 2002, p. 60).<br />

Xavier (2008, p. 31), pensa que a unificação<br />

produzida pela montag<strong>em</strong> faz com que<br />

o cin<strong>em</strong>a passe da “esfera da ação” para a<br />

“esfera da significância, do entendimento”.<br />

O som não é mais um seguidor da imag<strong>em</strong>,<br />

ele é expressivo por si só, tangível ao<br />

espectador. A incorporação do som no<br />

cin<strong>em</strong>a “trouxe um fortalecimento para a<br />

estrutura formal narrativa”, já que acrescenta<br />

conteúdo imensurável na “estrutura formal<br />

narrativa”. O som v<strong>em</strong> “reforçar o real, não<br />

por causa da matéria sonora, mas por ser<br />

o ‘naturalismo’, a busca da ilusão realista”. A<br />

relação audiovisual no cin<strong>em</strong>a se dá “pelo<br />

movimento <strong>de</strong> captação recíproca do som<br />

pela imag<strong>em</strong> e da imag<strong>em</strong> pelo som, graças,<br />

<strong>em</strong> particular, ao sincronismo” (FLORES,<br />

2006, p. 68-83).<br />

Para Belton (1985),<br />

[...] o som se <strong>de</strong>fine <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong> e espacialida<strong>de</strong> da<br />

imag<strong>em</strong>, observando um sincronismo<br />

e/ou perspectiva imposta pelo visível.<br />

Seu processo <strong>de</strong> mimetismo adota<br />

como mo<strong>de</strong>lo não o acontecimento<br />

pré-cin<strong>em</strong>atográfico, mas a imag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>le registrada. A trilha sonora não<br />

duplica o mundo colocado diante <strong>de</strong>la,<br />

ela constrói um mundo imaginário,<br />

conferindo ao espaço e aos seus<br />

objetos, no interior do espaço da<br />

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