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Cantico dos Canticos

O mais maravilhoso Estudo de Canatres de Salomão

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que as três palavras são formadas da mesma maneira. São substantivos verbais deriva<strong>dos</strong> da<br />

chamada terceira forma do verbo, e é talvez este o aspecto mais interessante de toda a<br />

questão. Porque em árabe existe uma forma verbal especial, que pode dar a qualquer raiz o<br />

sentido de competir em alguma coisa, ou ultrapassar alguém em alguma coisa. Quase<br />

poderíamos chamar-Ihe uma espécie de superlativo verbal da própria raiz. Além disso, a<br />

chamada "sexta forma", derivada da terceira, exprime a idéia de atração recíproca. Assim a<br />

raiz hasaba (contar, enumerar) dá muhasaba, competição pela boa reputação; e kathara<br />

(exceder em número) dá mukathara, competição em quantidade. Mas voltando a nosso<br />

assunto: mujakhara provém de uma raiz que significa "vangloriar-se", ao passo que<br />

munafara deriva do campo semântico de "derrota", "pôr em fuga". Existe em árabe<br />

um parentesco semântico entre honra, virtude, elogio e glória, exatamente como em grego<br />

as mesmas idéias gravitam em torno da αφετη47". No árabe a idéia central é 'irá, que pode<br />

ser traduzida por "honra", desde que seja tomada em sentido extremamente concreto. A<br />

principal exigência de uma vida nobre é a obrigação de preservar a integridade e a<br />

segurança de sua honra. De outro lado, supõe-se que o adversário esteja animado por um<br />

ardente desejo de destruir e degradar nosso 'ird com insultos. Tal como na Grécia, também<br />

aqui qualquer superioridade física, social ou moral constitui um fundamento de honra e de<br />

glória, sendo portanto um elemento de virtude. O árabe tira glória de suas vitórias e sua<br />

coragem, do número de seus filhos ou de seu clã, de sua liberdade, sua autoridade, sua<br />

força, a acuidade de sua vista ou a beleza de seu cabelo. Tudo isto compõe seu 'izz, 'izza,<br />

ou seja, sua superioridade sobre os outros e, conseqüentemente, sua autoridade e seu<br />

prestígio.<br />

Os ultrajes e insultos dirigi<strong>dos</strong> ao adversário ocupam um lugar importante nesta exaltação<br />

do 'izz pessoal, e possuem a designação técnica de hidja'. As lutas pela honra, os<br />

mufakhara, costumavam ser realizadas em datas préfixadas, ao mesmo tempo que<br />

as feiras anuais e depois das peregrinações. Os ultrajes e insultos dirigi<strong>dos</strong> ao<br />

adversário ocupam um lugar importante nesta exaltação do 'izz pessoal, e possuem a<br />

designação técnica de hidja'. As lutas pela honra, os mufakhara, costumavam ser realizadas<br />

em datas préfixadas, ao mesmo tempo que as feiras anuais e depois das peregrinações.<br />

As competições travavam-se entre tribos ou clãs inteiros, ou entre indivíduos.<br />

Sempre que acontecia dois grupos se encontrarem, tratava-se entre eles uma justa<br />

de honra. Havia um porta-voz oficial para cada grupo, o sha'ir (poeta ou orador),<br />

que desempenhava um papel importante. Esse costume possuía um caráter nitidamente<br />

ritual, servindo para manter acesas as poderosas tensões sociais que davam unidade à<br />

cultura árabe pré-islâmica. Mas, o surgimento do Islão veio atenuar este antigo costume,<br />

conferindo-lhe uma nova dimensão religiosa ou reduzindo-o a um divertimento de corte.<br />

Nos tempos do paganismo era freqüente o mufakhara terminar num massacre e numa<br />

guerra tribal. Na tradição grega, encontram-se numerosos vestígios de torneios de<br />

injúrias cerimoniais e solenes. Alguns autores afirmam que a palavra iambos significava<br />

originalmente "sarcasmo", estando especialmente relacionada com os cantos públicos de<br />

insultos e sarcasmos que faziam parte das lestas de Deméter e Dionísio. Julga-se que<br />

foi a partir desta tradição de troça em público que surgiu a sátira de Arquíloco, cuja<br />

recitação, acompanhada por música, era incluída nas competições. A poesia jâmbica<br />

passou, assim, de um costume imemorial de natureza ritual a instrumento de crítica pública.<br />

Mesmo o tema das diatribes contra as mulheres parece constituir um vestígio <strong>dos</strong> cantos<br />

alterna<strong>dos</strong> de sarcasmo entre os homens e as mulheres que eram realiza<strong>dos</strong> no decurso das<br />

festas de Deméter e Apoio. Deve estar na base desses costumes um jogo sagrado de<br />

emulação pública, o psogo0.<br />

Também a tradição da antigüidade germânica apresenta vestígios muito antigos de duelos<br />

de injúrias na história de Alboin, na corte <strong>dos</strong> gépidas, que foi manifestamente recolhida<br />

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