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Revista UnicaPhoto - Ed03 Ago/2014

Revista do curso de fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)

Revista do curso de fotografia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)

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unicaphoto<br />

<strong>Revista</strong> do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap - #3, ago <strong>2014</strong><br />

www.unicap.br/unicaphoto<br />

1


Na web<br />

www.unicap.br/unicaphoto<br />

/fotografiaunicap<br />

Expediente:<br />

Coordenação: Renata Victor. Edição: Carolina Monteiro.<br />

Diagramação: Arline Lins. Textos: Arline Lins, Carolina<br />

Monteiro, Dario Brito, Fabiana Bruce, Germana Soares,<br />

Juliana Nascimento Torezzani, Karina Galvão, Leonardo<br />

Castro Gomes, Niedja Dias, Paulo Souza, Rebeca Patrício,<br />

Rodrigo Silva, Sollon Filho, Thaís Carvalho. Fotos: Alunos do<br />

Curso de Fotografia da Unicap, Adelson Alves, Renata Victor,<br />

Rafaela Melo. A <strong>UnicaPhoto</strong> é uma publicação semestral do<br />

Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade<br />

Católica de Pernambuco (ISSN 2357-8793).<br />

2<br />

Foto da capa: Edvaldo Rodrigues


EDITORIAL<br />

Ser fotógrafo, nos dias de hoje, é bem mais simples, não só por não ser necessário esperar<br />

a revelação e a ampliação para saber da qualidade das imagens, mas por todas as inovações<br />

tecnológicas dos equipamentos, pelos cursos universitários de fotografia e pelas inúmeras<br />

literaturas voltadas à fotografia e áreas afins. Pensando dessa forma, percebemos o quanto<br />

devemos respeito e gratidão às gerações passadas, que abriram os caminhos para a realidade<br />

que hoje vivenciamos.<br />

Assim, criamos o prêmio Alcir Lacerda para homenagear os profissionais pernambucanos<br />

da imagem. Um evento colaborativo que, pelo 3º ano consecutivo, acontecerá no dia 19 de<br />

agosto, dia mundial da Fotografia, no auditório da Livraria Cultura Paço Alfândega. Os homenageados<br />

desse ano são Edvaldo Rodrigues, repórter fotográfico há 52 anos, o fotógrafo e<br />

empresário Rivaldo Varela e o fotógrafo Alexandre Severo, que faleceu quando estava a trabalho<br />

na campanha eleitoral do Governador Eduardo Campos à presidência da República.<br />

Para comemorar o dia mundial da Fotografia, trazemos para esta 3ª edição da Unicaphoto<br />

uma série de matérias, entre elas o perfil dos agraciados com o Prêmio Alcir Lacerda. Na sequência,<br />

uma matéria que aborda a revolução da produção de vídeo com equipamento HDSLR<br />

e o projeto do Prof. Dario Brito e seus alunos, que discute o poder da representação nas<br />

intervenções urbanas no Recife. Na seção de entrevista, temos o fotógrafo Edvaldo Rodrigues,<br />

enquanto que a coluna de Direito Autoral aborda a legislação nacional pertinente<br />

ao tema, em especial a Lei nº 9.610/1998. Os ensaios fotográficos irão nos levar ao Uruguai,<br />

Grécia e aos clássicos filmes representados por imagens gastronômicas. É com grande<br />

saudade que relembramos em páginas gráficas os momentos felizes que compartilhamos<br />

com o nosso ex-aluno, o talentoso Alexandre Severo.<br />

Até o último dia 15 de agosto, a primeira edição da Unicaphoto teve 40.275 visualizações,<br />

enquanto que a segunda, 40.902. Esses números sinalizam que o nosso objetivo de<br />

aproximar a produção acadêmica do mercado de trabalho tem logrado êxito e nos motivam<br />

ainda mais para a continuidade desse e de outros projetos.<br />

Renata Victor<br />

Coordenadora do Curso Superior de<br />

Tecnologia em Fotografia da<br />

Universidade Católica de Pernambuco<br />

3


Mais de meio século<br />

de fotojornalismo<br />

Edvaldo Rodrigues, 73 anos, é o<br />

entrevistado da professora Niedja Dias<br />

nesta edição da <strong>UnicaPhoto</strong>. Com nada<br />

menos do que 52 anos de fotojornalismo,<br />

ele é um dos homenageados da terceira<br />

edição do prêmio anual Alcir Lacerda,<br />

que celebra o trabalho deste profissional<br />

que integra a equipe de fotojornalismo do<br />

Diario de Pernambuco. Nesta entrevista,<br />

ele conta um pouco sobre sua vivência<br />

na profissão e sobre a adaptação à<br />

tecnologia, além das curiosidades da sua<br />

trajetória jornalística.<br />

Foto: Adelson Alves<br />

8<br />

UNICAPHOTO - Como a fotografia entrou em<br />

sua vida?<br />

EDVALDO RODRIGUES - Trabalhava numa<br />

construtora, ainda bem jovem, quando um irmão<br />

inventou de fotografar e me chamou para aprender.<br />

Compramos livros, equipamentos, material químico<br />

e, em um quarto no fundo do quintal, fizemos um<br />

laboratório e aprendemos a fotografar e a revelar<br />

filmes.<br />

UP - Quando percebeu que gostaria de ser um<br />

repórter fotográfico?<br />

E.R - Costumava comprar o Jornal do Commercio<br />

nos finais de semana. Até porque o dinheiro era<br />

pouco e não dava pra comprar diariamente, mas lia<br />

com frequência.<br />

Lá, um dia, tinha uma nota: ´Precisa-se de repórter<br />

fotográfico´. Conversei com meu irmão e ele me<br />

disse: “Rapaz, isso é negócio pra gente grande...<br />

Repórter fotográfico não é pra gente. A gente é um<br />

´retratistazinho´ de bairro”. Arrisquei e fui aprovado.<br />

Pedi demissão do emprego e comecei. Me<br />

mandaram para rua e eu sem nenhuma experiência,<br />

mas a primeira matéria que fiz – lembro como se<br />

fosse hoje – foi um acidente de um caminhão com<br />

uma bicicleta, em Olinda. A foto foi publicada e fui<br />

bastante elogiado.<br />

UP – Como foi a sua adaptação à tecnologia, já<br />

que começou a sua carreira na década de 60,<br />

com a fotografia analógica?<br />

E.R - A tecnologia me fascina, mas tenho certa<br />

dificuldade ainda de absorver tudo. Aproveito os<br />

colegas mais jovens do jornal, com a cabeça mais<br />

fresca e eles me dão dicas. Também pesquiso<br />

na internet e fiz alguns cursos rápidos, tanto de<br />

iluminação, como de Photoshop, entre outros.<br />

UP - Como foi trabalhar em plena ditadura?<br />

E.R - Foi um período difícil, viu? Fui preso algumas<br />

vezes, espancado na rua. Foi uma situação muito<br />

dramática.<br />

UP- Você conseguiu driblar a censura e<br />

publicar alguma imagem polêmica?<br />

E.R – Isto era muito difícil porque a censura estava<br />

dentro do jornal. Havia um coronel do Exército<br />

lá dentro fiscalizando toda matéria que chegava.<br />

Nunca consegui colocar nenhuma foto censurada,<br />

mas alguns fotógrafos criaram na época agências<br />

de fotografia e mandaram suas fotos para o exterior,<br />

onde foram publicadas.<br />

UP- Você chegou a ser agredido em pleno<br />

exercício da profissão. Qual o limite que um<br />

profissional deve ter para conseguir uma boa<br />

imagem?<br />

E.R - Para uma boa imagem – como dizia o<br />

grande fotógrafo [Robert] Capa - você tem que<br />

estar dentro do assunto. Você tem que estar bem<br />

perto para trazer a grande foto. Mas eu ainda<br />

advogo uma precaução porque a nossa polícia<br />

tem uma cultura muito violenta e até as pessoas<br />

mesmo. Algumas vezes nós já fomos atacados por<br />

manifestantes que confundem as coisas, pensam<br />

que a gente está de outro lado. Já fui atacado e foi<br />

grave, fiquei desmaiado no meio da rua e quando<br />

acordei estava no hospital.<br />

UP - Como lida com a emoção dos fatos que<br />

aparecem diante da sua lente?<br />

E.R - Ainda sou uma pessoa muito sensível a tudo,


sabe? Então tudo me comove. Tenho me deparado<br />

com situações difíceis de pessoas muito pobres e<br />

em determinados lugares ou com pessoas que são<br />

muito mal tratadas, violentadas tanto pela polícia<br />

como por outras pessoas que têm o interesse em<br />

fazer aquilo. Isso tudo me comove.<br />

UP - Quando considera que é hora de<br />

esquecer o fotógrafo e dar espaço ao seu lado<br />

mais humano? Quando é hora de abaixar a<br />

câmera para Edvaldo?<br />

E.R - Quando está havendo alguma injustiça com<br />

alguém, evito determinadas fotos e às vezes até<br />

questiono com o repórter ao meu lado. Fui fazer<br />

um trabalho na polícia e estava preso um cidadão<br />

acusado de cometer um crime, mas não havia<br />

provas. O repórter que estava comigo mandou que<br />

eu o fotografasse e senti que o repórter estava com<br />

certo interesse junto aos policiais e me neguei a<br />

fotografar. Disse a ele que não tinha prova e que a<br />

pessoa era um suspeito.<br />

UP - Fotografar esportes sempre foi a sua<br />

paixão. Como foi participar de três Copas do<br />

Mundo consecutivas?<br />

E.R - Foi muito emocionante. Lembro como se<br />

fosse hoje. Estava na Espanha, em 1982, cobrindo<br />

a primeira Copa da minha vida em Madri. Aquela<br />

cidade, muita gente bonita, uma coisa diferente da<br />

minha cidade e eu disse pra mim mesmo: “meu<br />

Deus, estou aqui na Europa. Vim lá de um bairro<br />

pobre e me encontro aqui num lugar desse”. Foi<br />

muito emocionante .<br />

UP - De que forma vê o ambiente do jornal?<br />

E.R - O ambiente do jornal hoje não é mais<br />

como antigamente. Eu e meus contemporâneos<br />

tínhamos uma amizade muito grande, éramos uma<br />

família. Tinha amigos que eu frequentava a casa<br />

constantemente e eles a minha. Hoje não, cada<br />

um terminou o seu trabalho “puxa o carro”. Não há<br />

mais essa relação de amizade.<br />

UP - Como vê a função de repórter fotográfico<br />

com o advento de registros fotográficos feitos<br />

por pessoas que não são fotógrafos?<br />

E.R - Estou com medo que desapareça. Em alguns<br />

jornais até o repórter fotográfico já desapareceu.<br />

Os jornais hoje não buscam mais qualidade,<br />

buscam informação rápida. Então hoje usam<br />

imagens de leitores enviadas através do Whatsapp,<br />

sem qualidade técnica, nem olhar de jornalista.<br />

O repórter fotográfico, mesmo que não tenha<br />

estudado, quando entra é como um escritor. Ele<br />

tem no sangue, tem no olhar um lado crítico que vai<br />

buscar através da foto uma mensagem.<br />

UP - Existe muito jogo de ego entre os<br />

fotógrafos nas redações?<br />

E.R - Tem muitos fotógrafos que se acham o “rei<br />

da cocada” e se acham melhores até do que os<br />

repórteres de texto porque acredita que “uma<br />

imagem vale mais do que mil palavras”. Acho que<br />

uma imagem é muito importante, mas se vale mais<br />

que mil palavras, depende muito da imagem, não<br />

é?<br />

UP - Já se viu numa situação absolutamente<br />

embaraçosa, numa pauta onde o suporte<br />

fotográfico ainda era o filme? Onde não havia<br />

essa possibilidade de apagar e refazer.<br />

E.R - Já me vi, mas consegui recuperar. Em 1968<br />

9


10<br />

a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, veio ao Recife e<br />

eu fui o fotógrafo escalado para fazer a chegada<br />

dela. Na época, para economizar, os jornais não<br />

compravam o filme na caixinha pronta, mas rolos<br />

que colavam em laboratório com uma fita ao<br />

rebobinar. Então eu já tinha feito um bom número<br />

de fotos, quando o filme se soltou da máquina.<br />

Com isso fiquei sem poder fotografar mais porque<br />

tinha que trocar o filme e fiquei na dúvida se<br />

abria a câmera para tirar e arriscar queimar várias<br />

fotos ou se voltava para o jornal. Fiquei naquele<br />

impasse mas, como trabalhávamos de paletó<br />

naquela época, tirei o paletó, enrolei a máquina<br />

nele e por dentro consegui tirar o filme e colocar<br />

dentro da caixinha. A maioria se salvou. E rendeu<br />

capa (rindo).<br />

UP - Alguns fotógrafos já foram<br />

contemplados com verdadeiros furos por<br />

conta da chegada tardia e/ou má localização<br />

na pauta. Você tem alguma situação que<br />

legitima isso?<br />

E.R - Sim. Cheguei atrasado ao aeroporto militar<br />

para cobrir a vinda do Papa João Paulo II ao<br />

Recife. Os colegas já estavam posicionados e<br />

um Coronel comandando a imprensa disse que<br />

não poderia mais entrar. Disse a ele que se<br />

não fizesse a foto perderia meu emprego e ele<br />

terminou me colocando em um local diferente dos<br />

outros. De repente, quando o avião chegou, fiquei<br />

só e o tapete vermelho foi colocado na minha<br />

frente. Esta foi a foto que rodou o mundo (foto<br />

ilustrativa de capa da <strong>UnicaPhoto</strong>). Todos fizeram,<br />

mas estavam num ângulo distante, diagonal, e<br />

eu num frontal. Fiz o Papa descendo do avião,<br />

acenando para mim. Respondi com uma mão e<br />

fotografei com a outra. Essa foto foi premiada,<br />

muito vendida para vários países. Dom Helder<br />

Câmara levou essa foto para o Vaticano e eu dei<br />

a ele de presente. Foi uma foto que considero o<br />

momento certo no lugar incerto.<br />

UP – Que a dica que você deixa para quem<br />

está começando e deseja deixar sua marca<br />

no Fotojornalismo?<br />

E.R - O Fotojornalismo é uma coisa muito<br />

dinâmica, muito bonita e as pessoas que estão<br />

começando devem se entregar mesmo e buscar<br />

sempre se aperfeiçoar cada vez porque esta é<br />

uma atividade que participa da história no seu<br />

país. Acredito que dei a minha contribuição<br />

histórica para o país porque venho de um período<br />

antes da revolução de 1964, num período em que<br />

este país estava em efervescência com as Ligas<br />

Camponesas e o regime muito rígido da Ditadura<br />

Militar. Eu documentei tudo isso e esta é uma<br />

parte da história do Brasil.


Foto: Adelson Alves<br />

Foto: Luana Alencar<br />

Prêmio Alcir Lacerda homenageia<br />

profissionais pernambucanos<br />

Por Arline Lins<br />

Edvaldo Rodrigues e Rivaldo Varela são<br />

os fotógrafos homenageados na 3ª edição do<br />

Prêmio Alcir Lacerda, oferecido sempre em 19<br />

de agosto, Dia Mundial da Fotografia. O tributo<br />

foi criado por Renata Victor, coordenadora<br />

do curso superior de Tecnologia em Fotografia<br />

da Unicap. “O prêmio é uma forma de agradecer<br />

aos que abriram os caminhos da fotografia<br />

para as novas gerações”, ressaltou Renata,<br />

que fotografa há 32 anos. Em 2012, na primeira<br />

edição, quem levou a estatueta para casa<br />

foi o próprio Alcir Lacerda. A filha dele e historiadora<br />

Betty Lacerda contou que o pai ficou<br />

tomado de emoção com a homenagem: “ele<br />

ficou muito feliz porque encontrou os amigos e<br />

porque adorava estar em qualquer evento que<br />

tivesse relação com a fotografia.”<br />

No ano seguinte, os premiados foram os<br />

Pedro Luiz e Gilberto Marcelino. Cada um,<br />

com seu trabalho em jornalismo e publicidade,<br />

respectivamente, escreveu o nome na história<br />

da fotografia em Pernambuco. “O prêmio é importante<br />

porque lembra o valor dos profissionais<br />

mais antigos, que já estavam um pouco<br />

esquecidos, e traz inspiração para quem está<br />

começando agora”, disse Pedro Luiz, que, em<br />

50 anos de carreira, já passou por veículos<br />

como a revista O Cruzeiro, o Jornal do Commercio,<br />

Diario de Pernambuco e O Globo.<br />

O prêmio é simbolizado por estatuetas,<br />

que nos dois primeiros anos foram elaboradas<br />

pela professora e artista plástica Niedja Dias.<br />

A do primeiro foi especial: uma escultura do<br />

próprio Lacerda. Este ano, Mano Victor é o<br />

responsável pelas peças de madeira, que vêm<br />

em formato de câmera fotográfica.<br />

LACERDA - Alcir Lacerda, que começou a<br />

fotografar em 1942 e inspirou Renata Victor<br />

a nomear o prêmio, faleceu em setembro de<br />

2012, pouco depois de receber a homenagem.<br />

Foi-se o artista, ficou a obra. “Se papai<br />

estivesse vivo, ficaria muito feliz de homenagear<br />

pessoas com o nome dele. Ele tinha honra<br />

de pertencer à classe dos fotógrafos. Estaria<br />

muito honrado”, completou Betty Lacerda.<br />

11


Acervo unicap<br />

“VOLTA NA PRAIA”<br />

Equipamento: iPhone 4<br />

Ano: 2012<br />

* A coluna Acervo Unicap é organizada pelo<br />

professor Dario Brito, professor da instituição<br />

“Era novembro e eu aproveitei um<br />

feriado prolongado para esticar até o<br />

Rio de Janeiro e curtir uma cervejinha<br />

na praia. Sempre tive essa relação<br />

muito forte e intensa com o mar,<br />

tanto que considero a praia meu<br />

segundo escritório. Gosto de correr<br />

na areia fofa, mergulhar, pescar e<br />

surfar. Acho que nas minhas veias,<br />

além de sangue, corre também<br />

água salgada. Há um tempo vinha<br />

desenvolvendo séries de imagens<br />

com essa temática de praia nos seus<br />

mais diferentes aspectos, desde as<br />

atividades de lazer até o comércio<br />

ambulante, por exemplo, e, nesse dia<br />

em especial, estava<br />

em Copacabana<br />

quando vi alguns<br />

atletas de ginástica<br />

olímpica treinando<br />

na areia. Aquela<br />

imagem era muito<br />

forte pela beleza<br />

dos movimentos e<br />

chamava a atenção<br />

de quem estava<br />

ali perto. Puxei o<br />

celular e comecei<br />

a clicar, fui me<br />

aproximando e<br />

fazendo varias<br />

imagens até que<br />

essa saiu”.<br />

12<br />

Rodrigo Lobo,<br />

fotógrafo e diretor<br />

de fotografia.


A Fotografia em<br />

Pernambuco no<br />

Século XIX<br />

Karina Galvão, Paulo Souza, Rodrigo Silva, Sollon Filho, Thaís Carvalho<br />

O advento do daguerreótipo, em no século<br />

XIX, teve grande repercussão na Europa,<br />

sendo levado rapidamente para os Estados<br />

Unidos. Em poucos anos já havia um grande<br />

quantitativo de pessoas que dominavam<br />

sua técnica, sendo mais que uma ferramenta<br />

artística. O invento criou um novo mercado de<br />

comercialização de imagens e se manteve soberano<br />

por vários anos. Os daguerreotipistas<br />

chegam ao Brasil e a Pernambuco quase que<br />

como colonizadores e circulam dentro do território<br />

nacional com grande frequência. Alguns<br />

com interesses comerciais, outros movidos<br />

pelo espírito documental, buscando retratar<br />

uma sociedade até então desconhecida.<br />

As fotos do Recife geralmente eram grandes<br />

planos abertos, mostrando as belezas e o<br />

cotidiano da cidade. Eram um convite ao estabelecimento<br />

de empreendimentos comerciais<br />

ligados à fotografia, e isso contribuiu para o<br />

surgimento dos primeiros estúdios fotográficos<br />

da cidade. A colonização fotográfica pernambucana<br />

seguiu os moldes da nacional. Os<br />

equipamentos e os fotógrafos desembarcavam<br />

carregados de toda influência e visão de<br />

mundo trazidas da Europa. Se o pensamento<br />

político, as condutas sociais e os mais variados<br />

elementos eram adotados no país sob<br />

influência do que acontecia além do oceano,<br />

era de se esperar que a fotografia pernambucana<br />

nascesse com sangue europeu, e isto,<br />

é claro, na adoção dos retratos como modelo<br />

comercial, com trajes e objetos de cena tipicamente<br />

importados do velho continente.<br />

A construção de uma fotografia local passou<br />

pela exploração de elementos e características<br />

que eram próprios de Pernambuco.<br />

Os registros do Recife e sua relação com o<br />

mar e o Rio Capibaribe, as edificações, estradas,<br />

engenhos, alguns dos elementos que<br />

registravam uma cidade em construção, a<br />

chegada do desenvolvimento. Talvez essas<br />

imagens carregassem uma bagagem ideológica<br />

muito própria dos europeus, mas ainda<br />

assim contribuíram para a construção da<br />

representação visual de Pernambuco.<br />

Os europeus deixaram seu legado, participaram<br />

da formação de novos fotógrafos e,<br />

ainda no século XIX, alguns brasileiros passaram<br />

a dominar o oficio fotográfico. Falar<br />

sobre a fotografia de Pernambuco no século<br />

XIX é falar sobre esses homens que assumiram<br />

a fotografia como oficio e deram uma<br />

contribuição sem precedentes na construção<br />

da representação do povo e do território de<br />

Pernambuco. Dessa forma, é fundamental entender<br />

como cada um desses fotógrafos pode<br />

contribuir para formação da produção visual<br />

pernambucana e de que forma seu legado foi<br />

passado aos profissionais locais. Para isso<br />

será feita aqui uma abordagem da vida e obra<br />

deles, com ênfase na atuação em Pernambuco<br />

de alguns dos principais nomes do período.


MARC FERREZ<br />

Foto: Marc Ferrez<br />

Filho de pais franceses<br />

que moravam no Brasil,<br />

Marc Ferrez nasceu no<br />

Rio de Janeiro em 1843.<br />

Aos oito anos ficou órfão e<br />

viveu parte de sua infância<br />

com a família de Joseph<br />

Eugene Dubois, gravador<br />

de medalhas, com quem<br />

foi morar em Paris em<br />

1855. Em 1860, retorna ao<br />

Rio de Janeiro e trabalha<br />

na Casa Leuzinger, estabelecimento<br />

fotográfico<br />

de George Leuzinger. No<br />

mesmo ano, Ferrez conhece o engenheiro Franz Keller-Leuzinger, com quem aprende a técnica<br />

fotográfica. Aos 22 anos, em 1865, estabeleceu-se por conta própria sob a razão comercial<br />

Marc Ferrez & Cia., no Centro do Rio de Janeiro, exercendo a profissão de fotógrafo. Em<br />

1870, torna-se fotógrafo da Marinha Imperial. Em 1875, Ferrez recebe um convite para integrar<br />

a expedição financiada pela Comissão Geológica do Império. Nesta expedição, chefiada pelo<br />

cientista norte-americano Charles Frederick Hartt, que tinha como objetivo pesquisar as formações<br />

rochosas das diferentes províncias do país, Ferrez percorreu os atuais Estados da Bahia,<br />

Pernambuco, Alagoas e parte da Região Amazônica, fotografando as vistas das províncias<br />

visitadas, os recifes de Pernambuco, a cachoeira de Paulo Afonso, corais e paisagens, fazendo<br />

retratos etnográficos dos índios da tribo Botocudo, da Bahia, nunca antes fotografados. As<br />

imagens do fotógrafo Marc Ferrez podem ser encontradas no Instituto Moreira Salles, no Arquivo<br />

Nacional, na Biblioteca Nacional, na Casa Rui Barbosa, na Biblioteca Nacional de Caracas<br />

(Venezuela) e na Biblioteca Nacional de Paris, França (INSTITUTO MOREIRA SALLES; ITAÚ<br />

CULTURAL, 2013).<br />

Foto: Francisco Labadie<br />

FRANCISCO LABADIE<br />

Nasceu na França no século XIX. Era fotógrafo e proprietário<br />

da Photographie Française, estúdio com nome que homenageava<br />

seu país de origem e que funcionou entre os anos de 1870 e<br />

1880. Era um dos mais concorridos estúdios de retratos do Recife,<br />

que oferecia inclusive cópias pelo processo de carvão, que tem<br />

penetração restrita no Brasil apesar de garantir um acabamento<br />

singular e grande durabilidade. Labadie morreu em Pernambuco,<br />

em 1883. Seu acervo se encontra na Biblioteca Nacional, no Rio<br />

de Janeiro, e na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.


Foto: João Ferreira Villela<br />

JOÃO FERREIRA VILLELA<br />

Pernambucano, pintor e fotógrafo,<br />

Villela produziu imagens entre<br />

1850 e 1870 e se estabeleceu em<br />

um estúdio na Rua do Cabugá, no<br />

Recife entre 1855 e 1870. Foi um<br />

importante nome do século XIX,<br />

sobreviveu comercialmente como<br />

retratista, mas produziu imagens<br />

com paisagens da capital pernambucana. Registrou fatos importantes na vida social, com a<br />

visita do Imperador Dom Pedro II ao Recife, no ano de 1859, tendo, inclusive, o presenteado<br />

com seis vistas da cidade, sendo agraciado com o título de Photographo da Casa Imperial no<br />

ano seguinte. A trajetória de João Ferreira Villela foi marcada por ter trabalhado com diferentes<br />

processos fotográficos, apresentados em formatos diversificados e sobre suportes variados.<br />

GUILHERME GAENSLY<br />

Fotógrafo suíço, nascido em Wilhelm<br />

Gänsli, no ano de 1843, reconhecido<br />

principalmente pelo grande registro que<br />

fez da cidade de São Paulo entre os<br />

anos de 1890 e 1920. Gaensly imigrou<br />

para o Brasil em 1871 com sua família e<br />

trouxe a tradição de retratos da Europa,<br />

abrindo inicialmente um estúdio chamado<br />

Photographia Premiada, na cidade<br />

de Salvador, onde realizou trabalhos<br />

mais comerciais. Fotografou também em<br />

algumas cidades do Nordeste, incluindo Recife, em trabalhos que deixavam de lado o oficio<br />

de retratista e abordavam vistas da cidade. A região central da cidade foi registrada com suas<br />

ruas, construções e monumentos.<br />

Foto: Alberto Henschel<br />

ALBERTO HENSCHEL<br />

Foto: Guilherme Gaensly<br />

Nasceu em Berlim, Alemanha, no ano de 1827, e é considerado<br />

talvez o maior empresário da fotografia no Brasil no século<br />

XIX, tendo criado uma verdadeira cadeia de estúdios de fotografia,<br />

mantendo escritórios em Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de<br />

Janeiro. Foi premiado com o título de Photographo da Casa Imperial,<br />

honraria que abriu portas para que ele retratasse o cotidiano da<br />

monarquia brasileira no Segundo Reinado. Chegou ao Recife em<br />

1866, abriu um estabelecimento no Largo da Matriz de Santo Antônio,<br />

em parceria com o compatriota Karl Heinrich Gutzlaff, o Alberto<br />

Henschel & Cia., que em seguida passa a se chamar Photographia<br />

Allemã. Em seu acervo existe grande quantidade de fotos produzidas<br />

em Pernambuco, retratos em engenhos, usinas, na capital e no<br />

interior, abordando a alta sociedade e também os escravos. O fotógrafo<br />

Constantino Barza, assistente de Henschel, deu continuidade<br />

aos serviços da Alberto Henschel & Cia., seguindo a mesma linha<br />

de fotografias que seu mentor produzia.


FLÓSCULO DE MAGALHÃES<br />

Magalhães atuou como fotógrafo em Recife, Pernambuco,<br />

entre os anos de 1886 e 1887, na Rua do Barão da Victoria, n.<br />

14, e depois, no ano de 1898, na Rua da Imperatriz, n. 54. A<br />

título de especulação, podemos supor que tenha havido uma<br />

relação de parceria ou sociedade entre os fotógrafos Mattos e<br />

Flósculo de Magalhães. Magalhães produziu uma interessante<br />

documentação fotográfica das paisagens urbanas de Ribeirão<br />

Preto e parte da sua obra encontra-se sob a custódia do Arquivo<br />

Público e Histórico de Ribeirão Preto.<br />

Foto: Flósculo de Magalhães<br />

THEOPHILE AUGUSTE STAHL<br />

Nasceu em 23 de maio de 1824 na França.<br />

Chegou ao Recife em 1853 e iniciou sua<br />

atuação como fotógrafo em 1854, quando<br />

abriu seu primeiro estabelecimento na capital<br />

pernambucana. Fez o registro da chegada<br />

da família imperial à cidade pernambucana,<br />

quando o imperador, Dom Pedro II, e a imperatriz,<br />

Dona Teresa Cristina, visitaram o Recife<br />

pela primeira vez, em 22 de novembro de<br />

1854. Autorizado a fotografar o casal imperial,<br />

seu trabalho chamou a atenção do imperador,<br />

que o agraciou com o título de Photographo<br />

da Casa Imperial em 1862. Desde então, passou a deter o monopólio da imagem dos monarcas<br />

na província de Pernambuco. Documenta ainda a construção da segunda estrada de ferro<br />

brasileira, a Recife and S. Francisco Railway, que liga Recife à cidade do Cabo, em 1858, além<br />

de ter fotografado negros escravos e alforriados, realizando belos retratos. Stahl permaneceu<br />

em atividade no Recife por oito anos, quando então se mudou para o Rio de Janeiro, no início<br />

de 1862.<br />

Foto: Charles Fredricks<br />

CHARLES DEFOREST FREDRICKS<br />

Nasceu em 1823 na cidade de Nova York, nos<br />

Estados Unidos, e faleceu no mesmo país, em<br />

Nova Jersey, em 1894. Foi estudante da técnica de<br />

daguerreotipia com Jeremiah Gurney, um popular<br />

daguerreotipista da Broadway, que inclusive lhe<br />

vendeu seu primeiro equipamento. Aos 20 anos<br />

partiu em uma viagem para Venezuela, para visitar<br />

seu irmão, que trabalhava no país, em seguida<br />

se deslocando para o Brasil através da fronteira<br />

amazônica, onde fotografou povos indígenas em plena selva, que fugiram com todo seu equipamento,<br />

relato do ocorrido é contado por Pedro Vasquez. Após sua recuperação, retornou ao<br />

Brasil com novo equipamento e atuou em várias cidades, como Belém, São Luís, Recife, Salvador<br />

e Rio de Janeiro. Explorou a fotografia como um artigo de luxo, com cenários que simulavam<br />

um modelo de vida burguês, valorizando a busca pela aparência e culto a imagem. Na sua<br />

passagem pelo território Pernambucano realizou alguns registros do Recife, em daguerreótipo,<br />

tendo se destacado por fazer alguns dos primeiros registros conhecidos da cidade, ainda no<br />

ano de 1851. Sua foto do Fonte de São Francisco da Barra é provavelmente o registro mais<br />

antigo da cidade.


A produção fotográfica no século XIX sofreu<br />

uma clara bipartição entre os objetos<br />

fotografados. De um lado, se enfileiravam os<br />

profissionais com viés comercial, dedicados<br />

quase que totalmente aos retratos, em forma<br />

de cartão de visita, seguindo a moda que se<br />

popularizava na Europa. De outro, seguiam<br />

os artistas dedicados a fotografar paisagens,<br />

retratar o cotidiano da vida social e as belezas<br />

naturais, principalmente da cidade capital,<br />

Recife.<br />

Talvez não existisse entre os fotógrafos que<br />

se estabeleceram em Pernambuco, e mesmo<br />

entre os que passaram pelo Estado, uma<br />

identidade visual que os vinculasse ao povo e<br />

território fotografado, mas ainda assim os registros<br />

do período são elementos fundamentais<br />

para estudo das transformações sociais e<br />

históricas da época, sendo ainda pouco exploradas<br />

diante de sua relevância histórica. Sem<br />

dúvidas, a identidade visual de Pernambuco<br />

foi concebida a partir dos registros do século<br />

XIX, e algumas daquelas imagens permanecem<br />

como cartões-postais e locais de grande<br />

apelo turístico até os dias de hoje.<br />

É fundamental estabelecer elos e procurar<br />

entender de que forma a fotografia foi utilizada,<br />

as relações de uma sociedade escravocrata,<br />

o apogeu e o declínio dos engenhos<br />

e da sociedade do açúcar, a preocupação<br />

já existente com a imagem, que já mostrava<br />

distorções entre a imagem do sujeito fotografado<br />

e sua posição real na sociedade, sendo<br />

a fotografia o momento de exaltar e exibir uma<br />

imagem geralmente maquiada.<br />

A fotografia em Pernambuco é um campo<br />

aberto para pesquisa, de grande importância<br />

para a história do Estado. Os acervos<br />

históricos institucionais e pessoais são ricos<br />

e possuem vasto material, que precisa ser<br />

explorado e conservado, preservando uma<br />

memória que é recente, quando pensamos no<br />

tempo da história, mas que já sofre com as<br />

limitações físicas impostas pela deterioração<br />

dos materiais e ação dos processos químicos<br />

e biológicos, tornando cada vez mais necessária<br />

uma célere intervenção para preservação<br />

desse patrimônio histórico e imagético da<br />

sociedade pernambucana.<br />

Este trabalho foi desenvolvido na disciplina<br />

de História da Fotografia ministrada pela<br />

Profª. Ms. Julianna Torezani em <strong>2014</strong>.1.<br />

Karina Galvão, Paulo Souza, Rodrigo Silva,<br />

Sollon Filho e Thaís Carvalho foram alunos<br />

do 1º período do Curso de Fotografia da<br />

UNICAP em <strong>2014</strong>.1.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BORGES, Maria Elízia. A fotografia: seu<br />

aparecimento e expansão na capital do café<br />

no período da Primeira República. <strong>Revista</strong><br />

Comunicação e Artes, São Paulo, n. 17, p. 119-<br />

131. 1986.<br />

HEYNEMANN, Cláudia Beatriz. A fotografia<br />

imperial de Albert Henschel. In: SIMPÓSIO<br />

NACIONAL DE HISTÓRIA CULTURAL, VII,<br />

2012, Teresina. A fotografia imperial de Albert<br />

Henschel. Teresina: UFPI, 2012. p. 1 - 12.<br />

INSTITUTO MOREIRA SALLES. Acervo –<br />

Fotografia. 2013. Disponível em: .<br />

Acesso em: 15 maio <strong>2014</strong>.<br />

ITAÚ CULTURAL. Enciclopédia Itaú Cultural<br />

– Artes Visuais. 2013. Disponível em:<br />

. Acesso em: 14<br />

maio <strong>2014</strong>.<br />

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico<br />

brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no<br />

Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira<br />

Salles, 2000. 405p.<br />

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama<br />

fotográfica. Cotia – São Paulo: Ateliê Editorial,<br />

2002. 149p.<br />

LEE-MEDDI, Jeocaz. Os fotógrafos do Império<br />

do Brasil. 2009. Disponível em: .<br />

Acesso em: 16 maio <strong>2014</strong>.<br />

MANESCHY, Orlando. Cartografias da história<br />

da fotografia no Pará. 2003. In: ANPUH –<br />

SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, XXII,<br />

2003, João Pessoa. Cartografias da história da<br />

fotografia no Pará. João Pessoa. p. 1 - 8.


Só no ADI - Atelier de Impressão<br />

a sua foto é tratada como obra de arte!<br />

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19


tesouros<br />

de um<br />

império<br />

caído<br />

Por Paulo Souza*<br />

Foto: Paulo Souza<br />

20


22<br />

Existe uma aura de mistério que cobre o<br />

continental território russo. O fechamento<br />

político e econômico por muitos anos gerou<br />

curiosidade sobre o modo de vida daquele<br />

país, e é intrigante imaginar que condições<br />

propiciaram o surgimento de uma indústria<br />

de fotografia soviética, produto do esforço de<br />

um país que até o início do século XX não<br />

detinha qualquer domínio da tecnologia, mas<br />

que assumiu a missão de recriar sem qualquer<br />

colaboração técnica os equipamentos da<br />

clássica indústria alemã.<br />

A engenharia comunista se mostrou surpreendentemente<br />

capaz, produziu câmeras<br />

indiferentes à passagem do tempo. Com um<br />

acervo que varia de primorosos equipamentos<br />

com qualidade ótica e mecânica comparável<br />

as das melhores câmeras alemãs, até produtos<br />

de qualidade questionável, conhecidos por<br />

vazamentos de luz e aberrações cromáticas,<br />

as analógicas do império soviético vêm ganhando<br />

adeptos e colecionadores ao redor do<br />

mundo, são incrivelmente baratas e produzem<br />

encantadores resultados.<br />

Entre as grandes fábricas de câmeras<br />

destacaram-se a LOMO, a Empresa Estatal<br />

Arsenal de Kiev, a KMZ e a Belomo. Outras<br />

dedicaram-se à produção de lentes, emulsão<br />

fotossensível, rolos, papel fotográfico, filme<br />

para cinema e químicos de revelação. Poucas<br />

delas se mantém em atividade no mercado<br />

fotográfico, algumas migraram para outros<br />

setores e outras simplesmente desapareceram.<br />

Nesse artigo é abordada um pouco da<br />

história de uma das mais significativas marcas<br />

do mercado soviético, a ucraniana FED.<br />

FED pré-série N°58<br />

Fonte: sovietcams.com<br />

A história da FED remonta ao ano de 1927,<br />

quando por iniciativa de Felix Edmundovich<br />

Dzerzhinsky (polonês criador do serviço<br />

secreto da URSS), nos arredores de Kharkiv,<br />

atual território da Ucrânia, foi iniciada a construção<br />

de várias casas para moradia de crianças<br />

de rua, onde poderiam viver , estudar<br />

e se formar como aprendizes em trabalhos<br />

técnicos. A comuna, inaugurada em 29 de dezembro<br />

de 1927, tinha grande viés industrial<br />

e foi batizada homenageando seu idealizador,<br />

sendo chamada FE Dzerzhinsky.<br />

Cinco anos se passaram, até que em 1932<br />

foi organizada a planta da fábrica da FED,<br />

tendo como primeiros produtos produzidos<br />

uma linha de furadeiras elétricas, item escasso<br />

na União Soviética no período. Estima-se<br />

que nessa mesma época foram produzidos<br />

os primeiros modelos experimentais da FED,<br />

buscando reproduzir com tecnologia nacional<br />

as câmeras alemãs, Leica I.<br />

Em apenas dois anos, a tecnologia de produção<br />

das Leica havia sido dominada pelos<br />

soviéticos. Em 1934 são lançadas as FED-1,<br />

cópias quase que idênticas das câmeras Leica<br />

II, com uma pequena diferença na rosca de<br />

encaixe, equipadas com lente de fabricação<br />

própria f3.5/50mm.<br />

Durante a 2a Guerra Mundial, com o avanço<br />

dos nazistas, a fábrica foi transferida para<br />

Berdsk, na Sibéria, em 1941. Após o término<br />

do conflito as câmeras FED passaram algumas<br />

sutis alterações e assumiram total compatibilidade<br />

com o sistema de rosca M39 da<br />

Leica e, a partir do “antepassado” comum,<br />

evoluíram paralelamente modelo a modelo<br />

com as FED 2, 3, 4, 5, 5B, 5C.<br />

Enquanto os oficiais nazistas carregavam<br />

suas Leicas, os espiões da KGB e oficiais do<br />

exército vermelho faziam uso das FED, devidamente<br />

personalizadas com insígnias militares.<br />

Há uma série especial sem nome específico,<br />

montada entre 1949 e 1950, conhecida<br />

pelas iniciais TSVVS e desenhada para serviço<br />

topográfico da força área, produzidas em<br />

uma planta militar de Moscou.<br />

Esse modelo é especialmente bem construído,<br />

tem o corpo revestido em couro e consiste<br />

basicamente em um corpo tipo Leica com<br />

uma lente Zeiss Sonnar, montada em baioneta<br />

Contax, ficou conhecida como a “FED dos<br />

Generais”.<br />

O primeiro modelo das “ФЭД”, em alfabeto<br />

cirílico, foi produzido até o ano de 1955,


FED TSVVS Nº 441 de 1949<br />

Fonte: sovietcams.com<br />

com várias melhorias e pequenas evoluções<br />

em sua tecnologia, entre as séries clássicas<br />

se destaca um lote de câmeras falsificadas<br />

produzida com o logotipo da Leica em substituição<br />

a logomarca soviética e uma edição<br />

comemorativa de 1954, que celebrava os<br />

300 anos da união entre Ucrânia e Rússia.<br />

Segundo o site sovietcams.com, maior banco<br />

de dados sobre câmeras da URSS, o último<br />

modelo da FED-1 conhecido tem número de<br />

série 712.834, mas há relatos que a produção<br />

tenha chegado até a casa dos 800.000.<br />

A partir de 1955 surgem as primeiras FED-<br />

2, completamente redesenhadas e recheadas<br />

de novos recursos. Introduzem um corpo com<br />

traseira removível que trava a câmera com<br />

duas chaves na parte inferior. O conjunto do<br />

telêmetro também foi redesenhado. <strong>Ago</strong>ra<br />

com uma base de maior comprimento, combinando<br />

o telêmetro com o visor. Conta ainda<br />

com uma alavanca de ajuste de dioptria sob o<br />

botão de rebobinar e também um novo obturador.<br />

Foram produzidas mais de 1.600.000<br />

unidades da câmera, ainda hoje largamente<br />

comercializada no mercado analógico. Ironicamente<br />

as FED e demais “Leicas soviéticas”<br />

foram produzidas em quantidade bem maior<br />

que a original, e não seria leviano afirmar que<br />

são soberanas em quantidade quando se fala<br />

no tipo de montagem M39.<br />

As FED-3 abandonam o desenho idêntico<br />

ao das Leica, o que representa uma perda<br />

estética, mas que de alguma forma deu vida<br />

própria as câmeras da empresa. As mudanças<br />

tecnológicas foram adotadas com o passar<br />

dos anos, como em 1964 onde o fotômetro é<br />

incorporado, primeiro em uma adaptação do<br />

corpo da FED-3, conhecida como FED-4a,<br />

e logo em seguida redesenhado e lançado<br />

como FED-4b.<br />

Ao longo dos anos foram lançados<br />

modelos fora da série convencional, como<br />

a FED MICRON, MICRON2, FED-35 e<br />

FED-50. Fabricaram objetivas, câmeras<br />

FED 5c comemorativa<br />

dos Jogos Olímpicos<br />

de Moscou - 1980,<br />

Nº64.360<br />

Fonte: sovietcams.com<br />

estereoscópicas e outros acessórios<br />

fotográficos, como tripés e telêmetros<br />

externos.<br />

A divisão fotográfica da empresa parou de<br />

produzir máquinas e lentes em 1997, sendo<br />

o modelo de visor direto, FED 50, o último<br />

produzido, encerrando uma notável história<br />

na indústria fotográfica. A FED existe até hoje<br />

atuando em outros ramos, como na fabricação<br />

e desenvolvimento de componentes para<br />

indústria aeronáutica, sistemas hidráulicos,<br />

navios e veículos terrestres.<br />

Ainda que a qualidade ótica e mecânica,<br />

principalmente dos modelos mais recentes,<br />

não seja comparável com a das câmeras produzidas<br />

na Alemanha, hoje as FED se consolidam<br />

como excelente opção para fotografia<br />

analógica de baixo custo, sendo um grande<br />

salto para os fotógrafos que buscam mergulhar<br />

no universo analógico sem desembolsar<br />

grandes somas de dinheiro. São excelentes<br />

opções de câmera rangefinder, completamente<br />

mecânica, com visual incrível. As FED<br />

possuem um charme próprio e cativam os<br />

apaixonados por fotografia e, assim como os<br />

demais equipamentos soviéticos, são dotadas<br />

de robusta mecânica e construídas para<br />

durar. A possibilidade de utilizar lentes M39<br />

é uma outra grande vantagem, pois além da<br />

própria Leica, Voigtländer e outros fabricantes<br />

alemães, há compatibilidade com verdadeiras<br />

pérolas de construção ótica, como a lendária<br />

Jupiter-3 50mm f1.5 fabricada pela KMZ, também<br />

na União Soviética. É possível montar<br />

um conjunto de corpo e lente por um valor infinitamente<br />

inferior ao que se pagaria por uma<br />

Leica, Voigtländer, Konica Hexar, ou alguma<br />

das câmeras telemétricas clássicas.<br />

*Paulo Souza é aluno do Curso de Fotografia da<br />

Unicap.<br />

23


E<br />

VOCÊ,<br />

24


FOTOGRAFA<br />

PRA QUÊ?<br />

Por Germana Soares*<br />

25


Com a chegada da máquina digital, a<br />

fotografia faz parte do nosso dia a dia quase<br />

como um ato involuntário. Seja na câmera, no<br />

celular ou no tablet, milhões de imagens são<br />

produzidas diariamente, algumas sendo compartilhadas<br />

nas redes sociais, como o Facebook<br />

e o Instagram, outras servindo de conteúdo<br />

para sites, blogs e afins. E essa produção<br />

desenfreada me leva a um questionamento:<br />

as pessoas fotografam para quê?<br />

Claro que cada um tem seus motivos, suas<br />

preferências e eu não estou aqui para julgar,<br />

mas, às vezes, deveríamos parar um pouco<br />

para pensar a real função que a fotografia<br />

pode ter na nossa vida. Aos poucos, esse ato<br />

tão definitivo que é o registro de milésimos de<br />

segundos da nossa história se torna efêmero<br />

e a função de eternizar se perde entre uma<br />

curtida e outra.<br />

Então quer dizer que só devemos fotografar<br />

o essencial? Não. O que podemos fazer<br />

é unir essa ferramenta tão poderosa que é a<br />

fotografia para nos auxiliar na documentação<br />

da nossa história.<br />

E se você pudesse reviver sua infância<br />

através de fotografias feitas pelos dos olhos<br />

da pessoa que mais amor pode transmitir?<br />

Quando Tomé crescer ele vai poder aproveitar<br />

um presente desses. Manu, mãe de Tomé e<br />

Nina e esposa de Hugo, decidiu deixar para<br />

seus filhos um registro diário da família. O<br />

crescimento das crianças fotografado sem<br />

muitas regras e com muito amor.<br />

Para que as imagens não se percam, Manu<br />

decidiu criar uma caixinha de lembranças virtual.<br />

As imagens estão salvas no Tumblr que<br />

diariamente é alimentado com pedacinhos da<br />

história de Tomé. Com curadoria de Georgia<br />

Quintas, a infância de Tomé construiu a exposição<br />

“Plenitude” no Festival de Fotografia de<br />

Tiradentes, 26 a 30 de março de <strong>2014</strong>.<br />

E sobre o crescimento, pessoal e familiar,<br />

Manu segue escrevendo um diário sobre a escolha<br />

de sair de cidade grande e descobrir um<br />

novo universo, com pés no chão e cheiro de<br />

mato. Para quem quiser acompanhar através<br />

de relatos divertidos o dia a dia dessa família<br />

linda, segue o link: http://notasobreumaescolha.wordpress.com/<br />

*Germana Soares é professora do Curso de Fotografia<br />

da Unicap<br />

26


Plenitude<br />

Por Georgia Quintas<br />

Algumas imagens são para sempre.<br />

Ao menos, nascem assim. Para<br />

deixarem de estar no passado ao<br />

encontrarem o afago do futuro.<br />

A exposição Plenitude, da fotógrafa<br />

mineira Manu Melo Franco, percorre<br />

parte de seu arquivo contemporâneo,<br />

pessoal-familiar. Através do<br />

exercício cotidiano, a fotógrafa narra<br />

um discurso sensível sobre a infância,<br />

um modo de viver e<br />

experimentar valores autênticos de<br />

escolha para sua família. Estar no<br />

campo surge nas imagens como prosa<br />

que enfronha-se nas descobertas<br />

do protagonista genuíno dessa<br />

história: Tomé.<br />

Divisou o tempo, plantou a seiva<br />

do futuro. Porque as coisas vistas<br />

são mais profundas, conseguem içar<br />

a plenitude dos afetos, da sinceridade<br />

das relações com o mundo.<br />

Porque acessar a memória pela imagem<br />

é a chance cabível a todos de compreender<br />

sua identidade. Da possibilidade<br />

de encontrar o imaginário sensível<br />

ao adentrar nas ranhuras impressas na<br />

história da alma.<br />

Plenitude expressa o esforço íntimo do<br />

afeto, do cuidado em amansar, através<br />

da fotografia, a passagem dos acontecimentos,<br />

do crescimento de Tomé. Todo<br />

dia, Manu “guarda” na web uma imagem<br />

de seu filho. Ela intenta assim apaziguar<br />

o esquecimento. Vontades de mãe. Diz<br />

querer guardar esse “instante de tempo<br />

na memória do futuro”. Captura coisas<br />

vividas, achadas, desencantadas por ele.<br />

São fotografias que possuem narração<br />

cuidadosa, sentidos porosos, atmosfera<br />

diáfana. Imagens de terra, muita terra.<br />

Quase que como a esperar a chuva,<br />

por saber que o sol será ainda<br />

mais amparador.<br />

27


28<br />

A Dama e o<br />

Vagabundo


Comidas<br />

Trabalho realizado durante a disciplina<br />

de Anatomia da Câmera Fotográfica<br />

se inspira no livro Cozinha Pop, de<br />

Mariane Lorente e Laura Salaberry, que<br />

traz receitas das 100 melhores cenas<br />

gastronômicas do cinema e séries de<br />

TV, para revelar 30 imagens de dar<br />

água na boca, cuidadosamente recriadas<br />

para reproduzir o clima, a luz e, claro,<br />

as delícias de cada um dos filmes<br />

retratados. Uma delícia para<br />

os olhos e para o paladar.<br />

Trabalho dos alunos Jefferson Paulino,<br />

Karina Galvão, Paulo Souza, Rodrigo<br />

Silva, Sollon Filho e Thais Carvalho..<br />

29


30<br />

V de<br />

Vingança


Volver<br />

Um Beijo<br />

Roubado<br />

Como Água para<br />

Chocolate<br />

31


Harry Potter<br />

(cerveja amanteigada)<br />

[500] Djas Com Ela<br />

Tomates Verdes e Fritos<br />

32


O Fabuloso Destino de<br />

Amélie Poulain<br />

Pulp Fiction<br />

Psicose<br />

Forrest Gump<br />

33


Ratatouille<br />

Bonequinha de<br />

Luxo<br />

A Fantástica<br />

Fábrica de Chocolate<br />

34


fragmentos do uruguai<br />

Por Renata Victor<br />

35


Isso não é um simples<br />

trabalho universitário<br />

Alunos da disciplina Poética da Imagem desenvolvem projeto para discutir o poder da representação nas<br />

intervenções urbanas e envolvem todo o Recife nessa jornada<br />

Por Dario Brito<br />

Às vezes a urgência do cotidiano faz com que utilizemos os espaços urbanos da cidade como “seres<br />

anestesiados”. A dinâmica voraz, a pressão imposta pela competitividade e o fôlego ligeiro acabam<br />

nos afastando da relação natural do homem com aquele ambiente que ele ocupa. Diante desse ponto<br />

de partida - que é tão revelador do nosso cotidiano - os alunos do 3º Módulo do curso de Fotografia<br />

da Universidade Católica de Pernambuco lançaram exposições itinerantes que atingiram pessoas de<br />

diversos pontos do Recife.<br />

Durante os quatro meses letivos da disciplina de Poética da Imagem eles estiveram envolvidos com<br />

dois grandes temas da atualidade: o poder da representação e o impacto da intervenção urbana.<br />

Após pesquisar e debater algumas experiências nacionais e internacionais de intervenção, assim<br />

como explorar a bibliografia recente sobre a narrativa visual, nasceu o projeto “Isso Não É”, totalmente<br />

idealizado, produzido e coordenado pelos alunos, com supervisão do titular da disciplina.<br />

O desenho final do projeto - baseado na obra “A traição das Imagens”, de René Magritte, na qual se lê<br />

a frase “Isso não é um cachimbo” - foi assinado pelas estudantes Elysangela Freitas, Mariana Gallindo,<br />

Marina Feldhues e Rebeca Patrício e absorvido por todos os alunos da disciplina.<br />

A turma se dividiu em nove equipes e explorou imageticamente diversos locais emblemáticos da<br />

cidade: Ponte da Boa Vista, mercados públicos de São José e da Encruzilhada, Poço da Panela,<br />

Parque da Jaqueira, Rua da Aurora, Praça do Derby, Casa da Cultura e, por fim, o Recife Antigo.<br />

Nestes locais, a intervenção consistia em expor as imagens feitas dias atrás nesses mesmos locais<br />

e estimular a interação do público passante, bem como a reflexão sobre o poder da imagem, sobre<br />

aquilo que vemos na fotografia e sobre o que é real, o nosso dia a dia.<br />

O resultado foi parar na página do projeto no Facebook (há centenas de imagens clicadas pelos alunos<br />

no www.facebook.com/issonaoe), que sugerem uma outra visão desses ambientes urbanos justamente<br />

para chamar a atenção dos “seres anestesiados” pela pressa cotidiana. Como desdobramento,<br />

houve a “redescoberta” desses espaços “in loco” e, na web, uma página com várias curtidas e<br />

compartilhamentos.<br />

O trabalho, que esteve vinculado à disciplina durante o período letivo <strong>2014</strong>.1, ganhou autonomia,<br />

pois devido ao grande impacto, alguns fotógrafos externos procuraram saber como se engajar<br />

para participar das intervenções. Ou seja, o futuro do projeto “Isso não é” ainda está sendo escrito,<br />

certamente de maneira empolgante.<br />

42


Foto: Marquinhos Atg Foto: Simony Rodrigues<br />

Foto: Maria Xavier<br />

43


Foto: Marina Feldhues<br />

Foto: Eva Feitosa<br />

Foto: Anchieta Américo<br />

44


Foto: Raquel Northfleet<br />

Foto: Deborah Barros<br />

Foto: Gilberto Vieira<br />

45


Presente dos deuses<br />

Aluna do curso de fotografia da Unicap, Rafaela Melo revela a beleza e a emoção que sentiu<br />

na ilha grega de Mykonos<br />

Mykonos (ilha branca), uma das mais belas ilhas gregas, foi descoberta em 1950 por<br />

um grupo de jovens gregos, mas parece que foi criada pelos deuses, com suas belas<br />

praias, cerca de 360 igrejas e ótima infraestrutura para o turismo. Quando fui a Mykonos<br />

pela primeira vez pude sentir na pele tudo que tinha ouvido falar sobre o lugar, sua<br />

tranquilidade e emoção sem fim. Já desfrutei de muitos pores do sol, mas nenhum que<br />

se comparasse ao espetáculo que assisti em Mykonos. Lugar onde se presencia o amor,<br />

a beleza, a alegria e os moinhos, além do grande mascote da ilha, Petrus, o pelicano. A<br />

também chamada “Veneza grega” encanta os olhos que quem chega por lá, como dizem,<br />

quem pisa em Mykonos jamais esquece.<br />

46


Abrace a<br />

novidade<br />

multimídia<br />

Por Carolina Monteiro*<br />

52<br />

Ilustração: Arline Lins


54<br />

Um novo desafio se apresenta para quem<br />

escolhe hoje em dia a profissão de fotógrafo.<br />

Se antes os domínios técnicos e estéticos<br />

recaíam sobre a imagem estática, a fotografia<br />

agora abarca também o campo da multimídia<br />

e suas infinitas possibilidades de formatos obtidos<br />

através da mistura entre a foto, o audiovisual,<br />

a animação e as linguagens de programação.<br />

Em comum entre todos eles está<br />

a visualidade e a necessidade do profissional<br />

conhecer não apenas os novos equipamentos<br />

e softwares disponíveis, mas as diferentes<br />

linguagens na hora de criar suas narrativas<br />

visuais.<br />

O uso das câmeras DSLRs para captura de<br />

vídeo é apenas a faceta mais comum desta<br />

chamada fotografia multimídia e requer uma<br />

percepção macro da imagem que se espera<br />

obter, uma vez que a preocupação deixa de<br />

ser a captura de um instante decisivo, suficiente<br />

para a fotografia estática, mas passa a<br />

ser a concepção de takes ou sequências que<br />

precisam ter começo, meio e fim. Outro desafio<br />

da realização de vídeos com câmeras fotográficas<br />

é a utilização do foco, que tem que<br />

ser sempre manual, e o cuidado com a profundidade<br />

de campo, o que costuma confundir<br />

muito fotógrafo que inicia a sua trajetória com<br />

o audiovisual.<br />

Vencidos os desafios da captura, passa a<br />

ser uma habilidade a mais requerida do profissional<br />

da área o conhecimento dos recursos<br />

de edição. Mesmo que o fotógrafo opte por<br />

não editar seus próprios vídeos, contratando<br />

terceiros para realizar a tarefa ou usando<br />

as equipes de edição de vídeo para a web,<br />

comuns nas grandes redações de sites e produtoras<br />

que trabalham com o formato, ainda<br />

assim, é preciso ou indicado que o autor das<br />

imagens se envolva no processo, sugerindo<br />

formatos de edição (linear, não-linear etc), as<br />

imagens mais adequadas para o roteiro ou os<br />

recursos que sugere para enriquecer a narrativa.<br />

Desta forma, é importante pelo menos ter<br />

uma noção básica dos programas mais usados,<br />

Adobe Premiere e Final Cut, entre outros.<br />

Para se ter uma ideia da penetração do<br />

vídeo no campo da fotografia, desde 2011, o<br />

prestigiado concurso WordPress Photo criou<br />

a categoria fotografia multimídia, onde premia<br />

os melhores trabalhos nas categorias de<br />

edição linear (narrativa editada com começo,<br />

meio e fim, sem possibilidade de interação por<br />

parte do espectador) e interativa, onde é possível<br />

interagir com a narrativa ou consumi-la<br />

em diferentes plataformas.<br />

Aliás, o endereço www.worldpressphoto.org<br />

deve ser o ponto de partida para quem ainda<br />

não entendeu muito bem as novidades trazidas<br />

pela revolução digital para área da fotografia<br />

e pode conferir trabalhos como Prision<br />

Valley, primeiro vencedor do prêmio, ainda<br />

em 2011. Realizado por David Dufresne e<br />

Philippe Brault, o trabalho conta a história da<br />

indústria dos presídios americanos, a partir da<br />

cidade de Cañon City, onde estão localizadas<br />

nada menos do que 13 unidades prisionais<br />

abrigando 36 mil detentos.<br />

O formato se apresenta como um web-documentário,<br />

como vem sendo comum chamar<br />

as produções audiovisuais feitas para a internet.<br />

É possível acessar seu conteúdo pelo<br />

endereço http://prisonvalley.arte.tv, em uma<br />

plataforma que combina fotos, vídeos, texto,<br />

integração com as redes sociais e recursos de<br />

personalização da navegação pelo extenso<br />

conteúdo. Outra opção é baixar e assistir o


Foto: www. alma.arte.tv<br />

Foto: www.nytimes.com<br />

Foto: www. prisonvalley.arte.tv<br />

documentário completo pelo iTunes ou ainda<br />

instalar o aplicativo para iPhone, que traz<br />

conteúdo extra.<br />

Em 2013, o vencedor da categoria interativa<br />

foi Alma: a tale of violence (http://alma.<br />

arte.tv), que conta a história da integrante de<br />

uma gangue da Guatemala com um incrível<br />

recurso que permite interagir com a janela<br />

do vídeo, oferecendo outra narrativa visual<br />

que se desenvolve dentro da mesma janela,<br />

quando o espectador move o cursor dentro<br />

da imagem. Inovação que deixa o observador<br />

intrigado sobre como é possível desenvolver<br />

e editar dois materiais diferentes no mesmo<br />

ambiente.<br />

Este ano, a surpresa é o formato de A short<br />

history of the highrise (http://www.nytimes.<br />

com/projects/2013/high-rise), um documentário<br />

do NYTimes sobre a verticalização da<br />

cidade de Nova York em uma narrativa interativa<br />

inspirada nas possibilidades de interação<br />

trazidas pelo iPad e criada com ilustrações e<br />

fotos históricas da cidade e seu inconfundível<br />

skyline. O que os três trabalhos citados<br />

até aqui tem em comum é a capacidade de<br />

surpreender e fornecer aos profissionais da<br />

imagem um novo mundo de possibilidades<br />

criativas.<br />

Entre os novos formatos de fotografia multimídia,<br />

outro que vem despertando o interesse<br />

e parece ter caído nas graças dos fotógrafos é<br />

o timelapse, recurso que permite juntar várias<br />

fotos tiradas com intervalos regulares de segundos<br />

entre elas, montadas como se fossem<br />

um vídeo mas com o efeito de fotos estáticas<br />

em movimento. Ideais para cenas de nascer<br />

e por do sol, cenas urbanas e de natureza, o<br />

timelapse já foi integrado como recurso de alguns<br />

modelos de câmera (Nikon D800, Canon<br />

5D e 7D e GoPro Hero 3, entre outras).<br />

Basta posicionar a câmera em um tripé,<br />

definir o intervalo entre os disparos e esperar<br />

para montar resultados impressionantes como<br />

em Time of Rio (http://vimeo.com/55945051)<br />

e Mar de Luz (http://vimeo.com/65395616),<br />

ambos feitos pelo pernambucano Marcos<br />

Michael e pelo paulista Gustavo Pellizzon. Em<br />

mais ou menos três minutos de vídeo, mais de<br />

55


35 mil imagens de tirar o fôlego. O recurso do<br />

timelapse também está disponível para quem<br />

vem se apostando nas fotografias feitas com<br />

smartphones e pode ser feito facilmente com<br />

aplicativos como Lapse It, iMotion, oSnap e<br />

Miniatures, entre outros.<br />

Para quem trabalha profissionalmente<br />

com a fotografia, apostar na multimídia e em<br />

novos formatos é mais do uma “instigação”.<br />

Ser criativo, inovador e lançar mão de todos<br />

os recursos disponíveis pode e deve ser um<br />

diferencial no seu trabalho, tornando-se uma<br />

nova área de expertise e prestação de serviços.<br />

Experimente!<br />

Foto: Reprodução do vídeo Time Of Rio<br />

Próximos passos da<br />

revolução do vídeo<br />

56<br />

na fotografia


Já estabelecidas no mercado audiovisual, as câmeras DSLRs ampliaram as<br />

oportunidades de atuação profissional para o fotógrafo. O mercado prepara<br />

novidades que devem elevar a captura das imagens a outro patamar<br />

Por Leonardo Castro Gomes*<br />

*Carolina Monteiro é<br />

jornalista e professora das<br />

disciplinas de Semiótica<br />

e Fotografia e de Mídias<br />

Digitais do Curso<br />

Superior de Fotografia da<br />

Universidade Católica de<br />

Pernambuco<br />

As câmeras DSLR (Digital Single Lens<br />

Reflex) promoveram uma revolução no segmento<br />

do vídeo prosumer (termo que designa<br />

equipamentos de baixo custo voltado a<br />

usuários avançados e possibilita ambições<br />

profissionais) e, simultaneamente, trouxeram<br />

uma ampliação das oportunidades de atuação<br />

profissional para o fotógrafo. Desde 2008, ano<br />

de lançamento da já lendária câmera Canon<br />

5D Mark II, o debate em torno do potencial<br />

desses equipamentos para o audiovisual<br />

independente celebra qualidades como a<br />

ótima relação custo-benefício, a versatilidade<br />

(funciona como máquina fotográfica e câmera<br />

de vídeo), o acervo de objetivas disponíveis, o<br />

bom desempenho em situações de baixa luminosidade<br />

e o dito “look cinematográfico”.<br />

O entusiasmo inicial que marcou esse<br />

debate trouxe uma certa mistificação, potencializada<br />

pelos impressionantes exemplos<br />

de séries de televisão, vídeoclipes e filmes<br />

realizados com câmeras HDSLR, e o lançamento<br />

de novos equipamentos para concorrer<br />

nesse segmento dificultou ainda mais a compreensão<br />

das limitações e cuidados exigidos<br />

para obtenção dos melhores resultados que<br />

esse tipo de equipamento proporciona. Uma<br />

reflexão sobre os aspectos técnicos do modo<br />

vídeo nas câmeras HDSLR ajuda a compreender<br />

a dimensão dessa revolução.<br />

Parte da “revolução” HDSLR começa a se<br />

definir em 2003 quando a primeira versão das<br />

normas de padronização do codec (conjunto<br />

de instruções utilizados para representar um<br />

sinal de vídeo em um código numérico binário)<br />

H.264/Mpeg-4 AVC é concluída pelo grupo<br />

de trabalho formado por especialistas do ITU-<br />

-T Video Coding Expert Group e do ISO/IEC<br />

JTC1 Motion Picture Expert Group (MPEG). O<br />

codec H.264/Mpeg4 AVC inovou na solução<br />

do problema da codificação do sinal vídeo<br />

aplicando eficientes técnicas de compressão,<br />

o que permitia obter uma codificação de qualidade<br />

superior utilizando a mesma quantidade<br />

de dados ou a utilização de menos dados<br />

para obter a mesma qualidade de codificação<br />

que os codecs anteriores.<br />

No quadro evolutivo das câmeras DSLR<br />

para aplicações profissionais ou semi-profissionais<br />

(fotojornalismo, eventos, publicidade,<br />

fine art etc), a exigência de processamento de<br />

imagem em formatos raw, com alta velocidade<br />

de obturação, suporte a múltiplos disparos e<br />

modos “inteligentes” de auto-focus, bem como<br />

a utilização de uma geração de cartões de<br />

memória com desempenho superior a 50Mb/s,<br />

promoveram o desenvolvimento de um hardware<br />

que também era capaz de codificar o<br />

sinal eletrônico gerado pelo sensor da câmera<br />

em H.264/Mpeg4 AVC, com diferentes resoluções<br />

em HD, trazendo uma nova perspectiva<br />

para o modo vídeo em equipamentos fotográficos.<br />

Atualmente, as câmeras DSLR são hegemônicas<br />

no que se refere ao segmento da<br />

produção independente. A cada dia obras<br />

57


58<br />

fotograficamente bem elaboradas são postadas<br />

no Vimeo ou no Youtube junto a uma<br />

quantidade ainda maior de trabalhos fotograficamente<br />

medíocres, evidenciando que<br />

uma direção de fotografia destacável exige o<br />

domínio da linguagem, pois a própria ergonomia<br />

e os aspectos relacionados à arquitetura<br />

dessas câmeras delineiam as melhores abordagens<br />

para a produção de um vídeo. Nessas<br />

circunstâncias, o realizador de vídeo se diferencia<br />

do fotógrafo still, pois está habituado ao<br />

pensar a gravação como conjunto de imagens<br />

e eventos que se relacionam. Assim, ele coleciona<br />

planos, pois sabe que é na montagem<br />

que o projeto adquire sua forma ideal. Em<br />

todo caso as propriedades das DSLR exigem<br />

um aprendizado para quem é habituado ao<br />

uso de câmeras de vídeo.<br />

“O ano de<br />

<strong>2014</strong> marca o<br />

amadurecimento<br />

do que foi<br />

considerada a<br />

revolução do vídeo<br />

em equipamento<br />

DSLR”<br />

Uma das principais vantagens das DSLR<br />

em relação às câmeras de vídeo semi-profissionais<br />

é o tamanho do sensor. Os sensores<br />

empregados na maioria das DSLR são<br />

APS-C ou 35 mm (full-frame), que possuem<br />

área maior do que os sensores de 1/4 à 3/4<br />

de polegada utilizados nas câmeras de vídeo<br />

semi-profissionais do período pré-DSLR.<br />

A consequência prática é que os sensores<br />

maiores possuem densidade de pixels e sensibilidade<br />

à luz superiores, que qualificam o<br />

sinal eletrônico e favorecem uma codificação<br />

ótima em condições adequadas de exposição.<br />

Aliando os recursos oferecidos por objetivas<br />

rápidas (com abertura de diafragma abaixo de<br />

f2.8) e as possibilidades de ajuste de sensibilidade<br />

ISO (sensibilidade acima de ISO1600,<br />

frequentemente ISO6400 ou maior) chegaremos<br />

ao celebrado desempenho das DLSR em<br />

situações de pouca luminosidade. Tal desempenho<br />

encoraja metodologias criativas que<br />

consideram a luz natural como opção conceitual,<br />

o que há princípio não configura um erro,<br />

mas impõe restrições devido a características<br />

do modo vídeo em DSLR.<br />

Fotógrafos habituados ao fluxo de trabalho<br />

baseado em formatos raw e pós-produção em<br />

suítes como Adobe Lightroom e que iniciam<br />

experiências no modo vídeo já devem ter<br />

percebido a dificuldade de obter vídeo com<br />

a mesma qualidade visual obtida no modo<br />

foto. No modo vídeo a exposição é muito mais<br />

crítica, pois os vídeos codificados em H.264/<br />

Mpeg4 AVC possuem uma relação de contraste<br />

próxima a 6-stops (no mesmo sentido utilizado<br />

pela escala de cinzas descrito por Ansel<br />

Adams) entre o preto e o limite de branco,<br />

enquanto no modo raw essa relação alcança<br />

14-stops. Com isso, o modo vídeo encontrará<br />

maior dificuldade em obter boas imagens em<br />

situações de alto contraste do que no modo<br />

foto. Essa dificuldade não é tão percebida<br />

pelo cinegrafista, pois mesmo limitado em<br />

comparação ao modo foto, o contraste suportado<br />

pelo modo vídeo nas câmeras DSLR é<br />

dramaticamente superior ao da maioria das<br />

câmeras de vídeo pré-DSLR.<br />

Outra característica relacionada a esse<br />

aspecto é a reduzida profundidade de campo<br />

nas imagens produzidas com objetivas rápidas<br />

(aberturas abaixo de f2.8), que definitivamente<br />

não é um problema na fotografia still<br />

(sobretudo com os eficientes modos semi-automatizados<br />

de auto-focus), pode se converter<br />

um transtorno quando o motivo se movimenta<br />

no enquadramento. O efeito bokeh pode<br />

ser explorado criativamente ou se converter


em incômodo/estranhamento a depender da<br />

abordagem. Resolver o problema do foco em<br />

situações de baixas luzes exige trabalhar com<br />

diafragmas mais fechados (abertura acima<br />

de f3.5), entretanto, com essas aberturas a<br />

qualidade fotográfica será preservada apenas<br />

utilizando técnicas de iluminação adicional,<br />

empregadas para preservar o efeito de penumbra,<br />

mas com luminosidade mínima para<br />

garantir um bom nível de vídeo. A opção alternativa<br />

seria trabalhar com velocidade de shutter<br />

mais baixa (limitado ao mínimo de 1/30s,<br />

o que torna essa função quase irrelevante<br />

em situações de baixas luzes) ou aumentar a<br />

sensibilidade ISO, com o inconveniente de incidência<br />

de ruídos (grão eletrônico) nas áreas<br />

de sombra e dificuldade de reprodução de cores,<br />

sobretudo de tons de pele. Se essas observações<br />

alertam para os riscos de situações<br />

de sub-exposição no modo vídeo em DSLRs,<br />

o inverso também resulta em inconvenientes,<br />

pois em situações de superexposição as<br />

áreas acima do limite de luminosidade suportada<br />

pelo sensor serão codificadas “clipadas<br />

em branco” não permitindo ajustes de exposição<br />

mais radicais na pós-produção, exigindo<br />

do diretor de fotografia rigores e segurança<br />

conceitual para determinar a exposição mais<br />

adequada.<br />

Chegamos, portanto, ao aspecto chave<br />

para enfrentar a mistificação em torno dos<br />

recursos técnico-expressivos oferecidos pela<br />

função vídeo nas câmeras DSLRs. A questão<br />

chave para o diretor de fotografia, entre outras<br />

questões também relevantes (como composição<br />

de quadro e movimento de câmera),<br />

continua sendo determinar a exposição correta<br />

para produzir uma imagem adequada ao<br />

conceito fotográfico do vídeo ou filme. A possibilidade<br />

de controle sobre as luzes incidentes<br />

na cena e sobre os parâmetros da câmera<br />

determinam as circunstâncias em que se dá o<br />

processo criativo. Isso justifica a disparidade<br />

de resultados obtidos nos melhores filmes publicitários,<br />

curtas ou longas metragens, videoclipes<br />

ou séries de TV rodados em Canon 5D<br />

Mark III, Panasonic DMC GH4 ou Nikon D600<br />

e a realidade de produção dos segmentos de<br />

eventos, de produção de conteúdo pra web,<br />

de produções acadêmicas ou experimentais,<br />

pois enquanto em produções profissionalmente<br />

estruturadas a câmera é apenas parte<br />

de um sistema de aquisição de vídeo em um<br />

complexo aparato (que envolve acessórios<br />

como follow focus, matte box, suportes, tripés,<br />

grua, travelling, steadycam, monitores, drones,<br />

equipamento pesado de iluminação, rebatedores,<br />

modificadores, lentes, filtros, etc.),<br />

nas produções precárias o improviso acaba<br />

restringindo a capacidade de ação no que se<br />

refere à direção de fotografia. Em todo caso,<br />

para a realização, seja em condições técnicas<br />

favoráveis, mas ainda mais em situações<br />

precárias, uma sólida compreensão dos fundamentos<br />

da fotografia permite a adoção de<br />

soluções criativas que valorizam o trabalho.<br />

O ano de <strong>2014</strong> marca o amadurecimento<br />

do que foi considerada a revolução do vídeo<br />

em equipamento DSLR. A iminência do lançamento<br />

do codec H.265/HEVC, as pressões<br />

em torno de resoluções UHD e 4K DCI e o<br />

lançamento de diversos equipamentos de<br />

cinema digital na faixa de preço das versáteis<br />

DSLR, configuram o que é conhecido como<br />

período pós-DSLR. Isso não significa a obsolescência<br />

dessa tecnologia, mas a estabilização<br />

de uma maneira de pensar e conceber<br />

a produção audiovisual a partir das circunstâncias<br />

colocadas por essa tecnologia. A<br />

implementação de funcionalidades a partir de<br />

modificações de sistema operacional, como o<br />

desenvolvido pela comunidade Magic Lantern<br />

para as câmeras Canon, habilitam funcionalidades<br />

como a gravação de vídeo no formato<br />

raw CinemaDNG e em resoluções superiores<br />

a Full HD exigem o aprendizado e desenvolvimento<br />

de fluxos de trabalho que elevam as<br />

câmeras DSLR a outro patamar. Precisamos<br />

estar abertos para assimilar essas transformações,<br />

pois a evolução da técnica é um caminho<br />

irreversível.<br />

*Leonardo Castro Gomes é mestre em<br />

Comunicação Social pela UFPE e professor<br />

da disciplina de Captura e Edição de Vídeos<br />

DSLR no Curso de Fotografia da Unicap.<br />

59


ANALISE<br />

DE IMAGEM<br />

Para esta edição da Unicaphoto selecionamos<br />

a análise de imagem da aluna Rebeca<br />

Patrício feita durante a disciplina Linguagem<br />

Fotográfica I, em 2013.2, ministrada pelo professor<br />

Leonardo Ariel. O fotógrafo homenageado<br />

desta vez é o Mexicano Manuel Álvarez<br />

Bravo. Figura importantíssima da história da<br />

foto na América Latina, cuja trajetória imagética<br />

eternizou o povo de sua terra em cliques<br />

singelos carregados de poesia.<br />

60<br />

Foto: Manuel Álvarez Bravo


Sobre o fotógrafo<br />

Considerado um dos artistas fotográficos<br />

mexicanos mais renomados do século 20,<br />

Manuel Álvarez Bravo possui um trabalho<br />

fotográfico singular que se destaca do comum<br />

pela sua irreverência e ironia. Ele transformou<br />

o normal e aparentemente banal em algo extraordinário<br />

e monumental. Nascido e criado<br />

na Cidade do México, ele estudou Artes na<br />

Academia de São Carlos, contudo sua fotografia<br />

é autodidata. Sua carreira teve início<br />

nos anos 1920 até o apogeu nos anos 1990.<br />

Seus trabalhos apresentam influência europeia,<br />

uso do pictorialismo e da estética; fotos<br />

de paisagens, retratos, nus e reportagens<br />

fazem parte do seu portfólio. Descrito como<br />

“misterioso” pelos críticos, Bravo não estava<br />

preocupado em contar uma história através de<br />

suas fotos, simplesmente sentia o anseio em<br />

expressar a essência do seu país através de<br />

suas lentes.<br />

Análise da imagem<br />

De costas para a câmera, uma menina<br />

usando uma saia branca espreita por uma janela<br />

redonda em uma parede estampada com<br />

a pintura descascada. Sua cabeça não está<br />

totalmente à mostra, pois foi ofuscada por um<br />

sombreiro (chapéu de abas largas, símbolo da<br />

cultura mexicana) que tem forma semelhante<br />

à janela redonda. Descalços, seus pés estão<br />

sobrepostos e parecem simular a criação de<br />

uma escada, mostrando que ela quer conseguir<br />

enxergar melhor o que há por trás da<br />

janela redonda. Sua mão direita desaparece<br />

na escuridão da janela ao querer investigar o<br />

seu conteúdo, invisível aos olhos do fotógrafo.<br />

Seu corpo reflete uma sombra suave na<br />

parede, indicativo da luz provavelmente filtrada<br />

por nuvens, revelando o horário em que<br />

a fotografia foi feita. O jogo do claro/escuro<br />

brinca com a imaginação do observador. A<br />

foto encenada busca provocar curiosidade. O<br />

contraste entre a luz intensa do lado de fora e<br />

da escuridão total revelada através da janela<br />

causa inúmeras interpretações. Uma delas se<br />

refere à inocência da menina, que usa uma<br />

saia de cor branca, símbolo de pureza e ingenuidade.<br />

Em contrapartida está o interior da<br />

janela, totalmente escuro, com seu conteúdo<br />

invisível aos olhos, representando o fim dessa<br />

inocência em um futuro próximo.<br />

Embora não se tenha ideia do que a garota<br />

olha dentro da janela, há um sentimento de<br />

que é algo sinistro, amedrontador, mas exige<br />

coragem da parte dela. Tal interpretação pode<br />

ser relacionada com a época em que a foto foi<br />

produzida, visto que desde a década de 1910<br />

os mexicanos passaram por uma revolução<br />

político-social no país, incluindo revoltas e<br />

conflitos civis.<br />

Quanto à estética da foto, pode-se dizer<br />

que o jogo de formas foi bastante pensado. A<br />

forma da janela refletida na forma circular do<br />

chapéu e o desenho de quadrados e retângulos<br />

dispostos na parede ajudam a criar um<br />

arranjo visual, causando uma composição e<br />

enquadramento equilibrados.<br />

O plano médio (que aproxima o personagem<br />

em meio ao ambiente retratado, proporcionando<br />

valor descritivo e harmonia entre os<br />

elementos) consegue direcionar o olhar do<br />

observador e o situa através de toda a foto,<br />

levando-o a observar a situação de cima para<br />

baixo, simulando um triângulo (da janela obscurecida,<br />

passando pela sombra refletida na<br />

parede até os pés da menina).<br />

Conhecido por suas fotos poéticas, Bravo<br />

demonstra nesta foto boa parte da sua essência<br />

literária. A utilização dos elementos de<br />

significação torna essa poesia bastante clara.<br />

O chapéu, utilizado pela menina, é indicativo<br />

da sua nacionalidade. Típicos da cultura mexicana,<br />

o sombreiro é um dos grandes símbolos<br />

da cultura do país. Além disso, pode-se enfatizar<br />

a questão dos pés descalços, representativo<br />

de humildade e baixo poder aquisitivo,<br />

situação em que muitos mexicanos se encontravam<br />

na época.<br />

Elementos da linguagem fotográfica<br />

Jogo do claro/escuro, luz suave, formas,<br />

composição e equilíbrio, elementos de significação,<br />

enquadramento, plano médio, geometria.<br />

Referências de pesquisa<br />

Masters of Photography – Manuel Alvarez Bravo.<br />

Acesso dia 29/09/13.<br />

MARNHA, Patrick. Photopoetry, por Manuel Alvarez<br />

Bravo.<br />

Acesso dia 29/09/13.<br />

Manuel Álvarez Bravo.<br />

Acesso dia 29/09/13.<br />

61


DIREITO AUTORAL E<br />

DIREITO DE IMAGEM<br />

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITO AUTORAL<br />

Julianna Nascimento Torezani*<br />

Assim como existe uma legislação internacional<br />

para proteção das obras intelectuais<br />

através da Declaração Universal de Direitos<br />

Humanas e das Convenções de Berna e de<br />

Genebra, no que confere a legislação nacional<br />

sobre o direito autoral é contemplado no<br />

Artigo 5 da Constituição Federal de 1988:<br />

ARTIGO 5 - Todos são iguais perante a lei,<br />

sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se<br />

aos brasileiros e aos estrangeiros<br />

residentes no País a inviolabilidade do direito<br />

à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança<br />

e à propriedade, nos termos seguintes:<br />

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo<br />

de utilização, publicação ou reprodução<br />

de suas obras, transmissível aos herdeiros<br />

pelo tempo que a lei fixar.<br />

XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:<br />

a) a proteção às participações individuais<br />

em obras coletivas e à reprodução da imagem<br />

e voz humanas, inclusive nas atividades<br />

desportivas;<br />

b) o direito de fiscalização do aproveitamento<br />

econômico das obras que criarem<br />

ou de que participarem aos criadores, aos<br />

intérpretes e às respectivas representações<br />

sindicais e associativas.<br />

A atual Lei de Direito Autoral (Lei nº<br />

9.610/1998) trata do direito moral e do direito<br />

patrimonial dos criadores de obras intelectuais.<br />

O direito moral consiste na autoria da<br />

obra em que o autor tem titularidade da obra,<br />

assina a criação e é um direito intransferível.<br />

O direito patrimonial permite a negociação da<br />

obra para exibição, publicação e comercialização,<br />

em que obra intelectual só pode ser<br />

difundida com a autorização prévia e expressa<br />

do autor ou pelos herdeiros. As obras intelectuais<br />

protegidas pela lei brasileira só ficam em<br />

domínio público após 70 anos da morte do<br />

autor e, mesmo assim, continua a valer o direito<br />

moral do autor, toda vez que esta a obra<br />

for utilizada deve indicar o nome do criador.<br />

Quanto às obras fotográficas ficam protegidas<br />

por 70 anos, a contar de 1º de janeiro do ano<br />

após sua divulgação.<br />

Art.7. São obras intelectuais protegidas as<br />

criações do espírito, expressas por qualquer<br />

meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível<br />

ou intangível, conhecido ou que se invente<br />

no futuro, tais como:<br />

VII – as obras fotográficas e as produzidas<br />

por qualquer processo análogo ao da fotografia.<br />

Art. 12. Para se identificar como autor, poderá<br />

o criador da obra literária, artística ou científica<br />

usar de seu nome civil, completo ou abreviado<br />

até por suas iniciais, de pseudônimo ou<br />

qualquer outro sinal convencional.<br />

Art. 79. O autor de obra fotográfica tem direito<br />

a reproduzi-la e colocá-la à venda, observadas<br />

as restrições à exposição, reprodução e<br />

venda de retratos, e sem prejuízo dos direitos<br />

de autor sobre a obra fotografada, se de<br />

artes plásticas protegidas.<br />

Para Manuella Santos (2009, 87), autora da<br />

obra Direito autoral na era digital: impactos,<br />

controvérsias e possíveis soluções, “a função<br />

social do direito autoral é a difusão cultural<br />

em prol da coletividade e do meio ambiente<br />

social, elemento essencial no processo evolutivo<br />

das civilizações. [...] Cremos que quanto<br />

mais protegido for a obra do intelecto, mais<br />

incentivado será o seu criador, mais conhecimento<br />

produzirá e mais desenvolvida será a<br />

sociedade”.<br />

Assim, a Lei de Direito Autoral tem por função<br />

a questão social, para manter a integridade<br />

da obra e proteger o conhecimento cultural<br />

criado por gerações, o que contribui para<br />

o crescimento do país. Portanto, as obras<br />

intelectuais devem ser protegidas tanto para<br />

o devido uso de quem as criou, quanto para<br />

valorização cultural do patrimônio do país.<br />

* Julianna Nascimento Torezani é formada em Comunicação Social (UESC) e professora do Curso de Fotografia<br />

da UNICAP onde ministra a disciplina de Legislação para o uso da Imagem


DICAS<br />

A<br />

Lixo Extraordinário<br />

Diretor: Lucy Walker,<br />

2010<br />

Caminhando numa<br />

cidade de luz e<br />

sombras: a fotografia<br />

moderna no Recife na<br />

década de 1950,<br />

Bruce, 2013<br />

http://blogs.estadao.<br />

com.br/olhar-sobreo-mundo/<br />

B<br />

O Fabuloso Destino<br />

de Amélie Poulain<br />

Diretor: Jean-Pierre<br />

Jeunet, 2001<br />

Foco: A atenção<br />

e seu papel<br />

fundamental para o<br />

sucesso<br />

Daniel Goleman,<br />

2013<br />

http://olhares.uol.<br />

com.br/<br />

C<br />

Muito Além do<br />

Jardim<br />

Diretor: Hal Ashby,<br />

1989<br />

Contexto e<br />

Narrativa em<br />

Fotografia<br />

Maria Short, 2013<br />

http://<br />

tramafotografica.<br />

wordpress.com/<br />

D<br />

A fotografia<br />

dentro da cozinha<br />

Diretor: Mauro<br />

Holanda, Editora<br />

Photos<br />

Estúdio:<br />

Fotografia‚ Arte‚<br />

Publicidade e<br />

Splashes<br />

Tony Genérico<br />

http://www.<br />

walterfirmo.com.br/<br />

home/galeria.php<br />

E<br />

O Grande Mestre<br />

(Yut doi jung si)<br />

Diretor: Wong Kar-<br />

Wai, 2013<br />

Expor uma história:<br />

a fotografia do<br />

cinema<br />

Ricardo Aronovich,<br />

2004<br />

http://www.<br />

artofthetitle.com/<br />

64<br />

Dicas de:<br />

A - Julianna Torezani<br />

B - Germana Soares<br />

C - Renata Victor<br />

D - Leonardo Ariel<br />

E - Leonardo Castro


Caminhando numa<br />

cidade de luz e sombras:<br />

um convite à pesquisa<br />

histórica da fotografia<br />

Por Fabiana Bruce<br />

Não sabemos qual é a fotografia que vai ficar<br />

para as gerações seguintes, para nossos filhos e<br />

netos. A fotografia, como um dado do real, está<br />

hoje, cada vez mais, em toda a parte. Só que<br />

em um suporte distinto que nem mais queremos<br />

manusear, basta que a compartilhemos nas redes<br />

sociais. Talvez estejamos um tanto dessensibilizados<br />

diante das imagens fotográficas. Se<br />

procuramos a novidade, fica<br />

parecendo também que não<br />

mais nos surpreendemos com<br />

o que é fotografado e mostrado<br />

como imagem. Se, há algumas<br />

décadas, perdemos o processo<br />

molhado, como dizia Jeff<br />

Wall (Milk), e não temos mais a<br />

espera necessária para “ver o<br />

resultado”, como os fotógrafos<br />

“mais antigos” bem o sabem,<br />

com o tempo também parecemos<br />

ter perdido a noção de que<br />

quem está por trás da fotografia<br />

é o fotógrafo. Talvez esteja exagerando<br />

um tanto, mas muito<br />

me afeta a banalização da imagem<br />

fotográfica em seu pedestal<br />

natural. É preciso desnaturaliza-la<br />

e, com isso, aprender a<br />

ver e não ficar passivo diante de<br />

uma fotografia, principalmente<br />

quando ela é legendada. Neste ponto a fotografia<br />

e a história convergem. Uma história que, além do<br />

fato acontecido, é reflexão, critica e criação.<br />

É isso que a pesquisa, que resultou no livro<br />

Caminhando numa cidade de luz e sombras. A<br />

fotografia moderna no Recife de 1950, que não<br />

tinha a pretensão de ser um livro, quis mostrar,<br />

pois é o resultado de um trabalho de pesquisa<br />

em arquivos fotográficos do Recife transformada<br />

numa tese de doutorado em História, e sabemos<br />

que a maioria das teses não encontra canais de<br />

publicação. Acabou sendo publicada porque<br />

resolvi, de última hora, envia-la pelos Correios,<br />

com pseudônimo, para participar de um concurso<br />

recém-lançado na época, em 2010: o 1° Concurso<br />

do Cehibra Fonte de Memória, da Fundação<br />

Joaquim Nabuco. Assim, o trabalho passou por<br />

uma Comissão de Avaliação e foi selecionado,<br />

considerando-se que a documentação utilizada<br />

na pesquisa e para a escrita da tese pertence ao<br />

Cehibra: condição para a premiação.<br />

A ideia de moderno que o livro acentua considera<br />

presente e passado ao mesmo tempo,<br />

simultaneamente, e busca a especificidade da<br />

fotografia praticada no Recife sob esse sentimento.<br />

Reconhecida como fotografia moderna, essa<br />

prática está igualmente vinculada a um projeto<br />

construtivista, cuja entrada no Brasil o olhar<br />

pernambucano adiciona mais um evento para<br />

além do eixo Rio de Janeiro - São Paulo, através<br />

do fotógrafo Alexandre Guilherme Berzin (Riga,<br />

1903 – Recife, 1979). Berzin que chegou ao Recife<br />

em 1928 argumentava sobre<br />

a importância de “aprender a<br />

olhar” e “ensinar a ver”, como<br />

exercícios do fazer fotografia.<br />

O livro diz que ele foi o aglutinador<br />

desse grupo de fotógrafos<br />

que se autodenominavam<br />

camera conscious, interessados<br />

em pensar fotografia e<br />

em participar de Salões, onde<br />

compartilhavam suas experiências<br />

e concorriam com<br />

outros fotógrafos do Brasil e<br />

de fora do país, como os da<br />

França e da Argentina.<br />

Na parte inicial o livro trata<br />

do Foto Cine Clube do Recife,<br />

de seus personagens na década<br />

de 1950, de sua organização,<br />

de seu funcionamento,<br />

de sua produção fotográfica,<br />

de sua escola. Na sequência<br />

vai expondo, como numa caminhada, alguns<br />

referenciais que, embora não sejam literalmente<br />

assinalados pelos entrevistados, antigos integrantes<br />

do FCCR, puderam ser identificados em<br />

suas práticas e na documentação da Coleção AB/<br />

FCCR, em confronto com os estudos disponíveis<br />

em 2005. Na parte final, o livro pode ser considerado<br />

como uma legenda extensa, contando uma<br />

história não linear. Essas pequenas histórias contadas<br />

(short cuts) a partir da experiência do Foto<br />

Cine Clube do Recife, têm a intenção de refletir a<br />

fotografia como montagem (metodologia, narrativa,<br />

memória) e como campo do saber. Aqueles «<br />

fotógrafos do Recife » nos mostraram isso.<br />

65


Fotógrafos têm canal de<br />

TV gratuito na Web<br />

Foto: www.tvescambo.com.br<br />

66


A TV Escambo oferece, desde<br />

março, programas para enriquecer<br />

o conhecimento dos interessados no<br />

mercado fotográfico<br />

Por Arline Lins<br />

“Com o intuito de mostrar as novas tendências<br />

do mercado, a TV Escambo foi criada<br />

para trazer aos profissionais e amantes da<br />

fotografia conselhos, trocas de ideias, um<br />

novo conceito de TV interativa, ampliando sua<br />

bagagem de conhecimentos no ramo fotográfico.<br />

Dicas sobre moda, gastronomia, edições<br />

fotográficas e outras atividades que serão<br />

reveladas sob um olhar aprofundado.” Isso é o<br />

que diz o parágrafo de apresentação da web<br />

TV do Escambo Fotográfico.<br />

A marca, já conhecida pelos fotógrafos<br />

em Pernambuco, lançou em março deste<br />

ano um canal de televisão online para divulgar<br />

informações gratuitas sobre o mundo da<br />

fotografia. “A nossa única intenção é passar<br />

conhecimento de graça para os fotógrafos.<br />

Todo mundo vê TV o tempo inteiro, mas nem<br />

sempre encontramos assuntos que nos interessam<br />

diretamente. A Escambo oferece isso<br />

aos profissionais da área”, explicou Henrique<br />

Leite, diretor comercial da Escambo Fotográfico.<br />

Por enquanto, o público pode assistir a dois<br />

programas. O primeiro é o Fotogastrô, apresentado<br />

pelo fotógrafo Rafael Medeiros. Ele<br />

passa por restaurantes da Região Metropolitana<br />

do Recife e, em cada programa, mostra o<br />

passo a passo para fazer um prato diferente.<br />

Enquanto o chef prepara o prato, Medeiros<br />

se preocupa com a luz e vai pensando nos<br />

enquadramentos e imagens que poderá capturar,<br />

uma vez que a comida estiver pronta.<br />

“Para tirar fotos de comidas, é preciso saber<br />

como funciona a gastronomia”, explicou Leite.<br />

O segundo programa é conduzido pela<br />

jornalista Vitória Pirro. O Fotoprosando é um<br />

espaço de bate-papo sobre fotografia, com<br />

pessoas de várias áreas profissionais ligados<br />

ao tema. Entre os já entrevistados, estão<br />

nomes como Renata Victor, Francisco Cribari<br />

e Fernando Azevedo. O vídeo deste último já<br />

teve mais de cinco mil visualizações.<br />

Cada programa é postado semanalmente.<br />

O Fotoprosando aos sábados, 14h, e o Fotogastrô<br />

aos domingos, ao meio-dia. No site<br />

também é possível assistir aos programas<br />

anteriores. Henrique Leite tem projetos de<br />

acrescentar outros programas à grade, sendo<br />

um deles voltado para a fotografia no mundo<br />

da moda. O diretor aguarda apenas a chegada<br />

de um novo cinegrafista para dar início às<br />

filmagens.<br />

67


Alexandre Severo<br />

68<br />

Um dia, um rapaz, estudante de uma instituição<br />

que lecionei durante curto período, me<br />

procurou dizendo que gostava de fotografia<br />

e que queria saber o que fazer para conhecer<br />

melhor as técnicas que envolvem a criação<br />

de uma imagem fotográfica. Costumo dizer<br />

que quem gosta da fotografia já é meu amigo,<br />

e com aquele jovem curioso não foi diferente<br />

- logo me afeiçoei a ele. Assim, trouxe-<br />

-o para o meu convívio e tive a felicidade de<br />

acompanhar sua trajetória. Outras características<br />

suas me fizeram ter ainda mais orgulho,<br />

pois era um rapaz educado, determinado,<br />

sensível e que demonstrava um carinho<br />

especial pela família.<br />

Anos depois, ainda tive a oportunidade de<br />

ser mais uma vez a sua professora, pois ele<br />

fez parte da primeira turma do Curso de Fotografia<br />

da UNICAP.<br />

Infelizmente, quis o destino nos privar do<br />

imenso talento de Alexandre. Aquele jovem<br />

do início aprendeu rapidamente a técnica de<br />

fotografar, e fotografar muito bem.<br />

Severo partiu muito cedo, mas o pequeno<br />

consolo é saber que ela era feliz e morreu fazendo<br />

o que mais gostava, trabalhando com<br />

fotografia.<br />

Você está eternizado pelo seu trabalho, em<br />

cada imagem de sua autoria estará você. Ao<br />

apreciar suas fotos iremos amenizar a enorme<br />

saudade gerada pela sua ausência.<br />

Querido Alexandre, agradeço o privilégio de<br />

ter sido sua professora, amiga e madrinha de<br />

casamento e da fotografia. Vai em paz.<br />

Renata Victor


Foto: Alexandre Severo<br />

Foto: Alexandre Severo<br />

74


Foto: Alexandre Severo

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