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Cantico dos Canticos

O mais maravilhoso Estudo de Canatres de Salomão

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homem, às vezes com um toque de lirismo melancólico ou de nostalgia, outras, com um<br />

rasgo de ligeiro humor. Basta dar aqui dois exemplos:<br />

Quantas coisas<br />

Em meu coração!<br />

Deixa-as flutuar<br />

No fremir do salgueiro!<br />

Ao sol,<br />

secam quimonos.<br />

Oh,<br />

as pequenas mangas<br />

Da criança morta!<br />

O hai-kai foi certamente, em sua origem, um jogo de rimas em cadeia, iniciado por um<br />

jogador e continuado pelo seguinte. Um exemplo característico da fusão entre o jogo e a<br />

poesia é ainda hoje conservado no método tradicional de recitação do Kalevala finlandês.<br />

Lõnroth, que coligiu as canções, encontrou ainda em vigor o curioso costume de dois<br />

cantores se sentarem num banco um em frente do outro, segurando as mãos um do outro e<br />

balançando-se para a frente e para trás ao mesmo tempo que vão competindo em<br />

conhecimentos das estâncias. Ás sagas islandesas descrevem uma forma semelhante de<br />

recitação (Eddas escrito em nórdico antigo).<br />

Todas estas formas tiveram um grande desenvolvimento no extremo oriente. Em sua<br />

lúcida interpretação e reconstituição <strong>dos</strong> textos da China antiga, Marcel Granet oferece-nos<br />

um quadro de todo o sistema de competições poéticas entre rapazes e moças que floresceu<br />

na época pastoril. No Anam foi descoberto um sistema semelhante ainda vigente, o qual foi<br />

descrito com grande exatidão pelo erudito anamita Nguyen van Huyen12. Aqui, o<br />

"argumento" poético, que pouco encobre o namoro declarado, possui freqüentemente um<br />

caráter altamente sofisticado, baseado numa série de provérbios que, aparecendo no final<br />

de cada estância, servem como testemunhos irrefutáveis da causa do amante. Encontra-se<br />

uma forma idêntica nos débats da França do século XV. Todavia há outras formas de<br />

poesia, especialmente no Extremo Oriente, que devem ser consideradas atividades culturais<br />

realizadas dentro de um espírito agonístico. Como por exemplo quando se impõe a alguém<br />

a tarefa de improvisar um poema a fim de quebrar um "feitiço" ou sair de uma situação<br />

difícil. O que importa aqui não é que esse costume tenha ou não chegado a possuir alguma<br />

importância prática para a vida quotidiana, e sim que o espírito humano tenha inúmeras<br />

vezes visto neste motivo lúdico, que é aparentado tanto ao enigma "fatal" quanto à aposta,<br />

uma maneira de exprimir, e talvez de resolver, os intrinca<strong>dos</strong> problemas da vida, e que a<br />

arte poética, sem visar diretamente a um efeito estético, tenha encontrado neste jogo o mais<br />

fértil solo para seu desenvolvimento. Citemos alguns exemplos tira<strong>dos</strong> da obra de Nguyen<br />

van Huyen: Os alunos de um certo Dr. Tan precisavam sempre passar, em seu caminho<br />

para a escola, pela casa de uma moça que morava ao lado do professor. Quando passavam<br />

diziam sempre: "És adorável, és realmente um amor!"<br />

Isto enfurecia a moça, a qual um dia esperou por eles e lhes disse: "Bem, se vocês me<br />

amam, vou dar a vocês uma frase. Se algum de vocês for capaz de responder-me a frase<br />

correspondente dar-lhe-ei meu amor, caso contrário vocês se comprometem a dar sempre a<br />

volta para evitar passar diante de minha porta." Ela recitou a frase, e nenhum <strong>dos</strong><br />

estudantes foi capaz de dar a resposta certa, de modo que no futuro viram-se obriga<strong>dos</strong> a<br />

dar sempre uma volta à roda da casa do professor15.<br />

Trata-se de algo semelhante ao svayamvara épico, ou à corte feita a Brunilde, que aqui<br />

temos sob a forma de um idílio aldeão de estudantes anamitas.<br />

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