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Cantico dos Canticos

O mais maravilhoso Estudo de Canatres de Salomão

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Era costume entre os gregos organizar competições a propósito de tudo o que oferecesse a<br />

possibilidade de uma luta. Os concursos de beleza masculina faziam parte das Panatenéias e<br />

das festas de Teseu. Nos simpósios eram organiza<strong>dos</strong> concursos de canto, decifração de<br />

enigmas, de resistência em se conservar acordado e bebendo. Mesmo neste último caso, o<br />

elemento sagrado não está ausente: os πολυποσία e os αχφατοποσία (beber muito e sem<br />

mistura) faziam parte da festa de Coeno. Alexandre celebrou a morte de Calanos com um<br />

agon ginástico e musical, com prêmios para os melhores bebedores, tendo daí resultado<br />

que trinta e cinco <strong>dos</strong> competidores morreram na hora, e seis deles mais tarde, entre os<br />

quais o vencedor75. Notemos de passagem que as competições que consistiam em absorver<br />

grandes quantidades de comida e bebida estão também ligadas ao potlatch.<br />

O Ludico no Direito<br />

Um antigo juiz escreveu-me o seguinte: "O estilo e o conteúdo das intervenções nos<br />

tribunais revelam o ardor esportivo com que nossos advoga<strong>dos</strong> se atacam uns aos outros<br />

por meio de argumentos e contra-argumentos (alguns <strong>dos</strong> quais são razoavelmente<br />

sofistica<strong>dos</strong>). Sua mentalidade por mais de uma vez me fez pensar naqueles oradores <strong>dos</strong><br />

processos adat7' que, a cada argumento, espetam na terra uma vara, sendo considerado<br />

vencedor aquele que no final puder apresentar o maior número de varas". O caráter lúdico<br />

da prática judicial foi fielmente observado por Goethe em sua descrição de uma sessão do<br />

tribunal de Veneza, realizada no palácio <strong>dos</strong> Doges. Dada esta fraqueza <strong>dos</strong> padrões éticos,<br />

o fator agonístico (competitivo) vai ganhando imenso terreno na prática judicial à medida<br />

que recuamos no tempo. E, à medida que o elemento agonístico vai aumentando, o mesmo<br />

acontece com o fator sorte, e daqui resulta que depressa nos encontramos na esfera lúdica.<br />

Estamos perante um mundo espiritual em que a idéia da decisão por oráculos, pelo juízo<br />

divino, pela sorte, por sortilégio — isto é, pelo jogo — e a da decisão por sentença judicial<br />

fundem-se num único complexo de pensamento. E ainda hoje reconhecemos o caráter<br />

absoluto dessas decisões todas as vezes que, quando não conseguimos ser nós próprios a<br />

decidir qualquer coisa, resolvemos "tirá-la à sorte". A vontade divina, o destino e a sorte<br />

parecem a nossos olhos entidades mais ou menos distintas, ou pelo menos procurando<br />

estabelecer entre elas uma distinção conceptual. Mas, para o espírito primitivo, são mais ou<br />

menos equivalentes. Pode-se conhecer o "destino" fazendo que ele se pronuncie. Para<br />

conhecer o oráculo, é preciso recorrer à sorte. Pode-se jogar com paus, com pedras, ou<br />

abrir à sorte as páginas do livro sagrado, e o oráculo responderá. Assim o Exodo, XXVII,<br />

30, ordena a Moisés que "ponha no peitoral o urim e o tummin" (sejam estes o que forem),<br />

a fim de que Aarão "possa julgar os filhos de Israel em seu coração perante o Senhor<br />

continuamente". O peitoral é usado pelo grande sacerdote, e é por intermédio deste que o<br />

sacerdote Eleazar pede conselho, em Números, XXVII, 21, em favor de Josué, "segundo o<br />

julgamento de Urim". De maneira semelhante, em I Samuel, XIX, 42, Saul ordena que seja<br />

tirada a sorte entre ele e seu filho Jônatas. As relações entre o oráculo, a sorte e o<br />

julgamento são ilustradas de maneira perfeitamente clara nestes exemplos. Também na<br />

Arábia pré-islâmica, encontra-se este tipo de sortilégio9. E, afinal, não será<br />

fundamentalmente o mesmo a balança sagrada na qual Zeus, na llíada, pesa as<br />

possibilidades que cada homem, antes do início da batalha, tem de morrer? "Então o Pai<br />

estendeu os dois pratos de ouro e colocou neles as duas porções de morte amarga, uma<br />

para os troianos domadores de cavalos e outra para os aqueus cobertos de bronze”<br />

muito mais tarde. Umas das figuras que se encontram no escudo de Aquiles, segundo a<br />

descrição do oitavo livro da llíada, representa um julgamento com os juízes senta<strong>dos</strong> no<br />

interior do círculo sagrado, estando no centro da cena os "dois talentos de ouro" (δνό<br />

χφυσοίο τάλαντα), que se destinam àquele que proferir a sentença mais justa11. Em geral,<br />

consideram-se esses dois talentos como a quantia em dinheiro disputada pelas duas partes.<br />

Mas, bem vistas as coisas, eles parecem ser mais um prêmio que um objeto de litígio;<br />

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