EUTRO Ã TERRA
EUTRO Ã TERRA
EUTRO Ã TERRA
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Nº7 ⋅ 1º semestre de 2011 ⋅ ano 4 ⋅ ISSN: 1647-5496<br />
<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong><br />
Revista Técnico-Científica |Nº7| Julho de 2011<br />
http://www.neutroaterra.blogspot.com<br />
“A revista “Neutro-à-Terra” celebra agora três anos de vida e seis<br />
publicações já realizadas. Os objectivos que se pretendiam<br />
inicialmente com a publicação desta revista, e que se mantêm,<br />
assentam fundamentalmente na divulgação de assuntos de carácter<br />
técnico-científico, com uma abordagem crítica, mas construtiva, de<br />
forma que esta publicação seja uma referência em assuntos<br />
relacionados com a Engenharia Electrotécnica.”<br />
Doutor Beleza Carvalho<br />
Instalações<br />
Eléctricas<br />
Pág.5<br />
Máquinas<br />
Eléctricas<br />
Pág. 63<br />
Telecomunicações<br />
Pág. 115<br />
Segurança<br />
Pág. 149<br />
Energias<br />
Renováveis<br />
Pág. 195<br />
Eficiência<br />
Energética<br />
Pág.215<br />
Domótica<br />
Pág. 265<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto – Engenharia Electrotécnica – Área de Máquinas e Instalações Eléctricas
Índice<br />
<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong><br />
3| Editorial<br />
5| InstalaçõesEléctricas<br />
63| Máquinas Eléctricas<br />
115| Telecomunicações<br />
149| Segurança<br />
195| Energias Renováveis<br />
215| Eficiência Energética<br />
265| Domótica<br />
304| Autores<br />
FICHA TÉCNICA DIRECTOR: Doutor José António Beleza Carvalho<br />
SUB-DIRECTORES:<br />
Engº António Augusto Araújo Gomes<br />
Engº Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Engº Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />
PROPRIEDADE:<br />
CONTACTOS:<br />
PUBLICAÇÃO SEMESTRAL: ISSN: 1647-5496<br />
Área de Máquinas e Instalações Eléctricas<br />
Departamento de Engenharia Electrotécnica<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
jbc@isep.ipp.pt ; aag@isep.ipp.pt
EDITORIAL<br />
Estimados leitores<br />
A revista “Neutro-à-Terra” celebra agora três anos de vida e seis publicações já realizadas. A sua publicação é da<br />
responsabilidade de um grupo de docentes e investigadores do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto<br />
Superior de Engenharia do Porto, que trabalham diariamente na área das Instalações e Máquinas Eléctricas, quer na leccionação<br />
de unidades curriculares desta área de especialização, quer em actividades de projecto, ou em actividades de investigação. Os<br />
objectivos que se pretendiam inicialmente com a publicação desta revista, e que se mantêm, assentam fundamentalmente na<br />
divulgação de assuntos de carácter técnico-científico, com uma abordagem crítica, mas construtiva, de forma que esta<br />
publicação seja uma referência em assuntos relacionados com a Engenharia Electrotécnica. Neste âmbito, a revista “Neutro-à-<br />
Terra” destina-se a todos os profissionais na área da Engenharia Electrotécnica, especialmente aos engenheiros projectistas de<br />
instalações eléctricas, mas também a todos os alunos de cursos de engenharia electrotécnica. Os incentivos recebidos ao longo<br />
dos últimos anos deram a motivação necessária para a sua continuação. Nesta edição, que celebra os três anos de vida e as seis<br />
publicações realizadas, decidiu-se elaborar uma colectânea com todas as publicações das edições anteriores, agrupadas pelas<br />
diversas áreas de especialização da Engenharia Electrotécnica em que a revista se propõe intervir, ou seja: as instalações<br />
eléctricas, as máquinas eléctricas, as infra-estruturas de telecomunicações, a segurança, a domótica, as energias renováveis e a<br />
eficiência energética. Pretende-se assim, criar um documento que seja uma referência e um guia para engenheiros<br />
electrotécnicos com intervenção nas referidas áreas, mas também um manual de apoio aos alunos que frequentam cursos de<br />
engenharia electrotécnica, particularmente dos cursos afectos ao Departamento de Engenharia Electrotécnica do ISEP. Como<br />
também foi habitual nos últimos três anos, faz-se a divulgação dos laboratórios do Departamento de Engenharia Electrotécnica<br />
do ISEP, onde foram realizados vários dos trabalhos correspondentes aos artigos publicados nas várias edições da revista.<br />
Desejando que esta edição comemorativa dos três anos da publicação da revista “Neutro-à-Terra” possa satisfazer novamente<br />
as expectativas dos nossos leitores, apresento os meus cordiais cumprimentos.<br />
Porto, Julho de 2011<br />
José António Beleza Carvalho<br />
3
4<br />
DIVULGAÇÃO
ARTIGO TÉCNICO<br />
Instalações Eléctricas<br />
Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Instalações Eléctricas.<br />
Nesta compilação de artigos é feita uma exposição crítica, mas construtiva, dos assuntos de carácter técnico-científico das<br />
Instalações Eléctricas com especial relevo para as temáticas menos abordadas, tais como a análise da secção técnica versus<br />
secção económica das canalizações eléctricas, problemática das correntes de curto-circuito nas instalações eléctricas, influência<br />
dos harmónicos nas instalações, protecção das pessoas, queda de tensão, entre outros.<br />
Estes temas, embora com menor visibilidade, assumem um papel preponderante para o correcto dimensionamento e<br />
exploração das instalações eléctricas.<br />
5
ARTIGO TÉCNICO<br />
Índice<br />
O Aquecimento dos Condutores na Situação de Curto-Circuito<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
7<br />
Harmónicos em Instalações Eléctricas. Causas, efeitos e normalização<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
11<br />
Projecto de Instalações Eléctricas. Secção Técnica Vs Secção Económica de Canalizações Eléctricas<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva, António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
23<br />
Protecção das Pessoas em Instalações Eléctricas de Baixa Tensão. Cálculo dos Dispositivos de Protecção<br />
José António Beleza Carvalho<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
29<br />
FASES DE REALIZAÇÃO E TIPOS DE PROJECTOS DE INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
37<br />
Técnicas de Manutenção em Linhas de Transmissão de Energia<br />
Arlindo Francisco, Hugo Miguel Sousa, Teresa Alexandra F. M. Pinto Nogueira<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
45<br />
QUEDAS DE TENSÃO EM INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS DE BAIXA TENSÃO<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
51<br />
6
ARTIGO TÉCNICO<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
O Aquecimento dos Condutores na Situação de Curto-Circuito<br />
Do calor gerado uma parte vai elevar a temperatura do<br />
condutor e a outra vai ser dissipada por radiação, convecção<br />
ou condução.<br />
Podemos, então, escrever a seguinte relação:<br />
P=UI=RI 2 =P1 + P2<br />
Eq. 1<br />
As Regras Técnicas das Instalações Eléctricas em Baixa<br />
Tensão, RTIEBT, apresentam no parágrafo 434.3.2 uma<br />
expressão que determina o tempo máximo de exposição de<br />
um condutor a uma corrente de curto-circuito, expressão<br />
esta conhecida por curva de fadiga térmica da canalização,<br />
função de diversas grandezas entre as quais a variável K por<br />
sua vez dependente da natureza da alma condutora e do<br />
isolamento.<br />
Os valores de K vêm tabelados no mesmo parágrafo.<br />
Vejamos como podemos obter esses valores mediante um<br />
estudo analítico dos fenómenos envolvidos.<br />
Consideremos um condutor cilíndrico de secção S,<br />
comprimento l, resistividade ρ, submetido a uma tensão U e<br />
percorrido pela corrente I, figura 1.<br />
U<br />
I<br />
S<br />
em que P1 representa a potência responsável pelo<br />
aquecimento do condutor e P2 a fracção restante que é<br />
dissipada.<br />
Em termos energéticos, considerando um intervalo de<br />
tempo infinitesimal, a equação que traduz o processo<br />
termodinâmico que decorre da passagem da corrente pode<br />
ser detalhado da forma seguinte:<br />
2<br />
RI dt = Pdt<br />
1<br />
+ P2 dt = mcdϑc + KSdϑdt<br />
Eq. 2<br />
Onde:<br />
m – massa do condutor<br />
c – calor específico<br />
Θc – temperatura do condutor<br />
K – constante de Newton que traduz a potência dissipada<br />
por unidade de área e grau centígrado<br />
Sd – área lateral de dissipação do calor<br />
Θ – sobreelevação de temperatura do condutor, isto é, θ =<br />
θc – θa, em que θa é a temperatura ambiente que se<br />
considera inalterável (reservatório térmico de<br />
capacidade infinita)<br />
L<br />
Figura 1 – Condutor cilíndrico homogéneo<br />
A potência eléctrica fornecida ao condutor P=UI é<br />
transformada em calor pela conhecida lei de Joule P= RI 2 .<br />
(A fórmula correspondente ao termo P2 apenas contempla a<br />
potência dissipada por convecção.)<br />
A situação de curto-circuito é uma ocorrência anómala<br />
caracterizada por elevadas correntes devidas normalmente a<br />
defeitos de isolamento.<br />
7
ARTIGO TÉCNICO<br />
Assim é necessário, para evitar danos maiores, que as<br />
protecções intervenham em tempos muito reduzidos. A<br />
legislação impõe que o corte se faça num tempo quando<br />
muito igual a 5 s.<br />
Nestas condições é lícito supor que a transformação<br />
termodinâmica seja adiabática, isto é, que não haja<br />
permutação de calor com o exterior – o calor gerado servirá<br />
apenas para elevar a temperatura do próprio condutor. Esta<br />
é também a situação mais desfavorável, do ponto de vista<br />
das temperaturas atingidas, uma vez que com a passagem do<br />
tempo as trocas com o exterior serão inevitáveis, pelo que o<br />
dimensionamento segundo este pressuposto favorece a<br />
segurança da protecção.<br />
Retomemos a eq. 2<br />
γ ϑ ϑ ϑ ϑ<br />
2<br />
RI dt = V cd<br />
c<br />
+ KSd dt = Slcvd c<br />
+ KSd<br />
dt<br />
Eq. 3<br />
O produto γc, massa específica do material pelo seu calor<br />
específico,é designado por calor específico volumétrico cv.<br />
Onde:<br />
V – volume do condutor<br />
γ – massa específica<br />
S – secção do condutor<br />
c v – calor específico volumétrico<br />
Uma vez que consideramos o aquecimento adiabático, a<br />
parcela correspondente a P2 pode ser desprezada.<br />
ρ0(1 + αθ<br />
c)<br />
S<br />
l I<br />
2<br />
dt<br />
Eq. 4<br />
Eq. 5<br />
= Slc d ϑ<br />
2 2<br />
ρ (1 )<br />
0<br />
+ αθc I dt = S cvdϑc<br />
v<br />
c<br />
Onde:<br />
ρ 0 – resistividade a 0ºC<br />
α - coeficiente de termorresistividade do material<br />
O aquecimento do condutor não depende do seu<br />
comprimento.<br />
2<br />
S cv<br />
dt =<br />
(1 ) dϑ<br />
2 c<br />
ρ + αθ I<br />
0 c<br />
dτ<br />
τ = 1+ αθc dτ = αdϑc dϑc=<br />
α<br />
Eq. 6<br />
2<br />
S c v<br />
2<br />
0<br />
I<br />
dt =<br />
ρ α<br />
Eq. 7<br />
Com a mudança de variável operada podemos prosseguir<br />
para integração:<br />
2<br />
S c v<br />
2<br />
0<br />
I<br />
Eq. 8<br />
em que k 1 é uma constante de integração.<br />
Neste ponto vamos fazer uma hipótese de trabalho que<br />
consiste em considerar que para o instante t=0 de ocorrência<br />
do curto-circuito a temperatura do condutor é a sua<br />
temperatura de regime θz.<br />
Eq. 9<br />
dτ<br />
τ<br />
t = lnτ<br />
+ k<br />
ρ α<br />
2<br />
S cv<br />
2<br />
0<br />
I<br />
0 = lnτ<br />
z<br />
+ k<br />
ρ α<br />
t = 0 ⇒ ϑ = ϑ ⇒ τ = τ<br />
c z z<br />
1<br />
1<br />
8
ARTIGO TÉCNICO<br />
2<br />
S cv<br />
1<br />
= −<br />
2<br />
ρ0α<br />
I<br />
Eq. 10<br />
Substituindo este resultado na eq. 8:<br />
k<br />
2<br />
S cv<br />
2<br />
0<br />
I<br />
t = (lnτ<br />
− ln τ<br />
z<br />
)<br />
ρ α<br />
2<br />
S cv<br />
2<br />
0<br />
I<br />
t =<br />
ρ α<br />
τ<br />
(ln )<br />
τ<br />
Eq. 11<br />
lnτ<br />
z<br />
z<br />
Procedendo à substituição,obter-se-á:<br />
Uma vez que<br />
ρ = ρ (1 + α 20)<br />
ρ<br />
20 0<br />
20<br />
0<br />
=<br />
1 + α 20<br />
cv<br />
+ +<br />
k =<br />
ρ<br />
( β 20) β θ (ln<br />
c )<br />
ρ β + θ<br />
20<br />
Eq. 15<br />
β (1 + α20) = ( β + 20)<br />
z<br />
Usando agora a definição de τ:<br />
Eq. 16<br />
2<br />
S cv<br />
2<br />
0 I<br />
t =<br />
ρ α<br />
Eq. 12<br />
1+<br />
αθc<br />
(ln )<br />
1+<br />
αθ<br />
z<br />
De notar que a expressão de k a que se chegou, eq. 15, se<br />
desenvolveu a partir da eq. 4 que considerava a resistividade<br />
a 0ºC. Se se tivesse partido com o seu valor a 20ºC, chegarse-ia<br />
a uma expressão um pouco diferente:<br />
Se introduzirmos a grandeza β como sendo o inverso de α,<br />
obteremos:<br />
k =<br />
cvβ β + θc<br />
− 20<br />
(ln )<br />
ρ β + θ − 20<br />
20<br />
z<br />
t =<br />
β β + θc<br />
(ln )<br />
ρ β + θ<br />
2<br />
S cv<br />
2<br />
0I<br />
Eq. 13<br />
A eq. 13 pode ser reescrita na forma dada no parágrafo das<br />
Regras Técnicas acima citado.<br />
k S<br />
t =<br />
2<br />
I<br />
k =<br />
2 2<br />
cvβ β + θc<br />
(ln )<br />
ρ β + θ<br />
0<br />
Eq. 14<br />
O k assim definido usa o valor da resistividade a 0º C, ρ0.<br />
Normalmente a fórmula utiliza o valor a 20º, ρ 20 .<br />
z<br />
z<br />
Eq. 17<br />
É fácil verificar que os kk determinados pelas eq. 15 e 17 dão<br />
valores ligeiramente diferentes.<br />
A razão prende-se com a fórmula da variação da<br />
resistividade com a temperatura.<br />
De facto, a expressão geral da fórmula vem expressa por:<br />
[ ]<br />
ρ = ρ 1 + α ( ϑ − ϑ ) = ρ + ρ α ( ϑ −ϑ<br />
)<br />
ϑ ϑ 1 ϑ ϑ<br />
1<br />
1 1 1<br />
Eq. 18<br />
Ora esta fórmula não é senão a expansão em série de Taylor,<br />
considerados somente os dois primeiros termos, de ρ θ em<br />
torno do ponto θ 1 . O produto ρ θ1 .α corresponde à derivada<br />
de ρ θ em θ 1 . A linearização da função implica que o declive<br />
da recta seja constante, ou seja os produtos ρ θ .α, pelo que o<br />
9
ARTIGO TÉCNICO<br />
coeficiente de termorresistividade α deve variar<br />
inversamente com ρ.<br />
Assim sendo, a eq. 15 deverá ser escrita sob a forma mais<br />
correcta:<br />
k =<br />
c<br />
+ +<br />
ρ β + θ<br />
v<br />
( β0 20) β (ln<br />
0<br />
θ<br />
c )<br />
20 0<br />
Eq. 15’<br />
z<br />
k =<br />
c<br />
β β θ<br />
ρ β + θ<br />
v<br />
(<br />
0<br />
+ 20) (ln<br />
0<br />
+<br />
c )<br />
20 0<br />
Eq. 15’<br />
em que β 0 é o inverso do coeficiente de termorresistividade<br />
α a 0ºC.<br />
A eq. 15’ está também em acordo com a norma CEI IEC 60<br />
949 – Calculation of thermally permissible short-circuit<br />
currents, taking into account non-adiabatic heating effects<br />
(1ª ed. 1988).<br />
No entanto, normalização de alguns países usa a expressão:<br />
k =<br />
c<br />
v( β<br />
20<br />
+ 20) β (ln<br />
20<br />
+ θ<br />
c )<br />
ρ β + θ<br />
20 20<br />
Eq. 15’’<br />
Ou seja, usando o valor de α a 20ºC.<br />
z<br />
z<br />
Natureza do condutor Cu Al<br />
Natureza do isolamento PVC XLPE PVC XLPE<br />
Temperatura máxima de regime 70º 90º 70º 90º<br />
Temperatura máxima de curto-circuito 160º 250º 160º 250º<br />
Tab.1 Temperaturas de regime e de curto-circuito<br />
Contudo, a norma CEI IEC 60 986 – Short-circuit temperature<br />
limits of electric cables with rated voltages from 6 kV (Um =<br />
7,2 kV) up to 30 kV (Um = 36 kV), (Out. 2000), faz uma<br />
distinção para o caso de cabos isolados a Policloreto de<br />
Vinilo, PVC:<br />
PVC (PVC/B) Temperatura máxima de cc (ºC)<br />
S ≤ 300 mm2 160<br />
S > 300 mm2 140<br />
Tab. 2 Temperaturas máx. de cc para o PVC<br />
Natureza do condutor Cu Al<br />
Calor específico volumétrico<br />
3,45.10 -3 2,5.10 -3<br />
J/ºC.mm 3<br />
Resistividade a 20º C<br />
17,241.10 -6 28,264.10 -6<br />
Ω.mm<br />
Resistividade a 0º C<br />
15,885.10 -6 26.10 -6<br />
Ω.mm<br />
(calculado)<br />
Coeficiente de termorresistividade a 20ºC<br />
3,93.10 -3 4, 034.10 -3<br />
/ºC<br />
Coeficiente de termorresistividade a 0ºC<br />
/ºC<br />
(calculado)<br />
4,265.10 -3 4,386.10 -3<br />
Tab. 3 Características físicas do cobre e do alumínio<br />
A expressão de k pode também apresentar-se numa forma<br />
simplificada como segue:<br />
k =<br />
c ( θ −ϑ<br />
)<br />
v c z<br />
ρ<br />
eq<br />
Eq. 19<br />
em que ρeq é um valor médio da resistividade, tomado para<br />
uma temperatura intermédia.<br />
Cálculo dos KK<br />
Vamos usar a eq. 15’ do k para calcular os seus valores para<br />
os cabos mais utilizados:<br />
A Tab. 3 – a menos dos valores calculados – encontra-se<br />
definida como na citada norma CEI IEC 60 949.<br />
A temperatura final do condutor será feita igual à máxima de<br />
curto-circuito e a inicial à máxima de regime permanente.<br />
Natureza do condutor Cu Al<br />
Natureza do isolamento PVC XLPE PVC XLPE<br />
Valor de k (Eq. 15’) 114,83 142,87 76,08 94,55<br />
Valor de k (parágrafo 434.3.2 RTIEBT) 115 143 76 94<br />
Valor de k (artº 580º DL 740/74) 115 135 74 87<br />
Tab. 4 Comparação dos valores de k<br />
Como se pode apreciar pela Tab. 4 os novos valores de k<br />
dados pelas RTIEBT estão bastante mais próximos dos<br />
valores teóricos calculados pela Eq. 15’ que os valores<br />
anteriormente fornecidos pelo Regulamento de Instalações,<br />
o célebre 740/74, valores estes que ainda são os do<br />
Regulamento de Redes de BT, o DR nº 90/84.<br />
10
ARTIGO TÉCNICO<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
Harmónicos em Instalações Eléctricas<br />
Causas, efeitos e normalização<br />
1. Análise harmónica<br />
Jean Baptiste Joseph, barão de Fourier, publicou em Paris no<br />
ano de 1822 a sua ópera magna “Théorie Analytique de la<br />
Chaleur”. Nesta obra Fourier demonstrava que a condução<br />
do calor nos corpos sólidos podia ser descrita através de uma<br />
série infinita de senos e co-senos. O trabalho estimulou<br />
investigações nos mais variados campos da ciência e da<br />
técnica, tendo ressaltado que o tipo de formulação<br />
matemática empregada por Fourier era um pré-requisito<br />
para a solução de fenómenos que exibiam natureza<br />
periódica.<br />
O método de exprimir funções periódicas em termos de<br />
somas de senos e co-senos recebe o nome de Análise<br />
Harmónica.<br />
Fig. 1 Frontispício da Théorie Analytique de la Chaleur<br />
O princípio de Fourier é basicamente o seguinte: sendo dado<br />
um sinal (função) periódico representá-lo como série de<br />
senos e co-senos. Obviamente que se o sinal já for um seno<br />
ou co-seno nada mais haverá para dizer (eventualmente, um<br />
termo médio não-nulo); mas o nosso intuito é o de extrair<br />
informação de onde a haja, i.e., de funções não-sinusoidais.<br />
Aos vários termos da série de Fourier, cada um deles de<br />
argumento múltiplo inteiro do período da função original,<br />
dá-se-lhes o nome de harmónicos, sendo a ordem destes<br />
precisamente o valor desse múltiplo.<br />
2. Harmónicos em sistemas eléctricos<br />
Um sistema é dito linear quando é possível descrevê-lo<br />
mediante um conjunto de equações diferenciais lineares de<br />
coeficientesconstantes.<br />
Isso significa que num sistema eléctrico linear, alimentado<br />
com tensões sinusoidais, as correntes dos diversos ramos<br />
serão igualmente sinusóides da mesma frequência (regime<br />
permanente).<br />
Caso tal não suceda, as correntes virão distorcidas e, assim,<br />
também as tensões de alimentação se desviarão da forma<br />
sinusoidal desejada, uma vez que a rede sempre comportará<br />
uma impedância não desprezável.<br />
De um modo geral estes harmónicos serão de ordem<br />
superior, múltiplos inteiros da frequência fundamental, mas,<br />
devido às características especiais dos sistemas não-lineares,<br />
em especial para cargas assimétricas e variáveis no tempo,<br />
poderão surgir outros harmónicos não-característicos, interharmónicos,sub-harmónicosemesmo<br />
um espectro contínuo.<br />
11
20<br />
10<br />
0<br />
-10<br />
-20<br />
0. 005 0.01 0.015 0.02 0.025<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
- 10<br />
- 15<br />
- 20<br />
0 .002 0 .00 4 0.0 06 0.0 08 0 .01 0 .01 2 0.0 14 0 .0 16 0 .01 8 0.02<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
-10<br />
-20<br />
-30<br />
0.005 0.01 0.01 5 0.02 0. 025<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
No início dos anos 70 sobrevieram dois acontecimentos que<br />
concorreram para a constante preocupação que desde então<br />
o conteúdo harmónico das redes eléctricas tem suscitado<br />
entre a comunidade electrotécnica - o embargo petrolífero,<br />
que teve como consequência a busca da eficiência<br />
energética, e o domínio da técnica de controle de velocidade<br />
de motores com dispositivos do estado sólido.<br />
A proliferação de cargas não-lineares, que desde então se<br />
tem verificado, tem conduzido ao aumento do conteúdo<br />
harmónico existente e consequentemente ao agravamento<br />
das perturbações da rede eléctrica.<br />
3. Cargas responsáveis pela geração de harmónicos<br />
Dentre as cargas geradoras de perturbação harmónica<br />
contam-se:<br />
De um modo geral os equipamentos geradores de<br />
harmónicos, quando considerados individualmente,<br />
provocam distorção em escala reduzida, exceptuando certas<br />
grandes cargas não-lineares como fornos a arco,<br />
cicloconversores, sistemas electrónicos de grande potência<br />
com regulação de fase, rectificadores não-controlados com<br />
condensadores de filtragem (smoothing): é a extensão do<br />
seu número que causa sérios problemas.<br />
E<br />
Tensão da fonte<br />
Z<br />
U<br />
U = E − ZI<br />
I<br />
Carga nao-poluente/ ɶ<br />
carga sensível<br />
Carga não-linear<br />
1. sistemas de rectificação na indústria, transportes,<br />
transporte de energia e equipamento electrodoméstico;<br />
2. compensadores estáticos;<br />
3. fornos a arco de CA e CC;<br />
4. cicloconversores;<br />
5. inversores;<br />
6. iluminação com lâmpadas de descarga, por ex.<br />
fluorescentes, vapor de sódio, vapor de mercúrio, com<br />
halogéneos metálicos, etc;<br />
7. variadores de velocidade em motores de CC e CA;<br />
8. fontes comutadas (switch mode power supplies);<br />
9. fontes ininterruptíveis (uninterruptible power supplies);<br />
10. balastros electrónicos e de núcleo de ferro (saturados);<br />
11. equipamento electrónico de controle de processos,<br />
controladores lógicos programáveis (PLCs),etc;<br />
12. computadores pessoais, impressoras, etc;<br />
13. variadores de luminosidade (dimmers);<br />
14. equipamento de aquecimento por indução;<br />
15. equipamento eléctrico de soldadura;<br />
16. funcionamento de transformadores nos limites da<br />
saturação;<br />
17. geradores;<br />
18. motores de indução com rotor em gaiola; Etc.<br />
Fig. 2 Acção das cargas poluidoras sobre a qualidade da tensão<br />
De um modo geral os equipamentos geradores de<br />
harmónicos, quando considerados individualmente,<br />
provocam distorção em escala reduzida, exceptuando certas<br />
grandes cargas não-lineares como fornos a arco,<br />
cicloconversores, sistemas electrónicos de grande potência<br />
com regulação de fase, rectificadores não-controlados com<br />
condensadores de filtragem (smoothing): é a extensão do<br />
seu número que causa sérios problemas.<br />
Estas fontes de distorção, de acordo com o impacto dos seus<br />
efeitos, podem ser definidas como fontes identificadas,<br />
grandes cargas não-lineares, e fontes não-identificadas,<br />
pequenas cargas dispersas mas numerosas.<br />
4. Efeitos dos harmónicos em redes eléctricas<br />
Os efeitos negativos da ocorrência dos harmónicos podem<br />
ser integrados em duas categorias:<br />
- Efeitos instantâneos<br />
- Efeitos de longa duração<br />
12
ARTIGO TÉCNICO<br />
4.1.Efeitos instantâneos<br />
Estes efeitos estão associados a falhas, mau funcionamento<br />
ou degradação do desempenho dos equipamentos ou<br />
dispositivos devido à perda de sincronismo por alteração da<br />
passagem por zero da onda de tensão. Os aparelhos de<br />
regulação, equipamento electrónico e computadores sãolhes<br />
particularmente sensíveis.<br />
Elevadas amplitudes dos harmónicos com frequências<br />
próximas da frequência de controle podem perturbar o<br />
funcionamento de relés detectores de picos usados em<br />
grandes redes de energia para controle centralizado.<br />
4.2.Efeitos de longa duração<br />
Estes efeitos são sobretudo de natureza térmica e estão<br />
ligados, pelas perdas adicionais e sobreaquecimento, ao<br />
envelhecimento prematuro e mesmo avaria de<br />
condensadores,máquinas rotativas e transformadores.<br />
Sir William Thomson, Lorde Kelvin, dizia que se começava a<br />
saber alguma coisa de um assunto quando se era capaz de<br />
descrevê-lo através de números. Observação muito judiciosa<br />
pois que sabendo-se dos problemas causados pelos<br />
harmónicos a sua quantificação encontra-se longe de estar<br />
feita. Daí que, para certos equipamentos, apenas se poderá<br />
dar uma informação qualitativa.<br />
Assim:<br />
1. Variadores de velocidade<br />
Estes equipamentos são sempre geradores de harmónicos<br />
mas igualmente sujeitos aos seus efeitos: múltipla detecção<br />
de cruzamento por zero, elevados valores de dv/dt, etc.<br />
2. Condensadores<br />
Estes aparelhos não são geradores de harmónicos mas<br />
podem constituir malhas para circuitos de ressonância o que<br />
pode ser um problema grave para a integridade da rede. A<br />
sua inserção deve pois merecer atenção e estudo cuidados.<br />
Os condensadores por possuírem impedância inversamente<br />
proporcional à frequência são amplificadores de distorção<br />
harmónica de corrente. Os harmónicos provocam aumento<br />
da dissipação térmica e podem levar à deterioração do<br />
dieléctrico. De um modo geral, os condensadores estão<br />
habilitados para suportar sobretensões de exploração de<br />
longa duração de 10%, sobretensões de curta duração de<br />
20% e sobreintensidades devidas aos harmónicos de 30%. As<br />
normas internacionais da CEI/IEC e da ANSI/IEEE especificam<br />
as características destes dispositivos, medidas de instalação,<br />
filtragem anti-ressonante e outras acções a tomar para o seu<br />
uso correcto.<br />
3. Disjuntores e fusíveis<br />
Os harmónicos podem prejudicar a capacidade de<br />
interrupção para o caso dos disjuntores mercê de elevados<br />
di/dt no cruzamento por zero. A produção suplementar de<br />
calor nos solenoides dos relés magnéticos em disjuntores<br />
magnetotérmicos, devida às frequências elevadas, podem<br />
reduzir até 20% o limiar de disparo destes aparelhos.<br />
Relativamente aos fusíveis, pela razão térmica do seu<br />
princípio de funcionamento, parecem não ser afectados pela<br />
distorção harmónica.<br />
4. Condutores<br />
Os harmónicos de corrente provocam sobreaquecimento<br />
além do esperado pelo valor eficaz da corrente<br />
essencialmente por duas ordens de razão: uma devido ao<br />
efeito pelicular e ao efeito de proximidade, por um lado e,<br />
por outro, em redes com neutro distribuído a produção de<br />
harmónicos múltiplos de três, por se encontrarem em fase -<br />
são de sequência homopolar (sequência zero), somam-se em<br />
vez de se anularem dando origem a correntes elevadas no<br />
condutor neutro. Valores estes que podem atingir até 1,7<br />
vezes, mesmo mais, dependendo do valor dos harmónicos, a<br />
corrente eficaz das fases. Geralmente estas instalações têm<br />
o neutro reduzido o que implica uma dupla preocupação: o<br />
sobreaquecimento do condutor e a elevada queda de tensão<br />
nele produzida, questão preocupante se o sistema de<br />
protecção de pessoas escolhido for o TN-C, terra pelo<br />
neutro, condutores neutro e protecção comuns. Nesta<br />
situação, o sistema TN-C é altamente desaconselhável.<br />
A duplicação da sua secção relativamente à das fases,<br />
13
ARTIGO TÉCNICO<br />
pressupondo o mesmo modo de instalação, é uma medida<br />
para obstar o problema do aquecimento excessivo<br />
5. Equipamentos e instrumentos electrónicos<br />
A detecção múltipla de passagem por zero, para sistemas<br />
que usam a passagem por zero como medida do tempo,<br />
pode provocar funcionamento desajustado dos sistemas. Em<br />
particular, todos os dispositivos que sincronizam com a<br />
passagem por zero são considerados vulneráveis à distorção<br />
harmónica. Semicondutores comutados à passagem por zero<br />
da tensão, para reduzir a interferência electromagnética, são<br />
também sensíveis à múltipla detecção e sujeitos a mau<br />
funcionamento. Equipamento electrónico, como fontes de<br />
tensão, que usam o pico da tensão de entrada para carregar<br />
condensadores e estabilizar o seu valor de saída,<br />
dependendo do conteúdo harmónico da mesma, podem<br />
encontrar-se a operar acima ou abaixo do valor de entrada<br />
embora possa manter-se o valor eficaz nominal da tensão na<br />
mesma. Certos fabricantes especificam valores máximos<br />
para o factor de crista (entendido como o quociente entre o<br />
valor de pico do sinal e o seu valor eficaz, o que para<br />
sinusóides vale 2) de, por exemplo, 2 ± 0, 1 .<br />
Outro problema é a quebra de tensão (voltage notch)<br />
produzida pela comutação de semicondutores em<br />
conversores (quebra de comutação). Estas quedas são<br />
expressas através da taxa dv/dt. Podem produzir mau<br />
funcionamento dos equipamentos e se cruzarem o zero<br />
interferem com os sistemas de detecção de zero como<br />
explicado antes. Harmónicos fraccionários, isto é,<br />
harmónicos cuja ordem não é um número inteiro, e subharmónicos<br />
podem afectar televisores e monitores de vídeo.<br />
Tão-somente 0,5% de um harmónico fraccionário, amplitude<br />
referida à fundamental, produz modulação de amplitude do<br />
sinal fundamental responsável pelo alargamento e<br />
contracção periódicos da imagem num TRC (tubo de raios<br />
catódicos).<br />
6. Iluminação<br />
Redução da vida útil das lâmpadas incandescentes uma vez<br />
que são sensíveis à sobretensão aplicada. Estudos referem<br />
queuma sobretensão,devidaa harmónicos,de valor eficaz 5%<br />
continuamente aplicada reduz o tempo médio de vida das<br />
lâmpadas de 47%. Relativamente às lâmpadas de descarga<br />
referem-se o ruído audível e possíveis ressonâncias<br />
envolvendo as lâmpadas, balastros e condensadores usados<br />
na rectificação do factor de potência.<br />
7. Aparelhagem de medida e contadores<br />
Amperímetros e voltímetros que baseiam o seu<br />
funcionamento nos valores eficazes das grandezas a medir<br />
são relativamente imunes à distorção da forma de onda dos<br />
sinais. Pelo contrário, os medidores sensíveis ao valor médio<br />
absoluto ou ao valor de pico e calibrados para indicar<br />
valores eficazes não devem ser empregados na presença de<br />
distorção harmónica. Erros podem atingir valores de 13% e<br />
mais. Os contadores de energia de indução, os mais<br />
frequentes, sob condições de tensão e corrente distorcidas<br />
podem apresentar erros de até –20%, subcontagem, e com<br />
tensão sinusoidal e corrente distorcida de até +5%,<br />
sobrecontagem. Este tipo de contadores não são<br />
apropriados para instalações com forte distorção de tensão e<br />
corrente devido quer aos erros de contagem quer às<br />
possíveis ressonâncias mecânicas na gama dos 400 a 1000<br />
Hz. Os contadores electrónicos têm normalmente<br />
desempenho excelente em redes poluídas.<br />
8. Relés de protecção<br />
As distorções nas formas de onda afectam o desempenho<br />
dos relés, podem causar mau funcionamento ou impedi-los<br />
de funcionar quando devido. Variando o ângulo de fase<br />
entre as componentes fundamental e harmónicas da tensão<br />
ou corrente pode significativamente alterar a característica<br />
de resposta dos relés.<br />
9. Máquinas rotativas<br />
Os harmónicos aplicados a máquinas rotativas podem causar<br />
aquecimento, vibrações, binários pulsantes ou ruído. O<br />
sobreaquecimento rotórico é o principal problema associado<br />
à distorção da tensão. As perdas nas máquinas eléctricas<br />
dependem do espectro da tensão de alimentação. As perdas<br />
no núcleo podem tornar-se significativas para motores de<br />
indução alimentados por inversores que produzem<br />
14
ARTIGO TÉCNICO<br />
harmónicos de frequências elevadas. O aumento da<br />
temperatura de funcionamento dos motores reduzirá o<br />
tempo de vida médio dos mesmos. Neste âmbito, os<br />
motores monofásicos são os mais afectados. A interacção<br />
entre o fluxo principal do entreferro, maioritariamente de<br />
componente fundamental, com os fluxos produzidos pelas<br />
correntes harmónicas darão lugar ao aparecimento de<br />
binários pulsantes. No caso de motores com controle de<br />
velocidade deverá ser feita uma análise de possíveis<br />
ocorrências de fenómenos de ressonância mecânica, no<br />
sentido de precaver avarias, por efeito de amplificação dos<br />
binários pulsantes. Os harmónicos também contribuem para<br />
a geração de ruído audível.<br />
10. Telecomunicações<br />
A proximidade de linhas de energia e de telecomunicações<br />
cria condições para interferências com estes sistemas,<br />
interferências motivadas pela irradiação de campos<br />
electromagnéticos gerados pelos harmónicos das redes de<br />
potência. A frequência fundamental, para redes telefónicas,<br />
normalmente não é causadora de problemas, como<br />
resultado da resposta em frequência do ouvido humano. A<br />
indução pelos harmónicos de ruído nos canais de dados<br />
pode adulterar a informação transmitida. Existem vários<br />
mecanismos pelos quais se pode gerar acoplamento entre as<br />
redes de energia e de telecomunicações. Medidas para<br />
atenuar os seus efeitos consistem na transposição das linhas<br />
de energia (para redes aéreas), escolha de cabos com<br />
blindagens electromagnéticas, de pares trançados, realização<br />
de terras adequadas para os sistemas de energia, evitando<br />
assim a propagação de potenciais, e, naturalmente, a<br />
utilização de filtros adequados.<br />
11. Transformadores<br />
O primeiro efeito dos harmónicos nos transformadores é o<br />
aquecimento adicional gerado por efeito das correntes de<br />
Foucault induzidas no núcleo destas máquinas. Outros<br />
problemas incluem eventual ressonância entre a indutância<br />
do transformador e capacidades do sistema, tensões<br />
mecânicas nos isolamento dos enrolamentos e do núcleo por<br />
efeito das variações de temperatura e eventuais pequenas<br />
vibrações do núcleo laminado. O sobreaquecimento causado<br />
pela presença dos harmónicos, correntes de remoinho ou de<br />
Foucault, sendo proporcionais ao quadrado da frequência,<br />
obrigam à redução da potência estipulada (potência<br />
nominal) dos transformadores. A norma IEEE/ANSI Standard<br />
C57.110, “IEEE Recommended Practice for Establishing<br />
Transformer Capability when Supplying Nonsinusoidal Load<br />
Currents“, estipula como máxima distorção à plena carga o<br />
valor de 5%. Contempla ainda formas para determinar o<br />
abaixamento da potência por efeito da presença dos<br />
harmónicos. Para tal é definido um factor K dependendo da<br />
ordem do harmónico e do valor da corrente harmónica. As<br />
normas contemplam ainda a máxima sobretensão (valor<br />
eficaz) permitida sendo de 5% à plena carga e de 10% para<br />
funcionamento em vazio (de referir que as correntes de<br />
Foucault são proporcionais ao quadrado da indução máxima<br />
e, como tal, proporcionais ao quadrado do valor máximo da<br />
tensão aplicada). Por outro lado para transformadores com<br />
secundários ligados em triângulo, as correntes de frequência<br />
múltipla de três, por serem de natureza homopolar,<br />
podendo circular nestes enrolamentos, não se transmitem<br />
para o primário o que pode dar indicação errónea da carga<br />
do transformador para medições efectuadas nos condutores<br />
destes enrolamentos.<br />
15
ARTIGO TÉCNICO<br />
5. Características das grandezas não-sinusoidais<br />
5.2 Taxa de distorção<br />
De acordo com a decomposição de Fourier qualquer<br />
grandeza periódica não-sinusoidal pode ser representada<br />
por uma série infinita de termos composta de:<br />
1. uma sinusóide de frequência fundamental<br />
2. sinusóides cujas frequências são múltiplas da frequência<br />
fundamental - harmónicos<br />
3. eventualmente de um termo constante - componente<br />
contínua<br />
De acordo com a definição da CEI, a taxa total de<br />
harmónicos, ou factor de distorção, representa a razão entre<br />
o valor eficaz dos harmónicos, n ≥ 2, e o valor eficaz da<br />
grandeza alternada.<br />
THD%<br />
= 100<br />
∞<br />
∑Y<br />
n=<br />
2<br />
∞<br />
∑Y<br />
n=<br />
1<br />
2<br />
n<br />
2<br />
n<br />
eq. 4<br />
A expressão que discrimina a série de Fourier de uma<br />
grandeza y(t) vem dada por:<br />
y<br />
ϕ<br />
( t) + sen( nωt<br />
− )<br />
Y<br />
= ∑ ∞ 2<br />
0<br />
n=1<br />
Y<br />
n<br />
n<br />
eq. 1<br />
ou como<br />
THD% 100<br />
Y −<br />
=<br />
Y<br />
Y<br />
2 2<br />
1<br />
eq. 5<br />
em que:<br />
Y 0 - é o valor da componente contínua, normalmente nula<br />
Y n - o valor eficaz do harmónico de ordem n<br />
ω - a velocidade angular da frequência fundamental<br />
ϕn - o esfasamento inicial do harmónico de ordem n<br />
A CIGRÉ, por outro lado, define a taxa global de distorção<br />
como sendo:<br />
D%<br />
= 100<br />
∑ ∞<br />
n=<br />
2<br />
Y<br />
Y<br />
1<br />
2<br />
n<br />
eq. 6<br />
5.1 Valor eficaz de uma grandeza não-sinusoidal<br />
5.3 Taxa individual harmónica<br />
O valor eficaz (valor médio quadrático) de uma grandeza de<br />
forma de onda qualquer é obtido a partir da expressão geral<br />
de definição<br />
Y<br />
ef<br />
1<br />
=<br />
T<br />
T<br />
∫ y<br />
0<br />
2<br />
( t)dt<br />
eq. 2<br />
Em função dos valores eficazes dos harmónicos, a expressão<br />
virá dada por:<br />
Este parâmetro representa a razão entre o valor eficaz de um<br />
harmónico de ordem n e o valor eficaz da grandeza<br />
alternada, segundo a CEI<br />
Hn%<br />
= 100<br />
Y<br />
∑ ∞<br />
n=<br />
1<br />
n<br />
Y<br />
2<br />
n<br />
eq. 7<br />
ou entre o valor eficaz do termo fundamental, segundo a<br />
CIGRÉ<br />
∑ ∞<br />
n=<br />
1<br />
2<br />
Y =<br />
ef Y n<br />
eq. 3<br />
Hn% = 100<br />
Y n<br />
Y<br />
1<br />
eq. 8<br />
16
ARTIGO TÉCNICO<br />
6. Recomendações e normalização<br />
Os problemas potenciais levantados pela existência de<br />
harmónicos nas redes eléctricas levaram as organizações de<br />
normalização a estudar meios de prover especificações que<br />
servissem os utilizadores e engenheiros aquando da<br />
instalação de equipamentos de conversão, rectificação e<br />
outros em redes que continham condensadores.<br />
No âmbito da Comunidade Europeia, no sentido da<br />
harmonização da legislação, sem a qual ficaria afectada a<br />
livre troca de bens e serviços, várias directivas foram<br />
publicadas tendentes a eliminar as diferenças na legislação<br />
desses Estados.<br />
Uma dessas directivas é a nº 85/374 sobre responsabilidade<br />
por produtos defeituosos.<br />
O seu Artº 2º define electricidade como produto e como tal<br />
tornou-se necessário definir as suas características. Daqui<br />
resultou a norma europeia NE/EN 50 160 - Características da<br />
Tensão Fornecida pelas Redes Públicas de Distribuição.<br />
A EN 50 160 CÉNÉLEC (NP EN 50 160) - define, no ponto de<br />
fornecimento ao consumidor, as características principais da<br />
tensão para as redes públicas de abastecimento de energia<br />
em Baixa Tensão e Média Tensão tais como:<br />
- frequência<br />
- amplitude<br />
- forma de onda<br />
- cavas de tensão<br />
- sobretensões<br />
- tensões harmónicas<br />
- tensões inter-harmónicas<br />
- simetria das tensões trifásicas<br />
- transmissão de sinais de informação pelas redes de<br />
energia<br />
O âmbito desta norma não é a compatibilidade<br />
electromagnética mas sim a definição de um produto - as<br />
características da tensão, especificando os seus valores<br />
máximos ou variações que, sob condições normais de<br />
exploração, os consumidores esperarão encontrar em<br />
qualquer ponto da rede.<br />
Para as redes de Baixa Tensão, relativamente às tensões<br />
harmónicas, nas condições normais de exploração, durante<br />
cada período de uma semana, 95% dos valores eficazes de<br />
cada tensão harmónica, valores médios em cada 10<br />
minutos, não devem ultrapassar os valores indicados na<br />
tabela abaixo.<br />
Harmónicos ímpares<br />
Não múltiplos de 3 Múltiplos de 3<br />
Harmónicos pares<br />
Ordem n Tensão relativa % Ordem n Tensão relativa % Ordem n Tensão relativa %<br />
5<br />
6,0<br />
3<br />
5,0<br />
2<br />
2,0<br />
7<br />
5,0<br />
9<br />
1,5<br />
4<br />
1,0<br />
11<br />
3,5<br />
15<br />
0,5<br />
6 - 24<br />
0,5<br />
13<br />
3,0<br />
21<br />
0,5<br />
17<br />
2,0<br />
19<br />
1,5<br />
23<br />
1,5<br />
25<br />
1,5<br />
Nota: Os valores correspondentes aos harmónicos de ordem superior a 25 por serem geralmente fracos e muito imprevisíveis pelo facto dos<br />
efeitos da ressonância, não são indicados nesta tabela<br />
Tab. 1 Valores das tensões harmónicas nos pontos de fornecimento até à ordem 25 expressas em percentagem da tensão nominal U N<br />
17
ARTIGO TÉCNICO<br />
Além disso, a taxa total de distorção harmónica da tensão<br />
fornecida (até à ordem 40) não deverá ultrapassar 8%.<br />
O limite à ordem 40 considerado na norma é convencional.<br />
Para as redes de Média Tensão aplica-se a mesma tabela,<br />
com os valores relativos referidos à tensão nominal UC e<br />
com a observação de que o valor do harmónico de ordem 3,<br />
dependendo da concepção da rede, pode ser muito mais<br />
baixo. Tensões mais elevadas para uma dada ordem poderão<br />
dever-se a efeitos de ressonância.<br />
De igual modo, a taxa total de distorção harmónica, até à<br />
ordem 40, está limitada a 8%.<br />
A CEI/IEC 61 000 – a série 61 000 de normas CEI diz respeito<br />
à compatibilidade electromagnética e compreende as<br />
seguintes partes:<br />
1. Generalidades. Considerações gerais, definições,<br />
terminologia, etc: 61000-1-x<br />
2. Ambiente. Descrição do ambiente. Características do<br />
ambiente onde vai ser instalado o equipamento. Níveis<br />
de compatibilidade: 61 000-2-x<br />
3. Limites. Limites de emissão definindo os níveis de<br />
perturbação permitidos pelos equipamentos ligados à<br />
rede de energia eléctrica. Limites de imunidade: 61000-<br />
3-x<br />
4. Ensaios e medidas. Técnicas de medida e técnicas de<br />
ensaio de modo a assegurar a conformidade com as<br />
outras partes da norma: 61000-4-x<br />
5. Guias de instalação e de atenuação. Provê guias na<br />
aplicação de equipamento tal como filtros, equipamento<br />
de compensação, descarregadores de sobretensões, etc.,<br />
para resolver problemas de qualidade da energia: 61000-<br />
5-x<br />
6. Normas gerais e de produto. Definem os níveis de<br />
imunidade requeridos pelo equipamento em geral ou<br />
para tipos específicos de equipamento: 61000-6-x<br />
internacional CEI/IEC60050(161) VEI, quando aplicável:<br />
• Nível de Emissão - máximo nível permitido para um<br />
consumidor de uma rede pública ou para um aparelho<br />
(equipamento)<br />
• Nível de Compatibilidade - nível máximo especificado de<br />
perturbação que se pode esperar num dado ambiente<br />
• Nível de Imunidade - nível de perturbação suportado<br />
por um aparelho ou sistema<br />
• Nível de Susceptibilidade - nível a partir do qual um<br />
aparelho ou sistema começa a funcionar<br />
deficientemente.<br />
Nível de perturbação (não definido no VEI)<br />
Nível de de Susceptibilidade<br />
Nível de Imunidade<br />
Nível de Imunidade<br />
Nível de de Compatibilidade<br />
Nível de Emissão<br />
Nível de Emissão<br />
0<br />
Fig. 3 Os vários níveis de perturbação para compatibilidade cargas<br />
não-lineares/equipamento sensível<br />
Os níveis de compatibilidade electromagnética são definidos<br />
como segue de acordo o vocabulário electrotécnico<br />
18
ARTIGO TÉCNICO<br />
A norma CEI 61000-2-2 define os níveis de compatibilidade<br />
para as tensões harmónicas em BT de acordo com a tabela 2.<br />
Por sua vez a norma CEI 61000-2-4 estabelece os níveis de<br />
compatibilidade para redes industriais. Em termos dos<br />
ambientes electromagnéticos possíveis são definidas três<br />
classes com exigências de compatibilidade diferentes.<br />
Classe 1<br />
Aplica-se a redes protegidas e tem níveis de compatibilidade<br />
mais baixos que os das redes públicas. Diz respeito à<br />
utilização de aparelhos muito sensíveis às perturbações da<br />
rede eléctrica, por ex. instrumentação de laboratórios<br />
tecnológicos, certos equipamentos de automatização e de<br />
protecção,certos computadores, etc.<br />
Classe 2<br />
Esta classe aplica-se aos PAC , ponto de acoplamento comum<br />
(à rede pública), VEI 161-07-15, e aos pontos de ligação<br />
interna no ambiente industrial em geral. Os níveis de<br />
compatibilidade desta classe são idênticos aos das redes<br />
públicas, pelo que os equipamentos destinados à utilização<br />
nestas redes podem ser usados nesta classe de ambiente<br />
industrial.<br />
Classe 3<br />
Esta classe aplica-se somente aos pontos de ligação interna<br />
dos ambientes industriais. Os níveis de compatibilidade são<br />
superiores aos da classe 2 para certas perturbações. Por ex.,<br />
esta classe deve ser considerada quando uma das seguintes<br />
condições é satisfeita:<br />
• a maior parte das cargas são alimentadas através de<br />
conversores<br />
• existem máquinas de soldar<br />
• frequentes arranques de motores de grande potência<br />
• as cargas variam rapidamente<br />
Harmónicos ímpares não múltiplos de 3 Harmónicos ímpares múltiplos de 3 Harmónicos pares<br />
Ordem do<br />
Tensão harmónica<br />
Ordem do<br />
Tensão harmónica<br />
Ordem do<br />
Tensão harmónica<br />
harmónico<br />
%<br />
harmónico<br />
%<br />
harmónico<br />
%<br />
n<br />
n<br />
n<br />
5<br />
6<br />
3<br />
5<br />
2<br />
2<br />
7<br />
5<br />
9<br />
1,5<br />
4<br />
1<br />
11<br />
3,5<br />
15<br />
0,3<br />
6<br />
0,5<br />
13<br />
3<br />
21<br />
0,2<br />
8<br />
0,5<br />
17<br />
2<br />
>21<br />
0,2<br />
10<br />
0,5<br />
19<br />
1,5<br />
12<br />
0,2<br />
23<br />
1,5<br />
>12<br />
0,2<br />
25<br />
1,5<br />
>25<br />
0,2 + 0,5 x 25/n<br />
Tab. 2 Níveis de compatibilidade para as tensões harmónicas individuais em redes públicas de BT<br />
Distorção harmónica total<br />
Classe 1 Classe 2 Classe 3<br />
5% 8% 10%<br />
Tab. 3 Níveis de compatibilidade para harmónicos<br />
19
ARTIGO TÉCNICO<br />
Ordem<br />
n<br />
Classe 1<br />
Tensão harmónica %<br />
Classe 2<br />
Tensão harmónica %<br />
Classe 3<br />
Tensão harmónica %<br />
5 3 6 8<br />
7 3 5 7<br />
11 3 3,5 5<br />
13 3 3 4,5<br />
17 2 2 4<br />
19 1,5 1,5 4<br />
23 1,5 1,5 3,5<br />
25 1,5 1,5 3,5<br />
>25 0,2 + 12,5/n 0,2 + 12,5/n 5x<br />
Tab. 4 Componentes da tensão harmónica, ímpares, não múltiplos de três<br />
Ordem<br />
n<br />
Classe 1<br />
Tensão harmónica %<br />
Classe 2<br />
Tensão harmónica %<br />
Classe 3<br />
Tensão harmónica %<br />
3 3 5 6<br />
9 1,5 1,5 2,5<br />
15 0,3 0,3 2<br />
21 0,2 0,2 1,75<br />
>21 0,2 0,2 1<br />
Tab. 5 Componentes da tensão harmónica, ímpares, múltiplos de três<br />
Ordem<br />
n<br />
Classe 1<br />
Tensão harmónica %<br />
Classe 2<br />
Tensão harmónica %<br />
Classe 3<br />
Tensão harmónica %<br />
2 2 2 3<br />
4 1 1 1,5<br />
6 0,5 0,5 1<br />
8 0,5 0,5 1<br />
10 0,5 0,5 1<br />
>10 0,2 0,2 1<br />
Tab. 6 Componentes da tensão harmónica, ordem par<br />
Ordem<br />
Classe 1<br />
Classe 2<br />
Classe 3<br />
n<br />
Tensão inter- harmónica %<br />
Tensão inter-harmónica %<br />
Tensão inter-harmónica %<br />
25 0,2 0,2 1<br />
Tab. 7 Componentes da tensão inter-harmónica<br />
20
ARTIGO TÉCNICO<br />
7. Observações finais<br />
Como se pode verificar pela análise dos valores das tensões<br />
harmónicas dados pelas tabelas, os limites máximos<br />
individuais e taxa total de distorção impostos pela norma<br />
europeia NE/EN 50 160 coincidem com os valores das<br />
normas CEI/IEC 61000-2-2 e 61000-2-4, classe 2 de<br />
ambientes industriais.<br />
De modo a assegurar que estes níveis de distorção não sejam<br />
atingidos, têm de ser fixados limites para as perturbações<br />
emitidas (níveis de emissão) pelos aparelhos e<br />
equipamentos considerados quer individualmente quer<br />
como conjunto de cargas ligadas à rede no ponto de<br />
acoplamento comum.<br />
Assim a norma CEI/IEC 61000-3-2 especifica os limites para<br />
as emissões de corrente harmónica para aparelhos com<br />
corrente estipulada (corrente nominal) por fase até 16A e a<br />
norma 61000-3-4 fixa os limites para emissão de correntes<br />
harmónicas para aparelhos com corrente estipulada<br />
(corrente nominal) por fase superior a 16A, em baixa tensão.<br />
21
DIVULGAÇÃO<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Departamento de Engenharia Electrotécnica<br />
Laboratório de Instalações Eléctricas<br />
O laboratório de Instalações eléctricas do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do<br />
Porto, enquadra as valências de Instalações Eléctricas,Telecomunicações,Domótica e Sistemas Automáticos de Segurança.<br />
Apoia a leccionação de diversas unidades curriculares do curso de Licenciatura em Engenharia Electrotécnica - Sistemas<br />
Eléctricos de Energia - Bolonha, da Pós-Graduação em Infra-Estruturas de Telecomunicações, Segurança e Domótica e da Pós-<br />
Graduação em Eficiência Energética e Utilização Racional de Energia Eléctrica.<br />
Está equipado com diversas bancadas de testes e ensaios e equipamentos modulares nas áreas técnicas anteriormente<br />
referidas.<br />
Possui diversos equipamentos de medição essenciais à execução de certificações ITED, equipamentos no âmbito da<br />
certificação, exploração e manutenção das instalações eléctricas e equipamentos no âmbito da realização de auditorias<br />
energéticas e da monitorização da qualidade de serviço.<br />
22
ARTIGO TÉCNICO<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva, António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
Projecto de Instalações Eléctricas<br />
Secção Técnica Vs Secção Económica de Canalizações Eléctricas<br />
1. Introdução<br />
O projecto das instalações eléctricas deve responder a<br />
critérios de ordem técnica, nomeadamente no que se refere<br />
à garantia da protecção das pessoas e instalações, mas<br />
contrapõem-se necessariamente os aspectos de ordem<br />
económica; resultará do compromisso entre estas duas<br />
posições contrastantes a definição daquela que será a<br />
solução mais acertada para uma dada instalação.<br />
No capítulo dos custos associados a uma instalação eléctrica<br />
tem um peso crucial a energia desperdiçada durante o<br />
funcionamento da mesma, duração esta que pode em média<br />
considerar-se compreendida entre 20 e 30 anos.<br />
Este desperdício tem duas origens: perdas excessivas por<br />
ineficiente concepção das instalações e selecção não<br />
criteriosa de equipamentos que utilizam a energia eléctrica e<br />
malbaratamento da energia eléctrica por funcionamento<br />
além do necessário.<br />
A abordagem dum projecto eléctrico eficiente sob o ponto<br />
de vista energético deverá contemplar os seguintes pontos:<br />
a) Minimização de perdas no sistema de distribuição<br />
b) Redução das perdas devido ao desperdício na utilização<br />
do equipamento eléctrico<br />
c) Redução das perdas associadas aos problemas<br />
associados à qualidade da energia<br />
d) Prever as instalações para incorporarem aparelhagem de<br />
contagem e medida para fins de monitorização e de<br />
realização de auditorias eléctricas<br />
2. A Secção Técnica dos Condutores<br />
A definição técnica de canalizações em instalações de<br />
utilização de energia eléctrica, deve ser realizada de acordo<br />
com o definido nas Regras Técnicas de Instalações Eléctricas<br />
de Baixa Tensão, e assenta na verificação das seguintes<br />
condições:<br />
- Critério do Aquecimento;<br />
- Critério da protecção contra sobreintensidades<br />
Põe-se, portanto, também neste domínio a questão da<br />
eficiência energética.<br />
3. A Secção Económica dos Condutores Calculada a Partir<br />
da Norma CEI/IEC60287-3-2<br />
Assim, o responsável pela concepção de uma instalação<br />
eléctrica deverá procurar não somente a solução técnica<br />
funcional da mesma mas preocupar-se que essa solução seja<br />
igualmente eficiente do ponto de vista energético.<br />
Os métodos de cálculo económico dos condutores levam em<br />
linha de conta não somente o custo inicial dos mesmos e da<br />
sua instalação mas também os custos associados à<br />
exploração, isto é, os custos das perdas por efeito Joule.<br />
23
ARTIGO TÉCNICO<br />
A norma CEI/IEC 60 287-3-2 – Electric cables – Calculation of<br />
the current rating –Economic optimization of power cable<br />
size (CEI, 1995) apresenta duas metodologias de cálculo –<br />
uma baseada na determinação de gamas económicas de<br />
corrente, para diferentes cabos empregados, e uma outra,<br />
conhecida a corrente de projecto, que determina a secção<br />
que minimiza a função custo total.<br />
CT = CI + CE (1)<br />
A norma considera uma temperatura média igual a:<br />
θ<br />
m<br />
θ − θa<br />
= + θ<br />
3<br />
Onde:<br />
θ = temperatura correspondente a Iz<br />
θa = temperatura ambiente<br />
T = nº de horas de utilização das perdas<br />
a<br />
(3)<br />
Onde:<br />
CT – custo total<br />
CI – custo de investimento<br />
CE – custo de exploração<br />
Perda de energia no 1º ano:<br />
( I × R × L× N × N ) T<br />
2<br />
max<br />
E = (2)<br />
p<br />
c<br />
O número de horas de utilização das perdas é dado pela<br />
relação:<br />
T<br />
8760 2<br />
0<br />
I ( t)<br />
dt<br />
I<br />
2<br />
m á x<br />
Na Fig. 1 podemos apreciar um diagrama de carga diário, que<br />
traduz a variação da corrente com o tempo.<br />
60<br />
= ∫<br />
(4)<br />
Onde:<br />
Imax – corrente de pico do diagrama<br />
R – resistência CA por unidade de comprimento<br />
L – comprimento da canalização<br />
Np – nº de condutores sob idênticas condições<br />
Nc – nº de circuitos idênticos<br />
T – nº de horas de utilização das perdas<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Figura 1 - Diagrama de carga I(t)<br />
A resistência unitária R é definida através do seu valor em CC<br />
e leva em consideração quer os efeitos pelicular e de<br />
proximidade – y S e y P , quer as perdas em ecrãs metálicos e<br />
armaduras - λ 1 e λ 2 .<br />
A Fig. 2 representa o chamado diagrama normalizado π(t)<br />
que resulta do precedente dividindo-o por I máx . A ordenada<br />
máxima passa a ser obviamente 1.<br />
1,2<br />
Em virtude da variação da corrente, factor de carga≠1, e da<br />
possibilidade de incremento da mesma, a temperatura do<br />
condutor será diferente da correspondente à corrente<br />
máxima admissível θ(θz).<br />
1<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24<br />
Figura 2 - Diagrama normalizado π(t)<br />
24
ARTIGO TÉCNICO<br />
A Fig. 3 corresponde ao diagrama π 2 (t).<br />
Custo da potência de perdas:<br />
1,2<br />
1<br />
0,8<br />
CE = ( I × R × L × N × N ) × D<br />
2<br />
P max<br />
p c<br />
(9)<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24<br />
Figura 3 - Diagrama normalizado π 2 (t)<br />
Onde:<br />
CE P = custo de exploração por solicitação de potência<br />
adicional<br />
D = custo anual da potência<br />
Como se trata da elevação ao quadrado de valores quando<br />
muito iguais a 1 virá mais cavado.<br />
T<br />
8760<br />
= ∫<br />
0<br />
2<br />
π ( t)<br />
dt<br />
O nº de horas de utilização das perdas é referido ao período<br />
de 8760 h (1 ano). A estimação deste valor vem<br />
normalmente dada através da fórmula:<br />
(5)<br />
Custos de exploração (1º ano):<br />
CE = ( I × R × L × N × N )( TP + D)<br />
2<br />
max<br />
(10)<br />
Considerando-se os pagamentos feitos no fim do ano, os<br />
custos no iésimo ano virão dados por:<br />
CE = CE[(1 + a) (1 + b)] i−<br />
i<br />
p<br />
2 1<br />
c<br />
(11)<br />
T = µ × 8760<br />
µ = p × f + (1 − p)<br />
× f<br />
c<br />
Onde:<br />
µ = factor de carga das perdas<br />
fc = factor de carga<br />
p = coeficiente<br />
2<br />
c<br />
(6)<br />
(7)<br />
Admitindo-se crescimento percentual anual da carga de a e<br />
dos custos de energia e potência de b.<br />
Há duas abordagens para lidar com pagamentos feitos em<br />
tempos diferentes, o investimento no início da exploração da<br />
instalação e os custos durante o tempo de vida da mesma:<br />
- método das anuidades ;<br />
- método da actualização.<br />
(igual a 0,3 - redes de transporte, e igual a 0,2 - redes de<br />
distribuição (IEEE,1990)<br />
O método da actualização é mais geral e é o usado na norma.<br />
Custo das perdas no 1º ano:<br />
CE = ( I × R × L × N × N ) T × P<br />
2<br />
E max<br />
p c<br />
(8)<br />
2<br />
(1 + a) (1 + b)<br />
r =<br />
(1 + i)<br />
N<br />
1−<br />
r<br />
Q =<br />
1 − r<br />
(12)<br />
(13)<br />
Onde:<br />
Onde:<br />
CE E = custo de exploração por perda de energia no 1º ano<br />
i = taxa de actualização<br />
P = custo do Wh<br />
N = nº de anos de vida média da instalação<br />
25
ARTIGO TÉCNICO<br />
2<br />
Q<br />
CEa = ( Imax<br />
× R × L × Np × Nc<br />
)( TP + D)<br />
×<br />
1 + i<br />
(14)<br />
4. Método de fixação dos valores máximos de perdas<br />
admissíveis nas canalizações<br />
Onde:<br />
CEa = custo de N anos de exploração da instalação, referidos<br />
ao início do empreendimento, isto é, actualizados.<br />
Seja F uma variável auxiliar dada por:<br />
Q<br />
F = Np<br />
× Nc( TP + D)<br />
×<br />
1 + i<br />
A função custo total virá então com a forma:<br />
2<br />
CT = CI + I RLF<br />
máx<br />
Onde:<br />
ρ20 = resistividade do condutor a 20º C em CC<br />
θm = temperatura média<br />
( ) ⎤<br />
ρ20 × B ⎡<br />
⎢1 + α20 θm<br />
− 20 ⎥ 6<br />
R = ⎣<br />
⎦ × 10 Ω/m<br />
S<br />
B = (1 + y + y )(1 + λ + λ )<br />
s<br />
p<br />
1 2<br />
(15)<br />
(16)<br />
(17)<br />
(18)<br />
Este método é preconizado pela Região Administrativa de<br />
Hong-Kong, que através do Departamento Eléctrico e<br />
Mecânico do Governo (EMSD) definiu uma abordagem no<br />
domínio da baixa tensão, até 2008 de carácter voluntário,<br />
mas que a partir de 2009 será integrado na legislação,<br />
tornando-se, por conseguinte de carácter obrigatório (EMSD,<br />
1997).<br />
A metodologia sugerida pelo presente método conduziu a<br />
resultados significativos no que se refere à poupança de<br />
energia eléctrica, comprovados pelo EMSD, no decorrer de<br />
estudos realizados nos últimos 30 anos, junto dos<br />
operadores que voluntariamente adoptaram este<br />
procedimento (EMSD, 1997), (Hui, 2003).<br />
A metodologia consiste em fixar os valores máximos de<br />
perdas admissíveis nas canalizações, ou seja, a de impor<br />
rendimentos mínimos das linhas.<br />
Para além das condições técnicas de temperatura e queda de<br />
tensão a máxima perda de potência passa a ser critério de<br />
dimensionamento.<br />
Admitindo um custo de investimento dado por:<br />
CI = ( A × S + C)<br />
× L<br />
(19)<br />
Consideram-se duas situações:<br />
- circuitos trifásicos lineares equilibrados;<br />
- trifásicos não-lineares.<br />
Onde:<br />
A = termo dependente da secção do cabo<br />
C = termo constante<br />
1º caso - Circuito trifásico linear equilibrado<br />
Potência transportada e perdas nos condutores do circuito:<br />
S<br />
A secção económica virá dada pela fórmula:<br />
ec<br />
F × ρ20 × B ⎡1 α20 ( θm<br />
20)<br />
⎤<br />
⎢ + − ⎥<br />
2<br />
= 1000 × I<br />
⎣<br />
⎦ mm (20)<br />
máx<br />
A<br />
A secção económica será normalizada para o valor comercial<br />
mais próximo.<br />
26<br />
P = 3 × U × I × cosϕ<br />
p = × I × r × L<br />
2<br />
3<br />
b<br />
Onde:<br />
Ib = corrente do circuito<br />
c<br />
b<br />
(21)<br />
(22)
ARTIGO TÉCNICO<br />
L = comprimento dos condutores<br />
r = resistência em CA por metro de canalização à<br />
temperatura de funcionamento<br />
α 0 = coeficiente de termorresistividade a 0ºC<br />
Donde:<br />
O valor percentual p r das perdas vem dado pela relação:<br />
p<br />
r<br />
=<br />
3× I × r × L<br />
2<br />
b<br />
3 × U × I × cosϕ<br />
c<br />
b<br />
(23)<br />
Donde, definido o valor percentual que se admite para as<br />
perdas, se determinará o máximo valor para a resistência r.<br />
R<br />
R<br />
1 + α × θ 234, 4 + θ<br />
= =<br />
1 + α × θ 234, 4 + θ<br />
c 0 c c<br />
z 0 z z<br />
(27)<br />
2º caso - Circuito trifásico não-linear, equilibrado, com<br />
valores conhecidos de corrente Ib e de taxa de distorção<br />
harmónica THD<br />
r<br />
máx<br />
=<br />
p × U × cosϕ<br />
× 1000<br />
r<br />
c<br />
3 × I × L<br />
b<br />
mΩ/m (24)<br />
A potência aparente transportada pelo circuito será dada<br />
por:<br />
Encontrado o valor de r máx , as tabelas fornecerão a secção a<br />
utilizar.<br />
Correcção das perdas nos cabos devido às diferentes<br />
temperaturas de funcionamento.<br />
A temperatura do condutor pode ser aproximada através da<br />
seguinte fórmula:<br />
I<br />
θ = θ + θ − 30<br />
2<br />
2<br />
b<br />
c a z<br />
IzT<br />
( )<br />
(25)<br />
Onde:<br />
θ c = temperatura do condutor<br />
θ a = temperatura ambiente<br />
I zT = corrente máxima admissível no cabo dada pelas tabelas<br />
S = 3 × Uc × Ib<br />
Onde:<br />
I = I = I + I + I<br />
b<br />
THD =<br />
∞<br />
∑<br />
h=<br />
1<br />
2 2 2 2<br />
h 1 2 3<br />
∞<br />
∑<br />
h=<br />
2<br />
I<br />
1<br />
I<br />
2<br />
h<br />
I = I + THD<br />
I<br />
1<br />
b<br />
=<br />
1 1<br />
I b<br />
1 + THD<br />
2<br />
2<br />
...<br />
(28)<br />
(29)<br />
(30)<br />
(31)<br />
(32)<br />
θ z = temperatura máxima admissível nos condutores<br />
A resistência à temperatura θc pode ser expressa a partir da<br />
relação:<br />
Admitindo baixa distorção da tensão, o que é razoável, a<br />
potência activa transportada terá por expressão:<br />
P = 3 × U × I × cos ϕ<br />
c<br />
1<br />
(33)<br />
c<br />
( 1 )<br />
R = R + α × θ<br />
0 0<br />
Onde:<br />
R 0 = resistência do condutor a 0º C<br />
c<br />
(26)<br />
Onde:<br />
I1 = componente fundamental da corrente<br />
cos ϕ = factor de potência do circuito<br />
27
ARTIGO TÉCNICO<br />
Desprezando os efeitos pelicular e de proximidade, as perdas<br />
nos condutores, incluindo o condutor neutro, será:<br />
2 2<br />
( 3<br />
b N )<br />
p = × I + m × I × r × L<br />
I = 3 × I + I + I ...<br />
N<br />
S<br />
m = S<br />
F<br />
N<br />
2 2 2<br />
3 6 9<br />
Que é a relação entre as secções de fase e de neutro.<br />
(34)<br />
(35)<br />
(36)<br />
As perdas percentuais (pr) na canalização virão então dadas<br />
por:<br />
p<br />
r<br />
=<br />
2 2<br />
( 3<br />
b<br />
N )<br />
× I + m× I × r × L<br />
3 × U × I × cosϕ<br />
c<br />
E a máxima resistência unitária a atribuir ao cabo:<br />
r<br />
máx<br />
As tabelas especificarão a secção do cabo a considerar.<br />
(37)<br />
(38)<br />
A correcção de temperatura poderá ser feita mediante a<br />
fórmula aproximada seguinte:<br />
Alguns valores de referência para p r :<br />
1<br />
pr<br />
× 3 × Uc<br />
× I1<br />
× cosϕ<br />
× 1000<br />
=<br />
× I + m × I × L<br />
2 2<br />
( 3<br />
b<br />
N )<br />
( 3× Ib<br />
+ m × IN<br />
)<br />
2<br />
( 3×<br />
IzT<br />
)<br />
(39)<br />
Tabela I - Valores máximos das perdas percentuais para diferentes<br />
tipos de circuitos<br />
Tipo de circuito<br />
( 30)<br />
θ = θ + θ −<br />
c a z<br />
Ligações entre transformadores de distribuição<br />
e Quadros Gerais<br />
Canalizações entre Quadros Gerais e Quadros<br />
Parciais<br />
Circuitos terminais: iluminação, tomadas ou<br />
outros usos com correntes acima de 32 A<br />
Colunas montantes e entradas, (até 2,5% para<br />
utilizações domésticas)<br />
Alimentações de grandes cargas como motores<br />
de potência apreciável<br />
2<br />
p r<br />
Máx.<br />
0,5%<br />
1,5%<br />
1%<br />
1,5%<br />
2,5%<br />
5. Conclusões<br />
A busca da eficiência e da utilização racional de energia<br />
(URE), particularmente nos sistemas eléctricos, leva a<br />
considerar todos aqueles aspectos que concorrem para<br />
realizar esse fim. A consideração do rendimento das<br />
canalizações, já contemplada nas áreas do transporte e<br />
grande distribuição, faz todo o sentido aplicada às redes de<br />
baixa tensão, até pela sua enorme extensão.<br />
Em Hong-Kong, onde o sistema de fixação de perdas<br />
máximas se encontra implementado há alguns anos, o<br />
dimensionamento económico de condutores insere-se num<br />
programa mais vasto de URE em edifícios de serviços,<br />
contemplando vertentes tais como instalações de<br />
iluminação, sistemas de aquecimento, ventilação e ar<br />
condicionado, transporte por elevadores, monta-cargas e<br />
escadas rolantes e o desempenho energético de edifícios<br />
apresentando resultados tangíveis significativos.<br />
Fontes de Informação Relevantes<br />
[CEI, 1995] CEI IEC 60 287-3-2, Electric cables, Calculation of<br />
the current rating – Part 3 – Section 2, Suiça, 1995.<br />
[Cooper, 1997] Copper Development Association, Electrical<br />
Energy Efficiency, U.K., 1997.<br />
[EMSD, 1997] Electrical and Mechanical Services Department<br />
(EMSD), Code of Practice for Energy Efficiency of Electrical<br />
Installations,Hong-Kong,2005.<br />
[Anders, 1997] Anders J George, Rating of Electric Power<br />
Cables, McGraw-Hill, Nova Iorque, 1997.<br />
[Hui, 2003] Hui, Sam C. M., Energy Efficiency and<br />
Environmental Assessment for Buildings in Hong Kong,<br />
MECM LEO Seminar, Advances on Energy Efficiency and<br />
Sustainability in Buildings, pag, 21-22, 2003, Kuala Lumpur,<br />
Malaysia.<br />
[Silva, 2009] Silva H.J., Gomes A.A., Ramos S.C., “A definição<br />
do valor máximo das perdas nas canalizações eléctricas como<br />
medida de eficiência energética”, JLBE09 - Jornadas Luso-<br />
Brasileiras de Ensino e Tecnologia em Engenharia 2009, 10 a<br />
13 de Fevereiro de 2009, Instituto Superior de Engenharia do<br />
Porto, Porto, Portugal.<br />
28
ARTIGO TÉCNICO<br />
José António Beleza Carvalho<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
Protecção das Pessoas em Instalações Eléctricas de Baixa Tensão<br />
Cálculo dos Dispositivos de Protecção<br />
RESUMO<br />
1. CÁLCULOS NO REGIME DE N<strong>EUTRO</strong> “TN”<br />
O correcto dimensionamento dos dispositivos de protecção<br />
das pessoas contra contactos indirectos em instalações<br />
eléctricas de Baixa Tensão (BT), é uma das condições<br />
fundamentais para que uma instalação possa ser utilizada e<br />
explorada com conforto e em perfeitas condições de<br />
segurança. De acordo com a normalização em vigor, é,<br />
também, uma das condições essenciais para a certificação ou<br />
licenciamento das instalações eléctricas por parte das<br />
entidades ou organismos responsáveis, a quem estão<br />
atribuídasestas competências.<br />
A função dos dispositivos de protecção das pessoas contra os<br />
contactos indirectos será o corte automático da alimentação<br />
da instalação eléctrica, que, em caso de defeito, e em<br />
consequência do valor e da duração da tensão de contacto,<br />
evitará o risco de se produzirem efeitos fisiopatológicos<br />
perigosos nas pessoas. Esta medida de protecção obriga à<br />
coordenação entre o Regime de Neutro (ou Esquema de<br />
Ligação à Terra (ELT)) adoptado na instalação, e as<br />
características dos condutores de protecção e dos respectivos<br />
dispositivos de protecção.<br />
Neste artigo são apresentados alguns exemplos de cálculo<br />
dos dispositivos de protecção das pessoas contra contactos<br />
indirectos, de acordo com o Regime de Neutro adoptado<br />
para a instalação eléctrica.<br />
Este regime de neutro caracteriza-se por todas as massas da<br />
instalação serem ligadas ao ponto da alimentação ligado à<br />
terra, próximo do transformador ou do gerador da<br />
alimentação da instalação, por meio de condutores de<br />
protecção.<br />
O ponto da alimentação ligado à terra é, em regra, o ponto<br />
neutro.<br />
De acordo com a legislação em vigor, nas instalações fixas<br />
pode-se utilizar um só condutor com as funções de condutor<br />
de protecção e de condutor neutro (designado por condutor<br />
PEN) desde que o condutor de protecção tenha uma secção<br />
não inferior a 10mm 2 , se de cobre ou a 16mm 2 , se de<br />
alumínio e, a parte da instalação comum (esquema TN-C)<br />
não esteja localizada a jusante de um dispositivo diferencial.<br />
Este regime de neutro encontra-se representado na Figura 1.<br />
Neste regime de neutro um defeito de isolamento é similar a<br />
um curto-circuito entre fase e neutro, e o corte deve ser<br />
assegurado pelo dispositivo de protecção contra curtoscircuitos,<br />
com um tempo máximo de corte especificado que<br />
é função da tensão limite convencional (UL) admissível para<br />
o local da instalação, ou seja, 25V ou 50V em corrente<br />
alternada, sendo o valor definido pela classificação do local<br />
quanto às influências externas.<br />
PE<br />
Figura 1: Regime terra pelo neutro, ou esquema TN (Fonte Schneider Electric)<br />
29
ARTIGO TÉCNICO<br />
Segundo a norma CEI 364 o tempo de corte do dispositivo de<br />
protecção deverá ser de 0,4s para UL=50V e, 0,2s para<br />
A curva deste dispositivo de protecção é apresentada na<br />
figura 3.<br />
UL=25V.<br />
Seguidamente, apresenta-se um circuito de uma instalação<br />
eléctrica de BT, trifásica (400V), onde é adoptado o regime<br />
de neutro TN-C, ou seja, a função de neutro e de protecção<br />
estão combinadas num único condutor (PEN).<br />
Este circuito é apresentado na figura 2.<br />
Figura 3: Curva de disparo TM250D.<br />
(Fonte Schneider Electric)<br />
Como se pode verificar, a actuação do disparador magnético<br />
deste disjuntor poderá ser regulada para funcionar entre 5 a<br />
Figura 2: Exemplo de cálculo. Regime TN-C<br />
10 vezes o valor nominal (In), ou seja, entre 1250 e 2500A.<br />
O circuito tem um comprimento de 40m, a secção do<br />
condutor de fase é de 95mm 2 e a do condutor de protecção<br />
é de 50mm 2 .<br />
O circuito está protegido com disjuntor NS 250N (Merlin<br />
Gerin) equipado com disparador magnetotérmico TM 250<br />
curva D.<br />
Pretende-se verificar se neste regime de neutro, a protecção<br />
das pessoas contra contactos indirectos está efectivamente<br />
garantida com este dispositivo de protecção.<br />
Uma condição fundamental para o correcto<br />
dimensionamento do dispositivo de protecção, é conhecer a<br />
sua curva de actuação, de maneira a obter-se o valor da<br />
corrente correspondente ao limiar de funcionamento do<br />
disparador magnético do aparelho de protecção.<br />
30<br />
Neste regime de neutro a impedância da malha de defeito Zs<br />
será:<br />
Z<br />
s<br />
K.<br />
U<br />
=<br />
I<br />
d<br />
0<br />
em que K toma o valor de 0,8 para instalações eléctricas, U 0<br />
é a tensão simples nominal da instalação e I d é a corrente de<br />
defeito.<br />
Para que a protecção contra curtos-circuitos também<br />
garanta a protecção contra contactos indirectos, é necessário<br />
para os disjuntores que:<br />
Z<br />
s<br />
K.<br />
U<br />
≤<br />
I<br />
m<br />
0<br />
em que I m é a corrente de actuação do disparador magnético<br />
do dispositivo.<br />
(1)<br />
(2)
ARTIGO TÉCNICO<br />
Para a protecção por fusíveis, é necessário que:<br />
Z<br />
s<br />
K.<br />
U<br />
≤<br />
I<br />
f<br />
0<br />
em que I f é a corrente convencional de funcionamento do<br />
fusível.<br />
Atendendo a que neste regime de neutro um defeito é<br />
efectivamente um curto-circuito entre uma fase e o<br />
condutor de protecção, a impedância da malha de defeito<br />
será então:<br />
(3)<br />
Para o circuito apresentado na figura 2, o comprimento<br />
máximo protegido do circuito, para uma regulação do<br />
disparador magnético de 5xIn (Im=1250A) será de:<br />
0,8.230.95<br />
l ≤<br />
≤ 214m<br />
0,0225.(1 + 19).1250<br />
para uma regulação do disparador magnético de 10xIn<br />
(Im=2500A) será de:<br />
0,8.230.95<br />
l ≤<br />
≤ 107m<br />
0,0225.(1 + 19).2500<br />
(9)<br />
(10)<br />
Z<br />
s<br />
≈ R<br />
s<br />
l<br />
= ρ<br />
f<br />
+ ρ<br />
s<br />
f<br />
PE<br />
l<br />
s<br />
PE<br />
(4)<br />
Atendendo que o comprimento do circuito é de 40m,<br />
verifica-se que em qualquer dos casos o disjuntor garante a<br />
protecção das pessoas contra contactos indirectos.<br />
em que ρ f é a resistividade de condutor de fase, ρ PE a<br />
resistividade do condutor de protecção, l é o comprimentos<br />
dos condutores, s f a secção do condutor de fase e s PE a<br />
secção do condutor de protecção.<br />
Considerando que os condutores de fase e de protecção têm<br />
as mesmas características, a impedância da malha de defeito<br />
será então:<br />
em que ;<br />
l<br />
Z<br />
s<br />
≈ Rs<br />
= ρ .( 1+<br />
m)<br />
s<br />
s<br />
m =<br />
s<br />
f<br />
PE<br />
f<br />
(5)<br />
(6)<br />
O comprimento máximo protegido do circuito será então,<br />
para disjuntores:<br />
No entanto, deve-se também verificar se o tempo de<br />
actuação do dispositivo é compatível com o especificado<br />
pelas curvas de segurança, para a tensão limite convencional<br />
definida para o local da instalação, que como já foi referido,<br />
segundo a norma CEI 364 deverá ser de 0,4s para U L =50V e,<br />
0,2s para U L =25V.<br />
Assim, torna-se importante calcular o valor da tensão de<br />
contacto em caso de defeito.<br />
em que:<br />
então:<br />
U = R . I<br />
I<br />
d<br />
c<br />
PE<br />
K U<br />
=<br />
Z<br />
d<br />
.<br />
0<br />
0<br />
s<br />
K.<br />
U<br />
=<br />
i<br />
ρ.<br />
.(1 + m)<br />
s<br />
f<br />
(11)<br />
(12)<br />
K. U<br />
0<br />
s<br />
f<br />
l ≤ .<br />
ρ .(1 + m).<br />
I<br />
e para fusíveis será de:<br />
K. U<br />
0<br />
s<br />
f<br />
l ≤ .<br />
ρ .(1 + m).<br />
I<br />
m<br />
f<br />
(7)<br />
(8)<br />
U<br />
R<br />
c<br />
PE<br />
= R<br />
PE<br />
l<br />
= ρ<br />
s<br />
K.<br />
U0.<br />
s<br />
f<br />
.<br />
ρ.<br />
l.(1<br />
+ m)<br />
PE<br />
U m<br />
= K. U 0.<br />
c 1 + m<br />
(13)<br />
(14)<br />
31
ARTIGO TÉCNICO<br />
Para o exemplo em consideração, representado na figura 2,<br />
tem-se:<br />
1,9<br />
U c<br />
= 0 ,8* 230* = 120, 6V<br />
1+<br />
1,9<br />
(15)<br />
Pelas curvas de segurança, e para a tensão limite<br />
convencional de 25V, o dispositivo deve actuar num tempo<br />
inferior a 180ms.<br />
Neste regime de neutro, a presença de um primeiro defeito<br />
não origina valores de tensão de contacto perigosos para as<br />
pessoas.<br />
No entanto, é obrigatório a presença de um Controlador<br />
Permanente de Isolamento (CPI), de maneira a sinalizar o<br />
defeito e permitir a sua eliminação o mais rapidamente<br />
possível.<br />
Como se pode verificar na curva de funcionamento do<br />
disjuntor, apresentada na figura 3, o dispositivo actuará num<br />
tempo inferior ao referido e compatível com o especificado<br />
pela norma CEI 364.<br />
Assim, para esta instalação, e para este regime de neutro,<br />
pode-se garantir que o disjuntor apresentado protege<br />
efectivamente as pessoas contra contactos indirectos.<br />
A manifestação de um segundo defeito, sem que tenha sido<br />
eliminado o primeiro, implicaria agora a existência de<br />
tensões de contacto muito perigosas, devendo ser tomadas<br />
as medidas adequadas de forma a evitar riscos de efeitos<br />
fisiopatológicos perigosos nas pessoas susceptíveis de ficar<br />
em contacto com partes condutoras simultaneamente<br />
acessíveis.<br />
Como tal, a protecção das pessoas neste regime de neutro é<br />
orientada para o dimensionamento dos dispositivos de<br />
protecção actuarem na situação de segundo defeito.<br />
Figura 4: Painel de regulação do relé electrónico TM250D.<br />
(Fonte Schneider Electric)<br />
2. CÁLCULOS NO REGIME DE N<strong>EUTRO</strong> “IT”<br />
Este esquema de ligação à terra apresenta como principal<br />
vantagem, a garantia de continuidade de serviço em<br />
presença de um primeiro defeito de isolamento.<br />
Também se devem eliminar todas as situações que possam<br />
contribuir para diminuir a fiabilidade do sistema. Assim, não<br />
se deve distribuir o condutor neutro, pois poderá correr-se o<br />
risco de manifestar-se um segundo defeito sem que o<br />
primeiro tenha sido sinalizado, actuando a protecção e<br />
perdendo-se todas as vantagens inerentes à utilização deste<br />
regime de neutro.<br />
Figura 5: Esquema de Ligação à Terra IT. (Fonte Schneider Electric)<br />
32
ARTIGO TÉCNICO<br />
Este regime de neutro caracteriza-se por as partes activas da<br />
instalação eléctrica serem isoladas da terra ou ligadas a esta<br />
através de uma impedância de valor elevado. As massas dos<br />
aparelhos de utilização são ligadas à terra, individualmente<br />
ou por grupos.<br />
O circuito tem um comprimento de 76m, a secção do<br />
condutor de fase e de protecção é de 25mm 2 . O circuito está<br />
protegido com disjuntor especifico para protecção de saídas<br />
motor NS 80H (Merlin Gerin) equipado com disparador<br />
“motor” integrado MA 80.<br />
A situação mais comum nas instalações onde é adoptado<br />
este regime de neutro, é todas as massas, incluindo as da<br />
fonte, estarem ligadas a um mesmo eléctrodo de terra<br />
(figura 5). Assim, as condições de eliminação da corrente de<br />
um segundo defeito são então garantidas pelas mesmas<br />
condições indicadas para o esquema TN.<br />
Neste regime de neutro IT, a protecção das pessoas contra<br />
contactos indirectos é fundamentalmente garantida por dois<br />
tipos de equipamentos:<br />
• pelos CPI, essencialmente destinados à vigilância do<br />
primeiro defeito, embora possam também ser utilizados<br />
como dispositivos de protecção nas situações em que for<br />
necessário provocar o corte ao primeiro defeito;<br />
• pelos dispositivos de protecção contra sobreintensidades<br />
(disjuntores e fusíveis). Estes dispositivos são utilizados<br />
nas situações em que ao segundo defeito são aplicadas<br />
as condições de protecção definidas para o esquema TN;<br />
Pretende-se verificar se neste regime de neutro, a protecção<br />
das pessoas contra contactos indirectos está efectivamente<br />
garantida com este dispositivo de protecção.<br />
Também no caso deste regime de neutro é fundamental<br />
para o correcto dimensionamento do dispositivo de<br />
protecção, conhecer a curva de actuação do dispositivo, de<br />
maneira a obter-se o valor da corrente correspondente ao<br />
limiar de funcionamento do disparador magnético do<br />
aparelho de protecção.<br />
A curva deste dispositivo de protecção é apresentada na<br />
figura 7.<br />
Seguidamente, apresenta-se um circuito de uma instalação<br />
eléctrica de BT, trifásica (400V), onde é adoptado o regime<br />
de neutro IT, sem neutro distribuído (situação comum neste<br />
regime de neutro) . Este circuito é apresentado na figura 6.<br />
Figura 7: Curva de disparo MA80.<br />
(Fonte Schneider Electric)<br />
Figura 6: Exemplo de cálculo. Regime IT<br />
Como se pode verificar, a actuação do disparador magnético<br />
deste disjuntor verifica-se entre 6 a 14 vezes o valor nominal<br />
(In=80A),ou seja, entre 480 e 1120A.<br />
33
ARTIGO TÉCNICO<br />
Também neste regime de neutro, tal como no regime TN,<br />
um defeito é efectivamente um curto-circuito entre uma<br />
fase e o condutor de protecção.<br />
Então, para este circuito, sem neutro distribuído, a<br />
impedância da malha de defeito será:<br />
34<br />
Z<br />
s<br />
(16)<br />
em que I m é a corrente de actuação do disparador magnético<br />
do dispositivo.<br />
Neste regime de neutro considera-se como boa aproximação<br />
que ao segundo defeito, o comprimento da malha de defeito<br />
é duplo em relação ao primeiro defeito.<br />
Então, a impedância da malha de defeito será neste caso:<br />
Z<br />
s<br />
(17)<br />
Considerando também que os condutores de fase e de<br />
protecção têm as mesmas características, a impedância da<br />
malha de defeito será então:<br />
em que ;<br />
(18)<br />
(19)<br />
O comprimento máximo protegido deste circuito será então,<br />
para disjuntores:<br />
K.<br />
3. U<br />
≤<br />
I<br />
≈ R<br />
s<br />
m<br />
0<br />
l<br />
= 2*( ρ<br />
f<br />
+ ρ<br />
s<br />
(20)<br />
Para o circuito apresentado na figura 6, o comprimento<br />
máximo protegido do circuito, para uma regulação do<br />
disparador magnético de 6xIn (Im=480A) será de:<br />
f<br />
PE<br />
l<br />
s<br />
l<br />
Z<br />
s<br />
≈ Rs<br />
= 2*(<br />
ρ .(1 + m))<br />
s<br />
s<br />
m =<br />
s<br />
l<br />
f<br />
PE<br />
K<br />
= 1<br />
U<br />
s<br />
f<br />
PE<br />
. 3.<br />
0.<br />
f<br />
≤<br />
2. ρ .(1 + m).<br />
I<br />
m<br />
0,8. 3.230.25<br />
≤<br />
≤ m<br />
l 184<br />
2.0,0225.(1 + 1).480<br />
)<br />
(21)<br />
Para uma regulação do disparador magnético de 14xIn<br />
(Im=1120A) será de:<br />
0,8. 3.230.25<br />
l ≤<br />
≤ 79m<br />
2.0,0225.(1 + 1).1120<br />
(22)<br />
Atendendo que o comprimento do circuito é de 76m,<br />
verifica-se que para qualquer regulação do disparador MA (6<br />
a 14xIn), o disjuntor garante a protecção das pessoas contra<br />
contactos indirectos.<br />
No entanto, tal como no regime de neutro TN, também se<br />
deve verificar se o tempo de actuação do dispositivo é<br />
compatível com o especificado pelas curvas de segurança,<br />
para a tensão limite convencional definida para o local da<br />
instalação, que como já foi referido, segundo a norma CEI<br />
364 deverá ser de 0,4s para U L =50V e, 0,2s para U L =25V.<br />
Assim, torna-se importante calcular o valor da tensão de<br />
contacto em caso de segundo defeito.<br />
U = R . I<br />
c<br />
PE<br />
d<br />
(23)<br />
em que, através de uma dedução idêntica à efectuada para o<br />
regime de neutro TN, obtêm-se:<br />
m<br />
U c<br />
= K. 3. U<br />
0.<br />
2.(1 + m)<br />
(24)<br />
Para o exemplo em consideração, representado na figura 6,<br />
tem-se:<br />
1<br />
U c<br />
= 0 ,8* 3 *230* = 79, 7V<br />
2*(1 + 1)<br />
(25)<br />
Pelas curvas de segurança, e para a tensão limite<br />
convencional de 25V, o dispositivo deve actuar num tempo<br />
inferior a 280ms.<br />
Como se pode verificar na curva de funcionamento do<br />
disjuntor, apresentada na figura 7, o dispositivo actuará num<br />
tempo inferior ao referido e compatível com o especificado<br />
pela norma CEI 364.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Assim, também para esta instalação, e para este regime de<br />
neutro, pode-se garantir que o disjuntor apresentado<br />
protege efectivamente as pessoas contra contactos<br />
indirectos.<br />
3. CONCLUSÕES<br />
como tensão de contacto limite, 25V ou 50V. Assim, torna-se<br />
importante calcular o valor da tensão de contacto em caso<br />
de defeito e, através da curva de segurança dos 25V ou 50V,<br />
conforme o caso, obter o tempo máximo de actuação do<br />
dispositivo para que a tensão de contacto nunca ultrapasse o<br />
valor da tensão limite convencional.<br />
Neste artigo apresentou-se dois exemplos de cálculo e<br />
dimensionamento dos dispositivos de protecção das pessoas<br />
contra contactos indirectos. Um exemplo para o regime de<br />
neutro TN, e outro para o regime de neutro IT.<br />
Atendendo a que nestes regimes de neutro, e para o caso<br />
dos exemplos apresentados, uma situação de defeito é<br />
sempre uma situação de curto-circuito entre um condutor<br />
activo e a massa do equipamento de utilização, ou seja, um<br />
curto-circuito entre um condutor activo e o condutor de<br />
protecção, são, normalmente, os dispositivos de protecção<br />
contra sobreintensidades que terão a função de também<br />
garantir a protecção das pessoas contra contactos indirectos.<br />
Na realidade, nos exemplos que são apresentados, o que se<br />
teve que fazer foi verificar se realmente o dispositivo de<br />
protecção contra curtos-circuitos também verificava as<br />
condições necessárias à protecção das pessoas contra<br />
contactos indirectos.<br />
Este facto foi analisado através da verificação do máximo<br />
comprimento protegido.<br />
Efectivamente, nestes dois regimes de neutro, para se poder<br />
dimensionar correctamente os dispositivos de protecção, é<br />
fundamental conhecer bem as características do circuito,<br />
nomeadamente comprimento da instalação, tipo de<br />
condutores,trajecto dos cabos, secção dos condutores, etc.<br />
Outro factor importante, é verificar se o dispositivo actua<br />
num tempo compatível com especificado pelas normas de<br />
segurança. Este facto depende das condições do local da<br />
instalação eléctrica.<br />
De acordo com estas condições, a legislação em vigor impõe<br />
Este facto obriga, também, a conhecer muito bem as curvas<br />
de funcionamento dos dispositivos de protecção, para<br />
verificar se esta regra do tempo de actuação também é<br />
garantida. No caso dos disjuntores, a zona de funcionamento<br />
magnético dos disparadores é quase instantânea, não sendo<br />
a regra do tempo de actuação problemática para este tipo de<br />
equipamento de protecção.<br />
O facto torna-se mais importante quando os dispositivos de<br />
protecção são fusíveis.<br />
O regime de neutro TT, para o dimensionamento dos<br />
dispositivos de protecção das pessoas contra contactos<br />
indirectos, não obriga necessariamente a conhecer todas as<br />
características da instalação.<br />
A análise do dimensionamento dos dispositivos de protecção<br />
para o regime TT será efectuada num próximo artigo.<br />
Bibliografia<br />
[1] Regras Técnicas das Instalações Eléctricas de Baixa Tensão" -<br />
(Decreto-Lei n.º 226/2005 de 28 de Dezembro)<br />
[2] Técnicas e Tecnologias em Instalações Eléctricas" - L. M. Vilela<br />
Pinto – Edição Certiel<br />
[3] Instalações Eléctricas de Baixa Tensão. A Concepção e o<br />
Projecto" – Aulas de IELBT, José Beleza Carvalho, ISEP<br />
[4] Instalações Eléctricas Industriais" - João Mamede Filho - Editora<br />
LTC 5ª Edição<br />
[5] Esquemas de Ligação à Terra em BT (Regimes de Neutro)”<br />
Caderno Técnico nº 172 - Bernard Lacroix e Roland Calvas.<br />
Edição: Schneider Electric<br />
35
36<br />
CURIOSIDADE
ARTIGO TÉCNICO<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
FASES DE REALIZAÇÃO<br />
E TIPOS DE PROJECTOS DE INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A realização do projecto eléctrico de uma instalação requer,<br />
além do domínio técnico dos assuntos particulares que a<br />
esta digam respeito, sistematização na sua abordagem e<br />
programação, necessária tanto no faseamento da sua<br />
concepção como na elaboração processual dos seus<br />
documentos.<br />
Neste sentido a publicação da portaria nº 701-H/2008, de 29<br />
de Julho, através do seu anexo I - Instruções para a<br />
Elaboração de Projectos de Obras - representa um salto<br />
qualitativo significativo no processo de realização do<br />
projecto, visando uma concepção de mais elevada qualidade<br />
do mesmo, ao definir a metodologia a seguir na sua<br />
elaboração, com discriminação das suas fases, seus<br />
conteúdos e objectivos.<br />
Embora a portaria se destine expressamente a projectos de<br />
obras públicas e uma vez que a caracterização das obras<br />
particulares se rege, de um modo geral, pelas regras das<br />
obras públicas, a transposição dos seus princípios para<br />
aquele tipo de obras representa uma mais-valia significativa<br />
para o projectista e para a consequente melhoria do projecto<br />
electrotécnico.<br />
Este artigo faz uma ligeira incursão nos aspectos das<br />
Instruções para a Elaboração e revêem-se alguns princípios<br />
formais da estruturação do projecto de licenciamento.<br />
2 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL<br />
- Decreto-Lei nº 26 852, de 30 de Julho de 1936 – Aprova<br />
o Regulamento de Licenças para Instalações Eléctricas<br />
- Portaria nº 401/76, de 6 de Julho - Estabelece as normas<br />
a que deverão obedecer os projectos destinados a<br />
instruírem os pedidos de licença de instalações eléctricas<br />
de serviço público<br />
- Decreto-Lei nº 446/76, de 5 de Junho - Dá nova redacção<br />
a alguns artigos do Regulamento de Licenças para<br />
Instalações Eléctricas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º<br />
26852 de 30 de Julho de 1936<br />
- Decreto-Lei nº 517/80, de 31 de Outubro - Estabelece<br />
normas a observar na elaboração dos projectos das<br />
instalações eléctricas de serviço particular<br />
- Decreto Regulamentar nº 31/83, de 18 de Abril - Aprova<br />
o Estatuto do Técnico Responsável por Instalações<br />
Eléctricas de Serviço Particular<br />
- Portaria nº 344/89, de 13 de Maio - Altera os artigos<br />
19.º e 20.º do Decreto-Lei n.º 26 852 de 30 de Julho de<br />
1936. Revoga a Portaria n.º 24/80 de 9 de Janeiro<br />
- Decreto-Lei nº 272/92, de 3 de Dezembro - Estabelece<br />
normas relativas às associações inspectoras de<br />
instalações eléctricas<br />
- Decreto-Lei nº 315/95, de 28 de Novembro - Regula a<br />
instalação e o funcionamento dos recintos de<br />
espectáculos e divertimentos públicos e estabelece o<br />
regime jurídico dos espectáculos de natureza artística<br />
- Decreto-Lei nº 59/99, de 2 Março - Estabelece o regime<br />
do contrato administrativo de empreitada de obras<br />
públicas.<br />
- Decreto-Lei nº 555/99, de 16 de Dezembro (com as<br />
alterações subsequentes)- Estabelece o regime jurídico<br />
da urbanização e da edificação<br />
- Portaria nº 454/2001, de 5 de Maio - Aprova o novo<br />
contrato-tipo de concessão de distribuição de energia<br />
eléctrica em baixa tensão<br />
- Portaria nº 1110/2001, de 19 de Setembro - Determina<br />
quais os elementos que devem instruir os pedidos de<br />
informação prévia, de licenciamento e de autorização<br />
referentes a todos os tipos de operações urbanísticas<br />
- Decreto-Lei n.º 5/2004, de 6 de Janeiro - Aprova a<br />
orgânica das direcções regionais da economia<br />
- Portaria nº 193/2005, de 17 de Fevereiro - Actualiza a<br />
relação das disposições legais e regulamentares a<br />
observar pelos técnicos responsáveis dos projectos de<br />
obras e a sua execução<br />
- Decreto-Lei nº 229/2006, de 24 de Novembro - Altera o<br />
Decreto Regulamentar n.º 31/83 de 18 de Abril, que<br />
aprova o Estatuto do Técnico Responsável por<br />
Instalações Eléctricas de Serviço Particular, e derroga<br />
37
ARTIGO TÉCNICO<br />
parcialmente o disposto na alínea e) do n.º 3 do artigo<br />
3.º do Decreto-Lei n.º 5/2004, de 6 de Janeiro<br />
- Decreto-Lei nº 101/2007, de 2 de Abril - Simplifica o<br />
licenciamento de instalações eléctricas, quer de serviço<br />
público quer de serviço particular, alterando os<br />
Decretos-Lei n.os 26 852, de 30 de Julho de 1936,<br />
517/80, de 31 de Outubro, e 272/92, de 3 de Dezembro<br />
- Lei nº 60/2007, de 4 de Setembro - Procede à sexta<br />
alteração ao Decreto -Lei n.º 555/99, de 16 de<br />
Dezembro, que estabelece o regime jurídico da<br />
urbanização e edificação<br />
- Decreto-Lei nº 18/2008, de 29 de Janeiro - Aprova o<br />
Código dos Contratos Públicos, que estabelece a<br />
disciplina aplicável à contratação pública e o regime<br />
substantivo dos contratos públicos que revistam a<br />
natureza de contrato administrativo<br />
- Portaria nº 232/2008, de 11 de Março - Determina quais<br />
os elementos que devem instruir os pedidos de<br />
informação prévia, de licenciamento e de autorização<br />
referentes a todos os tipos de operações urbanísticas, e<br />
revoga a Portaria n.º 1110/2001 de 19 de Setembro<br />
- Portaria nº 701-H/2008, de 29 de Julho - Aprova o<br />
conteúdo obrigatório do programa e do projecto de<br />
execução, bem como os procedimentos e normas a<br />
adoptar na elaboração e faseamento de projectos de<br />
obras públicas, designados «Instruções para a elaboração<br />
de projectos de obras», e a classificação de obras por<br />
categorias<br />
3 DEFINIÇÕES<br />
- Anteprojecto ou Projecto Base - o documento a elaborar<br />
pelo Projectista, correspondente ao desenvolvimento do<br />
Estudo prévio aprovado pelo Dono da Obra, destinado a<br />
estabelecer, em definitivo, as bases a que deve obedecer<br />
a continuação do estudo sob a forma de Projecto de<br />
execução.<br />
(Ao Projecto Base também se dá o nome de Projecto de<br />
Licenciamento, pois nesta fase o projectista prepara as<br />
peças escritas e as peças desenhadas para entregar o<br />
projecto para aprovação).<br />
38<br />
- Dono da Obra – pessoa colectiva ou individual que<br />
promove o projecto ou obra<br />
Os donos de obra podem classificar-se em dois tipos:<br />
donos de obra pública e de obra particular<br />
Os donos de obra pública são as entidades que se<br />
encontram sujeitas ao Regime Jurídico de Obras Públicas,<br />
conforme define o art.º 3.º do Decreto-Lei n.º 59/99, de<br />
2 de Março. Alguns donos de obra pública encontram-se<br />
sujeitos ao Regime de Licenciamento Urbano (Decreto-<br />
Lei n.º 555/99 de 16 de Dezembro)<br />
Os donos de obra particular encontram-se sujeitos, nas<br />
operações de licenciamento de urbanizações e de<br />
edificações, às disposições do Decreto-Lei n.º 555/99 de<br />
16 de Dezembro<br />
- Estudo prévio - o documento elaborado pelo Projectista,<br />
depois da aprovação do programa base, visando a opção<br />
pela solução que melhor se ajuste ao programa,<br />
essencialmente no que respeita à concepção geral da<br />
obra<br />
- Peças do projecto - os documentos, escritos ou<br />
desenhados que caracterizam as diferentes partes de um<br />
projecto<br />
- Programa base - o documento elaborado pelo<br />
Projectista a partir do programa preliminar resultando da<br />
particularização deste, visando a verificação da<br />
viabilidade da obra e do estudo de soluções alternativas,<br />
o qual, depois de aprovado pelo Dono da Obra, serve de<br />
base ao desenvolvimento das fases ulteriores do<br />
projecto<br />
- Programa preliminar - o documento fornecido pelo<br />
Dono da Obra ao Projectista para definição dos<br />
objectivos, características orgânicas e funcionais e<br />
condicionamentos financeiros da obra, bem como dos<br />
respectivos custos e prazos de execução a observar<br />
- Projecto - o conjunto de documentos escritos e<br />
desenhados que definem e caracterizam a concepção<br />
funcional, estética e construtiva de uma obra,<br />
compreendendo, designadamente, o projecto de<br />
arquitectura e projectos de engenharia.<br />
- Projecto de execução - o documento elaborado pelo<br />
Projectista, a partir do estudo prévio ou do anteprojecto<br />
aprovado pelo Dono da Obra, destinado a facultar todos
ARTIGO TÉCNICO<br />
os elementos necessários à definição rigorosa dos trabalhos<br />
a executar<br />
Telas finais - o conjunto de desenhos finais do projecto,<br />
integrando as rectificações e alterações introduzidas no<br />
decurso da obra e que traduzem o que foi efectivamente<br />
construído<br />
4 FASES DO PROJECTO<br />
e) Dados básicos relativos às exigências de comportamento,<br />
funcionamento, exploração e conservação da obra,<br />
tendo em atenção as disposições regulamentares;<br />
f) Estimativa de custo e respectivo limite dos desvios e,<br />
eventualmente, indicações relativas ao financiamento do<br />
empreendimento;<br />
g) Indicação geral dos prazos para a elaboração do projecto<br />
e para a execução da obra.<br />
A realização do Projecto deve seguir um cronograma<br />
específico, caracterizado pela definição de etapas sucessivas,<br />
em número dependente da importância e complexidade da<br />
obra, de pormenorização crescente e tendente à fixação<br />
definitiva das soluções, culminando na elaboração do<br />
Projecto de Licenciamento e no de Execução.<br />
Estas fases podem ser enumeradas do modo seguinte de<br />
acordo com a portaria citada:<br />
- Programa Base<br />
- Estudo Prévio<br />
- Anteprojecto (Projecto Base ou Projecto de<br />
Licenciamento)<br />
- Projecto de Execução<br />
Estas seguem-se cronologicamente às especificações<br />
fornecidas pelo Dono da Obra ao Projectista e traduzidas no<br />
Programa Preliminar.<br />
Como características que estas fases devem conter, incluemse<br />
as seguintes:<br />
- Programa preliminar<br />
O Programa preliminar contém, além de elementos<br />
específicos constantes da legislação e regulamentação<br />
aplicável, os seguintes elementos, podendo alguns destes<br />
ser dispensados consoante a obra a projectar:<br />
a) Objectivos da obra;<br />
b) Características gerais da obra;<br />
c) Dados sobre a localização do empreendimento;<br />
d) Elementos topográficos, cartográficos e geotécnicos,<br />
levantamento das construções existentes e das redes de<br />
infra-estruturas locais, coberto vegetal, características<br />
ambientais e outros eventualmente disponíveis, a<br />
escalas convenientes;<br />
- Programa Base<br />
O Programa base é apresentado de forma a proporcionar ao<br />
Dono da Obra a compreensão clara das soluções propostas<br />
pelo Projectista, com base nas indicações expressas no<br />
programa preliminar, incluindo:<br />
a) Esquema da obra e programação das diversas operações<br />
a realizar, quando aplicável;<br />
b) Definição dos critérios gerais de dimensionamento das<br />
diferentes partes constitutivas da obra;<br />
c) Peças escritas e desenhadas e outros elementos<br />
informativos necessários para o perfeito esclarecimento<br />
do Programa Base, no todo ou em qualquer das suas<br />
partes, incluindo as que porventura se justifiquem para<br />
definir as alternativas de solução propostas pelo<br />
Projectista e avaliar a sua viabilidade, em função das<br />
condições de espaço, técnicas, de custos e de prazos;<br />
d) Estimativa geral do custo da obra, tomando em conta os<br />
encargos mais significativos com a sua realização e<br />
análise comparativa dos custos de manutenção e<br />
consumos da obra nas soluções propostas;<br />
e) Informação sobre a necessidade de obtenção de<br />
elementos topográficos, geológicos, geotécnicos,<br />
hidrológicos, climáticos, características da componente<br />
acústica do ambiente, redes de infra-estruturas ou de<br />
qualquer outra natureza que interessem à elaboração do<br />
projecto, bem como sobre a realização de estudos em<br />
modelos, ensaios, maquetes, trabalhos de investigação e<br />
quaisquer outras actividades ou formalidades que<br />
podem ser exigidas, quer para a elaboração do projecto,<br />
quer para a execução da obra.<br />
39
ARTIGO TÉCNICO<br />
- Estudo Prévio<br />
1- O Estudo prévio desenvolve as soluções aprovadas no<br />
Programa Base, sendo constituído por peças escritas e<br />
desenhadas e por outros elementos informativos, de<br />
modo a possibilitar ao Dono da Obra a fácil apreciação<br />
das soluções propostas pelo Projectista e o seu confronto<br />
com os elementos constantes naquele.<br />
2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o<br />
Estudo prévio contém, para cada uma das soluções<br />
alternativas apresentadas à aprovação do Dono da Obra,<br />
e sem prejuízo dos elementos constantes da<br />
regulamentação aplicável, os elementos seguintes:<br />
a) Memória descritiva e justificativa, incluindo capítulos<br />
respeitantes a cada um dos objectivos relevantes do<br />
estudo prévio;<br />
b) Elementos gráficos elucidativos sob a forma de<br />
plantas, alçados, cortes, perfis, esquemas de<br />
princípio e outros elementos, em escala apropriada;<br />
c) Dimensionamento aproximado e características<br />
principais dos elementos fundamentais da obra;<br />
d) Estimativa do custo da obra e do seu prazo de<br />
execução.<br />
- Anteprojecto ou Projecto base (Projecto para<br />
Licenciamento)<br />
1- O Anteprojecto, ou Projecto base, desenvolve a solução<br />
do Estudo prévio aprovado, sendo constituído por peças<br />
escritas e desenhadas e outros elementos de natureza<br />
informativa que permitam a conveniente definição e<br />
dimensionamento da obra, bem como o esclarecimento<br />
do modo da sua execução.<br />
2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o<br />
anteprojecto deve conter, para além dos elementos<br />
constantes da regulamentação aplicável os seguintes:<br />
a) Memórias descritivas e justificativas da solução<br />
adoptada, incluindo capítulos especialmente<br />
destinados a cada um dos objectivos especificados<br />
para o anteprojecto, onde figuram designadamente<br />
descrições da solução orgânica, funcional e estética<br />
da obra, dos sistemas e dos processos de construção<br />
previstos para a sua execução e das características<br />
técnicas e funcionais dos materiais, elementos de<br />
construção,sistemas e equipamentos;<br />
b) Avaliação das quantidades de trabalho a realizar por<br />
grandes itens e respectivos mapas;<br />
c) Estimativa de custo actualizada;<br />
d) Peças desenhadas a escalas convenientes e outros<br />
elementos gráficos que explicitem a localização da<br />
obra, a planimetria e a altimetria das suas diferentes<br />
partes componentes e o seu dimensionamento bem<br />
como os esquemas de princípio detalhados para cada<br />
uma das Instalações Técnicas, garantindo a sua<br />
compatibilidade;<br />
e) Identificação de locais técnicos, centrais interiores e<br />
exteriores, bem como mapa de espaços técnicos<br />
verticais e horizontais para instalação de<br />
equipamentos terminais e redes.<br />
f) Os elementos de estudo que serviram de base às<br />
opções tomadas, de preferência constituindo anexos<br />
ou volumes individualizados identificados nas<br />
memórias;<br />
g) Programa geral dos trabalhos.<br />
- Projecto de execução<br />
1- O Projecto de execução desenvolve o Projecto base<br />
aprovado, sendo constituído por um conjunto<br />
coordenado das informações escritas e desenhadas de<br />
fácil e inequívoca interpretação por parte das entidades<br />
intervenientes na execução da obra, obedecendo ao<br />
disposto na legislação e regulamentação aplicável.<br />
2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o<br />
Projecto de execução inclui, além de outros elementos<br />
constantes de regulamentação aplicável, as seguintes<br />
peças:<br />
a) Memória descritiva e justificativa, incluindo a<br />
disposição e descrição geral da obra, evidenciando<br />
quando aplicável a justificação da implantação da<br />
obra e da sua integração nos condicionamentos<br />
locais existentes ou planeados; descrição genérica da<br />
solução adoptada com vista à satisfação das<br />
disposições legais e regulamentares em vigor;<br />
indicação das características dos materiais, dos<br />
40
ARTIGO TÉCNICO<br />
elementos da construção, dos sistemas,<br />
equipamentos e redes associadas às Instalações<br />
Técnicas;<br />
b) Cálculos relativos às diferentes partes da obra<br />
apresentados de modo a definirem, pelo menos, os<br />
elementos referidos na regulamentação aplicável a<br />
cada tipo de obra e a justificarem as soluções<br />
adoptadas;<br />
c) Medições e mapas de quantidade de trabalhos,<br />
dando a indicação da natureza e da quantidade dos<br />
trabalhos necessários para a execução da obra;<br />
d) Orçamento baseado nas quantidades e qualidades<br />
de trabalho constantes das medições;<br />
e) Peças desenhadas de acordo com o estabelecido<br />
para cada tipo de obra na regulamentação aplicável,<br />
devendo conter as indicações numéricas<br />
indispensáveis e a representação de todos os<br />
pormenores necessários à perfeita compreensão,<br />
implantação e execução da obra;<br />
f) Condições técnicas, gerais e especiais, do caderno de<br />
encargos.<br />
6) Instalações eléctricas de serviço particular do tipo C cuja<br />
potência a alimentar pela rede seja superior a 50 kVA;<br />
7) Redes particulares de distribuição de energia eléctrica<br />
em baixa tensão e respectivas instalações de iluminação<br />
exterior.<br />
A pormenorização e alcance de cada fase variará de acordo<br />
com as características particulares associadas ao tipo de<br />
empreendimento a projectar. Assim, teremos<br />
sucessivamente:<br />
- Instalações,Equipamentos e Sistemas em Edifícios<br />
- Instalações, Equipamentos e Sistemas de Comunicação<br />
em Edifícios<br />
- Instalações, Equipamentos e Sistemas de Aquecimento,<br />
ventilação e ar condicionado (AVAC)<br />
- Instalações, Equipamentos e Sistemas de transporte de<br />
pessoas e cargas<br />
- Sistemas de Segurança Integrada<br />
- Produção, transformação, transporte e distribuição de<br />
Energia Eléctrica<br />
- Redes de comunicações<br />
Caso a instalação não careça de projecto, do Estudo Prévio<br />
passar-se-ádirectamente para o Projecto de Execução.<br />
O anexo I do Decreto-Lei nº 517/80, de 31 de Outubro, na<br />
redacção actual do Decreto-Lei nº 101/2007, de 2 de Abril,<br />
lista as instalações eléctricas que carecem de projecto:<br />
1) Instalaçõeseléctricas de serviço particular do tipo A;<br />
2) Instalaçõeseléctricas de serviço particular do tipo B;<br />
3) Instalações eléctricas de serviço particular do tipo C<br />
situadas em recintos públicos ou privados destinados a<br />
espectáculos ou outras diversões, incluindo-se,<br />
nomeadamente, teatros, cinemas, praças de touros,<br />
casinos, circos, clubes, discotecas, piscinas públicas,<br />
associações recreativas ou desportivas, campos de<br />
desporto, casas de jogo, autódromos e outros recintos<br />
de diversão;<br />
4) Instalações eléctricas estabelecidas em locais sujeitos a<br />
risco de explosão;<br />
5) Instalações de parques de campismo e portos de recreio<br />
(marinas);<br />
Para cada tipo de instalação enunciada se procede à<br />
pormenorização dos objectivos a alcançar em cada uma das<br />
fases do projecto cuja satisfação será levada à consideração<br />
do Dono da Obra para aprovação.<br />
Exemplificando com a primeira das obras consideradas,<br />
teremos, como elementos especiais das diversas fases, os<br />
seguintes:<br />
- Programa Preliminar<br />
a) Identificação de aspectos específicos do edifício ou zonas<br />
do edifício, em termos de energia eléctrica, ambiente,<br />
utilização, segurança e outros e ligações a redes ou<br />
sistemas exteriores.<br />
b) Condicionamentos à localização dos equipamentos e das<br />
instalações necessárias ao seu funcionamento.<br />
c) Identificação dos níveis de qualidade, disponibilidade,<br />
redundância e autonomia pretendidos.<br />
d) Condicionamentos a nível de manutenção, exploração e<br />
expansão.<br />
41
ARTIGO TÉCNICO<br />
- Programa Base<br />
a) Identificação das diferentes instalações e equipamentos<br />
a considerar e suas configurações gerais justificadas a<br />
partir dos condicionamentos e imposições do Programa<br />
Preliminar.<br />
b) Bases de dimensionamento consideradas para as<br />
diferentes instalações e equipamentos.<br />
c) Discriminação e justificação das necessidades em termos<br />
de energia eléctrica, segurança e outras.<br />
d) Interligações com outras especialidades e respectivas<br />
condições ou exigências.<br />
- Estudo Prévio<br />
a) Representação gráfica geral das instalações e<br />
equipamentos em concordância com o desenvolvimento<br />
das outras especialidades e com a definição das<br />
condições regulamentares de segurança, sob a forma de<br />
plantas e outros elementos, a escala apropriada.<br />
b) Esquemas de princípio necessários à definição<br />
esquemática da concepção dos sistemas e redes que<br />
integram as instalações e equipamentos e da sua<br />
interligação espacial e funcional.<br />
c) Caracterização genérica das instalações e equipamentos<br />
principais.<br />
d) Pré-dimensionamento dos equipamentos e das redes<br />
principais das instalações.<br />
e) Condições de ligação às redes de energia eléctrica<br />
(produção, consumo) e outras, de funcionamento e<br />
utilização das instalações e equipamentos e da sua<br />
eventual expansão.<br />
- Anteprojecto (Projecto Base, Projecto de<br />
Licenciamento)<br />
a) Plantas, em escalas apropriadas, onde se indiquem os<br />
traçados das redes principais das diversas instalações,<br />
com indicação da localização aproximada dos<br />
equipamentos.<br />
b) Cortes, esquemas e diagramas, sempre que isso seja<br />
necessário à boa compreensão da solução proposta.<br />
c) Esquemas de princípio das instalações e da sua<br />
interligação espacial e funcional.<br />
d) Caracterização das instalações e equipamentos<br />
principais.<br />
e) Dimensionamentos dos equipamentos e redes principais<br />
das instalações.<br />
f) Enumeração dos principais artigos que constituem o<br />
mapa de quantidades de trabalho, dividido nos principais<br />
capítulos constituintes das instalações e equipamentos,<br />
de forma a permitir a elaboração da estimativa do custo<br />
preliminar da obra.<br />
g) Justificação dos níveis de conforto luminotécnico, de<br />
segurança e outros, bem como de produção e consumo<br />
de energia eléctrica que suportem a solução proposta;<br />
h) Verificação do cumprimento das regulamentações<br />
técnicas aplicáveis.<br />
- Projecto de Execução<br />
a) Memória descritiva e justificativa, incluindo a análise<br />
prospectiva de desempenhos, descrevendo e<br />
justificando as soluções projectadas, tendo em atenção o<br />
Anteprojecto aprovado e as disposições legais em vigor.<br />
b) Condições técnicas, gerais e especiais, especificando as<br />
condições de execução ou montagem e as características<br />
técnicas das instalações e equipamentos previstos.<br />
c) Planta geral dos locais servidos pelas instalações e<br />
equipamentos, em escala apropriada, quando não<br />
definida em regulamento aplicável, contendo os<br />
elementos de referência e de orientação necessários à<br />
fácil localização das instalações e equipamentos.<br />
d) Plantas em escala apropriada, quando não definida em<br />
regulamento aplicável, com o traçado e constituição das<br />
redes e localização dos equipamentos, com a indicação<br />
dos elementos indispensáveis à sua conveniente<br />
apreciação.<br />
e) Alçados e cortes dos edifícios ou partes dos edifícios,<br />
sempre que isso seja necessário à boa compreensão do<br />
projecto, a escala apropriada, quando não definida em<br />
regulamento aplicável.<br />
f) Pormenores necessários à definição detalhada e boa<br />
execução das instalações e equipamentos projectados, a<br />
escalas apropriadas quando não definidas em<br />
regulamento aplicável.<br />
42
ARTIGO TÉCNICO<br />
g) Esquemas de princípio das instalações e da sua<br />
interligação espacial e funcional, quando necessárias à<br />
sua perfeita compreensão.<br />
h) Dimensionamento das instalações e dos equipamentos,<br />
incluindo os cálculos necessários para o efeito.<br />
i) Medições e mapas de quantidade de trabalhos, divididos<br />
nos diversos capítulos constituintes da obra.<br />
j) Orçamento de projecto da obra.<br />
Além das fases enunciadas, há uma outra não menos<br />
importante que é a Assistência Técnica, prestada e solicitada<br />
pelo Projectista ao Dono da Obra. Esta é requerida antes e<br />
durante a execução da obra:<br />
1- Na fase do procedimento de formação do contrato, e até<br />
à adjudicação da obra, a Assistência técnica do<br />
Projectista ao Dono da Obra compreende as actividades<br />
seguintes:<br />
a) Esclarecimento de dúvidas relativas ao projecto<br />
durante a preparação do processo do concurso para<br />
adjudicação da empreitada ou fornecimento;<br />
b) Prestação de informações e esclarecimentos<br />
solicitados por candidatos a concorrentes, sob a<br />
forma escrita e exclusivamente por intermédio do<br />
Dono da Obra, sobre problemas relativos à<br />
interpretação das peças escritas e desenhadas do<br />
projecto;<br />
c) Prestação do apoio ao Dono da Obra na apreciação e<br />
comparação das condições da qualidade das soluções<br />
técnicas das propostas de molde a permitir a sua<br />
correcta ponderação por aquele, incluindo a<br />
apreciação de compatibilidade com o projecto de<br />
execução, constante do caderno de encargos, de<br />
variantes ou alterações que sejam apresentadas;<br />
2- Durante a execução da obra, a assistência técnica<br />
compreende:<br />
a) Esclarecimento de dúvidas de interpretação de<br />
informações complementares relativas a<br />
ambiguidades ou omissões do projecto, bem como<br />
elaboração das peças de alteração do projecto<br />
necessárias à respectiva correcção e à integral e<br />
correcta caracterização dos trabalhos a executar no<br />
âmbito da referida correcção;<br />
b) Apreciação de documentos de ordem técnica<br />
apresentados pelo empreiteiro ou Dono da Obra,<br />
incluindo, quando apropriado, a sua compatibilidade<br />
com o projecto;<br />
c) Proceder, concluída a execução da obra, à<br />
elaboração das Telas Finais a ela respeitantes,<br />
verificando a conformidade das mesmas com o<br />
projecto de execução e das eventuais alterações nele<br />
introduzidas, de acordo com as informações<br />
fornecidas pelo Dono da Obra.<br />
5 ELABORAÇÃO DO PROJECTO DE LICENCIAMENTO<br />
O projecto de licenciamento é um documento técnico<br />
destinado a instruir um pedido de licença de<br />
estabelecimento de uma instalação eléctrica, por ex. uma<br />
linha aérea de alta tensão com mais de 1000 m de extensão,<br />
ou a fazer parte, na qualidade de projecto de engenharia de<br />
especialidade, de um projecto de arquitectura de uma obra<br />
que careça de licença municipal de construção, como por ex.<br />
um prédio de habitações e escritórios.<br />
O projecto pode ainda ser de obra que não careça de licença<br />
municipal 1 ou de estabelecimento 2 . De todos os modos é<br />
um documento apresentado a aprovação.<br />
Daí a sua constituição ser objecto de legislação específica<br />
pois tratando-se de um documento a ser sujeito a apreciação<br />
técnica e à análise da observância do disposto nos<br />
Regulamentos de Segurança aplicáveis a sua forma necessita<br />
ser adequada à transmissão da informação requerida e<br />
organizada de tal maneira que a consulta seja fácil,<br />
elucidativa,tanto quanto possível exaustiva e inequívoca.<br />
A estrutura básica do projecto é composta de uma parte<br />
preliminar e de um corpo, constituído este por uma parte<br />
textual e uma outra de desenhos.<br />
1<br />
As obras que não carecem de concessão de licença administrativa, passada pela Câmara Municipal respectiva, são as referidas no DL nº 555,<br />
Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, art. 6º, com as alterações introduzidas pelo DL n.º 177/2001, de 4/06 e Lei n.º 60/2007, de 04/09<br />
2<br />
As instalações eléctricas que não carecem de licença de estabelecimento são as referidas nos arts. 9º, 27º e 28º do DL nº 26 852, de 30 de<br />
Julho de 1936, com as alterações introduzidas pelos DL nº 446/76, de 05/06 e DL nº 101/2007, de 02/04<br />
43
ARTIGO TÉCNICO<br />
À parte textual dá-se o nome de Peças Escritas e ao conjunto<br />
de desenhos, plantas, alçados, cortes, perfis, diagramas,<br />
outras representações gráficas o de Peças Desenhadas.<br />
- Corpo do Projecto<br />
Como partes em que o projecto se divide podemos<br />
considerar as seguintes:<br />
- Memória descritiva e justificativa<br />
- Caderno de encargos<br />
- Medições e orçamento<br />
- Peças desenhadas<br />
observância dos regulamentos em vigor e às regras inerentes<br />
à boa técnica de execução dos diversos trabalhos.<br />
Especiais - Definição de modo exaustivo e tão completo<br />
quanto possível de todos os componentes da instalação e<br />
dos trabalhos relativos à sua implantação.<br />
- Medições e Orçamento<br />
Determinação, com o rigor possível, das quantidades dos<br />
materiais a empregar e dos trabalhos a realizar e atribuição<br />
dos valores correspondentes à instalação de cada unidade de<br />
material e execução de cada espécie de trabalho.<br />
- Memória Descritiva e Justificativa<br />
A memória descritiva e justificativa do projecto deve conter<br />
todos os elementos e esclarecimentos necessários para<br />
darem uma ideia perfeita da natureza, importância, função e<br />
características das instalações e do equipamento.<br />
- Caderno de Encargos (CE)<br />
- Peças Desenhadas<br />
Conjunto de esquemas eléctricos e outros desenhos relativos<br />
à obra em questão feitos a escalas convenientes e<br />
permitindo a perfeita compreensão dos pormenores,<br />
estabelecimento e localização da instalação.<br />
No entanto, a forma final a dar ao Projecto de Licenciamento<br />
não necessita ter todos estes componentes, pelo menos ao<br />
seu nível mais pormenorizado.<br />
CE<br />
<br />
Condições Jurídicas e administrativas<br />
6 CONCLUSÕES<br />
Gerais<br />
Condições Técnicas<br />
Especiais<br />
Condições Jurídicas e Administrativas - Condições que a<br />
entidade compradora, o Adjudicante, formaliza à entidade<br />
fornecedora, o Adjudicatário, relativa a aspectos tais como<br />
cauções, garantias, obrigações, prazos, facturação e<br />
condições de pagamento, seguros, cessões, incumprimentos<br />
e penalidades.<br />
Condições Técnicas:<br />
Gerais - Referência ao objecto e extensão da empreitada,<br />
contemplando o fornecimento e montagem de todos os<br />
materiais e equipamentos eléctricos, e às condições que<br />
devem reger as tarefas a realizar no que diz respeito à<br />
A existência de um projecto, deve conferir, por si só, uma<br />
garantia de qualidade, segurança e funcionalidade das<br />
instalações, assim como a diminuição dos custos de<br />
execução e exploração das mesmas, uma vez que o técnico<br />
tem de ter a consciência de que o exercício da sua profissão<br />
o obriga não só a cumprir a lei, o preceituado nos<br />
Regulamentos de Segurança, como também, dominar o<br />
estado da arte no âmbito das Instalações Eléctricas.<br />
O projecto é uma actividade complexa e exigente pela<br />
diversidade das suas áreas e número de intervenientes no<br />
mesmo.<br />
As Instruções para a Elaboração de Projectos de Obras,<br />
anexas à portaria nº 701-H/2008, de 29 de Julho, ao<br />
sistematizarem a sua abordagem introduziram no processo<br />
um mecanismo de regulação que constitui uma mais-valia<br />
sensível para a actividade de projectista.<br />
44
ARTIGO TÉCNICO<br />
Arlindo Francisco, Hugo Miguel Sousa, Teresa Alexandra F. M. Pinto Nogueira<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
TÉCNICAS DE MANUTENÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA<br />
RESUMO<br />
A manutenção das linhas de transporte e distribuição de<br />
energia eléctrica é um serviço fundamental prestado pelas<br />
empresas de transporte e distribuição. A aplicação de<br />
técnicas eficientes na actividade de manutenção das linhas,<br />
define a qualidade de serviço prestado pelas empresas.<br />
Indicadores como o tempo e número de intervenções para<br />
restabelecer as condições normais de funcionamento, são<br />
reveladores da qualidade de serviço prestado por essas<br />
empresas que, no caso de incumprimento das regras<br />
estabelecidas no Regulamento da Qualidade de Serviço,<br />
podem implicar em elevados prejuízos.<br />
A disponibilidade de informação apropriada ao pessoal<br />
técnico torna-se essencial e contribui para uma maior<br />
eficácia dos serviços de manutenção, tanto ao nível da<br />
manutençãocorrectiva como na manutenção preventiva.<br />
Este trabalho descreve a aplicação de duas técnicas<br />
modernas na manutenção das linhas eléctricas que, além de<br />
incrementarem a segurança e a fiabilidade do sistema<br />
eléctrico, garantem uma melhoria dos dados quantitativos<br />
fornecidosàs equipas de manutenção.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A segurança e fiabilidade do sistema eléctrico estão<br />
fortemente relacionadas com o bom funcionamento das<br />
linhas de transmissão.<br />
Enquanto as centrais de produção, subestações primárias e<br />
de distribuição possuem controlo e monitorização com<br />
tecnologias avançadas, como sistemas computadorizados e<br />
SCADA (Supervisory Control And Data Acquisition), a<br />
protecção principal e as informações para manutenção das<br />
linhas de transmissão são baseadas nos dados fornecidos por<br />
relés ou oscilógrafos.<br />
Apesar de estes dispositivos serem extremamente fiáveis e<br />
eficientes no âmbito da protecção, os relés apenas fornecem<br />
informações qualitativas, e dificilmente fornecem<br />
informações quantitativas relevantes para a execução dos<br />
trabalhos de manutenção. Os dados fornecidos por<br />
oscilógrafos dependem de complexas análises que podem<br />
levar horas ou mesmo dias, e geralmente não possuem a<br />
precisão adequada para as equipas de campo.<br />
Assim sendo, para a melhoria da segurança e o aumento da<br />
fiabilidade do sistema eléctrico, é imprescindível o<br />
desenvolvimento de soluções que melhorem os dados<br />
quantitativos fornecidos às equipas de manutenção, tanto<br />
correctiva como preventiva. Este trabalho apresenta e<br />
analisa os benefícios de duas técnicas modernas de<br />
manutenção em linhas de transmissão que vêm ao encontro<br />
das necessidades expostas.<br />
A primeira técnica descrita, aplicada nos serviços de<br />
manutenção correctiva, é a localização de falhas em linhas<br />
transmissão através do princípio das ondas viajantes.<br />
Trata-se de uma configuração simples, capaz de localizar<br />
defeitos fase-terra e identificar as secções afectadas com<br />
grande precisão e rapidez, trazendo assim informação<br />
preciosa para os serviços de manutenção correctiva.<br />
A segunda tecnologia apresentada é a detecção de corrosão<br />
nos condutores em linhas de transmissão aéreas, com<br />
aplicação nas actividades de manutenção preventiva. O<br />
sistema pode funcionar com a linha activa e efectua o<br />
diagnóstico das condições de corrosão dos cabos<br />
condutores, incluindo as partes internas, permitindo desta<br />
forma que as equipas de manutenção actuem<br />
preventivamente evitando acidentes e a interrupção do<br />
fornecimento de energia. Esta técnica tem uma aplicação<br />
intensiva em ambientes agressivos como zonas litorais ou<br />
com incidência de chuva ácida (zonas industriais).<br />
2 LOCALIZADOR DE DEFEITOS POR ONDAS VIAJANTES<br />
2.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO<br />
Na ocorrência duma falha numa linha de transmissão radial,<br />
surge um surto de corrente induzindo ondas<br />
electromagnéticas que se propagam nas três fases por toda<br />
extensão da linha.<br />
45
ARTIGO TÉCNICO<br />
A localização do ponto de defeito consiste em detectar a<br />
diferença de tempo que essas ondas viajantes levam para<br />
chegar aos seus extremos.<br />
Este princípio está representado na figura 1.<br />
a) TIPOS DE CASAS INTELIGENTES<br />
De facto, há problemas com a conceptualização da “casa<br />
inteligente”! Parece haver pouca concordância sobre como<br />
uma casa inteligente deve ser e sobre que tecnologias ela<br />
deve incorporar.<br />
e antecipando as acções a tomar (“the aware home”).<br />
b) AS FUNÇÕES DA CASA INTELIGENTE<br />
Actualmente as habitações podem estar equipadas com<br />
sistemas que associam diversas funcionalidades nas áreas de<br />
segurança, conforto, gestão de energia e comunicações.<br />
Funcionalidades principais: detecção de incêndio, intrusão,<br />
fuga de água ou gás, avisos, comandos e controlo remotos,<br />
“Anything,Anytime, Anywere”.<br />
As capacidades da domótica podem ser um auxiliar precioso<br />
para contornar as dificuldades temporárias ou permanentes,<br />
físicas ou mentais do ser humano. Além disso, estes sistemas<br />
permitem facilitar as tarefas a idosos que assim vêem<br />
minimizados algumas limitações a que estão expostos.<br />
Figura 1 – Principio das ondas viajantes<br />
O comprimento da linha L e a velocidade de propagação do<br />
surto v fazem parte dos aspectos construtivos da linha, são<br />
valores conhecidos. Medindo a diferença de tempo entre a<br />
chegada das ondas aos pontos A (início da linha) e B (final da<br />
linha) é possível calcular a localização exacta da falha,<br />
através do cálculo do valor de X:<br />
(1)<br />
2.2 LOCALIZAÇÃO POR SISTEMA GPS<br />
Um localizador de defeitos por ondas viajantes basicamente<br />
é composto por um ou mais pares de estações locais,<br />
sensores de campo magnético e antenas GPS (Global<br />
Positioning System) ligados entre si e com a estação<br />
principal, conforme mostra a fig. 2.<br />
46<br />
Figura 2 – Visão geral de um localizador de defeitos por ondas<br />
viajantes<br />
Pela análise da equação (1), concluímos que a precisão da<br />
medida de tempo está directamente relacionada com a<br />
localização exacta da falha. Por isso, os sistemas de<br />
localização de defeitos por ondas viajantes utilizam as<br />
informações de tempo dos satélites do GPS para manter a<br />
precisão necessária dos seus contadores e sincronizar os<br />
relógios das estações locais.<br />
Assim, cada estação local de um sistema localizador de<br />
defeitos por ondas viajantes recebe dados dos satélites para<br />
a sincronização dos seus contadores, através de uma antena<br />
e receptor GPS. Ao utilizar o GPS é possível manter uma<br />
contagem de tempo de alta definição com imprecisão menor<br />
que 1μs, permitindo uma localização de defeitos com<br />
incerteza menor que 300 metros, mesmo em linhas com<br />
compensação série.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Também na estação local, um processador de sinais recebe<br />
as informações dos sensores de campo magnético instalados<br />
nas fases. Na ocorrência de uma falha, armazena-se o valor<br />
dos contadores e envia-se um sinal de informação para a<br />
estação principal.<br />
Nesse momento, a estação principal confirma o sinal de<br />
informação da estação local e armazena os dados do surto,<br />
com os quais o software de análise fará o cálculo da<br />
distância. Este software de análise também deve ter em<br />
consideração as deformações da onda de surto durante a sua<br />
propagação para melhorar a precisão do cálculo.<br />
Para isso, é comum que se execute um processo de<br />
compensação dessa distorção que é baseado na correcção da<br />
forma de onda do surto recebida das estações locais.<br />
No final do processo, a estação principal indica a distância e<br />
o ponto de referência mais próximo do defeito, bem como a<br />
oscilografia da corrente de sequência zero da falha, através<br />
da qual é possível identificar o tipo de defeito.<br />
3 DETECTOR DE CORROSÃO EM CABOS CONDUTORES<br />
3.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO<br />
O funcionamento do detector de corrosão em cabos<br />
condutores é relativamente simples, baseando-se no<br />
princípio das correntes de Foucault e numa ponte de<br />
indutâncias.<br />
As correntes de Foucault são um fenómeno eléctrico que<br />
ocorre quando um campo magnético variável intercepta um<br />
material condutor fixo ou vice-versa. O movimento relativo<br />
causa uma corrente de circulação no condutor, que segundo<br />
a Lei de Lenz gera um campo magnético que se opõe ao<br />
efeito do campo aplicado. Quanto maior for a condutividade<br />
do condutor, mais forte for o campo magnético aplicado ou<br />
mais rápido for o movimento relativo, maior será a corrente<br />
gerada e consequentemente maior o campo que se opõe.<br />
Conforme mostra o esquema da figura 3, ao aplicar um<br />
campo magnético paralelo ao condutor que possui uma<br />
velocidade v conhecida, é gerada uma corrente de Foucault<br />
marginal ao condutor, que induz um campo magnético<br />
oposto ao aplicado e que pode ser medido utilizando uma<br />
bobina activa Z’.<br />
Figura 3 – Princípio de funcionamento do detector de corrosão<br />
As bobines Z e Z’ estão interligadas em forma de ponte de<br />
indutâncias como mostra a figura 3, na bobine Z é colocada<br />
uma amostra do cabo original funcionando esta como<br />
referência.<br />
Aos terminais da ponte surge uma tensão de<br />
desbalanceamento cujo a magnitude dessa tensão é<br />
directamente proporcional à secção do cabo condutor<br />
avaliado, já que quanto pior o estado de corrosão do<br />
mesmo, menor será sua condutividade. Consequentemente,<br />
menor será a corrente Foucault e maior será a tensão de<br />
desbalanceamento nos terminais da ponte de indutâncias.<br />
Numa situação em que o cabo se encontre em estado de<br />
corrosão é ainda possível avaliar qual a tensão mecânica que<br />
o condutor pode suportar. Para tal é incorporada uma<br />
câmara com sensor CCD (charged coupled device) que faz o<br />
registo da imagem para que seja avaliada pelo conjunto dos<br />
dados guardados no sistema.<br />
Através de uma recta ajustada de forma empírica, a qual<br />
depende apenas do material usado (aço ou alumínio),<br />
obtém-se a percentagem remanescente da secção original<br />
do cabo. Com este dado definido, consegue-se estimar<br />
também através de forma empírica a tensão mecânica<br />
máxima suportável pelo cabo.<br />
O procedimento de avaliação das condições do condutor é<br />
mostrado na figura 4.<br />
3.2 IMPLEMENTAÇÃO UTILIZANDO UM CARRINHO DE LINHA VIVA<br />
Para executar a inspecção da linha de transmissão, o circuito<br />
mostrado na figura 3 é montando sobre um carrinho de linha<br />
activa, que pode utilizar tanto auto propulsão como ser<br />
47
ARTIGO TÉCNICO<br />
Figura 4 – Procedimento para estimar quantitativamente o estado<br />
de corrosão de um condutor<br />
deslocado por um técnico devidamente treinado para o<br />
serviço em linha activa. As bobines são implementadas<br />
através de acopladores indutivos do tipo bipartido que<br />
suportam bitolas entre 160 e 810 mm 2 .<br />
Além disso, a câmara CCD é posicionada próxima da bobine<br />
activa para registar visualmente as condições do condutor.<br />
Os detalhes do sistema podem ser vistos na figura 5.<br />
O peso do equipamento é de 50 kg e a velocidade<br />
aproximada de 10 m/min, sendo o ângulo máximo de<br />
catenária suportado de 20º.<br />
Na versão com auto-propulsão, são adicionados 20 kg devido<br />
às baterias que conseguem realizar até 1000 m de inspecção<br />
sem recarregar.<br />
Após percorrer a linha, o equipamento emite um relatório<br />
completo e referenciado com as condições do condutor, que<br />
associado às gravações da câmara CCD, identifica as secções<br />
críticas dos condutores. Para cabos ACSR é possível,<br />
inclusive, detectar separadamente a condição dos fios de<br />
alumínio e dos fios de aço que compõem o mesmo.<br />
Um exemplo deste relatório pode ser visto na figura 6.<br />
Figura 5 – Detalhes construtivos do sistema detector de corrosão<br />
48<br />
Figura 6 – Informações fornecidas pelo sistema detector de corrosão
ARTIGO TÉCNICO<br />
4 APLICAÇÕES NO ÂMBITO DA MANUTENÇÃO<br />
4.1 MANUTENÇÃO CORRECTIVA<br />
As aplicações no âmbito da manutenção correctiva do<br />
localizador de defeitos por ondas viajantes são imediatas.<br />
Com uma configuração simples o sistema é capaz de localizar<br />
curto-circuitos defeitos fase-terra e identificar as secções<br />
afectadas com grande precisão e rapidez. Com uma incerteza<br />
menor que 300 metros, o defeito fica restrito a dois vãos na<br />
maior parte das linhas de transmissão existentes.<br />
Isso significa que a fonte do defeito pode ser localizada com<br />
maior rapidez, muitas vezes numa simples inspecção visual a<br />
partir do solo. Essa informação mais precisa facilita o<br />
trabalho das equipas de campo, principalmente em áreas<br />
sujeitas a alagamento, regiões montanhosas ou de selva, já<br />
que é possível identificar antes mesmo da saída das equipas<br />
para o campo o melhor local de acesso ao ponto de defeito.<br />
Além de auxiliar na localização dum ponto de defeito que<br />
causou o desligamento da linha, o sistema também pode<br />
identificar fontes de defeitos intermitentes. Como as ondas<br />
viajantes são geradas sempre que há um transitório na linha,<br />
ocorrências de difícil localização como defeitos fase-terra<br />
causados por falhas em isoladores, presença de vegetação<br />
ou excrementos de pássaros podem ser restritas a uma área<br />
delimitada e estudada detalhadamente em menor tempo,<br />
gerando economia de tempo e recursos para as<br />
concessionárias.<br />
4.2 MANUTENÇÃO PREVENTIVA<br />
O detector de corrosão em cabos condutores tem aplicação<br />
voltada para a manutenção preventiva. Ao realizar uma<br />
inspecção aos condutores, é possível obter informações<br />
valiosas sobre o estado de conservação dos cabos.<br />
Através dos dados fornecidos pelo equipamento, como<br />
secção de condutor remanescente e tensão mecânica<br />
suportável, torna-se relativamente fácil recalcular a carga<br />
máxima do sistema. Desta forma, através da restrição<br />
temporária da corrente máxima da linha para valores abaixo<br />
do nominal, evita-se um possível rompimento do condutor e<br />
os enormes transtornos que uma ocorrência deste tipo pode<br />
trazer. Também permite que as equipas de manutenção<br />
tenham tempo hábil para se preparar e mobilizar recursos<br />
para resolver o problema da maneira mais eficiente possível.<br />
Além disso, ao identificar secções específicas da linha com<br />
alto índice de corrosão mas sem perigo de rompimento,<br />
torna-se possível abordar o problema de forma preditiva,<br />
estudando soluções como substituição dos condutores por<br />
cabos resistentes à corrosão ou aplicação de produtos anticorrosão<br />
em novos cabos do mesmo tipo, de forma a realizar<br />
uma intervenção programada no sistema para a solução do<br />
problema.<br />
5 CONCLUSÕES<br />
A localização de defeitos por ondas viajantes e a detecção de<br />
corrosão são duas técnicas que pretendem disponibilizar<br />
informações quantitativas às equipas de manutenção.<br />
Apesar de os seus princípios já serem conhecidos há muito<br />
tempo, apenas recentemente, através do desenvolvimento<br />
de novos materiais e uso de sistemas modernos como o GPS,<br />
foi possível desenvolver equipamentos que gerassem<br />
informações precisas sobre defeitos que ocorrem numa linha<br />
de transmissão.<br />
O resultado é imediato na área de manutenção, já que uma<br />
localização precisa de defeitos traz uma maior eficácia,<br />
reduzindo o tempo no deslocamento da equipa e na<br />
identificação do defeito, permitindo a identificação de fontes<br />
intermitentes, um maior tempo para a solução do problema<br />
e a programação na realização dos serviços.<br />
Isso traz benefícios directos tanto para as concessionárias<br />
como para as populações, já que a energia não distribuída<br />
engloba duas parcelas: o lucro cessante, que é o prejuízo da<br />
companhia pela energia não facturada e o custo social, o que<br />
a sociedade em geral perde quando há falta de energia.<br />
Apesar de em Portugal não existir um estudo relacionado<br />
com as quebras de energia, em países como o Brasil alguns<br />
estudos apontam que o custo social é da ordem de 35 a 50<br />
vezes o preço médio do kWh facturado, para regiões menos<br />
industrializadas, e de 50 a 100 vezes, para regiões mais<br />
industrializadas.<br />
49
ARTIGO TÉCNICO<br />
Por isso, embora os equipamentos tradicionais se<br />
demonstrem eficazes no âmbito da protecção, torna-se<br />
necessária a aplicação de novas técnicas e equipamentos<br />
para disponibilizar informações quantitativas às equipas de<br />
manutenção, de forma a manter um sistema eléctrico seguro<br />
e confiável.<br />
Bibliografia<br />
[1] Regulamento da Qualidade de Serviço, ERSE – Entidade<br />
Reguladora dos Serviços Energéticos,Março 2006<br />
[2] Motta, S. e Colosimo, E., Impactos da Manutenção e dos<br />
Custos da não Confiabilidade de Equipamentos sobre as<br />
Receitas de Serviços de Transmissão de Energia Eléctrica.<br />
Anais do XVII SNPTEE - Seminário Nacional de Produção e<br />
Transmissão de Energia Eléctrica<br />
[3] Relatório do Comitê Nacional Brasileiro nº B2 da CIGRÉ –<br />
Conference Internationale dês Grands Réseaux<br />
Electrique a Haute Tension, Belo Horizonte, Outubro<br />
2003<br />
[4] REN – Rede Energética Nacional, disponível em<br />
www.ren.pt<br />
[5] Esmo - 95 Proceedings, The Seventh International<br />
Conference on Transmission and Distribution<br />
Construction and Live Line Maintenance, October 29-<br />
November 3, International Conference on Transmission<br />
and Distribution Construction and Live Line<br />
Maintenance,1995, Ohio<br />
[6] Documento técnico elaborado pelo Departamento de<br />
Gestão e Economia da Universidade da Madeira<br />
publicado em:<br />
http://www.uma.pt/sbudria/Blackout_project_Jan09.pdf<br />
Imagem adaptada de: www.siemens.com<br />
50
ARTIGO TÉCNICO<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
QUEDAS DE TENSÃO<br />
EM INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS DE BAIXA TENSÃO<br />
1 ENQUADRAMENTO<br />
Numa instalação eléctrica, por motivos técnicos e funcionais,<br />
a tensão aplicada aos terminais das cargas, isto é, dos<br />
equipamentos de utilização, deve manter-se dentro de<br />
determinados limites.<br />
Cada equipamento possui uma tensão estipulada, fixada pela<br />
norma respectiva. A aplicação de tensões abaixo dos limites<br />
definidos, pode prejudicar o desempenho desses<br />
equipamentos, podendo reduzir a sua vida útil ou mesmo<br />
impedir o seu funcionamento.<br />
As quedas de tensão nas instalações devem ser calculadas<br />
durante a fase de projecto, devendo ser cumpridos os limites<br />
máximos fixados pelos respectivos regulamentos aplicáveis.<br />
2 QUEDA DE TENSÃO<br />
- Apenas se levam em conta as impedâncias longitudinais,<br />
resistências e indutâncias, desprezando-se as<br />
admitâncias transversais, perditâncias e capacitâncias.<br />
Em instalações de Baixa Tensão, o comprimento das<br />
canalizações não vai além das poucas centenas de<br />
metros e sendo a frequência utilizada a frequência<br />
industrial de 50Hz é possível desprezar, para as mais<br />
baixas secções, os efeitos da indutância, capacitância e<br />
pelicular, considerando-se assim os condutores como<br />
resistências puramente hómicas. Daí termos:<br />
Z = R + jX ≅ R Y = G + JB ≅ 0<br />
L<br />
- Tomar-se-á uma temperatura do condutor igual à<br />
máxima admissível em regime permanente.<br />
Para o receptor da Fig. 1, a queda de tensão que importa<br />
observar é a diferença entre os valores absolutos das<br />
tensões à partida e à chegada, isto é,<br />
c<br />
Na dedução de uma fórmula aplicável à determinação da<br />
queda de tensão num circuito ter-se-ão em conta os<br />
seguintes pontos:<br />
- Consideram-se sistemas trifásicos em regime<br />
equilibrado;<br />
U 0 − U 1<br />
Da figura 1 depreende-se que, atendendo à desigualdade<br />
triangular, a diferença entre as leituras dos voltímetros V0 e<br />
V1 há-de ser menor que a indicação do voltímetro Vz. Daí<br />
que esta tensão não nos interesse muito para o objectivo em<br />
vista, isto é, o do dimensionamento do cabo.<br />
V<br />
R<br />
jω<br />
L<br />
I −<br />
V<br />
V − V −<br />
0<br />
1<br />
V<br />
Fig. 1 – Circuito monofásico RL<br />
51
ARTIGO TÉCNICO<br />
Assim:<br />
− − − −<br />
− jϕ<br />
V = ( R + jX ) I + V I = Ie = I cosϕ<br />
− jIsenϕ<br />
−<br />
0 1<br />
V = RI cosϕ − jRIsenϕ + jXI cosϕ + XIsenϕ<br />
+ V<br />
−<br />
0 1<br />
V = ( RI cosϕ + XIsen ϕ + V ) + j( XI cosϕ − RIsen ϕ)<br />
0 1<br />
V − R I − jX I −<br />
q<br />
V −<br />
f<br />
1<br />
I −<br />
0<br />
− −<br />
Z I<br />
f<br />
d<br />
f<br />
V = V cosθ<br />
− ZI cosδ<br />
1 0<br />
ZI<br />
⎛ ZI ⎞<br />
senθ = senδ cosθ = 1− ⎜ senδ<br />
⎟<br />
V0 ⎝ V0<br />
⎠<br />
2<br />
⎛ Z I ⎞<br />
V1 = V0<br />
1− ⎜ senδ<br />
⎟ − ZI cosδ<br />
⎝ V0<br />
⎠<br />
2<br />
k<br />
Aplicando o teorema de Taylor ao desenvolvimento da raiz, resulta que:<br />
1 1 1 5<br />
2 8 16 128<br />
2 3 4<br />
1+ k = 1 + k − k + k − k + ... k < 1<br />
2 4 6 8<br />
( ZIsen δ ) ( ZIsen δ ) ( ZIsen δ ) 5 × ( ZIsen δ )<br />
V − V = ZI cos δ + + + + + ...<br />
0 1 3 5 7<br />
2V 0<br />
8V 0<br />
16V 0<br />
128V<br />
0<br />
( XI − RI ) ( XI − RI ) ( XI − RI ) 5 × ( XI − RI )<br />
V − V = RI + XI + + + + + ...<br />
2 4 6 8<br />
a r a r a r a r<br />
0 1 a r<br />
3 5 7<br />
2V 0<br />
8V 0<br />
16V 0<br />
128V<br />
0<br />
ε<br />
Com Ia = Icosφ e Ir = Isenφ<br />
V − R I − jX I −<br />
0<br />
− −<br />
Z I<br />
V −<br />
1<br />
I −<br />
RI cosϕ XIsenϕ<br />
52
ARTIGO TÉCNICO<br />
Para correntes em atraso relativamente à tensão, ϕ<br />
positivos, e tendo em consideração que a queda de tensão<br />
máxima terá um valor pequeno, imposto pelos regulamentos<br />
técnicos, os termos não-lineares de I são desprezáveis face<br />
aos termos lineares.<br />
Quando a corrente se encontra em avanço nada se pode<br />
dizer acerca da transcurabilidade dessas parcelas.<br />
Exemplo:<br />
Pretende-se calcular a queda de tensão no extremo de um<br />
cabo trifásico do tipo VV, 4 mm 2 de secção, comprimento 80<br />
m, percorrido por uma corrente de 30 A, tensão de<br />
alimentação 400 V e as características do cabo, indicadas na<br />
tabela 1.<br />
A tabela 2, apresenta os resultados (análise monofásica)<br />
obtidos.<br />
Como se observa pelo quadro de resultados a fórmula<br />
∆V = RIa+XIr<br />
dá-nos valores bastante aproximados, fixando já os dois<br />
primeiros algarismos significativos.<br />
Para um resultado mais correcto pode usar-se a fórmula .<br />
ΔV=RI +XI +<br />
a<br />
r<br />
( XI -RI ) 2<br />
a<br />
2V<br />
0<br />
r<br />
A expressão ∆V = RIa, apesar da sua simplicidade, pode<br />
empregar-se com vantagem em muitos casos,<br />
particularmente na BT e para secções de cabos<br />
suficientemente baixas, por permitir relacionar directamente<br />
a queda de tensão máxima com a secção do cabo a atribuir.<br />
Tab. 1 – Características do cabo<br />
Tipo<br />
Secção<br />
mm 2<br />
Comprimento<br />
m<br />
Resistividade<br />
a 20°C<br />
Ωmm 2 /m<br />
Resistência<br />
Coeficiente<br />
°C -1 Ω<br />
temperatura a 20°C<br />
Resistência a<br />
70°C<br />
Ω<br />
Reactância<br />
Ω<br />
VV 4 80 17,241.10 -3 3,93.10 -3 0,3448 0,41257 6,4.10 -3<br />
Tab. 2 – Resultados do exemplo<br />
V 0<br />
(V)<br />
V 1<br />
(V)<br />
∆V (real)<br />
(V)<br />
%<br />
RI a<br />
(V)<br />
%<br />
∆V (aproximação)<br />
RI a +XI r<br />
(V)<br />
%<br />
(V)<br />
%<br />
230 219,867 10,132 4,4 9,902 4,305 10,017 4,35 10,132 4,4<br />
53
ARTIGO TÉCNICO<br />
A expressão aproximada ∆V = RIa+XIr pode ser reescrita de<br />
A partir da expressão<br />
∆ = +<br />
ϕ ϕ<br />
modo a contemplar quer a situação da sua aplicação a um V RIcos<br />
XIsen<br />
I −<br />
circuito trifásico, quer a um circuito monofásico, quer = rLIcosϕ<br />
+ xLIsenϕ<br />
mesmo ao caso de um circuito de corrente contínua.<br />
= rMf<br />
+ xMq<br />
⎛ L<br />
⎞<br />
define-se a queda de tensão como a soma do produto do<br />
∆ V = b× ⎜ ρ1 × × cosϕ + λ × L× senϕ<br />
⎟×<br />
Ib<br />
⎝ S<br />
⎠<br />
momento da componente em fase da corrente pela<br />
resistência linear com o produto do momento da<br />
Onde:<br />
componente em quadratura da mesma corrente pela<br />
∆ V queda de tensão em V;<br />
reactância linear do cabo.<br />
B coeficiente igual a 1 para circuitos trifásicos e a 2 para<br />
monofásicos ou de corrente contínua;<br />
Mf<br />
= LIcosϕ<br />
ρ1 resistividade eléctrica dos condutores em serviço Mq<br />
= LIsenϕ<br />
normal, em Ωmm2/m;<br />
L comprimento simples da canalização, em m;<br />
Donde:<br />
S secção recta dos condutores, em mm2;<br />
ϕ ângulo de esfasamento entre a tensão simples ∆ V = ∆ Vf + ∆ Vq = ∆ Va + ∆Vr<br />
respectiva e a corrente (para corrente contínua = 0) ∆ Va<br />
= RIcosϕ<br />
= RIa<br />
λ reactância linear dos condutores (igual a 0 para ∆ Vr<br />
= XIsenϕ<br />
= XIr<br />
circuitos de corrente contínua), em Ω/m;<br />
Ib corrente de serviço, em A.<br />
Por aplicação do método da sobreposição é possível<br />
decompormos a obtenção da queda de tensão mediante a<br />
A queda de tensão percentual virá referida à tensão nominal<br />
resolução de dois circuitos:<br />
do sistema:<br />
∆V<br />
∆ Vr<br />
= × 100%<br />
U<br />
U = U0, tensão simples em CA ou U = UN<br />
,em CC<br />
∆ Va = rMf = RIa<br />
3 × ∆V<br />
∆ Vr<br />
= × 100%<br />
U<br />
U = Uc<br />
, tensão composta em CA<br />
Para a situação comum de uma linha alimentando uma carga<br />
na sua extremidade:<br />
∆ Vr = xMq = XIr<br />
54<br />
L
ARTIGO TÉCNICO<br />
- Características da Impedância de um Cabo<br />
A resistência e a reactânciade um cabo são função da secção do condutor - R=R(S) e X=X(S).<br />
Daí que sendo:<br />
∆V= ∆ V(R,X) ∆ V= ∆ V(S)<br />
(para uma dada corrente)<br />
l<br />
R = ρ θ = const.<br />
s<br />
Andamento hiperbólico<br />
X - praticamente constante (para um dado tipo de<br />
canalização)<br />
A figura abaixo apresenta a variação da resistência e reactância com a secção para o cabo VAV 0,6/1 kV, 4 condutores, a uma<br />
temperaturade cerca de 80° C. Impedâncias em mΩ/m e secções em mm 2 .<br />
2,5<br />
2<br />
1,5<br />
1<br />
0,5<br />
0<br />
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300<br />
Fig. 2 – variação da resistência e reactância com a secção para o cabo VAV 0,6/1 kV, 4 condutores, a uma temperatura de cerca de 80° C<br />
55
ARTIGO TÉCNICO<br />
3. QUEDAS DE TENSÃO MÁXIMAS ADMISSÍVEIS<br />
3.1 REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA EM BAIXA<br />
TENSÃO<br />
Tendo em consideração o disposto no Regulamento de<br />
Seguranças de Redes de Distribuição de energia eléctrica em<br />
baixa tensão, aprovado pelo Decreto Regulamentar 90/84 de<br />
26 de Dezembro e os documentos normativos do<br />
concessionário da rede de distribuição, DIT-C11-010/N, Maio<br />
2006 - Guia Técnico de Urbanizações e DIT-C14-100/N MAI<br />
2007 – Ligação de Clientes de Baixa Tensão, a queda de<br />
tensão total, desde o Posto de Transformação Público MT/BT<br />
até ao final da rede de Baixa Tensão, isto é, à Portinhola ou,<br />
quando esta não existir, ao Quadro de Colunas de um<br />
edifício ou aos terminais de entrada do contador, não deve<br />
ser superior a 8 %, sendo que a queda de tensão máxima no<br />
ramal 1 não deve ser superior a 2% da tensão nominal.<br />
3.2 INSTALAÇÕES DE UTILIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA EM BAIXA<br />
TENSÃO<br />
Tendo em consideração o disposto nas Regras Técnicas de<br />
Instalações Eléctricas de Baixa Tensão, aprovadas pela<br />
Portaria n.º 949-A/2006 de 11 de Setembro a queda de<br />
tensão máxima entre a origem da instalação 2 e qualquer<br />
ponto de utilização, expressa em função da tensão nominal<br />
da instalação, não deve ser superior aos valores indicados na<br />
tabela 1.<br />
Ao abrigo do mesmo regulamento, em Instalações Colectivas<br />
e Entradas as secções dos condutores usados nos diferentes<br />
troços das instalações colectivas e entradas devem ser tais<br />
que não sejam excedidos os valores de queda de tensão<br />
seguintes:<br />
a) 1,5 %, para o troço da instalação entre os ligadores da<br />
saída da portinhola e a origem da instalação eléctrica (de<br />
utilização),no caso das instalações individuais;<br />
b) 0,5 %, para o troço correspondente à entrada ligada a<br />
uma coluna (principal ou derivada) a partir de uma caixa<br />
de coluna, no caso das instalações não individuais;<br />
c) 1,0 %, para o troço correspondente à coluna, no caso<br />
das instalações não individuais;<br />
No entanto, quando for técnica e economicamente<br />
justificado, os valores de queda de tensão indicados<br />
anteriormente para a coluna e entradas, podem ser<br />
ultrapassados, desde que, no seu conjunto (coluna mais<br />
entrada),não seja ultrapassado o valor de 1,5%.<br />
Tab. 3 - Queda de tensão máxima entre a origem da instalação e qualquer ponto de utilização<br />
Utilização Iluminação Outros usos<br />
Instalações alimentadas directamente a partir de uma rede de distribuição (pública) em<br />
baixa tensão<br />
3 % 5 %<br />
Instalações alimentadas a partir de um Posto de Transformação MT/BT (*) 6 % 8 %<br />
(*) Sempre que possível, as quedas de tensão nos circuitos finais não devem exceder os valores indicados para a situação A. As<br />
quedas de tensão devem ser determinadas a partir das potências absorvidas pelos aparelhos de utilização com os factores<br />
de simultaneidaderespectivos ou, na falta destes, das correntes de serviço de cada circuito.<br />
1<br />
Ramal - Canalização eléctrica, sem qualquer derivação, que parte do quadro de um posto de transformação, do quadro de uma central<br />
geradora ou de uma canalização principal e termina numa portinhola, quadro de colunas ou aparelho de corte de entrada de uma instalação de<br />
utilização.<br />
56
ARTIGO TÉCNICO<br />
Ao abrigo do mesmo regulamento, para as instalações<br />
colectivas e entradas deverão ser observados ainda os<br />
seguintes pontos:<br />
- Quando existir “troço comum 3 ” , a queda de tensão<br />
neste troço deve ser afectada ao ramal e não à instalação<br />
colectiva.<br />
- A queda de tensão, no caso das entradas trifásicas, deve<br />
ser calculada a partir da potência prevista para<br />
alimentação dos equipamentos normais previstos para<br />
as instalações eléctricas (de utilização) por elas<br />
alimentadas, suposta uniformemente repartida pelas<br />
diferentes fases. O cálculo deve ser feito fase a fase,<br />
como se de uma entrada monofásica se tratasse,<br />
considerando que apenas a fase em análise está em<br />
serviço.<br />
3.3 CÁLCULO DA QUEDA DE TENSÃO<br />
Para canalizações em que a secção do condutor de fase seja<br />
igual à do condutor neutro, as quedas de tensão podem ser<br />
determinadas a partir da expressão seguinte:<br />
⎛ l<br />
⎞<br />
u = b × ⎜ ρ × × cosϕ + λ × l × senϕ<br />
⎟ × Ib<br />
⎝<br />
1<br />
S<br />
⎠<br />
u<br />
∆u=100 U<br />
0<br />
em que:<br />
u queda de tensão, expressa em volts;<br />
∆u queda de tensão relativa, expressa em percentagem;<br />
Uo tensão entre fase e neutro, expressa em volts;<br />
b coeficiente igual a 1 para os circuitos trifásicos e a 2<br />
para os monofásicos (os circuitos trifásicos com o<br />
neutro completamente desequilibrado, isto é, com<br />
uma só fase carregada, são considerados como sendo<br />
monofásicos);<br />
r1 resistividade dos condutores à temperatura em serviço<br />
normal,<br />
L comprimento simples da canalização, expresso em<br />
metros;<br />
S secção dos condutores, expressa em milímetros<br />
quadrados;<br />
cosϕ factorde potência;<br />
Nas instalações de utilização às quais se aplicam as<br />
RTIEBT pode ser usado o valor cos j =0,8.<br />
Para efeitos do cálculo das quedas de tensão nas<br />
entradas das instalações, deve ter-se em consideração<br />
os valores de potências nominais definidos para essas<br />
entradas, os quais, na falta de elementos mais<br />
precisos, devem ser considerados como resistivos (cos<br />
j = 1).<br />
λ reactâncialinear dos condutores.<br />
Nas instalações de utilização às quais se aplicam as<br />
RTIEBT, na falta de outras indicações mais precisas,<br />
pode ser usado o valor 0,08 mW/m.<br />
Relativamente à determinação da resistividade dos<br />
condutores à temperatura em serviço normal, dever-se-á ao<br />
valor da resistividade a 20°C (0,0225 W.mm²/m para o cobre<br />
e 0,036 W.mm²/m para o alumínio), efectuar a correcção<br />
para a temperatura máxima de funcionamento dos<br />
condutores/cabos.<br />
2<br />
Origem das instalações eléctricas de utilização<br />
Considera-se que as instalações eléctricas objecto das Regras Técnicas têm por origem um dos pontos indicados nas alíneas seguintes:<br />
a) nas instalações alimentadas directamente por uma rede de distribuição (pública) em baixa tensão:<br />
- os ligadores de saída da portinhola;<br />
- os ligadores de entrada do quadro de colunas, no caso de não existir portinhola;<br />
- os ligadores de entrada do equipamento de contagem ou os do aparelho de corte da entrada, quando este estiver a montante do<br />
equipamento de contagem, no caso de não existir portinhola nem quadro de colunas.<br />
No que se refere às instalações eléctricas (de utilização), alimentadas, pelas instalações colectivas e entradas, estas têm, no caso de serem<br />
alimentadas por uma rede de distribuição (pública) em baixa tensão, por origem um dos pontos seguites:<br />
a) os ligadores de saída do aparelho de corte da entrada da instalação eléctrica (de utilização);<br />
b) os ligadores de saída do sistema de contagem, se o aparelho de corte da entrada não existir.<br />
b) nas instalações alimentadas por um posto de transformação privativo, os ligadores de entrada do(s) quadro(s) de entradaTroço comum -<br />
Canalização eléctrica da instalação colectiva que tem início na portinhola e que termina no quadro de colunas.<br />
3<br />
Troço comum - Canalização eléctrica da instalação colectiva que tem início na portinhola e que termina no quadro de colunas.<br />
57
ARTIGO TÉCNICO<br />
A tabela 4, apresenta as temperaturas máximas de<br />
funcionamento de diversos tipos de isolamentos de<br />
condutores:<br />
A correcção da resistividade é realizada através da seguinte<br />
expressão:<br />
R<br />
θ R20 α20<br />
θ<br />
= [1 + ( −20)] Ω/km<br />
em que:<br />
Rθ resistênciaeléctricaà temperatura θ °C<br />
R20 resistênciaeléctricaà temperatura 20 °C<br />
α20 coeficiente de temperatura a 20 °C<br />
θ temperaturafinal em °C<br />
As RTIEBT recomendem a utilização de um factor 1,25 para<br />
correcção geral do valor da resistividade para a temperatura<br />
de serviço, independente do tipo de isolamento dos<br />
condutores/cabos, sendo uma aproximação ao cálculo<br />
anteriormente apresentado.<br />
Tab. 4 – Temperatura máxima de funcionamento dos condutores em função do tipo de isolamento<br />
Tipo de isolamento<br />
Temperatura máxima de<br />
funcionamento (1)<br />
(°C)<br />
Policloreto de vinilo (PVC) Condutor: 70<br />
Polietileno reticulado (XLPE)<br />
Ou<br />
etileno-propileno (EPR)<br />
Condutor: 90<br />
Mineral (com bainha em PVC ou nu e acessível) Bainha metálica: 70<br />
Mineral (nu, inacessível e sem estar em contacto com materiais combustíveis) Bainha metálica: 105 (2)<br />
(1)<br />
- Segundo as Normas NP 2356, NP 2357 e NP 2365.<br />
(2)<br />
- Para este tipo de condutores podem ser admitidas temperaturas superiores em serviço contínuo, de acordo com a<br />
temperatura do cabo e das terminações e com as condições ambientais e outras influências externas.<br />
Tab. 5 - Resistência à Temperatura do condutor/cabo a 20°C<br />
``<br />
R 20<br />
θ<br />
Resistência à Temperatura do condutor/cabo a 20°C<br />
Temperaturamáxima de funcionamento do condutor/cabo<br />
α 20<br />
coeficiente de variação da resistividade com a temperatura a 20°C<br />
α<br />
α<br />
<br />
Cu20<br />
C<br />
<br />
Al20<br />
C<br />
= 3,93.10<br />
= 4,03.10<br />
C<br />
−3 −1<br />
C<br />
−3 −1<br />
58
ARTIGO TÉCNICO<br />
4. METODOLOGIAS DE VERIFICAÇÃO EM OUTROS PAÍSES<br />
França – A norma NF C 15-100, publicada pela Union<br />
Technique de l’Electricité (UTE), trata e define os requisitos<br />
técnicos e de segurança das instalações eléctricas de baixa<br />
tensão. A norma sofre actualização regular para ter em conta<br />
a evolução da técnica e das necessidades de consumo de<br />
electricidade.<br />
O artigo 525 da NF C 15-100 fixa os valores máximos da<br />
queda de tensão, conforme indicado na tabela 3.<br />
No comentário ao Artº 525 da norma é indicada a fórmula a<br />
empregar para cálculo da queda de tensão que resulta ser a<br />
mesma usada pelas RTIEBT.<br />
Para a resistividade dos condutores em serviço normal<br />
apresentaos valores, indicados na tabela 4.<br />
O coeficiente 1,25 leva a determinar a queda de tensão a<br />
uma temperatura do condutor de cerca de 82 °C.<br />
A norma remete ainda para o guia da UTE C 15-105, GUIDE<br />
PRATIQUE Détermination des sections de conducteurs et<br />
choix des dispositifs de protection Méthodes pratiques, onde<br />
são detalhadas outras informações bem como, em<br />
particular, quadros com valores de reactância linear para<br />
outras configurações de canalizações a serem consultados<br />
para a determinação da queda de tensão.<br />
Tab. 6 - Queda de tensão máxima nas instalações de utilização<br />
Iluminação<br />
Outros usos<br />
Tipo A – instalações alimentadas directamente por uma derivação em BT a partir<br />
de uma rede pública de distribuição em BT<br />
3%<br />
5%<br />
Tipo B – Instalações alimentadas por um posto de entrega(1) ou por um posto de<br />
transformação a partir duma instalação de AT e instalações do tipo A em que o<br />
ponto de entrega se situa no QGBT dum posto de distribuição público.<br />
6%<br />
8%<br />
Quando as canalizações principais da instalação tiverem um comprimento superior a 100 m, as quedas de tensão podem ser<br />
aumentadas de 0,005 % por metro de canalização acima de 100 m, sem todavia superar 0,5 %.<br />
As quedas de tensão são determinadas a partir das potências absorvidas pelos aparelhos de utilização, aplicando, sendo o<br />
caso, factores de simultaneidade, ou, por omissão, a partir dos valores das correntes de serviço dos circuitos.<br />
Tab. 7 – Resistividade corrigida do cobre e alumínio para a temperatura de funcionamento dos condutores<br />
Cobre<br />
Alumínio<br />
Resistividade ρ 1 = 1,25×ρ 20°C Ωmm 2 /m 0,023 0,037<br />
Obs<br />
Em França não se faz distinção entre postos de transformação e subestações de transformação. A sua designação genérica é poste de<br />
transformation, contemplando ambas as instalações. Quando as instalações de BT são alimentadas por uma rede de distribuição pública em AT,<br />
por intermédio de um posto de transformação, observando a norma NF C 13-100 a 13-103, o posto de transformação é chamado poste de<br />
livraison, posto de entrega. Quando forem alimentadas por uma instalação de AT por intermédio de uma instalação de transformação<br />
observando a norma NF C 13-200, a sua designação é poste de transformation, posto de transformação.<br />
59
ARTIGO TÉCNICO<br />
Reino Unido – Neste país a norma BS 7671: 2008<br />
Requirements for Electrical Installations IEE Wiring<br />
Regulations, Seventeenth Edition é o padrão normativo<br />
adoptado no domínio das instalações eléctricas em BT<br />
quando em 1992 a British Standards Institution (BSI) fez das<br />
regras técnicas<br />
IEE Wiring Regulations, 16th Edition,<br />
publicadas pela Institution of Electrical Enginneers (IEE), sua<br />
norma. A BS 7671 é também usada noutros países de língua<br />
inglesa.<br />
Os requisitos respeitantes à queda de tensão são tratados<br />
nos pontos 525.1 a 525.3. Para uma instalação em BT<br />
alimentada directamente a partir de uma rede de<br />
distribuição em BT, a queda de tensão máxima, especificada<br />
no Apêndice 12, relativamente à tensão nominal, é:<br />
O Apêndice 4 da norma contém uma série de tabelas<br />
fornecendo, para vários tipos de cabos e condutores, os<br />
valores das quedas de tensão, quer resistivas, quer reactivas,<br />
quer totais, dadas em mV/m/A, calculadas para a<br />
temperatura máxima permitida pelos condutores em regime<br />
normal de funcionamento.<br />
Equipamento de<br />
Iluminação<br />
Outros<br />
Usos<br />
Queda de tensão máxima 3% 5%<br />
Onde:<br />
r – queda de tensão resistiva em mV/A/m<br />
x – queda de tensão reactiva em mV/A/m<br />
A norma prevê a correcção da temperatura dos condutores<br />
para uma melhor aproximação do cálculo da queda de<br />
tensão.<br />
Assim a temperatura de serviço vem determinada pela<br />
expressão seguinte:<br />
2<br />
⎛<br />
2 2 I ⎞<br />
b<br />
θb = θz − ⎜CgCa − θ<br />
2 ⎟ z<br />
−θa<br />
⎝ Izt<br />
⎠<br />
( )<br />
Θb = temperatura do cabo ou condutor, °C<br />
Θz = temperatura máxima em regime normal, °C<br />
Θa = temperatura ambiente, °C<br />
Cg = factor de correcção de agrupamento<br />
Ca = factor de correcção da temperatura ambiente<br />
Ib = corrente de serviço, A<br />
Izt = corrente máxima admissível nas condições da tabela, A<br />
A temperatura θb permite agora determinar o factor de<br />
correcção de temperatura Ct:<br />
C<br />
t<br />
230 + θb<br />
=<br />
230 + θ<br />
z<br />
A queda de tensão é então calculada da forma seguinte:<br />
V<br />
d<br />
=<br />
m V / m/ A tabelados × cosϕ<br />
× Ib<br />
× L<br />
1000<br />
Com<br />
1<br />
<br />
β0<br />
= ≅ 230 C<br />
α<br />
0<br />
valor médio para Cu e Al<br />
Quando a secção dos condutores for maior que 16 mm 2<br />
deverão considerar-se a queda de tensão resistiva bem como<br />
a queda reactiva.<br />
Teremos então:<br />
V<br />
d<br />
=<br />
( ϕ ϕ )<br />
cos × r + sen × x m V / A/<br />
m× L×<br />
I<br />
1000<br />
b<br />
Para secções até 16 mm2, teremos:<br />
−3<br />
( )<br />
V = C cosϕ<br />
m V / A/ m × L× I × 10<br />
d t b<br />
Para secções acima de 16 mm2:<br />
V = ( C cosϕ<br />
× r + sen ϕ × x) × L× I × 10<br />
d t b<br />
−3<br />
60
ARTIGO TÉCNICO<br />
Os valores médios das resistividades do Cu e Al a 20°C<br />
usados na norma são:<br />
ρCu20°C = 18,3 ×10-3 Ωmm 2 /m<br />
ρAl20°C = 30,4 ×10-3 Ωmm 2 /m<br />
Alemanha – Várias são as normas e disposições aplicáveis às<br />
instalações de BT. A norma DIN VDE 0100 – Errichten von<br />
Niederspannungsanlagen, Estabelecimento de Instalações de<br />
BT, contempla na sua parte 520 as prescrições em termos de<br />
quedas de tensão máximas permitidas nas instalações.<br />
Assim, entre a portinhola e o ponto electricamente mais<br />
afastado da instalação a norma fixa, para a máxima queda de<br />
tensão tolerada, um valor de 4% da tensão nominal.<br />
Às instalações residenciais aplica-se igualmente a norma DIN<br />
18015 – Elektrische Anlagen in Wohngebäuden, Instalações<br />
Eléctricas em Edifícios Residenciais. De acordo com esta<br />
norma a queda máxima entre o contador e o aparelho<br />
electricamente mais afastado deve ser 3% da tensão<br />
nominal.<br />
tramos do circuito usa-se como corrente de serviço o valor<br />
da corrente estipulada do aparelho de protecção contra<br />
sobreintensidades localizado imediatamente a montante.<br />
Outra disposição aplicável às instalações de BT prende-se<br />
com as especificações próprias das Associações de Energia<br />
Estaduais - Technischen Anschlussbedingungen für den<br />
Anschluss an das Niederspannungsnetz, Condições Técnicas<br />
para a Ligação à Rede de BT, conhecidas por TAB. De acordo<br />
com as TAB, as máximas quedas de tensão entre a portinhola<br />
e o contador vêm dadas em correspondência com o quadro<br />
seguinte:<br />
Potência Queda de tensão Disposição<br />
em kVA admissível em %<br />
Até 100 0,5 AVBEltV (1)<br />
De 100 a 250 1,0 TAB<br />
Mais de 250 a 400 1,25 TAB<br />
Acima de 400 1,5 TAB<br />
Para a determinação da queda de tensão nos diversos<br />
A figura abaixo sintetiza as diversas condições e disposições<br />
aplicáveis:<br />
Fig. 3 – Máxima queda de tensão e disposições aplicáveis na Alemanha<br />
Fonte: Siedelhofer ABB<br />
(1)<br />
Verordnung über Allgemeine Bedingungen für die Elektrizitätsversorgung von Tarifkunden, Portaria sobre as Condições Gerais para o<br />
Abastecimento de Electricidade a Clientes.<br />
61
ARTIGO TÉCNICO<br />
A queda de tensão é calculada pela expressão simplificada<br />
para as secções condutoras acima dos 16 mm2. Abaixo deste<br />
valor calcula-se somente a queda resistiva. Os dados<br />
seguintes são habitualmente empregados no cálculo da<br />
resistência:<br />
Bibliografia<br />
[4] Regras Técnicas de Instalações Eléctricas de Baixa<br />
Tensão, Decreto-Lei 226/2005, de 28 de Dezembro e<br />
PortariaN.º 949-A/2006,de 11 de Setembro, 2006;<br />
5. CONCLUSÕES<br />
Condutividade<br />
σ Sm/mm2<br />
20°C<br />
circuitos ligeiramente carregados<br />
50°C<br />
circuitos moderadamente carregados<br />
70°C<br />
circuitos carregados<br />
Cu Al<br />
56 35<br />
50 31<br />
47 29<br />
O cálculo das quedas de tensão é fundamental na fase de<br />
projecto de instalações eléctricas, por um lado, de modo a<br />
garantir que as infra-estruturas definidas cumpram os<br />
requisitos regulamentares e, por outro lado, o bom<br />
funcionamento e a longevidade dos equipamentos e<br />
instalações.<br />
Bibliografia<br />
[1] UNION TECHNIQUE DE L'ELECTRICITE – UTE C 15-105.<br />
Fontenay-aux-Roses:UTE, 2003.<br />
[2] UNION TECHNIQUE DE L'ELECTRICITE – NF C 15-100.<br />
Puteaux:UTE, 2002.<br />
[3] STOKES Geoffrey, Bradley John - A Practical Guide to<br />
the Wiring Regulations: 17th Edition IEE Wiring<br />
Regulations (BS 7671:2008). 4ª Ed. Chichester: John<br />
Wiley & Sons Ltd, 2009. ISBN: 978-1-405-17701-6.<br />
[5] Regulamento de Segurança de Redes de Distribuição<br />
de Energia Eléctrica em Baixa Tensão, Decreto-<br />
Regulamentarn.º 90 / 84 de 26 de Dezembro.<br />
[6] Guia Técnico de Urbanizações, DIT-C11-010/N, EDP –<br />
Distribuição – Energia SA, DNT – Direcção de<br />
Normalização e Tecnológica, Maio 2006;<br />
[7] Ligação de Clientes de Baixa Tensão, DIT-C14-100/N,<br />
EDP – Distribuição – Energia SA, DNT – Direcção de<br />
Normalização e Tecnológica, Maio 2007;<br />
[8] SIEDELHOFER Bernd - Hauptstromversorgung in<br />
Gebäuden [em linha]. [Consult. 06 Dez 2010]<br />
Disponível em<br />
www:<br />
[9] SCHULTKE Hans – Aktuelles aus der Welt der Normen<br />
[em linha]. [Consult. 06 Dez 2010]<br />
Disponível em<br />
www:<br />
[10] VEWSaar e. V. - Erläuterungen des Verbandes zu den<br />
Technischen Anschlussbedingungen für den Anschluss<br />
an das Niederspannungsnetz (TAB) [em linha].<br />
[Consult. 06 Dez 2010]<br />
Disponível em<br />
www:<br />
62
ARTIGO TÉCNICO<br />
Máquinas Eléctricas<br />
Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />
artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Máquinas Eléctricas.<br />
As máquinas eléctricas são os equipamentos mais relevantes nas instalações industriais sendo, por isso, um dos sectores em que<br />
se tem prioritariamente tornar mais eficiente. É dado especial ênfase aos assuntos relativos à utilização racional de energia<br />
eléctrica em instalações industriais e eficiência energética em equipamentos de força motriz, bem como à área relacionada com<br />
as características mais relevantes dos principais sistemas de conversão de energia, fundamentalmente no que se refere aos<br />
geradores e conversores estáticos de potência. Assuntos emergentes, como a tecnologia dos veículos eléctricos são igualmente<br />
destacados nesta secção.<br />
63
ARTIGO TÉCNICO<br />
Índice<br />
Sistemas Geradores em Aproveitamentos Eólicos<br />
Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
65<br />
Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz<br />
José António Beleza Carvalho, Roque Filipe M. Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
73<br />
Veículos Eléctricos Características e Tipos de Motores<br />
Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
81<br />
ACCIONAMENTOS EFICIENTES DE FORÇA-MOTRIZ. NOVA CLASSIFICAÇÃO<br />
José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
91<br />
Detecção de Avarias em Motores Assíncronos de Indução<br />
António Manuel Luzano de Quadros Flores, José António Beleza Carvalho<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
99<br />
ESTRUTURAS E CARACTERÍSTICAS DE VEÍCULOS HÍBRIDOS ELÉCTRICOS<br />
105<br />
PEDRO MIGUEL AZEVEDO DE SOUSA MELO<br />
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA N<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong>, Nº6, DEZEMBRO DE 2010<br />
64
ARTIGO TÉCNICO<br />
Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
Sistemas Geradores em Aproveitamentos Eólicos<br />
Resumo<br />
No presente artigo pretende-se focar as características mais<br />
relevantes dos principais sistemas de conversão de energia<br />
eólica, fundamentalmente, no que se refere aos geradores e<br />
conversores estáticos de potência. Começa-se por referir os<br />
princípios de base associados à conversão eólica. Em<br />
seguida, faz-se uma abordagem aos sistemas de velocidade<br />
constante (baseados no gerador de indução com rotor em<br />
gaiola) e velocidade variável (gerador de indução<br />
duplamente alimentado e sistemas sem caixa de<br />
velocidades, baseados em geradores síncronos com<br />
enrolamento de excitação e de imanes permanentes).<br />
Referem-se as principais vantagens e inconvenientes dos<br />
diferentes sistemas e, no final, uma breve abordagem acerca<br />
das tendências futuras.<br />
1. Introdução<br />
As crises petrolíferas mundiais, desde a década de 70 do<br />
século XX e o aumento da consciência ambiental das<br />
opiniões públicas têm motivado o interesse e crescimento da<br />
exploração das energias renováveis. Em particular, a energia<br />
eólica é aquela onde se tem verificado o maior crescimento<br />
em termos de aproveitamentos. Actualmente, a sua<br />
tecnologia encontra-se num elevado nível de<br />
desenvolvimento,principalmente na Europa e nos EUA. [1]<br />
Neste artigo, começa-se por referir alguns dos princípios<br />
básicos da captação da energia eólica. Pretende-se focar as<br />
características eléctricas dos principais sistemas eólicos<br />
actualmente em uso, fundamentalmente, ao nível dos<br />
geradores, incluindo algumas referências aos conversores de<br />
potência. Também são mencionadas as principais vantagens<br />
e desvantagens dos diferentes sistemas e, por último, uma<br />
breve referência a algumas tendências na sua evolução.<br />
2. Potência Eólica<br />
A expressão seguinte traduz a potência mecânica disponível<br />
no veio de uma turbina eólica: [1], [2]<br />
sendo:<br />
ρ ar –<br />
C p –<br />
massa específicado ar [kg/m3];<br />
rendimento aerodinâmico;<br />
A r – secção de varrimento das pás da turbina<br />
V vento<br />
(transversal ao eixo rotórico) [m 2 ];<br />
(1)<br />
– velocidade do vento no centro do rotor da<br />
turbina[m/s].<br />
A r =πR 2 (2)<br />
em que R corresponde ao raio do rotor, igual ao<br />
comprimento de uma pá da turbina.<br />
C p , associado às características aerodinâmicas das pás da<br />
turbina, traduz a relação entre a potência eólica<br />
efectivamente convertida pela turbina e a potência contida<br />
na massa de ar que atravessa a turbina – potência disponível<br />
no vento.<br />
1<br />
P = ρ<br />
2<br />
ar<br />
C<br />
p<br />
A<br />
r<br />
V<br />
3<br />
vento<br />
65
ARTIGO TÉCNICO<br />
O rendimento aerodinâmico (Cp) é função de 2 parâmetros:<br />
3. Regulação da Potência da Turbina<br />
• razão de velocidades na pá (λ), definida como o<br />
quociente entre a velocidade de rotação da extremidade<br />
das pás e a velocidade do vento no centro do rotor<br />
A figura 1 ilustra a característica mecânica típica de uma<br />
turbina eólica, estando evidenciadas 4 zonas distintas de<br />
condições de vento:<br />
(V vento ):<br />
λ =<br />
ωrR<br />
V<br />
vento<br />
(3)<br />
ωr - velocidade angular rotórica;<br />
• ângulo de passo (θ): ângulo entre o plano de rotação das<br />
pás do rotor e da respectiva linha de corda do seu perfil<br />
alar.<br />
Figura 1 – Característica Mecânica Turbina Eólica (linha a cheio:<br />
As turbinas eólicas são projectadas para gerarem a máxima<br />
velocidade variável; linha a tracejado: velocidade constante) [2]<br />
potência para uma determinada velocidade do vento. Os<br />
valores desta potência e da velocidade do vento são<br />
designados, respectivamente, potência nominal (P nominal ) e<br />
velocidade nominal do vento (ωr) – figura 1. [1]<br />
Existem turbinas eólicas que funcionam a velocidade<br />
constante e velocidade variável; as primeiras estão<br />
Zona 1:<br />
Zona 2:<br />
valores baixos da energia cinética do vento, não<br />
permite a conversão de energia;<br />
os valores das potências convertidas são inferiores<br />
à potência nominal; é aqui fundamental garantir<br />
que o valor de Cp é máximo, o que só é possível<br />
nos sistemas de velocidade variável (λ constante);<br />
associadas às tecnologias iniciais de aproveitamentos<br />
eólicos, sendo as turbinas de velocidade variável o resultado<br />
de tecnologias mais recentes. Neste último caso, verifica-se<br />
que o valor máximo de Cp está associado a uma razão<br />
constante entre a velocidade angular do rotor (ωr) e a<br />
Zona 3: a potência convertida corresponde ao valor<br />
nominal da turbina; o conteúdo energético do<br />
vento é agora superior à potência nominal pelo<br />
que, o valor de Cp deverá ser reduzido, sob pena<br />
do sistema entrar em sobrecarga;<br />
velocidade do vento (Vvento), com constante. Deste modo,<br />
nas turbinas eólicas de velocidade variável o valor de λ é<br />
constante – expressão 3.<br />
Zona 4:<br />
cenário oposto ao da zona 1, isto é, o valor elevado<br />
da velocidade do vento poderá danificar a turbina,<br />
sendo esta normalmente desligada.<br />
66
ARTIGO TÉCNICO<br />
A regulação da potência convertida na zona 3 é efectuada de<br />
dois modos distintos, consoante se tratem de turbinas com<br />
velocidade constante ou variável.<br />
décadade 80 e inícios da década de 90 do século passado. [4]<br />
No primeiro caso, a regulação é feita de forma passiva: as<br />
características aerodinâmicas das pás são fundamentais<br />
neste modo de controlo da potência convertida – a partir de<br />
um valor pré-definido da velocidade do vento, o rendimento<br />
da turbina decresce – “stall effect” –, mantendo-se<br />
aproximadamente constante a potência fornecida pela<br />
turbina ao gerador eléctrico. [2]<br />
Nas turbinas com velocidade variável, a regulação da<br />
potência convertida é feita de forma activa. A posição das<br />
pás relativamente ao seu plano de rotação é ajustável –<br />
ângulo de passo (θ) regulável (“pitch angle”). Deste modo, é<br />
também possível reduzir o valor de Cp. Normalmente, para<br />
velocidades do vento superiores ao valor nominal, as<br />
turbinas passam a funcionar com velocidade constante<br />
(nestas situações, a regulação de θ actua directamente no<br />
valor do binário). [2]<br />
4. Geradores Eléctricos em Sistemas Eólicos<br />
Na figura 2 estão indicadas diferentes configurações de<br />
sistemas geradores. No que se refere ao tipo de gerador<br />
eléctrico, são sistemas baseados em máquinas de indução<br />
trifásicas (rotor em gaiola de esquilo nas primeiras gerações;<br />
posteriormente, geradores de rotor bobinado) e em<br />
máquinas síncronas trifásicas (c/ enrolamento de excitação<br />
e, posteriormente, de imanes permanentes).<br />
Os sistemas 1,2,3 e 4 são actualmente os mais relevantes,<br />
pelo que serão descritos apenas estes.<br />
4.1.Gerador de Indução com Rotor em Gaiola de Esquilo<br />
(sistema 1)<br />
Este sistema, para turbinas com velocidade constante,<br />
pertence às primeiras gerações de aproveitamentos eólicos –<br />
em Portugal, o seu aparecimento remonta aos finais da<br />
Figura 2 – Tipos de Geradores Eólicos [3]<br />
O estator do gerador de indução (gaiola de esquilo) é<br />
directamente ligado à rede; A ligação mecânica do veio do<br />
rotor da turbina e do veio rotor do gerador é efectuada<br />
através de uma caixa de velocidades, devido à necessidade<br />
da velocidade deste último ter de ser superior à velocidade<br />
de sincronismo imposta pela frequência da rede (50 ou 60<br />
Hz). O controlo da potência na turbina é normalmente<br />
efectuado com base no comportamento aerodinâmico das<br />
suas pás (“stall effect”) [2].<br />
O funcionamento da máquina de indução com rotor em<br />
gaiola como gerador está associado a deslizamentos (s)<br />
negativos, isto é, velocidades de rotação rotóricas superiores<br />
à velocidade de sincronismo – figura 3.<br />
A gama de funcionamento do gerador está compreendida<br />
entre s=0 (n=n s ) e o deslizamento nominal, s=s n (n=n n ), uma<br />
vez que correspondem a regimes de funcionamento nos<br />
quais a corrente no estator não excede o valor nominal. Os<br />
baixos valores dos deslizamentos nominais – característicos<br />
das máquinas de indução – explicam a utilização destes<br />
sistemas em turbinas com velocidade praticamente<br />
constante. Não obstante, é de referir a possibilidade de<br />
alguma capacidade de adaptação às flutuações do vento,<br />
decorrente da natureza assíncrona do gerador.<br />
67
ARTIGO TÉCNICO<br />
De notar neste último algumas semelhanças, apenas em<br />
termos de princípio, com os dos sistemas baseados em<br />
geradores de indução duplamente alimentados.<br />
Posteriormente, em finais da década de 90, surgiram novos<br />
sistemas,dos quais se destacam os referidos como 2, 3 e 4.<br />
4.2. Gerador de Indução Duplamente Alimentado (sistema 2)<br />
Figura 3 – Característica Mecânica da Máquina de Indução<br />
Trifásica (U,f constantes)<br />
Um dos inconvenientes bem conhecidos das máquinas de<br />
indução é o de não serem capazes de desenvolver o campo<br />
magnético necessário ao seu funcionamento , fundamental<br />
no processo de conversão electromecânica de energia (neste<br />
caso, mecânica - eléctrica). A máquina necessita de absorver<br />
energia reactiva para criar o campo magnético referido,<br />
sendo aquela fornecida pela rede. Assim, estes sistemas<br />
exigem a inclusão de baterias de condensadores de modo a<br />
compensarem o factor de potência da máquina.<br />
Normalmente, os fabricantes permitem a compensação para<br />
valores unitários, através de baterias de condensadores com<br />
2 escalões. [4]<br />
O estator do gerador é também directamente ligado à rede.<br />
O rotor é ligado à rede (naturalmente, máquinas de rotor<br />
bobinado) através de um conversor estático de potência. O<br />
princípio deste sistema é o de aproveitamento da energia de<br />
deslizamento, associada à dissipação de energia na<br />
resistência do rotor (R r ). Tal como ilustrado na figura 4, o<br />
valor desta resistência condiciona o deslizamento da<br />
máquina, isto é, a velocidade do rotor.<br />
Este sistema possui algumas variantes que permitem uma<br />
melhor adaptação às inevitáveis flutuações do vento, sendo<br />
de destacar: [2]<br />
Figura 4 – Influência da Resistência Rotórica na Velocidade da<br />
Máquina de Indução Trifásica (U,f constantes)<br />
• geradores equipados com dois enrolamentos estatóricos<br />
com números de pólos distintos – possibilidade de<br />
funcionamento em duas velocidades distintas.<br />
• geradores equipados com sistema de variação<br />
electrónica da resistência rotórica, permitindo maiores<br />
variações de velocidade – turbinas de velocidade semivariável.<br />
No entanto, a regulação da velocidade da máquina através<br />
da alteração da resistência rotórica, implica um aumento da<br />
energia aí dissipada. A inclusão do conversor de potência<br />
mencionado permite a regulação do deslizamento, sendo<br />
que, uma parte da energia que seria dissipada no rotor passa<br />
a ser injectada na rede. (De notar que o controlo da<br />
velocidade de um motor de indução trifásico por regulação<br />
do deslizamentoassenta nestemesmo conceito).<br />
68
ARTIGO TÉCNICO<br />
Deste modo, é possível ter o gerador a funcionar com<br />
diferentes velocidades rotóricas, melhorando também o seu<br />
rendimento, uma vez que a injecção da energia na rede se<br />
faz através do estator e do rotor. Naturalmente, este sistema<br />
está associado a turbinas com velocidade variável.<br />
O controlo da potência na turbina é realizado através da<br />
regulação do ângulo de passo (“pitch angle”), anteriormente<br />
referido. A manutenção de C p no valor máximo é efectuada<br />
até ser atingido o valor nominal da corrente do gerador.<br />
É também necessária a inclusão de uma caixa de velocidades<br />
de modo a adaptar as velocidades dos eixos rotóricos da<br />
turbina e do gerador.<br />
4.2.1. Conversor Estático de Potência<br />
A figura 5 ilustra a estrutura do conversor de potência usado<br />
nestes sistemas – andar de rectificação, andar DC e andar<br />
inversor –, bem como os módulos de controlo.<br />
Figura 5 – Conversor de Potência<br />
O rectificador (controlado) e o inversor apresentam<br />
estruturas semelhantes (figura 6):<br />
(Insulated Gate Bipolar Transistor). Os sistemas de controlo<br />
dos dois conversores baseiam-se na modulação da largura de<br />
impulso (Pulse Width Modulation – PWM).<br />
O conversor ligado aos terminais do rotor (AC/DC) regula a<br />
corrente rotórica (módulo e argumento). Significa que o<br />
conversor pode fornecer energia reactiva à máquina,<br />
permitindo a sua magnetização.<br />
O conversor do lado da rede (DC/AC) regula a tensão do<br />
andar DC, podendo também injectar energia reactiva na<br />
rede. Deste modo, estes sistemas podem contribuir para a<br />
estabilidade da tensão da própria rede.<br />
A capacidade de regulação dos valores da potência activa e<br />
reactiva trocadas com a rede é conseguida através do<br />
controlo vectorial no gerador, permitindo ajustar o módulo e<br />
argumento das correntes alternadas (AC) dos conversores.<br />
[2], [4]<br />
Os sistemas baseados em geradores de indução necessitam<br />
de caixa de velocidades para o acoplamento do veio da<br />
turbina e do veio do gerador. Com efeito, são comuns<br />
valores de velocidade no veio da turbina entre 30 a 60 rpm;<br />
dependendo da frequência da rede (50 ou 60 Hz) e do<br />
número de pólos magnéticos do gerador (usualmente, 4 ou 6<br />
pólos), são frequentes valores da sua velocidade rotórica<br />
entre 1000 e 1800 rpm. Nos sistemas de geração eólica mais<br />
recentes tem-se procurado a eliminação da caixa de<br />
velocidades, pois a sua inclusão acarreta um aumento<br />
substancial do custo total do sistema, bem como operações<br />
de manutenção mais frequentes.<br />
4.3. Máquina Síncrona de Velocidade Variável (sem caixa<br />
de velocidades) (sistemas 3 e 4)<br />
Figura 6 – Estrutura do Rectificador e Inversor<br />
Basicamente, são constituídos por pontes de 6 elementos<br />
semicondutores de potência (interruptores controlados,<br />
indicado pelas setas a vermelho), tipicamente IGBT´s<br />
Estes sistemas referem-se a aproveitamentos eólicos<br />
equipados com máquinas síncronas. As respectivas turbinas<br />
são de velocidade variável e, contrariamente aos sistemas<br />
anteriormente referidos, não existe caixa de velocidades.<br />
Assim, o gerador síncrono (com enrolamento de excitação<br />
convencional – sistema 3 – e, mais recentemente, de imanes<br />
permanentes – sistema 4) é ligado à rede através de um<br />
69
ARTIGO TÉCNICO<br />
conversor de potência, de modo a converter o valor da<br />
frequência aos terminais do gerador na frequência da rede<br />
(figura7).<br />
5. Comparação Entre os Sistemas [2]<br />
As considerações aqui apresentadas baseiam-se nos<br />
seguintes critérios:<br />
5.1. Custo, dimensão e peso<br />
Figura 7 – Estrutura dos Sistemas Baseados na Máquina Síncrona<br />
de Velocidade Variável [Enercon]<br />
Em termos médios, o custo dos geradores de indução com<br />
rotor em gaiola é cerca de 25% inferior aos geradores de<br />
rotor bobinado usados nos sistemas duplamente<br />
alimentados.<br />
Os conversores de potência dos sistemas com gerador de<br />
indução duplamente alimentado têm menores dimensões e<br />
são mais baratos do que nos sistemas com geradores<br />
síncronos.<br />
O controlo da potência na turbina é realizado através da<br />
regulação do ângulo de passo (“pitch angle”). [2], [4]<br />
4.3.1. Conversor Estático de Potência<br />
O conversor de potência apresenta uma estrutura<br />
semelhante à descrita na secção anterior; apenas o andar de<br />
rectificação controlada é usualmente constituído por uma<br />
ponte de tiristores.<br />
A tensão na entrada do andar inversor (DC/AC) – figura 5 – é<br />
regulada para um valor constante. É de referir que para<br />
baixos valores da velocidade de rotação, a excitação do<br />
gerador não consegue manter o valor de tensão DC referido.<br />
Nessas situações, torna-se necessário recorrer a um<br />
conversor DC/DC (“chopper”) instalado entre a saída do<br />
andar rectificador e o andar DC, de modo a garantir que a<br />
tensão DC se mantém no valor pretendido; para velocidades<br />
de rotação mais elevadas o “chopper” é desligado.<br />
O inversor (lado da rede) é constituído por uma ponte de 6<br />
IGBT (figura 6), controlada por modulação da largura de<br />
impulso (PWM), tornando também possível regular a<br />
injecção de potência activa, bem como a potência reactiva<br />
trocadacom a rede (controlo vectorial). [4]<br />
O custo dos geradores síncronos (convencionais e de imanes<br />
permanentes) é superior ao dos geradores de indução<br />
(aqueles têm maiores dimensões e são mais pesados, para<br />
além de se tratarem de máquinas com particularidades<br />
próprias para aproveitamentos eólicos, tais como, elevado<br />
número de pólos, estatores hexafásicos,...). No entanto, é de<br />
referir a ausência de caixa de velocidades, o que atenua de<br />
forma significativaas diferenças anteriores.<br />
5.2. Rendimentos da Captação Eólica<br />
Obtém-se melhores rendimentos na captação de potência<br />
eólica nos sistemas de velocidade variável, uma vez que,<br />
garantido a proporcionalidade entre a velocidade do rotor da<br />
turbina e a velocidade do vento, o rendimento aerodinâmico<br />
mantém-se no valor máximo em toda a gama de velocidades<br />
da zona 2 da figura 1. Nos sistemas de velocidade constante,<br />
o rendimento máximo ocorre apenas para uma velocidade<br />
do vento fixa. De notar ainda a diminuição do rendimento<br />
das caixas de velocidades e dos conversores de potência<br />
para regimes de carga inferiores ao nominal.<br />
No que se refere aos geradores, nos sistemas com máquinas<br />
síncronas, a ausência de caixa de velocidades (acoplamento<br />
directo) implica naturalmente velocidades rotóricas mais<br />
baixas (na ordem das dezenas de rpm) do que nos geradores<br />
70
ARTIGO TÉCNICO<br />
de indução pelo que os binários desenvolvidos são muito<br />
superiores. Por este motivo, o rendimento nos geradores<br />
síncronos eólicos é inferior ao dos geradores de indução. [2]<br />
5.3. Fiabilidade e manutenção<br />
Os geradores de indução de rotor bobinado e os geradores<br />
síncronos com enrolamento de excitação (clássicos) são<br />
dotados de anéis e escovas. Deste modo, as acções de<br />
manutenção e inspecções periódicas são mais frequentes,<br />
relativamente aos geradores de indução com rotor em gaiola<br />
e geradores síncronos de imanes permanentes.<br />
A inclusão da caixa de velocidades diminui significativamente<br />
a fiabilidade do sistema, fazendo aumentar as operações de<br />
manutenção.<br />
Nos sistemas de velocidade constante, variações bruscas da<br />
velocidade do vento implicam variações do binário<br />
desenvolvido, bastante menores nos sistemas de velocidade<br />
variável. Assim, as turbinas de velocidade constante sofrem<br />
solicitações mecânicas mais intensas, conduzindo a<br />
aumentos de fadiga e manutenção.<br />
6. Tendências Futuras dos 3 Sistemas [2]<br />
Nos últimos anos, os sistemas de velocidade variável têm<br />
vindo a substituir os sistemas de velocidade constante. As<br />
razões encontram-se descritas nas secções anteriores.<br />
Relativamente aos sistemas de velocidade variável baseados<br />
no gerador de indução duplamente alimentado, há a referir,<br />
como vantagens, tratarem-se de máquinas convencionais e o<br />
facto destes sistemas (últimas gerações) terem maior<br />
capacidade de se manterem em funcionamento quando<br />
ocorrem falhas na rede. É igualmente de realçar a<br />
capacidade de contribuição para a estabilidade da tensão e<br />
frequência da rede, através do controlo, respectivamente,<br />
das potências reactiva e activa.<br />
Quanto aos sistemas de velocidade variável baseados em<br />
geradores síncronos, o interesse pelas máquinas de imanes<br />
permanentes tem aumentado nos últimos 10 anos,<br />
essencialmente, pela diminuição do preço dos materiais<br />
magnéticos, tornando-as mais competitivas do ponto de<br />
vista económico. Em relação aos geradores com<br />
enrolamento de excitação, apresentam melhor rendimento –<br />
eliminação das perdas rotóricas – e são mais leves. No<br />
entanto, a capacidade de controlo é menor, uma vez que a<br />
excitação é fixa.<br />
Como referido anteriormente, os geradores síncronos<br />
aplicado a aproveitamentos eólicos apresentam<br />
características próprias. Como tal, o desenvolvimento de<br />
novas configurações de máquinas para acoplamentos<br />
directos (por ex., geradores de fluxo axial e transversal)<br />
reveste-se de elevado interesse, quer na actualidade, quer<br />
no futuro próximo.<br />
Fontes de Informação Relevantes<br />
[1] Castro, Rui M. G., “Introdução à Energia Eólica”, Instituto<br />
Superior Técnico, edição 2, Janeiro de 2004.<br />
[2] Polinder, Henk et al., “Basic Operation Principles and<br />
Electrical Conversion Systems of Wind Turbines”, EPE<br />
Journal, Vol. 15, nº4, December 2005.<br />
[3] CIGRE,TF 38.0110<br />
[4] Ferreira de Jesus, J.M., Castro, Rui M. G., “Equipamento<br />
Eléctrico dos Geradores Eólicos”, Instituto Superior<br />
Técnico,edição 1.0, Abril de 2008.<br />
Como referido, a grande desvantagem reside na necessidade<br />
da caixa de velocidades.<br />
71
DIVULGAÇÃO<br />
LABORATÓRIO DE MÁQUINAS ELÉCTRICAS<br />
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA<br />
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />
O Laboratório de Máquinas Eléctricas (LME) é uma instalação de apoio ao ensino e aos trabalhos de investigação e<br />
desenvolvimento no âmbito dos cursos de Licenciatura e Mestrado de Engenharia Electrotécnica do Departamento de<br />
EngenhariaElectrotécnicado Instituto Superior de Engenharia do Porto.<br />
O LME é utilizado por uma equipa constituída por docentes, técnico e alunos da área dos Sistemas Eléctricos de Energia<br />
(Licenciatura e Mestrado), Electrónica e Computadores (Licenciatura) e Mecânica (Licenciatura), que dispõem de equipamento<br />
técnico e laboratorial que proporciona a realização de ensaios simulados e reais de conversão de energia, que contribui<br />
positivamente para a preparação prática dos estudantes.<br />
Esta infra-estrutura é constituída por equipamentos de controlo (velocidade, binário e posição) e instrumentação que permite a<br />
realização de ensaios de máquinas eléctricas (transformadores, motores e geradores), segundo as normas vigentes, incluindo<br />
variadores de velocidade, sensores dinâmicos de binário, cargas mecânicas dinâmicas e analisadores de qualidade de energia.<br />
TRABALHOS REALIZADOS NO LABORATÓRIO:<br />
• Ensaios de transformadores monofásicos e trifásicos<br />
• Ensaios de máquinas de indução trifásicas<br />
• Ensaios de máquinas síncronas trifásicas<br />
• Ensaios de máquinas de corrente continua<br />
• Ensaios de servomotores<br />
• Ensaios de tracção eléctrica<br />
• Simulação computacional (Matlab) de funcionamento de máquinas eléctricas<br />
Director Laboratório<br />
Doutor António Andrade<br />
|72 72
ARTIGO TÉCNICO<br />
José António Beleza Carvalho, Roque Filipe M. Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
Eficiência Energética<br />
em Equipamentos de Força Motriz<br />
1. Introdução<br />
A produção de energia mecânica, através da utilização de<br />
motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia<br />
eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é<br />
energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é<br />
preciso tentar fazer economias, prioritariamente. O êxito<br />
neste domínio depende, em primeiro lugar, da melhor<br />
adequação da potência do motor à da máquina que ele<br />
acciona. Quando o regime de funcionamento é muito<br />
variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o<br />
motor com um conversor electrónico de variação de<br />
velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores<br />
“de perdas reduzidas” ou de “alto rendimento”, que<br />
permitem economias consideráveis.<br />
Também a nível Europeu, os motores eléctricos representam<br />
uma das fontes mais consumidoras de energia: 70% do<br />
consumo eléctrico na indústria e cerca de 1/3 do consumo<br />
eléctrico no sector dos serviços.<br />
Nos últimos anos, muitos fabricantes de motores investiram<br />
fortemente na pesquisa e desenvolvimento de novos<br />
produtos com o objectivo de colocarem no mercado motores<br />
mais eficientes.<br />
2. Eficiência dos Motores<br />
Os motores eléctricos convertem a energia eléctrica em<br />
energia mecânica. No entanto o rendimento desta conversão<br />
não é de 100%. A energia eléctricaé convertida em energia<br />
73
ARTIGO TÉCNICO<br />
mecânica e em perdas. Estas perdas são devidas aos diversos<br />
elementos que estão presentes na conversão e podem ser<br />
divididas em quatro tipos:<br />
o Perdas eléctricas;<br />
o Perdas magnéticas;<br />
o Perdas mecânicas;<br />
o Perdas parasitas.<br />
As perdas eléctricas são provocadas pela resistência não nula<br />
dos condutores das bobines que ao serem percorridos pela<br />
corrente provocam perdas caloríficas. As perdas magnéticas<br />
ocorrem nas lâminas de ferro do estator e do rotor devido à<br />
histerese e às correntes de Foucault. As perdas mecânicas<br />
são provocadas pela rotação das peças móveis, ventilação e<br />
atrito do ar. As perdas parasitas são devidas a fugas e<br />
irregularidades de fluxo e, também, distribuição de corrente<br />
não uniforme.<br />
Para se quantificar o valor do rendimento de um motor é<br />
necessário conhecer certos parâmetros, tais como as perdas<br />
e a potência mecânica disponibilizada para a carga. Também<br />
é necessário conhecer algumas características da máquina<br />
para que se possa fazer a sua modelização e simulação em<br />
vários regimes de carga. Os testes e estudos a efectuar para<br />
se determinar o rendimento de um motor de indução são<br />
descritos na norma CEI 34-2.<br />
A eficiência de um motor é dada pelo seu rendimento, ou<br />
seja, pela relação entre a quantidade de energia eléctrica<br />
que absorve e a quantidade de energia mecânica que produz<br />
e pode ser calculada pela expressão seguinte.<br />
Pmec<br />
Pmec<br />
η = (%) =<br />
Pabs<br />
Pmec + Pperdas<br />
(1)<br />
Figura 1 – Perdas nos equipamentos de força motriz<br />
Os sistemas de força motriz não são apenas constituídos pelo<br />
motor eléctrico. Outros componentes do sistema, para além<br />
do motor, podem ser o Variador Electrónico de Velocidade, a<br />
Transmissão Mecânica e o Dispositivo de Uso Final. Na<br />
realidade, os equipamentos de força motriz podem integrar<br />
estes 4 módulos, como se ilustra na figura 2. Deve-se actuar<br />
ao nível de cada módulo, de forma a optimizar a eficiência<br />
do sistema global. Neste âmbito, merece particular atenção<br />
a utilização sempre que possível de Variadores Electrónicos<br />
de Velocidade (VEV).<br />
ENERGIA<br />
P entrada<br />
VARIADOR<br />
ELECTRÓNICO<br />
DE VELOCIDADE<br />
(VEV)<br />
MOTOR<br />
TRANSMISSÃO<br />
P ELÉCTRICO<br />
MECÂNICA<br />
VEV<br />
P motor<br />
P trans<br />
DISPOSITIVO<br />
DE USO FINAL<br />
P saída(útil)<br />
P perdas<br />
P perdas<br />
P perdas<br />
P perdas<br />
Figura 2 – Sistemas de Força Motriz<br />
74
ARTIGO TÉCNICO<br />
3. Classificação da Eficiência Energética<br />
Na Europa a classificação dos motores CA (Corrente<br />
Alternada) de baixa tensão foi estabelecida em 1998 com o<br />
acordo dos principais fabricantes de motores Europeus.<br />
De uma forma resumida, o acordo estabelecido entre a<br />
Comissão Europeia (CE) e o Comité Europeu de Fabricantes<br />
de Máquinas Eléctricas e de equipamentos e sistemas de<br />
Electrónica de Potência (CEMEP) estabelecia que os motores<br />
de 1,1 a 90kW de potência nominal, 50 ou 60Hz, com 2 e 4<br />
pólos magnéticos, serão classificados de acordo com os<br />
valores dos respectivos rendimentos.<br />
As classes de rendimento estabelecidas foram as seguintes:<br />
o EFF1: Motores de elevado rendimento;<br />
o EFF2: Motores de rendimento melhorado;<br />
o EFF3: Motores de rendimento normal.<br />
No acordo CE/CEMEP ficou ainda estabelecido que as<br />
vendas, na União Europeia, de motores EFF3 diminuiriam<br />
para metade até 2003. Este objectivo foi alcançado e a venda<br />
de motores EFF3 terminou pouco tempo depois.<br />
Todos os fabricantes que assinaram este acordo estão<br />
autorizados a colocar a etiqueta de eficiência nos motores e<br />
em toda a documentação que os acompanhe, o que torna<br />
mais fácil a identificação da classe do motor.<br />
Figura 4 – Etiquetas de eficiência dos motores.<br />
Com base no acordo voluntário anteriormente referido, foi<br />
também criada uma base de dados europeia EuroDEEM, que<br />
foi projectada pelo centro de pesquisa da Comissão Europeia<br />
(CE/JRC), com o objectivo de reunir num só suporte as<br />
informações mais importantes sobre os motores eléctricos<br />
disponíveis no mercado. Desta forma pretende-se que os<br />
utilizadores desta ferramenta possam fazer uma escolha<br />
bem fundamentada em termos técnicos e económicos dos<br />
seus sistemas (CARLOS GASPAR, 2004).<br />
Figura 3 – Classes de eficiência de motores. [Rennie, 2000]<br />
75
ARTIGO TÉCNICO<br />
A tabela I mostra o rendimento dos motores para cada uma<br />
das classes de eficiência estabelecidas.<br />
4. Características dos motores de elevado rendimento<br />
Actualmente, encontra-se já disponível no mercado os<br />
chamados motores de “perdas reduzidas”, ou de “alto<br />
rendimento”, mais caros que os motores clássicos, mas cuja<br />
utilização se revela rentável quando o seu tempo anual de<br />
utilização for suficientemente longo. Basicamente, o<br />
acréscimo de eficiência dos motores está associado a uma<br />
redução das suas perdas, que foi conseguida à custa, quer da<br />
utilização de materiais construtivos de melhor qualidade e<br />
com melhores acabamentos, quer por alteração das suas<br />
características dimensionais.<br />
Os construtores aumentaram a massa de materiais activos<br />
(cobre e ferro) de forma a diminuir as induções, as<br />
densidades de corrente e, assim, reduzir as perdas no cobre<br />
e no ferro. Utilizam chapas magnéticas de perdas mais<br />
reduzidas, entalhes especiais em certos casos e<br />
reformularam a parte mecânica, com especial incidência<br />
sobre a ventilação, para reduzir a potência absorvida por<br />
esta e diminuir o nível de ruído. Daí resulta, para idêntica<br />
dimensão, um aumento de peso da ordem de 15%, e de<br />
preço da ordem de 20 a 25%. Contudo, a melhoria do<br />
rendimento, compreendida entre 2 e 4,5%, e do cosφ,<br />
permite amortizar rapidamente este aumento de preço. As<br />
melhorias típicas que são efectuadas a nível construtivo da<br />
máquina podem ser visualizadas na figura seguinte e são<br />
resumidas na Tabela II.<br />
kW<br />
1,1<br />
1,5<br />
2,2<br />
3<br />
4<br />
5,5<br />
7,5<br />
11<br />
15<br />
EFF3<br />
2 e 4 pólos<br />
η n (%)<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
Apesar de este tipo de motores possuir uma eficiência<br />
melhorada, quando inseridos num sistema, a eficiência total<br />
do mesmo sistema depende de todos os outros<br />
componentes que o compõem. Por este motivo, não se deve<br />
apenas investir na compra de um motor de elevada<br />
eficiência, quando existirem problemas de eficiência nos<br />
outros componentes do sistema.<br />
5. Estudo económico, em motores de elevado rendimento<br />
Como foi referido anteriormente, a opção por motores de<br />
elevado rendimento acarreta custos de investimentos<br />
sempre superiores ao investimento em motores standard.<br />
Por esse motivo só se torna economicamente vantajosa a<br />
aposta neste tipo de motores quando existe a necessidade<br />
de substituição de um motor ou quando se está a<br />
dimensionar uma nova instalação. Quase nunca a<br />
substituição de um motor standard, a funcionar<br />
correctamente, por um motor de elevado rendimento se<br />
torna economicamente vantajosa. Essa hipótese poderá ser<br />
considerada se o motor tiver um elevado número de horas<br />
de funcionamento anual.<br />
A equação seguinte permite calcular a poupança que se<br />
obtém com um motor de elevado rendimento em<br />
comparação com um motor standard.<br />
⎛ 1<br />
Poupança =<br />
⎜<br />
⎝η<br />
em que,<br />
η EE<br />
η STD<br />
P N<br />
N<br />
€<br />
kWh<br />
representao rendimento do motor standard<br />
(2)<br />
representa o rendimento do motor de elevada<br />
eficiência<br />
STD<br />
1 ⎞<br />
− × PN<br />
× N × €<br />
⎟<br />
η<br />
kWh<br />
EE ⎠<br />
representaa potência nominal do motor<br />
indica o número de horas de funcionamento anual<br />
traduz o preço da energia eléctrica.<br />
Figura 5 – Alterações nos motores de elevado rendimento [WEG]<br />
77
ARTIGO TÉCNICO<br />
O acréscimo de custos dos motores de alto rendimento é<br />
recuperado através da economia de energia eléctrica que<br />
proporcionam. O tempo de recuperação N do investimento<br />
suplementar devido à instalação de motores de alto<br />
rendimento, pode ser calculado através da seguinte<br />
expressão:<br />
∆Ι<br />
N =<br />
∆Ρ.Κ. t<br />
(3)<br />
Apesar de este ser apenas um exemplo e que usa<br />
pressupostos previamente estabelecidos, os valores<br />
encontrados são da mesma ordem de grandeza dos valores<br />
que se podem atingir na realidade. Para qualquer<br />
investimento em motores eléctricos efectuado, pelo menos,<br />
para 10 anos, os modelos de perdas reduzidas são<br />
fortementecompetitivos.<br />
6. Controlo de velocidade dos equipamentos de força motriz<br />
em que,<br />
∆Ι diferençade custos<br />
∆P variação das perdas entre os dois motores<br />
K preço do kWh<br />
t tempo de utilização (horas)<br />
Se por exemplo considerarmos um motor de 30kW a<br />
funcionar à plena carga durante 4000 horas anuais.<br />
Considerando um custo médio para a energia de 0,09€/kWh<br />
e que o rendimento dos motores EFF1 e EFF3 é<br />
respectivamente 93,2% e 91,4%, então a poupança anual de<br />
energia é de cerca de 228,2 €.<br />
Considerando agora que a diferença de preço entre os dois<br />
motores é de 450€, então tempo de recuperação do capital<br />
devido à instalação do motor de elevado rendimento é de<br />
aproximadamente2 anos.<br />
Uma grande parte das aplicações em que se utiliza força<br />
motriz beneficiaria, em termos de consumo de electricidade<br />
e desempenho global, se a velocidade do motor se ajustasse<br />
às necessidades do processo. As aplicações com carga<br />
variável ou parcial representam cerca de 60% das aplicações<br />
de força motriz na indústria, e 80% no sector terciário.<br />
Assim, adaptar a velocidade do motor à carga conduz em<br />
geral a uma poupança substancial de energia. Os sistemas<br />
mais eficientes e mais utilizados no controlo e regulação de<br />
velocidade dos equipamentos de força motriz são os<br />
VariadoresElectrónicosde Velocidade(VEV).<br />
Os VEVs convertem a tensão alternada da rede de 50 Hz<br />
numa tensão contínua e em seguida numa tensão com<br />
frequência variável sob controlo externo do utilizador que<br />
pode ir de 0 a 150 Hz consoante o tipo de aplicações. Na<br />
figura 6 apresenta-se a estrutura de blocos de um VEV para<br />
um motor assíncrono de indução trifásico.<br />
Ligação DC linkDC<br />
3φ<br />
Alimentação AC<br />
trifásica input<br />
Rectificador<br />
CA<br />
AC<br />
para CC<br />
to DC<br />
converter<br />
Filtro<br />
Filter<br />
Inverter:<br />
DC to<br />
Inversor<br />
variable<br />
CC para CA<br />
voltage com<br />
&<br />
frequency<br />
AC<br />
Frequência e<br />
tensão variável<br />
Motor<br />
Motor<br />
Figura 6– Diagrama de blocos de um Variador Electrónico de Velocidade<br />
78
ARTIGO TÉCNICO<br />
As principais vantagens inerentes à utilização de um VEV são<br />
as seguintes:<br />
o Elevado rendimento (96 a 98%) e elevada fiabilidade<br />
o Elevado factor de potência<br />
o Adaptaçãodo motor à carga , em binário e velocidade<br />
o Arranques suaves (poupança de energia) e frenagem<br />
controlada<br />
o Protecção do motor contra curto-circuitos, sobrecargas,<br />
sobretensões, falta de fase, etc. Vantagem técnica e<br />
económica<br />
o Poupança substancial de energia e tempo de retorno do<br />
investimento reduzido, especialmente em aplicações de<br />
controlo da caudais de bombas, ventiladores e<br />
compressorescentrífugos<br />
o Menor desgaste de componentes e equipamentos<br />
mecânicos.<br />
7. Transmissão Mecânica nos Equipamentos de Força<br />
Motriz<br />
Tipicamentesão usados 3 tipos de transmissão mecânica:<br />
o Acoplamentosdirectos no veio;<br />
o Engrenagens;<br />
o Correias.<br />
Os acoplamentos directos no veio são o tipo de transmissão<br />
mais utilizado (cerca de 50% das aplicações).<br />
Acoplamentos directos:<br />
Os acoplamentos directos, se forem alinhados com precisão,<br />
possuem um rendimento muito elevado (99%).<br />
Engrenagens:<br />
As engrenagens simples ou redutoras, são tipicamente<br />
utilizados em cargas que requerem velocidades baixas<br />
(abaixo de 1200 rpm) e binário muito elevado (que utilizando<br />
correias poderia resultar em escorregamento). Existem<br />
vários tipos de engrenagens: helicoidais, de dentes direitos,<br />
cónicase com sem-fim.<br />
Correntes:<br />
Tal como as correias síncronas, as correntes não têm<br />
deslizamento. Normalmente são usadas em aplicações onde<br />
é requerido uma velocidade reduzida e binário elevado,<br />
suportam ambientes com temperaturas elevadas e cargas de<br />
choque e têm um tempo de vida elevado se forem<br />
apropriadamente lubrificadas. O seu rendimento ascende<br />
aos 98% se forem sujeitas a uma manutenção periódica.<br />
(c)<br />
(a)<br />
(b)<br />
(d)<br />
(e)<br />
Figura 7 – Transmissão Mecânica em equipamentos de força motriz.<br />
79
ARTIGO TÉCNICO<br />
Correias:<br />
Estas permitem mais flexibilidade no posicionamento do<br />
motor em relação à carga, e usando polias de diferentes<br />
tamanhos permitem reduzir/aumentar a velocidade. Existem<br />
vários tipos de correias: (a) Correias em V, (b) Correias com<br />
dentes, (c) correias síncronas, (d) correias lisas.<br />
sua utilização. Como se demonstrou neste artigo, os ganhos<br />
de eficiência com os motores de alto rendimento, vão desde<br />
1% a 5%, o que se pode traduzir por importantes reduções<br />
do seu consumo eléctrico; contudo, pela sua concepção, são<br />
naturalmente motores que exigem um investimento inicial<br />
superior ao dos motores standard (cerca de 25% a 30%).<br />
Face a este acréscimo de custos de investimento, é<br />
conveniente efectuar-se uma análise económica prévia;<br />
pode no entanto, considerar-se tipicamente que, em<br />
situações de aquisição de novos motores, a sua utilização é<br />
normalmente justificada, sendo o sobrecusto amortizado em<br />
1 a 2 anos, para um período de laboração da ordem das 4000<br />
h/ano, e em cerca de 3 anos, para 2000 h/ano de<br />
funcionamento.<br />
Atender às necessidades de manutenção dos motores, que<br />
são essencialmente a limpeza da carcaça, a fim de reduzir a<br />
temperatura,e nalguns casos a lubrificaçãodos rolamentos.<br />
Figura 8 – Tipos de correias: 1-correias trapezoidais 2-<br />
correias síncronas<br />
8. Considerações Finais<br />
A produção de energia mecânica, através da utilização de<br />
motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia<br />
eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é<br />
energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é<br />
preciso tentar fazer economias, prioritariamente. Como se<br />
apresentou neste artigo, os pontos fundamentais em que se<br />
deve intervir são os seguintes:<br />
o Dimensionar correctamente os equipamentos de força<br />
motriz, fazendo os motores funcionar com cargas da<br />
ordem dos 70 a 80%.<br />
o Adaptar a velocidade do motor às necessidades do<br />
processo, utilizando sempre que necessário dispositivos<br />
electrónicosde variação de velocidade.<br />
o Utilizar os novos motores de “alto rendimento”, que já<br />
provaram a sua competitividade apesar do seu custo<br />
superior, devendo-se ponderar sempre que necessário a<br />
Fontes de Informação Relevantes<br />
- BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO,<br />
Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz.<br />
Jornadas Luso-Brasileiras de Ensino e Tecnologia em<br />
Engenharia. ISEP, Porto, Fevereiro de 2009.<br />
- BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.,<br />
Efficient Use of Electrical Energy in Industrial<br />
Installations. 4TH European Congress Economics and<br />
Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de<br />
2007.<br />
- CARLOS GASPAR, Eficiência Energética na Industria-<br />
ADENE,Cursos de UtilizaçãoRacional de Energia, 2004.<br />
- GARCIA, A. G. Impacto da Lei de Eficiência Energética<br />
para Motores Eléctricos no Potencial de Conservação de<br />
Energia na Indústria. 2003. Dissertação (Mestrado em<br />
Planeamento Energético) - Universidade Federal do Rio<br />
de Janeiro-COPPE,Rio de Janeiro.<br />
- IAN RENNIE, Improving Motor Efficiency for a Better<br />
Environment . ABB Review, 1/2000.<br />
- WEG, Catálogo de Motores Eléctricos, disponível em<br />
http://www.weg.com.br/.<br />
80
ARTIGO TÉCNICO<br />
Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
Veículos Eléctricos<br />
Características e Tipos de Motores<br />
RESUMO<br />
Os impactos ambientais e económicos dos combustíveis<br />
fósseis têm uma forte proveniência do sector dos<br />
transportes. Este facto tem motivado, nas últimas décadas,<br />
um aumento do desenvolvimento dos veículos eléctricos,<br />
principalmente, das soluções híbridas. Tais desenvolvimentos<br />
resultam da integração de diversos domínios da engenharia,<br />
sendo de destacar os novos materiais e concepções de<br />
motores eléctricos, a electrónica de potência, os sistemas de<br />
controloe os sistemas de armazenamento de energia.<br />
obtidos no motor de combustão interna – maiores potências<br />
e mais baratos, com menores custos de produção [1].<br />
As sucessivas crises energéticas nos finais do século XX, as<br />
crescentes preocupações ambientais e a tomada de<br />
consciência dos limites das reservas de combustíveis fósseis<br />
colocaram em evidência os veículos eléctricos como<br />
alternativa aos transportes convencionais. Paralelamente, o<br />
sector dos transportes é responsável por enormes<br />
quantidades de energia consumida, cujos valores aumentam<br />
consideravelmentetodos os anos.<br />
Neste artigo procura-se apresentar as principais<br />
características dos sistemas de propulsão eléctrica actuais.<br />
Começa-se fazer uma comparação entre os veículos<br />
eléctricos e os convencionais, baseados nos motores térmicos<br />
de combustão interna. Pela sua importância, é feita uma<br />
referência sucinta aos sistemas de armazenamento de<br />
energia.<br />
São comparadas as características da propulsão eléctrica e<br />
térmica, sob a perspectiva das exigências dos sistemas de<br />
tracção. São referidos os principais tipos de sistemas de<br />
propulsão eléctrica (motor, conversor e controlador),<br />
vantagens e desvantagens relativas.<br />
Por último, uma abordagem acerca das tendências futuras<br />
dos veículos eléctricos.<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Em particular, nos meios urbanos, a substituição dos meios<br />
de transporte actuais por veículos eléctricos trará enormes<br />
reduções nos níveis de poluição atmosférica, bem como nos<br />
índices de ruído.<br />
Também em termos gerais, as emissões das centrais<br />
eléctricas, baseadas em combustíveis fósseis, associadas à<br />
generalização dos veículos eléctricos serão muito inferiores<br />
ao somatório das emissões dos motores de combustão<br />
interna, actualmente em circulação.<br />
As razões assentam nos rendimentos muito superiores dos<br />
motores eléctricos, bem como na capacidade de efectuarem<br />
frenagensregenerativas.<br />
Neste cenário, é de referir também o contributo das fontes<br />
renováveis de energia eléctrica na redução das emissões de<br />
poluentespara a atmosfera.<br />
Embora o tema dos veículos eléctricos tenha conhecido uma<br />
divulgação alargada, sobretudo nas duas últimas décadas,<br />
não se trata de uma novidade propriamente dita. No final<br />
do século XIX eram relativamente populares e, até finais da<br />
década de 1910, as suas vendas tiveram alguma expressão.<br />
Somente a partir da década de 30, os veículos eléctricos<br />
desapareceram, devido aos desenvolvimentos<br />
A tabela 1 apresenta uma comparação entre veículos<br />
eléctricos e convencionais (baseados em motores térmicos)<br />
[2].<br />
A proliferação dos veículos eléctricos será ditada pela<br />
aceitação dos utilizadores dos actuais meios de transportes<br />
(nos designados países desenvolvidos trata-se da<br />
generalidade dos seus cidadãos).<br />
81
ARTIGO TÉCNICO<br />
Tabela 1 – Características de Veículos Eléctricos e Convencionais<br />
Veículos Eléctricos<br />
Veículos c/ Motores Térmicos<br />
Tipo de Motor Motor Eléctrico Motor de Combustão Interna<br />
Fonte de Energia<br />
Peso Próprio<br />
Transmissão de Potência<br />
Baterias, super condensadores,<br />
células de combustível<br />
Elevado (fundamentalmente,<br />
devido às baterias)<br />
Pode prescindir de caixa de<br />
velocidades<br />
Gasolina e Gasóleo<br />
Leves, em termos comparativos<br />
Sistema de Engrenagens (caixa<br />
de velocidades)<br />
Frenagem Regenerativa Dissipativa<br />
Rendimento Elevado Baixo<br />
Impactos Ambientais Reduzidos Elevados<br />
Custo Inicial Elevado Médio<br />
Custos de Manutenção Reduzidos Muito Elevados<br />
Tal significa que, no mínimo, os veículos eléctricos têm de<br />
apresentar características semelhantes às dos actuais,<br />
baseados em motores térmicos, tais como: segurança,<br />
conforto, fiabilidade, robustez e desempenhos, com preços<br />
competitivos.<br />
Para tal, muito têm contribuído os progressos obtidos, nos<br />
últimos anos, nos seguintes domínios: electrónica de<br />
potência (novas arquitecturas de conversores), máquinas<br />
eléctricas (novas concepções de motores e evolução dos<br />
materiais), sistemas de controlo (gestão optimizada dos<br />
fluxos de energia, com bons desempenhos na tracção) e<br />
sistemasde armazenamento de energia.<br />
2. CARACTERÍSTICAS DOS VEÍCULOS ELÉCTRICOS<br />
Em termos básicos, um veículo eléctrico assenta na<br />
integraçãodos seguintes componentes (Figura 1):<br />
- sistema de gestão de energia;<br />
- sistema de armazenamento de energia;<br />
- sistema de propulsão eléctrica.<br />
2.1. Sistema de Gestão de Energia<br />
O sistema de gestão de energia (implementado pelo<br />
controlador) assume importância fundamental, uma vez que<br />
o fluxo de energia, quer no “modo motor” – baterias→<br />
motor, quer no “modo regenerativo” – motor→ baterias,<br />
deverá ter sempre associadoelevados rendimentos.<br />
No funcionamento em modo regenerativo (períodos de<br />
desaceleração do veículo), a diminuição da energia cinética<br />
do veículo não se traduz em dissipação, mas antes em<br />
armazenamentode energia.<br />
2.2. Sistema de Armazenamento de Energia<br />
Actualmente, na questão da autonomia dos veículos<br />
eléctricosreside o seu principal ponto fraco.<br />
Este facto explica a razão da generalidade dos fabricantes de<br />
automóveis disponibilizarem apenas veículos híbridos<br />
(motor térmico + motor(es) eléctrico(s)).<br />
82
ARTIGO TÉCNICO<br />
-<br />
Figura 1 – Estrutura de um Veículo Eléctrico (baseado em [3])<br />
Não obstante a necessidade de grandes melhorias nas<br />
características dos sistemasde armazenamentode energia,<br />
há a registar evoluções importantes nos últimos anos.<br />
Embora se afaste do tema principal a tratar neste artigo, é<br />
feita, em seguida, uma breve referência ao estado actual<br />
daquelessistemas [2], [4].<br />
As principais característicasdestessistemas são:<br />
- energia específica(Wh/Kg);<br />
- potênciaespecífica(W/Kg);<br />
- densidadede energia (Wh/volume);<br />
- densidadede potência (W/volume);<br />
- vida útil (nº de ciclos);<br />
- temperaturade funcionamento;<br />
- custo.<br />
a) Baterias<br />
Têm valores de energia específica superiores aos super<br />
condensadorese inferiores às células de combustível.<br />
No que se refere à potência específica, são inferiores aos<br />
primeiros mas têm valores superiores aos das células de<br />
combustível.<br />
São de referir os desenvolvimentos nas baterias baseadas<br />
em níquel (Ni) e iões de lítio (Li), principalmente nestas<br />
últimas (elevada densidade de energia).<br />
b) Super Condensadores<br />
Apresentam valores muito elevados de potência específica.,<br />
no entanto, têm valores baixos de energia específica, pelo<br />
que são usados como complemento das baterias ou células<br />
de combustível.<br />
Têm tempos de carga muito curtos.<br />
Possuem características importantes para permitir bons<br />
comportamentos dinâmicos (potência suficiente para as<br />
acelerações e capacidade de recuperação de energia nas<br />
frenagens).<br />
Têm ciclos de funcionamento mais elevados do que as<br />
baterias.<br />
83
ARTIGO TÉCNICO<br />
c) Células de Combustível<br />
Estes sistemas produzem energia eléctrica, através da<br />
reacção química do hidrogénio e oxigénio, sendo o vapor de<br />
água o único produto da reacção.<br />
A Figura 2 ilustra a sua constituição:<br />
- motor eléctrico;<br />
- conversor de potência;<br />
- - controlador;<br />
- sistema de transmissãomecânica.<br />
O seu impacto ambiental é nulo, apresentado rendimentos<br />
elevados. Têm elevados valores de energia específica<br />
(superiores aos das baterias e super condensadores), mas<br />
baixos valores de potência específica (inferiores aos<br />
daqueles).<br />
As exigências impostas pelos veículos eléctricos implicam<br />
motores com características particulares, sendo de destacar:<br />
elevadas densidades de potência e de binário, rendimentos<br />
altos em diferentes regimes de carga (não apenas o nominal)<br />
e custos moderados.<br />
Continuam a ser alvo de pesquisas, com vista a melhorar as<br />
suas característicase custos.<br />
O sistema de propulsão eléctrica deverá permitir dispor de<br />
elevadas potências instantâneas, com bons rendimentos, em<br />
todos os modos de funcionamento[3], [5].<br />
2.3. Sistema de Propulsão Eléctrica<br />
Os sistemas de propulsão eléctrica (“drives”) apresentam<br />
estruturas semelhantes às das “drives” industriais, em uso há<br />
já vários anos. No entanto, atendendo às especificidades dos<br />
veículos eléctricos – arranques e paragens sucessivas,<br />
regimes de carga e condições ambientais distintas, etc. –, as<br />
suas características são, em geral, muito diferentes das<br />
“drives” industriais [5]. É sobre este sistema que se procurará<br />
incidir com mais detalhe.<br />
Na Figura 3 estão representadas as características mecânica<br />
(T el (n r )) e de potência (P el (n r )) típicas dos sistemas de<br />
propulsãoeléctrica.<br />
Está também incluída a característica mecânica típica de um<br />
motor térmico (tracejado).<br />
É visível a excelente adaptação dos sistemas eléctricos aos<br />
requisitosde qualquer veículo de tracção.<br />
84<br />
Figura 2 – Estrutura Básica do Sistema de Propulsão Eléctrica (setas a cinzento: fluxo de energia)
ARTIGO TÉCNICO<br />
Actualmente,as principais escolhas são as seguintes:<br />
- Motor de Corrente Contínua (DC);<br />
- Motor de Indução Trifásico;<br />
- Motor Síncrono de Ímanes de Permanentes;<br />
- Motor “Brushless”DC;<br />
- Motor de RelutânciaComutada.<br />
3.1. Motor de Corrente Contínua (DC)<br />
Figura 3 – Características de Veículos Eléctricos e Convencionais<br />
No sistema eléctrico são obtidos elevados binários nas baixas<br />
velocidades; normalmente, acima da velocidade nominal do<br />
motor, o binário desenvolvido decresce, mantendo-se<br />
aproximadamente constante a potência desenvolvida. Esta<br />
zona de funcionamento – zona de enfraquecimento do<br />
campo – é crucial em termos da gama de velocidades<br />
permitida. É, pois, uma zona importante do funcionamento<br />
dos motores eléctricos dos sistemas de propulsão [3].<br />
Comparando com a característica de um motor de<br />
combustão, há a salientar que o binário desenvolvido no<br />
arranque é inferior neste último.<br />
A zona de funcionamento com potência constante é<br />
conseguida, no caso dos motores térmicos, somente com a<br />
inclusão de um sistema de transmissão múltipla, não sendo<br />
necessárionos sistemas eléctricos.<br />
De notar também que o valor nominal da potência do motor<br />
de combustão é necessariamente mais elevado, ou seja, um<br />
veículo eléctrico cujo funcionamento está circunscrito à zona<br />
das baixas velocidades, terá associado um motor com menor<br />
potêncianominal [6].<br />
3. TIPOS DE SISTEMAS DE PROPULSÃO ELÉCTRICA<br />
Historicamente, o início da tracção eléctrica esteve<br />
intimamenteassociado ao motor série (DC).<br />
As razões prendem-se com a sua característica mecânica,<br />
vocacionada para as exigências inerentes aos sistemas de<br />
tracção, e com a simplicidade dos respectivos sistemas de<br />
controlo e da sua implementação (controlo independente do<br />
campo magnético e do binário).<br />
São também de referir a utilização de outras variantes<br />
clássicasde motores DC: excitação independente e “shunt”.<br />
No entanto, os motores de corrente contínua convencionais<br />
apresentam rendimentos relativamente baixos, bem como<br />
baixas densidades de potência, para além de exigirem<br />
elevados níveis de manutenção (fiabilidade reduzida). Para<br />
tal, muito contribui a existência do sistema colector/escovas,<br />
o qual impõe também limites nas velocidades.<br />
Em certos casos, são usados motores DC de ímanes<br />
permanentes (não têm enrolamento de excitação, este é<br />
substituídopor ímanes permanentes).<br />
Embora apresentem melhores rendimentos, não eliminam<br />
os inconvenientes do comutador mecânico (colector), para<br />
além das limitações de potência e preço, associados aos<br />
ímanes permanentes. A título de exemplo [7]: carro de golfe,<br />
sem controlo no modo de enfraquecimento de campo<br />
(apenasbaixas velocidades).<br />
Os sistemas de propulsão eléctrica são caracterizados pelo<br />
tipo de motor associado.<br />
85
ARTIGO TÉCNICO<br />
Normalmente, ambos os enrolamentos dos motores DC são<br />
equipados com conversores de potência – “Choppers”<br />
baseados em MOSFET’s (Metal Oxide Semiconductor Field-<br />
Effect Transistor) –, permitindo o funcionamento em modo<br />
regenerativo (conversor ligado à armadura) e na zona de<br />
enfraquecimento de campo (conversor ligado à excitação)<br />
[7].<br />
A capacidade de processamento necessária à implementação<br />
dos sistemas de controlo por orientação de campo é elevada,<br />
uma vez que estes se baseiam em modelos dinâmicos do<br />
motor, fortemente não lineares, expressos em referenciais<br />
distintos. Também a variação dos parâmetros do motor (em<br />
particular, a resistência rotórica) tem importância<br />
determinantena eficácia destes sistemas de controlo.<br />
Os avanços verificados na electrónica de potência<br />
(principalmente, a partir da década de 80 do século<br />
passado), permitiram a implementação de sistemas de<br />
controlo para máquinas de corrente alternada (AC), embora<br />
mais complexos do que no caso DC.<br />
Uma vez que são motores com concepções mais simples e<br />
robustas (menor manutenção e preço), com maiores<br />
densidades de potência e rendimentos, tornaram-se<br />
preferenciaisaos tradicionaissistemas DC.<br />
Os conversores de potência mais utilizados baseiam-se em<br />
IGBT´s (Insulated Gate Bipolar Transistor), sendo as tensões<br />
aplicadas ao motor obtidas por modulação de largura de<br />
impulsos (PWM).<br />
Os sistemas de controlo são actualmente baseados em<br />
processadoresdigitaisde sinal (DSP).<br />
A Figura 4 apresenta a estrutura dos inversores mais<br />
comuns.<br />
3.2. Motor de Indução Trifásico<br />
São muito utilizados, atendendo à sua simplicidade<br />
construtiva e robustez, principalmente a variante em gaiola<br />
de esquilo, apresentando rendimentos mais elevados<br />
relativamenteaos motores DC.<br />
Embora não possuam características naturais para a tracção<br />
eléctrica, a implementação de sistemas baseados no<br />
controlo vectorial – controlo por orientação de campo –<br />
permitiram melhorar os desempenhos dinâmicos deste tipo<br />
de motores, possibilitando o funcionamento nas duas zonas<br />
indicadas na Figura 3: binário constante e potência<br />
constante.<br />
O controlo por orientação de campo assenta numa filosofia<br />
semelhante à dos motores DC (controlo independente do<br />
fluxo e do binário). No entanto, a sua implementação é<br />
muito mais complexa, uma vez que, no motor de indução<br />
trifásico não existe um circuito próprio para a excitação –<br />
ausência de “desacoplamento” natural das grandezas físicas<br />
(correntes) que controlam o campo magnético e o binário.<br />
Figura 4 – Inversor de Motor de Indução Trifásico<br />
(setas a vermelho: semicondutores de potência controlados)<br />
Como referido, aos comportamentos dinâmicos exigidos,<br />
acresce também os elevados rendimentos associados aos<br />
fluxos de energia – modo motor e frenagem regenerativa.<br />
São características fundamentais a garantir pelos sistemas de<br />
controlo, que continuam a ser alvo de investigação.<br />
3.3. Motor Síncrono de Ímanes de Permanentes<br />
Estes motores, designados na literatura anglo-saxónica por<br />
“permanent magnet brushless AC motors”, apresentam uma<br />
configuração estatórica semelhante à das máquinas AC<br />
polifásicasconvencionais.<br />
86
ARTIGO TÉCNICO<br />
A principal diferença reside no rotor, onde o enrolamento de<br />
excitação não existe, bem como o sistema de anéis e<br />
escovas, sendo substituído por ímanes permanentes com<br />
elevadas densidades de energia, em resultado dos<br />
progressosobtidos nas últimas décadas neste domínio.<br />
Onde:<br />
Ld coeficiente de auto-indução longitudinal do enrolamento<br />
induzido;<br />
Lq coeficiente de auto-indução transversal do enrolamento<br />
induzido.<br />
Actualmente, são de destacar os ímanes baseados em<br />
elementos de terras raras, em particular, ligas de neodímio,<br />
ferro e boro (Nd-Fe-B).<br />
Relativamente aos motores síncronos convencionais, têm<br />
maiores densidades de potência (redução de peso e<br />
volume), melhores rendimentos (eliminação das perdas<br />
rotóricas), maior robustez e fiabilidade (ausência de anéis e<br />
escovas).<br />
Em relação a estas últimas, estão ao nível dos motores de<br />
indução trifásicos, tendo ainda melhores rendimentos e<br />
maiores densidades de potência [8].<br />
A Figura 5 apresenta dois cortes seccionais de configurações<br />
destesmotores.<br />
Deste modo, o binário desenvolvido tem duas componentes:<br />
uma resultante da interacção do campo magnético fixo e do<br />
campo de reacção do induzido; uma segunda componente<br />
resultantedo binário de anisotropia.<br />
Assim, na zona de funcionamento com binário constante<br />
(baixas velocidades) – Figura 3 – são obtidos elevados<br />
valores de binários.<br />
Estessão motores com elevadas densidades de binário.<br />
Os conversores de potência mais usuais assemelham-se aos<br />
anteriores, com tensões de alimentação reguladas pela<br />
tecnologiaPWM.<br />
Os sistemas de controlo são baseados no controlo vectorial –<br />
controlo do ângulo de binário.<br />
Figura 5 – Motor Síncrono de Ímanes Permanentes [8]<br />
A presença do campo constante do rotor não torna possível<br />
o funcionamento no modo de enfraquecimento de campo,<br />
através dos sistemas de controlo usuais nas máquinas<br />
síncronas convencionais. Assim, o funcionamento na zona de<br />
velocidades elevadas (Figura 3) implica controlar a<br />
componente desmagnetizante do campo de reacção do<br />
induzido, em fase com a posição do campo rotórico<br />
(componentelongitudinal – eixo d).<br />
Os ímanes são colocadosno interior da estrutura rotórica.<br />
Por um lado, torna possíveis velocidades mais elevadas, uma<br />
vez que a fixação dos ímanes permite suportar forças<br />
centrifugas mais elevadas; por outro lado, esta configuração<br />
dota este tipo de motores de características anisotrópicas<br />
(Ld≠Lq),mais concretamente,anisotropia inversa (Ld
ARTIGO TÉCNICO<br />
3.4. Motor “Brushless” DC<br />
Do ponto de vista construtivo, este tipo de motores têm uma<br />
estruturasemelhante aos motores DC convencionais, sendo<br />
eliminados o enrolamento da armadura e o sistema<br />
colector/escovas.<br />
As características referidas das correntes estatóricas, bem<br />
como a comutação electrónica, implicam a inclusão de<br />
conversoresde potência e sistemas de controlo dedicados.<br />
Estes últimos são bastante mais simples do que no caso dos<br />
motores síncronos de ímanes permanentes [8], [9].<br />
No rotor são colocados ímanes permanentes, à semelhança<br />
dos motores anteriores.<br />
Os enrolamentos do estator são alimentados por uma fonte<br />
exterior, sendo através destes que se dá a entrada de<br />
energia eléctrica.<br />
Há dois aspectos fundamentaisa referir:<br />
- A função de comutação do colector/escovas é<br />
substituída por um sistema de comutação electrónica: a<br />
comutação das correntes nos enrolamentos do estator é<br />
feita em função do conhecimento, em cada instante, da<br />
posição do campo magnético rotórico. Normalmente,<br />
são utilizados sensores de efeito de Hall para este fim.<br />
- Atendendo à configuração deste tipo de motores, a<br />
distribuição espacial do campo magnético do rotor no<br />
entreferro é, em cada instante, do tipo rectangular (mais<br />
precisamente, trapezoidal). As correntes que circulam<br />
nos enrolamentos estatóricos têm uma evolução<br />
temporal do tipo rectangular (trapezoidal). Em<br />
comparação com distribuições de campos magnéticos e<br />
correntes sinusoidais, com os mesmos valores de pico<br />
(motores anteriores), os binários desenvolvidos são<br />
consideravelmente mais elevados, atendendo aos<br />
maiores valores eficazes. No entanto, existirá uma maior<br />
componentealternada no binário desenvolvido.<br />
Deste modo, para além das vantagens comuns aos motores<br />
síncronos de ímanes permanentes – robustez, fiabilidade,<br />
elevados rendimentos – há a salientar as elevadas<br />
densidades de potência, superiores às dos motores<br />
anteriores.<br />
3.5. Motor de Relutância Comutada<br />
Estes motores são muito semelhantes aos motores de passo<br />
de relutância variável, necessitando de um conversor e<br />
controladordedicados.<br />
Com efeito, os enrolamentos do estator são alimentados<br />
com impulsos de corrente (uma fase de cada vez), em função<br />
da posição do rotor, o que implica também a inclusão de<br />
sensoresde posicionamentorotórico.<br />
Apresentam uma construção simples, robusta e fiável, à<br />
semelhançados motores AC anteriores.<br />
A Figura 6 apresenta um corte seccional de uma<br />
configuraçãoreal deste tipo de motor.<br />
Figura 6 – Motor Trifásico de Relutância Comutada ( 6 pólos no<br />
estator e 4 pólos no rotor) [10]<br />
Os circuitos magnéticos do estator e do rotor são formados<br />
por empilhamentos de chapas de materiais ferromagnéticos.<br />
Os enrolamentos do estator são colocados em torno dos<br />
respectivos núcleos polares. De notar que na estrutura<br />
rotórica (pólos salientes) não existem enrolamentos nem<br />
ímanes permanentes.<br />
88
ARTIGO TÉCNICO<br />
Tal como os motores “brushless” DC, caracterizam-se por<br />
distribuições de campo no espaço rectangulares. São<br />
máquinas anisotrópicas, cujo princípio de funcionamento<br />
assentano desenvolvimento de um binário de relutância.<br />
Apresentam excelentes características para a tracção –<br />
binários muito elevados nas baixas velocidades e zona de<br />
funcionamento com potência constante caracterizada por<br />
intervalosalargados de velocidades.<br />
Os conversores de potência utilizados apresentam<br />
características próprias: usualmente, existem dois<br />
semicondutores de potência por fase (por ex., IGBT´s,<br />
MOSFET´s), o que poderá implicar um elevado número de<br />
semicondutores no conversor, no caso de motores com<br />
elevado número de fases. No entanto, como as correntes do<br />
estator têm forma rectangular (trapezoidal), as perdas de<br />
comutação nestes conversores são bastante inferiores às<br />
que ocorrem nos motores de indução e síncronos de ímanes<br />
permanentes. Isto permite a utilização de semicondutores<br />
com valores nominais mais baixos, podendo compensar o<br />
acréscimo do número.<br />
Os sistemas de controlo são bastante complexos, atendendo<br />
aos níveis de saturação que ocorrem no circuito magnético,<br />
particularmente,nas extremidades dos pólos do estator.<br />
O binário desenvolvido não é constante; existe uma<br />
componente alternada (“ripple”), principalmente nas<br />
velocidades baixas, que tende a diminuir com o número de<br />
fases do motor. Uma outra desvantagem é o ruído acústico.<br />
Aqui, as componentes mecânicas do motor têm também um<br />
papel importante na sua diminuição [10].<br />
3.6. Análise Comparativa dos Diferentes Sistemas<br />
Pelas razões já apresentadas, a utilização dos motores DC<br />
convencionais nos veículos eléctricos encontra-se cada vez<br />
mais limitada, praticamente nas aplicações de pequena<br />
potência.<br />
Como tal, far-se-á em seguida, uma síntese das<br />
características dos sistemas baseados em motores AC,<br />
anteriormenteapresentados.<br />
a) Robustez e simplicidade<br />
Os sistemas com motores de indução trifásico e de relutância<br />
comutada apresentam maior robustez e fiabilidade, com<br />
menor necessidadede operações de manutenção.<br />
b) Rendimento, densidade de Potência e binário<br />
Os motores de ímanes permanentes têm os melhores<br />
rendimentos, bem como densidades de potência e binário,<br />
em particular, o motor “brushless” DC. De destacar também<br />
o motor de relutância comutada em termos de densidade de<br />
binário.<br />
c) Custo<br />
Os motores de ímanes permanentes são os mais caros,<br />
essencialmente,devido ao custo dos ímanes permanentes.<br />
d) Conversores de potência e sistema de controlo<br />
Os conversores dos motores de indução trifásicos e dos<br />
motores síncronos de ímanes permanentes apresentam<br />
estruturas semelhantes; os seus sistemas de controlo<br />
assentam no controlo vectorial, embora nos primeiros<br />
(controlo por orientação de campo) a sua implementação<br />
seja mais complexa, atendendo à influência que a variação<br />
dos parâmetros do motor tem na sua eficácia. Nos motores<br />
de ímanes permanentes, o funcionamento no modo de<br />
enfraquecimento de campo implica a utilização de<br />
estratégiaspróprias.<br />
Os conversores dos motores de relutância comutada<br />
incluem, normalmente, um maior número de<br />
semicondutores de potência (interruptores controlados),<br />
considerando o mesmo número de fases. Atendendo às não<br />
linearidades do circuito magnético destes motores, os<br />
sistemasde controlo são bastante complexos.<br />
e) Desempenhos<br />
Os motores DC “brushless” e os motores de relutância<br />
comutada desenvolvem binários mais elevados nas baixas<br />
velocidades, com grandes intervalos de velocidade no<br />
89
ARTIGO TÉCNICO<br />
funcionamento com potência constante. Apresentam<br />
excelentes desempenhos dinâmicos, podendo prescindir da<br />
caixa de velocidades.<br />
Como foi referido, a classificação dos sistemas DC, com base<br />
nos critérios apresentados, é muito inferior à dos sistemas<br />
AC, com excepção para os custos e conversores de potência.<br />
A aceitação e proliferação dos veículos eléctricos<br />
dependerão de múltiplos factores, sendo de destacar os<br />
sociais, ambientais, económicos e tecnológicos. O papel dos<br />
estados de cada país (por ex., através de incentivos fiscais<br />
para aquisição de veículos eléctricos) e dos fabricantes de<br />
automóveis (segurança, fiabilidade, conforto, desempenhos)<br />
assumirá importância crucial.<br />
4. CONCLUSÕES<br />
Os constrangimentos energéticos presentes nas últimas<br />
décadas, quer ao nível da limitação de recursos, quer pelos<br />
impactos ambientais associados às fontes convencionais,<br />
tornam as alternativas de transportes baseadas na propulsão<br />
eléctricacada vez mas consistentes.<br />
Os motores DC foram os primeiros a ser aplicados na tracção<br />
eléctrica, devido às suas características naturais e<br />
simplicidade dos sistemas de controlo. Os elevados níveis de<br />
manutenção exigidos, densidades de potência e<br />
rendimentos relativamente baixos, a par da evolução dos<br />
conversores de potência e sistemas de controlo de motores<br />
AC, conduziram à preferência por estes últimos.<br />
O motor de indução trifásico, amplamente utilizado no<br />
sector industrial pela sua robustez, fiabilidade e custo, é<br />
também uma opção clara para a tracção, atendendo aos<br />
bons desempenhos dinâmicos conseguidos através do<br />
controlo vectorial.<br />
Os motores de ímanes permanentes e de relutância<br />
comutada têm vindo a ganhar terreno em relação ao motor<br />
de indução trifásico. Com efeito, aliam a fiabilidade deste a<br />
melhores rendimentos, densidades de potência e binário, e<br />
elevadas gamas de velocidade de funcionamento. Como<br />
desvantagens, o custo (motores de ímanes permanentes) e<br />
sistemas de controlo complexos (motores de relutância<br />
comutada). Os sistemas baseados nestes motores<br />
apresentam, actualmente, o maior potencial de<br />
desenvolvimentoe de aplicações futuras.<br />
A revitalização dos veículos eléctricos implica necessidades<br />
de desenvolvimentos em múltiplos domínios científicos e<br />
tecnológicos, tais como: autonomia de alimentação,<br />
electrónica de potência, máquinas eléctricas e sistemas de<br />
controlo.<br />
O desenvolvimento de sistemas de armazenamento de<br />
energia com maior autonomia será determinante para a<br />
proliferação, a curto prazo, dos veículos híbridos e, a<br />
médio/longoprazo, dos veículos puramente eléctricos.<br />
Bibliografia<br />
[1] Situ, Lixin, “Electric Vehicle Development: The Past, Present &<br />
Future”, 3rd International Conference on Power Electronics<br />
Systems and Applications, 2009.<br />
[2] Gulhane, Mr. Vidyadhar , et al., “A Scope for the Research and<br />
Development Activities on Electric Vehicle Technology in Pune<br />
City”, IEEE, 2006.<br />
[3] Chan, C.C., “An Overview of Electric Vehicle Technology”,<br />
Proceedings of the IEEE, Vol. 81, Nº9, September 1993.<br />
[4] Chan, C.C., “The State of the Art of Electric, Hybrid, and Fuel Cell<br />
Vehicles”, Proceedings of the IEEE, Vol. 95, Nº4, April 2007.<br />
[5] Nanda, Gaurav, Kar, Narayan, “A Survey and Comparison of<br />
Characteristics of Motor Drives Used in Electric Vehicles”, IEEE,<br />
2006.<br />
[6] Naunin, Dietrich, “Electric Vehicles”, IEEE, 1996.<br />
[7] Weiss, Helmut, “Revitalization, Performance Measurement, and<br />
Improvement of Electric Vehicles”, IEEE, 2008.<br />
[8] Krishnan, R., “Electric Motor Drives – Modeling, Analysis and<br />
Control”, Prentice Hall, 2001.<br />
[9] Chan, C.C, et al., “Novel Permanent Magnet Motor Drives for<br />
Electric Vehicles”, IEEE Transactions on Industrial Electronics,<br />
vol.43, nº2, April 1996.<br />
[10] Bill Drury, “The Control Techniques Drives and Control<br />
Handbook”, The Institution of Electrical Engineers, 2001.<br />
90
ARTIGO TÉCNICO<br />
José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
ACCIONAMENTOS EFICIENTES DE FORÇA-MOTRIZ<br />
NOVA CLASSIFICAÇÃO<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Os motores eléctricos, particularmente o motor assíncrono<br />
de indução, são o tipo de máquina mais utilizada na indústria<br />
em virtude da sua grande versatilidade, gama de potências,<br />
robustez, duração, reduzida manutenção, baixa poluição,<br />
facilidade de produção e custos de aquisição relativamente<br />
baixos. Como qualquer máquina, o motor eléctrico,<br />
responsável pela conversão de energia eléctrica em<br />
mecânica, apresenta perdas. O rendimento (ou eficiência) é<br />
definido como sendo a razão entre a potência de saída (ao<br />
nível do veio de saída do accionamento) e a potência<br />
eléctricaabsorvida à entrada.<br />
A produção de energia mecânica, através da utilização de<br />
motores eléctricos, absorve cerca de 60% da energia<br />
eléctrica consumida no sector industrial do nosso País, da<br />
qual apenas metade é energia útil. Este sector é, pois, um<br />
daqueles em que é preciso tentar fazer economias,<br />
prioritariamente. Os sistemas de accionamentos têm que ser<br />
abordados como um todo, já que a existência de um<br />
componente de baixo rendimento influencia drasticamente<br />
o rendimento global.<br />
O êxito neste domínio depende, em primeiro lugar, da<br />
melhor adequação da potência do motor à da máquina que<br />
ele acciona. Quando o regime de funcionamento é muito<br />
variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o<br />
motor com um conversor electrónico de variação de<br />
velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores “<br />
de perdas reduzidas”, de “alto rendimento”, ou “elevada<br />
eficiência”, que permitem economias energéticas<br />
consideráveis.<br />
Nos últimos anos, muitos fabricantes de motores investiram<br />
fortemente na pesquisa e desenvolvimento de novos<br />
produtos com o objectivo de colocarem no mercado<br />
motores mais eficientes. O acordo voluntário obtido em<br />
1999 entre a CEMEP (Associação Europeia de Fabricantes de<br />
Motores Eléctricos) e a Comissão Europeia sobre o<br />
rendimento de motores de 2 e 4 pólos, na gama de<br />
potências1,1 a 90 kW, foi revisto em 2004.<br />
Os motores foram classificados de acordo com o seu<br />
rendimento:<br />
- EFF1 – Motores de alto rendimento;<br />
- EFF2 – Motores de rendimento aumentado;<br />
- EFF3 – Motores sem qualquer requisito especial.<br />
No seguimento da directiva "Eco-design Directive<br />
(2005/32/CE) “ publicada em 2005 para Produtos que<br />
consomem energia (EUP), a Comissão Europeia aprovou em<br />
Julho de 2009 um regulamento de aplicação dos requisitos<br />
de concepção ecológica para os motores eléctricos, com<br />
efeitos a partir de meados de 2011, dando aos fabricantes de<br />
cerca de 2 anos para garantir que seus produtos cumprem a<br />
referida directiva. O lote 11 da Directiva EUP (Energy Using<br />
Products) descreve as orientações de design, a<br />
compatibilidade ambiental, o impacte ambiental e o<br />
consumo de energia de máquinas / motores eléctricos<br />
rotativos de alto rendimento. A directiva abrange os motores<br />
de 2, 4 e 6 pólos, na gama de potências de 0,75 a 375 kW.<br />
Nesteâmbito, os motores passam a ser classificadospor:<br />
- IE1 (igual a EFF2) – com utilizaçãoproibida;<br />
- IE2 (igual a EFF1) – com utilizaçãoobrigatória;<br />
- IE3 (igual a Premium) – com utilização voluntária;<br />
- IE4 (ainda não aplicável a accionamentosassíncronos).<br />
2 CARACTERÍSTICAS DOS MOTORES DE ELEVADA EFICIÊNCIA<br />
A eficiência dos motores está associada a uma redução das<br />
suas perdas, que é conseguida à custa, quer da utilização de<br />
materiais construtivos de melhor qualidade e com melhores<br />
acabamentos, quer por alteração das suas características<br />
dimensionais. Estas perdas são devidas aos diversos<br />
elementos que estão presentes na conversão<br />
electromecânica de energia e podem ser divididas em quatro<br />
tipos:<br />
- Perdaseléctricas;<br />
- Perdasmagnéticas;<br />
- Perdasmecânicas;<br />
- Perdasparasitas.<br />
91
ARTIGO TÉCNICO<br />
As perdas eléctricas são provocadas pela resistência não nula<br />
dos condutores das bobines que ao serem percorridos pela<br />
corrente provocam perdas caloríficas. As perdas magnéticas<br />
ocorrem nas lâminas de ferro do estator e do rotor devido à<br />
histerese e às correntes de Foucault. As perdas mecânicas<br />
são provocadas pela rotação das peças móveis, ventilação e<br />
atrito do ar. As perdas parasitas são devidas a fugas e<br />
irregularidades de fluxo e, também, distribuição de corrente<br />
não uniforme.<br />
Para melhorar a eficiência dos motores eléctricos, os<br />
construtores aumentaram a massa de materiais activos<br />
(cobre e ferro) de forma a diminuir as induções, as<br />
densidades de corrente e, assim, reduzir as perdas no cobre<br />
e no ferro. Utilizam-se chapas magnéticas de perdas mais<br />
reduzidas, entalhes especiais em certos casos e reformulouse<br />
a parte mecânica, com especial incidência sobre a<br />
ventilação, para reduzir a potência absorvida por esta e<br />
diminuir o nível de ruído. Daí resulta, para idêntica<br />
dimensão, um aumento de peso da ordem de 15%, e de<br />
preço da ordem de 20 a 25%.<br />
Contudo, a melhoria da eficiência, compreendida entre 2 e<br />
4,5%, e do cosφ, permite amortizar rapidamente este<br />
aumento de preço.<br />
As melhorias típicas que são efectuadas a nível construtivo<br />
da máquina podem ser visualizadas na Figura 1 e são<br />
resumidas na seguinte tabela:<br />
Tab. 1 – Resumo das alterações nos motores de elevada eficiência<br />
Alteração Efectuada<br />
Tratamento térmico do<br />
rotor<br />
Uso de ferro laminado por<br />
camada<br />
Melhoria do circuito<br />
magnético<br />
Redução das bobines do<br />
circuito indutor<br />
Melhor qualidade dos<br />
rolamentos<br />
Maior quantidade de cobre<br />
Redução do entre-ferro<br />
Rotor mais largo<br />
Sistema de ventilação<br />
melhorado<br />
Efeito produzido<br />
Redução da resistência<br />
Redução das perdas no ferro<br />
Redução das perdas no ferro<br />
Redução das perdas por efeito<br />
de Joule<br />
Redução das perdas mecânicas<br />
Diminuição de perdas e do<br />
calor gerado<br />
Diminuição das perdas<br />
parasitas<br />
Reactância de fugas menor<br />
Diminuição de ruídos e da<br />
temperatura<br />
92<br />
Figura 1 – Alterações nos motores para obter elevada eficiência [WEG]
ARTIGO TÉCNICO<br />
Apesar de este tipo de motores possuir uma eficiência<br />
melhorada, quando inseridos num sistema, a eficiência total<br />
do mesmo sistema depende de todos os outros<br />
componentes que o compõem. Por este motivo, não se deve<br />
apenas investir na compra de um motor de elevada<br />
eficiência, quando existirem problemas de eficiência nos<br />
outros componentes do sistema.<br />
1,1 a 90 kW de potência nominal, 50 ou 60 Hz, com 2 e 4<br />
pólos magnéticos, seriam classificados de acordo com os<br />
valores dos respectivos rendimentos.<br />
As classes de rendimento estabelecidasforam as seguintes:<br />
- EFF1: Motores de elevado rendimento;<br />
- EFF2: Motores de rendimento melhorado;<br />
- EFF3: Motores de rendimento normal.<br />
3 CLASSIFICAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA<br />
Na Europa a classificação dos motores de corrente alternada<br />
de baixa tensão, foi estabelecida em 1998 com o acordo<br />
voluntário dos principais fabricantesde motores Europeus.<br />
De uma forma resumida, o acordo estabelecido entre a<br />
Comissão Europeia (CE) e o Comité Europeu de Fabricantes<br />
de Máquinas Eléctricas e de equipamentos e sistemas de<br />
Electrónicade Potência (CEMEP) definia que os motores de<br />
No acordo CE/CEMEP ficou ainda estabelecido que as<br />
vendas, na União Europeia, de motores EFF3 diminuiriam<br />
para metade até 2003.<br />
Este objectivo foi alcançado e a venda de motores EFF3<br />
terminou pouco tempo depois.<br />
Todos os fabricantes que assinaram este acordo ficaram<br />
autorizados a colocar a etiqueta de eficiência nos motores e<br />
em toda a documentação que os acompanhe, o que tornou<br />
mais fácil a identificaçãoda classe do motor.<br />
Figura 2 – Classes de eficiência de motores [SEW-Eurodrive]<br />
Figura 3 – Etiquetas de eficiência dos motores<br />
93
ARTIGO TÉCNICO<br />
Com base no acordo voluntário anteriormente referido, foi<br />
também criada uma base de dados europeia EuroDEEM, que<br />
foi elaborada pelo centro de pesquisa da Comissão Europeia<br />
(CE/JRC), com o objectivo de reunir num só suporte as<br />
informações mais importantes sobre os motores eléctricos<br />
disponíveis no mercado. A tabela 2 apresenta os valores<br />
limite para a eficiência dos motores, estabelecidos no acordo<br />
com a CEMEP com base na norma CEI 60034-2.<br />
equipamentos de força-motriz. Este novo regime abrange os<br />
motores de indução trifásicos, de velocidade simples, até<br />
375 kW. Entrará em vigor em três fases a partir de meados<br />
de 2011. Sob este novo regime os fabricantes são obrigados<br />
a apresentar a classe e valores de eficiência do motor na<br />
respectiva chapa de características e na documentação do<br />
produto, que deve indicar claramente o método de teste<br />
usado na determinação da eficiência.<br />
Tabela 2 – Definição das diversas classes de eficiência. Standard de 1996<br />
kW<br />
EFF3<br />
2 e 4 pólos<br />
η n (%)<br />
EFF2<br />
2 e 4 pólos<br />
η n (%)<br />
EFF1<br />
2 pólos<br />
η n (%)<br />
EFF1<br />
4 pólos<br />
η n (%)<br />
1,1<br />
1,5<br />
2,2<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
O organismo EU MEPS baseia-se em duas normas CEI. A<br />
norma CEI/EN 600034-2-1, disponível desde Setembro de<br />
2007, introduz novas regras relativas aos métodos de teste<br />
que devem ser usados na determinação das perdas e da<br />
eficiênciados motores eléctricos.<br />
A norma CEI/EN 600034-30,disponível desde Outubro de<br />
2008, especifica as classes de eficiência que devem ser<br />
adoptadas.<br />
A norma CEI/EN 600034-2-1:2007 define duas formas de<br />
determinar a eficiência dos motores eléctricos, o método<br />
directo e os métodos indirectos. A norma especifica os<br />
seguintes parâmetros para determinar a eficiência pelo<br />
método indirecto:<br />
- Temperaturade referência;<br />
- Três opções para determinar as perdas adicionais em<br />
carga: medição, estimativas e cálculo matemático.<br />
Os valores de eficiência resultantes diferem daqueles<br />
obtidos sob o padrão anterior de teste baseados na norma<br />
CEI/EN60034-2:1996.<br />
Deve-se notar que os valores de eficiência só são<br />
comparáveis se forem medidos utilizando o mesmo método.<br />
A norma CEI/EN 60034-30:2008 define três classes de<br />
eficiência IE (International Eficiency) para motores<br />
assíncronos de indução trifásicos, rotor em gaiola de esquilo,<br />
e velocidade simples:<br />
- IE1: Eficiência Standard (EFF2 do antigo sistema Europeu<br />
de classificação)<br />
- IE2: Eficiência Elevada (EFF1 do antigo sistema Europeu<br />
de classificação e idêntica à EPAct nos EUA para motores<br />
de 60Hz)<br />
- IE3: Eficiência Premium (idêntica ao "NEMA Premium"<br />
nos E.U.A. para motores de 60Hz)<br />
- IE4: futuramenteo nível de eficiência superior a IE3<br />
Os níveis de eficiência definidos na norma CEI/EN 60034-<br />
30:2008 baseiam-se em métodos de ensaio especificados na<br />
norma CEI/EN 600034-2-1:2007.<br />
Comparando com as anteriores classes de rendimento<br />
Europeias, definidas pelo acordo CEMEP (norma CEI/EN<br />
60034-2:1996),o leque foi ampliado.<br />
Figura 5 – Novas classes de eficiência de motores [SEW-Eurodrive]<br />
95
ARTIGO TÉCNICO<br />
A norma CEI/EN 60034-30 abrange quase todos os motores<br />
(por exemplo: motores standard, motores para ambientes<br />
perigosos, motores para embarcações e marinas, motores<br />
usados como freio), nomeadamente:<br />
- Motores de velocidade simples, trifásicos,50 Hz e 60 Hz<br />
- Motores de 2, 4 ou 6 pólos<br />
- Motores com potência nominal entre 0,75 - 375 kW<br />
- Motores de tensão nominal até 1000 V<br />
- Motores do tipo Duty S1 (funcionamento em contínuo)<br />
ou S3 (funcionamento intermitente ou periódico) com<br />
um factor de duração cíclica nominal de 80 porcento ou<br />
superior.<br />
Os motores que estão excluídos das normas CEI/EN 60034-30<br />
são os seguintes:<br />
- Motores feitos exclusivamente para funcionarem como<br />
conversores.<br />
- Motores feitos exclusivamente para funcionarem<br />
imersos em líquidos.<br />
- Motores totalmente integrados em máquinas que não<br />
podem ser testados separadamente da máquina (por<br />
exemplo, bombas, ventiladores ou compressores).<br />
- Motores especificamente concebidos para funcionarem<br />
a altitudes superiores a 1000 metros. Onde as<br />
temperaturas do ar possam ultrapassar os 40 °C. Em<br />
temperaturas máximas superiores a 400 °C. Onde a<br />
temperatura ambiente for inferior a -15 °C (qualquer<br />
motor) ou inferior a 0 °C (motores refrigerados a ar).<br />
Onde a temperatura da água de arrefecimento na<br />
entrada de um produto é inferior a 5 °C ou superior a 25<br />
°C. Em atmosferas potencialmente explosivas, tal como<br />
definidona Directiva 94/9/CE.<br />
IE Classes – 4 pole<br />
Figura 6 – Novas classes IE de eficiência de motores eléctricos<br />
96
ARTIGO TÉCNICO<br />
Na tabela 3 apresenta-se os valores limite para a eficiência<br />
dos motores com base na norma CEI 60034-30:2008,e CEI/EN<br />
600034-2-1.<br />
Tabela 3– Definição das diversas classes de eficiência<br />
Normas CEI 60034-30:2008,e CEI/EN 600034-2-1 [ABB]<br />
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A produção de energia mecânica, através<br />
da utilização de motores eléctricos,<br />
absorve cerca de 60% da energia eléctrica<br />
consumida no sector industrial do nosso<br />
País, da qual apenas metade é energia<br />
útil. Este sector é, pois, um daqueles em<br />
que é preciso tentar fazer economias,<br />
prioritariamente. Os sistemas de<br />
accionamentos electromecânicos têm que<br />
ser abordados como um todo, já que a<br />
existência de um componente de baixo<br />
rendimento influencia drasticamente o<br />
rendimento global. Os pontos<br />
fundamentais em que se deve intervir são<br />
os seguintes:<br />
- Dimensionar correctamente os<br />
equipamentos de força motriz,<br />
fazendo os motores funcionar com<br />
cargas da ordem dos 70 a 80%.<br />
- Adaptar a velocidade do motor às<br />
necessidades do processo, utilizando<br />
sempre que necessário dispositivos<br />
electrónicos de variação de<br />
velocidade.<br />
- Atender às necessidades de<br />
manutenção dos motores, que são<br />
essencialmente a limpeza da carcaça,<br />
a fim de reduzir a temperatura, e<br />
nalguns casos a lubrificação dos<br />
rolamentos.<br />
- Utilizar os novos motores de “alto<br />
rendimento”, que já provaram a sua<br />
competitividade apesar do seu custo<br />
superior, devendo-se ponderar<br />
sempre que necessário a sua<br />
utilização.<br />
Figura 7 – Variação do rendimento com a potência. [SEW-Eurodrive]<br />
97
ARTIGO TÉCNICO<br />
A União Europeia, através do organismo EU MEPS (European<br />
Minimum Energy Performance Standard) definiu um novo<br />
regime obrigatório para os níveis mínimos de eficiência dos<br />
motores eléctricos que sejam introduzidos no mercado<br />
europeu. O novo regime abrange motores de indução<br />
trifásicos até 375 kW, de velocidade simples. Entrará em<br />
vigor em três fases a partir de meados de 2011. Sob este<br />
novo regime os fabricantes são obrigados a apresentar os<br />
valores IE (International Eficiency) classe de eficiência nas<br />
placas do motor e na documentação do produto.<br />
O organismo EU MEPS assenta em duas normas CEI. A norma<br />
CEI/EN 600034-2-1, disponível desde Setembro de 2007,<br />
introduz novas regras relativas aos métodos de teste que<br />
devem ser usados na determinação das perdas e da<br />
eficiência dos motores eléctricos. A norma CEI/EN 600034-<br />
30,disponível desde Outubro de 2008, especifica as classes<br />
de eficiência que devem ser adoptadas. De acordo com estas<br />
normas os motores passam a ser classificadospor:<br />
- IE1 (equivalente a EFF2 na norma CEI/EN 600034-2:1996)<br />
– com utilização proibida;<br />
- IE2 (equivalente a EFF1 na norma CEI/EN 600034-2:1996)<br />
– com utilização obrigatória;<br />
- IE3 (Premium) – com utilização voluntária;<br />
- IE4 (ainda não aplicável a accionamentosassíncronos).<br />
Os motores de eficiência (IE1) não podem ser colocados no<br />
mercado europeu a partir de 16 de Junho de 2011. Até<br />
aquela data todos os novos motores em avaliação na Europa<br />
terão de cumprir a eficiênciaIE2.<br />
As regras não se aplicam fora da Europa. Por isso, será<br />
possível que os fabricantes produzam motores com<br />
eficiência IE1 para os mercados que não exijam estes<br />
requisitosmínimos de eficiência.<br />
A conformidade com os padrões de eficiência exigidos é<br />
verificada por ensaios. Cabe a cada estado membro da UE a<br />
vigilância relativa aos procedimentos de verificação e<br />
implementaçãodas normas.<br />
A implementação das novas normas em cada estado<br />
membro de EU será realizada em três fases:<br />
- Fase 1: até 16 de Julho de 2011. Todos os motores<br />
devem satisfazero nível de eficiênciaIE2;<br />
- Fase 2: até 1 de Janeiro de 2015. Todos os motores com<br />
uma potência nominal entre 7,5 - 375 kW devem<br />
satisfazer o nível de eficiência IE3 ou o nível IE2 se<br />
equipadoscom um variador electrónico de velocidade;<br />
- Fase 3: até 1 de Janeiro de 2017. Todos os motores com<br />
uma potência nominal entre 0,75-375 kW devem<br />
satisfazer o nível de eficiência IE3 ou o nível IE2 se<br />
equipadoscom um variador electrónico de velocidade.<br />
Bibliografia<br />
[1] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO,<br />
Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz.<br />
Jornadas Luso-Brasileiras de Ensino e Tecnologia em<br />
Engenharia. ISEP, Porto, Fevereiro de 2009.<br />
[2] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.,<br />
Efficient Use of Electrical Energy in Industrial<br />
Installations. 4TH European Congress Economics and<br />
Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de<br />
2007.<br />
[3] CARLOS GASPAR, Eficiência Energética na Industria-<br />
ADENE,Cursos de UtilizaçãoRacional de Energia, 2004.<br />
[4] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.<br />
Eficiência Energética em Equipamentos de Força-Motriz.<br />
RevistaNeutro à Terra Nº 3, Abril de 2009.<br />
[5] ABB, Low Voltage Industrial Performance Motors.<br />
CatálogoABB 2009.<br />
[6] WEG, Catálogo de Motores Eléctricos, disponível em<br />
http://www.weg.com.br/<br />
98
ARTIGO TÉCNICO<br />
António Manuel Luzano de Quadros Flores, José António Beleza Carvalho<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
DETECÇÃO DE AVARIAS<br />
EM MOTORES ASSÍNCRONOS DE INDUÇÃO<br />
RESUMO<br />
2 CASO EM QUE A AVARIA PROVOCA PARAGEM DO MOTOR<br />
O motor assíncrono de indução é, de facto, a máquina<br />
actualmente preferida para a grande maioria dos<br />
accionamentos, graças à sua fiabilidade, robustez e baixo<br />
custo. Dado que ocupa um lugar preponderante no processo<br />
produtivo têm-se desenvolvido diversos métodos de detecção<br />
de avarias que permitem diagnosticar qualquer tipo de<br />
defeito e quantificar o seu grau de severidade.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Quando se aborda a temática do diagnóstico de avarias dos<br />
motores de indução não podemos deixar de ter presente<br />
que a forma de tratar o assunto está intimamente ligada à<br />
dimensão da máquina, à sua localização e à função que<br />
desempenhano processo em que está inserida.<br />
Assim, como é óbvio, os custos de paragem de um motor de<br />
grande dimensão podem justificar a existência dos meios de<br />
diagnóstico mais sofisticados, no sentido de evitar a<br />
interrupçãode serviço.<br />
Por outro lado, motores de menor dimensão podem<br />
também desempenhar um papel tal que a sua interrupção<br />
pode ter custos elevadíssimos de reinicialização do processo,<br />
como por exemplo, no caso de linhas de produção em que o<br />
processo inclui accionamentos que estão relacionados com a<br />
formação e solidifição da alma condutora dos cabos<br />
eléctricos. Se houver uma paragem súbita o metal solidifica<br />
ao longo do processo sendo necessário desmontar todo um<br />
sistema complexo levando à perda de produção de várias<br />
horas ou dias.<br />
A acessibilidade pode ser o factor determinante na<br />
estratégia de diagnóstico, como é o caso de ventiladores em<br />
condutas, bombas submersíveis ou máquinas em ambientes<br />
perigosos.<br />
O método de diagnóstico a implementar depende também<br />
do facto da máquina ter parado por avaria ou continuar em<br />
funcionamento.<br />
Quando a avaria leva à paragem do motor o diagnóstico<br />
deve atender às especificidades de acessibilidade e<br />
dimensão numa primeira fase.<br />
Não é demais lembrar, que o primeiro passo numa situação<br />
de paragem de um motor, deve iniciar não, pela análise do<br />
motor, como parece lógico, mas pela análise das grandezas<br />
de alimentação do mesmo e do bom estado das protecções<br />
eléctricas,fusíveis e relé térmico.<br />
De seguida devem ser levados a cabo testes eléctricos e<br />
mecânicosfundamentais:<br />
- Verificação dos valores das resistências dos<br />
enrolamentos que deverão apresentar valores<br />
semelhantes nas três fases; medição da resistência de<br />
isolamento entre enrolamentos e entre os enrolamentos<br />
e a carcaça da máquina.<br />
Os resultados destes testes podem dar indicações úteis<br />
relativamente à existência de curto-circuitos entre<br />
espiras e entre espiras e a massa. Além disso, testa<br />
também a possibilidade do circuito eléctrico de um<br />
enrolamentoestar interrompido.<br />
- No caso do veio do rotor estar acessível, rodá-lo para<br />
verificar se existe atrito anormal ou demasiada prisão,<br />
analisando-se assim, se o rotor atrita no estator, se a<br />
carga oferece demasiado binário resistivo e se os<br />
rolamentosestão gripados.<br />
Além dos testes acima descritos, não é de desprezar a<br />
verificação da existência de “cheiro a queimado” junto ao<br />
motor que pode indiciar um sobreaquecimento da máquina<br />
com consequente deteriorização dos isolamentos<br />
nomeadamentedos vernizes utilizados.<br />
99
ARTIGO TÉCNICO<br />
3 CASO EM QUE A AVARIA NÃO PROVOCA PARAGEM DO MOTOR<br />
A avaria que não obriga à paragem do motor pode<br />
manifestar-se de diversas formas como aumento de<br />
temperatura, perda de potência, binário ou velocidade<br />
oscilantes,aumento de consumo, ruído, vibração, etc..<br />
Nesse caso, os métodos indirectos de diagnóstico podem ser<br />
úteis na identificação do tipo de avaria podendo mesmo<br />
constituir um meio de acompanhamento da sua evolução,<br />
controlando o nível de severidade até ser possível uma<br />
interrupçãoprogramada para reparação.<br />
Para esse efeito, têm sido desenvolvidos vários métodos que<br />
recorrem à monitorização de diversas grandezas associadas<br />
ao funcionamento do motor, como por exemplo, a<br />
intensidade de corrente de alimentação, o fluxo magnético,<br />
as vibrações, o ruído, o binário, a velocidade e a<br />
temperatura.<br />
Seguidamente serão apresentados alguns métodos de<br />
diagnóstico mais utilizados na pesquisa de avarias eléctricas<br />
no estator e no rotor, assim como de avarias mecânicas no<br />
rotor, nos rolamentos e na carga mecânica acoplada.<br />
figura de Lissajou em forma de circunferência dada pelas<br />
componentesdo vector de Park simplificadas:<br />
(3)<br />
(4)<br />
Sendo iM o valor máximo da corrente por fase (A), ω a<br />
frequênciaangular (rad/s) e t a variável tempo (s).<br />
A representação XY das componentes do Vector de Park<br />
permite detectar a existência de espiras em curto-circuito<br />
nos enrolamentosdo estator (Fig. 1).<br />
Este método de diagnóstico “on-line” baseia-se no<br />
aparecimento de uma forma elíptica da representação XY<br />
das componentes do Vector de Park da corrente do motor,<br />
cujo alongamento elíptico é proporcional ao grau de<br />
severidade da avaria e a orientação do eixo maior está<br />
associadaà fase avariada [1].<br />
É de referir que a representação das componentes do vector<br />
de Park da corrente de alimentação do motor sem avaria<br />
(Fig. 1 – esquerda), não é uma circunferência perfeita devido<br />
à existência de harmónicos na rede.<br />
3.1 DIAGNÓSTICO DE AVARIAS ELÉCTRICAS<br />
3.1.1 AVARIAS NO ESTATOR<br />
A detecção de espiras em curto-circuito nos enrolamentos<br />
do estator pode ser feita por análise das correntes de<br />
alimentação do motor representadas a duas dimensões a<br />
partir da mudança de referencial do sistema trifásico para o<br />
sistema de coordenadas P Q através da transformada de<br />
Park.<br />
As componentes do vector de Park i D e i Q podem ser obtidas<br />
das correntes de alimentação i 1 , i 2 e i 3 a partir das seguintes<br />
expressões:<br />
(1)<br />
(2)<br />
No caso de um sistema de alimentação ideal com cargas<br />
equilibradas, obtêm-se a representação no plano XY de uma<br />
100<br />
Figura 1- Vector de Park da corrente de alimentação de um motor:<br />
sem avaria (esquerda) e com curto-circuito de 18 espiras do<br />
estator (direita) [1]<br />
3.1.2 AVARIAS NO ROTOR<br />
3.1.2.1 MÉTODO DAS COMPONENTES ESPECTRAIS DA CORRENTE<br />
A detecção de barras do rotor partidas ou fissuradas pode<br />
ser feita através da inspecção das componentes espectrais<br />
da corrente absorvida pelo motor [2]<br />
frequências:<br />
nas seguintes<br />
(5)
ARTIGO TÉCNICO<br />
Sendo f SB a frequência (Hz) das bandas laterais resultantes da<br />
avaria no rotor, s o deslizamento (%) e f a frequência da<br />
tensãode alimentação (50 Hz).<br />
Na Figura 2 é fácil identificar o aparecimento de bandas<br />
laterais que surgem nas frequências características<br />
correspondentes à ruptura de espiras (“barras”) do circuito<br />
rotórico.<br />
Figura 4 – Detecção de defeito no circuito rotórico através da<br />
medição do fluxo magnético: espectro de frequências do campo<br />
magnético de fugas [3]<br />
3.2 DIAGNÓSTICO DE AVARIAS MECÂNICAS<br />
3.2.1 DEFEITO DE ALINHAMENTO<br />
Figura 2 – Espectro de frequências da corrente absorvida pelo<br />
motor mostrando claramente a existência de bandas laterais que<br />
indiciam uma avaria nas barras do rotor [2]<br />
3.1.2.2 MÉTODO DAS COMPONENTES ESPECTRAIS DO FLUXO DE FUGAS<br />
A aquisição de dados do campo magnético de fugas com<br />
vista à análise do seu espectro pode ser feita facilmente<br />
colocando sensores de campo magnético no exterior da<br />
máquina como mostra a Figura 3.<br />
O defeito de alinhamento do rotor traduz-se no facto da<br />
folga entre o rotor e o estator (“entreferro”) não ser<br />
constante ao longo de toda a periferia do rotor, originando<br />
variações da relutância do circuito magnético com a rotação<br />
do rotor e consequente formação de harmónicos na força<br />
magnetomotriz.<br />
Daí resulta o aparecimento de frequências típicas deste<br />
fenómeno no espectro do fluxo de fugas do motor, como<br />
evidencia a Figura 5, que servem de meio de diagnóstico<br />
deste defeito [4].<br />
Figura 3 – Detecção de defeito no circuito rotórico através da<br />
medição do fluxo magnético: motor com transdutor de fluxo<br />
magnético [3]<br />
O defeito devido a barras do rotor defeituosas também pode<br />
ser detectado por identificação de determinadas frequências<br />
no espectro do campo magnético de fugas medido no<br />
exterior da máquina (Figura 4) [3]<br />
Figura 5 – Detecção de defeito de alinhamento do rotor: defeito de<br />
alinhamento longitudinal (figura esquerda em cima);<br />
desalinhamento axial (figura direita em cima); espectro de<br />
frequências da corrente de alimentação revelando o defeito de<br />
alinhamento do rotor, excentricidade estática (“SE”) (figura em<br />
baixo )[4].<br />
101
ARTIGO TÉCNICO<br />
3.2.2 DEFEITOS NOS ROLAMENTOS<br />
conhecea sua composição em funcionamento normal [6].<br />
Sendo os rolamentos a causa referenciada que provoca<br />
maior taxa de avarias no motor de indução, têm-se<br />
desenvolvido diversas técnicas de detecção deste tipo de<br />
defeito recorrendo a diferentes métodos de análise espectral<br />
da corrente de alimentação e de vibrações mecânicas.<br />
Os defeitos nos rolamentos podem ser detectados a partir da<br />
análise do espectro de frequências da corrente do motor<br />
como evidencia a Figura 6.<br />
Também neste caso surgem novas frequências que<br />
evidenciam a existência de defeito nos rolamentos assim<br />
como o seu nível de severidade [5].<br />
Figura 7 – Utilização de acelerómetros para aquisição de dados de<br />
vibração de um ventilador [6]<br />
Figura 8 – Amplitude das componentes espectrais do binário (Nm)<br />
para o caso do mesmo ventilador [6]<br />
Figura 6 – Avarias nos rolamentos e sua detecção: defeito no anel<br />
interior (figura esquerda em cima); defeito no anel exterior (figura<br />
direita em cima); decomposição em frequências da corrente de<br />
alimentação do motor mostrando o espectro no caso de um motor<br />
saudável e no caso de existir um defeito nos rolamentos (figura em<br />
baixo) [5].<br />
A monitorização do valor eficaz da corrente de alimentação<br />
do motor de um elevador pode fornecer indicações úteis<br />
relativamente a variações de carga que indiciam a existência<br />
de defeitos nas partes mecânicas accionadas.<br />
O caso apresentado na Figura 9 e 10 ilustra a detecção de um<br />
defeito existente nos dentes da roda dentada de um redutor<br />
do tipo “sem fim” [7].<br />
3.2.3 DEFEITOS NA CARGA ACCIONADA<br />
A Figura 7 apresenta o caso da aplicação de acelarómetros<br />
para aquisição de dados de vibração de um ventilador.<br />
A análise das componentes espectrais de vibração e de<br />
binário (Figura 8 ) pode ser um meio complementar de apoio<br />
ao diagnóstico de um sistema electromecânico do qual se<br />
102<br />
Figura 9 – Detecção de defeitos nas rodas dentadas do redutor de<br />
um elevador: motor de elevador com redutor de velocidade<br />
acoplado (esquerda); roda dentada do redutor (direita) com dente<br />
defeituoso [7]
ARTIGO TÉCNICO<br />
Bibliografia<br />
Figura 10 – Valor eficaz da corrente de alimentação do motor [7]<br />
4 CONCLUSÕES<br />
Apesar do motor de indução ser considerado uma máquina<br />
robusta e muito fiável está sujeito a diversos tipos de avarias<br />
causadas principalmente pelo envelhecimento, desgaste e<br />
fadiga mecânica dos materiais.<br />
Dado o seu importante papel, muitos trabalhos de<br />
investigação têm sido feitos oferecendo metodologias para<br />
um diagnóstico cada vez mais eficiente.<br />
A aplicação destas técnicas em ambiente fabril tem as suas<br />
limitações devido a diversos factores, como por exemplo, a<br />
existência de poluição harmónica proveniente de outras<br />
máquinas e a falta de registos históricos das componentes<br />
espectrais.<br />
As ferramentas de diagnóstico apresentadas não são<br />
invasivas e podem ser aplicadas durante o funcionamento<br />
normal, contribuindo para uma manutenção preventiva<br />
eficienteatravés da monitorização regular do motor.<br />
Além disso, se criteriosamente utilizadas, constituem uma<br />
mais-valia, melhorando a eficiência da equipa de<br />
manutenção e minimizando os custos de indisponibilidade e<br />
de interrupção.<br />
Assim, para além da sua função principal de fornecer energia<br />
mecânica à carga, o motor de indução pode desempenhar<br />
um segundo papel, como transdutor eficaz e<br />
permanentemente ligado, ajudando a detectar avarias no<br />
seu interior e também na carga mecânica a ele acoplada.<br />
[1] A. J. Marques Cardoso, S. M. A. Cruz, D. S. B. Fonseca,<br />
"Inter-turn stator winding fault diagnosis in three-phase<br />
induction motors, by Park's vector approach", IEEE<br />
Transactions on Energy Conversion, vol. 14, pp. 595-598,<br />
1999.<br />
[2] G. G. Acosta, C. J. Verucchi, E. R. Gelso, "A current<br />
monitoring system for diagnosing electrical failures in<br />
induction motors", Mechanical Systems and Signal<br />
Processing,vol. 20, pp. 953-965, 2006.<br />
[3] A. Yazidi, H. Henao, G. A. Capolino, "Broken rotor bars<br />
fault detection in squirrel cage induction machines", IEEE<br />
International Conference on Electric Machines and<br />
Drives, 2005, pp. 741-747.<br />
[4] L. Xiaodong, W. Qing, S. Nandi, "Performance analysis of<br />
a three-phase induction machine with inclined static<br />
eccentricity", IEEE Transactions on Industry Applications,<br />
vol. 43, pp. 531-541, 2007.<br />
[5] M. Blodt, P. Granjon, B. Raison, G. Rostaing, "Models for<br />
bearing damage detection in induction motors using<br />
stator current monitoring," IEEE International<br />
Symposium on Industrial Electronics, 2004, pp. 383-388<br />
vol. 1.<br />
[6] E. Wiedenbrug, D. Doan, "Comparison of duct-mounted<br />
vibration and instantaneous airgap torque signals for<br />
predictive maintenance of vane axial fans", International<br />
Conference on Measurement and Control, 2004, pp. 209-<br />
213.<br />
[7] A. Q. Flores, A. J. M. Cardoso, J. B. Carvalho, "The<br />
induction motor as a mechanical fault sensor in elevator<br />
systems " apresentado na conferência “11CHLIE”, 11ª.<br />
Conferencia Hispano-Lusa de Ingeniería Eléctrica,<br />
Saragoça, Espana, 2009.<br />
103
104<br />
CURIOSIDADE
ARTIGO TÉCNICO<br />
Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
ESTRUTURAS E CARACTERÍSTICAS<br />
DE VEÍCULOS HÍBRIDOS E ELÉCTRICOS<br />
RESUMO<br />
Nas últimas décadas tem-se assistido a um forte<br />
desenvolvimento dos veículos eléctricos, sobretudo das<br />
soluções híbridas, como resposta aos impactos ambientais e<br />
económicos dos combustíveis fósseis. Os desafios que se<br />
colocam no campo da engenharia são múltiplos e exigentes,<br />
motivados pela necessidade de integrar diversas áreas, tais<br />
como, novos materiais e concepções de motores eléctricos,<br />
electrónica de potência, sistemas de controlo e sistemas de<br />
armazenamento de energia.<br />
Neste artigo procura-se apresentar as principais<br />
características dos veículos híbridos eléctricos (VH) e dos<br />
veículos puramenteeléctricos (VE).<br />
Começa-se por uma breve referência à origem e evolução<br />
destes veículos. Segue-se uma abordagem às diferentes<br />
configurações de VH e VE – principalmente no que se refere<br />
aos sistemas de propulsão e armazenamento de energia –,<br />
realçando as suas vantagens e desvantagens. Por fim,<br />
referem-se alguns dos factores mais relevantes para a<br />
evoluçãotecnológicae aceitação destes veículos.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Os conceitos de veículo eléctrico e híbrido eléctrico<br />
remontam às origens do desenvolvimento do próprio<br />
automóvel, em finais do séc. XIX. Numa época onde as<br />
preocupações ambientais e de eficiência não existiam, a<br />
finalidade era incrementar os níveis de desempenho dos<br />
motores de combustão interna (MCI) ou melhorar a<br />
autonomia dos veículos baseados em motores eléctricos.<br />
Com efeito, o desenvolvimento destes motores encontravase<br />
ainda numa fase inicial, estando a tecnologia associada às<br />
máquinas eléctricas num nível superior. É nesta época que se<br />
regista a implementação de sistemas de frenagem<br />
regenerativa, que permitem recuperar a energia cinética que<br />
o veículo perde, em consequência de uma travagem, sendo<br />
armazenada nas baterias. Trata-se de uma contribuição<br />
fundamental para a eficiência destes veículos e respectiva<br />
autonomia – questão determinante para o desenvolvimento<br />
dos veículos eléctricos [1].<br />
A partir da década de 1920, a enorme evolução verificada<br />
nos motores a gasolina (principalmente, no aumento da<br />
potência disponível e rendimento, com menores dimensões)<br />
tornou-os preponderantes face aos motores eléctricos. A<br />
maior dificuldade no seu controlo (baseado em contactos<br />
mecânicos e resistências, com baixos níveis de eficácia,<br />
comprometendo o próprio desempenho do veículo), a<br />
reduzida autonomia, peso e custo mais elevados, são os<br />
principaismotivos que explicam aquela supremacia [1].<br />
As crises energéticas ocorridas na década de 1970 e o<br />
aumento das preocupações ambientais (principalmente nas<br />
sociedades ocidentais), juntamente como desenvolvimento<br />
da electrónica de potência, que permitiu a criação de<br />
sistemas eficazes de controlo de motores eléctricos,<br />
despertaram interesse para o desenvolvimento de veículos<br />
puramente eléctricos, de que é exemplo a grande<br />
quantidadede protótiposconstruídos na década de 1980.<br />
Na década de 1990 as concepções híbridas foram ganhando<br />
interesse, face à tomada de consciência das dificuldades em<br />
superar as limitações dos veículos eléctricos, relativamente<br />
aos veículos convencionais com MCI. Nesse sentido, vários<br />
fabricantes de automóveis desenvolveram diversos<br />
protótipos de versões híbridas, não tendo, no entanto,<br />
atingidoa fase de comercialização.<br />
O maior esforço no desenvolvimento e comercialização de<br />
veículos híbridos eléctricos foi feito por fabricantes<br />
japoneses: em 1997, a Toyota lançou o modelo Prius e a<br />
Honda lançou as versões híbridas dos modelos Insight e<br />
Civic. Actualmente, estes e outros modelos híbridos –<br />
entretanto lançados por outros fabricantes –, são<br />
comercializados em todo o mundo, apresentando bons<br />
desempenhos dinâmicos e níveis de consumo [1], [2].<br />
Quanto ao desenvolvimento dos veículos eléctricos, o maior<br />
obstáculo à sua comercialização e difusão reside no estado<br />
em que se encontra a tecnologia das baterias.<br />
105
ARTIGO TÉCNICO<br />
Não obstante os progressos e esforços que têm sido feitos<br />
no seu desenvolvimento, o desempenho das baterias mais<br />
recentes continua aquém das exigências requeridas pelos<br />
veículos eléctricos, principalmente, ao nível da densidade de<br />
energia (por unidade de peso e volume) e densidade de<br />
potência. Atendendo às distâncias relativamente curtas que<br />
caracterizam os trajectos nos centros urbanos, será aqui que<br />
reside o maior potencial de aceitação destes veículos.<br />
Nas últimas décadas, vários fabricantes de automóveis têm<br />
feito alguns investimentos no desenvolvimento da<br />
tecnologia das células de combustível, com vista à aplicação<br />
em veículos eléctricos. Os maiores desafios ao seu<br />
desenvolvimento e proliferação residem na capacidade de<br />
produção, armazenamento e distribuição de hidrogénio. A<br />
evolução desta tecnologia tem ainda um longo caminho a<br />
percorrer, sendo também incerta a opção futura por esta<br />
solução.<br />
2 CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS VH E VE<br />
As alternativas aos veículos convencionais, baseados em<br />
MCI, podem ser classificadasdo seguinte modo:<br />
Veículos híbridos (VH) – Em termos gerais, um veículo<br />
híbrido é caracterizado por incluir dois ou mais sistemas de<br />
propulsão. Os mais usuais são os veículos híbridos eléctricos<br />
– combinação de dois sistemas de propulsão: um baseado no<br />
MCI, o segundo assente em um ou vários motores eléctricos<br />
(ME). Existem várias configurações possíveis para estes<br />
veículos: série, paralelo e série-paralelo (esta última com<br />
duas variantes);<br />
Veículos eléctricos (VE) – apenas incluem motores<br />
eléctricos. Em termos de fontes de energia empregues há a<br />
distinguiras baterias das células de combustível.<br />
2.1 VEÍCULOS HÍBRIDOS<br />
A concepção de base dos veiculos híbridos assenta na<br />
conjugação das vantagens dos veículos convencionais (MCI)<br />
e dos veiculos eléctricos: elevada autonomia e densidades<br />
de energia e potência (MCI); elevados rendimentos e<br />
emissõesnulas a nível local (VE).<br />
106<br />
Por outro lado, procura-se superar também as limitações de<br />
ambos: no caso dos MCI, utilização de grandes quantidades<br />
de combustíveis fósseis e emissão de gases de efeito de<br />
estufa; para os VE há a referir as autonomias reduzidas,<br />
elevados tempos de carregamento do sistema de<br />
armazenamentode energia e maior custo inicial [2], [3].<br />
Na utilização de motores eléctricos nos VH há dois objectivos<br />
bem vincados: o primeiro é a optimização do rendimento do<br />
MCI; a recuperação da energia cinética na frenagem do<br />
veículo (armazenada nas baterias) é o segundo objectivo.<br />
Este apenas é possível pela presença do(s) motor(es)<br />
eléctrico(s).<br />
Existem vários modos de funcionamento possíveis,<br />
associadosàs característicasdos próprios motores [1]:<br />
O MCI propulsiona integralmente o veículo. Esta situação<br />
pode ocorrer quando as baterias estão praticamente<br />
descarregadas e a potência disponível no veio do MCI é<br />
integralmente necessária para a tracção; estando as<br />
baterias à plena carga, um cenário semelhante ocorre no<br />
caso da potência de tracção exigida corresponder a um<br />
regime de funcionamentoóptimo do MCI;<br />
Propulsão puramente eléctrica (MCI desligado). Justificase<br />
para os regimes de funcionamento do MCI com baixos<br />
rendimento (ex., nas baixas velocidades) ou em<br />
ambientescom limitaçõesde emissõeselevadas;<br />
Propulsão híbrida (MCI+ME), se no esforço de tracção<br />
são exigidas elevadas potências (por ex., em subidas e<br />
elevadas acelerações);<br />
Frenagem regenerativa, na qual a energia cinética do<br />
veículo é recuperada – o motor funciona agora como<br />
gerador – e armazenada nas baterias, podendo ser<br />
posteriormenteutilizadana tracção do veículo;<br />
O MCI efectua o carregamento das baterias, havendo<br />
diferentes cenários a considerar: veículo imobilizado ou<br />
numa descida sem modos de tracção e frenagem nos<br />
sistemasde propulsão;<br />
O MCI e o(s) ME(s) – em modo regenerativo –, carregam<br />
simultaneamenteas baterias do veículo;<br />
O MCI propulsiona o veículo, bem como efectua o<br />
carregamentodas baterias;<br />
O MCI carrega as baterias e estas alimentam o(s) ME(s);
ARTIGO TÉCNICO<br />
O elevado número de modos de funcionamento nos veículos<br />
híbridos, tornam-os muito flexíveis; no entanto, acresce a<br />
complexidade do sistema de propulsão, o que implica a<br />
necessidade de sistemas complexos de controlo, bem como<br />
o desenvolvimento de sistemas de gestão dos fluxos de<br />
energia, capazes de optimizarem a eficiência dos modos de<br />
funcionamentoanteriores.<br />
Em seguida, descrevem-se as três configurações<br />
mencionadas para os VH, as quais se distinguem pelo modo<br />
como o MCI é inserido no sistema de propulsão eléctrica.<br />
Configuração Série – O MCI apenas acciona um gerador que<br />
alimenta o ME de tracção do veículo; o gerador também<br />
efectua o carregamento das baterias. Em termos de<br />
concepção, trata-se de um VE assistido por um MCI [2] –<br />
Figura 1.<br />
Energia de propulsão/Carregamento das baterias: o<br />
sistema MCI/gerador fornece a energia para<br />
propulsionaro veículo e carrega as baterias;<br />
Frenagem regenerativa: o MCI é desligado; o ME<br />
funciona como gerador, efectuando o carregamento das<br />
baterias;<br />
Carregamento das baterias: o(s) ME(s) não são<br />
alimentados; o sistema MCI/gerador somente carrega as<br />
baterias;<br />
Carregamento híbrido das baterias: o sistema<br />
MCI/gerador e o(s) ME(s) – funcionando como<br />
gerador(es) – efectuam o carregamento das baterias.<br />
Não existindo ligação mecânica entre o MCI e o sistema de<br />
transmissão de potência, os seus regimes de funcionamento<br />
tornam-se mais flexíveis, permitindo optimizar o<br />
funcionamento do MCI (referido anteriormente). No<br />
entanto, a existência de três máquinas (MCI, gerador e ME)<br />
tornam o sistema de propulsão do veículo mais complexo,<br />
normalmente mais pesado e com menores rendimentos em<br />
relação às outras configurações.<br />
Figura 1 – VH: Configuração Série<br />
Configuração Paralela – Existe a possibilidade do MCI e do<br />
ME fornecerem potência, em paralelo, às rodas de tracção<br />
do veículo. Conceptualmente, trata-se de um veículo<br />
convencional (MCI) com assistência eléctrica (MEs) [2]. Desta<br />
forma, ambos os motores estão acoplados ao veio de<br />
transmissão através de duas embraiagens independentes,<br />
pelo que a propulsão pode ser efectuada pelo MCI, pelo ME<br />
ou por ambos (Figura 2).<br />
Em princípio, podem ser considerados os seguintes modos<br />
de funcionamento[1], [2]:<br />
Energia de propulsão – baterias: o MCI é desligado, a<br />
energia de propulsão provém unicamente das baterias;<br />
Energia de propulsão – MCI: a energia de propulsão é<br />
somente garantida pelo sistema MCI/gerador; não há<br />
qualquer fluxo de energia nas baterias;<br />
Energia de propulsão – modo híbrido: a potência de<br />
tracçãoé garantida pelo MCI e pelas baterias;<br />
Figura 2 – VH: Configuração Paralela<br />
107
ARTIGO TÉCNICO<br />
Também aqui a optimização do funcionamento do MCI é<br />
conseguida. O motor eléctrico pode funcionar como gerador<br />
para carregar as baterias, havendo duas possibilidades:<br />
- Frenagem regenerativa;<br />
- No caso da potência mecânica disponível no veio do MCI<br />
ser superior ao necessário para o esforço de tracção, o<br />
excedenteé fornecido ao gerador.<br />
Para desempenhos semelhantes é também de referir o uso<br />
de MCI e ME de menores potências, relativamente à<br />
configuraçãosérie.<br />
Configuração Série-Paralela – Esta estrutura integra as<br />
características das duas anteriores, procurando assimilar as<br />
vantagensde ambas. A figura 3 apresenta esta configuração.<br />
Os modos de funcionamentopossíveis são os seguintes:<br />
Propulsão ME: o MCI é desligado; o veículo é<br />
propulsionadoapenas pelo ME;<br />
Propulsão MCI: o contrário do anterior, o veículo é<br />
propulsionadoapenas pelo MCI;<br />
Propulsão Híbrida: ambos os motores (MCI e ME)<br />
contribuempara a propulsão do veículo;<br />
Propulsão MCI dividida: uma parte da potência no veio<br />
do MCI é usada na propulsão; a outra parte carrega as<br />
baterias, o que implica ter o ME a funcionar como<br />
gerador;<br />
Fenagem simples (apenas regenerativa): o MCI é<br />
desligado; o ME funciona como gerador, efectuando o<br />
carregamentodas baterias;<br />
Frenagem regenerativa e mecânica: ME funciona como<br />
gerador; MCI funciona como freio mecânico.<br />
Na configuração paralela há apenas duas máquinas (MCI e<br />
ME).<br />
Figura 3 – VH: Configuração Série-Paralela<br />
Em comparação com a estrutura série, há mais uma ligação<br />
mecânica ao veio de transmissão; relativamente à estrutura<br />
paralela, existe mais uma máquina eléctrica. O acoplamento<br />
mecânico das três máquinas pode ser efectuado através da<br />
inclusãode um sistema de engrenagens planetário [1], [4].<br />
A figura 4 ilustra a sua estrutura.<br />
Figura 4 – Sistema de Engrenagens Planetário<br />
108
ARTIGO TÉCNICO<br />
Este sistema tem a vantagem de permitir o funcionamento<br />
do MCI num regime de velocidade constante (permitindo a<br />
sua optimização): a variação da velocidade no veio de<br />
transmissão do veículo é conseguida através da regulação da<br />
potênciadebitada pelo gerador.<br />
Trata-se, pois, de um sistema de transmissão variável de<br />
potência em modo contínuo, mais concretamente, um<br />
sistema electrónicode transmissão variável.<br />
Comparativamente aos sistemas puramente mecânicos de<br />
transmissão contínua, este sistema electrónico é mais<br />
simples, fiável e com melhores rendimentos, uma vez que<br />
não existem embraiagens, conversores de binário e caixa de<br />
engrenagens.<br />
Com vista ao aumento do rendimento, fiabilidade e<br />
robustez, novas concepções de sistemas electrónicos de<br />
transmissão foram desenvolvidas, as quais assentam na<br />
eliminação do sistema de engrenagens planetário. Nesse<br />
sentidorefere-se:<br />
- Combinação de duas máquinas eléctricas concêntricas<br />
[3];<br />
- Uma única máquina com dois rotores [4], [5].<br />
Configuração Série-Paralela “Complexa” - A configuração<br />
representada na figura 5 apresenta semelhanças com a<br />
estruturasérie-paralela(1 MCI e 2 ME).<br />
Há, no entanto, uma diferença importante na máquina<br />
eléctrica ligada mecanicamente ao MCI: a possibilidade de<br />
fluxo de energia bidireccional, ou seja, o funcionamento<br />
como motor ou gerador.<br />
O potencial e versatilidade desta estrutura são superiores à<br />
configuração série-paralela, pois acrescenta um modo de<br />
funcionamento com três motores, o qual não existe naquela<br />
configuração.<br />
Naturalmente, também o nível de complexidade do(s)<br />
sistema(s) de propulsão é grande, o que torna o seu custo<br />
mais elevado, juntamente com maiores exigências ao nível<br />
do controlo do veículo, bem como do sistema de gestão de<br />
energia. Não obstante, é de referir a opção por esta<br />
configuração em algumas das séries mais recentes de VH [1],<br />
[2].<br />
Figura 5 – VH: Configuração Série-Paralela “Complexa”<br />
2.2 Veículos Eléctricos<br />
Na figura 6 está representada a estrutura básica deste tipo<br />
de veículo [1].<br />
Existem três componentes fundamentais:<br />
Sistema de propulsão eléctrica;<br />
Sistema de alimentação/armazenamentode energia;<br />
Sistema auxiliar.<br />
O sistema de propulsão eléctrica é composto pelos seguintes<br />
elementos:<br />
- controladordo veículo<br />
- conversor estático de potência de tracção<br />
- motor eléctrico<br />
- transmissão mecânica<br />
- rodas de tracção.<br />
O sistema de fornecimento/armazenamento de energia<br />
inclui os seguinteselementos:<br />
- fonte de energia e/ou sistema de armazenamento de<br />
energia<br />
- sistema de gestão de energia<br />
- unidade de reabastecimento.<br />
O sistema auxiliar inclui múltiplas unidades, tais como: a<br />
direcção assistida,climatização, etc.<br />
109
ARTIGO TÉCNICO<br />
Trata-se de um sistema comum a qualquer tipo de veículo,<br />
seja convencional, híbrido ou eléctrico.<br />
Os sinais emitidos pelos pedais do acelerador e travão<br />
(accionados pelo condutor do veículo) são recebidos pelo<br />
controlador do veículo, o qual actua no sistema de controlo<br />
do conversor de tracção de modo a regular os fluxos de<br />
energia entre o motor eléctrico e o sistema de<br />
armazenamento de energia. A actuação do controlador do<br />
veículo é também função dos sinais recebidos pelo sistema<br />
de gestão de energia. São várias as funções deste sistema,<br />
sendo de referir o controlo do modo de frenagem<br />
regenerativa e respectivo armazenamento de energia, a<br />
regulação das operações de reabastecimento e a<br />
monitorização dos estados do sistema de armazenamento de<br />
energia.<br />
Tal como nos VH, o sistema de gestão de energia é<br />
fundamental neste tipo de veículos.<br />
O sistema auxiliar fornece a energia necessária às unidades<br />
já referidas (tipicamentecom vários níveis de tensão).<br />
Como referido, a estrutura apresentada na figura 6 é<br />
elementar.<br />
Existem várias configurações possíveis para o sistema de<br />
propulsão dos VE, atendendo à grande flexibilidade de<br />
funcionamento dos motores eléctricos. Na figura seguinte<br />
são apresentados alguns exemplos, que se julgam ser<br />
representativos dessa variedade de configurações [1].<br />
Actualmente, este é um assunto que continua a merecer a<br />
atençãode fabricantese investigadores.<br />
Figura 6 – Configuração Básica de um VE<br />
110
ARTIGO TÉCNICO<br />
Figura 7 – Sistemas de Propulsão para VE<br />
a) Atendendo às zonas possíveis de funcionamento dos<br />
motores eléctricos – binário constante (baixas<br />
velocidades); potência constante (gama ampla de<br />
velocidades) – o sistema habitual de engrenagens com<br />
múltiplas relações (várias velocidades) pode ser<br />
substituído por um sistema com uma relação fixa. Deste<br />
modo, a embraiagem é eliminada, reduzindo o peso e<br />
tamanho do sistema de transmissão mecânica; o<br />
controlo do sistema de propulsão torna-se mais simples.<br />
b) Nesta configuração, o diferencial mecânico é substituído<br />
por dois motores eléctricos. Naturalmente, são os<br />
respectivos sistemas de controlo que garantem<br />
velocidadesdistintas em trajectoscurvilíneos.<br />
c) Com vista a tornar mais simples o sistema de propulsão,<br />
os motores eléctricos são fixados à própria roda de<br />
tracção, através de engrenagens (sistema in-wheel). Esta<br />
concepção coloca desafios vários ao motor (dimensões,<br />
peso, robustez, fiabilidade, ...).<br />
d) Relativamente à concepção anterior, é eliminado o<br />
sistema de engrenagens: os rotores dos motores são<br />
montados directamente nas rodas de tracção, pelo que o<br />
controlo da velocidade do veículo corresponde ao<br />
controlo directo da velocidade dos motores.<br />
As exigências colocadas a estes motores são várias,<br />
nomeadamente, a capacidade de desenvolver elevados<br />
binários no arranque. De referir que uma abordagem às<br />
tendências actuais dos tipos de motores eléctricos<br />
aplicadosem VE foi apresentadanum artigo anterior.<br />
Neste tipo de veículos, as emissões locais associadas são<br />
nulas. Naturalmente, esta afirmação não considera as fontes<br />
de energia utilizadas no carregamento das baterias. Com<br />
efeito, as emissões globais podem ser consideráveis,<br />
dependendo da proveniência da energia armazenada nas<br />
baterias.<br />
No momento actual, as principais desvantagens destes<br />
veículos residem no elevado peso e custo inicial das baterias,<br />
autonomias limitadas, tempos longos de carregamento e<br />
densidades de potência reduzidas. Não obstante, nos últimos<br />
anos têm sido empreendidos elevados esforços, no meio<br />
académico e industrial, com vista ao desenvolvimento de<br />
novos tipos de baterias [6], bem como de estruturas híbridas<br />
de armazenamento de energia – baterias, supercondensadorese<br />
flywheels (esta última em menor grau).<br />
111
ARTIGO TÉCNICO<br />
Como foi referido, actualmente há a considerar duas<br />
variantes de VE, associadas ao tipo de alimentação do<br />
veículo. As principais características de ambas são<br />
apresentadasa seguir.<br />
2.2.1 Tipos de Baterias<br />
Actualmente, as baterias mais usadas nos VE (e também nos<br />
VH) são as de chumbo/ácido (PB) convencionais, de hidratos<br />
metálicos de níquel (NiMH) e de iões de lítio (Li Ion).<br />
Particularmente nestas últimas, têm sido obtidos aumentos<br />
consideráveis nos valores da densidade de energia (de<br />
momento apresentam valores muito superiores aos<br />
restantes tipos de baterias). Há uma clara tendência para a<br />
sua integração com super-condensadores, aproveitando os<br />
elevados valores de densidade de potência destes últimos<br />
[3], [7]. Tais sistemas híbridos de armazenamento de energia<br />
são mais complexos, necessitando da inclusão de<br />
conversores estáticos de potência e de sistemas de gestão de<br />
energia específicos. De acordo com [8] há diversas vantagens<br />
a considerar nestes sistemas, sendo de realçar o<br />
desacoplamento do controlo dos requisitos de energia e<br />
potência (esta última é essencial nas frenagens); também a<br />
eficiência na gestão de energia do sistema de<br />
armazenamentovem melhorada.<br />
Existem diversos factores que condicionam os desempenhos<br />
das baterias, dos quais se enumeram alguns dos mais<br />
relevantes:<br />
Nível de carga – State of Charge (SOC);<br />
Capacidadede armazenamento;<br />
Tensõese correntes;<br />
Frequência das cargas e descargas;<br />
Temperaturade funcionamento;<br />
Idade da bateria.<br />
As baterias usadas nos veículos de tracção estão sujeitas a<br />
ambientes e condições de funcionamento muito agressivos<br />
(amplas variações de temperatura, ciclos de carga exigentes,<br />
choques e vibrações mecânicas). Estes aspectos podem<br />
contribuirpara um envelhecimento precoce, traduzido pela<br />
diminuição da sua capacidade de armazenamento e<br />
aumento da resistênciainterna. [9]<br />
O sistema de gestão das baterias (Battery Management<br />
System) é fundamental, não apenas na monitorização do<br />
estado das baterias e sua protecção, mas também para<br />
permitir as operações de carga e descarga, em coordenação<br />
com o sistema de gestão de energia. O modo de<br />
funcionamento em frenagem regenerativa é dos mais<br />
críticos a considerar, uma vez que as correntes envolvidas e<br />
respectivos gradientes podem destruir as baterias. Em<br />
particular, as baterias de lítio exigem condições de<br />
funcionamento muito bem controladas, sob pena de se<br />
danificarem. Com efeito, são muito sensíveis a sobretensões,<br />
sobrecorrentese à temperatura de funcionamento.<br />
2.2.2 Células de Combustível<br />
São dispositivos geradores de energia eléctrica, resultante de<br />
reacções electroquímicas baseadas em hidrogénio<br />
(combustível não poluente, com elevada densidade de<br />
energia). Sublinha-se o facto de se tratar de geradores de<br />
energia, enquanto as baterias são armazenadores de<br />
energia. Uma característica importante a referir é que o<br />
produto das reacções é apenas vapor de água. As principais<br />
vantagens residem na elevada eficiência energética das<br />
reacções electroquímicas, emissões locais nulas e tempos<br />
curtos de abastecimento(depósitode hidrogénio). [2], [3]<br />
A energia eléctrica produzida nas células de combustível é<br />
usada na propulsão do veículo ou no carregamento das<br />
bateriase super-condensadorespara uso futuro.<br />
3 Alimentação Externa de Energia Eléctrica (Plug-in)<br />
Estes veículos podem ser ligados a um sistema de<br />
carregamentoexterior das baterias.<br />
Os veículos híbridos Plug-in têm sistemas de propulsão<br />
semelhantes aos híbridos convencionais. Para distâncias<br />
curtas, o veículo funciona em modo puramente eléctrico,<br />
com as baterias a fornecer a energia necessária à propulsão.<br />
112
ARTIGO TÉCNICO<br />
Nas distâncias longas, quando a carga das baterias é inferior<br />
a um valor especificado, o veículo passa a funcionar no modo<br />
híbrido. Deste modo, conseguem-se funcionamentos que se<br />
aproximam mais dos veículos puramente eléctricos [10].<br />
É de referir que as baterias usadas nos VH Plug-in têm de ter<br />
características semelhantes às exigidas para os VE. De modo<br />
geral, os VE são sempre do tipo Plug-in.<br />
4 Conclusões<br />
Os custos e limitações das reservas de combustíveis fósseis e<br />
os impactos ambientais decorrentes da sua utilização<br />
intensa, conduziram a um aumento no interesse e<br />
desenvolvimento dos veículos eléctricos e híbridos, não<br />
apenas por parte da comunidade científica mas também ao<br />
nível dos governos e opiniões públicas mundiais.<br />
Os veículos Plug-in poderão também interagir com a rede<br />
pública de energia, podendo contribuir para uniformizar o<br />
diagrama de cargas: durante o período nocturno (menor<br />
procura de energia) efectua-se o carregamento; nas horas<br />
diurnas (maior procura de energia), havendo excedente de<br />
energia armazenada nos veículos, este pode ser injectado na<br />
rede [10], [11].<br />
A Tabela 1 apresenta uma síntese das características dos<br />
tipos de veículos considerados.<br />
Até ao momento, os veículos híbridos têm conhecido um<br />
maior grau de desenvolvimento, que se reflecte na<br />
variedade de modelos comercialmente disponibilizados<br />
pelos principais fabricantes e automóveis. Os principais<br />
desafios que continuam a ser enfrentados estão no controlo<br />
e optimização das diferentes fontes de energia (o que<br />
implica desenvolver sistemas de gestão de energia eficazes,<br />
com capacidade de actuação em tempo real) e no custo final<br />
do veículo.<br />
Tabela 1 – Características de VH e VE [2]<br />
VH VE (baterias) VE (cél. de combust.)<br />
Sistema de Propulsão<br />
Sistema de Armazenamento<br />
de Energia<br />
Fontes de Energia e Infraestruturas<br />
Características<br />
Principais Desvantagens<br />
- Motores eléctricos<br />
- MCI<br />
- Baterias<br />
- Super-condensadores<br />
- Combustíveis fósseis ou<br />
alternativos<br />
- Estaçõesde gasolina<br />
- Pontos de carregamento de<br />
energia (“Plug-in”híbrido)<br />
- Emissõeslocais baixas<br />
- Elevada economia de<br />
combustível<br />
- Dependente de<br />
combustíveisfósseis<br />
- Autonomia longa<br />
- Disponível<br />
- Desempenhosdas baterias<br />
- Controlo e optimização de<br />
consumos; gestão de várias<br />
fontesde energia<br />
- Custo superior ao dos<br />
veículos convencionais<br />
(MCI)<br />
- Motores<br />
eléctricos<br />
- Baterias<br />
- Super-condensadores<br />
- Pontos de carregamento de<br />
energia (“Plug-in”)<br />
- Emissões locais nulas<br />
-Rendimentoselevados<br />
-Não depende directam. de<br />
combustíveisfósseis<br />
- Autonomia limitada<br />
- Disponível<br />
- Desempenhos e tempos de<br />
vida útil das baterias<br />
- Disponibilidade de pontos<br />
de carregamento de energia<br />
- Elevado custo inicial<br />
- Motores eléctricos<br />
- Depósito de H2<br />
- Baterias<br />
- Super-condensadores<br />
- H2<br />
-Produção de H2; infraestruturasde<br />
transporte<br />
- Emissões locais nulas<br />
-Rendimentoselevados<br />
- Não depende directamente<br />
de combustíveis fósseis<br />
- Em desenvolvimento<br />
- Custo elevado das células<br />
de combustível, ciclos de<br />
vida curtos, fiabilidade<br />
-Produção de H2; criação de<br />
infra-estruturas de<br />
transporte<br />
- Custo elevado do veículo<br />
113
ARTIGO TÉCNICO<br />
Nos últimos anos, os veículos eléctricos têm vindo a<br />
conhecer um maior desenvolvimento dos seus subsistemas,<br />
sendo de destacar: novas concepções de máquinas eléctricas<br />
e conversores de potência, estruturas híbridas nos sistemas<br />
de armazenamento de energia (baterias integradas com<br />
super-condensadores e respectivos conversores de<br />
potência). O grande obstáculo continua a residir nas<br />
características das baterias disponíveis (densidades de<br />
energia, ciclos de carga/descarga, custos). Também aqui o<br />
desenvolvimento de sistemas de gestão de energia em<br />
tempo real será um factor determinante no sucesso destes<br />
veículos.<br />
A opção pelas células de combustível é ainda uma incógnita<br />
grande: não só a sua tecnologia se encontra numa fase muito<br />
inicial, como também esta via implicará a disseminação em<br />
larga escala de infra-estruturas para a produção, distribuição<br />
e armazenamento de hidrogénio.<br />
A necessidade de integração de múltiplos domínios<br />
científicos e tecnológicos, tais como, indústria automóvel,<br />
máquinas eléctricas e respectivo controlo, electrónica de<br />
potência e sistemas de armazenamento de energia, com<br />
desempenhos semelhantes aos dos veículos convencionais<br />
(MCI), coloca elevados níveis de exigência à concepção dos<br />
VH e VE. Como tal, a modelização e simulação destes<br />
sistemas assume um papel determinante no seu<br />
desenvolvimento, uma vez que permite a concepção e teste<br />
de novas estruturas e sistemas de controlo, sem grandes<br />
exigências em termos materiais e de tempo. Também no<br />
campo do diagnóstico de avarias é de salientar a mais-valia<br />
conseguidacom ferramentas de modelização e simulação.<br />
Por último, o futuro dos VH e VE passará seguramente pela<br />
integração das opiniões públicas mundiais e respectivos<br />
governos com os interesses de múltiplos sectores, tais como,<br />
indústria automóvel, transportes, comunidade académica e<br />
empresas do ramo energético.<br />
Bibliografia<br />
[1] Ehsani, Mehrdad, Gao,Yimin, E. Gay, Sebastien, Emadi,<br />
Ali (2005). “Modern Electric, Hybrid Electric and Fuel Cell<br />
Vehicles– Fundamentals, Theory and Design”, CRC Press.<br />
[2] Chan, C.C. (2007). “The State of the Art of Electric,<br />
Hybrid, and Fuel Cell Vehicles”, Proceedings of the IEEE,<br />
Vol. 95, No. 4, pp. 704-718.<br />
[3] Chan, C.C. et al. (2010). “Electric, Hybrid and Fuel- Cell<br />
Vehicles: Architectures and Modeling”, IEEE Transactions<br />
on Vehicular Technology, Vol.59, No2, pp. 589-598.<br />
[4] K. T. Chau and C. C. Chan (2007). “Emerging energyefficient<br />
technologies for Hybrid Electric Vehicle”, Proc.<br />
IEEE,vol. 95, no. 4, pp. 821–835.<br />
[5] Hoeijmakers, Martin J., Ferreira, Jan A. (2006). “The<br />
Electric Variable Transmission”, IEEE Transactions on<br />
IndustryApplications, Vol.42, No4, pp. 1092-1100.<br />
[6] Affanni, Antonio et al. (2005). “Battery Choice and<br />
Management for New-Generation Electric Vehicles”, IEEE<br />
Transactions on Industrial Electronics, Vol.52, No5, pp.<br />
1343-1349.<br />
[7] Sun, Liqing et al. (2008). “State of Art of Energy System<br />
for New Energy Vehicles”, IEEE Vehicle Power and<br />
PropulsionConference (VPPC),September 3-5, China.<br />
[8] Miller, John M., Startorelli, Gianni (2010). “Battery and<br />
Ultracapacitor Combinations – Where Should the<br />
Converter Go?”, IEEE Vehicle Power and Propulsion<br />
Conference(VPPC),September 1-3, France.<br />
[9] http://www.mpoweruk.com<br />
[10]Amjad, Shaik al. (2010). “Review of Design<br />
Considerations and Technological Challenges for<br />
Successful Development and Deployment of Plug-in<br />
Hybrid Electric Vehicles”, Renewable and Sustainable<br />
Energy Reviews, No14, pp. 1104-1110, Elsevier.<br />
[11]Somayajula, Deepak et al. (2009). “Designing Efficient<br />
Hybrid Electric Vehicles”, IEEE Vehicular Technology<br />
Magazine, Vol.4, no.2, pp. 65-72.<br />
114
ARTIGO TÉCNICO<br />
Telecomunicações<br />
Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />
artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das telecomunicações.<br />
Nos últimos anos, o sector das telecomunicações em Portugal sofreu profundas alterações decorrentes da introdução de<br />
mudanças significativas ao nível das prescrições especificações técnicas das infra-estruturas de telecomunicações em edifícios<br />
(ITED).<br />
Com efeito, a introdução do DL 59/2000 de 19 de Abril abriu caminho a uma verdadeira revolução nas infra-estruturas de<br />
telecomunicações em edifícios, tendo-se observado, a partir de Janeiro de 2005, à aplicação efectiva das prescrições e<br />
especificações técnicas de telecomunicações em edifícios (1ª Edição Manual ITED) ao nível da realização de projectos e,<br />
consequentemente,na posterior execução das instalações.<br />
Decorridos poucos anos, e em resposta a uma procura cada vez maiores de serviços de maiores larguras de banda, bem como<br />
pela necessidade de harmonização e adaptação da legislação vigente à legislação europeia, no início de 2009 é encetado todo<br />
um trabalho de modernização e adequação do Manual ITED a uma nova realidade que se espera poder perdurar durante vários<br />
anos. Nesse mesmo ano, e pela primeira vez, é iniciado o estudo de soluções técnicas a aplicar a infra-estruturas de<br />
telecomunicações em urbanizações de cariz pública e privada. O Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto<br />
Superior de Engenharia do Porto teve uma contribuição activa e reconhecida com o grupo de consultores da ANACOM na<br />
propostade elaboração dos novos manuais de telecomunicações.<br />
Assim, em Novembro de 2009 são editados a 2ª Edição do Manual ITED e a 1ª Edição do Manual ITUR, preenchendo esta última<br />
edição um vazio legal ao nível das infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações em Portugal, decorrentes da<br />
publicaçãodo DL 123/2009 de 21 de Maio, tendo em conta a redacção conferida pelo DL258/2009 de 25 de Setembro.<br />
Assim, esta compilação de artigos, que vão desde a aplicação das infra-estruturas de telecomunicações em edifícios aplicados à<br />
1ª e 2ª edição do Manual ITED, evidenciação das potencialidades do estabelecimento de infra-estruturas de fibra óptica bem<br />
como referência às infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações, visa contribuir para o enriquecimento do<br />
conhecimento acerca das mudanças técnicas e tecnológicas sofridas ao longo dos últimos anos no sector das telecomunicações<br />
em Portugal.<br />
115
ARTIGO TÉCNICO<br />
Índice<br />
Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios. O Estado da Arte<br />
Manuel Cunha<br />
Responsável Departamento de Certificações ITED no Porto da Portugal Telecom<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
117<br />
ITED – Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios. Novos Horizontes Alcançados<br />
Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
119<br />
Redes “Fiber To The Home – FTTH”. O Despertar de Novos Serviços de Telecomunicações<br />
Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
127<br />
INFRA-ESTRUTURAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM EDIFÍCIOS (ITED). O QUE MUDARÁ COM O ITED RNG ?<br />
133<br />
LUÍS PEIXOTO, SÉRGIO FILIPE CARVALHO RAMOS<br />
TELEVÉS/INSTITUTOSUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA N<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong>, Nº4, OUTUBRO DE 2009<br />
FIBRA ÓPTICA. NOVAS AUTO-ESTRADAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM URBANIZAÇÕES<br />
137<br />
SÉRGIO FILIPE CARVALHO RAMOS , ROQUE FILIPE MESQUITA BRANDÃO<br />
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA N<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong>, Nº5, JUNHO DE 2010<br />
FIBRAS ÓPTICAS. O PARADIGMA<br />
143<br />
EDUARDO SÉRGIO CORREIA<br />
IEMS – INSTALAÇÕES DE ELECTRÓNICA MANUTENÇÃO E SERVIÇOS, LDA<br />
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA N<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong>, Nº6, DEZEMBRO DE 2010<br />
116
ARTIGO TÉCNICO<br />
Manuel Cunha<br />
Responsável Departamento de Certificações ITED no Porto da Portugal Telecom<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios. O Estado da Arte<br />
Hoje em dia quando se fala em ITED, não se fala apenas num<br />
regulamento de infra-estrutura de telecomunicações em<br />
edifícios. Quando se fala em ITED fala-se, também, de<br />
mudança, das novas tecnologias e, sobretudo, de novos<br />
horizontes.<br />
As mudanças tiveram início com a publicação do Decreto-Lei<br />
59/2000 de 19 de Abril, em que, por exemplo, deixou de ser<br />
obrigatório o licenciamento do projecto, impondo assim aos<br />
projectistas a total responsabilidade pela arquitectura das<br />
infra-estruturas.<br />
Por outro lado, liberalizou-se o mercado das certificações,<br />
criando assim espaço ao aparecimento de novas empresas<br />
no sector, sendo neste momento mais de 140 empresas a<br />
certificar.<br />
Em termo das Infra-estruturas, a grande mudança aconteceu<br />
em Julho de 2004, altura em que foi publicada a primeira<br />
edição do Manual ITED, que vigorou em fase de<br />
implementação até Dezembro do mesmo ano em<br />
simultâneo com o RITA, passando em Janeiro de 2005 a ser o<br />
único regulamento aceite.<br />
Se o novo manual se apresentou como um documento algo<br />
ambíguo em determinados pontos, teremos de lhe<br />
reconhecer o devido valor, na medida em que veio dar uma<br />
lufada de ar fresco num sector que se fazia reger por um<br />
regulamento com quase 20 anos, sem que nesse período de<br />
tempo tivesse sofrido qualquer actualização. O regulamento<br />
RITA era já pois um regulamento que não servia as<br />
necessidades dos seus utilizadores e amplamente desfasado<br />
das novas tecnologias.<br />
Nos últimos anos, com o acumular de experiências tem-se<br />
verificado uma constante melhoria na qualidade dos<br />
projectos realizados. No entanto, ainda existe uma gama de<br />
projectistas que, pelo seu minimalismo, hábito<br />
provavelmente adquirido pelos anos que passaram a<br />
projectar pelo regulamento RITA, assim como pelos<br />
apertados orçamentos previstos para a instalação, tendem a<br />
elaborar projectos pouco flexíveis, não preparando as<br />
instalações para as novas tecnologias que se adivinham,<br />
nomeadamentea IPTV.<br />
Neste capítulo, as instituições de ensino superior terão um<br />
papel fundamental a desempenhar, reservando algum<br />
espaço nas cadeiras de projecto para as ITED, promovendo<br />
mesmo um relacionamento entre os alunos e empresas do<br />
sector, quer ao nível de projecto, de instalação, ou mesmo<br />
ao nível da Certificação.<br />
Também na qualidade da instalação se tem verificado uma<br />
curva ascendente bastante positiva, em que os técnicos<br />
instaladores sem formação que se arriscam em cumprir um<br />
projecto com regras diferentes das que estão habituados dão<br />
lugar a técnicos com formação adequada, e com vontade de<br />
se aperfeiçoarema cada obra que realizam.<br />
No capítulo da instalação, há que salientar que também os<br />
117
ARTIGO TÉCNICO<br />
fabricantes que se mostraram atentos às novas exigências do<br />
mercado, renovando as suas ofertas ou desenvolvendo<br />
novos produtos dando assim uma resposta de encontro às<br />
novas exigências de mercado.<br />
Com a abertura do mercado das Certificações ITED, surgiram<br />
muitas empresas, e com elas, alguns desajustes, resultantes<br />
do fraco “know how” de algumas dessas novas empresas,<br />
mas também aqui já se verifica os resultados do trabalho<br />
desenvolvido pela ANACOM na procura de seriedade,<br />
profissionalismoe rigor, exigido pela entidade certificadora<br />
como condições obrigatórias.<br />
O processo ITED, embora ainda esteja a dar os seus<br />
primeiros passos, já demonstra algum amadurecimento, as<br />
primeiras poeiras já assentaram, e consequentemente, já é<br />
possível tirar as primeiras e mais importantes conclusões.<br />
Com base numa análise do que se tem verificado e das<br />
experiências acumulados é pois tempo da ANACOM cumprir<br />
o que inicialmente prometeu, ou seja, rever e actualizar o<br />
Manual ITED.<br />
118
ARTIGO TÉCNICO<br />
Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
ITED – Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios<br />
Novos Horizontes Alcançados<br />
Introdução<br />
Ao longo das últimas décadas, o nosso estilo e hábitos de<br />
vida tem vindo, paulatinamente, a ser alterados e<br />
melhorados, a par do desenvolvimento das economias, e dos<br />
progressos tecnológicos, contribuindo, sobremaneira para<br />
uma melhoria generalizada das condições sociais.<br />
Com desenvolvimento do sector económico tem-se assistido<br />
em Portugal à implementação de ambientes liberalizados em<br />
áreas tradicionalmente controladas pelo estado e, assim,<br />
sujeitas a um verdadeiro regime de monopólio, como eram<br />
os casos do sector energético e das telecomunicações.<br />
A publicação do Decreto-Lei n.º 59/2000, de 19 de Abril e a<br />
subsequente publicação das Prescrições Técnicas de<br />
Instalações e Especificações Técnicas de Equipamentos e<br />
Materiais, projectou Portugal para a vanguarda de um<br />
verdadeiro ambiente concorrencial ao nível das<br />
telecomunicações.<br />
O presente artigo visa, sucintamente, reflectir sobre o novo<br />
enquadramento das Infra-estruturas de Telecomunicações<br />
em Edifício (ITED) criado pelo DL n.º 59/2000, de 19 de Abril,<br />
assim como, evidenciar os aspectos mais específicos desse<br />
mesmo enquadramento.<br />
Enquadramento Legislativo<br />
Na década de 50 do século passado foi editado o Decreto<br />
n.º41486 de 30 de Dezembro de 1957 que regulamentou as<br />
estações receptoras de radiodifusão, decorrentes da<br />
evolução da “caixa que mudou o mundo”, a televisão.<br />
Apenas na década de 80 do século passado foram<br />
fixadas as regras básicas, com o objectivo de dotar os<br />
edifícios de infra-estruturas de telecomunicações,<br />
nomeadamente telefone, telex e dados, com acesso<br />
através de redes físicas, mediante a publicação do<br />
Decreto-Lei 146/87 de 24 de Março – Instalações<br />
Telefónicas de Assinante (ITA). Em execução do regime<br />
fixado, em 8 de Abril de 1987 foi editado o Decreto<br />
Regulamentar n.º 25/87, o Regulamento de Instalações<br />
Telefónicas de Assinante (RITA), que estabeleceu as<br />
condições técnicas a que deveriam obedecer os<br />
projectos, as instalações e a conservação das infraestruturas<br />
de telecomunicações, bem como os<br />
procedimentos legais a seguir para a elaboração de<br />
projectos e solicitação de vistorias às instalações<br />
executadas. Em complemento do RITA, o despacho n.º<br />
42 de 11 de Novembro de 1990, homologou o<br />
Regulamento de Aprovação de Materiais, bem como o<br />
Regulamento de Inscrição de Técnicos Responsáveis.<br />
“Assim, as soluções técnicas instituídas inseriam-se<br />
num contexto de exploração da rede pública de<br />
telecomunicações e oferta de serviço fixo de telefone<br />
em regime de monopólio.” (Diário da República – I<br />
Série A, 19 de Abril de 2000).<br />
Mais tarde, em 1997 e pelo Decreto-Lei n.º249/97 de<br />
23 de Setembro, foi estabelecido o regime de<br />
Instalação, em edifícios, de sistemas de distribuição de<br />
sinais de radiodifusão sonora e televisiva para uso<br />
privativo, por via hertziana terrestre (tipo A), por via de<br />
119
ARTIGO TÉCNICO<br />
satélites de radiodifusão (tipo B), ou por cabo (CATV),<br />
devidamente complementado por Prescrições Técnicas de<br />
instalação e por Prescrições Técnicas de equipamentos e<br />
materiais, revogando o anterior diploma DL 41486.<br />
Com os avanços tecnológicos verificados na área da<br />
electrónica e das telecomunicações, e devido às novas<br />
exigências emergentes do estabelecimento de medidas<br />
legislativas que determinaram a liberalização do sector das<br />
telecomunicações em Portugal, impuseram a necessidade de<br />
formular novas regras para a instalação das infra-estruturas<br />
de telecomunicações em edifícios, bem como para as<br />
actividades de certificação das instalações e avaliação de<br />
conformidadede infra-estruturas,materiais e equipamentos.<br />
Assim, e com o aparecimento actual de legislação foram<br />
estabelecidos os regimes das ITED’s e respectivas ligações às<br />
redes públicas de telecomunicações, assim como o regime<br />
de actividade de certificação das instalações e avaliação de<br />
conformidadede materiais e equipamentos.<br />
Caracterizaçãodas ITED<br />
O artigo 2º do DL 59/2000 considera que as infra-estruturas<br />
de telecomunicaçõesem edifíciosdestinam-se a:<br />
1. Ao acesso aos serviços de telecomunicações fixas<br />
(serviço telefónico e de dados), ligadas a rede públicas<br />
de acesso físicas e a redes públicas de acesso via rádio<br />
(FWA – Fixed Wired Access);<br />
2. Às redes de cabos constituída pela rede de cabos<br />
colectiva (RCC) e pela rede de cabos individual (RCI), para<br />
posteriorligação física às redes de telecomunicações;<br />
3. Aos sistemas de recepção e distribuição de sinais de<br />
radiodifusãosonora ou televisiva (Tipo A e B);<br />
4. Aos sistemas de uso exclusivo do edifício,<br />
nomeadamentevideoportarias e televigilância.<br />
Em todos os edifícios novos ou a reconstruir é obrigatória a<br />
instalação das infra-estruturas necessárias para a instalação<br />
dos diversos equipamentos, cabos e outros dispositivos, bem<br />
como armários e caixas de entrada para ligação a sistemas de<br />
acesso via rádio (FWA), sendo, também, obrigatória a<br />
instalação das infra-estruturas de redes de cabos (RCC e<br />
RIC), para ligação física às redes públicas de<br />
telecomunicações. Estas infra-estruturas devem permitir o<br />
acesso ao serviço fixo telefónico, distribuição de sinais<br />
sonoros e televisivos do tipo A e distribuição por cabo.<br />
Sendo a obrigatoriedade de instalação destas infraestruturas<br />
para distribuição de sinais sonoros e televisivos do<br />
tipo A, aplicável aos edifícios com 4 ou mais fracções<br />
autónomas(artigo 4º do DL 59/2000, de 19 de Abril).<br />
A instalação das infra-estruturas das ITED deve obedecer a<br />
um projecto técnico especializado, realizado por um<br />
projectista devidamente credenciado, inscrito na Autoridade<br />
Nacional de Comunicações(ANACOM).<br />
Projectista ITED – Quais as suas obrigações<br />
Cabe ao dono de obra escolher livremente o projectista de<br />
infra-estruturas de telecomunicações. O projectista tem<br />
como obrigações executar o projecto ITED em conformidade<br />
com o estado da arte e legislação em vigor, prestando todos<br />
os esclarecimentos necessários ao promotor da obra, ao<br />
instalador e à entidade certificadora para a correcta<br />
interpretação do projecto. O projectista deverá, também,<br />
dar os esclarecimentos necessários sobre o projecto<br />
realizado, a assistência técnica ao instalador e dono de obra<br />
na selecção dos componentes e materiais a serem utilizados,<br />
assim como, acompanhar a execução das obras, colaborar<br />
nas acções realizadas pelas entidades responsáveis por<br />
fiscalização e vistorias, disponibilizar ao dono de obra, bem<br />
como à entidade certificadora o projecto técnico ITED. Os<br />
projectistas, deverão, ainda, emitir um termo de<br />
responsabilidade que ateste a observância das normas gerais<br />
e específicas constantes das disposições legais e<br />
regulamentares aplicáveis, que dispensará a apreciação<br />
prévia dos projectos por parte dos serviços municipais.<br />
Finalmente, o projectista deverá endereçar uma cópia do<br />
termo de responsabilidadeà ANACOM.<br />
120
ARTIGO TÉCNICO<br />
O Projecto Técnico ITED<br />
O projecto técnico das instalações ITED tem como objectivo<br />
a definição da arquitectura da rede (e seus percursos), a<br />
definição e respectiva caracterização da rede de cabos e da<br />
rede de tubagens (quer se tratem de rede colectivas ou<br />
individuais), definição e dimensionamento de equipamentos<br />
e materiais a usar, permitindo a instalação das redes de<br />
tubagens, cabos e equipamentos, com total clareza, de<br />
modo a não suscitar dúvidas aos técnicos instaladores.<br />
De acordo com o consagrado no artigo 12.º do Decreto-Lei<br />
59/2000, de 19 de Abril, o projecto técnico ITED deve incluir<br />
obrigatoriamenteos seguinteselementos:<br />
a) Informação identificadora do projectista, do edifício a<br />
que se destina, nomeadamente da sua finalidade;<br />
b) Memória descritiva, contendo os esclarecimentos<br />
necessários à correcta interpretação do projecto, os<br />
pressupostos que foram considerados, nomeadamente<br />
as características dos interfaces técnicos de acesso de<br />
redes públicas de telecomunicações, os cálculos técnicos<br />
dos parâmetros principais da infra-estrutura, referência<br />
ao modo como o projecto assegura a não interferência<br />
com outras infra-estruturas do edifício, as características<br />
técnicas a que devem obedecer os equipamentos e<br />
materiais que irão ser utilizadosna infra-estrutura.<br />
O projecto ITED deverá ainda ter em conta o estabelecido no<br />
nº2 do artigo 40º, do DL 59/2000, de 19 de Abril, ou seja, as<br />
instalações ITED devem respeitar os parâmetros técnicos da<br />
interface de acesso às redes públicas de telecomunicações<br />
devendo, também, respeitar o designado nos guias de<br />
instalação dos fabricantes dos materiais e equipamento. O<br />
projecto deve contemplar obrigatoriamente os Pontos<br />
Terminais(PT) de todas as redes das ITED.<br />
Quantoaos equipamentosterminais de cliente, é desejável<br />
que o projecto defina o tipo, a capacidade, a quantidade e a<br />
localização desses equipamentos. O projecto deverá ter em<br />
conta o aspecto estético exterior das instalações,<br />
privilegiandoa não existência de cablagem à vista.<br />
As novas infra-estruturas de telecomunicações em edifícios<br />
conduzem a uma procura de uma maior qualidade dos<br />
serviços prestados aos utilizadores. Assim, com vista a<br />
promover ao aperfeiçoamento tecnológico das instalações<br />
surgem os Níveis de Qualidade (NQ) dos seus constituintes.<br />
Com efeito, as necessidades de acesso dos utilizadores a<br />
serviços de telecomunicações a larguras de banda cada vez<br />
maiores conduziram à subdivisão por frequências de<br />
trabalho e pelos diversos tipos de cablagem,<br />
nomeadamente:<br />
- Cabos de par de cobre;<br />
- Cabo coaxial;<br />
- Fibra óptica.<br />
A cada grupo corresponde um NQ distinto. Assim é atingida<br />
uma melhor caracterização dos requisitos obrigatórios<br />
decorrentes do DL 59/2000. A tabela 1, referente a cabos de<br />
pares de cobre, indica a correspondência entre a classe de<br />
ligação que o percurso de transmissão suporta, a categoria<br />
do cabo e a frequência máxima para que são especificados.<br />
Classe<br />
da<br />
Ligação<br />
A<br />
B<br />
Categoria dos<br />
Componentes<br />
(Cabo)<br />
1<br />
2<br />
Tabela 1 – Categorias de cabos e componentes de par de cobre e<br />
classes correspondentes<br />
Frequência<br />
Máxima<br />
(MHz)<br />
0,1<br />
C 3 16<br />
-<br />
4<br />
20<br />
D 5 100<br />
E<br />
F<br />
6<br />
7<br />
250<br />
(Adap.: Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)<br />
1<br />
600<br />
121
ARTIGO TÉCNICO<br />
A tabela 2 indica os meios de transmissão utilizados que<br />
deverão satisfazeros diversos níveis de qualidade.<br />
O NQ 0, ao abrigo de antigos regulamentos, foi abandonado<br />
em termos de solução para a instalação de infra-estruturas<br />
de telecomunicaçõesem edifícios.<br />
A tabela 3 enuncia os diversos níveis de qualidade da<br />
cablagem a instalar nos diferentes edifícios e, define os NQ<br />
mínimos e recomendados decorrentes, respectivamente dos<br />
requisitos mínimos estabelecidos no DL 59/2000, e nas<br />
sugestões tecnicamente mais avançadas emitidas pela<br />
ANACOM.<br />
Em função das infra-estruturas de telecomunicações a<br />
instalar, é necessário diferenciar os diversos edifícios.<br />
Também é previsto a coexistência de soluções mínimas e<br />
recomendadas.<br />
Níveis<br />
(NQ)<br />
Sub-Nível<br />
Tipo<br />
de<br />
Cablagem<br />
Classe ou Frequência<br />
suportada<br />
Categorias dos<br />
Cabos Par Cobre<br />
Fibra Óptica<br />
0<br />
-<br />
Par Cobre<br />
Classes A e B<br />
Categorias 1 e 2<br />
1<br />
a<br />
b<br />
c<br />
Pares<br />
de<br />
Cobre<br />
Classe C<br />
Classe D<br />
Classe E e F<br />
Categoria 3<br />
Categoria 5<br />
Categoria 6 e 7<br />
2<br />
a<br />
b<br />
Coaxial<br />
Frequência até 1 GHz<br />
Frequência até 2150 MHz<br />
Não se aplica<br />
Não se aplica<br />
3<br />
-<br />
Fibra óptica<br />
(depende tipo fibra)<br />
OM1, OM2, OM3 E OS1<br />
Tabela 2 – Definição dos Níveis de Qualidade<br />
(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)<br />
EDIFÍCIOS<br />
Nível de Qualidade (NQ) da Cablagem<br />
Cablagem a Instalar (Tipo / Número)<br />
Rede Colectiva Rede Individual Rede Colectiva Rede Individual<br />
Moradia Unifamiliar<br />
2 e 3 fracções<br />
autónomas<br />
4 ou mais fracções<br />
autónomas<br />
não existe<br />
NQ1a<br />
NQ2a<br />
NQ1b<br />
NQ2a<br />
MÍNIMO<br />
RECOMENDADO<br />
não existe<br />
Par Cobre /1<br />
Cabo Coaxial /1<br />
Par Cobre /1<br />
Cabo Coaxial /2<br />
Par Cobre /1<br />
Cabo Coaxial /1<br />
Moradia Unifamiliar não existe não existe Par de Cobre /1<br />
2 ou mais fracções<br />
autónomas<br />
NQ1b<br />
NQ2a e NQ2b<br />
NQ1b<br />
NQ2a e NQ2b<br />
Par de Cobre /1<br />
Cabo Coaxial (NQ2a) /2<br />
Cabo Coaxial (NQ2a) /1<br />
Cabo Coaxial /1<br />
Par de Cobre /1<br />
Cabo Coaxial (NQ2a) /1<br />
Tabela 3 – Tabela dos níveis de qualidade da cablagem e da cablagem a instalar, consoante o tipo de edifícios<br />
(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)<br />
122
ARTIGO TÉCNICO<br />
Assim, para os edifícios de 1 a 3 fracções autónomas devem<br />
ser instaladas, pelo menos, 2 redes de cablagem, uma em<br />
par de cobre (PC) e uma outra em cabo coaxial (CC). Para os<br />
edifícios de 4 ou mais fracções autónomas devem ser<br />
instaladas, pelo menos, 3 redes de cablagem na rede<br />
colectiva, uma em par de cobre, outra em cabo coaxial e<br />
ainda uma outra (também em cabo coaxial) para a recepção<br />
e distribuição de sinais de radiodifusão sonora e televisiva do<br />
tipo A (MATV). Finalmente, as redes individuais (fracção<br />
autónoma) são compostas por 2 redes de cablagem, uma em<br />
par de cobre e outra em cabo coaxial.<br />
O Projecto Técnico ITED – Critérios de concepção<br />
Em termos de concepção de projecto de ITED para fracções<br />
residenciais, e relativamente a PC, deve prever-se no<br />
mínimo:<br />
- 1 Tomada telefónicapor quarto;<br />
- 1 Tomada por sala;<br />
- 1 Tomada por cozinha.<br />
Como a tomada da cozinha poderá estar sujeita a condições<br />
especiais deverá existir um cuidado especial na sua<br />
localização de modo a minorar essa situação,<br />
nomeadamente o mais possível afastada de fontes de vapor<br />
e calor. Deverão ser utilizadas tomadas e cabos adaptados a<br />
essas situações.<br />
Para fracções de uso profissional ou não residencial o critério<br />
de concepção da rede de cabos de par de cobre deve<br />
contemplar:<br />
- 1 Tomada por cada posto de trabalho ou por cada 10 m².<br />
tipologia em estrela, até às tomadas de cliente. Estas<br />
ligações são tipicamente efectuadas por cabos de 4 pares de<br />
cobre (UTP - Unshielded TwistedPair, por exemplo).<br />
Todas as tomadas de cliente podem ser interligadas entre si,<br />
no DDC, por intermédio de chicotes adequados, permitindo<br />
distribuiro sinal das entradas por todas as tomadas.<br />
Aquando da previsão da quantidade mínima de pares de<br />
cobre da rede colectiva, prevendo necessidades acrescidas<br />
ou avarias, dever-se-á, obrigatoriamente considerar 4 pares<br />
de cobre por fracção autónoma, e prever um<br />
sobredimensionamento de 20% no valor total de pares de<br />
cobre. A folga de 20% é justificada pela ANACOM como uma<br />
medida de facilitação na ligação rápida a novos clientes, com<br />
um mínimo de intervenção.<br />
Relativamente à rede colectiva de cabos coaxiais, nos<br />
edifícios com 3 ou mais fracções autónomas, deverá ser<br />
constituída, no mínimo por um 1 sistema de cabo coaxial,<br />
adaptado ao NQ2a, conforme a tabela 3. Por sua vez, nos<br />
edifícios com mais de 4 fracções autónomas, deverá, no<br />
mínimo, ser constituída por 2 sistemas de cabos coaxial,<br />
adaptado ao NQ2a, sendo um deles destinado à recepção de<br />
sinal CATV (Community Antenna Television) e o segundo à<br />
recepção de sinal MATV (Master Antenna Television –<br />
sistema de distribuição e recepção Tipo A).<br />
Nas redes de cabo coaxial é recomendado a utilização de<br />
cabos coaxiais flexível dos tipos RG11, RG7, RG6 ou RG59,<br />
devendo-se respeitar as atenuações típicas de cada tipo de<br />
cabo. Os níveis de sinal na entrada deverão estar<br />
compreendidosentre 75 e 100 dBµV.<br />
No caso de outras fracções autónomas em locais específicos,<br />
tais como industrias, estabelecimentos públicos, etc, o<br />
projectista deve ter em conta as necessidades específicas do<br />
cliente.<br />
Na elaboração da rede de pares de cobre, por exemplo numa<br />
fracção para uso residencial, a distribuição a partir do<br />
Dispositivo de Derivação do Cliente (DDC) apresenta uma<br />
A rede individual de cabos é, normalmente, constituída por<br />
um único sistema de cabo coaxial, adaptado a frequências<br />
até 1GHz. Aquando da elaboração da rede individual de<br />
cabos coaxiais, dever-se-á ter em atenção os critérios de<br />
dimensionamento já mencionados no primeiro parágrafo<br />
desta secção.<br />
Ainda nas fracçõesresidenciais, é recomendada a existência<br />
123
ARTIGO TÉCNICO<br />
de uma Zona de Acesso Privilegiado (ZAP), que é<br />
caracterizada pela existência, no mesmo local, de 2 tomadas<br />
coaxiais a uma distância máxima de, aproximadamente,<br />
30cm uma da outra (se possível, integradas no mesmo<br />
espelho). Embora a localização da ZAP esteja ao critério do<br />
projectista ela é colocada usualmente na sala de estar. A ZAP<br />
permitirá, assim, a ligação a um mesmo dispositivo terminal<br />
de 2 sinais distintosprovenientes de redes coaxiais.<br />
O projecto ITED contempla, ainda, o projecto da respectiva<br />
instalação eléctrica das ITED. Assim, dever-se-á prever a<br />
instalação de 4 tomadas de potência monofásicas com terra<br />
no Armário de Telecomunicações do Edifício (ATE),<br />
proveniente do Quadro de Serviços Comuns do Edifício (QSC)<br />
e 1 tomada no Armário de Telecomunicações Individual<br />
(ATI), proveniente do quadro eléctrico da fracção autónoma.<br />
A rede de terras das ITED deverá ser estabelecida de forma<br />
independenteda rede de terras da electricidade. A ligação<br />
da rede de terra ITED e electricidade deverá ser feita apenas<br />
no ligador geral de terras. A título de exemplo, o condutor<br />
de terra do circuito de alimentação da tomada de um ATI<br />
não deve ser ligado ao barramento de terra da ATI mas sim<br />
ao barramento de terra do quadro eléctrico da fracção<br />
autónoma respectiva.<br />
As figuras 1 e 2 representam um esquema resumido da rede<br />
individual de tubagem e de cabos, respectivamente. Cada<br />
uma das redes individuais é composta por tubagem e caixas.<br />
A rede de cabos é compostapelos dispositivos de ligação e<br />
distribuição dos Pares de Cobre e Cabo Coaxial e pelos<br />
diferentes tipos de cabos, por exemplo, cabo par de cobre<br />
tipo UTP-4’’ Categoria 5 e cabo coaxial tipo RG6.<br />
A categoria mínima de par de cobre pertencente a uma rede<br />
individual deve ser da Categoria 5 e o Nível de Qualidade do<br />
cabo coaxial deve ser NQ2a, ou seja, frequências até 1 GHz<br />
(recepçãode sinal sonoro televisivo Tipo A e CATV).<br />
≥ 25mm Ø<br />
pares de cobre<br />
≥ 20mm Ø<br />
QE<br />
I1<br />
40mm Ø<br />
≥ 20mm Ø<br />
PAT<br />
CEMU<br />
≥ 32mm Ø coaxial/fibra óptica<br />
ATI<br />
25mm Ø<br />
50mm Ø<br />
Moradia<br />
Figura 1 – Moradia Unifamiliar – Rede individual de tubagem<br />
≥ 25mm Ø (pares de cobre)<br />
QE<br />
ATI<br />
I1<br />
PAT<br />
UTP<br />
Entrada de<br />
cabos aérea<br />
CEMU<br />
Entrada de cabos subterrânea<br />
Profundidade ≥ 0,6 m<br />
≥ 32mm Ø (coaxial/fibra óptica)<br />
D<br />
D<br />
TC<br />
C<br />
RG59/<br />
RG6/<br />
RG7<br />
Moradia<br />
RJ45<br />
h ≥ 2,5 m<br />
Figura 2 – Moradia Unifamiliar – Rede individual de cabos<br />
124
ARTIGO TÉCNICO<br />
A figura 3 representa o esquema da rede colectiva e<br />
individual de tubagem de uma instalação colectiva. Cada<br />
uma das redes é composta por tubagem (a qual se deve<br />
respeitar a determinação do diâmetro mínimo interno) e<br />
pelas respectivas caixas. A categoria mínima de par de cobre<br />
pertencentea uma rede colectiva deve ser da Categoria 3.<br />
Nos edifícios com 3 ou menos fracções autónomas, a rede<br />
colectiva deve ser constituída no mínimo por 1 sistema de<br />
cabo coaxial, adaptado ao NQ2a. Nos edifícios com 4 ou mais<br />
fracções autónomas, a rede de cabo coaxial deve ser<br />
constituída, no mínimo, por 2 sistemas de cabo coaxial,<br />
adaptadosao NQ2a(MATV e CATV).<br />
PAT - Passagem aérea de<br />
topo (obrigatória)<br />
Sistemas de antenas<br />
(MATV, SMATV, FWA)<br />
ATE - Armário de<br />
Telecomunicações de<br />
Edifício (superior)<br />
Permite a ligação dos<br />
sistemas de antenas<br />
As redes<br />
individuais de<br />
cabos seguem uma<br />
topologia em<br />
estrela (obrigatório)<br />
Os componentes e os<br />
cabos em pares de cobre<br />
das RIC são de categoria 5<br />
ou superior<br />
Rede Individual de<br />
Cliente (RIC) -<br />
residencial ou escritório<br />
Os componentes e os<br />
cabos coaxiais das RIC<br />
suportam sinais, no<br />
mínimo, até 1GHz<br />
Coluna Montante de<br />
cabos de pares de cobre<br />
de categoria 3 ou<br />
superior (+ reserva)<br />
ATI<br />
Armário de<br />
Telecomunicações<br />
Individual<br />
ATI<br />
Tomadas de cliente<br />
(par de cobre e cabo<br />
coaxial)<br />
Na rede individual os<br />
cabos partilham a<br />
mesma tubagem<br />
Coluna Montante de<br />
sistemas de cabos<br />
coaxiais (+ reserva)<br />
ATI<br />
ATI<br />
(num edifício de 4 ou mais<br />
fracções é obrigatória a<br />
existência de 2 sistemas,<br />
que partilham a mesma<br />
tubagem)<br />
Entrada<br />
subterrânea<br />
(obrigatória)<br />
Tubos de entrada<br />
de cabos de<br />
operadores<br />
Caixa de<br />
entrada de<br />
cabos<br />
(opcional)<br />
ATE (inferior)<br />
Ponto de ligação<br />
dos operadores<br />
das redes fixas<br />
Câmaras de<br />
Visita de<br />
operadores<br />
Figura 3 – Exemplo dos espaços e redes de tubagens de uma ITED<br />
(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)<br />
125
ARTIGO TÉCNICO<br />
Certificação, Vistorias e Fiscalização<br />
Considerações finais<br />
Durante a execução das infra-estruturas de<br />
telecomunicações ou no seu término, são efectuadas<br />
“análises” às instalações, com o principal objectivo de<br />
certificar a conformidade das instalações, de acordo com as<br />
Prescrições e Instruções Técnicas e, sobretudo, de acordo<br />
com o projecto apresentado, bem como certificar a<br />
conformidade dos materiais e a sua adequação ao ambiente<br />
do local a instalar. As instalações são verificadas por uma<br />
entidade certificadora ou instalador-certificador. Com efeito,<br />
e segundo o número 2 do artigo 22º do DL 59/2000, no caso<br />
da instalação ter sido realizada por um instaladorcertificador,<br />
pode o mesmo proceder à auto certificação da<br />
obra, com emissão do correspondente certificado. Por outro<br />
lado, no caso da instalação ter sido realizada por um<br />
instalador devidamente inscrito como tal no ICP-ANACOM,<br />
mas não qualificado para proceder à certificação, esta deve<br />
ser efectuada por um instalador-certificador ou por uma<br />
entidadecertificadora.<br />
É da competência do instalador-certificador ou entidade<br />
certificadora emitir certificados de conformidade das<br />
instalações, fiscalizar (em fase de execução) as instalações,<br />
Alertar o director de obra para qualquer facto relevante<br />
relativo à execução da instalação e participar na vistoria que<br />
conduz à emissão de licença ou à autorização de utilização<br />
do edifício. A posterior conservação da ITED e os respectivos<br />
encargos são da responsabilidade dos proprietários ou das<br />
administrações dos edifícios, artigo 32º do DL 59/2000,<br />
podendo ser efectuada por um instalador escolhido pelo<br />
dono de obra.<br />
As Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios e<br />
respectiva legislação, não são especificações fixas ao longo<br />
do tempo, pelo contrário, as soluções técnicas adoptadas<br />
para cada um dos projectos, a par das evoluções<br />
tecnológicas, contribuem para que ao nível das ITED’s haja<br />
uma constante actualização de conhecimento e soluções<br />
técnicas. Todo este processo é, pois, dinâmico requerendo,<br />
por isso, uma constante necessidade de formação nos<br />
domínios das ITED’s.<br />
O projectista é soberano na escolha dos diferentes Níveis de<br />
Qualidade para as instalações, salvaguardando-se sempre a<br />
obrigatoriedade de cumprimento de Níveis de Qualidade<br />
mínimo exigidos. Porém, e de forma a dotar as infraestruturas<br />
de melhores desempenhos, a escolha e selecção<br />
desses mesmos Níveis de Qualidade poderão ser superiores<br />
aos especificados regulamentarmente, aliás, e ao nível da<br />
concepção do projecto ITED bem se poderá dizer que... o céu<br />
é o limite!<br />
A elaboração deste artigo surge no seguimento da segunda<br />
publicação da revista técnica “Neutro à Terra”, da área de<br />
Máquinas e Instalações Eléctricas, do grupo de disciplinas de<br />
Sistemas Eléctricos de Energia, do Departamento de<br />
Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de<br />
Engenharia do Porto e visa, fundamentalmente, contribuir<br />
para o enriquecimento do conhecimento das competências<br />
no âmbito de actuação do projecto ITED.<br />
126
ARTIGO TÉCNICO<br />
Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
Redes “Fiber To The Home – FTTH”<br />
O Despertar de Novos Serviços de Telecomunicações<br />
1. Enquadramento<br />
2. Novos Serviços de Telecomunicações<br />
Se há poucos anos não imaginávamos as nossas vidas sem o<br />
conforto proporcionado pela iluminação artificial, fruto do<br />
desenvolvimento e proliferação da produção, transporte e<br />
distribuição de energia eléctrica, seguramente que nos dias<br />
de hoje é indissociável juntar a esse mesmo conforto e estilo<br />
de vida a utilizaçãodos meios de telecomunicaçõesactuais.<br />
Com efeito, a vulgarização do uso de telemóveis, a recepção<br />
e transmissão de dados a velocidades cada vez maiores, o<br />
aparecimento de televisão de alta definição (TVAD) em<br />
substituição do actual formato PAL, a surgimento de ofertas<br />
de novos serviços como o Vídeo on Demand a par da<br />
emergente televisão digital terrestre constituem,<br />
seguramente, uma nova revolução nas infra-estruturas de<br />
telecomunicaçõesdomésticase profissionais.<br />
O sector das telecomunicações tem sido aquele que se<br />
encontra em pleno crescimento, com os fabricantes e<br />
operadores a lançarem novos produtos e soluções de forma<br />
continuada, bem como uma atenta e perspicaz reacção por<br />
parte dos legisladores. Assiste-se verdadeiramente na<br />
indústria das telecomunicações a um movimento<br />
relacionado com a convergência para as redes IP (“Internet<br />
Protocol”,ou Protocolo de Internet).<br />
Esta nova oferta de serviços de telecomunicações apenas<br />
tem sido possível pelos enormes investimentos realizados<br />
pelos operadores, de forma a dar uma resposta cabal às<br />
necessidades de operabilidade e de inovação de serviços aos<br />
consumidoresdomésticos e empresariais.<br />
Tem-se assistido a uma estratégia comum por parte dos<br />
diversos operadores em fornecer aos seus clientes “pacotes”<br />
de serviços de telecomunicações. A oferta desses serviços,<br />
denominados por “Triple Play”, disponibiliza numa única<br />
plataforma: telefone, internet de banda larga, “vídeo on<br />
demand” e televisão. Do ponto de vista económico estes<br />
serviços disponibilizados pelos operadores poderá ser<br />
vantajoso na medida em que os clientes, tendencialmente,<br />
pagarão menos pelo conjunto de todos os serviços do que<br />
pagaria por eles em separado.<br />
Assim, e para que estes serviços possam chegar ao<br />
consumidor final, no seu potencial máximo de exploração, é<br />
necessário criar e dotar as infra-estruturas de<br />
telecomunicaçõesque suportem tais serviços.<br />
A crescente inovação tecnológica no sector das<br />
telecomunicações origina, forçosamente, mudanças<br />
sucessivas ao nível das redes e dos serviços dos operadores,<br />
e ainda nas infra-estruturas individuais (dentro das fracções<br />
autónomas). De facto, é necessário dotar as fracções de<br />
novos meios que possibilitem recepcionar os novos serviços<br />
de telecomunicações. A par da utilização de cabos em par de<br />
cobre de classes cada vez maiores, e da utilização de cabos<br />
coaxiais de maiores frequências, a utilização de fibra óptica<br />
poderá constituir uma nova realidade para dotar as infraestruturasde<br />
telecomunicaçõesinteriores.<br />
Dada a crescente tendência dos operadores chegarem a casa<br />
dos clientes em fibra óptica para disponibilização de serviços<br />
“Triple Play”, a extensão desta tecnologia poderá, pois,<br />
entrar pelas nossas casas de forma a dinamizar e<br />
proporcionar cada vez mais melhores serviços de<br />
telecomunicações.<br />
127
ARTIGO TÉCNICO<br />
3. “Fiber To The Home ”<br />
Fiber To The Home (FTTH) é uma tecnologia de interligação<br />
de residências através de fibras ópticas para o fornecimento<br />
de serviços de comunicação de dados, TV digital, internet e<br />
telefone,conforme ilustrado na a figura 1.<br />
Paulatinamente, os operadores têm substituído os cabos de<br />
par de cobre e coaxiais (no caso de serviços de “Community<br />
Antenna Television” – CATV) pela fibra óptica, levando-a até<br />
às nossas casas.<br />
As residências são ligadas a um ponto do operador (ponto 3<br />
da figura 1), designada por terminal de fibra ou “Tap<br />
Closure”.<br />
Os operadores têm apostado na instalação das redes FTTH<br />
cuja tecnologia mais utilizada é a GPON (“Gigabit Passive<br />
Optical Network”). Neste tipo de redes a distribuição de sinal<br />
é feita por equipamentos sem qualquer electrónica,<br />
passivos, portanto, conforme a figura 1. Usualmente, os<br />
equipamentos activos encontram-se localizados no edifício<br />
técnico central (ponto 1 da figura 1 – “Central Office” – OLT –<br />
“Optical Line Terminal”). Na fracção respeitante ao cliente<br />
encontra-seinstaladoo ONT – “Optical Network Terminal”.<br />
Pelo facto de serem redes passivas apresentam como grande<br />
vantagem a redução com os custos de exploração e<br />
manutenção, quando comparadas com as redes de CATV e<br />
xDSL (tecnologia avançada de transmissão analógica a qual<br />
permite transportar informação digital a elevadas<br />
velocidades através de pares de cobre, mediante sistemas de<br />
modulação-desmodulaçãocomplexos).<br />
A rede GPON é uma rede óptica ponto-multiponto que<br />
compartilha numa única fibra óptica diversos pontos finais<br />
usuários. Uma rede GPON consiste na ligação de<br />
equipamentos OLT, de um lado, e do outro lado conectados<br />
em vários outros equipamentos ONT, conforme a figura 1, e<br />
que poderão estar localizados em condomínios (ONU –<br />
“Optical Network Units”) ou residências (ONT). O sinal óptico<br />
é, pois, transmitido pelo OLT por uma única fibra e nessa<br />
mesma fibra são feitas derivações mediante a utilização de<br />
divisores ópticos passivos de forma a possibilitar a sua<br />
conectorização às ONT's ou ONU’s. Cada ONT transmite e<br />
recebe um canal óptico independente e disponibiliza para o<br />
cliente final entre 1Mbit/s e 1Gbit/s, para as aplicações de<br />
voz, dados e vídeo.<br />
Figura 1 – Exemplo de uma rede “Online Service Provider” (OSP Network)<br />
128
ARTIGO TÉCNICO<br />
Existe, ainda uma outra possibilidade de projecto para FTTH,<br />
denominada FTTH em modo dedicado (D-FTTH). Num<br />
projecto FTTH em modo dedicado a fibra óptica funciona<br />
directamente de centro técnico a um cliente final. A fibra<br />
dedicada fornece a maioria de largura de banda uma vez que<br />
entrega toda a largura de banda de uma única fibra.<br />
Contudo, o custo de D-FTTH é ainda considerado por grande<br />
parte dos operadores como altamente proibitiva.<br />
A figura 2 apresenta uma ilustração esquemática de como a<br />
arquitectura de uma FTTH varia relativamente às distâncias<br />
de fibra óptica utilizada entre o centro técnico e o cliente<br />
final.<br />
Fiber to the Home é a tecnologia de banda larga para o<br />
mercado de massa do futuro, em termos de<br />
telecomunicações. O FTTH disponibiliza o transporte<br />
simultâneo de uma série de serviços, tais como internet com<br />
acesso cada vez mais rápido, telefone e televisão através de<br />
uma única fibra óptica.<br />
Com o FTTH, a rede de acesso será baseada na fibra e capaz<br />
de promover velocidades de 100Mb/s, 1Gb/s, podendo<br />
mesmo chegar-se aos 40Gb/s. Com certeza que tal feito<br />
criará uma rede de acesso com inúmeras possibilidades e<br />
potencialidades. Esta tecnologia suportará um modelo<br />
aberto completo pelo qual o consumidor terá total liberdade<br />
de escolha do seu fornecedor de serviço contribuíndo,<br />
decisivamente, para a solidificação da livre concorrência<br />
neste sector.<br />
Em virtude das suas características, as fibras ópticas<br />
apresentam vantagens inquestionáveis sobre os demais<br />
sistemas,nomeadamente:<br />
• Apresentaçãode dimensões reduzidas;<br />
• Capacidade para transportar grandes quantidades de<br />
informaçãonum par de fibra óptica;<br />
• Atenuação muito baixa, o que promove grandes<br />
distâncias entre regeneradores de sinal, com distância<br />
entre regeneradores superiores a algumas centenas de<br />
quilómetros;<br />
• Excelente imunidade às interferências<br />
electromagnéticas;<br />
• Matéria-primaabundante;<br />
• Custo cada vez mais reduzido,<br />
• Material que não sofrem qualquer inconveniente a<br />
descargaseléctricase/ou atmosféricas.<br />
Legenda:<br />
FTTN - Fiber to the node / neighborhood<br />
FTTC – Fiber to the curb<br />
FTTB – Fiber to the building<br />
FTTH – Fiber to the home (FTTH)<br />
Figura 2 – Exemplo de várias arquitecturas FTTH<br />
129
ARTIGO TÉCNICO<br />
No entanto, a utilização e manuseamento de fibra óptica<br />
requer técnicas especializas, designadamente no que<br />
respeita aos aspectos referentes com a junção, terminação e<br />
ensaio, pelo que deverá ser manuseado por técnicos com<br />
formação específica nesta área. O custo de converter um<br />
sinal óptico em eléctrico ou vice-versa, é ainda mais oneroso<br />
do que transmitir esse mesmo sinal, por exemplo, num par<br />
de cobre, pese embora seja expectável que este cenário se<br />
modifique a curto prazo.<br />
Finalmente, não se poderá esquecer o risco de<br />
vulnerabilidade associada à utilização da fibra óptica. Com<br />
efeito, e dado que as fibras apresentam grandes capacidades<br />
de transmissão, poderá haver a tendência para veicular<br />
muita informação numa única fibra. O risco de acontecer um<br />
desastre e, consequentemente, a perda de grandes<br />
quantidades de informação e comunicação poderão ser<br />
elevadas.<br />
No entanto, e dada as vantagens acrescidas da utilização das<br />
fibras ópticas, combinando acções de segurança em caso de<br />
catástrofe, são, com toda a certeza uma realidade ao dispor<br />
dos serviços de telecomunicações.<br />
4. Fibra Óptica: Suas Potencialidades<br />
O aumento da procura por serviços com cada vez maiores<br />
larguras de banda impele a que sejam utilizadas infraestruturas<br />
adequadas. A fibra óptica surge como resposta<br />
aos sistemas de comunicação, pois oferece por fibra uma<br />
largura de banda na ordem das centenas de GHz, o que<br />
equivale a mais de 6 milhões de canais telefónicos<br />
convencionais. Daí as vantagens competitivas que os<br />
operadores poderão advir com a utilização das infraestruturasde<br />
fibra óptica.<br />
O aumento crescente entre os requisitos de aplicações e as<br />
capacidades técnicas (por exemplos dos computadores)<br />
fomentam a utilizaçãode maiores larguras de banda.<br />
A figura 3 mostra o aumento exponencial na procura de<br />
maior largura de banda resultante da inovação tecnológica<br />
nos produtos e serviços disponibilidades aos clientes finais.<br />
Assim, o investimento por parte dos operadores na<br />
instalação de redes FTTH, a par com a devida dotação<br />
interior dos edifícios, ao nível da recepção e transmissão de<br />
sinal, conduzirá a que, ao nível dos serviços de<br />
telecomunicações, sejam disponibilizadas larguras de banda<br />
cada vez mais elevadas o que contribuirá fortemente para o<br />
desenvolvimento da economia, da difusão da informação e,<br />
consequentemente,da formação das pessoas do país.<br />
Figura 3 – Tendência da evolução da procura da Largura de Banda<br />
130
ARTIGO TÉCNICO<br />
5. Considerações Finais<br />
As redes de fibra óptica são, há já algum tempo, uma<br />
realidade no nosso país. Para isso, a contribuição dos<br />
operadores tem sido decisiva. Uma eventual futura exigência<br />
desta tecnologia, ao nível do projecto e execução de infraestruturas<br />
de telecomunicações, reforçaria ainda mais a<br />
visão de inovação e aproveitamento tecnológico que estas<br />
“auto-estradas”das telecomunicaçõestêm para oferecer.<br />
A elaboração deste artigo surge no seguimento da terceira<br />
edição da Revista Técnica “Neutro à Terra”, do grupo de<br />
Instalações Eléctricas, do grupo de disciplinas de Sistemas<br />
Eléctricos de Energia, do Departamento de Engenharia<br />
Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
e visou, fundamentalmente, contribuir para uma maior<br />
familiarização da tecnologia FTTH e para despertar a atenção<br />
das enormes potencialidades que estas infra-estruturas<br />
podem oferecer, bem como pela mudança significativa que<br />
poderá ocorrer nas nossas vidas, tal como a conhecemos<br />
pois, o futuro…é já amanhã!<br />
Imagem adaptada de: http://www.proscend.com/<br />
131
132<br />
CURIOSIDADE
ARTIGO TÉCNICO<br />
Luís Peixoto, Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />
Televés/Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios (ITED)<br />
O que mudará com o ITED RNG ?<br />
A defesa dos interesses dos consumidores de comunicações<br />
electrónicas passa por infra-estruturas de telecomunicações<br />
modernas, fiáveis e adaptadas aos serviços dos operadores<br />
públicos.<br />
É com este parágrafo que se iniciam as prescrições técnicas<br />
do novo Manual de Infra-estruturas de Telecomunicações<br />
em Edifícios (ITED) alterado e renovado de acordo com as<br />
Novas Normas Europeias e sobretudo com a necessidade de<br />
se adaptarem os edifícios às Redes de Nova Geração.<br />
O novo manual ITED não sendo um manual de ruptura<br />
relativamente ao 1º é mesmo assim bastante inovador tanto<br />
em conceitos de infra-estrutura como de equipamentos e<br />
respectivasespecificações.<br />
Afirmar que o novo manual ITED se relaciona com a<br />
obrigação de instalar fibra óptica nos edifícios trata-se de<br />
uma afirmação bastante redutora daquilo que representa na<br />
realidade o novo Manual ITED.<br />
Para além da introdução da fibra óptica, o novo manual<br />
introduz melhoras nas condutas, nos equipamentos,<br />
respectivas aplicações e métodos de comprovação, cujas<br />
principais diferenças para o anterior se pretendem destacar<br />
neste artigo.<br />
Sendo permitida a aplicação de apenas uma Caixa de Coluna,<br />
por piso, que albergará os cabos e equipamentos referentes<br />
às três tecnologias Cabo Coaxial (CC), Fibra óptica (FO) e Par<br />
de Cobre (PC). Espera-se que o instalador organize com rigor<br />
a colocação dos mesmos na caixa evitando os possíveis<br />
cruzamentos, respeitando raios de curva e identificando<br />
claramentetodos os cabos.<br />
Duas Fibras, dois Cabos coaxiais e um cabo Par de cobre na<br />
entrada do Armário de Telecomunicações Individual (ATI)<br />
são as cablagens mínimas obrigatórias para fracções<br />
autónomaspresentes numa InstalaçãoColectiva.<br />
No caso de uma Moradia na ligação entre a Caixa de Entrada<br />
Moradia Unifamiliar (CEMU) e o ATI torna-se apenas<br />
obrigatória a passagem de Cabo par de cobre Categoria 6,<br />
sendo facultativa a instalação de cabo das restantes<br />
tecnologias,Fibra e Cabo Coaxial.<br />
Por fogo habitacional, em cada divisão – Quartos, e Sala -<br />
será obrigatória a instalação de uma Tomada Mista ( TV<br />
5…2150 MHz + RJ45 Cat. 6 ) e ainda um Tomada RJ45. Na<br />
Cozinha reserva-se a obrigatoriedade de apenas uma<br />
Tomada Mista.<br />
Desde de logo se obriga à instalação de um sistema colectivo<br />
de Antenas SMATV (Satellite Master Antenna Television) e<br />
um outro de CATV (Cable Television, ou Community Antenna<br />
Television)em edifícios que possuam 2 ou mais fogos.<br />
A rede de CATV tem que obrigatoriamente partir em estrela<br />
desde o Armário de Telecomunicações do Edifício (ATE)<br />
inferior enquanto que a rede de SMATV seguirá a tipologia<br />
que melhor se adeqúe ao edifício, partindo normalmente do<br />
ATE superior em cascata de derivadores.<br />
Tabela 1 – Caracterização das Classes e das Categorias em PC<br />
133
ARTIGO TÉCNICO<br />
A Zona de Acesso Privilegiada (ZAP) passa a ser obrigatória<br />
de colocação em qualquer fogo sendo no mínimo constituída<br />
por:<br />
• Duas Tomadas Mistas (TV 5…2150 MHz + RJ45 Cat. 6);<br />
• Duas Tomadas Fibra Óptica.<br />
-Fibra Óptica;<br />
- Cabo Coaxial;<br />
- Cabo Par de Cobre .<br />
A fibra óptica a instalar nas ITED será Monomodo e a<br />
conécticaa utilizar será SC/APC.<br />
Figura 1 – Exemplo de uma tomada ZAP<br />
Esta pequeníssima abordagem sobre o Novo Manual ITED RNG<br />
não poderia concluir-se sem uma breve referência aos<br />
limites de qualidade dos mais influentes equipamentos que<br />
compõem uma infra-estruturaITED:<br />
O cabo coaxial deverá cumprir especificações perfeitamente<br />
definidas até aos 3GHz e pelos limites especificados para a<br />
resistência óhmica, o condutor central terá que ser<br />
integralmenteem Cobre.<br />
A cablagem estruturada para o interior do edifício deverá<br />
garantir a Classe E de ligação em cabo de Cat6.<br />
A figura 2 apresenta um diagrama ilustrativo do manual<br />
ITED RNG num edifício colectivo.<br />
ITED RNG – Nova e diferente concepção de condutas<br />
Figura 2 - Diagrama redes ITED num edifício colectivo.<br />
134
ARTIGO TÉCNICO<br />
O novo paradigma da obrigatoriedade da instalação das três<br />
tecnologias obrigará à reestruturação das caixas, armários,<br />
bastidores ou espaço dedicados à recepção e derivação da<br />
cablagem.<br />
Tabela 2 – Caracterização das TCD-C (Tecnologias de Comunicação<br />
por Difusão, em cabo coaxial)<br />
Com efeito, haverá cada vez mais uma preocupação<br />
crescente em dotar os edifícios com espaço suficiente para o<br />
alojamento dos equipamentos activos que serão necessários<br />
alojar no seu interior.<br />
O Armário de Telecomunicações de Edifício (ATE), que<br />
constitui a fronteira entre a entrada dos diferentes<br />
operadores e a rede colectiva terá de ser convenientemente<br />
projectada de modo a alojar as três categorias. Essa solução<br />
poderá passar pela previsão de um espaço (sala técnica),<br />
armário único ou multi-armário.<br />
Tabela 3 – Classes de Fibra Óptica<br />
No que respeita à utilização específica de tubos de secção<br />
circular, dever-se-ão considerar a tubagem que consta das<br />
Normas EN 50086-2-2 ou EN 50086-2-4 onde são<br />
especificados os tipos de tubos, bem como a respectiva<br />
adaptaçãoao local de instalação.<br />
Relativamente ao Armário de Telecomunicações Interior<br />
(ATI), que faz parte da rede individual de tubagens, poderá<br />
ser constituído por uma ou duas caixas e pelos seus<br />
equipamentos (activos e passivos), de interligação entre a<br />
rede colectiva e a rede individual de cabos. O ATI poderá ser<br />
constituído por um armário bastidor, ficando a solução ao<br />
critério do projectista.<br />
No que concerne à execução dos projectos de infraestruturas<br />
de telecomunicações, os projectistas vêem<br />
reconhecidas e incrementadas as suas obrigações e<br />
responsabilidades.<br />
Tabela 4 – Tipos de Tubos a usar nas ITED’s<br />
Ao projectista será, pois, exigida responsabilidade pelo seu<br />
projecto até ao final da obra devendo efectuar o<br />
acompanhamento da execução, dar todo o apoio ao<br />
instalador e dono de obra e, após reconhecimento dos<br />
ensaios de funcionalidades por parte do instalador, assinar o<br />
livro de obra. A semelhança do que foi vertido pelo decretolei<br />
59/2000, o projecto ITED entregue nos serviços<br />
municipaisnão carece de aprovação ou verificação prévia.<br />
135
ARTIGO TÉCNICO<br />
Para cada tipo de edifício, nomeadamente no que se refere à<br />
sua utilização, prever-se-ão soluções mínimas a adoptar em<br />
cada caso.<br />
Caberá, no entanto, ao projectista, conjuntamente com o<br />
dono de obra, aferir das desejáveis necessidades de<br />
telecomunicações para os diversos tipos de edifícios tendo<br />
em conta o cumprimento dos requisitos mínimos<br />
estabelecidospara cada um deles.<br />
O projecto de Infra-estruturas de Telecomunicações em<br />
Edifícios deverá ser, tipicamente, um projecto de execução,<br />
devendo obedecer ao artigo 70.º do Decreto-Lei 123/2009,<br />
de 21 de Maio, ou seja, deverá ser constituídopor:<br />
- Informaçãoidentificadorado projectistaITED;<br />
- Identificação do edifício a que se destina,<br />
nomeadamentea sua finalidade;<br />
- Memória Descritiva;<br />
- Medições e mapa de quantidades dos trabalhos;<br />
- Orçamento;<br />
- Fichas técnicas.<br />
Com entrada em vigor do Novo Manual de Infra-estruturas<br />
de Telecomunicações em Edifícios (Janeiro / Fevereiro de<br />
2010), haverá a obrigatoriedade para todos os técnicos que<br />
trabalham nesta área, projectistas e instaladores, em obter<br />
formação reconhecidanesta área.<br />
A actualização de conhecimentos, aliado ao estrito<br />
cumprimento da legislação em vigor contribuirá, sem<br />
precedentes, para a edificação de edifícios dotados de infraestruturas<br />
adequadas às actuais e futuras tecnologias de<br />
telecomunicações.<br />
136
ARTIGO TÉCNICO<br />
Sérgio Filipe Carvalho Ramos , Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
FIBRA ÓPTICA<br />
NOVAS AUTO-ESTRADAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM URBANIZAÇÕES<br />
RESUMO<br />
“…O Manual ITUR define as condições de elaboração de<br />
projectos e construção da rede de tubagem e redes de cabos<br />
em urbanizações, garantindo a segurança de pessoas e bens<br />
e a defesa do interessepublico.<br />
As regras técnicas de projecto e instalação das ITUR devem<br />
ser entendidas como objectivos mínimos a cumprir, podendo<br />
os intervenientes prever outras soluções, desde que<br />
devidamente justificadas, tendo sempre em vista soluções<br />
tecnicamentemais evoluídas.”<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A 1ª edição do Manual ITUR (Infra-estruturas de<br />
Telecomunicações em Urbanizações), na qual o<br />
Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto<br />
Superior de Engenharia do Porto teve uma participação<br />
activa como consultor externo, foi extraordinariamente<br />
inovador tanto em conceitos de infra-estrutura como de<br />
equipamentos e respectivas especificações. A defesa dos<br />
interesses dos consumidores de comunicações electrónicas<br />
que passa por infra-estruturas de telecomunicações<br />
modernas, fiáveis e adaptadas aos serviços dos operadores<br />
públicosfoi devidamente salvaguardada.<br />
A 1ª Edição do Manual ITUR constitui a concretização de um<br />
desejo há muito esperado pois, até então, havia um vazio<br />
legal no que se refere ao projecto e execução deste tipo de<br />
instalações que eram, essencialmente, baseados no<br />
conhecimento empírico armazenado ao longo dos anos pelos<br />
projectistas, instaladores e pelo operador que actuava em<br />
regime de monopólio, a Portugal Telecom, detentora da<br />
exploração das infra-estruturas de telecomunicações em<br />
urbanizações. Esta nova legislação veio, assim, impor regras<br />
claramente definidas para as infra-estruturas de<br />
telecomunicações em loteamentos quer sejam de âmbito<br />
privado ou público.<br />
Este novo enquadramento regulamentar que estabelece as<br />
regras para o projecto, instalação, e exploração das<br />
instalações, reveste-se como um elemento promotor das<br />
novas mudanças verificadas ao nível das técnicas e<br />
tecnologiasde telecomunicações.<br />
Com efeito, uma das especificações da 1ª edição do Manual<br />
ITUR – PRIVADA será a da obrigação de instalação de<br />
cablagem de Par de Cobre (PC), Cabo Coaxial (CC) e Fibra<br />
Óptica (FO), proporcionando num futuro próximo a oferta de<br />
serviços de nova geração a velocidades de transmissão e<br />
larguras de banda cada vez maiores.<br />
Em particular, a fibra óptica constitui já hoje, um pilar basilar<br />
na revolução das tecnologias de telecomunicações que<br />
entrarão, naturalmente, pelas nossas casas.<br />
O presente artigo visa, sucintamente, expor e reflectir sobre<br />
a importância da fibra óptica nas infra-estruturas de<br />
telecomunicaçõesem urbanizações.<br />
2 ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO<br />
Decorrente do crescimento económico verificado em<br />
meados da década de 80 do século passado, o que<br />
promoveu um aumento galopante ao nível da construção em<br />
Portugal, foram fixadas as regras básicas, com o objectivo de<br />
dotar os edifícios de infra-estruturas de telecomunicações,<br />
designadamente telefone, telex e dados, com acesso através<br />
de redes físicas, mediante a publicação do DL 146/87 –<br />
Instalações Telefónicas de Assinante (ITA). Ao abrigo do<br />
disposto no n.º 1 do artigo 1.º do DL 146/87 o Decreto<br />
Regulamentar n.º 25/87, de 8 de Abril, vem aprovar e<br />
publicar o Regulamento de Instalações Telefónicas de<br />
Assinante (RITA), que estabeleceu as condições técnicas a<br />
que deveriam obedecer os projectos, as instalações e a<br />
conservação das infra-estruturas de telecomunicações, bem<br />
como os procedimentos legais a seguir para a elaboração de<br />
projectos e solicitação de vistorias às instalações executadas.<br />
O Regulamento RITA esteve em vigor durante 13 anos!<br />
137
ARTIGO TÉCNICO<br />
O desenvolvimento das actividades económicas, os avanços<br />
tecnológicos, assim como as novas exigências emergentes do<br />
estabelecimento de medidas legislativas que determinaram<br />
a liberalização do sector das telecomunicações em Portugal,<br />
impuseram a necessidade de formular novas regras para a<br />
instalação das infra-estruturas de telecomunicações em<br />
edifícios, bem como para as actividades de certificação das<br />
instalações e avaliação de conformidade de infra-estruturas,<br />
materiais e equipamentos.<br />
Em Abril de 2000 foi publicado o DL 59/2000, o qual<br />
estabeleceu o regime ITED e respectivas ligações às redes<br />
públicas de telecomunicações, assim como o regime de<br />
actividade de certificação das instalações e avaliação de<br />
conformidade de materiais e equipamentos. Relativamente<br />
às infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações<br />
nada foi feito, continuando a elaboração dos projectos com<br />
base na informação, não oficial, de regras de boa prática<br />
fornecidaspela Portugal Telecom.<br />
O rápido desenvolvimento e crescimento do “mundo” das<br />
comunicações electrónicas e o aparecimento de novos<br />
produtos e serviços, cada vez mais inovadores e com<br />
maiores larguras de banda, impôs a necessidade imperiosa<br />
de preparar e dotar os edifícios com infra-estruturas capazes<br />
de satisfazeressas novas exigências.<br />
Após 5 anos da edição do Manual ITED, é publicada a 2ª<br />
edição desse mesmo Manual acompanhado, desta feita, da<br />
1ª edição do Manual ITUR, decorrentes do novo<br />
enquadramento criado pelo DL 123/1009 com as alterações<br />
conferidasna redacção do DL 258/2009.<br />
Foi, assim, dado um passo importante e há muito reclamado,<br />
no estabelecimento de regras claras e precisas para a<br />
elaboração do projecto e execução da nova geração de infraestruturasde<br />
telecomunicações.<br />
3 PARA QUÊ NOVAS INFRA-ESTRUTURAS DE TELECOMUNICAÇÕES?<br />
Vivenciamos uma época de uma autêntica “revolução<br />
tecnológica” ao nível da oferta de novos serviços de<br />
telecomunicações, subsequentes da ávida procura por cada<br />
vez maiores larguras de banda.<br />
Os diversos operadores têm tido um papel meritório no que<br />
respeita aos grandes investimentos realizados no<br />
estabelecimento de infra-estruturas de forma a dar uma<br />
resposta cabal às necessidades de operacionalidade e de<br />
inovação de serviços aos consumidores empresariais e<br />
domésticos.<br />
Os diversos operadores têm seguido uma estratégia de<br />
propor e fornecer aos seus clientes “pacotes” de serviços de<br />
telecomunicações. A oferta desses serviços (“Triple Play”),<br />
disponibilizanuma única plataforma:<br />
- Telefone(voz);<br />
- Internet de banda larga (dados);<br />
- “vídeo on demand”e Televisão<br />
Do ponto de vista económico, estes serviços disponibilizados<br />
pelos operadores poderão ser vantajosos na medida em que<br />
os clientes, tendencialmente, pagarão menos pelo conjunto<br />
de todos os serviços do que pagariam por eles em separado.<br />
Assim, e para que estes serviços possam chegar ao<br />
consumidor final, é necessário criar e dotar as infraestruturasde<br />
telecomunicaçõesque suportem tais serviços.<br />
Dada a crescente tendência dos operadores chegarem aos<br />
diversos clientes em fibra óptica a extensão desta tecnologia<br />
entrará pelas nossas casas de forma a dinamizar e<br />
proporcionar cada vez melhores serviços de<br />
telecomunicações.<br />
4 ITUR – CARACTERIZAÇÃO<br />
Ao abrigo do definido no Artigo 28º do DL 123/2009 as infraestruturas<br />
de Telecomunicações em Urbanizações são,<br />
genericamente,constituídaspor:<br />
1. Espaçospara a instalação de tubagem, cabos, caixas e<br />
câmaras de visita, armários para repartidores e para<br />
instalaçãode equipamentos e outros dispositivos;<br />
2. Rede de tubagens ou tubagem para a instalação dos<br />
diversos cabos, equipamentos e outros dispositivos,<br />
incluindo, nomeadamente, armários de<br />
telecomunicações,caixas e câmaras de visita;<br />
3. Cablagem, nomeadamente, em par de cobre, em cabo<br />
coaxial e em fibra óptica para ligação às redes públicas<br />
de comunicações;<br />
138
ARTIGO TÉCNICO<br />
4. Sistemas de cablagem do tipo A;<br />
5. Instalações eléctricas de suporte a equipamentos e<br />
sistema de terra;<br />
6. Sistemas de cablagem para uso exclusivo do loteamento,<br />
urbanização ou conjunto de edifícios, nomeadamente<br />
domótica, videoportaria e sistemas de segurança.<br />
Nas ITUR há a distinguir claramente dois tipos de infraestruturasde<br />
Telecomunicaçõesem Loteamentos:<br />
- As ITUR Públicas, situadas em áreas públicas, as quais são<br />
obrigatoriamenteconstituídaspor tubagem;<br />
- As ITUR Privadas, situadas em conjuntos de edifícios, as<br />
quais são constituídaspor tubagem e cablagem.<br />
Nos loteamentos de iniciativa pública (infra-estrutura de<br />
acesso de comunicações electrónicas a um conjunto de<br />
edifícios integrando um domínio municipal – Artigo 31º do<br />
DL 123/2009) são basicamente projectados e executados<br />
rede de tubagem e caixas de passagem para a instalação<br />
futura das respectivas cablagens pelos diversos operadores<br />
de telecomunicações, bem como a instalação de caixas de<br />
visita multi-operadores (CVM), cabendo aos respectivos<br />
municípiosa gestão e conservação dessas infra-estruturas.<br />
Nos loteamentos de natureza Privada (ITUR que integram<br />
conjuntos de edifícios de acesso restrito – Artigo 32º do DL<br />
123/2009) são detidas em compropriedade por todos os<br />
proprietários cabendo-lhes a si, ou à respectiva<br />
administração, a sua gestão e conservação. Estas infraestruturas<br />
além de serem constituídas por redes de tubagem<br />
e caixas de visita são ainda constituídas por um Armário de<br />
Telecomunicações de Urbanização (ATU) que faz a fronteira<br />
entre a entrada dos operadores e a rede ITUR e de cablagem<br />
associada às três tecnologias exigidas: Par de Cobre, Cabo<br />
Coaxial e Fibra Óptica.<br />
5 MANUAL ITUR – FIBRA ÓPTICA – NOVO PARADIGMA<br />
De uma forma sucinta, uma fibra óptica (FO) é constituída<br />
por um fio muito fino de material transparente,<br />
normalmente de vidro (por vezes de material plástico), que<br />
transmiteluz a longa distância.<br />
A fibra tem um núcleo central, onde a luz é “guiada”,<br />
revestido de uma, ou mais, bainhas transparentes.<br />
A bainha tem um índice de refracção superior ao do núcleo,<br />
impedindo desta forma a fuga da luz para o exterior por um<br />
mecanismo que pode ser descrito, em primeira<br />
aproximação, como a reflexão total na superfície de<br />
separação. A bainha é revestida com um polímero para<br />
proteger a fibra de eventuais danos.<br />
A utilização da FO apresenta claramente várias vantagens em<br />
comparação com a utilização dos cabos metálicos,<br />
designadamente:<br />
- Grande Capacidade de Transmissão: um sistema de<br />
transmissão por FO pode apresentar uma largura de<br />
banda na ordem das centenas de GHz, o que é<br />
equivalente a mais de 6.000.000 canais telefónicos<br />
convencionais;<br />
- Longas Distâncias de Transmissão: permite enviar sinais<br />
(luminosos) a algumas dezenas de quilómetros sem<br />
necessidade de regeneração de sinal. Apresentam, pois,<br />
níveis de atenuação muito baixos, normalmente 10.000<br />
vezes inferior aos cabos de par de cobre;<br />
- Imunidade: apresentam imunidade total às<br />
interferências electromagnéticas, o que significa que os<br />
dados não serão corrompidos durante a transmissão;<br />
- Segurança: as FO não irradiam qualquer sinal para o<br />
ambiente exterior (no seu modo de funcionamento<br />
normal). Apresentam, assim, imunidade a qualquer<br />
tentativa de intrusão. Do ponto de vista da<br />
Compatibilidade Electromagnética (CEM) não causam<br />
perturbação nos equipamentos electrónicos<br />
circundantes.<br />
- Leves e Compactos: os cabos de FO apresentam um<br />
volume e peso mais baixo que os cabos de comunicações<br />
em cobre. A título ilustrativo, um cabo composto por 864<br />
fibras apresenta um diâmetro aproximado de uma cabo<br />
de 100 pares de cobre.<br />
Não obstante todas estas valências a FO apresenta, ainda<br />
assim, algumas desvantagens,designadamente:<br />
- Necessidade de Pessoal Especializado: ao nível da<br />
instalação, operação e manutenção de cablagens de FO<br />
são necessários técnicos especializados, designadamente<br />
no que se refere aos aspectos relacionados com a junção,<br />
terminaçãoe ensaio;<br />
139
ARTIGO TÉCNICO<br />
- Custo Equipamento de Transmissão: o custo associado à<br />
conversão do sinal óptico em eléctrico, e vice-versa,<br />
apresenta ainda um custo relativamente elevado quando<br />
comparado com a transmissão do mesmo sinal num par<br />
de cobre. No entanto, e dada a vulgarização da utilização<br />
desta tecnologia, os custos poderão baixar<br />
consideravelmente;<br />
- Vulnerabilidade: devido à grande capacidade de<br />
transmissão que as FO apresentam, existe a tendência<br />
para incluir muita informação numa única fibra. Deste<br />
modo, o risco de acontecer uma catástrofe e a<br />
consequente perda de grandes quantidades de<br />
informaçãoé bastante elevado.<br />
O tipo de fibra óptica a utilizar é, obrigatoriamente,<br />
Monomodo, em que o diâmetro do núcleo é diminuído cerca<br />
de 5 vezes menos, comparadas com as fibras Multimodo, o<br />
número de modos que poderão ser guiados e conduzidos<br />
pela fibra será de um, daí a sua denominação de<br />
Monomodo.<br />
A largura de banda nesta fibra é fortemente dominada pela<br />
dispersãocromática da mesma.<br />
As fibras do tipo Monomodo estão especialmente<br />
vocacionadas para operarem com débitos binários da ordem<br />
das dezenas a centenas de Gbit/s, com atenuações que<br />
permitem o envio de sinais a largas dezenas de quilómetros<br />
prescindindoregeneração de sinal intermédio.<br />
Figura 1 – Exemplo de uma fibra óptica Monomodo<br />
O aumento da procura por serviços com cada vez maiores<br />
larguras de banda invoca a necessidade de infra-estruturas<br />
adequadas.<br />
A fibra óptica surge como resposta aos sistemas de<br />
comunicação electrónica pois oferece, por fibra, uma largura<br />
de banda na ordem das centenas de GHz, o que equivale a<br />
mais de 6 milhões de canais telefónicos convencionais. Daí<br />
as vantagens competitivas que os operadores poderão advir<br />
com a utilização das infra-estruturasde fibra óptica.<br />
O aumento crescente entre os requisitos de aplicações e as<br />
capacidades técnicas (por exemplos dos computadores)<br />
fomentam a utilizaçãode maiores larguras de banda.<br />
Assim, o investimento por parte dos operadores na<br />
instalação de redes de fibra óptica (tipicamente em<br />
configuração FTTH – “Fiber To The Home”), a par com a<br />
devida dotação interior dos edifícios, ao nível da recepção e<br />
transmissão de sinal, conduz a que, ao nível dos serviços de<br />
telecomunicações, sejam disponibilizadas larguras de banda<br />
cada vez mais elevadas o que contribui, seguramente, para o<br />
desenvolvimento da economia, da difusão da informação e,<br />
naturalmente, da formação das pessoas do país pelo fácil<br />
acesso à informação e conhecimento que lhe são<br />
disponibilizados.<br />
A 1ª Edição das Prescrições e Especificações Técnicas de<br />
Infra-estruturas de Telecomunicações em Urbanizações<br />
(Privada) obriga a que cada fracção seja servida por duas<br />
fibras.<br />
Com efeito, as fibras ópticas permitidas (tipo Monomodo –<br />
OS1 e OS2) deverão cumprir o emanado na norma EN60793-<br />
2-50:2004.<br />
Todos os cabos de fibra óptica deverão igualmente cumprir<br />
os requisitos da norma EN 60794-1-1.<br />
O projecto técnico das instalações ITUR tem como objectivo<br />
primordial definir a arquitectura da rede (tubagens e/ou<br />
cablagem) bem como os seus percursos, definindo e<br />
caracterizando o sistema de cablagem (quando aplicável), as<br />
tubagens, equipamentos e os materiais a utilizar, bem como<br />
o seu dimensionamento, com a devida clareza, para não<br />
suscitardúvidas aos técnicos instaladores.<br />
O Armário de Telecomunicações de Urbanizações (ATU) é o<br />
ponto de interligação das redes públicas de comunicações<br />
electrónicas, com as redes de cabos da ITUR privada, sendo,<br />
ainda, o ponto interligação com a rede colectiva dos edifícios<br />
no ATE, ou CEMU, no caso de moradias, caso não exista uma<br />
rede privada.<br />
O ATU deve ser um espaço que possa albergar as três<br />
tecnologias de telecomunicações previstas no manual ITUR<br />
(PC, CC e FO).<br />
140
ARTIGO TÉCNICO<br />
Para cada uma das tecnologias deverá existir um Repartidor<br />
de Urbanização (RU) individual, constituído por dois<br />
primários por tecnologia, cujo dimensionamento e instalação<br />
é da responsabilidade da entidade que ligar a rede de cabos<br />
das ITUR à rede pública de comunicações electrónicas, e por<br />
um secundário por tecnologia, onde se inicia a rede de cabos<br />
da ITUR.<br />
Repartidorde Urbanização de Fibra Óptica (RU-FO):<br />
- Primário, cujo dimensionamento e instalação é da<br />
responsabilidade da entidade que ligar a rede de cabos<br />
da ITUR à rede pública de comunicações electrónicas.<br />
Poderá ser constituído, por exemplo, por um painel de<br />
adaptadoresdo tipo SC/APC;<br />
- Secundário, onde se inicia a rede de cabos de fibras<br />
ópticas da ITUR. A rede deve obedecer à topologia em<br />
estrela com recurso, por exemplo, a cabos multi-fibras.<br />
As fibras são terminadas em conectores SC/APC ligados<br />
em painéis de adaptadores.<br />
Como o ATU pode conter equipamentos activos, há a<br />
necessidade de existirem circuitos de alimentação eléctrica,<br />
nomeadamente 2 circuitos de 230 VAC, com 3 tomadas cada,<br />
protegidos por disjuntor diferencial com um valor de<br />
sensibilidade não superior a 300 mA e ligados ao circuito de<br />
terra do ATU.<br />
O barramento geral de terra do ATU deverá ter capacidade<br />
para ligar, pelo menos 10 condutores de terra.<br />
Em concordância com o consagrado no Art. 39 do DL<br />
258/2009 o projecto técnico ITUR deve incluir<br />
obrigatoriamenteos seguinteselementos:<br />
1. Informação identificadora do projectista ITUR que<br />
assume a responsabilidadepelo projecto;<br />
2. Identificação da operação de loteamento, obra de<br />
urbanização, ou conjunto de edifícios a que se destina,<br />
nomeadamenteda sua finalidade;<br />
3. Memória descritiva;<br />
4. Medições e mapas de quantidade de trabalhos, dando a<br />
indicação da natureza e quantidade dos trabalhos<br />
necessáriospara a execução da obra;<br />
5. Orçamento baseado na espécie e quantidade de<br />
trabalhosconstantesdas medições;<br />
6. Outros elementos estruturantes do projecto,<br />
nomeadamente fichas técnicas, plantas topográficas,<br />
esquemas da rede de tubagem e cablagem, quadros de<br />
dimensionamento, cálculos de níveis de sinal, esquemas<br />
de instalação eléctrica e terras das infra-estruturas,<br />
análise das especificidades das ligações às infraestruturas<br />
de telecomunicações das empresas de<br />
comunicaçõeselectrónicas.<br />
A colocação de cablagem PC, CC e FO é inovadora, no caso<br />
das ITUR privada. No caso específico da instalação de<br />
tecnologia em FO, além de requer pessoal técnico altamente<br />
especializado requer, igualmente, a realização de ensaios de<br />
carácterobrigatório, designadamente:<br />
- Atenuação(Perdas de Inserção);<br />
- Comprimento.<br />
Para a medida destes parâmetros deverão ser efectuados os<br />
ensaiosseguintes:<br />
- Ensaiode perdas totais;<br />
- Ensaios de reflectometria, quando considerado<br />
adequado.<br />
Os ensaios deverão ser efectuados desde o RU-FO do ATE<br />
inferior de cada edifício.<br />
6 CONCLUSOES<br />
A elaboração deste artigo pretende contribuir, embora de<br />
uma forma lisonjeira, para o enriquecimento do<br />
conhecimento das potencialidades da instalação de fibra<br />
óptica nas Infra-estruturas de Telecomunicações em<br />
Urbanizações à luz do novo contexto legislativo criado pela<br />
1ª Edição do Manual ITUR, não dispensado, naturalmente,<br />
uma consulta detalhada e rigorosa do documento integral.<br />
Bibliografia<br />
[1] Decreto-Lei n.º123/2009 de 21 de Maio, Diário da República, 1ª<br />
Série-N.º98-21 de Maio de 2009.<br />
[2] Decreto-Lei n.º258/2009 de 25 de Setembro, Diário da<br />
República, 1ª Série-N.º187-25 de Setembro de 2009.<br />
[3] Manual ITED, Prescrições e Especificações Técnicas das Infraestruturas<br />
de Telecomunicações em Edifícios, 2ª Edição,<br />
Novembro de 2009.<br />
[4] Manual ITUR, Infra-estruturas de Telecomunicações em<br />
Loteamentos Urbanizações e Conjuntos de Edifícios, 1ª Edição,<br />
Novembro de 2009.<br />
141
142<br />
CURIOSIDADE
ARTIGO TÉCNICO<br />
Eduardo Sérgio Correia<br />
IEMS – Instalações de Electrónica Manutenção e Serviços, Lda<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
FIBRAS ÓPTICAS<br />
O PARADIGMA<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Com a obrigatoriedade de dotar todos os edifícios e<br />
urbanizações com instalações de fibra óptica devido ao<br />
Decreto-Lei 123/2009, todos os projectistas, retalhistas,<br />
instaladores e promotores deparam-se com a necessidade<br />
de implementar algo ainda estranho para muitos.<br />
Se, por um lado a legislação obriga ao uso das fibras<br />
monomodo, indo de encontro à compatibilização com as<br />
tecnologias que os operadores de telecomunicações já<br />
estavam a implementar ( ex: Gigabit Ethernet – Passive<br />
Optical Network (GE-PON) nas FTTH (Fiber To The Home),<br />
por outro temos as redes locais de Complexos Empresariais e<br />
Fabris ou mesmo edifícios comerciais, cuja distribuição<br />
interior inter-bastidores, continua a ser implementada em<br />
fibras multimodo de última geração, pois a nível de custos<br />
dos conversores electro-ópticos (ONT) ainda há uma<br />
diferença substancial de valor entre os monomodo e os<br />
multimodo.<br />
Tendo em vista a constante evolução, os fabricantes tendem<br />
a desenvolver produtos optimizados para as necessidades de<br />
agora e as que se perspectivam para um futuro próximo.<br />
Figura 1 – Exemplo de Solução de Transporte IP baseada em GEPON<br />
143
ARTIGO TÉCNICO<br />
2 A FIBRA ÓPTICA NAS INSTALAÇÕES ITED<br />
As principais razões para a utilização da fibra óptica são:<br />
- Segurança na transmissão de dados: a fibra óptica não<br />
emite radiação electromagnética, como tal não é<br />
possível interceptaras comunicaçõesremotamente.<br />
- Largura de banda: A fibra óptica tem uma capacidade de<br />
transmissãode dados muito superior ao cobre.<br />
- Distância na transmissão: A atenuação dos sistemas<br />
ópticos é muito inferior aos sistemas de cobre, logo os<br />
dados podem ser transmitidos a distânciasmais longas.<br />
- Sem risco de interferências (EMI e RFI): A fibra óptica é<br />
construída maioritariamente em vidro, logo é imune a<br />
influências electromagnéticas (EMI) e de rádio<br />
frequência(RFI).<br />
As distâncias de transmissão num link (ligação entre dois<br />
activos) estão limitadas quer pela atenuação, quer pela<br />
largura de banda. Nas instalações cujo limite é a atenuação,<br />
a perda individual de cada componente deve ser somado<br />
para todos os componentes do link e o valor da atenuação<br />
deve ficar dentro do limite de perda para o canal (definido<br />
na norma).<br />
Na figura apresenta-se um resumo das distâncias possíveis<br />
em links de fibra óptica baseado em protocolos específicos<br />
utilizando 2 Conectores / Emendas (fusões). Componentes e<br />
cabos com melhores características de desempenho, que as<br />
definidas nas normas (standards) podem ser necessários<br />
para atingir as distânciasmáximas indicadas.<br />
O fabricante europeu Brand-Rex, é um dos líderes de<br />
mercado na tecnologia dos cabos de fibra óptica. Os seus<br />
produtos excedem todos os parâmetros das normas que são<br />
definidas para estes cabos e ainda desenvolvem sistemas<br />
inovadores e revolucionários, como veremos a seguir.<br />
A gama de produtos FibrePlus tem aplicação tanto em<br />
cablagens estruturadas convencionais, como em sistemas<br />
centralizados de instalações de fibra óptica. Esta gama de<br />
produtos suporta os 2000m em instalações de redes locais<br />
conforme descrito na norma ISO 11801:2002, bem com os<br />
300m descritos na norma TSB72 (Directrizes sobre sistemas<br />
de centralizadosde fibra óptica) e na TIA568B/EIA.<br />
Figura 2 – Identificação da Distância de Transmissão<br />
Figura 3 – Distância de Transmissão em cata tipo de fibra óptica<br />
144
ARTIGO TÉCNICO<br />
Os imites de atenuação definidos na norma, são os indicados<br />
na figura 4.<br />
O UFS 01 (Optical Unitube Fire Survival Cable) é usado nos<br />
locais onde a transmissão de informação crítica deve<br />
continuar mesmo que o edifício ou a estrutura onde está<br />
instalado esteja em chamas. Por essa razão, o seu uso em<br />
grandes edifícios públicos, tais como data-centers,<br />
aeroportos, estações ferroviárias, estádios e estruturas<br />
industriaisestá a tornar-se cada vez mais comum.<br />
O uso do cabo nos sistemas de gestão do edifício, sistemas<br />
de segurança e incêndio, significa que estes sistemas vitais<br />
permanecerão em funcionamento em caso de incidentes<br />
que ponham a vida humana em risco e obriguem à<br />
evacuaçãodo edifício.<br />
Figura 4 – Limites de atenuação definidos na norma<br />
No actual ambiente de negócios, a manutenção em<br />
funcionamento dos sistemas críticos do negócio, em caso de<br />
emergência é um pré-requisito fundamental. Nesse sentido<br />
já está disponível no mercado o cabo de fibra óptica<br />
resistenteao fogo.<br />
O cabo UFS 01 Fire Survival Cable foi desenhado para<br />
cumprir as normas IEC60794 e exceder as norma IEC60331 –<br />
part25.<br />
Figura 6 – Teste de fogo IEC60331<br />
O teste de fogo IEC60331, vulgarmente conhecido por teste<br />
de sobrevivência ao fogo, foi definido para cabos eléctricos.<br />
Mas a “part25”, publicada em 1999 já refere os cabos de<br />
fibra óptica.<br />
Esta norma define o teste a uma temperatura mínima de<br />
chama de 750°C, com uma duração de aplicação<br />
recomendada de 90min., mais 15min. para arrefecimento. A<br />
norma só define como critério de aprovação, a manutenção<br />
da integridade do circuito.<br />
O fabricante (Brand-Rex) foi mais além e definiu como<br />
critério extra para aprovação, não exceder 1.5dB no<br />
aumento da atenuaçãonestas condições de teste.<br />
Figura 5 – Composição do UFS 01<br />
145
ARTIGO TÉCNICO<br />
Para demonstrar o desempenho ao teste de<br />
sobrevivência ao fogo prolongado, o<br />
fabricante (Brand-Rex) testou o cabo<br />
segundo a norma BS8434-2.<br />
Esta norma define o teste do cabo a uma<br />
temperatura de 930°C por 120min.,<br />
incluindo o choque mecânico e jactos de<br />
água como define a BSEN 50200, provando<br />
que o cabo UFS 01 Fire Survival Cable pode<br />
superar os testes mais rigorosos.<br />
Figura 7 - Alteração da atenuação ao longo do tempo<br />
(IEC60331)<br />
Já a norma BSEN 50200:2000 Classe PH120<br />
define o teste do cabo a uma temperatura<br />
maior (830°C), choques mecânicos<br />
adicionais e spray de água durante o<br />
período de "chama”.<br />
Este reforço de exigência simula uma<br />
situação real de fogo com sistemas de<br />
compartimentação em funcionamento e<br />
potenciais impactos de detritos caindo<br />
sobre o cabo.<br />
Figura 8 – Alteração da atenuação ao longo do tempo<br />
(BSEN 50200:2000)<br />
Figura 9 – Comparação dos testes IEC60331, BSEN 50200 e BS 8434-2<br />
146
ARTIGO TÉCNICO<br />
Sistema de fibra óptica Pré-Conecterizado MT Connect<br />
A tecnologia do conector MT<br />
MT Connect é um sistema de cabos fibra óptica de alto<br />
desempenho, pré-conecterizados, modulares, baseado na<br />
tecnologiado conector MPO.<br />
Este sistema poderá ser usado em projectos convencionais<br />
para diminuir o tempo de instalação dos links de backbone<br />
(ligações entre bastidores), em distribuição horizontal na<br />
fibra ao posto de trabalho ou data-centers onde as multiplas<br />
ligações ponto-a-ponto em fibra óptica entre bastidores de<br />
distribuição e bastidores de equipamentos activos podem<br />
ser rápida e eficientemente instaladas, mantidas e alteradas<br />
conforme as necessidades.<br />
O conector MPO é a parte mais importante do sistema MT<br />
Connect.<br />
Este conector acomoda até 12 fibras graças à alta precisão de<br />
fabrico das partes de termoplástico e guias metálicas, que<br />
garantem o alinhamento e a manutenção da polaridade das<br />
fibras, sendo a sua ligação ao painel por encaixe, com um<br />
Click audivel para garantir que as ligações estão bem<br />
efectuadas.<br />
Instalação<br />
O sistema MT Connect é de instalação simples e rápida.<br />
1. Coloca-seos cabos de backbonne no lugar.<br />
2. Instala-seos paineis nos bastidores.<br />
3. Liga-seos cabos dentro das caixas LGX.<br />
4. Monta-seas caixas LGX nos paineis.<br />
O tempo de instalação deste sistema é uma fracção do<br />
tempo de instalação de um sistema de fibra convencional.<br />
Ligar 12 fibras pré-conecterizadas é muito mais simples e<br />
rápido que fundir 12 pigtails em cada ponta do cabo.<br />
Figura 10 – MT Connect Pre-Terminated Fibre Cabling Systems<br />
O sistema MT Connect tem vantagens únicas em relação aos<br />
sistemasconvencionais:<br />
• Cabos pré-conecterizados com 12 fibras por conector<br />
MPO assegura uma instalação mais rápida de vários links<br />
de fibra.<br />
• Cabos com menor secção poupam espaço nos caminhos<br />
de cabos e bastidores favorecendo a circulaçãode ar<br />
• Construção modular favorece a simples e rápida<br />
manutençãoe reparação.<br />
• Link ponta-a-ponta assegurado com os melhores<br />
desempenhos obtidos através de conecterização de<br />
fábrica.<br />
Figura 11 – MT Connect Pre-Terminated Fibre Cabling Systems<br />
A manutenção e acrescentos ao sistema é também mais<br />
simples graças à sua concepção modular.<br />
147
ARTIGO TÉCNICO<br />
Cabos do Sistema MT Connect<br />
O fabrico de um cabo MT Connect é feito com até 12 fibras<br />
LSOH num só cabo terminando nas duas pontas com um<br />
conector MPO (sem pinos). Estes cabos são usados nos<br />
backbones ou na interligação horizontal de bastidores de<br />
distribuição.<br />
Estão disponívei para fibras OM3, OM3 melhorada (Z50) e<br />
OS1(008) e com comprimentos standard de 1, 3, 5, 10, 20, 50<br />
e 100mts.<br />
O painel de bastidor do sistema MT connect é modular, pelo<br />
que permite a utilização dos diversos componentes num só<br />
painel. Pode ser equipado com 3 modulos, sejam eles caixas<br />
LGX (para conectores LC ou SC em OM3, OM3(Z50) ou OS1),<br />
placa de 6 acopoladores MPO ou tampas cegas.<br />
Com este sistema podemos ter até 216 fibras num só painel<br />
de 1U/19” (usando 3 x 6 MPO), ou 36 LC duplex usando as<br />
caixas LGX.<br />
6 way MPO Adaptor plate<br />
Blanking plate<br />
Figura 12 – Cabo de fibra do Sistema MT Connect<br />
19” Panel LGX Module<br />
Figura 15 – Painel de bastidor do sistema MT Connect<br />
3 OBSERVAÇÕES FINAIS<br />
Figura 13 – Cabo de inter-ligação tipo “C” do sistema MT Connect<br />
Para a ligação do sistema MT Connect aos equipamentos<br />
activos nos bastidores é necessário usar este cabo hibrido<br />
constituíido por até 12 fibras LSOH num só cabo terminado<br />
numa ponta com o conector MPO e na outra ponta por<br />
conetores LC ou SC após as fibras terem sido separadas na<br />
unidade de divisão.<br />
Observando que o desenvolvimento tecnológico nos<br />
produtos de fibra óptica não se centra só nas fibras<br />
monomodo, podemos concluir que as fibras multimodo<br />
ainda terão uma grande aplicação nos próximos anos nas<br />
infra-estruturasde comunicações.<br />
Bibliografia<br />
1. Documentação técnica do fabricante Brand-Rex (www.brandrex.com)<br />
2. Documentação técnica do integrador IEMS (www.iems.pt)<br />
Figura 14 – Cabo Hibrido do Sistema MT Connect<br />
148
ARTIGO TÉCNICO<br />
Sistemas Segurança<br />
Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />
artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da Segurança.<br />
Os edifícios devem satisfazer requisitos arquitectónicos, funcionais, ecológicos, de segurança e económicos. A utilização e o fim a<br />
que se destina cada edifício determinam a instalação e implementação de diferentes medidas de protecção e segurança, de<br />
forma a assegurar e controlar os aspectos de segurança das instalações,equipamentos e ocupantes.<br />
A implementação de sistemas integrados de protecção e segurança, baseados em sistemas coerentes de detecção e extinção de<br />
incêndios, detecção de gases combustíveis e monóxido de carbono, evacuação de emergência, alarme contra roubo e intrusão,<br />
controlo de acessos, vídeo vigilância por circuito fechado de televisão, gestão de alarmes técnicos e gestão técnica centralizada,<br />
são um aspecto fundamental na segurança de edifícios.<br />
Dada a extrema importância deste sector são apresentados vários artigos, desde a descrição e apresentação de soluções técnicas<br />
até à legislação sobre esta temática.<br />
149
ARTIGO TÉCNICO<br />
Índice<br />
Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio. Projecto e Execução<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
151<br />
Legislação de Segurança Contra Incêndio em Edifícios. Presente e Futuro<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
157<br />
Segurança em Edifícios. Sistemas de Circuito Fechado de Televisão<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
167<br />
Sistemas Automáticos de Segurança<br />
Detecção de Monóxido de CarbonoAntónio Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
173<br />
Sistemas de Controlo de Acesso<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
179<br />
Segurança Contra Intrusão. Habitação<br />
António Augusto Araújo Gomes; Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
183<br />
150
ARTIGO TÉCNICO<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio – Projecto e Execução<br />
Enquadramento<br />
Durante milhares de anos o fogo foi considerado um<br />
fenómeno da natureza, sendo olhado como um mistério,<br />
provocando medo, superstiçãoe adoração.<br />
O domínio do fogo por parte do homem permitiu a utilização<br />
do mesmo para aquecimento, cozinhar e mesmo para sua<br />
protecção. Contudo, o fogo, grande elemento de evolução<br />
do homem, é também, em potencial, um dos seus maiores<br />
inimigos. Muitos são os fogos florestais e urbanos, que<br />
ocorrem diariamente, provocando mortes e avultados<br />
prejuízosmateriais.<br />
As causas principais dos incêndios são a deficiência nas<br />
canalizações eléctricas, a má utilização de equipamentos<br />
eléctricos, nomeadamente ferros, fogões, fornos e<br />
aquecedores eléctricos, bem como a negligência na<br />
utilizaçãodo fogo.<br />
as informações correspondentes a uma central de sinalização<br />
e comando (CDI - central de detecção de incêndios), dar o<br />
alarme automaticamente, quer local e restrito, quer geral,<br />
quer à distância (alerta) e accionar todos os comandos<br />
(imediatos ou temporizados) necessários à segurança contra<br />
incêndios dos ocupantes e do edifício onde está instalado:<br />
fechar portas corta-fogo, parar elevadores, fechar registos<br />
corta-fogo, comandar sistemas automáticos de extinção de<br />
incêndios (SAEI), parar/ligar ventiladores, desligar energia<br />
eléctrica,etc.<br />
Para que um SADI consiga cumprir de uma forma eficaz a sua<br />
missão é necessário que o projecto e a posterior execução<br />
das instalações sejam realizados em conformidade com os<br />
requisitospróprios da instalação.<br />
O presente artigo pretende sistematizar a informação mais<br />
relevante no âmbito do projecto e execução das instalações<br />
de detecção automáticade incêndio.<br />
Os Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio (SADI) são<br />
hoje encarados como fazendo (quase) obrigatoriamente<br />
parte dos sistemas aplicados no sector da habitação,<br />
serviços, comércio e indústria.<br />
A instalação de um SADI torna-se, assim, fundamental como<br />
elemento de garantia do bem-estar e da segurança das<br />
pessoas, velando pela sua salvaguarda e dos seus bens.<br />
Um SADI é uma instalação técnica capaz de registar um<br />
princípio de incêndio, sem a intervenção humana, transmitir<br />
1 Central de Sinalização e Comando<br />
Deve estar localizada de forma a que:<br />
- As sinalizações e comandos estejam facilmente<br />
acessíveis ao pessoal responsável do edifício e aos<br />
bombeiros no caso de ser necessária a sua intervenção;<br />
- O nível de ruído de fundo deve permitir a audição das<br />
indicaçõessonoras;<br />
- O meio ambiente seja limpo e seco;<br />
- O risco de danos mecânicos para o equipamento seja<br />
baixo;<br />
151
ARTIGO TÉCNICO<br />
- O risco de incêndio seja baixo e a zona protegida com<br />
pelo menos um detector, integrada no sistema;<br />
- A iluminação ambiente permita que etiquetas e<br />
indicaçõesvisuais sejam facilmente visíveis e legíveis.<br />
2 Painéis Repetidores de Comando e de Sinalização<br />
São utilizados quando o edifício tiver mais do que uma<br />
entrada principal, quando houver possibilidade dos<br />
responsáveis pela segurança poderem estar longe da central<br />
e quando a distância entre a CDI e o elemento mais distante<br />
for considerável.<br />
3 Botões Manuais de Alarme<br />
Devem encontra-se claramente visíveis e identificáveis e ser<br />
posicionados de forma que possam ser fácil e rapidamente<br />
accionados por qualquer pessoa que detecte um princípio de<br />
incêndio.<br />
4 Sinalização do Alarme<br />
O método de transmitir o alarme aos ocupantes dos edifícios<br />
deve estar de acordo com os requisitos da estratégia da<br />
respostaa um alarme de incêndio.<br />
Nalguns casos, os procedimentos de segurança podem<br />
requerer que o alarme seja dado inicialmente ao pessoal<br />
treinado que poderá tomar a seu cargo as operações<br />
subsequentes no edifício. Nesses casos não será necessário<br />
dar de imediato alarme geral de incêndio, deve, no entanto,<br />
deve ser providenciado um dispositivo que permita um<br />
alarme geral.<br />
Qualquer alarme de incêndio, para ser reconhecido por<br />
pessoas não treinadas (como público em geral), deve ser<br />
dado, pelo menos, por meios audíveis que poderão ser<br />
dispositivos de alarme acústico ou sistemas de alarme por<br />
voz (tais como sistemas de chamada de pessoas).<br />
Devem estar devidamente sinalizados e em locais em que<br />
não sejam ocultados por quaisquer elementos decorativos<br />
ou outros, nem por portas, quando abertas.<br />
Devem ser posicionados em caminhos de evacuação, junto a<br />
cada porta de acesso a escadas de emergência (dentro ou<br />
fora) e em cada saída para o exterior e colocados junto a<br />
locais sujeitos a riscos especiais e junto dos extintores<br />
manuais.<br />
Devem ser localizados de modo a que nenhuma pessoa<br />
dentro das instalações tenha que percorrer mais de 30 m<br />
para chegar a um botão.<br />
Em locais em que os previsíveis utilizadores possam ser<br />
deficientesmotores a distância deve ser reduzida.<br />
Devem ser colocados entre 1,2 a 1,6m acima do chão, a uma<br />
altura recomendada de 1,5m.<br />
Em zonas nas quais o sinal sonoro possa não ser eficaz,<br />
devido, por exemplo à existência de ruído de fundo<br />
excessivo, ocupantes com dificuldades auditivas, ou locais<br />
que obriguem a utilização de protecção auricular, deve ser<br />
usada sinalização óptica e/ou táctil como complemento da<br />
sinalizaçãosonora.<br />
4.1 Sinais Sonoros<br />
Devem permitir a audição do sinal de alarme em qualquer<br />
local da instalação.<br />
Os sinais sonoros de alarme devem ser inconfundíveis com<br />
qualquer outro sinal sonoro, ter um nível de som que seja<br />
imediatamente audível acima de qualquer ruído ambiente e<br />
audível em todos os locais do edifício ou recinto a que seja<br />
destinado.<br />
O som utilizado para alarme de incêndio deverá ser contínuo<br />
e o mesmo em todas as partes do edifício.<br />
152
ARTIGO TÉCNICO<br />
O número e tipo de equipamentos de alarme de incêndio<br />
usados devem ser suficientes para produzir o nível de som<br />
recomendado, devendo ser instaladas num edifício pelo<br />
menos duas sirenes, mesmo que o nível de som<br />
recomendadopossa ser alcançado com uma única sirene.<br />
Os equipamentos de alarme de incêndio, em geral devem,<br />
sempre que possível, ser instalados fora do alcance dos<br />
ocupantes e, no caso de se situarem a uma altura do<br />
pavimento inferior a 2,25m, ser protegidos por elementos<br />
que os resguardem de danos acidentais;<br />
O som de alarme de incêndio deve ter um nível mínimo de<br />
65 dB(A), mas devendo ser sempre 5 dB(A) superior a<br />
qualquer outro ruído que possa persistir por um período<br />
superior a 30 segundos.<br />
seleccionados proporcionar mais rapidamente um aviso<br />
fiável nas condições ambientais dos locais em que serão<br />
instalados.<br />
Embora existam no mercado, diversos tipos de detectores<br />
automáticos, os detectores de fumos e de temperatura, são<br />
os mais utilizados, permitindo dar resposta à quase<br />
totalidade das necessidades de detecção, assim, no presente<br />
trabalho apenas serão referidos estes dois tipos de<br />
detectoresautomáticos.<br />
5.1 Detectores de Fumos (Ópticos)<br />
São rápidos na detecção de um fogo e têm uma resposta<br />
suficientemente vasta para permitir uma utilização<br />
generalizada.<br />
4.2 Dispositivos Visuais de Alarme de Incêndio<br />
Devem apenas ser usados como complemento dos alarmes<br />
sonoros, não devendo ser usados isoladamente, devendo<br />
qualquer dispositivo visual de alarme de incêndio<br />
deve ser claramente visível e distinto de quaisquer outros<br />
sinais visuais existentesnas instalações.<br />
5 Detectores Automáticos<br />
Os principais factores que condicionam a selecção do tipo de<br />
detectorautomático são:<br />
- Requisitoslegais;<br />
- Materiais existentes no local e as manifestações da sua<br />
combustão;<br />
- Configuraçãodo local (particularmenteo pé direito);<br />
- Efeitosda ventilação e do aquecimento;<br />
- Condições ambientais no interior dos compartimentos<br />
vigiados;<br />
- Possibilidadede falsos alarmes.<br />
Nenhum tipo de detector é mais adequado para qualquer<br />
situação, e a escolha final deverá depender das<br />
circunstâncias individuais, devendo os detectores<br />
Responde a fumo visível, sendo bom para fogos onde não há<br />
chamas (fogos latentes), como é o caso de fogos com<br />
tecidos, mobília, móveis, etc.<br />
São ideais para espaços amplos, onde a presença de fumo é<br />
mais facilmente detectada do que a elevação de<br />
temperatura, pois o calor dissipa-se mais facilmente. Não são<br />
apropriados para locais onde se verifique a permanente<br />
existência de fumos, vapor ou pó, como é o caso de<br />
garagens, cozinhas e industrias transformadoras de<br />
madeiras, devido à possibilidade de ocorrência de falsos<br />
alarmes.<br />
5.2 Detector de Temperatura (Térmicos)<br />
São geralmente considerados como os menos sensíveis dos<br />
vários tipos de detectores disponíveis.<br />
Os detectores termovelocimétricos são mais adequados em<br />
locais onde as temperaturas ambientes são baixas ou variam<br />
lentamente, enquanto que os detectores de temperatura<br />
fixa são mais adequados em locais onde se prevê que a<br />
temperatura ambiente possa variar rapidamente em curtos<br />
espaçosde tempo.<br />
153
ARTIGO TÉCNICO<br />
Regra geral, os detectores de temperatura têm uma maior<br />
resistência a condições ambientais adversas do que outros<br />
tipos de detectores.<br />
Os detectores devem ser colocados de modo a que os seus<br />
elementos sensitivos se situem nos 5% superiores do pé<br />
direito dos espaços.<br />
São apropriados para locais:<br />
- De humidade do ar ≥95%;<br />
- Onde se preveja que o incêndio não liberte fumo;<br />
- Onde exista forte risco de engorduramento;<br />
- Onde se possam desenrolar trabalhos que libertem fumo<br />
ou vapor;<br />
- Cozinhas;<br />
- Aquecedorescom combustíveis sólidos;<br />
- Pequenas garagens para estacionamento de veículos de<br />
motor de combustão.<br />
Não são apropriados para locais:<br />
- Com altura> 7,5m;<br />
- Onde se prevejam fogos lentos e encobertos;<br />
- Onde, face aos riscos, a detecçãoprecoce é necessária.<br />
Para prevenir a possível existência de uma camada<br />
envolvente fria, os detectores não devem ser embebidos no<br />
tecto.<br />
A tabela 1, indica os limites de altura dos tectos e o raio de<br />
acção, para detectoresinstalados na zona dos 5% superiores.<br />
b) Detectores em Tectos Inclinados<br />
Para detectores instalados em tectos inclinados, o raio<br />
indicado na tabela 1 pode ser aumentado em 1% por cada 1 o<br />
de inclinação do tecto, até um aumento máximo de 25%.<br />
Em tectos curvos a inclinação deve ser obtida através da<br />
média da inclinação total em toda a área.<br />
5.3 Localização e Distribuição<br />
Os detectoresautomáticos devem ser posicionados de forma<br />
que os produtos resultantes de qualquer incêndio dentro da<br />
área protegida possam chegar aos detectores sem grande<br />
dissipação,atenuação ou demora.<br />
As características específicas das instalações, requerem<br />
particular atenção aquando do projecto e da execução das<br />
mesmas, sob pena de os sistemas previstos não garantirem a<br />
completa e eficaz protecção dessas mesmas instalações.<br />
Assim, e relativamente à utilização de detectores<br />
automáticos térmicos e de fumo, será necessário atender às<br />
seguintesconsiderações:<br />
a) Detectores em Tectos Planos<br />
Na generalidade o desempenho de detectores térmicos ou<br />
de fumo depende da existência de um tecto fechado por<br />
cima dos detectores.<br />
154<br />
No caso do espaço protegido ter um tecto em escada os<br />
detectoresdevem ser instalados em cada um dos vértices.<br />
No caso da diferença de altura entre o cimo e a base de cada<br />
vértice ser inferior a 5% da altura total do vértice acima do<br />
chão, a sala deve ter o tratamento de uma sala de tecto<br />
plano.<br />
c) Paredes, Divisórias e Obstáculos<br />
Os detectores (excepto os detectores ópticos de feixe) não<br />
devem ser instalados a menos de 0,5 m de qualquer parede<br />
ou divisória.<br />
No caso do espaço ter menos de 1,2 m, o detector deve ser<br />
instaladono terço do meio.<br />
Quando as salas estão divididas em secções por paredes,<br />
divisórias ou estantes de armazenagem que fiquem a uma<br />
distância inferior a 0,3 m do tecto, as divisórias devem ser<br />
consideradas tal como se chegassem ao tecto e as secções<br />
devem ser consideradascomo salas diferentes.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Altura do tecto (m)<br />
≤4,5 >4,5<br />
>6<br />
>8<br />
>11<br />
>25<br />
≤6<br />
≤8<br />
≤11<br />
≤25<br />
Tipo de Detector<br />
Raio de acção (m)<br />
Térmicos (EN 54-5: Grau 1) 5 5 5 NN NU NU<br />
Fumo – Pontual (EN 54-7) 7,5 7,5 7,5 7,5 NN NU<br />
Fumo – Feixe (EN54-12) 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 (a) NU<br />
NU - Não utilizável para esta gama de alturas.<br />
NN - Normalmente não utilizável, mas pode ser utilizado em aplicações especiais.<br />
a) Será normalmente necessária uma segunda camada de detectores a aproximadamente metade da altura do tecto.<br />
Tabela 1 – Limites de altura dos tectos e raio de acção<br />
Deve existir um espaço desobstruído mínimo de 0,5 m à<br />
volta de cada detector.<br />
d) Irregularidades do Tecto<br />
O volume interno das células cobertas por um só detector<br />
não deve exceder:<br />
- DetectoresTemperatura:V= 6 m 2 x (H-h)<br />
- DetectoresFumo: V = 12 m 2 x (H-h)<br />
Os tectos que tenham irregularidades com alturas inferiores<br />
a 5% do pé direito devem ser tratados como se fossem lisos<br />
e devem ser aplicados os seguintes limites radiais,<br />
constantesda tabela 1.<br />
e) Detecção Acima de Tectos Falsos<br />
Quando uma sala tem um tecto falso perfurado, a colocação<br />
dos detectoresdeve ter em consideraçãodois objectivos:<br />
Qualquer irregularidade do tecto (tal como uma viga) com<br />
uma altura superior a 5% do pé direito deve ser tratada<br />
como uma parede e devem ser aplicados os seguintes<br />
requisitos:<br />
- D > 0,25 x (H-h) ⇒ Um detector em todas as células;<br />
- D < 0,25 x (H-h) ⇒ Um detector em células alternadas;<br />
- D < 0,13 x (H-h) ⇒ Um detector em cada três células.<br />
Em que:<br />
D – Distância entre vigas (m), medida fora a fora;<br />
H – Pé direito da sala;<br />
h – Altura da viga.<br />
- Protecção contra fogos que comecem abaixo do tecto<br />
falso;<br />
- Protecção contra fogos que comecem acima do tecto<br />
falso.<br />
No caso das perfurações do tecto falso serem pequenas, e<br />
não exista ventilação pressurizada que empurre o fumo<br />
através deste, a protecção contra fogos que comecem abaixo<br />
do tecto falso requer a colocação de detectores abaixo do<br />
tecto falso.<br />
Caso não exista qualquer risco do fogo começar abaixo do<br />
tecto falso, os detectores devem ser colocados acima deste.<br />
Se a disposição do tecto for de modo a formar séries de<br />
pequenas células (como num favo de mel), então, dentro<br />
dos limites radiais da Tabela 1, um único detector pode<br />
cobrir um grupo de células.<br />
No caso das perfurações perfazerem mais do que 40% em<br />
qualquer secção de 1m x 1m do tecto, as dimensões de cada<br />
orifício excederem 10mm x 10mm, e a espessura do tecto<br />
não exceder três vezes a dimensão mínima de uma furação,<br />
155
ARTIGO TÉCNICO<br />
os detectores acima do tecto falso podem ser utilizados para<br />
detectar um fogo que comece abaixo do tecto falso, e<br />
podem ser dispensados detectoresabaixo deste.<br />
f) Detecção Abaixo do Chão Falso<br />
Quando as salas têm chão falso, devem ser instalados<br />
detectores por baixo do chão tal como se o vazio abaixo do<br />
chão falso fosse outro compartimento.<br />
Dispensa-se a colocação de detectores por baixo do chão<br />
falso, quando se verificar, pelo menos, uma das seguintes<br />
condições:<br />
- o chão falso seja perfurado;<br />
- o chão falso seja de um material que tenha uma reacção<br />
ao fogo classificada como A1, A2 ou B1 (Anexos II e III do<br />
RG-SCIE)e não exista carga térmica debaixo.<br />
g) Detectores que não estejam debaixo de tecto<br />
Na ausência de um tecto ou de um plano estratificado, os<br />
produtos da combustão confinam-se à coluna ascendente<br />
acima do fogo.<br />
Caso se utilizem detectores de fumo ou calor para detectar<br />
os produtos da combustão na coluna ascendente (tal como<br />
quando são utilizados nos átrios detectores de feixe em<br />
níveis baixos, ou quando são utilizados detectores sem<br />
tecto), os limites em altura para a operação são os indicados<br />
na Tabela 1, e o raio de operação efectivo (tanto para<br />
detectores de fumo como de calor) deve ser calculado como<br />
sendo 12,5% da altura medida do previsível foco de incêndio<br />
que esteja mais alto até ao detector acima.<br />
- Portascorta-fogo;<br />
- Sistemas de controlo de fumo;<br />
- Registoscorta-fogo;<br />
- Paragem de ventilação;<br />
- Controlo de elevadores;<br />
- Portasde segurança.<br />
7 Canalizações<br />
As canalizações devem satisfazer quaisquer requisitos<br />
especificados pelo fabricante ou fornecedor do<br />
equipamento, devendo ser dada particular atenção à<br />
capacidadecondutora e à atenuação do sinal.<br />
Devem ser respeitadas as recomendações existentes em<br />
regulamentos nacionais relativamente a tipos de cabo e sua<br />
instalação.<br />
8) Conclusão<br />
Este artigo visou abordar aspectos técnicos e conceptuais, ao<br />
nível do projecto e da instalação de Sistemas Automáticos de<br />
Detecção de Incêndios pretendendo e, fundamentalmente,<br />
contribuir para o enriquecimento do conhecimento das<br />
competências no âmbito de actuação do projecto de<br />
segurança.<br />
Fontes de Informação Relevantes<br />
Segurança Contra Incêndio em Edílicos, NT12: Nota Técnica<br />
Complementar do RG-SCIE / Refª VII.III.01, Sistemas<br />
Automáticos de Detecção de Incêndio, Autoridade Nacional<br />
de ProtecçãoCivil, 2007<br />
Cada sala protegida ou espaço fechado deve conter no<br />
mínimo um detector.<br />
6 Comandos<br />
A sinalização do alarme deve ser usada também para<br />
accionar, equipamentosauxiliares, tais como:<br />
- Equipamentode extinção;<br />
Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em<br />
Edílicos, Autoridade Nacional de Protecção Civil, Versão<br />
aprovada na Generalidadena RCM, 25 de Janeiro de 2007<br />
EN54 - Sistemas de detecção e de alarme de incêndio –<br />
Parte3-4-5-7-11-12-20<br />
156
ARTIGO TÉCNICO<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
Legislação de Segurança Contra Incêndio em Edifícios<br />
Presente e Futuro<br />
Resumo<br />
A regulamentação de segurança das instalações reveste-se<br />
da maior relevância, não só em consideração à vida humana,<br />
como à própria actividade económica.<br />
Motivada pela constante evolução da tecnologia, do<br />
surgimento de novos materiais e equipamentos e das<br />
exigências funcionais dos espaços, a regulamentação de<br />
segurança requer uma constante actualização e adaptação a<br />
essa novas necessidadese exigências.<br />
Cada vez mais a segurança de pessoas e bens é uma directriz<br />
fundamental aquando da realização dos projectos e<br />
execução dos edifícios, dos mais diversos fins.<br />
parte de todos de todos os agentes envolvidos (projectistas,<br />
instaladores...), da aplicação dos regulamentos estabelecidos<br />
para as instalaçõesde Segurança.<br />
Esta tarefa apenas poderá ser conseguida se houver um<br />
conhecimento completo e profundo dos diplomas legais que<br />
enquadram a área de segurança dos edifícios.<br />
O presente trabalho tem, pois, por objectivo, sistematizar e<br />
apresentar a presente regulamentação contra incêndios em<br />
edifícios, bem como apresentar o futuro Regulamento de<br />
Segurança Contra Incêndio em Edifícios, que vem criar um<br />
inovador enquadramento nesta área, por forma a serem<br />
garantidas as exigências mínimas de protecção de pessoas,<br />
instalaçõese bens.<br />
De forma a precaver situações que possam colocar em risco<br />
pessoas e bens, são consideradas medidas activas e passivas<br />
de protecção, das quais poderemos destacar os sistemas de<br />
detecção automática de incêndio, detecção automática de<br />
intrusão, sinalizaçãode saída, etc.<br />
Assim, a especial preocupação com a segurança de pessoas e<br />
bens justifica a importância ocupada pela segurança, a qual<br />
exige a necessidade de se assegurar a forma como são<br />
projectadas, executadas, exploradas e conservadas, em geral<br />
as instalações e em particular as instalações de segurança<br />
dos edifícios.<br />
Torna-se, pois, imperioso garantir-se o cumprimento, por<br />
1. Enquadramento<br />
A maioria da legislação portuguesa sobre segurança contra<br />
incêndio em edifícios é relativamente recente e encontra-se<br />
dispersa por diversos diplomas legais criando regras para as<br />
instalações e preconizando especificações para os sistemas<br />
activos e passivos de segurança.<br />
A base histórica inicial desta estrutura de leis de protecção<br />
contra incêndio em edifícios parte do Decreto-Lei n.º 38 382,<br />
de 7 de Agosto de 1951, que aprovou o Regulamento Geral<br />
das Edificações Urbanas (RGEU), com particular referência no<br />
Título V - Condições especiais relativas à segurança das<br />
edificações,Capítulo III - Segurança contra incêndios.<br />
157
ARTIGO TÉCNICO<br />
Quase quatro décadas depois, através do Decreto-Lei 426/89<br />
de 06 de Dezembro, foram publicadas as Medidas Cautelares<br />
de Segurança Contra Riscos de Incêndio em Centros Urbanos<br />
Antigos. Posteriormente foram publicados outros diplomas<br />
enquadrandooutros tipos de instalações.<br />
Actualmente existe um conjunto significativo de<br />
regulamentos de Segurança Contra Incêndio dispersos por<br />
tipo de ocupação, Normas de Segurança Contra Incêndio e<br />
Medidas de Segurança Contra Incêndio, dos quais uns<br />
apresentam excessiva minúcia, mas outros raramente<br />
ultrapassamo plano genérico.<br />
Assim, a actual legislação de segurança contra incêndios em<br />
edifícios encontra-se dispersa por um número excessivo de<br />
diplomas avulso, mas mesmo assim ainda incompleta, no<br />
espaço e no tempo, é parcialmente incoerente e repetitiva,<br />
volumosa e de manuseamento complicado, por vezes, de<br />
interpretação problemática, em particular em edifícios de<br />
utilização mista, heterogénea em termos jurídicos e técnicos<br />
e, parcialmente incoerente.<br />
Verifica-se ainda que uma vasta área de edifícios não dispõe<br />
de regulamentos específicos de segurança contra incêndios,<br />
como é, designadamente, o caso das instalações industriais,<br />
armazéns, gares de transporte, parques de campismo, lares<br />
de idosos, museus, bibliotecas, arquivos e locais de culto.<br />
Justifica-se assim a pertinência da criação de um diploma,<br />
que consolide toda a legislação de segurança contra incêndio<br />
em edifícios num único regulamento, que seja tronco<br />
normativo comum de aplicação geral a todos os edifícios,<br />
sem prejuízo de nele se incluírem disposições específicas<br />
complementares julgadas convenientes a cada utilizaçãotipo.<br />
De forma a dar cumprimento a este objectivo, no futuro,<br />
toda a legislação de segurança contra incêndio em edifícios,<br />
assentará no Regulamento Geral de Segurança Contra<br />
Incêndio em Edifícios (RG-SCIE), que se espera seja aprovado<br />
e publicado ainda durante o ano de 2008.<br />
2. Actual Legislação de Segurança Contra Incêndio<br />
A actual legislação de segurança contra incêndio encontra-se<br />
dispersa por diversos Regulamentos, Normas e Medidas de<br />
Segurança Contra Incêndio, de aplicação específica aos<br />
edifíciosde utilização objecto dos diplomas.<br />
2.1. Edifícios de Habitação<br />
O Decreto-Lei n.º 64/90 de 21 Fevereiro, Rectificado por<br />
Declaração publicada no DR - I Série n.º 99 de 30 de Abril de<br />
1990, aprovou e publicou o Regulamento de Segurança<br />
Contra incêndio em Edifíciosde Habitação.<br />
Nestes casos, apenas é aplicável o Regulamento Geral das<br />
Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 38 382,<br />
de 7 de Agosto de 1951, manifestamente insuficiente para a<br />
salvaguardada segurança.<br />
Assim, além de incompleta e demasiado dispersa por<br />
diversos diplomas, a actual legislação de segurança contra<br />
incêndio em edifícios, é dificilmente harmonizável entre si e<br />
geradora de dificuldades na sua compreensão, sendo<br />
particularmente difícil obter, por parte das várias entidades<br />
responsáveis pela aplicação da lei, uma visão sistematizada e<br />
uma interpretação uniforme, com evidente prejuízo da<br />
autoridadetécnica que deve assistir às suas normas.<br />
O Regulamento de Segurança Contra incêndio em Edifícios<br />
de Habitação, tem por objecto definir as condições a que<br />
devem satisfazer os edifícios destinados a habitação, com<br />
vista a limitar o risco de ocorrência e de desenvolvimento de<br />
incêndio, a facilitar a evacuação dos ocupantes e a favorecer<br />
a intervenção dos bombeiros.<br />
Este Decreto-Lei revogou relativamente a edifícios de<br />
habitação, o capítulo III do título V do Regulamento Geral<br />
das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 38<br />
382, de 7 de Agosto de 1951.<br />
158
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.2. Parques de Estacionamento Cobertos<br />
O Decreto-Lei n.º 66/95, de 08 Abril, aprovou e publicou o<br />
Regulamento de segurança contra incêndio em parques de<br />
estacionamentocobertos.<br />
O Regulamento de segurança contra incêndio em parques de<br />
estacionamento cobertos estabelece as medidas de<br />
segurança contra incêndio a observar em parques de<br />
estacionamento cobertos que ocupam a totalidade do<br />
edifício e em parques de estacionamento cobertos que<br />
ocupam apenas parte de um edifício cuja parte restante tem<br />
ocupação diferente, nomeadamente habitações e<br />
estabelecimentos que recebem público, de área bruta total<br />
superior a 200 m 2 .<br />
Decreto Regulamentar n.º 34/95, de 16 de Dezembro,<br />
aprova e publica o regulamento das condições técnicas e de<br />
segurança dos recintos de espectáculos e divertimentos<br />
públicos.<br />
Revoga o Decreto n.º 42 662, de 20 de Novembro de 1959.<br />
2.4. Edifícios do Tipo Hospitalar<br />
O Decreto-Lei n.º 409/98, de 23 de Dezembro, Rectificado<br />
pela DR nº7-H/99, I Série-A nº49 de 27 de Fevereiro, aprovou<br />
e publicou o Regulamento de segurança contra incêndio em<br />
edifícios do tipo hospitalar (Hospitais e centros de saúde,<br />
Unidades privadas de saúde, Unidades de saúde das<br />
instituiçõesprivadas de solidariedadesocial).<br />
Este Decreto-Lei revogou relativamente a espaços ocupados<br />
para recolha de veículos automóveis e seus reboques, as<br />
disposições constantes nos art.º 23.º e 24.º, n.º 4,5 e 7 do<br />
art.º 51.º e art.º 81.º do Regulamento de Segurança Contra<br />
Incêndio em Edifícios de Habitação, aprovado pelo Decreto-<br />
Lei n.º 64/90, de 15 de Fevereiro.<br />
2.3. Recintos de Espectáculos e de Divertimento Público<br />
O Decreto Regulamentar n.º 315/95, de 16 de Dezembro,<br />
publicou o Regulamento das condições técnicas e de<br />
segurança dos recintos de espectáculos e de divertimentos<br />
públicos.<br />
Este Decreto-Lei revogou relativamente aos edifícios de tipo<br />
hospitalar, as disposições do capítulo III do título V do<br />
Regulamento Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo<br />
Decreto-Lei n.º 38 382, de 7 de Agosto de 1951.<br />
A Portaria n.º 1275/2002, de 19 de Setembro, aprovou as<br />
Normas de segurança contra incêndio a observar na<br />
exploração dos estabelecimentos de tipo hospitalar, de<br />
acordo com o disposto no artigo 4.º do Decreto-Lei n.º<br />
409/98, de 23 de Dezembro, que aprovou o Regulamento de<br />
Segurança contra Incêndio em Edifíciosde Tipo Hospitalar.<br />
2.5. Edifícios do Tipo Administrativo<br />
O Decreto-Lei n.º 309/2002, de 16 Dezembro, regula a<br />
instalação e o funcionamento dos recintos de espectáculos e<br />
de divertimentos públicos.<br />
Revoga os artigos 20º a 23º do Decreto -Lei n.º 315/95, de 28<br />
de Novembro. São ainda revogados os artigos 1.º, 2.º, 3.º,<br />
35.º, 37.º e 43.º a 46.º do Decreto-Lei n.º 315/95, de 28 de<br />
Novembro, na parte relativa aos recintos de espectáculos e<br />
de divertimentos públicos previstos no referido diploma.<br />
O Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de Dezembro, Rectificado<br />
pelo DR n.º 44/99, Série I-A, de 27 de Fevereiro, aprovou e<br />
publicou o Regulamento de segurança contra incêndios em<br />
edifíciosdo tipo administrativo.<br />
Revogou relativamente aos edifícios de tipo administrativo,<br />
as disposições do capítulo III do título V do Regulamento<br />
Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º<br />
38382, de 7 de Agosto de 1951.<br />
159
ARTIGO TÉCNICO<br />
A Portaria n.º 1276/2002, de 19 de Setembro, aprovou as<br />
Normas de segurança contra incêndio a observar na<br />
exploração dos estabelecimentos de tipo Administrativo, de<br />
acordo com o artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de<br />
Dezembro, que aprovou o Regulamento de Segurança contra<br />
Incêndioem Edifícios de Tipo Administrativo.<br />
2.6. Edifícios Escolares<br />
Revoga os artigos 57.º e 260.º do Regulamento das<br />
Condições Técnicas e de Segurança dos Recintos de<br />
Espectáculos e Divertimentos Públicos anexo ao Decreto<br />
Regulamentarn.º 34/95, de 16 de Dezembro.<br />
O Decreto Regulamentar Nº 5/97 de 31 de Março, aprova o<br />
Regulamento das Condições Técnicas de Segurança dos<br />
Recintosde Diversões Aquáticas.<br />
O Decreto-Lei n.º 414/98 de 31 de Dezembro, Rectificado<br />
pelo DR nº44/99, Série I-A de 27 de Fevereiro aprovou e<br />
publicou o Regulamento de segurança contra incêndio em<br />
edifíciosescolares.<br />
Revogou relativamente aos edifícios escolares, as<br />
disposições do capítulo III do título V do Regulamento Geral<br />
das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º<br />
38382, de 7 de Agosto de 1951.<br />
A Portaria nº1444/2002 de 07 de Novembro, publica as<br />
Normas de segurança contra incêndio a observar na<br />
exploração dos estabelecimentos escolares, de acordo com o<br />
artigo 4º do Decreto-Lei nº 414/98, de 31 de Dezembro, que<br />
aprovou o Regulamento de Segurança contra Incêndio em<br />
EdifíciosEscolares.<br />
2.9 Estabelecimentos de fabrico e armazenagem de<br />
produtos explosivos<br />
O Decreto-Lei n.º 87/05 de 23 Maio define normas relativas a<br />
à emissão de alvarás e licenças para estabelecimentos de<br />
fabrico e armazenagem de produtos explosivos.<br />
Revoga os artigos 2.º e 3.º do Decreto-Lei n.º 139/2002, de<br />
17 de Maio e o n.º 1 do artigo 3.º e o n.º 2 do artigo 12.º do<br />
Regulamento de Segurança dos Estabelecimentos de Fabrico<br />
e de Armazenagem de Produtos Explosivos, aprovado pelo<br />
Decreto-Lei n.º 139/2002, de 17 de Maio.<br />
O Decreto-Lei n.º 139/2002, de 17 de Maio, aprovou o<br />
Regulamento da segurança nas instalações de fabrico e de<br />
armazenagemde produtos explosivos.<br />
2.7. Estádios<br />
O Decreto-Lei nº 317/97, de 25 de Novembro, criou o regime<br />
de instalaçãoe funcionamento de instalações desportivas.<br />
O Decreto Regulamentar nº 10/2001, de 7 de Junho, de<br />
acordo com o disposto no artigo 7º do Decreto-Lei nº<br />
317/97, de 25 de Novembro, aprovou e publicou o<br />
Regulamento das condições técnicas de segurança nos<br />
estádios.<br />
Revoga o Decreto-Lei n.º 142/79, de 23 de Maio, a Portaria<br />
n.º 29/74, de 16 de Janeiro, a Portaria n.º 831/82, de 1 de<br />
Setembro e a Portaria n.º 506/85, de 25 de Julho.<br />
O Decreto-Lei n.º 164/2001 de 23 de Maio, determina as<br />
medidas de prevenção de acidentes graves que envolvam<br />
substâncias perigosas e a limitação das suas consequências<br />
para o homem e para o ambiente.<br />
Revoga o Decreto-Lei n.º 204/93, de 3 de Junho.<br />
2.8 Recintos de Diversões Aquáticas<br />
2.10 Centros Urbanos Antigos<br />
O Decreto-Lei n.º 65/97 de 31 de Março, regula a Instalação<br />
e Funcionamento dos Recintoscom Diversões Aquáticas.<br />
O Decreto-Lei n.º 426/89, de 6 Dezembro, aprovou e<br />
publicou as medidas cautelares de segurança contra riscos<br />
160
ARTIGO TÉCNICO<br />
de incêndio em centros urbanos antigos.<br />
2.13 Empreendimentos de Restauração e Bebidas<br />
As medidas cautelares de segurança contra riscos de<br />
incêndio em centros urbanos antigos contém as disposições<br />
genéricas a observar em operações de beneficiação de<br />
edifícios e outras acções a realizar em centros urbanos<br />
antigos destinadas a reduzir o risco de eclosão de incêndio, a<br />
limitar a propagação de incêndio, a possibilitar a evacuação<br />
dos edifíciose a facilitara intervenção dos bombeiros.<br />
2.11 Instalações de armazenamento de produtos do<br />
petróleo e instalações de abastecimento de<br />
combustíveis líquidos e gasosos.<br />
O Decreto-Lei n.º 267/02 de 26 de Novembro, estabelece os<br />
procedimentos e define as competências para efeitos de<br />
licenciamento e fiscalização de instalações de<br />
armazenamento de produtos do petróleo e instalações de<br />
postosde abastecimentode combustíveis.<br />
Portaria nº 1188/03 de 10 de Outubro, regula os pedidos de<br />
licenciamento de combustíveis. Pormenorização de certos<br />
aspectos do processo de licenciamento e fiscalização de<br />
instalações de armazenamento de produtos do petróleo e de<br />
abastecimento de combustíveis de acordo com o disposto no<br />
n.º2 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 267/2002, de 26 de<br />
Dezembro.<br />
2.12 Empreendimentos Turísticos<br />
O Decreto-Lei n.º 167/97, de 04 de Julho, Rectificado pelo<br />
Decreto-Lei n.º 305/99, de 06 de Agosto e o Decreto-Lei n.º<br />
55/02, de 11 de Março aprovou o Regime jurídico dos<br />
empreendimentosturísticos.<br />
A Portaria nº 1063/97 de 21 Outubro, de acordo com o n.º 3<br />
do artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 167/97, de 4 de Julho, e n.º<br />
3 do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 168/97, aprovou e publicou<br />
as Medidas de segurança aplicadas na construção, instalação<br />
e funcionamento dos empreendimentos turísticos e dos<br />
estabelecimentosde restauração e de bebidas.<br />
A Portaria nº1063/97 de 21 Outubro, publicou as Medidas de<br />
segurança aplicadas na construção, instalação e<br />
funcionamento dos empreendimentos turísticos e dos<br />
estabelecimentosde restauração e de bebidas.<br />
Deu cumprimento ao definido no n.º 3 do artigo 21.º do<br />
Decreto-Lei n.º 167/97, de 4 de Julho, que aprovou o novo<br />
regime jurídico de instalação e funcionamento dos<br />
empreendimentos turísticos e no n.º 3 do artigo 6.º do<br />
Decreto-Lei n.º 168/97, de 4 de Julho, que aprovou o novo<br />
regime jurídico de instalação e funcionamento dos<br />
estabelecimentosde restauração e de bebidas.<br />
2.14 Estabelecimentos Comerciais (A≥300m 2 )<br />
O Decreto-Lei n.º 368/99, de 18 Setembro, aprovou e<br />
publicou as medidas de segurança contra risco de incêndio<br />
aplicáveis aos estabelecimentos comerciais com área igual<br />
ou superior a 300m 2 ou de substâncias perigosas<br />
independentementeda área.<br />
Revogou o Decreto-Lei n.º 61/90, de15 de Fevereiro, que<br />
aprovou as normas de segurança contra riscos de incêndio a<br />
aplicar em estabelecimentoscomerciais.<br />
2.15 Estabelecimentos Comerciais (A
ARTIGO TÉCNICO<br />
publicou as medidas cautelares mínimas contra riscos de<br />
incêndio a aplicar nos locais e seus acessos integrados em<br />
edifícios onde estejam instalados serviços públicos da<br />
administração central, regional e local e instituições de<br />
interessepúblico e entidades tuteladaspelo Estado.<br />
3. Futura Legislação de Segurança Contra Incêndio<br />
Dadas as fragilidades da actual legislação de segurança<br />
contra incêndio, anteriormente expostas, está prevista a<br />
publicação do Regulamento Geral de Segurança Contra<br />
Incêndio em Edifícios, já aprovado na generalidade em<br />
conselho de Ministros e fazendo parte dos objectivos do<br />
governo para o ano de 2008, conforme as "Grandes Opções<br />
do Plano para 2008" (Lei n.º 31/2007 de 10 de Agosto).<br />
O Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em<br />
Edifícios apresenta um conjunto amplo de exigências<br />
técnicas aplicáveis à segurança contra incêndio, no que se<br />
refere à concepção geral da arquitectura dos edifícios e<br />
recintos a construir ou remodelar, às disposições<br />
construtivas, às instalações técnicas e aos sistemas e<br />
equipamentos de segurança. Será um único regulamento, de<br />
utilização mais fácil, homogéneo e coerente e cobrindo todo<br />
o ciclo de vida dos edifícios. Congrega os 16 diplomas<br />
dispersose reduz 1200 artigos a 334.<br />
Engloba as disposições regulamentares de segurança contra<br />
incêndio aplicáveis a todos os edifícios e recintos,<br />
distribuídos por 12 utilizações-tipo, sendo cada uma delas,<br />
por seu turno, estratificada por quatro categorias de risco de<br />
incêndio. São considerados não apenas os edifícios de<br />
utilização exclusiva, mas também os edifícios de ocupação<br />
mista.<br />
No diploma encontram-se estruturadas um conjunto amplo<br />
de exigências técnicas aplicáveis à segurança contra<br />
incêndio, no que se refere à concepção geral da arquitectura<br />
dos edifícios e recintos a construir ou remodelar, às<br />
disposiçõesconstrutivas,às instalaçõestécnicas,aos sistemas<br />
162
ARTIGO TÉCNICO<br />
e equipamentos de segurança, para além das necessárias<br />
medidas de auto-protecção e de organização de segurança<br />
contra incêndio, aplicáveis quer em edifícios existentes, quer<br />
em novos edifícios a construir.<br />
Do mesmo modo, são estabelecidas as necessárias medidas<br />
de auto-protecção e de organização de segurança contra<br />
incêndio, aplicáveis quer em edifícios existentes, quer em<br />
novos edifícios a construir, e define-se um regime<br />
sancionatóriopara o incumprimento das novas regras.<br />
3.1 Objectivo<br />
Protecção, face ao risco de incêndio em edifícios,<br />
estabelecimentose recintos itinerantes ou ao ar livre:<br />
- Da vida humana;<br />
- Do ambiente;<br />
- Do património cultural;<br />
- De meios essenciais à continuidade de actividades sociais<br />
relevantes.<br />
Para cumprimentos dos seus objectivos o RG-SCIE:<br />
- É de aplicação universal;<br />
- Cobre todo o ciclo de vida dos edifícios e dos recintos;<br />
- As medidas de segurança são graduadas em função da<br />
classificaçãodo risco;<br />
- Explicita as competências, as responsabilidades e os<br />
mecanismosde fiscalizaçãode SCIE.<br />
3.2 Campo de Aplicação<br />
O RG-SCIE aplica-se a:<br />
- Novos edifícios, partes de edifícios e recintos, a<br />
construir, montar ou implantar;<br />
- Reconstruções e ampliações de edifícios e recintos já<br />
existentesou de suas partes;<br />
- Mudanças de uso permanente de edifícios e recintos já<br />
existentesou de suas partes;<br />
- As medidas de auto-protecção e de gestão de segurança<br />
constantes no diploma aplicam-se também a edifícios e<br />
recintosjá existentes.<br />
163
ARTIGO TÉCNICO<br />
3.3 Estrutura<br />
O Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em<br />
Edifíciosdesenvolve-senos seguintes 9 capítulos:<br />
I. Disposiçõesgerais e fiscalização;<br />
II. Caracterizaçãodo risco de incêndio;<br />
III. Condiçõesexteriores comuns;<br />
IV. Condições gerais de comportamento ao fogo, isolamento<br />
e protecção;<br />
V. Condiçõesgerais de evacuação;<br />
VI. Condiçõesgerais das instalações eléctricas;<br />
VII. Condições gerais dos equipamentos e sistemas de<br />
segurança;<br />
VIII. Condiçõesgerais de organização e gestão da segurança;<br />
IX. Condiçõesespecíficasdas utilizações-tipo.<br />
3.4 Diplomas Revogados<br />
A entrada em vigor do Regulamento Geral de Segurança<br />
Contra Incêndio em Edifícios revoga os seguintes diplomas:<br />
- As disposições do capítulo III do título V do Regulamento<br />
Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-<br />
Lei n.º 38 382, de 7 de Agosto de 1951;<br />
- A Resolução do Concelho de Ministros n.º 31/89, de 15<br />
de Setembro, publicado no DR - I série n.º 213;<br />
- O Decreto-Lei n.º 64/90, de 21 Fevereiro, publicado no<br />
DR - I série n.º 44, rectificado por Declaração publicada<br />
no DR - I Série n.º 99 de 30-04-90;<br />
- O Decreto-Lei n.º 66/95, de 08 Abril, publicado no DR - I<br />
série-A n.º 84;<br />
- A Portaria n.º 1063/97, de 21 Outubro, publicada no DR -<br />
I série-B n.º 244;<br />
- O Decreto-Lei n.º 409/98, de 23 de Dezembro, publicado<br />
no DR - I série-A n.º 295, e a Portaria n.º 1275/2002, de<br />
19 de Setembro, publicada no DR - I série-B n.º 217;<br />
- Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de Dezembro, publicado<br />
no DR - I série-A n.º 295, rectificadopelo DR - I série-A<br />
n.º 44, série I-A de 27-02-99, que aprovou o regulamento de<br />
segurança contra incêndios em edifícios do tipo<br />
Administrativo, e respectiva Portaria n.º 1276/2002, de 19 de<br />
Setembro, publicada no DR - I série-B n.º 217, que aprovou<br />
as normas de segurança contra incêndio a observar na<br />
exploração dos estabelecimentosde tipo Administrativo.<br />
- Decreto-Lei n.º 414/98, de 31 de Dezembro, publicado<br />
no DR - I série-A n.º 301, rectificado pelo DR n.º 44/99,<br />
Série I-A de 27 de Fevereiro, que aprovou o regulamento<br />
de segurança contra incêndio em edifícios Escolares, e<br />
respectiva Portaria n.º 1444/2002, de 07 de Novembro,<br />
publicada no DR - I Série-B n.º 257, que aprovou as<br />
normas de segurança contra incêndio a observar na<br />
exploração dos estabelecimentosEscolares.<br />
- Decreto-Lei n.º 368/99, de 18 Setembro, publicado no DR<br />
- I Série-A n.º 219, que aprovou a protecção contra<br />
incêndio em Estabelecimentos Comerciais com área igual<br />
ou superior a 300m 2 ou de substâncias perigosas<br />
independentemente da área, e respectiva Portaria n.º<br />
1299/2001, de 21 de Novembro, publicada no DR - I<br />
Série-B n.º 5270, que aprovou as medidas de segurança<br />
contra incêndio a observar em Estabelecimentos<br />
Comerciais ou Prestação de Serviços com área inferior a<br />
300 m2.<br />
- As disposições relativas à segurança contra incêndio<br />
constantes do Decreto Regulamentar n.º 34/95, de 16 de<br />
Dezembro, publicado no DR - I série-B n.º 289, que<br />
aprovou o regulamento das condições técnicas e de<br />
segurança dos Recintos de Espectáculos e de<br />
Divertimentos Públicos, e do Decreto-Lei n.º 309/2002,<br />
de 16 de Dezembro, publicado no DR - I Série A n.º 290,<br />
que aprovou a revisão do regime geral aplicável aos<br />
Recintos de Espectáculos e de Divertimentos Públicos da<br />
competênciadas autarquias locais.<br />
– As disposições relativas à segurança contra incêndio<br />
constantes do Decreto Regulamentar n.º 10/2001, de 7<br />
de Junho, publicado no DR – I série-B n.º 132, que<br />
aprovou o regulamento das condições técnicas e de<br />
segurança dos Estádios, e do Decreto-Lei n.º 317/97, de<br />
25 de Novembro, publicado no DR - I série-A n.º 273, que<br />
aprovou o regime de instalação e funcionamento das<br />
164
ARTIGO TÉCNICO<br />
InstalaçõesDesportivas de uso público.<br />
- As disposições relativas à segurança contra incêndio<br />
constantes do Decreto Regulamentar n.º 5/97, de 13 de<br />
Março, publicado no DR – I série-B n.º 75, que aprovou o<br />
regulamento das condições técnicas e de segurança dos<br />
Recintoscom Diversões Aquáticas.<br />
4. Conclusão<br />
A necessidade de constante actualização de conhecimentos,<br />
imposta quer pela evolução técnica, tecnológica e<br />
concepcional das instalações, quer pela evolução<br />
regulamentar nos diversos domínios de projecto é um<br />
desafio para os diversos agentes interveniente na área da<br />
segurançade pessoas e bens.<br />
A actual existência de um conjunto significativo de<br />
Regulamentos de Segurança, Normas de Segurança e<br />
Medidas de Segurança Contra Incêndio, traduz-se na<br />
dispersão da regulamentação por um número excessivo de<br />
diplomas, o que a torna volumosa e de interpretação<br />
problemática e mesmo, em alguns casos, parcialmente<br />
incoerentee repetitiva.<br />
A futura publicação do Regulamento Geral de Segurança<br />
Contra Incêndio em Edifícios e consequente revogação dos<br />
diversos diplomas actualmente em vigor, vêm realizar um<br />
novo enquadramento regulamentar de segurança contra<br />
incêndio, mais coerente e completo, e abrangendo a<br />
totalidadede edifícios existentes.<br />
No presente artigo pretendeu-se sistematizar a actual<br />
legislação de segurança contra incêndio em edifícios, assim<br />
como apresentar o futuro Regulamento de Segurança Contra<br />
Incêndio em Edifícios, de forma a permitir antecipar o<br />
conhecimento do diploma por parte dos diversos agentes<br />
intervenientes na temática da protecção de pessoas,<br />
instalaçõese bens.<br />
165
166<br />
ARTIGO TÉCNICO
ARTIGO TÉCNICO<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
Segurança em Edifícios<br />
Sistemas de Circuito Fechado de Televisão<br />
1. Enquadramento<br />
Para que os ocupantes e operadores possam usufruir na<br />
plenitude dos edifícios, estes devem satisfazer requisitos<br />
arquitectónicos, funcionais, ecológicos, económicos e de<br />
segurança.<br />
O fim e a utilização a que se destina cada edifício<br />
determinam a selecção, instalação e implementação de<br />
diferentes medidas de protecção e segurança, de forma a<br />
assegurar e controlar os aspectos de segurança das diversas<br />
valênciasdas instalações,equipamentos e ocupantes.<br />
Independentemente do risco ou complexidade de cada<br />
instalação, deverão ser estudados, desenvolvidos e<br />
implementados sistemas de protecção e segurança, capazes<br />
de garantir o conforto e a segurança dos ocupantes e a<br />
protecçãode bens.<br />
2. A Videovigilância como Valência de Segurança em<br />
Edifícios<br />
É cada vez mais frequente o recurso à videovigilância através<br />
de sistemas de circuitos fechados de televisão (Closed Circuit<br />
Television – CCTV), quer como elementos isolados de<br />
vigilância, quer como elementos de complemento dos<br />
sistemas de segurança, em geral, e, em particular, dos<br />
sistemas de detecção automática de intrusão e controlo de<br />
acessos.<br />
Embora existam dispositivos pertencentes ao CCTV que<br />
podem realizar a detecção automática de intrusão, os<br />
sistemas de CCTV não são, habitualmente, designados de<br />
sistemas de segurança, mas sim, sistemas de vigilância. Não<br />
tendo por isso, normalmente, uma missão de vigilância com<br />
detecção automática de intrusão, mas sim a vigilância como<br />
elemento de suporte ao controlo e à intervenção humana.<br />
A segurança contra incêndios, nas áreas de redução e<br />
protecção do risco, são a principal vertente da segurança em<br />
edifícios. A segurança contra intrusão, controlo de acessos,<br />
videovigilância e alarmes técnicos são outras vertentes<br />
fundamentaisno garante da segurança em edifícios.<br />
Além da visualização de imagem, em tempo real, os sistemas<br />
de CCTV permitem a gravação e arquivo dessas mesmas<br />
imagens, que posteriormente poderão ser consultadas, se tal<br />
for necessário.<br />
A instalação de sistemas de CCTV é, assim, hoje em dia, um<br />
facto generalizado motivado, por um lado, pela necessidade<br />
de proceder ao controlo e à protecção de pessoas e bens e,<br />
por outro, pelo reduzido custo destes sistemas.<br />
Fonte: www.siemens.com<br />
167
ARTIGO TÉCNICO<br />
3. Áreas de Intervenção dos Sistemas de Videovigilância<br />
A utilização dos sistemas de videovigilância através de<br />
sistemas de Circuito Fechado de Televisão encontra-se,<br />
actualmente, generalizada a todas as áreas de actividade,<br />
desde a comercial, industrial, serviços, recintos desportivos,<br />
estabelecimentos de ensino, actividade portuária e<br />
aeroportuária,vias de circulação até à área residencial.<br />
De entre as inúmeras vantagens da utilização de sistemas de<br />
CCTV, podemos destacar<br />
- Aumento da segurança física das instalações;<br />
- Aumento da segurança e do conforto dos utilizadores<br />
das instalações;<br />
- Facilidade no controlo dos acessos de pessoas internas e<br />
externas às organizações;<br />
- Facilidade no controlo de viaturas próprias e externas às<br />
organizações;<br />
- Supervisão de pontos de venda e atendimento a clientes;<br />
- Controlo e gestão eficaz em processos produtivos;<br />
- Controlo mais eficaz das instalações;<br />
- Possibilidade de acesso remoto via internet, de qualquer<br />
ponto do mundo, em tempo real;<br />
- Flexibilidade na utilização do sistema.<br />
- Vigilância de veículos de transporte público (comboios,<br />
metro, barcos, …);<br />
- Vigilânciade zonas públicas em hotéis, casinos;<br />
- Vigilânciade parques de estacionamento;<br />
- Vigilânciade zonas pedonais;<br />
- Análise facial para identificaçãode pessoas;<br />
- Sondas médicas;<br />
4. Arquitectura de um Sistema de Videovigilância<br />
A arquitectura de um sistema de videovigilância pode ser<br />
dividida em quatro grupos principais:<br />
- Recolha de imagem<br />
Corresponde às unidades que fazem a transformação do<br />
sinal óptico (imagem) em sinal eléctrico, sendo constituída<br />
pelos elementos de conversão da zona visualizada num sinal<br />
de vídeo.<br />
É composto essencialmente pelas câmaras, lentes, suportes<br />
e caixas.<br />
- Transmissão do sinal<br />
Como utilização mais comum dos sistemas de CCTV,<br />
podemos destacar a vídeo vigilância e segurança em:<br />
- Estabelecimentoscomerciais;<br />
- Bancos;<br />
- Oficinas;<br />
- Edifíciospúblicos;<br />
- Portose aeroportos;<br />
- Moradias.<br />
Outras aplicações, mais específicas da utilização de sistemas<br />
de CCTV são:<br />
- Monitorizaçãode tráfego em pontes e estradas;<br />
- Monitorizaçãode processosindustriais;<br />
- Vigilância de áreas interditas à presença humana tais<br />
como: fornos, zonas tóxicas, submersas, etc.<br />
- Vigilânciade sítios sem iluminação;<br />
Responsável pelo transporte do sinal recolhido pelo grupo<br />
anterior, até à zona de processamento, controlo e comando<br />
e monitorização da imagem.<br />
A transmissão do sinal é realizada, essencialmente, por cabo<br />
coaxial, par troçado ou cabo de fibra-óptica.<br />
- Processamento do sinal, controlo, comando e gravação<br />
da imagem<br />
Constituído pelo conjunto de equipamentos responsáveis<br />
pelo processamento, controlo e comando e gravação da<br />
imagem, proveniente do grupo de recolha.<br />
É composto essencialmente selectores, multiplexadores e<br />
gravadores.<br />
168
ARTIGO TÉCNICO<br />
- Monitorizarão da Imagem<br />
- Tipos de Lentes<br />
Constituído pelos equipamentos de recepção do sinal de<br />
vídeo, que voltam a fazer a transformação do sinal eléctrico<br />
em sinal óptico, observável pelo olho humano e que permite<br />
a visualização das imagens.<br />
o<br />
o<br />
o<br />
Focagem variável ou fixa;<br />
Íris manual ou automática<br />
Filtros IR<br />
A monitorização da imagem é realizada em monitores<br />
dedicadosou em monitores de computadores.<br />
Figura 2 – Diversos tipos de lentes de um sistema de videovigilância<br />
- Tipos de Câmaras<br />
Figura 1 – Vista Geral de uma Sala de Segurança<br />
o<br />
o<br />
o<br />
Fixas<br />
MiniDome<br />
SpeedDome<br />
5. Tecnologia dos Sistemas de Videovigilância<br />
Podendoser a preto e branco, cor ou day/night.<br />
- Tipo de Sistemas<br />
o<br />
o<br />
Analógico<br />
Digital<br />
Nos sistemas digitais, destacamos o sistema IP (Internet<br />
Protocol), que pode-se dizer, veio revolucionar os sistemas<br />
de videovigilância, uma vez que permite novas<br />
funcionalidades como o acesso ao sistema, através de uma<br />
rede interna, ou à distância, via internet.<br />
Figura 3 – Diversos tipos de câmaras de um sistema de<br />
videovigilância<br />
Fonte: www.siemens.com<br />
169
ARTIGO TÉCNICO<br />
- Suportes e caixas<br />
- Gravador<br />
Os suportes são os elementos de fixação das câmaras.<br />
As caixas são os elementos de protecção e, por vezes, de<br />
dissimulaçãodas câmaras.<br />
É o elemento responsável pela gravação das imagens, para<br />
posteriorvisualização.<br />
o GravadoresAnalógicos<br />
São a solução tradicional para a gravação do sinal de<br />
vídeo. São aparelhos que permitem a gravação do<br />
sinal de vídeo em fitas magnéticas, bastante<br />
semelhantesaos aparelhos domésticos.<br />
Com o surgimento dos sistemas digitais este tipo de<br />
solução de gravação da imagem está a cair em<br />
desuso .<br />
Figura 4 – Suportes e caixas<br />
- Monitores<br />
Figura 6 – Gravador analógico<br />
Embora ainda se encontrem em utilização monitores do tipo<br />
CRT (cathode ray tube), os monitores mais largamente<br />
utilizados hoje em dia são do tipo TFT (Thin Film<br />
Transmitter).<br />
Os monitores podem ser monocromáticos ou policromáticos.<br />
o Gravadoresdigitais<br />
Actualmente, com o surgimento do digital e dos<br />
sistemas IP, a gravação é realizada em discos duros<br />
de sistemas dedicados (gravadores digitais<br />
autónomos) ou nos discos dos computadores.<br />
Figura 5 – Monitores CRT e TFT<br />
Figura 7 – Gravador digital<br />
170
ARTIGO TÉCNICO<br />
6. Arquitectura Geral dos Sistemas de Videovigilância<br />
De seguida apresentam-se alguns exemplos de configurações gerais de sistemas de CCTV, envolvendo as diversas tecnologias<br />
anteriormentedescritas.<br />
- Sistema tradicional<br />
Câmaras<br />
Quadri<br />
Multiplexer<br />
Sequenciador<br />
Gravador<br />
Monitor<br />
- Sistema com Gravador Digital Simples<br />
Câmaras<br />
Sequenciador<br />
Gravador<br />
Monitor<br />
- Sistema com Transmissão por TCP/IP<br />
Câmaras<br />
Sequenciador<br />
Gravador<br />
Monitor<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
ADSL<br />
ISDN<br />
PSTN<br />
Ethernet<br />
Acesso<br />
Remoto<br />
171
ARTIGO TÉCNICO<br />
7. Conclusão<br />
Os sistemas de videovigilância são cada vez mais uma importante valência na segurança dos edifícios, de forma a garantir a<br />
segurançade pessoas instalaçõese bens.<br />
A instalação de sistemas de Circuito Fechado de Televisão é, hoje em dia, um facto generalizado motivado, por um lado, pela<br />
necessidadede proceder à protecção de pessoas e bens e, por outro, pela flexibilidade e baixo preço destes sistemas.<br />
Actualmente os sistemas de Circuito Fechado de Televisão estão presentes em todas as áreas de actividade, desde o comércio,<br />
industria, até ao sector habitacional.<br />
Imagem adaptada de: http://www.solid-state-logic.com/broadcastsound/C100%20HD%20Range/C100_HD_gallery.asp<br />
172
ARTIGO TÉCNICO<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
Sistemas Automáticos de Segurança<br />
Detecção de Monóxido de Carbono<br />
Resumo<br />
A segurança de pessoas e bens é um aspecto fundamental na<br />
qualidade de vida das pessoas.<br />
Os sistemas automáticos de segurança em geral, e os sistemas<br />
automáticos de detecção de Monóxido de Carbono (CO) em<br />
particular, visam assegurar a protecção das pessoas em locais cuja<br />
qualidade atmosférica as possa por em perigo.<br />
O Monóxido de Carbono é um gás inflamável, que se mistura<br />
facilmente no ar ambiente, muito perigoso devido à sua elevada<br />
toxicidade e que sendo inodoro, incolor e insípido, não permite que<br />
os ocupantes das instalações tenham consciência de estar expostas<br />
a uma atmosfera susceptível de lhes provocar intoxicações e, até,<br />
mesmo a morte.<br />
O Monóxido de Carbono, que constitui a maior parte da poluição<br />
do ar, é resultado, essencialmente, da combustão incompleta de<br />
combustíveis fósseis.<br />
O Monóxido de Carbono forma com a hemoglobina do sangue, um<br />
composto mais estável do que hemoglobina e o oxigénio, podendo<br />
levar à morte por asfixia. Concentrações abaixo de 400 ppm (parte<br />
por milhão – medida de concentração) no ar causam dores de<br />
cabeça e acima deste valor são potencialmente mortais.<br />
O presente artigo aborda, em geral, a temática da detecção de<br />
monóxido de carbono, no que se refere aos aspectos<br />
regulamentares, técnicas e tecnológicos da mesma, que possam<br />
servir as pessoas em geral e os projectistas e instaladores em<br />
particular.<br />
1. Monóxido de Carbono<br />
O Monóxido de Carbono (CO) é formado pela combinação de<br />
um átomo de carbono e um átomo de oxigénio.<br />
É um gás extremamente perigoso devido à sua elevada<br />
toxidade, que se mistura facilmente no ar ambiente, e que<br />
sendo inodoro, incolor e insípido, não permite que os<br />
ocupantes das instalações tenham consciência de estar<br />
expostas a uma atmosfera susceptível de lhes provocar<br />
intoxicaçõese, até, mesmo a morte.<br />
O Monóxido de Carbono não se vê, não se cheira, não se<br />
ouve, mas mata.<br />
2. Principais Fontes de Monóxido de Carbono<br />
O Monóxido de Carbono (CO), que constitui a maior parte da<br />
poluição do ar, é resultado, essencialmente, da combustão<br />
incompletade combustíveis fósseis.<br />
Os incêndios florestais e o tráfego rodoviário são os<br />
principais exemplos de fontes de poluição por Monóxido de<br />
Carbono, podendo ser, também, formado por oxidação de<br />
poluentesorgânicos, tais como o metano.<br />
No sector residencial, muitos aparelhos usados no dia-a-dia<br />
funcionam com base em combustíveis – sólidos (lenhas,<br />
carvão), líquidos (petróleo, gasóleo) ou gasosos (gás natural,<br />
propano, butano ou GPL), cuja queima pode, também, ser<br />
fonte de CO, nomeadamente:<br />
- Caldeiras(a lenha, carvão, gás e gasóleo)<br />
- Salamandras (a lenha ou carvão)<br />
- Esquentadores(a gás)<br />
- Aquecedoresportáteis (a GPL, ou a petróleo)<br />
- Fogões (a lenha, carvão e gás)<br />
- Braseiras(a carvão)<br />
As condutas e chaminés obstruídas ou mal dimensionadas,<br />
provocando uma deficiente saída dos produtos da<br />
combustão, podem igualmente, motivar o aumento da<br />
concentraçãode monóxido carbono.<br />
As garagens e aparcamentos de veículos automóveis<br />
cobertos são, igualmente, locais com elevado potencial<br />
produção e concentração de Monóxido de Carbono e, por<br />
conseguinte, de perigo potencial para as pessoas que os<br />
utilizam.<br />
173
ARTIGO TÉCNICO<br />
3. Efeitos do Monóxido de Carbono na Saúde<br />
O Monóxido de Carbono (CO) penetra no organismo através<br />
da respiração e entra nos pulmões e no sangue,<br />
combinando-se com a hemoglobina, diminuindo a<br />
capacidade de transporte de oxigénio dos pulmões até aos<br />
tecidos.<br />
A exposição a este poluente traduz-se em dificuldades<br />
respiratórias e asfixia, principalmente para os indivíduos com<br />
problemas cardiovasculares. Para além disso este poluente<br />
provoca também a diminuição da percepção visual, destreza<br />
manual e capacidade de trabalho.<br />
Existem dois tipos de intoxicaçãopor monóxido de carbono:<br />
- A intoxicação crónica, cujos sintomas são dores de<br />
cabeça, náuseas, vómitos e cansaço, a qual se poderá<br />
desenvolver de forma lenta e afecta pessoas<br />
habitualmente expostas às concentrações elevadas de<br />
CO;<br />
- A intoxicação aguda, que provoca vertigens, fraqueza<br />
muscular, distúrbios visuais, taquicardia, perturbações<br />
de comportamento, desmaios e, no limite, o coma e<br />
mesmo a morte.<br />
No que se refere ao sector residencial, a análise dos<br />
acidentes resultantes de intoxicações com CO, efectuadas<br />
com base nos dados do sistema EHLASS / Sistema Europeu<br />
de Vigilância de Acidentes Domésticos e de Lazer, entre os<br />
anos de 1987 e 1999 mostra que a maioria dos<br />
acidentes/intoxicações por gás ou Monóxido de Carbono<br />
ocorrem no Outono/Inverno e têm a sua origem em<br />
equipamentos para aquecimento (por exemplo salamandras<br />
e caldeiras) que, normalmente por esquecimento, são<br />
deixadas acesas durante a noite.<br />
A perigosidade destes acidentes reflecte-se no elevado<br />
número de hospitalizações e óbitos registados anualmente,<br />
com origem no Monóxido de Carbono (9% dos acidentes<br />
ocorridos por intoxicação / envenenamento). A taxa de<br />
letalidade (relação entre o numero de óbitos e o número de<br />
vítimas) também é elevada: 5%.<br />
174<br />
Os grupos mais susceptíveis aos efeitos do CO são as<br />
crianças, as pessoas idosas e as pessoas com doenças<br />
cardíacas, respiratórias ou anemia. Os trabalhadores de<br />
garagens e polícias de trânsito estão muito expostos à<br />
presença deste gás, pois os automóveis libertam para a<br />
atmosfera elevadas quantidades de monóxido de carbono.<br />
As nossas casas podem, igualmente, ter problemas de<br />
acumulação de CO, sendo que em Portugal entre os anos de<br />
1995 e 2003, o número de mortes ocorridas por efeito tóxico<br />
de monóxido de carbono foi de 268, o que corresponde a<br />
quase 30 mortes por ano.<br />
4. Protecção Geral Contra a Intoxicação por Monóxido de<br />
Carbono<br />
Caso se verifique uma intoxicação por inalação de Monóxido<br />
de Carbono, deverão de imediato ser tomadas algumas<br />
medidas para protecção da vítima, nomeadamente:<br />
- Arejar o local;<br />
- Desligar os aparelhos que possam estar na origem do<br />
acidente;<br />
- Evacuar a vítima para fora da atmosfera tóxica, o mais<br />
rapidamente possível, e colocá¬-la em repouso,<br />
preferencialmente,deitada;<br />
- Chamar os serviços médicos de emergência<br />
Contudo, dever-se-á sempre tomar medidas que permitam<br />
prevenir a ocorrência deste tipo de acidentes que poderão<br />
passar por:<br />
- Garantir que os aparelhos de queima são instalados de<br />
acordo com as normas e especificações técnicos em vigor<br />
e por entidades reconhecidas;<br />
- Proceder à manutenção regular dos aparelhos que<br />
utilizem combustíveis fósseis, recorrendo aos serviços de<br />
entidadesreconhecidas;<br />
- Providenciar, periodicamente, inspecções às instalações<br />
de gás, realizadas por entidades devidamente<br />
reconhecidaspara o efeito.<br />
- Proceder à limpeza regular dos queimadores dos fogões<br />
a gás, caso estes apresentarem sinais de estarem<br />
obstruídos, no caso da mistura ar-gás não se efectuar nas<br />
melhores condições, originando maior produção de CO;
ARTIGO TÉCNICO<br />
- Não manter em funcionamento o motor do automóvel<br />
dentro de uma garagem fechada, uma vez que a<br />
quantidadede CO libertada pode tornar-se perigosa.<br />
- Não adquirir aparelhos que não respeitem as normas de<br />
segurança;<br />
As medidas anteriormente mencionadas poderão ser<br />
complementadas com a instalação de um Sistema de<br />
Detecção Automática de Monóxido de Carbono, que de uma<br />
forma autónoma e automática detecta as concentrações<br />
perigosas de monóxido de carbono e, de acordo com essas<br />
concentrações, promove medidas de sinalização e de<br />
redução desses níveis de concentração, por extracção e/ou<br />
insuflaçãode ar.<br />
Edifícios (SCIE), no seu artigo 185.º, determina as<br />
características dos sistemas automáticos de detecção de gás<br />
combustível, nomeadamente no que se refere à constituição<br />
dos mesmos.<br />
Assim um sistema de detecção automática de Monóxido de<br />
Carbono será constituído pelos seguintes elementos,<br />
devidamentehomologados e compatíveis entre si:<br />
- Unidade de controlo e sinalização;<br />
- Detectores;<br />
- Sinalizadoresóptico-acústicos;<br />
- Transmissoresde dados;<br />
- Cabos<br />
- Canalizações<br />
5. Detecção Automática de Monóxido de Carbono<br />
5.1. Definição<br />
Um sistema de detecção e alarme de Monóxido de Carbono<br />
(CO) é uma instalação técnica com a capacidade de medir e<br />
comparar automaticamente a concentração de Monóxido de<br />
Carbono, e quando essas concentrações atingirem valores<br />
acima dos valores pré-estabelecidos, sinalizar e executar<br />
todas as acções definidas como necessárias, para garantir o<br />
aviso e a protecção dos seres vivos.<br />
5.2. Enquadramento Regulamentar<br />
O enquadramento regulamentar de segurança contra<br />
incêndio em edifícios, encontra-se definido pela Portaria n.º<br />
1532/2008 de 29 de Dezembro aprovou e publicou o<br />
Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />
Edifícios (SCIE), conforme determinado no artigo 15ª do<br />
Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro que aprovou o<br />
regime jurídico da segurança contra incêndios em edifícios<br />
(SCIE) e, que, entre outros aspectos, aborda a questão da<br />
detecçãode gases e do controlo da poluição do ar.<br />
5.3. Constituição Geral do Sistema<br />
O Regulamento Técnico de Segurança Contra Incêndio em<br />
A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de<br />
detecçãode monóxido de carbono:<br />
Detectores<br />
Automáticos<br />
Outros<br />
Imputs<br />
Alimentação<br />
Rede<br />
Gestão Técnica<br />
Centralizada<br />
Unidade de<br />
Controlo e<br />
Sinalização<br />
Figura 1 – Arquitectura Geral de um Sistema Automático de<br />
Detecção de Monóxido de Carbono<br />
- Unidade de Controlo e Sinalização<br />
A Unidade de Controlo e Sinalização (Central de Detecção e<br />
Alarme) é o “cérebro” do sistema.<br />
Sinalizadores<br />
Ópticos-<br />
Acústicos<br />
Sistemas de<br />
Extracção/Insu<br />
flação Ar<br />
Outros<br />
Outputs<br />
Alimentação<br />
Emergência<br />
175
ARTIGO TÉCNICO<br />
É um equipamento electrónico programável, capaz de<br />
interpretar correctamente as informações vindas dos<br />
detectores automáticos e de outros tipos de inputs, de<br />
monitorizar o funcionamento dos diversos elementos e<br />
respectivos circuitos, gerar sinalização e executar comandos,<br />
em conformidade com a programação predefinida.<br />
As Unidade de Controlo e Sinalização podem ser, em termos<br />
funcionais,divididas em dois grupos principais:<br />
- Sistema de Zonas;<br />
São sistemas de pequenas dimensões em que as acções<br />
são definidas por zona.<br />
- Sistema Endereçável.<br />
São sistemas de grandes dimensões em que as acções<br />
podem ser definidas por elemento.<br />
- Detectores<br />
Tem como função realizar a medição dos níveis de<br />
concentração de monóxido de carbono e de transmitir essa<br />
informaçãoà central.<br />
técnicas dos fabricantes dos equipamentos, de modo a<br />
verificar quais as áreas de protecção efectivas dos mesmos.<br />
c) Altura de Colocação<br />
O Monóxido de carbono é um gás menos denso que o ar,<br />
pelo que tem tendência para subir e, por conseguinte,<br />
acumular-sena parte superior das instalações.<br />
Gás Fórmula Volume Molar Densidade em<br />
Relação ao Ar<br />
Monóxido CO 22,40 0,967<br />
Carbono<br />
Tabela 1 – Características do Monóxido de Carbono<br />
O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />
Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina que os<br />
detectores do sistema automático de monóxido de carbono<br />
devem ser instaladosa uma altura de 1,5 m do pavimento.<br />
d) Sinalizadores Óptico-Acústicos<br />
a) Tecnologias<br />
As tecnologias detecção, varia de fabricantes pata fabricante<br />
de equipamento, mas, de um modo geral, as mais utilizadas<br />
são as seguintes:<br />
- Electroquímicos;<br />
- Pelistor;<br />
- Catalitico<br />
- Semicondutor.<br />
b) Área de Protecção<br />
O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />
Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º, determina que os<br />
detectores do sistema automático de monóxido de carbono<br />
devem ser distribuídos uniformemente de modo a cobrir<br />
áreas inferiores a 400 m² por cada detector.<br />
Dever-se-á, no entanto, ter em atenção as especificações<br />
O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />
Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina quando for<br />
atingida a concentração de 200 ppm de monóxido de<br />
carbono, as pessoas devem ser avisadas através de um<br />
alarme óptico e acústico colocado junto às entradas do<br />
espaço em questão, por cima das portas de acesso e no<br />
interior nos nós de circulação.<br />
A referida sinalização é realizada através de sinalizadores<br />
óptico-acústicos, normalmente construídos em caixa<br />
metálica, que possuirão no visor frontal a inscrição<br />
«Atmosfera Saturada-CO», a qual será iluminada em caso de<br />
alarme e possuirão também, um avisador acústico<br />
incorporado, com som intermitente.<br />
e) Canalizações<br />
Neste particular salienta-se o disposto no Artigo 77.º -<br />
Protecção dos circuitos das instalações de segurança,<br />
176
ARTIGO TÉCNICO<br />
do Regulamentode Segurança Contra Incêndio em Edifícios.<br />
.<br />
f) Alimentaçãode Energia Eléctrica<br />
O sistema de detecção automática de monóxido de carbono<br />
deve, em situação normal de funcionamento, ser alimentado<br />
pela rede eléctrica 230V/50 Hz.<br />
O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />
Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina que o sistema<br />
automático de detecção de monóxido de carbono deverá<br />
dispor de uma fonte local de energia, capaz de garantir o<br />
funcionamento do mesmo por um período não inferior a 60<br />
minutos em caso de falha de energia da rede.<br />
No caso particular do Monóxido de Carbono, quanto mais<br />
rápido for detectada a sua presença, menores serão os<br />
perigos e danos provocados por ele, podendo mesmo<br />
poupar-sevidas.<br />
No projecto e instalação de sistemas de segurança, em geral<br />
e, de detecção automática de Monóxido de Carbono, em<br />
particular, é fundamental o conhecimento profundo dos<br />
aspectos regulamentares que enquadram a área, assim como<br />
o conhecimento técnico e tecnológicos sobre os<br />
equipamentos disponíveis no mercado, de modo a garantir<br />
que os equipamentos especificados são os mais indicados,<br />
quer em termos características e qualidade, quer em termos<br />
económicos.<br />
g) Simbologia de Projecto<br />
A simbologia a utilizar no projecto de Sistemas de Detecção<br />
Automáticade Monóxido de Carbono é a seguinte:<br />
Central de Detecção de Monóxido<br />
de Carbono<br />
Sinalizador de Atmosfera Perigosa<br />
(CO)<br />
Detector de Monóxido de Carbono<br />
Cada vez mais, existem parques de estacionamento cobertos<br />
e os espaços para actividades de lazer e de compras são,<br />
também, dotados de parques de estacionamento cobertos,<br />
potenciando o perigo de concentrações de CO perigosos<br />
para as pessoas.<br />
A existência de equipamentos de detecção automática da<br />
presença de gases tóxicos confere às pessoas uma maior<br />
confiança nos espaços de utilização e, consequentemente,<br />
uma maior qualidade de vida.<br />
Devendo, em cada peça desenhada, constar da legenda os<br />
símbolos utilizadosnessa peça.<br />
6. Considerações Finais<br />
Este artigo visou abordar aspectos regulamentares, técnicos,<br />
tecnológicos e conceptuais, ao nível do projecto e da<br />
instalação de Sistemas Automáticos de Detecção de<br />
Monóxido de Carbono.<br />
Uma segura, fiável e rápida detecção de presença de gases<br />
tóxicos, que possam colocar em perigo a vida de pessoas e<br />
animais, é um componente crucial de um conceito geral de<br />
sistemasde segurança e protecção.<br />
A qualidade de vida e a protecção das pessoas constituem,<br />
cada vez mais, um processo concomitante das sociedades<br />
modernas, para isso contribuindo em geral os sistemas<br />
automáticos de segurança e, em particular, os sistemas<br />
automáticosde detecção de Monóxido de Carbono.<br />
Fontes de Informação Relevantes<br />
[1] Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro, regime<br />
jurídico da segurança contra incêndios em edifícios.<br />
[2] Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro, Regulamento<br />
Técnicode Segurança contra Incêndio em Edifícios.<br />
[3] www.dgge.pt<br />
[4] www.fichet.pt<br />
[5] Fire ProtectionHandbook, NFPA<br />
[6] www.nfpa.org<br />
177
DIVULGAÇÃO<br />
LABORATÓRIO DE SISTEMAS DE ENERGIA<br />
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA<br />
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />
O Laboratório de Sistemas de Energia (LSE) é uma instalação de apoio ao ensino e aos trabalhos de investigação e<br />
desenvolvimento no âmbito do curso de Engenharia Electrotécnica do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto<br />
Superior de Engenharia do Porto.<br />
Esta infra-estrutura é utilizada por uma equipa constituída por docentes, técnicos e alunos da área dos Sistemas Eléctricos de<br />
Energia, que dispõem de equipamento técnico e laboratorial que proporciona a simulação dos diversos efeitos eléctricos e<br />
electrónicos,o que constitui uma contribuição decisiva para a tão necessária preparação prática dos estudantes.<br />
O LSE é constituído por equipamento que incorpora inovação tecnológica e funcionalidades avançadas, incluindo analisadores<br />
de energia, kits de células de combustível e painéis fotovoltaicos, bancadas experimentais, simuladores de defeitos e outros<br />
equipamentosde monitorizaçãode energia em redes eléctricas.<br />
TRABALHOS REALIZADOS NO LABORATÓRIO DE SISTEMAS DE ENERGIA<br />
Doutora Teresa Alexandra Nogueira<br />
Directora Laboratório Sistemas Energia<br />
• Medição da resistênciade Terra<br />
• Simulação da Compensação do Factor de Potência num Sistema de<br />
Energia<br />
• Simulação no Simulink de um Sistema Trifásicocom Cargas RL e RC<br />
• Manobras de Ligação de Alternadores num SEE sem Interrupção de<br />
Serviço<br />
• Pilha de combustível<br />
• Utilização de Contactores no arranque Estrela-Triângulo e Inversão do<br />
seu sentido marcha<br />
• Simulação computacional da colocação em serviço de uma linha de<br />
transporteque alimenta uma carga indutiva<br />
• Observação das componentes harmónicas da onda de corrente<br />
• Verificaçãoexperimental e computacional do efeito Ferranti<br />
• Ensaio de uma linha de transporte: Curto-circuito simétrico trifásico e<br />
Curto-circuitoassimétrico:bifásico e monofásico<br />
• Simulação da geração de energia eléctrica em rede isolada<br />
• Simulação em MatLab-Simulink de Fenómenos Transitórios em<br />
CircuitosEléctricos<br />
|178
ARTIGO TÉCNICO<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
SISTEMAS DE CONTROLO DE ACESSO<br />
RESUMO<br />
A segurança, o conforto, a funcionalidade e a fiabilidade dos<br />
sistemas que integram as instalações são aspectos<br />
fundamentaisna qualidadede vida das pessoas.<br />
Os sistemas de controlo de acessos são, cada vez mais, um<br />
elemento facilitador da gestão dos espaços essenciais à<br />
dinâmica funcional das instalações e um meio imprescindível<br />
de controlo da actividadenas organizações.<br />
O presente artigo aborda a temática do controlo de acessos,<br />
no que se refere, essencialmente, aos aspectos técnicos e<br />
tecnológicosdos mesmos.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Os sistemas de controlo de acesso visam a permissão de<br />
acesso, em função de parâmetros pré-ajustados, tais como,<br />
locais de acessos, horários de acesso,....<br />
A sua base de funcionamento é a permissão de acesso<br />
apenas a utilizadoresautorizados.<br />
O sistema de controlo de acessos pode ser interligado a<br />
sistemas de gestão técnica centralizada, sistemas<br />
automáticos de detecção de intrusão e sistemas de vídeo<br />
vigilância, integrando e complementando o funcionamento<br />
destessistemas.<br />
3 PRINCIPAIS VANTAGENS<br />
As principais vantagens de um sistema de controlo de<br />
acessossão:<br />
- Segurança<br />
- Fiabilidade<br />
- Conforto<br />
- Flexibilidade<br />
- Integração<br />
4 CONSTITUIÇÃO GERAL DO SISTEMA<br />
A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de<br />
controlo de acessos:<br />
Gestão Técnica<br />
Centralizada<br />
Imagem adaptada de: www.boydelectronics.co.uk<br />
Software de<br />
Gestão<br />
2 FUNÇÕES PRINCIPAIS<br />
As funções principais de um sistema de controlo de acessos<br />
são:<br />
- Definiçãode áreas de acesso;<br />
- Definiçãode direitos de acesso por área;<br />
- Definiçãode horários de acesso;<br />
- Definiçãode percursos de acesso;<br />
- Seguimento e localização;<br />
- Registoautomático de entradas e saídas;<br />
- Alarme em caso de entrada forçada em zonas com<br />
acesso condicionado.<br />
Leitores<br />
Sensores<br />
Automáticos<br />
Botões<br />
Manuais<br />
Contactos<br />
Outros<br />
Inputs<br />
Alimentação<br />
da Rede<br />
Unidade de<br />
Controlo<br />
Trincos<br />
Eléctricos<br />
Sinalização<br />
Outros<br />
Outputs<br />
Alimentação<br />
de Socorro<br />
Figura 1 – Constituição geral de sistema de controlo de acessos<br />
179
ARTIGO TÉCNICO<br />
4.1 UNIDADE DE CONTROLO<br />
4.3 CONTACTOS<br />
A Unidade de Controlo é o “cérebro” do sistema. É neste<br />
equipamento que são ligados todos os periféricos (leitores,<br />
sensores, botões, trincos eléctricos,…) e a partir do qual<br />
sairá, ou não, uma ordem de abertura, dependendo das<br />
definições de acessos e da validade dos dados recebidos<br />
pelos elementos periféricos.<br />
São os elementos de informação do estado do sistema.<br />
Podem ser de dois tipos:<br />
- Magnéticos;<br />
- Mecânicos.<br />
4.4 BOTÕES MANUAIS<br />
Os sistemas de controlo de acessos dividem-se em dois<br />
grupos principais:<br />
- Sistemas em Rede;<br />
- Sistemas Stand Alone.<br />
4.2 LEITORES<br />
São utilizados normalmente como elementos de saída,<br />
quando não se justifique a utilização de leitores nos dois<br />
lados das portas.<br />
Estes botões quando pressionados, actuam um contacto que<br />
vai gerar o pedido de abertura à central de controlo de<br />
acessos.<br />
São o meio de interacção do utilizador com o sistema.<br />
Podem ser de diversos tipos:<br />
- Teclado;<br />
- Banda Magnética;<br />
- Proximidade;<br />
- Códigos de barras;<br />
- Ópticos;<br />
- Biométricos(leitura da íris, impressão digital)<br />
Podem ainda combinar duas ou mais das tecnologias acima<br />
referidas.<br />
4.5 CARTÕES<br />
São utilizados em alguns dos sistemas anteriormente<br />
referidos. Para esses sistemas, os cartões são as chaves do<br />
sistema.<br />
Imagem: www.engineeringnews.co.za<br />
Imagem adaptada de: www.siemens.com<br />
180
ARTIGO TÉCNICO<br />
4.6 TRINCOS ELÉCTRICOS<br />
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
São as fechaduras do sistema. Permitem, para utilizadores<br />
autorizados,a abertura das portas e o acesso aos espaços.<br />
Este artigo visou abordar aspectos técnicos, tecnológicos e<br />
conceptuais,dos sistemas de controlo de acessos.<br />
4.7 ALIMENTAÇÃO DO SISTEMA<br />
A alimentação de energia eléctrica do sistema em condições<br />
normais de funcionamento deverá ser realizada através da<br />
rede de energia eléctrica devendo para o efeito ser prevista<br />
uma alimentação vinda do Quadro Eléctricoda instalação.<br />
O sistema deverá ainda ter uma alimentação própria de<br />
socorro que garanta o seu funcionamento em caso de falha<br />
da alimentação normal da rede.<br />
Os sistemas de controlo de acesso são sistemas<br />
tecnologicamente maduros e que cada vez mais são uma<br />
realidade nas instalações, potenciando uma mais eficaz<br />
gestão dos espaços e dos utentes desses mesmos espaços,<br />
de uma forma segura, simples, fiável e económica.<br />
Em instalações com sistemas de controlo de acessos, a<br />
alteração das condições de acesso de um utilizador, é<br />
realizada de uma forma simples, rápida, cómoda e<br />
económica, contrariamenteàs instalaçõestradicionais.<br />
4.8 SOFTWARES DE GESTÃO<br />
Destinam-se, essencialmente, a controlar e gerir a totalidade<br />
do sistema de controlo de acessos a partir de um ou<br />
diversos postos.<br />
Através de interfaces gráficas, o utilizador, gere de uma<br />
forma simples e intuitiva a totalidade do(s) sistema(s).<br />
Para além da gestão e supervisão de funcionamento dos<br />
sistemas que recebe, permitem a geração de relatórios com<br />
os eventos recebidos pelo sistema, tornando-se numa<br />
ferramenta muito útil para gestores e responsáveis de<br />
empresas e entidades.<br />
4.9 GESTÃO TÉCNICA CENTRALIZADA<br />
A Gestão Centralizada consiste na integração dos diversos<br />
sistemas existentes numa instalação para que o seu<br />
comando, controlo e operação possam ser realizados de uma<br />
forma centralizadanum sistema de gestão.<br />
A gestão centralizada normalmente só é utilizada em<br />
instalações grandes e complexas, de forma a facilitar o<br />
comando, controlo e operação dos diversos sistemas.<br />
Imagem adaptada de: www.siemens.com (Jin Mao Tower )<br />
181
CURIOSIDADE<br />
Imagem adaptada de: www.siemens.com (Jin Mao Tower )<br />
182
ARTIGO TÉCNICO<br />
António Augusto Araújo Gomes; Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
SEGURANÇA CONTRA INTRUSÃO<br />
HABITAÇÃO<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O crescente aumento da criminalidade, com especial<br />
incidência nos crimes contra a propriedade, levou a um forte<br />
incremento na procura e instalação de Sistemas Automáticos<br />
de Detecção de Intrusão (SADI).<br />
A instalação de um SADI não pode ser analisada numa<br />
perspectiva exclusivamente monetária, ignorando-se uma<br />
série de outros aspectos, como por exemplo, o facto de,<br />
aquando de um assalto, além do roubo e/ou vandalismo de<br />
bens de elevado valor comercial, poder ocorrer também o<br />
roubo e/ou vandalismo de bens de baixo valor comercial,<br />
mas de elevado valor sentimental, além de que podem<br />
também ocorrer danos físicos e/ou psicológicos nos<br />
ocupantesdas instalações.<br />
A instalação de um SADI torna-se, assim, fundamental como<br />
elemento de garantia do bem-estar e da segurança das<br />
pessoas, velando pela sua salvaguarda e pela salvaguarda<br />
dos seus bens, fazendo hoje (quase), obrigatoriamente,<br />
parte dos sistemas aplicados no sector da habitação,<br />
serviços, comércio e indústria.<br />
A instalação de sistemas automáticos de detecção de<br />
intrusão tornou-se, deste modo, hoje em dia, uma<br />
necessidade e um facto generalizado, em todos os sectores<br />
de actividade, desde o comércio, serviços, industria até á<br />
habitação, motivado, por um lado, pela necessidade de<br />
proceder à protecção de pessoas e bens, mas também, pela<br />
confiabilidadee baixo preço destes sistemas.<br />
2 CONSTITUIÇÃO DE UM SISTEMA DE DETECÇÃO DE INTRUSÃO<br />
É um equipamento ou conjunto de equipamentos integrados<br />
entre si, com o intuito de vigiar determinado espaço e, que<br />
em caso de intrusão (tentativa de entrada concretizada ou<br />
não), accione meios sonoros (Sirene), luminosos (Flash) ou<br />
ainda electrónicos (Comunicadores Telefónicos, ligados ou<br />
não a Centrais de Recepção de Alarmes, etc), com vista à<br />
dissuasãodos actores do acto.<br />
Tipicamente, um SADI para uma moradia é constituído por<br />
uma central de intrusão por zonas, com um número de zonas<br />
de acordo com as dimensões e características<br />
arquitectónicas da instalação, um ou vários painéis de<br />
comando do sistema localizados nas entradas/saídas,<br />
detectores automáticos normalmente passivos de<br />
infravermelhos ou de dupla tecnologia, contactos de alarme<br />
e meios de sinalização, regra geral uma sirene óptico<br />
acústica auto alimentada de exterior e uma sirene acústica<br />
de interior, bem como, um sistema de transmissão do<br />
alarme, normalmente um comunicador telefónico.<br />
A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de<br />
detecçãoautomática de intrusão.<br />
Gestão Técnica<br />
Centralizada<br />
Detectores<br />
Automáticos<br />
Contactos<br />
Botões de<br />
Alrme<br />
Pedais de<br />
Alarme<br />
Unidade<br />
de<br />
Controlo<br />
Painel de<br />
Operação<br />
Sinalização<br />
Óptico/Acústica<br />
Sinalização à<br />
Distância<br />
Um sistema automático de detecção de intrusão é um<br />
sistema que automaticamente detecta e sinaliza uma<br />
tentativade intrusão.<br />
Outros<br />
Inputs<br />
Alimentação<br />
da Rede<br />
Outros Outputs<br />
Alimentação de<br />
Socorro<br />
Figura 1 – Constituição geral de sistema um SADI<br />
183
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.1 CENTRAL DE INTRUSÃO<br />
A Central de Intrusão (CI) é o cérebro de todo o sistema. É a<br />
este equipamento que são ligados todos os periféricos<br />
(Detectores, Painéis de Operação, Sirenes, …) e, a partir do<br />
qual poderá ser enviada uma ordem de acção, em função<br />
dos dados recebidos dos periféricos.<br />
zonas por meio de interfaces de endereçamento<br />
conseguindo-se, assim, soluções mais funcionais e mais<br />
fáceis de gerir. Embora este equipamento seja mais caro,<br />
quando comparado com o equipamento dos sistemas de<br />
zonas, a possibilidade de economia em cablagem e em mãode-obra,<br />
aquando da realização da instalação, contribui para<br />
uma atenuação do diferencial de custos.<br />
2.1.1 SELECÇÃO DO TIPO DE CENTRAL<br />
2.1.2 LOCALIZAÇÃO<br />
A selecção do tipo de Central de Intrusão é um aspecto<br />
fundamental para realizar uma eficaz protecção das<br />
instalações e deverá ser realizada de acordo com o tipo de<br />
instalaçãoque se está a projectar.<br />
Os principais elementos a ter em conta na escolha da central<br />
de intrusão, são: o número de zonas de base, a possibilidade<br />
de expansão do número de zonas, o número de painéis de<br />
operação necessários, a capacidade de registo em memória<br />
de eventos, a possibilidade de integração com sistemas de<br />
gestão centralizada, a fiabilidade e, obviamente, o preço<br />
bem como a estéticado equipamento.<br />
O tipo e a capacidade da CI deverão, assim, ser escolhidos<br />
em função dos parâmetros anteriormente mencionados,<br />
destacando-se de entre todos a dimensão da instalação a<br />
proteger e o número de zonas requeridas pelo sistema.<br />
Com efeito, para instalações de pequena/média dimensão,<br />
são normalmente utilizadas centrais por zonas, onde cada<br />
zona deverá corresponder a uma área protegida. Existem no<br />
mercado variadas gamas com 4, 6, 8, 10, 12 e 16 zonas,<br />
podendo mesmo chegar às centenas de zonas.<br />
Para instalações de média/grande dimensão, cujos sistemas<br />
requeridos são, normalmente, de maior dimensão e mais<br />
complexos, sendo necessárias um número bastante elevado<br />
de zonas e em que as distâncias dos locais a proteger à<br />
Central de Intrusão possam ser significativas, será vantajosa<br />
a utilização de sistemas endereçáveis. Estes sistemas<br />
contemplam a existência e um bus onde estarão ligadas as<br />
184<br />
A localização da CI dependerá essencialmente do facto de<br />
esta ter, ou não, painel de comando incorporado.<br />
Se a CI não tiver painel de controlo incorporado, que é o caso<br />
mais frequente, esta poderá e deverá ser instalada numa<br />
zona técnica, em local seguro e protegido, já que depois de<br />
realizada a sua cablagem e programação, todas as restantes<br />
operaçõesestarão disponíveis nos painéis de controlo.<br />
Se a CI tiver painel de comando incorporado, como é o caso<br />
de pequenos sistemas, esta deverá ficar localizada num lugar<br />
de fácil acesso que permita, além da sua cablagem e<br />
programação, um acesso fácil aos futuros utilizadores do<br />
sistema.<br />
2.1.3 SELECÇÃO DO TIPO D E ZONA<br />
Embora possam variar de fabricante para fabricante de<br />
equipamento, de uma forma geral, são consideradas as<br />
seguintesfuncionalidadesdas zonas de detecção:<br />
• Zona de Intrusão<br />
- Instantânea<br />
Quando o sistema se encontra “activado” esta zona tem<br />
um funcionamento instantâneo.<br />
- Entrada/saída<br />
- Seguimento de zonas de entrada/saída<br />
• Zona de Pânico<br />
• Zona de Ataque<br />
• Zona de Incêndio<br />
• Zona de Sabotagem<br />
• Zona Técnica (Gás, Inundação, Humidade,<br />
Temperatura,...)
ARTIGO TÉCNICO<br />
A programação da funcionalidade da zona deverá ser<br />
realizada de acordo com a finalidade da mesma.<br />
Dependendo do tipo de equipamento, esta poderá ser<br />
realizada através do painel de operação e/ou através de<br />
softwarevia computador.<br />
2.3 DETECTORES AUTOMÁTICOS<br />
Os Detectores automáticos são os “olhos” do sistema, são<br />
eles os elementos responsáveis pela detecção da tentativa<br />
de intrusão e respectiva comunicação à Central de Intrusão.<br />
2.2 PAINEL DE OPERAÇÃO<br />
Os Painéis de Operação são os equipamentos que permitem<br />
o acesso ao sistema, quer para programação, quer para<br />
utilização.<br />
O princípio de funcionamento dos detectores e a filosofia de<br />
detecção a utilizar, vai determinar a escolha correcta dos<br />
detectoresde intrusão.<br />
2.3.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO<br />
Em pequenos sistemas, os Painéis de Operação podem<br />
encontrar-se integrados na própria Central de Intrusão,<br />
reunindo-se desta forma a central e o painel de operação<br />
num só equipamento. No entanto, o mais vulgar é que a<br />
central e os painéis se encontrem separados, sendo estes<br />
interligadose instaladosem diversos locais da instalação.<br />
O acesso aos Painéis de Operação deve ser protegido por<br />
códigos de segurança, que inibam as entradas indevidas no<br />
sistema. Normalmente, existem códigos diferenciados para<br />
“Código Mestre”, que tem acesso a todas as funções, com<br />
excepção da programação do sistema, “Código Engenheiro”,<br />
com acesso à programação e testes do sistema e “Códigos de<br />
Utilizador” que usualmente tem acesso a armar e desarmar o<br />
sistema, leitura de incidências, alarme parcial e inibição de<br />
zonas.<br />
Os detectores automáticos agrupam-se em dois grandes<br />
grupos de acordo com o seu princípio de funcionamento:<br />
• Passivos, que funcionam como receptores e que através<br />
de um sensor, registam alterações na sua área de<br />
cobertura. São exemplo deste tipo de detectores, os<br />
detectores passivos de infravermelhos, detectores<br />
acústicosde quebra de vidros e os detectoressísmicos.<br />
• Activos, que funcionam como um transmissor e um<br />
receptor, sendo que o transmissor envia um sinal ao<br />
receptor, que o recebe e avalia, determinado nível de<br />
variação em relação a um valor padrão origina o envio de<br />
um sinal para a central. Transmissor e receptor, podem<br />
constituir elementos separados, ou estar incluídos numa<br />
mesma unidade. São exemplo deste tipo de detectores,<br />
as Barreiras de infravermelhos, os detectores ultrasónicose<br />
os detectores de micro-ondas.<br />
Existe também a possibilidade de, em situações particulares,<br />
permitir o aceso ao sistema através de chave, dispositivo<br />
codificadovia rádio ou via infravermelhos.<br />
2.3.2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO<br />
<br />
Detectores Passivos de Infravermelhos<br />
O número de Painéis de Controlo que poderão ser utilizados<br />
depende das característicasda CI que estiver a ser utilizada.<br />
Sendo Os Painéis de Controlo o interface utilizador/sistema,<br />
são uma parte importantíssima do sistema. Por isso, deverão<br />
estar localizados em locais com acesso fácil e rápido, dentro<br />
do(s) percurso(s) normais de entrada (entrada principal,<br />
garagem, etc. ), de forma a que o tempo necessário para<br />
activação e desactivação do alarme seja o mais curto<br />
possível.<br />
São os detectores automáticos, mais utilizados, pois<br />
permitem realizar a protecção de uma forma eficiente em<br />
praticamentetodas as situações.<br />
O seu princípio de funcionamento baseia-se no facto de<br />
todos os elementos (paredes, mobiliário, animais, corpo<br />
humano, etc.) irradiarem energia na zona do infravermelho,<br />
de acordo com a temperatura das suas superfícies.<br />
185
ARTIGO TÉCNICO<br />
Essa energia é recebida por um sensor piroeléctrico colocado<br />
no detector, através de zonas de vigilância, criando aquando<br />
do arme do sistema uma imagem da quantidade de<br />
infravermelho no espaço de vigilância.<br />
Quando alguém penetra na zona de vigilância do detector, a<br />
temperatura medida sofre alteração, gerando-se então o<br />
sinal de alarme.<br />
A geração do sinal de alarme, é feita pela temperatura<br />
medida e pela taxa de variação desta temperatura.<br />
Estes detectores, embora sendo os mais baratos, poderão,<br />
em certas situações particulares, não garantir o melhor<br />
funcionamento do sistema e provocar alarmes<br />
intempestivos, como é o caso da protecção de locais em que<br />
possam existir fontes de calor (lareiras, radiadores) ou<br />
janelas com a incidência directa do sol que poderão variar<br />
bruscamentede temperatura.<br />
A existência de falsos alarme é um factor decisivo para a<br />
perda de confiança e descrédito no sistema, pelo que deverá<br />
ser sempre minimizado, através da escolha certa do tipo de<br />
detector a utilizar, em função das suas condições particulares<br />
de implementação.<br />
Assim, em instalações onde se possam verificar qualquer<br />
uma das situações anteriormente descritas, recomenda-se a<br />
utilização de detectores de dupla tecnologia (Passivos de<br />
Infravermelhos e de Micro Ondas), que permitem minimizar<br />
a possibilidadede falsos alarmes.<br />
Detectores de Dupla Tecnologia (Passivos de<br />
Infravermelhos e de Micro-Ondas)<br />
O princípio de funcionamento do detector passivo de infravermelhos<br />
já foi referido anteriormente. Relativamente ao<br />
princípio de funcionamento de um ultra-sónico de<br />
movimento, baseia-se na existência de um transmissor que<br />
envia continuamente ondas sonoras a frequências não<br />
audíveis para a área de detecção.<br />
Um receptor dotado de um microfone, recebe e avalia a<br />
frequênciadetectada.<br />
Se algum elemento (pessoa, animal, objecto, etc.), penetrar<br />
na área de protecção do detector, devido ao Efeito Doppler,<br />
vai verificar-se um aumento de frequência do sinal emitido,<br />
se o intruso se aproximar do detector e uma diminuição,<br />
caso se esteja a afastar. O detector ao detectar a alteração<br />
da frequência do sinal, gera a informação de alarme.<br />
Detectores Acústicos de Quebra de Vidros<br />
Para situações particulares, nomeadamente para protecção<br />
periféricam, poderá ser utilizado outro tipo de detectores,<br />
sendo os mais usuais os detectores acústicos de quebra de<br />
vidros.<br />
O seu princípio de funcionamento baseia-se na existência de<br />
uma superfície em contacto com o vidro, por onde são<br />
transmitidas a um sensor piezoeléctrico, as vibrações desse<br />
mesmo vidro.<br />
Aquando de uma tentativa de intrusão, quando o vidro se<br />
parte, gera frequências entre os 0,1 MHz e 1 MHz. O sensor<br />
do detector avalia a amplitude, frequência e duração desse<br />
sinal, gerando o alarme, quando se ultrapassam certos<br />
valores, pré-definidos.<br />
A actuação de um detector de dupla tecnologia, assenta na<br />
combinação dos dois sinais de alarme, do detector passivos<br />
de Infravermelhos e do detector de micro-ondas, reduzindo<br />
assim o risco dos falsos alarmes anteriormentereferidos.<br />
Barreiras de Infra-vermelhos<br />
São constituídas por um transmissor e um receptor. O<br />
receptor emite para o receptor, um feixe de luz na zona do<br />
infravermelho, modulado, para protecção contra luz<br />
exterior.<br />
186
ARTIGO TÉCNICO<br />
O receptor mede a intensidade e frequência do feixe,<br />
podendo ainda medir também a sua fase.<br />
Ao haver interposição de um corpo entre o transmissor e o<br />
receptor, as características do feixe são alteradas ou o feixe é<br />
interrompido, o que gera sinalização de alarme.<br />
- Detectoresde pressão para vitrinas<br />
- Sistema de protecção de quadros<br />
- Detectoresquebra-vidros<br />
- Detectoresde vibrações<br />
- Detectoresde metais<br />
- Sistemas de raio X<br />
São normalmente utilizadas para a vigilância de corredores,<br />
passagens,paredes, janelas, portas, etc..<br />
Existem, também, versões para utilização no exterior, para a<br />
realização de uma protecção perimétrica, mas a sua<br />
utilização pode originar falsos alarmes, por exemplo, devido<br />
à presença de nevoeiro.<br />
Cabo Electrostático Subterrâneo<br />
É composto por um par de cabos enterrados, em cuja malha<br />
existem pontos favoráveis ao estabelecimento de um campo<br />
electromagnético (sinal de 40 MHz), que se estabelece ente<br />
os dois, um o transmissor e outro o receptor.<br />
A entrada de um intruso, provoca alteração no corpo<br />
electromagnético,que conduz á sinalização de alarme.<br />
É utilizado para protecção perimétrica, sendo imune aos<br />
fenómenos atmosféricos, como por exemplo o nevoeiro e o<br />
vento.<br />
Outros Detectores Automáticos<br />
Além dos detectores anteriormente descritos, ocupam um<br />
lugar privilegiado na detecção de intrusão, existe, no<br />
mercado uma vasta gama de detectores, nomeadamente,<br />
para detecção em condições muito especificas, para as quais<br />
os detectoresanteriormente descritos não são apropriados.<br />
Dentre esses detectoresdestacamos:<br />
- Barreirasde micro-ondas<br />
- Detectoresultra-sónicosde movimento<br />
- Detectoresmovimento por microondas<br />
- Detectoressísmicos<br />
De entre este conjunto de detectores, os normalmente, mais<br />
utilizados são os detectores passivos de infravermelhos e os<br />
detectores de dupla tecnologia (Passivos de Infravermelhos<br />
e de Micro Ondas), pois permitem realizar a protecção de<br />
uma forma eficienteem praticamentetodas as situações.<br />
Contudo, para situações particulares poderá ser utilizado<br />
outro tipo de detectores, sendo os mais usuais os detectores<br />
acústicos de quebra de vidros, detectores sísmicos ou<br />
detectoresde pressão.<br />
Os detectores passivos de infravermelhos, embora sendo<br />
mais baratos que os de dupla tecnologia, poderão, em certas<br />
situações particulares, não garantir o melhor funcionamento,<br />
como é o caso da protecção de locais em que possam existir<br />
fontes de calor (lareiras, radiadores) ou janelas com a<br />
incidência directa do sol que poderão variar bruscamente de<br />
temperatura. Estas condições poderão provocar alarmes<br />
intempestivos.<br />
A localização e instalação dos detectores automáticos serão<br />
outros dos aspectos a estudar cuidadosamente, na fase de<br />
projecto, pois a sua localização será um factor determinante<br />
no correcto funcionamento de todo o sistema.<br />
Conforme foi referido, há que analisar potenciais fontes de<br />
calor que poderão interferir no funcionamento do sensor,<br />
causando falsos alarmes. Também a presença de animais e<br />
as janelas ou vidraças são também aspectos a ter em conta.<br />
A especificação e instalação de um detector deverá atender<br />
aos requisitos mencionados na sua ficha técnica,<br />
nomeadamente, no que se refere à sua área de protecção,<br />
altura de instalaçãoe distância a outros objectos.<br />
187
ARTIGO TÉCNICO<br />
Normalmente os detectores são instalados a uma altura de<br />
2,20 metros e na interligação de duas paredes do volume a<br />
proteger.<br />
Relativamente à sua ligação, os detectores possuem a<br />
ligação da alimentação vinda da CI, três contactos de ligação<br />
do relé de alarme, “Comum”, “Normalmente Aberto” e<br />
“Normalmente Fechado” que irão mudar de estado em caso<br />
de intrusão e comunicar esse alarme à CI e ainda um<br />
contacto de tamper que se destina a impedir a sabotagem<br />
do detector, quando o sistema se encontra em<br />
funcionamento “modo dia” e por conseguinte com a<br />
informaçãode alarme inibida na CI.<br />
Assim, os Contactos Magnéticos e Contactos de Pressão,<br />
além de elementos de detecção poderão, também, ter a<br />
função acessória de detecção, como complemento à<br />
detecção realizada pelos detectores automáticos. No caso de<br />
entradas/saídas deverão, assim, ser utilizados os contactos<br />
de alarme nas portas para definição da temporização da<br />
zona de entrada/saída de forma a que os detectores<br />
automáticos dessa zona só tenham uma temporização de<br />
actuação se antes for actuado o contacto da porta. Este<br />
procedimento visa garantir que se a zona de entrada/saída<br />
não for a definida previamente (por exemplo se uma janela<br />
for arrombada) o sistema instantaneamente dê o alarme,<br />
minimizando os efeitos da tentativa de intrusão ou da<br />
intrusão.<br />
2.4 CONTACTOS DE ALARME<br />
São, normalmente, utilizados para realizar uma protecção<br />
localizada em portas, janelas ou objectos, como<br />
complemento à protecção volumétrica de interior, realizada<br />
pelos detectores automáticosde intrusão.<br />
São baratos e não provocam falsos alarmes.<br />
2.4.1 CONTACTOS MAGNÉTICOS<br />
2.5 BOTÕES MANUAIS E PEDAIS DE ALARME<br />
Os Botões e Pedais de Alarme são elementos<br />
complementarres de protecção, de actuação manual, de<br />
complemento à detecção realizada pelos outros elementos<br />
de detecção, cuja actuação será realizada pelos próprios<br />
utilizadores do sistema em caso de necessidade, por pânico<br />
ou emergência, mesmo quando o sistema se encontra<br />
desarmado.<br />
São constituídos por um magnete permanente e por um<br />
interruptor. Quando o magnete está posicionado junto ao<br />
interruptor, este está fechado, não havendo alarme, se o<br />
magnete se afastar, o interruptor abre, gerando alarme.<br />
2.4.2 CONTACTOS DE VIGILÂNCIA<br />
São constituídos por um micro-interruptor, que quando<br />
pressionado, mantém o circuito fechado, não existindo<br />
alarme. Se deixar de existir esta pressão, ele abre, gerando o<br />
alarme.<br />
Os contactos de alarme são normalmente utilizados para<br />
realizar uma protecção localizada em portas, janelas ou<br />
objectos e definir temporizações para actuação dos<br />
detectoreslocalizadosnos percursos de entrada/saída.<br />
São dispositivos que quando pressionados, actuam um<br />
contactoque vai gerar o alarme.<br />
São elementos acessórios de protecção, de actuação manual,<br />
de complemento à detecção realizada pelos outros<br />
elementos de detecção, cuja actuação será realizada pelos<br />
próprios utilizadoresdo sistema em caso de necessidade.<br />
2.6 OUTROS INPUTS<br />
Além dos detectores automáticos, contactos de alarme e<br />
botões e pedais de alarme o sistema pode receber outros<br />
tipos de informações, caso o utilizador entenda poderem<br />
servir de complemento aos elementos descritos.<br />
188
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.6 SINALIZADORES DE ALARME<br />
Existem, basicamente, dois tipos de sinalizadores de alarme:<br />
os sinalizadores óptico-acústicos auto-alimentados de<br />
exterior e os sinalizadoresacústicos de interior.<br />
Existem em diversas formas, tamanhos e cores e a sua<br />
finalidade é, em caso de alarme, emitirem sinais sonoros<br />
e/ou luminosos, sinalizando assim uma situação<br />
potencialmenteanormal.<br />
Os sinalizadores de alarme óptico-acústicos autoalimentados<br />
de exterior têm como função dar um alarme no<br />
exterior das instalações para que alguém possa tomar<br />
conhecimento do alarme e agir em conformidade com essa<br />
mesma situação. Deverão ser instalados em locais bem<br />
visíveis e de difícil acesso. Na maioria das instalações é<br />
suficientea instalação de um destes dispositivos.<br />
Para sinalização do alarme no interior da instalação deverá<br />
ser prevista a colocação de sirenes interiores, devidamente<br />
distribuídas, para que o alarme seja audível em todos os<br />
locais da instalação.<br />
- Se pretender alertar os proprietários quando estes se<br />
encontrem ausentes<br />
- Se pretenda a realização de um contrato de vigilância<br />
com uma empresa de segurança<br />
- Se pretenda a comunicação da intrusão ou da tentativa<br />
de intrusão às forças policiais.<br />
Assim, esta sinalização poderá ser realizada recorrendo a<br />
meios de transmissão do alarme, dos quais destacamos:<br />
• Comunicador telefónico<br />
É o meio mais generalizado e económico de transmissão do<br />
alarme à distância. Em caso de alarme a Central de Intrusão<br />
envia um sinal ao comunicador telefónico que<br />
posteriormente efectua uma ou várias chamadas telefónicas<br />
para números pré-definidos para transmissão da informação<br />
de alarme. Desta forma, se existir um alarme, o cliente será<br />
alertado pelo próprio sistema, podendo assim tomar a<br />
atitude que considerar mais adequada (telefonar à polícia,<br />
alertar o vizinho, etc.).<br />
• Sistema Transmissor/Receptor<br />
A instalação de um alarme sonoro, pressupõe a Declaração<br />
de Instalação de Alarme Sonoro, nos termos do DL 297/99,<br />
de 04 de Agosto, que refere que após a instalação do sistema<br />
de alarme sonoro, e antes da sua colocação em<br />
funcionamento, o proprietário ou o utilizador deverá<br />
proceder à entrega da Declaração de Instalação de Alarme<br />
Sonoro, devendo para isso dirigir-se ao Governo Civil do<br />
Distrito onde foi instalado o alarme e entregar a respectiva<br />
declaração.<br />
2.7 SINALIZAÇÃO DE ALARME À DISTÂNCIA<br />
Tão importante como o alarme local poderá ser a<br />
transmissãoà distânciadesse alarme.<br />
A sinalização do alarme à distância dever-se-á utilizar nas<br />
seguintessituações:<br />
- A instalação se encontrar isolada<br />
É um sistema para aviso à distância de qualquer situação de<br />
alarme ou avaria, via par telefónico privativo. Embora exija<br />
uma linha telefónica dedicada, pode em algumas<br />
circunstâncias, ser mais fiável do que o comunicador<br />
telefónico, pois não há forma de interromper o sinal sem<br />
que tal seja detectado.<br />
É constituído por um órgão emissor de sinal instalado junto<br />
da Central de Intrusão e por uma unidade receptora<br />
instaladana entidade receptora de alarmes.<br />
O órgão receptor é alimentado pelo órgão emissor via par<br />
telefónico privativo, o qual tem energia de socorro garantida<br />
pela Central de Intrusão. Incorpora, ainda, uma bateria<br />
alcalina para que, em caso de corte de linha telefónica,<br />
sinalize óptica e acusticamente a situação. Dispõe, também,<br />
de um botão de impulso para paragem do acústico.<br />
189
ARTIGO TÉCNICO<br />
De acordo com o tipo de comunicador utilizado as<br />
necessidadesao nível do projecto serão:<br />
- Utilizaçãoda rede fixa<br />
Prever a existência de um comunicador e uma linha<br />
telefónica<br />
- Utilizaçãoda rede móvel<br />
Prever a existência de um comunicador de GSM<br />
- Utilizaçãode um sistema emissor/receptor<br />
Prever a existência de uma linha dedicada e um sistema<br />
emissor/receptor<br />
Além dos meios de sinalização de alarme descritos, podemos<br />
ter outros tipos meios, ou o desencadear de outro tipo de<br />
acções, caso a instalaçãoassim o exija.<br />
2.8 ALIMENTAÇÃO<br />
A alimentação de energia eléctrica do sistema em condições<br />
normais de funcionamento deverá ser realizada através da<br />
rede de energia eléctrica devendo para o efeito ser prevista<br />
uma alimentação vinda do Quadro Eléctricoda instalação.<br />
Estes sistemas de transmissão de alarme à distância são<br />
normalmente colocados junto da central de detecção de<br />
intrusão, em zona técnica prevista para esse efeito.<br />
O sistema deverá ainda ter uma alimentação própria de<br />
emergência que garanta o seu funcionamento em caso de<br />
falha da alimentação normal da rede.<br />
Figura 2 – Equipamento diverso de um sistema de detecção automática de intrusão<br />
190
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.9 CABLAGEM<br />
O tipo e número de condutores a utilizar para a interligação<br />
dos diversos equipamentos anteriormente apresentados,<br />
dependerá do tipo de equipamento que estiver a ser<br />
utilizado e, por conseguinte, deverá ser verificado nos<br />
manuais de instalação dos equipamentos disponibilizados<br />
pelos fabricantesdos mesmos.<br />
No entanto, é usual a utilizaçãodos seguintes condutores:<br />
- Painéis de Comando<br />
Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com<br />
condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm2. Como exemplos<br />
teremos os cabos TVHV 6x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 3x2x0,8<br />
mm2.<br />
- Rede de distribuição de detectores automáticos<br />
Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes condutores de<br />
secções de 0,5 ou 0,8 mm 2 . Como exemplos teremos os<br />
cabos TVHV 3x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 2x2x0,8 mm 2 .<br />
dos cabos possuam cerca de 20 cm excedentes, para<br />
realizaçãodas respectivas ligações.<br />
Igualmente, deverão ser previstas pontas com o<br />
comprimento suficiente para a realização das cablagens no<br />
interior da CI, considerando que a sua base se deve situar a<br />
1,40 metros do solo.<br />
Não são permitidas emendas entre condutores nos<br />
percursos entre equipamentos e entre estes e a CI, devendo<br />
as interligações entre aqueles equipamentos ser realizadas<br />
unicamente a partir dos terminais existentes nas respectivas<br />
bases para esse efeito, não devendo se usadas caixas de<br />
derivação, mas apenas caixas de passagem, quando<br />
necessárias.<br />
Deverá ser prevista uma alimentação de energia eléctrica<br />
monofásica, para a CI, realizada, normalmente, em condutor<br />
H07V-U3G1,5mm 2 .<br />
3 INTEGRAÇÃO DE VALÊNCIAS NO SISTEMA AUTOMÁTICO DE<br />
DETECÇÃO DE INTRUSÃO<br />
- Sirene auto-alimentada de exterior<br />
Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com<br />
condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm 2 . Como exemplos<br />
teremos os cabos TVHV 6x2x0,5 mm 2 ou JY(st)Y 3x2x0,8<br />
mm 2 .<br />
- Sirene acústica de interior<br />
Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com<br />
condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm 2 . Como exemplos<br />
teremos os cabos TVHV 3x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 2x2x0,8<br />
mm 2 .<br />
Estes circuitos deverão ser, normalmente, enfiados em tubo<br />
VD, embebidos em paredes, tectos e pavimento, à vista em<br />
abraçadeiras em zonas técnicas, à vista em abraçadeiras<br />
sobre tectos falsos, se acessíveis, ou em calha técnica, de<br />
acordo com as característicasda instalação em causa.<br />
Nos locais de montagem dos detectores, sirenes de alarme e<br />
painéis de comando, deverá prever-se que as extremidades<br />
Cada vez mais os edifícios são centros integrados de<br />
tecnologia e sistemas, que visam dar resposta aos requisitos<br />
de segurança, de funcionalidade, fiabilidade, flexibilidade,<br />
eficiência energética, conforto e de integração, requiridos na<br />
sua utilização, mas nos quais a redução dos custos de<br />
execução e exploração são cada vez mais determinantes no<br />
sucessodos mesmos.<br />
As moradias não fogem à regra desta evolução, tendo, cada<br />
vez mais, uma participação activa na vida das pessoas, sendo<br />
cada vez maiores as exigências nos domínios referidos.<br />
Neste sentido, no que se refere à segurança, a protecção de<br />
pessoas e bens numa moradia não se deve, nem pode,<br />
circunscrever somente à protecção contra tentativas de<br />
intrusão, mas também outras áreas importantes como a<br />
detecção de incêndio, inundação, gases combustíveis e<br />
monóxido de carbono.<br />
191
ARTIGO TÉCNICO<br />
A crescente utilização do gás como fonte de energia, quer<br />
para fogões, quer para aquecimento de água e aquecimento<br />
ambiente, implica também o crescente perigo da existência<br />
de fugas as quais poderão trazer graves consequências quer<br />
para os utilizadores quer para as próprias moradias, pois<br />
uma fuga de gás pode conduzir a uma intoxicação ou a uma<br />
explosão.<br />
Um outro perigo, que nem sempre é encarado<br />
conscientemente como um perigo real e presente, é o risco<br />
de incêndio, motivado pela enorme quantidade de<br />
substâncias combustíveis que se encontram dentro das<br />
habitações bem como ao crescente número de<br />
equipamentoseléctricosque equipam as mesmas.<br />
Essa ou essas zonas da central d eintrusão, deverão ser<br />
programadas como zonas de fogo. Desta forma, conseguirse-á<br />
detectar e sinalizar um incêndio na sua fase inicial<br />
facilitando, assim, o combate e extinção do mesmo,<br />
minimizando os riscos do mesmo.<br />
A detecção automática de presença de gás poderá ser<br />
realizada através da colocação de um ou vários detectores<br />
de gás que, encontrando-se interligados a uma ou várias<br />
zonas da central de intrusão, informam esta da ocorrência de<br />
uma fuga de gás, a qual realizará a sinalização do alarme.<br />
Adicionalmente, à sinalização do alarme, poderão ser<br />
desencadeadas acções de comando, nomeadamente o fecho<br />
de uma electroválvula de corte de gás.<br />
A possibilidade de ocorrência de inundações devido ao<br />
rebentamento de canos de água ou ao mau funcionamento<br />
de equipamentos como máquinas de lavar, máquinas de<br />
secar ou ainda pelo esquecimento de uma simples torneira<br />
aberta, constitui também uma situação de risco.<br />
Este tipo de situações de risco está sempre presente no<br />
nosso dia-a-dia e, não havendo possibilidade de as excluir,<br />
podemos com a adopção de sistemas adequados criar<br />
condições para que, caso se verifiquem, sejam detectadas e<br />
sinalizadas o mais cedo possível de forma a que os danos<br />
materiais e pessoais que possam vir a causar sejam<br />
minimizados.<br />
A detecção automática de inundação poderá ser realizada<br />
através da colocação de detectores de inundação nos locais<br />
com maior risco de fugas de água, como casas de banho e<br />
cozinhas. A integração desta valência pode ser realizada<br />
através da utilização de módulos de interface, aos quais são<br />
ligados os detectores de inundação ou através de detectores<br />
de inundação, autonomos, com contacto “seco” de alarme. A<br />
informação de inundação é transmitida a uma ou várias<br />
zonas da central de detecção de intrusão, que sinalizará o<br />
evento. Em complemento com a sinalização da ocorrência<br />
poderão ser, também, desencadeadas acções de comando<br />
como por exemplo o fecho de uma electroválvula de corte<br />
da alimentação de água.<br />
Para que se consiga alcançar esse objectivo de forma simples<br />
e a baixo custo poder-se-á optar pela integração no sistema<br />
de detecção automática de intrusão das diferentes áreas de<br />
segurançaanteriormente referidas.<br />
A detecção automática de incêndios pode ser integrada<br />
neste sistema mediante a utilização de um ou vários<br />
detectores automáticos de fumos ou termovelocimétricos,<br />
do tipo colectivo, acoplados a uma interface de incêndio, ou<br />
através de detectores com contacto “seco” de alarme,<br />
ligados a uma ou várias zonas da central de intrusão.<br />
As zonas da central de intrusão previstas para a detecção de<br />
presença de gás e inundação deverão ser programadas como<br />
zonas “24 horas” de modo a garantir que a protecção se<br />
encontra activa 24 horas por dia, independentemente da<br />
protecçãode intrusão se encontrar activada ou desactivada.<br />
Deste modo consegue-se a integração no sistema de<br />
detecção automática de intrusão as valências de detecção de<br />
incêndio, gás combustível, monóxido de carbono e<br />
inundaçãode uma forma simples, fiável e económica.<br />
192
ARTIGO TÉCNICO<br />
4 CONCLUSÕES<br />
Este artigo visou abordar aspectos técnicos e conceptuais, ao<br />
nível do projecto e da instalação de Sistemas Automáticos de<br />
Detecçãode Intrusão.<br />
A consciencialização da necessidade de protecção de pessoas<br />
e bens, a par da evolução tecnológica dos equipamentos,<br />
proporcionam formas eficazes de detecção e sinalização<br />
precoce de tentativas de intrusão e, consequentemente, a<br />
protecçãodos bens materiais das populações.<br />
A escolha e implementação destes sistemas são, hoje em<br />
dia, um elemento dissuasor e inibidor da criminalidade<br />
contra pessoas e bens.<br />
Actualmente, existe uma panóplia de sistemas e<br />
equipamentos em que a sua correcta utilização e instalação<br />
requer, à priori, uma colaboração estreita com técnicos<br />
devidamente credenciados, nomeadamente Engenheiros<br />
Electrotécnicose empresas especializadasneste sector.<br />
A escolha do melhor sistema e equipamentos requer uma<br />
análise cuidada das pretensões do requerente, bem como<br />
das especificidadespróprias da instalação.<br />
Assim, cada projecto é tratado individualmente, sendo alvo<br />
de uma análise cuidada por parte dos técnicos<br />
especializados,podendo diferir dos demais projectos.<br />
Embora estes sistemas representem um pequeno custo<br />
adicional ao valor global da instalação deverá ser sempre<br />
equacionada a sua instalação uma vez que é relativamente<br />
diminuto quando comparado com os potenciais prejuízos<br />
decorrentesdos actos que o sistema pretende evitar.<br />
Salienta-se ainda que sempre que se vai projectar, construir<br />
ou remodelar uma moradia, além da consideração no<br />
sistema de detecção automática de intrusão, da função<br />
detecção de intrusão, é fundamental a integração de outras<br />
valências de segurança, como a detecção de incêndio, gases<br />
combustíveis,monóxido de carbono e inundação.<br />
Essa integração pode ser realizada de uma forma simples e<br />
económica, aumentando significativamente a protecção dos<br />
utilizadoresdas instalaçõese a salvaguarda dos seus bens.<br />
193
DIVULGAÇÃO<br />
LABORATÓRIO DE DE ENERGIAS RENOVÁVEIS<br />
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA<br />
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />
O Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) possui desde 2008 um laboratório de energias renováveis (LABNER)<br />
composto por um sistema híbrido de produção de energia em rede isolada. O sistema é constituído por um aerogerador de 900<br />
W e 4 painéis fotovoltaicos de 150 Wp cada, estando o sistema fotovoltaico equipado com um sistema capaz de fazer o<br />
seguimento solar de forma mono axial. Possui também todo o equipamento de regulação e controlo necessário ao<br />
funcionamentode cada um dos sistemas, criando assim uma micro rede a funcionar de forma isolada.<br />
Para além do sistema híbrido eólico/fotovoltaico, o laboratório de energias renováveis do ISEP possui uma bancada de fuel cels<br />
onde é possível fazer experiências com esta tecnologia.<br />
|194
ARTIGO TÉCNICO<br />
Energias Renováveis<br />
Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />
artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Energias Renováveis.<br />
A utilização das energias renováveis foi uma das maiores apostas dos últimos anos constituindo, por isso, um sector estratégico<br />
para a economia portuguesa.<br />
As formas alternativas de produção de energia eléctrica dominam a actualidade sendo, cada vez mais, temas de investigação e<br />
projecto no âmbito da Engenharia Electrotécnica. Neste âmbito, são apresentados um conjunto de artigos técnico-científicos<br />
sobre os sistemas de conversão de energia mais relevantes, nomeadamente energia eólica, fotovoltaicae hídrica.<br />
A legislação que regula este sector é também alvo de análise nos diversos artigos publicados.<br />
195
ARTIGO TÉCNICO<br />
Índice<br />
Centrais Fotovoltaicas para a Microprodução<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
197<br />
Dimensionamento de Centrais Fotovoltaicas para a Microprodução<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
204<br />
Tipos de Tecnologias de Turbinas utilizadas nas Centrais Mini-Hídricas<br />
Pedro Daniel S. Gomes , Pedro Gerardo M. Fernandes , Nelson Ferreira da Silva<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
209<br />
196
ARTIGO TÉCNICO<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
Centrais Fotovoltaicas<br />
para a Microprodução<br />
1. Enquadramento<br />
Portugal, produz apenas uma pequena parte da energia que<br />
consome, toda a restante energia consumida é importada.<br />
Portugal apresenta uma forte dependência energética do<br />
exterior, das maiores da UE.<br />
Não explorando quaisquer recursos energéticos fósseis no<br />
seu território desde 1995 (quando deixou de extrair carvão),<br />
a sua própria produção de energia assenta exclusivamente<br />
no aproveitamento dos recursos renováveis, como sendo a<br />
água, o vento, a biomassa e outros em menor escala.<br />
Esta situação tem consequências directas na nossa<br />
economia, uma vez que o custo dos combustíveis fósseis<br />
importados encarece a produção de bens e serviços em<br />
território nacional. Para além disso tem também implicações<br />
sociais, pois representa custos acrescidospara o consumidor<br />
e reflecte-se no ambiente, devido à produção crescente de<br />
Gasescom Efeito de Estufa (GEE).<br />
No ano de 2008 a potência instalada em Portugal era de<br />
14916 MW, sendo que 30,7% dessa potência é da<br />
responsabilidade das centrais hidroeléctricas, 39,01% da<br />
responsabilidade de centrais termoeléctricas e 30,29% é<br />
referente a produção em regime especial (P.R.E.). De entre<br />
os P.R.E. destacam-se os 2624 MW da responsabilidade de<br />
produtores eólicos e apenas 50 MW instalados em sistemas<br />
fotovoltaicos[1].<br />
No entanto Portugal, à excepção do Chipre, tem a melhor<br />
insolação anual de toda a Europa, com valores 70%<br />
superiores aos verificados na Alemanha. Esta diferença leva<br />
a que o custo da electricidade produzida em condições<br />
idênticas seja 40% menor em Portugal. Este aspecto é uma<br />
enorme vantagem que tem de ser capitalizada.<br />
Fig.1 Irradiação solar (kWh/m2)<br />
197
ARTIGO TÉCNICO<br />
2. Produção Descentralizada<br />
Em Portugal, a produção de energia eléctrica através de<br />
instalações de pequena escala, utilizando fontes renováveis<br />
de energia ou processos de conversão de elevada eficiência<br />
energética, pode contribuir para uma alteração do panorama<br />
energéticoportuguês, de forte dependência do exterior.<br />
Com a entrada em vigor do Decreto-Lei nº 363/2007 de 2 de<br />
Novembro, cujo objecto é o de estabelecer o regime jurídico<br />
aplicável à produção de electricidade por unidades de<br />
microprodução, a produção descentralizada, nomeadamente<br />
a produção através de centrais fotovoltaicas, atingiu uma<br />
grande dinâmica.<br />
Com a produção mais próxima dos locais de consumo<br />
energético consegue reduzir-se os custos de transporte e<br />
distribuição, permitindo a autonomia e redundância<br />
energética.<br />
Com a ligação destes equipamentos de produção às redes de<br />
baixa tensão, o paradigma do sistema energético muda.<br />
As redes de baixa tensão passam a assumir um protagonismo<br />
cada vez maior em termos da obtenção de uma maior<br />
eficiênciaeconómica e energética.<br />
A nível mundial também há a preocupação da produção<br />
descentralizada, salientando-se a Alemanha que foi um dos<br />
países pioneiros na utilização da energia fotovoltaica<br />
distribuída.<br />
Entre 1990 e 1995 promoveu um programa de instalação de<br />
painéis fotovoltaicos ligados à rede em 1.000 telhados, vindo<br />
a atingir a marca de 2.250 equipamentos, com potência<br />
média de 2,6 kWp por telhado, abrangendo mais de 40<br />
cidades. Este projecto foi um sucesso, o que deu origem a<br />
um novo programa. O “100.000 telhados solares” foi<br />
lançado, com o objectivo de alcançar 500 MW de geração de<br />
energia solar [2]. No final de 2008 a Alemanha tinha mais de<br />
5GW de potência instalada de origem fotovoltaica,<br />
apresentandotaxas de crescimento de 1,5 GW/ano.<br />
3. Componentes de uma Central Fotovoltaica<br />
Como o dimensionamento de centrais de microprodução<br />
fotovoltaicas é um assunto ainda novo mas em rápida<br />
evolução, nomeadamente em termos de necessidade de<br />
instalação, a formação de todos os agentes envolvidos no<br />
processoé ainda uma lacuna.<br />
É normal verem-se cometidos alguns erros de<br />
dimensionamento,instalaçãoe operação dos sistemas.<br />
Aspectos como a localização, a escolha do inversor, a escolha<br />
do tipo de painel fotovoltaico a instalar, o estudo da<br />
estrutura de suporte, a análise da potência à entrada (DC) e a<br />
injectar (AC) e a simulação do sistema antes da instalação<br />
são muitas vezes descurados pelos técnicos e projectistas,<br />
mas que assumem uma importância extrema para que o<br />
sistema escolhido funcione nas condições óptimas.<br />
Fig.2 Microprodução descentralizada<br />
198
ARTIGO TÉCNICO<br />
a) Localização<br />
O sistema fotovoltaico pode ser instalado em qualquer<br />
superfíciecom boa exposição solar.<br />
Para optimizar o rendimento do sistema fotovoltaico, este é<br />
adaptado às características arquitectónicas do edifício,<br />
podendo ser instalado em telhados inclinados ou planos,<br />
integrados nas fachadas ou em campo aberto. A orientação<br />
dos painéis também é um aspecto muito importante. Como<br />
Portugal está situado no hemisfério Norte a orientação ideal<br />
é voltada para sul.<br />
direcção do Sul e a projecção da linha do sol, próximo do<br />
intervalo compreendido entre 150° Este e 208° Oeste.<br />
O mesmo se passa se em vez de se analisar a radiação, se<br />
analisar a energia recebida. É facilmente perceptível pela<br />
figura 4 que o ponto de orientação em que a energia<br />
recebida é maior é com uma inclinação de 30° e orientada a<br />
Sul. No entanto é possível com uma inclinação e orientação<br />
diferentesobter a mesma energia.<br />
A localização da instalação é muito importante para se poder<br />
realizar um projecto mais coerente e real. Cada local tem<br />
uma incidência do sol distinta, alterando assim a produção<br />
de energia eléctrica.<br />
O estudo realizado na Alemanha, no Institut für Solare<br />
Energiesysteme (ISE), em Fraunhofer [3] consegue dar uma<br />
perfeita noção da variação da radiação solar com o ângulo de<br />
inclinação e a sua orientação (figura 3). De salientar que o<br />
referido instituto trabalha no estudo de sistemas<br />
fotovoltaicoshá mais de 20 anos.<br />
A radiação tem o seu ponto máximo de incidência quando<br />
orientado a Sul com uma inclinação de 30°, mas consegue-se<br />
ter praticamente a mesma radiação com variações de ângulo<br />
de inclinação entre aproximadamente os 17° e os 43°, bem<br />
como um ângulo azimutal, isto é, ângulo formado entre a<br />
Fig. 4- Variação da energia produzida.<br />
b) Inversor<br />
Nos sistemas conectados à rede, a corrente DC produzida<br />
pelos painéis fotovoltaicos não pode ser ligada directamente<br />
à rede eléctrica.<br />
Para tal existem equipamentos, denominados por<br />
inversores, que fazem a conversão de corrente contínua em<br />
corrente alternada, com características similares à da rede<br />
eléctrica, no que diz respeito à tensão, frequência, forma de<br />
onda, distorção harmónica, etc.<br />
Os inversores, como qualquer outro componente de um<br />
sistema fotovoltaico, devem dissipar o mínimo de potência,<br />
produzir uma tensão com uma taxa de distorção harmónica<br />
baixa e em sincronismo com a rede eléctrica, quando o<br />
sistema estiver conectadoà rede.<br />
Fig. 3 – Variação da Radiação solar kWh/m2<br />
199
ARTIGO TÉCNICO<br />
No caso de inversores conectados à rede eléctrica, estes<br />
podem ser classificados em dois tipos, os que são comutados<br />
pela própria rede, que utilizam o sinal da mesma para se<br />
sincronizarem e os auto-comutados, onde um circuito<br />
electrónico no inversor controla e sincroniza o sinal ao sinal<br />
da rede.<br />
Um dos critérios mais importantes na escolha do inversor é o<br />
seu rendimento. Sendo este o elemento que converte a<br />
energia continua vinda dos painéis fotovoltaicos em energia<br />
alternada, quanto maior for o seu rendimento menores<br />
serão as perdas da conversão.<br />
Algumas marcas desenvolveram inversores específicos para<br />
serem usados em Portugal, no entanto deverá ser escolhido<br />
um inversor com um rendimento superior a 95%, com<br />
invólucro resistente (aconselhável IP 65) e com um bom<br />
sistema de refrigeração.<br />
O site www.renovaveisnahora.pt disponibiliza uma lista de<br />
inversores que se encontram certificados em Portugal. O<br />
produtor pode instalar um outro inversor, mas a certificação<br />
da instalação ficará pendente até ser apresentado o<br />
certificadode conformidade do equipamento.<br />
Existem vários aspectos condicionantes da escolha dos<br />
inversores, mas no caso da microgeração um dos maiores<br />
factores que limitam a escolha dos inversores e o<br />
rendimento do sistema são as perdas por “mismatch”. A<br />
tensão DC máxima permitida à entrada do inversor, a<br />
corrente máxima, o número de seguidores MPP e o número<br />
máximo de “strings” permitidas pelo inversor, importante<br />
para limitar a influência das perdas por mismatch, são<br />
também dados que assumem elevada importância aquando<br />
da selecção do inversor a aplicar na instalação.<br />
Fig. 5- Inversor de rede<br />
c) Painel Fotovoltaico<br />
A escolha dos painéis fotovoltaicos a instalar deve atender a<br />
vários factores, o primeiro deles é o custo por Wp.<br />
Com a elevada concorrência que existe hoje em dia no<br />
mercado, uma análise atenta aos painéis disponíveis poderá<br />
trazer alguns ganhos nos custos de aquisição. No entanto,<br />
factores como o rendimento e o espaço disponível para a<br />
instalação, são também aspectos a ter em conta aquando da<br />
escolhados painéis fotovoltaicosa instalar.<br />
Outro aspecto importante na escolha dos painéis<br />
fotovoltaicos, são as perdas por efeito de “mismatch”. Estas<br />
perdas são causadas pela interligação entre as células solares<br />
ou entre os painéis que não possuem características iguais,<br />
ou estão sujeitas(os) a condições diferentes. Estas perdas são<br />
um sério problema nos painéis fotovoltaicos pois, a saída<br />
deste vai ser limitada pela célula ou células com as condições<br />
mais desfavoráveis.<br />
200<br />
Fig. 6 – Efeito do sombreamento nos sistemas fotovoltaicos.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Este fenómeno também acontece na interligação entre<br />
painéis, sendo a série de painéis limitada em corrente pelo<br />
painel que tem menor valor de corrente e em tensão pelo<br />
menor valor de tensão das “strings” ligadas em paralelo.<br />
Um outro aspecto importante, no caso de instalação em<br />
telhados é o peso do sistema. É preciso garantir que o peso<br />
da estrutura, painéis e inversor não causem colapso da<br />
estruturado edifício.<br />
Por exemplo quando um painel de uma “string” está coberto<br />
por sombras, o valor da corrente da série de painéis em que<br />
este está colocado vai ser limitado pela corrente deste, logo<br />
fica limitada a potência da série.<br />
Desta forma a potência superior produzida pelos painéis não<br />
atingidos pelo sombreamento tem de ser dissipada o que<br />
leva a que existam locais nos painéis em que a dissipação de<br />
potência provoca aquecimento que pode danificar<br />
irreversivelmenteum painel.<br />
Se a opção da central passar pela instalação de seguidores<br />
solares, para movimentação mono axial ou bi axial, a<br />
estrutura de suporte terá que ser dimensionada para<br />
permitir a instalação dos motores necessários à realização<br />
das deslocações. Embora haja estudos que garantam ganhos<br />
de produção na ordem dos 25% com a instalação de sistemas<br />
dotados de seguidores solares, questões como o aumento da<br />
manutençãodo sistema terão que ser ponderadas.<br />
A resistência aos ventos é também uma característica a ter<br />
em conta no dimensionamento da estrutura de suporte.<br />
Normalmente as estruturas são dimensionadas para suportar<br />
ventos até 150 Km/h e por isso nenhum dos apoios da<br />
estrutura de suporte deverá ter menos de 10 cm² de<br />
superfície.<br />
Fig. 7 – Sombreamento de painéis<br />
d) Estrutura de Suporte<br />
As estruturas de suporte são fundamentais para a instalação<br />
de uma central fotovoltaica, exigindo algum cuidado na<br />
escolha de entre as diversas variedades disponíveis no<br />
mercado.<br />
Uma análise cuidada ao local de instalação da central para<br />
aferir se o terreno é regular ou irregular, ou no caso de ser<br />
para instalação em telhado se ele é inclinado ou não, é<br />
essencial para o correcto dimensionamento da estrutura de<br />
suporte.<br />
Fig. 8- Exemplos de estruturas de suporte<br />
201
ARTIGO TÉCNICO<br />
e) Potência DC Vs Potência AC<br />
Os painéis fotovoltaicos são caracterizados pela sua potência<br />
nominal máxima.<br />
Com este software é possível simular o funcionamento da<br />
central e aferir qual o melhor posicionamento dos painéis<br />
por forma a minimizar o efeito do sombreamento e a<br />
maximizar a energia produzida.<br />
Essa potência, que obrigatoriamente deve constar na ficha<br />
técnica do produto, é obtida em condições STC (Standard<br />
Test Conditions), ou seja, com uma radiação de 1000 W/m 2 ,<br />
25° C e AM=1,5.<br />
Como essas condições quase nunca não se verificam em<br />
condições reais de instalação e como existem perdas nos<br />
equipamentos, é aceitável fazer-se um<br />
sobredimensionamento da potência instalada por forma a se<br />
ter disponível na saída a máxima potência permitida para a<br />
instalação.<br />
Em instalações reais é normal sobredimensionar-se o<br />
número de painéis a instalar, como forma de compensar este<br />
efeito.<br />
No entanto, é preciso ter algum cuidado com o<br />
sobredimensionamento por forma a não se ultrapassar a<br />
máxima potência permitida à entrada do inversor.<br />
f) Simulação<br />
A simulação do sistema dimensionado e a análise dos<br />
relatórios produzidos pelo simulador deverão assumir<br />
importância crucial pois, é possível inferir daí informações<br />
sobre a viabilidade técnica e económica do projecto.<br />
Existem inúmeros simuladores disponibilizados no mercado,<br />
uns em versão freeware, outros em que é necessária licença<br />
de instalaçãoe utilização.<br />
Um dos programas mais completos é o PVSyst [4].<br />
Desenvolvido pelo Institut of Environmental Sciences da<br />
Universidade de Genebra, este software permite o estudo,<br />
dimensionamento, simulação e análise de dados de<br />
projectosfotovoltaicos.<br />
Fig.9 – Exemplo de dados obtidos do simulador<br />
Informação sobre a energia prevista ser produzida e sobre as<br />
perdas do sistema, são também informações muito<br />
importantes de analisar porque são informações válidas para<br />
o cálculo dos indicadores de viabilidade económica do<br />
projectoem estudo.<br />
Um outro indicador importante dado pelo software é o<br />
Performance Ratio (PR) do sistema fotovoltaico. Este<br />
indicador dá informação sobre a relação de energia<br />
efectivamente produzida pelo sistema e a energia que seria<br />
produzida por um sistema “ideal”, a trabalhar nas condições<br />
STC. De salientar que sistemas com PR superiores a 70%<br />
podem já ser considerados eficientes.<br />
202
ARTIGO TÉCNICO<br />
Normalmente este tipo de softwares disponibiliza uma base<br />
de dados muito completa sobre as condições meteorológicas<br />
dos diversos locais do planeta e possui informação sobre as<br />
características dos componentes dos inúmeros fabricantes<br />
existentesno mercado.<br />
A qualidade e fiabilidade dos resultados obtidos pela<br />
simulação tornam esta ferramenta indispensável no<br />
dimensionamentodeste tipo de sistemas.<br />
comercializadores e instaladores deste tipo de sistemas de<br />
produção de energia.<br />
Neste artigo foram abordados os aspectos aos quais se deve<br />
dar atenção aquando do dimensionamento de centrais<br />
fotovoltaicas.<br />
Dada a necessidade de se projectar e instalar estes sistemas<br />
com a máxima rapidez, alguns dos assuntos aqui abordados<br />
são descurados na prática. No entanto, ficou provada a<br />
necessidade de um estudo cuidado de todos os<br />
componentes do sistema pois só assim se consegue obter o<br />
máximo proveito das instalações.<br />
5. REFERÊNCIAS<br />
Fig. 10 - Energia produzida/ perdas mensais<br />
4. CONCLUSÕES<br />
Dado o recente aumento de instalações de microprodução,<br />
nomeadamente de centrais fotovoltaicas, e a rápida<br />
evolução que se tem verificado nesta área obrigam a uma<br />
cada vez maior necessidade de formação dos projectistas,<br />
[1] REN, Dados Técnicos Electricidade, Valores provisórios<br />
2008<br />
[2] WAED, www.localpower.org<br />
[3] Burger, Bruno, “Auslegung und Dimensionierung von<br />
Wechselrichtern für netzgekoppelte PV-Anlagen”, ISE,<br />
www.ise.fraunhofer.de<br />
[4] PVsyst,www.pvsyst.com<br />
203
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
DIMENSIONAMENTO DE CENTRAIS FOTOVOLTAICAS<br />
PARA A MICROPRODUÇÃO<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Desde que foi publicado o Decreto-Lei nº 363/2007 de 2 de<br />
Novembro, que tem por objecto estabelecer o regime<br />
jurídico aplicável à produção de electricidade por intermédio<br />
de unidades de microprodução, este tipo de instalações de<br />
pequena potência tem aumentado muito em Portugal. Dos<br />
diversos tipos de energia renovável previstos no referido<br />
Decreto-Lei, tem sido a energia solar a que mais tem<br />
motivado os utilizadores a instalarem centrais de<br />
microprodução. A este facto não é com certeza alheia a tarifa<br />
aplicável à energia produzida através desta fonte de energia,<br />
à qual é aplicável 100% da tarifa de referência.<br />
A tabela 1 apresenta as instalações e as diversas potências<br />
de centrais de microprodução com origem em fontes<br />
renováveis registadas e instaladas desde a saída do Decreto-<br />
Lei.<br />
Considerando que os painéis fotovoltaicos, por si só, já<br />
possuem rendimentos bastante baixos, a optimização do<br />
rendimento das instalações é um factor que assume uma<br />
importância extrema. Para apoio dos projectistas, existem<br />
diversos softwares de simulação que dão uma ajuda<br />
importante sobre a viabilidade técnica e económica dos<br />
projectos. No entanto é necessário também ter<br />
conhecimento sobre dois factores importantes que<br />
influenciam o rendimento dos painéis fotovoltaicos,<br />
nomeadamentea temperatura e os sombreamentos.<br />
Nos módulos cristalinos o efeito da temperatura faz-se sentir<br />
com mais intensidade do que nos módulos de silício amorfo.<br />
A temperatura tem um efeito importante sobre a tensão do<br />
módulo, não se fazendo sentir muito sobre a corrente. Ao<br />
haver redução do valor da tensão continuando o valor da<br />
corrente quase inalterado, a potência do módulo diminui.<br />
Tabela 1 - Instalações de microprodução [Fonte: www.renovaveisnahora.pt]<br />
Dos valores apresentados na tabela anterior, mais de 90%<br />
são referentes a centrais fotovoltaicas, por esse motivo o<br />
elevado número de instalações justifica a importância do<br />
correctodimensionamento das mesmas.<br />
No número anterior da revista Neutro à Terra foi feita uma<br />
abordagem aos equipamentos que se devem usar no<br />
dimensionamento de uma central fotovoltaica, neste artigo<br />
será feito um exemplo prático de aplicação da metodologia<br />
de dimensionamento.<br />
Como se pode ver na figura 1, a tensão baixa muito com o<br />
aumento da temperatura. O factor de variação da tensão<br />
com a temperatura é uma das características que deve ser<br />
indicada na ficha de características dos painéis fotovoltaicos<br />
e que por isso não deve ser descurada.<br />
.<br />
2 FACTORES QUE INFLUENCIAM O RENDIMENTO DAS CENTRAIS<br />
Quando se pretende dimensionar uma central fotovoltaica é<br />
necessário ter em consideração diversos factores que podem<br />
influenciaro rendimento das instalações.<br />
204<br />
Figura 1 - Efeito da temperatura na curva I-V
ARTIGO TÉCNICO<br />
O aumento da temperatura pode ser responsável também<br />
pelo aparecimento de falhas e degradação dos módulos,<br />
devido à dilataçãodos materiais.<br />
Figura 4 - Módulo destruído<br />
Figura 2 - Termografia de . um módulo fotovoltaico<br />
Devido à constituição física dos módulos fotovoltaicos, o<br />
sombreamento é também um problema importante. Os<br />
módulos fotovoltaicos são constituídos por um certo número<br />
de células em série, normalmente 60 ou 72. Como cada<br />
célula gera um valor de corrente de cerca de 7 A e uma<br />
tensão de 0,5 V, ao serem colocadas em série produzem-se<br />
módulos com uma corrente igual à corrente de uma célula e<br />
um valor de tensão resultante da soma da tensão de cada<br />
célula. Quando uma célula está sombreada, a fonte de<br />
corrente extingue-se e comporta-se como uma resistência<br />
que é atravessada pela corrente produzida pelas outras<br />
células, ficando sujeita a uma tensão inversa e provocando<br />
aquecimento que eleva a temperatura para valores que<br />
nalguns casos destroem a célula.<br />
Fazendo uma simulação do efeito do sombreamento nas<br />
curvas I-V e P-V e determinando o ponto de máxima<br />
potência é possível ter uma ideia do efeito que<br />
sombreamento tem nos módulos. A figura 5 mostra as<br />
referidas curvas num painel sem sombras e a figura 6 mostra<br />
o desempenho do mesmo painel com cerca de 60% de área<br />
sombreada.<br />
Figura 5 - Curva IV e P-V num módulo sem sombra<br />
Figura 3 - Efeito da sombra nas células<br />
Este fenómeno também acontece na interligação entre<br />
painéis, sendo a serie de módulos limitada em corrente pelo<br />
módulo que tem menor valor de corrente e em tensão pelo<br />
menor valor de tensão das “strings” ligadas em paralelo.<br />
Se os terminais do módulo estiverem ligados, a potência<br />
produzida pelas células sem sombra é dissipada na célula<br />
sombreada criando “hot-spots” que podem levar à<br />
destruiçãodo módulo.<br />
Figura 6 - Curva IV e P-V num módulo sem sombreado<br />
205
ARTIGO TÉCNICO<br />
3 EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO<br />
Para se fazer um correcto dimensionamento de uma central<br />
de microprodução fotovoltaica com ligação à rede eléctrica,<br />
é necessário seguir uma série de etapas, enumeradas de<br />
seguida:<br />
1- Análise das condições de terreno e de instalação;<br />
2- Escolha do inversor;<br />
3- Escolha dos painéis;<br />
4- Determinar o número de módulos e a potência dos<br />
painéis;<br />
5- Determinar o número de módulos por fileira;<br />
6- Determinar o número mínimo de módulos por fileira;<br />
7- Definir o número de fileiras em paralelo;<br />
8- Apresentar a configuração do sistema;<br />
A potência da central será de 3,68 kWp.<br />
1- Análise das condições de terreno e de instalação<br />
A visita ao local de instalação é um factor preponderante<br />
para uma correcta instalação da central. Uma análise cuidada<br />
do local de instalação permite verificar se poderão existir<br />
sombreamentos aos painéis, permite definir a estrutura de<br />
suporte mais adequada e também a configuração da central,<br />
nomeadamente em termos de número de fileiras de painéis<br />
e a sua orientação. Aquando da simulação do sistema, alguns<br />
dados necessários introduzir no simulador, são obtidos pela<br />
visita ao local, por isso é imprescindível a correcta avaliação<br />
das condições de instalação.<br />
2- Escolha do inversor<br />
O inversor é o equipamento que converte a energia contínua<br />
produzida pelos painéis, em energia alternada com<br />
características similares à da rede eléctrica. É um<br />
equipamento que possui, geralmente, um rendimento<br />
elevado e que desempenha um papel fundamental em todo<br />
o sistema.<br />
Se o inversor não funcionar, a energia não é injectada na<br />
rede e por isso o sistema fica isolado e sem possibilidade de<br />
ser utilizado.<br />
Para instalaçõesligadas à rede, é necessária a instalaçãode<br />
um inversor de rede que esteja certificado.<br />
No site www.renovaveisnahora.pt está disponível uma lista<br />
com mais de 160 inversores certificados, por isso aconselhase<br />
a utilizaçãode um desses equipamentos.<br />
Para este exemplo vai ser usado o inversor da marca SMA,<br />
modelo SB 3800/V, com uma potência de saída AC de<br />
3680 W e um rendimento de 95,6%.<br />
3- Escolha dos painéis<br />
Existem inúmeros fabricantes de painéis fotovoltaicos<br />
disponíveis no mercado, o que levou a um considerável<br />
abaixamento do preço dos mesmos. No entanto o preço não<br />
deve ser o factor principal de escolha dos painéis pois,<br />
factores que têm a ver com a qualidade de fabricação, as<br />
garantias de potência e a certificação dos painéis por<br />
entidades reconhecidas são aspectos mais importantes que<br />
o preço por Wp.<br />
Neste caso serão usados painéis de silício monocristalino de<br />
220 Wp ou de 230 Wp, fabricados pela empresa Goosun, que<br />
estão certificados segundo as normas europeias e<br />
internacionais IEC/EN 61215 e cumprem os requisitos da<br />
classede protecção II.<br />
Estes módulos garantem uma potência nominal mínima de<br />
90% a 10 anos e 80% a 25 anos.<br />
Se os módulos estiverem colocados num local com as<br />
condições ideais é possível obter deles a sua máxima<br />
potência, no entanto como na realidade isso não se verifica e<br />
porque também existem perdas nos equipamentos,<br />
nomeadamente no inversor (4,4%) e nos próprios painéis<br />
que têm uma tolerância de ±3 %, é aconselhável instalar uma<br />
potência superior a 3680 kW. No entanto é preciso verificar<br />
qual a máxima potência DC suportada pelo inversor.<br />
Consultando as características do inversor escolhido, o valor<br />
indicado é de 4040 W.<br />
Figura 7 - Características do inversor SMA<br />
206
ARTIGO TÉCNICO<br />
Este é um valor a ter em atenção pois com valores de<br />
potênciade entrada superiores, o inversor desligar-se-á.<br />
4- Determinar o número de módulos e a potência dos<br />
painéis<br />
No ponto 2 indicou-se que se iriam utilizar painéis com<br />
220Wp ou 230Wp.<br />
Considerando a potência máxima DC do inversor (4040 W) e<br />
fazendo a divisão dessa potência pela potência dos painéis<br />
conclui-se:<br />
Tabela 2 - Cálculo do número de módulos<br />
O limite máximo da tensão de circuito aberto do módulo é<br />
atingidoquando a temperatura é muito baixa (- 10 ºC).<br />
Nessa situação se o inversor sair de serviço, a tensão de<br />
circuito aberto será demasiado elevada para se poder voltar<br />
a ligar o sistema sem que daí advenham danos para o<br />
inversor. Esta tensão deve ser menor do que a tensão DC<br />
máxima admissível do inversor. Limitando o número de<br />
módulos por fileira consegue-se obter um valor de tensão de<br />
circuito aberto calculado pela associação em serie dos<br />
diversos módulos, que não seja demasiado elevada.<br />
A fórmula seguinte permite calcular a tensão de circuito<br />
aberto para uma temperatura de -10 o C, a partir da tensão<br />
do circuito aberto do módulo obtida nas condições de<br />
referênciaSTC.<br />
(1)<br />
Como se pode verificar, o número de módulos de 230Wp é<br />
17 que é um número que não se pode distribuir<br />
equilibradamentepelas fileiras.<br />
Como o inversor não permite ligação de fileiras com número<br />
de painéis diferentes, ou seja com valor de tensão diferentes<br />
nas fileiras, é necessário reduzir para 16 o número de painéis<br />
de 230Wp, dado que 18 painéis de 230Wp levariam a uma<br />
potênciaDC de entrada superior a 4040W.<br />
Tabela 3 - Comparação entre o número de módulos<br />
Verificando as especificações técnicas dos módulos<br />
escolhidos para este projecto, verifica-se que a o coeficiente<br />
térmico dado pelo fabricante (ΔU) é -0,33%/ o C e que V ca(STC)<br />
vale 35,8 V. Aplicando a equação anterior obtém-se,<br />
(2)<br />
O número máximo de módulos por fileira (N Mm ) é então<br />
obtido através da relação entre a tensão máxima admitida<br />
pelo inversor (V Mi ) e a tensão máxima de circuito aberto (-<br />
10 o C), obtendo-se:<br />
(3)<br />
Como é possível concluir a instalação de 18 módulos de<br />
220 Wp cada é a melhor solução.<br />
5- Determinar o número de módulos por fileira<br />
O número de módulos fotovoltaicos a colocar em cada fileira<br />
é limitado pela tensão DC máxima admissível para a ligação<br />
de módulos em série e pela tensão máxima à entrada do<br />
inversor.<br />
O resultado obtido informa que deveremos colocar por<br />
fileira, no máximo 10 módulos fotovoltaicosem série.<br />
De relembrar que todos os valores necessários ao cálculo são<br />
obtidos através das especificações técnicas dadas pelos<br />
fabricantesdos equipamentos.<br />
6- Determinar o número mínimo de módulos por fileira<br />
No verão verificam-se elevados níveis de radiação e estimase<br />
que os módulos colocados nos telhados podem estar<br />
sujeitosa temperaturas que poderão atingir os 70 o C.<br />
207
ARTIGO TÉCNICO<br />
Nessas condições o sistema fotovoltaico terá uma tensão aos<br />
seus terminais inferior àquela que se verifica nas condições<br />
de referência STC. Se a tensão do sistema fotovoltaico descer<br />
para valores abaixo da tensão MPP mínima do inversor (V mi ),<br />
a eficiência global do sistema ficará condicionada, podendo<br />
provocar a saída de serviço do inversor. Para evitar este<br />
problema, deve-se calcular o número mínimo de módulos<br />
ligados em série numa fileira.<br />
Analisando as características do inversor verifica-se que V mi =<br />
200 V e a tensão na máxima potência dos painéis, dada pelo<br />
fabricantedos painéis, é Vmp = 28,1 V.<br />
A configuraçãodo sistema será:<br />
Tabela 4 - Configuração final do sistema<br />
O esquema da configuração do sistema é apresentado na<br />
figura seguinte.<br />
(4)<br />
Deste modo o número mínimo de módulos (N mm ) por fileira<br />
é calculado pela relação entre V mi e V mp(70ºC)<br />
(5)<br />
7- Definir o número de fileiras em paralelo<br />
O número de fileiras em paralelo está limitado pelo número<br />
de entradas do inversor. No caso do inversor escolhido o<br />
valor é 3. No entanto é necessário verificar se a corrente<br />
máxima do sistema fotovoltaico ultrapassa o limite máximo<br />
da corrente de entrada do inversor (20 A).<br />
O número máximo de fileiras (N Mf ) deverá ser calculado<br />
através da seguinte fórmula.<br />
(6)<br />
Figura 8 - Esquema de ligação<br />
Apesar de estruturalmente existirem 3 fileiras elas estão<br />
ligadas de forma a que apenas existam 2 fileiras em paralelo.<br />
A colocação das 3 fileiras deveu-se à falta de espaço no local<br />
de instalaçãopara colocar os 9 módulos seguidos.<br />
8- Apresentar a configuração do sistema<br />
Após o cálculo de todos os valores anteriormente<br />
apresentados é necessário fazer um resumo e apresentar a<br />
configuraçãofinal do sistema.<br />
- Número máximo de módulos por fileira: 10<br />
- Número mínimo de módulos por fileira: 8<br />
- Número de fileiras em paralelo: 2<br />
- Total de módulos: 18<br />
208<br />
4 CONCLUSÕES<br />
Neste artigo foi apresentado um exemplo de<br />
dimensionamento de uma central de microprodução<br />
fotovoltaica para ligação à rede eléctrica. Falta ainda definir<br />
todo o cálculo das cablagens DC e protecções que o sistema<br />
deverá possuir, mas que não fazia parte daquilo que era<br />
pretendido neste artigo. Podendo ser abordado esse tema<br />
numa próxima edição da Revista Neutro à Terra.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Pedro Daniel S. Gomes , Pedro Gerardo M. Fernandes , Nelson Ferreira da Silva<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
TIPOS DE TECNOLOGIAS DE TURBINAS<br />
UTILIZADAS NAS CENTRAIS MINI-HÍDRICAS<br />
RESUMO<br />
2 TURBINAS DE ACÇÃO OU IMPULSO<br />
De todos os elementos que constituem uma central minihídrica<br />
as turbinas e os geradores são os que mais dizem<br />
respeito à engenharia electrotécnica. Este artigo pretende<br />
apresentar os tipos de turbinas utilizadas nas centrais minihídricas.<br />
Estas podem ser classificadas por duas tecnologias<br />
distintas: turbinas de acção ou turbinas de reacção. As<br />
turbinas de acção podem ser do tipo Pelton ou Banki-<br />
Mitchell. As turbinas de reacção podem ser do tipo Francis,<br />
Kaplanou Hélice.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
De entre os elementos constituintes de uma central minihídrica,<br />
as turbinas são dos equipamentos que mais dizem<br />
respeitoà área da engenharia electrotécnica.<br />
A escolha da turbina é crucial para o bom rendimento da<br />
central e deverá ter sempre em conta três parâmetros: a<br />
queda, o caudal e a potência.<br />
As turbinas podem ser divididas em turbinas de acção (ou<br />
impulso) ou de reacção, consoante o seu princípio de<br />
operação. Estas são máquinas primárias que têm por missão<br />
converter a energia potencial gravítica e/ou cinética em<br />
energia mecânica e necessitam de uma grande manutenção<br />
periódica uma vez que sofrem um grande desgaste devido à<br />
acção da água.<br />
A turbina hidráulica corresponde a uma parcela muito<br />
significativa do custo de uma central mini-hídrica pelo que se<br />
torna essencial e se reveste de particular interesse estudar<br />
criteriosamente qual o tipo de tecnologia de turbina a<br />
implementar em cada solução [1].<br />
Como turbinas de acção para aproveitamentos<br />
hidroeléctricos de pequena escala, referem-se as turbinas<br />
Pelton e Banki-Mitchell, as quais se adequam a uma<br />
utilização caracterizada por quedas relativamente elevadas e<br />
baixos caudais [2]. Nestas, a roda é actuada pela água à<br />
pressão atmosférica.<br />
As turbinas de acção em comparação com as de reacção<br />
apresentam um maior número de vantagens: são mais<br />
tolerantes a areias e outras partículas existentes na água; a<br />
sua estrutura permite maior facilidade de fabrico e melhor<br />
acesso em caso de manutenção; são menos sujeitas ao<br />
fenómeno de cavitação (embora em aproveitamentos com<br />
grandes quedas torna-se difícil evitar tal fenómeno).<br />
Aquando a existência de um dispositivo regulador de fluxo<br />
ou variador do número de jactos, estas possuem um<br />
rendimento mais elevado e uniforme.<br />
A maior desvantagem das turbinas de acção é que são, na<br />
maioria dos casos, desadequadas para aproveitamentos de<br />
pequena queda [4].<br />
2.1 TURBINAS PELTON<br />
As turbinas Pelton são turbinas de acção porque utilizam a<br />
velocidade do fluxo da água para provocar o movimento de<br />
rotação.<br />
A sua constituição física consiste num rotor, em torno do<br />
qual estão fixadas as conchas, por uma tubagem forçada de<br />
adução contendo um ou mais injectores e por blindagens<br />
metálicas. O jacto de água que incide nas conchas é<br />
tangencial, motivo que leva a que estas turbinas se<br />
denominem tangenciais. Os injectores podem ser reguláveis.<br />
.<br />
209
ARTIGO TÉCNICO<br />
A figura 1 apresenta o esquema e uma fotografia de uma<br />
turbina Pelton no seu campo de trabalho.<br />
As vantagens deste tipo de turbinas são a facilidade com que<br />
se pode trocar peças, a facilidade de reduzir as<br />
sobrepressõesnas tubagens e a exigência de pouco caudal.<br />
A potência mecânica fornecida por estas turbinas é regulada<br />
pela actuação nas válvulas de agulha dos injectores [5].<br />
As turbinas Pelton podem ser de eixo vertical ou horizontal e<br />
são utilizadas em aproveitamentos hidroeléctricos<br />
caracterizados por pequenos caudais e elevadas quedas<br />
úteis. Nos pequenos aproveitamentos hidroeléctricos<br />
costuma-se utilizar turbinas de eixo horizontal, porque assim<br />
utiliza-seum gerador de eixo que tem um custo menor.<br />
São caracterizadas por terem um baixo número de rotações,<br />
tendo, no entanto, um rendimento até 93%.<br />
2.2 TURBINAS BANKI-MITCHELL<br />
Este tipo de turbina é usado principalmente na gama de<br />
baixas potências [3].<br />
O seu rendimento é inferior aos das turbinas de projecto<br />
convencional, mas mantém-se elevado ao longo de uma<br />
extensa gama de caudais. Esta característica torna-a<br />
adequadaà operação num espectro largo de caudais.<br />
Estas turbinas apenas apresentam veios horizontais e uma<br />
velocidade de rotação diminuta, sendo frequente a<br />
necessidade de utilização de multiplicadores de velocidade<br />
entre elas e os geradores.<br />
Em máquinas mais sofisticadas alcançam-se eficiências na<br />
ordem dos 85 % e nas máquinas mais simples na ordem dos<br />
60 a 75%. A sua eficiência pode ser mantida elevada em<br />
situações de caudal parcial, até cerca de 50% do caudal [6].<br />
Para tal é necessária ou a inclusão de um dispositivo<br />
repartidor de caudal, que determina que partes da turbina<br />
são usadas ou através da orientação de um direccionador de<br />
caudal, que poderá fazer uma gestão do caudal que será<br />
turbinado.<br />
É possível afirmar que esta máquina se torna bastante<br />
apelativa para aproveitamentos de pequena escala devido a<br />
dois motivos. Apresenta um design ajustado para uma vasta<br />
gama de quedas e potências, e são de fácil construção. Ao<br />
poderem ser implementadas recorrendo a técnicas simples<br />
de construção tornam-se uma solução interessante para<br />
países em desenvolvimento.<br />
O seu design simples torna-a barata e fácil de reparar,<br />
especialmente no caso de o rotor ser danificado devido ao<br />
elevado stress mecânico a que é sujeito.<br />
.<br />
Figura 1 – Turbina Pelton<br />
210
ARTIGO TÉCNICO<br />
As turbinas Banki-Mitchell possuem uma baixa eficiência<br />
quando comparadas com outras turbinas, e a elevada perda<br />
de queda útil, devido ao espaço entre o rotor e a água a<br />
jusante. Estes factores devem ser tidos em conta quando se<br />
lida com quedas baixas ou médias. No caso de altas quedas<br />
as turbinas podem também sofrer problemas de fiabilidade,<br />
devido ao ainda mais elevado stress mecânico a que são<br />
sujeitas.<br />
Representam uma alternativa interessante para quando se<br />
possui água suficiente, necessidades de potência bem<br />
definidas e fracos poderes de investimento, como no caso de<br />
programas de electrificaçãorural [6].<br />
A figura 2 apresenta o esquema de uma turbina Banki-<br />
Mitchell.<br />
3 TURBINAS DE REACÇÃO<br />
Neste tipo de turbinas, a água circula entre as pás, variando<br />
a velocidade e a pressão. Esta, por não ser constante, obriga<br />
a variação da secção transversal aproveitando-se, assim, a<br />
energia da água, uma parte na forma de energia cinética e o<br />
resto na forma de energia de pressão.<br />
Nas turbinas de reacção distinguem-sedois grandes grupos:<br />
Turbinas radiais, do tipo Francis, que são turbinas<br />
adequadas para operação com condições intermédias de<br />
queda e de caudal;<br />
Turbinas axiais, do tipo Kaplan e Hélice, que são indicadas<br />
para funcionamentosob queda baixa e caudais elevados.<br />
Em comparação com as turbinas de acção, as de reacção<br />
possuem alguns elementos comuns, como a câmara de<br />
entrada, o distribuidor, o rotor e o difusor. No entanto, o seu<br />
fabrico é mais sofisticado devido ao facto da alta qualidade<br />
nas lâminas. No entanto, a despesa extra é compensada pela<br />
elevada eficiência e pelas altas velocidades de rotação<br />
obtidas em aproveitamentos de pequenas quedas e com<br />
máquinas relativamente compactas.<br />
As turbinas de reacção possuem por norma uma velocidade<br />
específica elevada, advindo daí uma vantagem, visto que<br />
permitem o acoplamento directo ao gerador, tornando-se<br />
desnecessáriosos sistemas reguladores de velocidade.<br />
As turbinas de reacção estão no entanto sujeitas ao<br />
fenómeno de cavitação, contribuindo para o decréscimo da<br />
sua eficiência se não forem tomadas medidas resolução.<br />
Figura 2 – Turbina Banki-Mitchell<br />
211
ARTIGO TÉCNICO<br />
3.1 TURBINAS FRANCIS<br />
As turbinas Francis são turbinas de reacção porque o<br />
escoamento na zona da roda se processa a uma pressão<br />
inferior à pressão atmosférica.<br />
Esta turbina caracteriza-se por ter uma roda formada por<br />
uma coroa de aletas fixas, que constituem uma série de<br />
canais hidráulicos que recebem a água radialmente e a<br />
orientam para a saída do rotor numa direcção axial. Os<br />
outros componentes desta turbina são a câmara de entrada,<br />
o distribuidor, constituído por uma roda de aletas fixas ou<br />
móveis, que regulam o caudal, e o tubo de saída da água.<br />
Estas turbinas utilizam-se em quedas úteis superiores aos 20<br />
metros, e possuem uma grande adaptabilidade a diferentes<br />
quedas e caudais e, relativamente às Pelton, têm um<br />
rendimento máximo mais elevado, velocidades maiores e<br />
menores dimensões [5].<br />
A figura 3 apresenta o esquema de uma turbina Francis.<br />
3.2 TURBINAS KAPLAN E HÉLICE<br />
São turbinas de reacção, adaptadas às quedas fracas e<br />
caudaiselevados.<br />
Figura 3 - Turbina Francis<br />
As turbinas Kaplan são reguladas através da acção do<br />
distribuidor e com auxílio da variação do ângulo de ataque<br />
das pás do rotor o que lhes confere uma grande capacidade<br />
de regulação.<br />
As turbinas Kaplan e Hélice têm normalmente o eixo vertical,<br />
mas podem existir turbinas deste tipo com eixo horizontal,<br />
as quais se designam por turbinas Bolbo [5].<br />
A figura 4 apresenta o esquema de uma turbina Kaplan.<br />
São constituídas por uma câmara de entrada<br />
que pode ser aberta ou fechada, por um<br />
distribuidor e por uma roda com quatro ou<br />
cinco pás em forma de hélice.<br />
Quando estas pás são fixas diz-se que a<br />
turbina é do tipo Hélice.<br />
Se as pás são móveis o que permite variar o<br />
ângulo de ataque por meio de um<br />
mecanismo de orientação que é controlado<br />
pelo regulador da turbina, diz-se que a<br />
turbina é do tipo Kaplan.<br />
Figura 4 - Turbina Kaplan<br />
212
ARTIGO TÉCNICO<br />
4 SÍNTESE GRÁFICA DE APLICAÇÃO DE CADA TURBINA<br />
Na figura 5, apresenta-se um gráfico que resume o campo de<br />
aplicação de cada tipo de turbina e que relaciona a altura da<br />
queda com o caudal disponível.<br />
No que diz respeito a turbinas de acção estas podem ser do<br />
tipo Pelton ou Banki-Mitchell. As turbinas Pelton são<br />
utilizadas em aproveitamentos hidroeléctricos<br />
caracterizados por pequenos caudais e elevadas quedas<br />
úteis.<br />
As turbinas Banki-Mitchell<br />
aplicam-se numa gama de<br />
baixas potências. As turbinas de<br />
reacção podem ser do tipo<br />
Francis, Kaplan ou Hélice.<br />
As turbinas Francis têm<br />
aplicação nos aproveitamentos<br />
hidroeléctricos com condições<br />
intermédias de queda e caudal<br />
e o seu rendimento é maior<br />
quanto maior for a potência.<br />
As turbinas Kaplan e Hélice são<br />
turbinas aplicáveis em<br />
condições de queda baixa e<br />
caudal elevado.<br />
Figura 5 - Campo de aplicação de cada tipo de turbina<br />
Bibliografia<br />
5 CONCLUSÕES<br />
As turbinas são máquinas primárias que têm por missão<br />
converter a energia (potencial gravítica e/ou cinética)<br />
armazenada na água ou em qualquer outro fluído em<br />
energia mecânica.<br />
Necessitam de uma grande manutenção periódica uma vez<br />
que sofrem um grande desgaste devido à acção da água,<br />
deixando em alguns anos de funcionar de forma rentável.<br />
A escolha da turbina é crucial para o bom rendimento da<br />
central. Cada caso terá que ser estudado ao pormenor para<br />
não se cometer erros na escolha da turbina.<br />
As turbinas podem ser de acção ou reacção.<br />
[1] Rui M. G. Castro, “Energias Renováveis e Produção<br />
Descentralizada – Introdução à Energia Mini-Hídrica”, Instituto<br />
Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, Março 2008<br />
[2] Teixeira da Costa, David Santos e Rui Lança, “Turbo Máquinas<br />
Hidráulicas (Turbinas)”, Escola Superior de Tecnologia da<br />
Universidade do Algarve, Fev. 2001<br />
[3] Teresa Nogueira, “Estudo da Energia Mini-Hídrica – Produção<br />
Distribuída e Mercados de Energia”, Instituto Superior de<br />
Engenharia do Porto, 2010<br />
[4] Aníbal Traça de Almeida, “Hidroelectricidade –<br />
Desenvolvimento Sustentável”, Faculdade de Ciências e<br />
Tecnologia da Universidade de Coimbra<br />
[5] Paulo Moisés Almeida da Costa, “As Máquinas Primárias”, Escola<br />
Superior de Tecnologia de Viseu, 1999<br />
[6] João P. Rocha, “Metodologia de projecto de sistemas de<br />
produção de electricidade descentralizada baseados em Energia<br />
Hídrica”, FEUP, Julho de 2008<br />
213
214<br />
CURIOSIDADE
ARTIGO TÉCNICO<br />
Eficiência Energética<br />
Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />
artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da EficiênciaEnergética.<br />
A Eficiência Energética nos Edifícios, esta relacionada directamente com a Utilização Racional da Energia, visando,<br />
essencialmente, gastar menos energia para fornecer a mesma quantidade de valor energético. Em virtude da sua especificidade<br />
e abrangência, é-lhe dedicada aqui uma área exclusiva de conteúdos relativos ao desempenho energético dos edifícios e<br />
inerente legislação, bem como à optimizaçãoenergética de equipamentos.<br />
215
ARTIGO TÉCNICO<br />
Índice<br />
A Concepção e Projecto de Instalações Eléctricas e o Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade<br />
do Ar Interior em Edifícios<br />
Luís Filipe Caeiro Castanheira<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
217<br />
Utilização Racional de Energia Eléctrica em Instalações Industriais. O caso da Força Motriz.<br />
José António Beleza Carvalho<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
219<br />
Desempenho Energético dos Edifícios e a sua Regulamentação<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
223<br />
Ascensores. Optimização Energética<br />
José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
229<br />
Optimização Energética em Novos Ascensores<br />
José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco<br />
Schmitt - Elevadores<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
241<br />
Extinção das Tarifas Reguladas no Sector Eléctrico<br />
José Marílio Oliveira Cardoso<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
259<br />
216
ARTIGO TÉCNICO<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
Luís Filipe Caeiro Castanheira<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
A Concepção e Projecto de Instalações Eléctricas e o Sistema Nacional<br />
de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior em Edifícios<br />
O novo sistema nacional de certificação energética e da<br />
qualidade do ar interior em edifícios (SCE), que decorre da<br />
publicação dos DL, 78 a 80, de 4 de Abril de 2006, vêm impor<br />
um novo enquadramento regulamentar para a utilização de<br />
energia em edifícios no território nacional. Em particular<br />
para o caso dos grandes edifícios de serviços e para aqueles,<br />
de serviços ou residenciais, cujos sistemas de climatização ou<br />
de aquecimento de águas sanitárias (AQS) tenham uma<br />
potência superior a 25kw, o rsece-energia (DL 79/2006, de 4<br />
de Abril), impõe indicadores de consumo específico máximo<br />
a verificar, denominados de indicadores de eficiência<br />
energética(IEE).<br />
concepção e projecto de instalações eléctricas, para a<br />
relevância da sua actividade no contexto do SCE, pela sua<br />
influência no parâmetro Qout, na selecção e<br />
dimensionamento de equipamento não afecto à função de<br />
climatização.<br />
De facto, a partir de agora, as preocupações com as medidas<br />
de eficiência energética a este nível, podem determinar num<br />
primeiro nível uma classificação de eficiência energética<br />
diferente, ou até o eventual não cumprimento<br />
regulamentar, pelo que o técnico electrotécnico tem uma<br />
responsabilidadeacrescida neste contexto.<br />
O IEE, em função do processo em causa, pode ser calculado a<br />
partir dos consumos efectivos de energia de um edifício, ou<br />
através de ferramentas de simulação, sendo em ambos os<br />
casos calculado através da expressão 1:<br />
Expressão 1 – Indicador de Eficiência Energética<br />
Em que:<br />
IEE Indicadorde eficiência energética(kgep/m 2 .ano);<br />
IEE I Indicador de eficiência energética de aquecimento<br />
(kgep/m 2 .ano);<br />
IEE V Indicador de eficiência energética de arrefecimento<br />
(kgep/m 2 .ano);<br />
Q out<br />
Q<br />
IEE = IEEI<br />
+ IEEV<br />
+<br />
A<br />
Consumo de energia não ligado aos processos de<br />
aquecimentoe arrefecimento (kgep/ano);<br />
A p Área útil de pavimento (m 2 );<br />
Não sendo objecto deste artigo o detalhar das definições e<br />
mecanismos de cálculo que estão por trás de cada um dos<br />
parâmetros atrás referidos, o mesmo pretende sensibilizar<br />
os diversos agentes que intervêm nos processos de<br />
out<br />
p<br />
Uma análise de sensibilidade detalhada, em face de<br />
situações concretas, poderá auxiliar na determinação de<br />
quais os sectores/tecnologias electrotécnicos de maior<br />
impacto no IEE, mas certamente que entre estes de<br />
encontraráo sector da iluminação.<br />
Neste contexto, da análise da figura 1, retirada do anexo XV<br />
do Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização<br />
de Edifícios (RSECE), e que diz respeito aos padrões de<br />
referência para a utilização dos edifícios (que neste caso é o<br />
de um supermercado), a utilizar nas simulações para<br />
determinação do IEE, esta tem como único elemento da<br />
estrutura de consumos “em aberto”, precisamente o<br />
consumo com os sistema de iluminação, situação que<br />
acontece em todas as tipologias de edifícios previstas no<br />
regulamento.<br />
Desta forma, o papel do técnico electrotécnico pode fazer<br />
toda a diferença em termos de colocar um edifício em<br />
situação regulamentar, por via de uma acção de concepção e<br />
projecto que considere a utilização de tecnologia mais<br />
eficientes ao nível da iluminação. Sem a necessidade de<br />
intervenções mais dogmáticas e inflexíveis, como as decisões<br />
recentemente tomadas na Austrália e no Reino Unido, de se<br />
banirem a curto prazo as lâmpadas incandescentes, o novo<br />
217
ARTIGO TÉCNICO<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
enquadramento legislativo para a Eficiência Energética e a<br />
Qualidade do Ar Interior em Edifícios, comporta assim<br />
elementos que contribuem para um projecto mais racional e<br />
que tenha em linha de conta a sustentabilidadedas opções.<br />
Figura 1 - Padrões de referência de utilização dos edifícios - Supermercados<br />
218
ARTIGO TÉCNICO<br />
José António Beleza Carvalho<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
Utilização Racional de Energia Eléctrica em Instalações Industriais<br />
O caso da Força Motriz<br />
A produção de energia mecânica, através da utilização de<br />
motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia<br />
eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é<br />
energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é<br />
preciso tentar fazer economias, prioritariamente. O êxito<br />
neste domínio depende, em primeiro lugar, da melhor<br />
adequação da potência do motor à da máquina que ele<br />
acciona. Quando o regime de funcionamento é muito<br />
variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o<br />
motor com um conversor electrónico de variação de<br />
velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores “<br />
de perdas reduzidas” ou de “alto rendimento”, que<br />
permitem economias consideráveis.<br />
Os motores mais utilizados na indústria apresentam<br />
características de rendimento praticamente constantes<br />
acima da meia carga. Mas o seu cosϕ continua a crescer para<br />
além deste valor, como se pode ver na figura 1. Abaixo da<br />
meia carga os motores consomem demasiada energia. Perto<br />
da plena carga em regime permanente, o aquecimento<br />
limita a sua longevidade.<br />
Assim, os motores devem ser dimensionados de modo a<br />
funcionarem acima de 75% da sua carga nominal, obtendose<br />
as seguintes vantagens:<br />
- melhor rendimento;<br />
- factorde potência mais elevado;<br />
- menor investimento no motor e aparelhagem de<br />
comando e protecção.<br />
Figura 1: Variação do rendimento e do cosϕ com a carga<br />
(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.)<br />
Um método rápido para determinar o regime de carga de<br />
um motor assíncrono, consiste na comparação da velocidade<br />
de funcionamento (medida com um taquímetro) com a<br />
velocidade à plena carga (indicado na chapa de<br />
características),através da seguinte expressão:<br />
ns<br />
− nm<br />
Regime de Carga (%) = × 100<br />
n − n<br />
em que:<br />
n s : é a rotação síncrona do motor, e que depende do<br />
número de pólos da máquina<br />
n m : é a rotação medida no veio da máquina<br />
n n : é a rotação nominal da máquina<br />
s<br />
n<br />
219
ARTIGO TÉCNICO<br />
Na tabela seguinte apresenta-se os valores típicos das<br />
velocidades de sincronismo, para uma frequência da rede de<br />
50 Hz.<br />
Tabela 1 – Número de pólos e rotação síncrona para 50Hz<br />
Por exemplo, um motor assíncrono de 4 pólos com 110kW,<br />
apresenta uma velocidade de funcionamento de 1495 rpm,<br />
uma velocidade de sincronismo de 1500 rpm e de plena<br />
carga de 1480 rpm. Nesta situação, o seu regime de carga<br />
será:<br />
Número de Pólos 2 4 6 8 10 12<br />
Velocidade<br />
de sincronismo (rpm)<br />
A carga que está acoplada terá uma potência de:<br />
P=110 x 0,25 = 27,5 kW<br />
3000 1500 1000 750 600 500<br />
1500 −1495<br />
Regime de Carga (%) =<br />
× 100 = 25%<br />
1500 −1480<br />
Nestascondições, é preferível utilizar um motor de 30 kW.<br />
Para as situações de carga variável ao longo do dia, deve-se<br />
determinar um valor médio e dimensionar o motor em<br />
função do mesmo, de acordo com a figura seguinte.<br />
Figura 2: Diagrama do consumo de potência de um motor<br />
(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.)<br />
Para um grande número de actividades industriais, a<br />
utilização de motores de velocidade variável é indispensável<br />
ao processo de fabrico. É o caso, por exemplo, do<br />
accionamento dos laminadores, misturadores,<br />
centrifugadores, fornos rotativos, máquinas ferramentas ou<br />
na tracção eléctrica. O seu uso tornou-se clássico e as<br />
soluções evoluem a par e passo com os progressos técnicos.<br />
Existe, por outro lado, um domínio de aplicações novas onde<br />
a adopção da velocidade variável permite obter economias<br />
sensíveis de energia. Trata-se muito globalmente do<br />
accionamento das máquinas rotativas receptoras (bombas,<br />
ventiladores, sopradores e compressores). Estas máquinas<br />
requerem, com efeito, a maior parte das vezes, uma<br />
regulação do ponto de funcionamento em função dos<br />
parâmetros de exploração do processo. Nestes casos, os<br />
métodos clássicos de regulação de velocidade traduzem-se<br />
em aumentos significativos da potência consumida em<br />
relação à necessidade real. São, pois, soluções vorazes em<br />
energia. A adopção de variadores electrónicos para regular a<br />
velocidade das máquinas rotativas é, actualmente, a solução<br />
mais eficiente, apresentandoos seguintesbenefícios:<br />
- economia de energia<br />
- aumento da produtividade<br />
- melhoria da qualidade do produto<br />
- menor desgaste mecânico<br />
Assim, em aplicações onde sejam requeridas apenas duas ou<br />
três velocidades, é aconselhável a utilização de motores<br />
assíncronos de velocidades variáveis, disponíveis com<br />
diversos tipos de características de binário/velocidade, e por<br />
isso adaptáveis a diversos tipos de carga. Nestes sistemas, a<br />
aplicação de variadores electrónicos de velocidade, bem<br />
como de equipamentos mais eficientes do ponto de vista<br />
energético, permite elevar o rendimento global dos sistemas<br />
de 31% para 72%, com tempos de recuperação do<br />
investimento normalmente inferiores a três anos. Por outro<br />
lado, os variadores electrónicos de velocidade possuem<br />
diversos tipos de protecções para o motor, que deixam assim<br />
de ser adquiridas isoladamente e oferecem uma maior<br />
flexibilidade de colocação, podendo facilmente ser<br />
integradosem sistemas automáticos de gestão da produção.<br />
Actualmente, encontra-se já disponível no mercado os<br />
chamados motores de “perdas reduzidas”, ou de “alto<br />
rendimento”, mais caros que os motores clássicos, mas cuja<br />
utilização se revela rentável quando o seu tempo anual de<br />
utilização for suficientemente longo. Os construtores<br />
aumentaram a massa de materiais activos (cobre e ferro) de<br />
forma a diminuir as induções, as densidades de corrente e,<br />
assim, reduzir as perdas no cobre e no ferro. Utilizam chapas<br />
220
ARTIGO TÉCNICO<br />
magnéticas de perdas mais reduzidas, entalhes especiais em<br />
certos casos e reformularam a parte mecânica, com especial<br />
incidência sobre a ventilação, para reduzir a potência<br />
absorvida por esta e diminuir o nível de ruído. Daí resulta,<br />
para idêntica dimensão, um aumento de peso da ordem de<br />
15%, e de preço da ordem de 20 a 25%. Contudo, a melhoria<br />
do rendimento, compreendida entre 2 e 4,5%, e a do cosϕ,<br />
permite amortizar rapidamente este aumento de preço. Para<br />
qualquer investimento em motores eléctricos efectuado,<br />
pelo menos, para 10 anos, os modelos de perdas reduzidas<br />
são fortemente competitivos.<br />
Na figura 3, apresenta-se uma análise comparativa entre os<br />
motores convencionaise os motores de alto rendimento.<br />
∆P : variação das perdas entre os dois motores<br />
K : preço do kWh<br />
t : tempo de utilização(horas)<br />
Conclusão<br />
A situação energética portuguesa é caracterizada por uma<br />
forte dependência externa (importamos cerca de 90% da<br />
energia que consumimos), pela dependência<br />
fundamentalmente em relação a uma única forma de<br />
energia (o petróleo), apesar dos esforços que se têm feito<br />
nos últimos anos para alterar esta situação, por um nível de<br />
consumo fraco em comparação ao de outros países<br />
membros da CEE e por uma forte intensidade energética do<br />
ProdutoInterno Bruto (PIB).<br />
A valorização das economias de energia, em particular da<br />
energia eléctrica, possíveis de realizar pela via da gestão e da<br />
sua utilização racional, conduz a benefícios que se podem<br />
repercutir, de forma global, a nível nacional e, de forma<br />
directa e imediata, a nível do consumidor com as seguintes<br />
vantagens:<br />
- Aumento da eficácia do sistema energético;<br />
Figura 3: Análise comparativa do rendimento e cosϕ<br />
para motores convencionais e de alto rendimento, de 55kW<br />
(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.)<br />
O acréscimo de custos dos motores de alto rendimento é<br />
recuperado através da economia de energia eléctrica que<br />
proporcionam.<br />
O tempo de recuperação N do investimento suplementar<br />
devido à instalação de motores de alto rendimento, pode ser<br />
calculadoatravés da seguinte expressão:<br />
em que:<br />
∆Ι : diferença de custos<br />
∆Ι<br />
N =<br />
∆Ρ.Κ. t<br />
- Reduçãoda factura energética;<br />
- Acréscimo de produtividade da empresa em quaisquer<br />
sectoresde actividade;<br />
- Aumento da competitividade no mercado interno e<br />
externo ou aumento da disponibilidade de energia para<br />
outros fins;<br />
- Conhecimento mais profundo das instalações e do custo<br />
energéticode cada fase, processo ou sistema.<br />
No caso da força motriz é fundamental dimensionar<br />
correctamente estes equipamentos, fazendo os motores<br />
funcionar com cargas da ordem dos 70 a 80%. Por outro<br />
lado, e sempre que necessário, deve-se utilizar dispositivos<br />
electrónicos de variação de velocidade, que permitem um<br />
desempenho mais eficiente dos motores em diferentes<br />
regimes de carga. Também a utilizaçãode motores de “alto<br />
221
ARTIGO TÉCNICO<br />
rendimento”, que já provaram a sua competitividade, apesar<br />
do seu custo superior, deve ser equacionada para diversos<br />
tipos de aplicações.<br />
Finalmente, lembrar que a regra fundamental, indispensável<br />
a qualquer política de utilização racional de energia eléctrica<br />
em instalações industriais, consiste no conhecimento dos<br />
consumos por meio de medida e na detecção de forma<br />
eficaz das principais perdas de energia que possam existir na<br />
instalaçãoindustrial.<br />
Fontes de Informação Relevantes<br />
[01] “Efficient Use of Electrical Energy in Industrial Installations” – José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita<br />
Brandão. 4TH European Congress Economics and Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de 2007.<br />
[02] " Política Energética e Plano Energético Nacional" – Eng. Mira Amaral - Cadernos de Divulgação do Ministérios da<br />
Indústriae Energia.<br />
[03] " Economia de Energia" – Brochuras publicadas pela Direcção Geral de Geologia e Energia. Edição: Ministério da<br />
Economia<br />
[04] "Racionalizaçãoda força Motriz" Documento Técnico da EDP Edição:EDP.<br />
[05] "A Gestão da Energia e o Regulamento de Gestão do Consumo de Energia" – Brochura publicada pela Direcção Geral de<br />
Geologiae Energia. Edição: Ministério da Economia<br />
[06] "Economiasde Energia nas UtilizaçõesIndustriais"- Documento Técnico da EDP. Edição:EDP.<br />
[07] “Manual do Gestor de Energia” – Centro para a Conservação de Energia, Direcção Geral de Geologia e Energia. Edição:<br />
Ministério da Economia<br />
222
ARTIGO TÉCNICO<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
Desempenho Energético dos Edifícios<br />
e a sua Regulamentação<br />
1. Directiva 2002/91/CE<br />
Em 16 de Dezembro de 2002 foi aprovada pelo Parlamento<br />
Europeu e pelo Conselho da União Europeia a Directiva<br />
2002/91/CE, relativa ao desempenho energético dos<br />
edifícios.<br />
Na base desta directiva estiveram uma serie de<br />
considerações que enfatizam a necessidade de se<br />
estabelecer medidas que visem melhorar o desempenho<br />
energéticodos edifícios.<br />
Numa das considerações está escrito “O sector residencial e<br />
terciário, a maior parte do qual constituído por edifícios,<br />
absorve mais de 40% do consumo final de energia da<br />
Comunidade e encontra-se em expansão, tendência que<br />
deverá vir a acentuar o respectivo consumo de energia e, por<br />
conseguinte, as correspondentes emissões de dióxido de<br />
carbono.”. Analisando este ponto, percebe-se que era<br />
urgente promover a melhoria do desempenho energético<br />
dos edifícios, tendo em conta as condições climáticas<br />
externas e as condições locais, bem como as exigênciasem<br />
matéria de clima interior e a rentabilidade económica.<br />
Contudo o estabelecimento das medidas nunca poderá ir<br />
contra outros requisitos considerados essenciais relativos<br />
aos edifícios, tais como a acessibilidade, as regras de boa<br />
arte e a utilização prevista do edifício.<br />
De uma forma muito resumida, a Directiva 2002/91/CE faz<br />
um enquadramento da metodologia de cálculo, a aplicar<br />
pelos Estados–Membros, do desempenho energético<br />
integrado dos edifícios. No Anexo que acompanha a referida<br />
Directiva, são descritos os pontos que a metodologia de<br />
cálculo deve conter na análise do cálculo da eficiência, que<br />
deve ser expresso de modo transparente, podendo incluir<br />
um indicador de emissão de CO 2 .<br />
A Directiva impõe que os Estados-Membros deverão<br />
estabelecer requisitos mínimos para o desempenho<br />
energético dos edifícios novos e dos grandes edifícios<br />
existentes que sejam sujeitos a importantes obras de<br />
remodelação. Foi ainda previsto que no estabelecimento dos<br />
requisitos se possa fazer uma distinção entre, edifícios novos<br />
e existentes e entre diferentescategorias de edifícios.<br />
223
ARTIGO TÉCNICO<br />
Os requisitos devem ser sujeitos a revisão e actualização<br />
regulares. Para os novos edifícios com área superior a 1000<br />
m2, devem ser estudadas formas alternativas de<br />
fornecimento de energia eléctrica, baseadas em energias<br />
renováveis ou co-geração e privilegiado o uso de sistemas<br />
urbanos ou colectivos de aquecimentoou arrefecimento.<br />
Estes estudos, que contemplarão aspectos de viabilidade<br />
técnica, económica e ambiental, deverão ser tomados em<br />
consideração antes de se iniciar a construção. Quanto aos<br />
edifícios existentes e com área superior a 1000 m2, sempre<br />
que sofram obras de renovação importantes deve ser<br />
melhorado o seu desempenho energético, desde que<br />
possível do ponto de vista técnico, económico e funcional.<br />
Um dos objectivos que também faz parte da Directiva é o da<br />
criação de um certificado energético do edifício, necessário<br />
aquando da construção, venda ou arrendamento e fornecido<br />
ao proprietário ou por este ao potencial comprador ou<br />
arrendatário. Com este certificado deve ser possível aos<br />
consumidores comparar e avaliar o desempenho energético<br />
do edifício. Deve ser parte integrante do certificado um<br />
conjunto de recomendações que visem a melhoria da<br />
eficiência energética bem como o estudo de viabilidade<br />
económica da sua aplicação. Estes certificados deverão ter<br />
um prazo de validade nunca superior a 10 anos.<br />
Por último esta Directiva impôs a necessidade de inspecção<br />
regular de caldeiras e instalações de ar condicionado nos<br />
edifícios e, complementarmente, avaliação da instalação de<br />
aquecimento quando as caldeiras tenham mais de 15 anos.<br />
Todas as caldeiras com potência nominal útil, isto é, com<br />
potência calorífica máxima fixada e garantida pelo<br />
construtor, de 20 a 100 kW e alimentadas por combustíveis<br />
não renováveis, devem ser sujeitas a inspecção periódica.<br />
Para caldeiras com potência nominal útil superior a 100 kW a<br />
inspecção deve ser feita de 2 em 2 anos, podendo o prazo<br />
ser aumentado para 4 anos se o combustível usado for o gás<br />
natural. Todas as caldeiras com mais de 15 anos e com<br />
potência nominal útil superior a 20 kW devem ser alvo de<br />
inspecçãoque deverá analisar o rendimento da caldeira e a<br />
adequação da sua capacidade em função dos requisitos de<br />
aquecimento pretendidos. Os peritos devem fornecer aos<br />
utilizadores recomendações sobre a substituição das<br />
caldeiras por outras mais eficientes ou a adopção de outras<br />
soluçõesalternativas.<br />
Para os sistemas de ar condicionado com potência nominal<br />
útil superior a 12 kW deve ser feita uma avaliação do<br />
desempenho do sistema e a adequação da sua potência em<br />
função dos requisitos de climatização do edifício. Os peritos<br />
deverão também fornecer aos utilizadores recomendações<br />
sobre possíveis melhorias ou a substituição do sistema de ar<br />
condicionado, ou soluções alternativas. Com estas medidas<br />
pretende-se uma redução do consumo de energia e a<br />
limitação das emissões de dióxido de carbono pelos Estados-<br />
Membros.<br />
A Directiva impôs a data de 4 de Janeiro de 2006 para que os<br />
Estados-Membros colocassem em vigor as disposições legais,<br />
regulamentares e administrativas necessárias para dar<br />
cumprimento à referida Directiva, devendo dar<br />
conhecimento à Comissão desse facto. O prazo poderia ser<br />
alargado por mais 3 anos se os Estados-Membros não<br />
dispusessemde peritos qualificadosem número suficiente.<br />
Por forma a cumprir o imposto pela Directiva 2002/91/CE e<br />
também como forma de adequação da anterior<br />
regulamentação, Portugal aprovou no conselho de ministros<br />
de 26 de Janeiro de 2006 a nova regulamentação para o<br />
Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade<br />
do Ar Interior nos Edifícios (SCE), o Regulamento das<br />
Características de Comportamento Térmico dos Edifícios<br />
(RCCTE) e o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de<br />
Climatização dos Edifícios (RSECE). Em 4 de Abril de 2006<br />
foram publicados em Diário da República os respectivos<br />
Decreto-Lei.<br />
224
ARTIGO TÉCNICO<br />
2. Sistema Nacional de Certificação Energética e da<br />
Qualidade do Ar Interior os Edifícios (SCE)<br />
Através do decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril, Portugal<br />
transpôs parcialmente para ordem jurídica nacional a<br />
Directiva nº 2002/91/CE, cumprindo assim os prazos<br />
impostos pela mesma. Com este decreto-lei, o Estado<br />
assegura a melhoria do desempenho energético e da<br />
qualidade do ar interior através do Sistema Nacional de<br />
Certificação Energética e da Qualidade do Ar interior nos<br />
edifícios(SCE).<br />
O SCE tem 3 finalidades principais sendo que a primeira<br />
delas é a de assegurar a correcta aplicação das disposições<br />
contidas no Regulamento das Características de<br />
Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) e no<br />
Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos<br />
Edifícios (RSECE). A segunda finalidade é o de certificar o<br />
desempenho energético e a qualidade do ar interior nos<br />
edifícios. Por último fazer a identificação de medidas<br />
correctivas ou de melhoria de desempenho energético nos<br />
edifícios.<br />
Portugal com esta legislação impôs a aplicação do SCE aos<br />
edifícios novos e aos existentes quando sujeitos a renovação,<br />
estando ou não sujeitos a licenciamento. Aos edifícios de<br />
serviços existentes, sujeitos periodicamente a auditorias e<br />
aos edifícios existentes para habitação ou serviços, sempre<br />
que sejam celebrados contratos de venda e de locação.<br />
Nesses casos o proprietário terá que apresentar ao potencial<br />
comprador ou locatário ou arrendatário, o certificado<br />
emitido no âmbito do SCE.<br />
O certificado energético atribui uma etiqueta que traduz o<br />
desempenho energético do edifício. Essa etiqueta está<br />
organizada por uma escala de eficiência que varia entre A+ e<br />
G, da forma ilustrada na tabela 1.<br />
A supervisão do SCE é compartilhada entre a Direcção-Geral<br />
de Geologia e Energia e o Institutodo Ambiente. A gestão do<br />
SCE foi atribuída à Agência para a Energia (ADENE), que tem<br />
como objectivos o de assegurar o funcionamento do sistema,<br />
aprovar o modelo de certificados de desempenho<br />
energético, criar uma bolsa de peritos qualificados do SCE e<br />
disponibilizar, online, o acesso a toda a informação relativa<br />
aos processos de certificaçãoaos peritos.<br />
No DL 78/2006 estão ainda definidos os requisitos<br />
necessários para o exercício da função de perito qualificado,<br />
as competências dos mesmos, as obrigações dos promotores<br />
ou proprietários dos edifícios ou equipamentos e o prazo de<br />
validade dos certificados que foi fixado em 10 anos. O<br />
mesmo DL define ainda as taxas a pagar pelo registo dos<br />
certificados na ADENE, contra-ordenações, coimas e sanções<br />
acessórias a pagar sempre que haja incumprimentos dos<br />
regulamentos. As sanções acessórias podem passar pela<br />
suspensão de licença ou de autorização de utilização;<br />
encerramento do edifício ou a suspensão do exercício da<br />
actividade de perito qualificado. Quanto ao produto das<br />
coimas é repartido entre os cofres do Estado (60%) e a<br />
entidade que instruiu o processo de contra-ordenação e<br />
aplicou a coima.<br />
Classe Energética<br />
A+<br />
Consumo<br />
Menos que 25% do<br />
consumo de referência<br />
A Entre 25% e 50%<br />
B Entre 50% e 75%<br />
B- Entre 75% e 100%<br />
C Entre 100% e 150%<br />
D Entre 150% e 200%<br />
E Entre 200% e 250%<br />
F Entre 250% e 300%<br />
G<br />
Superior a 300% do<br />
consumo de referência<br />
Tabela 1 – Etiqueta de eficiência energética<br />
225
ARTIGO TÉCNICO<br />
3. Regulamento dos Sistemas Energéticos e de<br />
Climatização dos Edifícios (RSECE)<br />
Em Portugal já existia um regulamento dos Sistemas<br />
Energéticos e de Climatização dos Edifícios desde 1992,<br />
aprovado pelo decreto-lei nº 156/92, de 29 de Julho e que<br />
nunca chegou a ser aplicado.<br />
Define ainda as condições de manutenção dos sistemas de<br />
climatização, as condições de monitorização e de auditoria<br />
de funcionamento dos edifícios em termos dos consumos de<br />
energia e da qualidade do ar interior e especifica os<br />
requisitos a que devem obedecer os técnicos responsáveis<br />
pelo projecto, instalação e manutenção dos sistemas de<br />
climatização.<br />
Seis anos volvidos, foi aprovado o decreto-lei nº 118/98, de 7<br />
de Maio que veio substituir o decreto-lei anterior e que se<br />
manteve em vigor até 2006, ano em que Portugal reviu o<br />
RSECE tendo como objectivo, também, ir ao encontro das<br />
exigências da Directiva nº 2002/91/CE, que como já se<br />
referiu impunha aos Estados-Membros a revisão periódica<br />
dos regulamentos.<br />
A revisão do anterior RSECE impunha a definição de<br />
condições de conforto térmico e de higiene nos diferentes<br />
espaços dos edifícios, melhorar a eficiência energética global<br />
dos edifícios, impor regras de eficiência aos sistemas de<br />
climatização e monitorizar periodicamente as práticas de<br />
manutenção dos sistemas de climatização. Neste sentido é<br />
aprovado o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de<br />
Climatização dos Edifícios (RSECE) que é publicado como<br />
anexo ao decreto-lei 79/2006, de 4 de Abril.<br />
Este novo regulamento estabelece as condições a observar<br />
aquando do projecto de novos sistemas de climatização,<br />
definindo os requisitos em termos de conforto térmico e de<br />
qualidade do ar interior, bem como os requisitos mínimos de<br />
renovação e tratamento de ar que devem ser assegurados<br />
em condições de eficiência energética; Os requisitos em<br />
termos da concepção, instalação e do estabelecimento das<br />
condições de manutenção a que devem obedecer os<br />
sistemas de climatização; A observância dos princípios da<br />
utilização racional da energia como forma de<br />
sustentabilidadeambiental.<br />
No novo RSECE são ainda definidos os limites máximos de<br />
consumo de energia nos grandes edifícios de serviços<br />
existentes; No cálculo dos consumos de energia para todo o<br />
edifíciodeve ser dada especial atenção à climatização.<br />
226<br />
O novo RSECE impõe uma limitação efectiva dos consumos<br />
energéticos globais do edifício, entrando em consideração<br />
com os consumos da climatização, iluminação, entre outros,<br />
quer para os edifícios novos quer para os existentes. Para os<br />
edifícios novos o projectista é ainda obrigado a detalhar os<br />
métodos de previsão dos consumos energéticos, na fase de<br />
projecto. Após a verificação da conformidade regulamentar<br />
na fase de projecto e no final da obra, são passadas as<br />
licençasde construção ou de utilização.<br />
Para os edifícios existentes a verificação dos consumos será<br />
feito através de auditorias energéticas periódicas. Sempre<br />
que sejam verificadas inconformidades regulamentares,<br />
deverão ser propostas e implementadas medidas<br />
correctivas, desde que seja garantida a viabilidade<br />
económicadas mesmas.<br />
Neste regulamento são ainda definidos os requisitos para a<br />
manutenção da qualidade do ar interior, nesse sentido os<br />
novos edifícios a construir e que se encontrem abrangidos<br />
pelo RSECE, devem ser dotados de meios naturais,<br />
mecânicos ou híbridos que garantam as taxas de renovação<br />
de ar de referência fixadas. Aos edifícios de serviços<br />
existentes, abrangidos pelo RSECE e que possuam sistemas<br />
de climatização devem ser efectuadas auditorias à qualidade<br />
do ar interior (QAI). Nestas auditorias devem ser medidos os<br />
agentes poluentes no interior dos edifícios. Sempre que nas<br />
auditorias sejam detectadas concentrações acima das<br />
permitidas, o proprietário, ou locatário ou arrendatário do<br />
edifício deve preparar um plano de acções correctivas da<br />
QAI, no prazo máximo de 30 dias após a conclusão da<br />
auditoria. Este prazo pode ser reduzido se a QAI estiver<br />
gravemente comprometida, podendo, em casos extremos,<br />
ser decretado o encerramento imediato do edifício.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Nos edifícios de serviços, ou fracções autónomas, abrangidos<br />
pelo RSECE, deve existir um técnico responsável pelo bom<br />
funcionamento dos sistemas energéticos de climatização,<br />
incluindoa sua manutenção, e pela qualidade do ar interior.<br />
O referido técnico é ainda responsável pela gestão da<br />
respectiva informação técnica. As qualificações do técnico<br />
estão definidas no decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril.<br />
Neste decreto-lei estão também definidas as qualificações<br />
dos técnicos de instalação e manutenção de sistemas de<br />
climatização e QAI, bem como todas as coimas e sanções<br />
aplicadasem caso de incumprimentos regulamentares.<br />
4. Regulamento das Características de Comportamento<br />
Térmico dos Edifícios (RCCTE)<br />
Com o aumento significativo do uso de equipamentos de<br />
climatização, em especial dos sistemas de ar condicionado,<br />
mesmo no sector residencial e também devido às<br />
imposições decorrentes da Directiva 2002/91/CE, é aprovado<br />
em Portugal o Regulamento das Características de<br />
Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE), que é<br />
publicadoem anexo ao decreto-lei nº 80/2006, de 4 de Abril.<br />
O RCCTE estabelece as regras a observar no projecto de<br />
todos os edifícios de habitação e dos edifícios de serviços<br />
sem sistemas de climatização centralizados de modo a que,<br />
sem dispêndio excessivo de energia, sejam garantidas as<br />
exigências de conforto térmico e de ventilação necessárias<br />
para a qualidade do ar interior, bem como as necessidades<br />
de águas quentes sanitárias.<br />
O primeiro instrumento legal que em Portugal impôs<br />
requisitos ao projecto de novos edifícios e de grandes<br />
remodelações, com o objectivo de salvaguardar a satisfação<br />
das condições de conforto térmico sem necessidade de<br />
recorrer ao uso excessivo de energia, foi aprovado pelo<br />
decreto-lei nº 40/90 de 6 de Fevereiro.<br />
Para a garantia deste último aspecto, o novo RCCTE impõe a<br />
obrigatoriedade do recurso a sistemas solares para<br />
aquecimento de água em edifícios que tenham cobertura<br />
com exposição solar adequada. Podem ser usados outros<br />
sistemas renováveis, alternativos aos colectores solares,<br />
desde que sejam mais eficientes.<br />
227
ARTIGO TÉCNICO<br />
Ao nível do projecto devem ainda ser minimizadas as<br />
situações patológicas nos elementos de construção<br />
provocadas pela ocorrência de condensações superficiais ou<br />
internas, que levam a uma diminuição da durabilidade dos<br />
elementosconstrutivos e da qualidade do ar interior.<br />
O RCCTE apresenta metodologias de cálculo das<br />
necessidades de aquecimento e de arrefecimento de uma<br />
fracção autónoma ou de um edifício e o método de cálculo<br />
das necessidades de energia para preparação da água<br />
quente sanitária. Factores como a zona climática onde se<br />
situa o edifício, a altitude em relação ao nível do mar, o grau<br />
de exposição aos ventos e a adequação das caixilharias a esta<br />
exposição, são factores importantes ao método de cálculo do<br />
novo RCCTE.<br />
A responsabilidade pela demonstração do cumprimento das<br />
exigências impostas pelo Regulamento tem de ser assumida<br />
por um arquitecto, um engenheiro ou um engenheiro<br />
técnico, reconhecidos pelas respectivas Ordens ou<br />
Associações,com qualificaçõespara o efeito.<br />
5. Conclusão<br />
A reformulação dos Regulamentos descritos impôs<br />
mecanismos mais eficientes de comprovação das<br />
conformidades regulamentares e aumentou o grau de<br />
exigência e responsabilidade de todos os elementos<br />
envolvidos, desde projectistas a instaladores e técnicos<br />
responsáveis. Estes Regulamentos fazem parte da Estratégia<br />
Nacional para a Energia, aprovada em 2005 e que por sua vez<br />
se insere numa estratégia europeia que visa o aumento da<br />
eficiênciaenergéticae redução das emissões de CO 2 .<br />
Neste artigo foi feito um pequeno resumo dos diversos<br />
decretos que regulam este sector, pelo que se recomenda a<br />
leitura atenta dos decreto-lei referidos, por todos aqueles<br />
que são, ou pretendem vir a ser, intervenientesnesta área.<br />
228
ARTIGO TÉCNICO<br />
José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
Ascensores<br />
Optimização Energética<br />
1. ENQUADRAMENTO<br />
Segundo um estudo recente da União Europeia 1 , o sector<br />
dos edifícios será responsável por cerca de 40% do consumo<br />
total de energia neste espaço geográfico.<br />
Cerca de 70% do consumo de energia deste sector verificarse-á<br />
nos edifícios residenciais.<br />
Em Portugal, mais de 28% da energia final e 60% da energia<br />
eléctricaé consumida em edifícios.<br />
Por forma a dar cumprimento ao Protocolo de Kyoto, no qual<br />
se definiu uma drástica redução da emissão de CO 2 , a<br />
Comunidade Europeia emanou várias directivas que se<br />
relacionam directa ou indirectamente com a temática da<br />
utilizaçãode energia.<br />
As mais importantes são entre outras, a Directiva<br />
2002/91/CE de 16 de Dezembro de 2002 - “EPB - Energy<br />
Performance of Buildings” (Desempenho Energético de<br />
Edifícios) 2 , transposta parcialmente para o direito nacional<br />
pelo Decreto-Lei nº 78/2006 de 04 de Abril, e a Directiva<br />
2005/32/CE de 06 de Julho de 2005 – “EuP – Energy Using<br />
Products” (Requisitos de concepção ecológica dos produtos<br />
que consomem energia) 3 .<br />
Os ascensores não são referidos explicitamente nestas duas<br />
directivas, quando se aborda a temática do aumento da<br />
eficiênciaenergética.<br />
Na Directiva EPB são referidos essencialmente equipamentos<br />
técnicos dos edifícios como sistemas de aquecimento,<br />
climatização e iluminação, bem como sistemas de<br />
isolamentotérmico dos edifícios.<br />
Na EuP, por sua vez, também não se indicam<br />
especificamente os ascensores, embora sejam referidos por<br />
exemplo motores eléctricos, que farão parte integrante de<br />
um ascensor.<br />
1<br />
Ver Directiva 2002/91/CE de 16.12.2002.<br />
2<br />
O objectivo desta directiva passa pela promoção da melhoria do desempenho energético dos edifícios na Comunidade, tendo em conta as condições climáticas<br />
externas e as condições locais, bem como as exigências em matéria de clima interior e a rentabilidade económica. Esta Directiva estabelece requisitos em termos<br />
de:<br />
a) enquadramento geral para uma metodologia de cálculo do desempenho energético integrado dos edifícios;<br />
b) aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético de novos edifícios;<br />
c) aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético dos grandes edifícios existentes que sejam sujeitos a importantes obras de renovação;<br />
d) certificação energética dos edifícios;<br />
e) inspecção regular de caldeiras e instalações de ar condicionado nos edifícios e, complementarmente, avaliação da instalação de aquecimento quando as<br />
caldeiras tenham mais de 15 anos.<br />
O Decreto-Lei nº 78/2006 de 04 de Abril – Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar (SCE), transpõe parcialmente para a ordem jurídica<br />
nacional esta directiva comunitária, tendo como finalidade assegurar a aplicação regulamentar, nomeadamente no que respeita às condições de eficiência<br />
energética, à utilização de sistemas de energias renováveis e, ainda, às condições de garantia da qualidade do ar interior, de acordo com as exigências e<br />
disposições contidas em:<br />
a) Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) – Decreto-Lei 80/2006 de 04 de Abril, e<br />
b) Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de Abril.<br />
3<br />
Esta directiva cria um quadro de definição dos requisitos comunitários de concepção ecológica dos produtos consumidores de energia com o objectivo de<br />
garantir a livre circulação destes produtos nos mercado interno.<br />
Prevê ainda a definição de requisitos a observar pelos produtos consumidores de energia abrangidos por medidas de execução, com vista à sua colocação no<br />
mercado e/ou colocação em serviço. Contribui para o desenvolvimento sustentável, na medida em que aumenta a eficiência energética e o nível de protecção do<br />
ambiente, e permite ao mesmo tempo aumentar a segurança do fornecimento de energia.<br />
Nota: a presente directiva não é aplicável a meios de transporte de pessoas ou mercadorias.<br />
229
ARTIGO TÉCNICO<br />
De acordo com um estudo da S.A.F.E – “Agência Suiça para a<br />
Utilização Eficiente da Energia”, realizado em 2005, os<br />
ascensores podem representar uma parte significativa do<br />
consumo de energia num edifício (o consumo energético de<br />
um ascensor poder representar em média 5% do consumo<br />
total de energia de um edifício de escritórios). Na Suiça<br />
estima-se que o somatório do consumo de energia dos cerca<br />
de 150.000 ascensores instalados represente cerca de 0,5%<br />
do total de 280 GWh de consumo energético do país.<br />
A redução do consumo de energia nos edifícios poderá ser<br />
obtida através da melhoria das características construtivas,<br />
reduzindo dessa forma as necessidades energéticas, através<br />
de medidas de gestão da procura, no sentido de reduzir os<br />
consumos na utilização e através do recurso a equipamentos<br />
energeticamentemais eficientes.<br />
No preâmbulo da Directiva EuP refere-se que “a melhoria da<br />
eficiência energética – de que uma das opções disponíveis<br />
consiste na utilização final mais eficiente da electricidade – é<br />
considerada um contributo importante para a realização dos<br />
objectivos de redução das emissões de gases com efeito de<br />
estufana Comunidade.”<br />
Daí que seja importante estudar também a optimização<br />
energéticade ascensores.<br />
No presente artigo será apresentado um resumo do estudo<br />
sobre o consumo energético realizado a uma amostra<br />
composta por 20 ascensores eléctricos instalados pela<br />
Schmitt-Elevadores,Lda. em Portugal.<br />
Para a determinação do consumo anual de energia a partir<br />
dos dados obtidos, foi utilizado um modelo, desenvolvido<br />
com base na norma alemã VDI 4707:2009 4 .<br />
Com base nos dados obtidos foram então identificadas<br />
diversas hipóteses de optimização, que poderão e deverão<br />
ser implementadas.<br />
2. O MODELO DE APOIO PARA A DETERMINAÇÃO DO<br />
CONSUMO ANUAL<br />
Com o objectivo de desenvolver sugestões de optimização<br />
energética num dado ascensor já existente, com base no<br />
consumo energético medido, optou-se por recorrer à norma<br />
alemã VDI 4707:2009, publicada em Março de 2009 pela<br />
Associação dos Engenheiros Alemães (Verein Deutscher<br />
Ingenieure). É assim possível realizar uma avaliação e<br />
classificação universal e transparente da eficiência<br />
energética de ascensores, com base em critérios<br />
standardizados.<br />
2.1 Objectivos da norma<br />
1. Permitir uma avaliação e classificação universal e<br />
transparente da eficiência energética de ascensores,<br />
baseada em métodos de cálculo e teste dos seus<br />
consumos energéticos;<br />
2. Disponibilizar a construtores civis, arquitectos,<br />
projectistas, empresas instaladoras e de manutenção de<br />
ascensores e a operadores um enquadramento que lhes<br />
permita incluir a procura de energia de ascensores na<br />
sua avaliação da eficiência energética do edifício e assim<br />
seleccionaros equipamentos mais adequados;<br />
3. Servir de base para um rating energético de ascensores<br />
no âmbito da eficiência energética total do edifício,<br />
dando origem à elaboração de um certificado energético.<br />
2.2 Âmbito da norma<br />
A Norma VDI 4707:2009 aplica-se à avaliação e classificação<br />
de novos ascensores de pessoas e de cargas, quanto à sua<br />
eficiênciaenergética. Pode igualmente ser utilizada para a:<br />
a. determinação da eficiência energética de ascensores já<br />
instalados;<br />
b. comprovação dos parâmetros fornecidos pelos<br />
fabricantesde ascensores;<br />
c. determinaçãodo consumo energético estimado.<br />
4<br />
Para uma descrição mais detalhada consultar o ponto 2.<br />
230
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.3 Valores característicos<br />
A necessidade energética, isto é, o valor esperado de<br />
consumo de energia, calculado com base em determinadas<br />
premissas, pode ser caracterizadacom base na:<br />
1. Necessidadeenergéticade stand-by<br />
e<br />
2. Necessidadeenergéticade manobra.<br />
Estes dois valores de necessidade energética determinam a<br />
classe de eficiência energética do ascensor, dependendo da<br />
sua intensidade de utilização.<br />
Existem sete classes de necessidade energética e de<br />
eficiência energética, representadas pelas letras A a G. A<br />
classe A representa a menor necessidade energética, e logo a<br />
melhor eficiênciaenergética.<br />
A necessidade energética de stand-by é a necessidade<br />
energética total do ascensor, quando este se encontra em<br />
modo stand-by, isto é, quando o sistema de tracção se<br />
encontradesligado.<br />
Só serão consideradas as partes do equipamento eléctrico e<br />
os componentes que contribuem para a prontidão de<br />
reacção e de funcionamento do ascensor (por exemplo, a<br />
iluminação da casa de máquinas e da caixa do ascensor não<br />
são consideradas).<br />
A necessidade energética de manobra é a necessidade<br />
energética total do ascensor durante a manobra para um<br />
ciclo de manobras previamente definido e com uma<br />
determinadacarga específica.<br />
O valor resultante da necessidade energética específica em<br />
mWh/(kg.m) está relacionada com a distância percorrida em<br />
metros e com a carga nominal em kg.<br />
A utilização de cargas distintas da carga nominal para cálculo<br />
da necessidade energética específica devem ser<br />
documentadas.<br />
Estes valores de necessidade energética específica podem<br />
ser utilizados para comparar a eficiência energética de<br />
diferentesascensores.<br />
Dependendo dos valores de necessidade energética, os<br />
ascensores são divididos em classes de necessidade<br />
energéticade stand-by e de manobra.<br />
A necessidade energética global de um ascensor depende,<br />
para além da sua concepção, especialmente da sua<br />
utilização. Dependente do tipo de edifício, da utilização do<br />
ascensor e do número de passageiros, são definidas 5<br />
categorias de utilização que diferem entre si devido ao<br />
tempo médio de manobra diário. Dependendo da parcela<br />
temporal entre a necessidade energética de stand-by e de<br />
manobra, podem ser calculadas várias classes de eficiência<br />
energéticapara as 5 categorias de utilização.<br />
Na tabela 1 seguinte são apresentadas as 5 categorias de<br />
utilização, os tempos médios de manobra e de stand-by,<br />
bem como exemplos de ascensores que se enquadram<br />
nessascategorias.<br />
2.4 Determinação das especificações e dos valores<br />
característicos<br />
As necessidades energéticas de stand-by podem ser<br />
determinadas por medição ou pela soma dos valores de<br />
necessidades energéticas individuais, desde que<br />
suficientementeconhecidos.<br />
As necessidades energéticas de stand-by são determinadas 5<br />
minutos após a conclusão da última manobra.<br />
As necessidades energéticas de manobra são determinadas<br />
para manobras de referência utilizando-se cargas individuais<br />
com referência à carga nominal de acordo com a seguinte<br />
tabela 2.<br />
231
ARTIGO TÉCNICO<br />
Tabela 1 - Categorias de Utilização<br />
Categoria de Utilização 1 2 3 4 5<br />
Intensidade de Utilização Muito baixa Baixa Média Elevada Muito elevada<br />
Frequência de Utilização Muito rara Rara Pontualmente Elevada Muito elevada<br />
Tempo Médio de Manobra<br />
(horas / por dia)<br />
Tempo Médio de Stand-by<br />
(horas / por dia)<br />
0,2 (≤0,3) 0,5 (>0,3-1) 1,5 (>1-2) 3(>2-4,5) 6(>4,5)<br />
23,8 23,5 22,5 21 18<br />
Tipo de Edifício e de<br />
Utilização<br />
Edifício de<br />
habitação com até<br />
6 apartamentos<br />
Edifício de<br />
habitação com até<br />
20 apartamentos<br />
Edifício de<br />
habitação com até<br />
50 apartamentos<br />
Edifício de habitação<br />
com mais de 50<br />
apartamentos<br />
Pequeno edifício de<br />
escritórios e de<br />
serviços com pouco<br />
movimento<br />
Pequeno edifício de<br />
escritórios e de<br />
serviços com 2 a 5<br />
pisos<br />
Pequeno edifício de<br />
escritórios e de<br />
serviços com até 10<br />
pisos<br />
Pequeno edifício de<br />
escritórios e de serviços<br />
em altura com mais de<br />
10 pisos<br />
Pequeno edifício de<br />
escritórios e de serviços em<br />
altura com mais de 100 m<br />
Pequeno hotel<br />
Hotel de dimensão<br />
média<br />
Grande hotel<br />
Hospital de pequena<br />
ou média dimensão<br />
Grande Hospital<br />
Ascensor de carga<br />
com pouco<br />
movimento<br />
Ascensor de carga<br />
com movimento<br />
médio<br />
Ascensor de carga<br />
integrado no processo<br />
produtivo com 1 turno<br />
Ascensor de carga integrado<br />
no processo produtivo com<br />
vários turnos<br />
As manobras de referência são constituídas pelo seguinte<br />
ciclo de manobra:<br />
1. Início da manobra de referência com a porta do ascensor<br />
aberta;<br />
2. Fechar a porta do ascensor;<br />
3. Viagem para cima ou para baixo utilizando todo o curso<br />
do ascensor;<br />
4. Abrir e fechar imediatamentea porta do ascensor;<br />
5. Viagem para baixo ou para cima utilizando todo o curso<br />
do ascensor;<br />
6. Abrir a porta;<br />
7. Fim da manobra de referência.<br />
As manobras de referência são somadas de acordo com o<br />
rácio temporal indicado na tabela 1.<br />
Para ascensores com uma massa de contrapeso igual ao peso<br />
da cabina mais 40% ou 50% da carga nominal, ou para<br />
ascensores com uma massa de compensação inferior a 30%<br />
do peso da cabina ou para ascensores sem qualquer<br />
compensação, as manobras de referência podem ser<br />
realizadascom uma cabina vazia.<br />
Para corrigir os valores em relação ao espectro de cargas<br />
apresentados na tabela em cima, as necessidades<br />
energéticas de manobra determinadas com a cabina vazia<br />
são multiplicados pelos seguintes factoresde carga:<br />
• 0,7 para ascensores com contrapeso (peso da cabina<br />
mais 40% ou 50% da carga nominal);<br />
• 1,2 para ascensores sem qualquer compensação ou com<br />
uma compensação até 30% do peso da cabina;<br />
Nota: o factor de carga não é utilizado quando as<br />
necessidades energéticas de manobra são determinadas<br />
tomando por base o espectro de cargas indicado na tabela 2.<br />
Tabela 2 - Espectro de Cargas<br />
Carga em % da carga nominal % de Manobras<br />
0% 50%<br />
20% 30%<br />
50% 10%<br />
75% 10%<br />
100% 0%<br />
232
ARTIGO TÉCNICO<br />
As necessidades energéticas de manobra podem ser<br />
determinadas por medição ou pelo somatório de valores<br />
conhecidosde necessidadesenergéticasindividuais.<br />
As necessidades energéticas de manobra em Watt-hora (Wh)<br />
determinadas nas manobras de referência são divididas pela<br />
carga nominal da cabina e pela distância percorrida durante<br />
a manobra de referência. Para garantir uma boa qualidade<br />
de dados, as manobras de referência deverão ser realizadas<br />
diversas vezes.<br />
As medições dos valores de consumo de energia devem ser<br />
feitas a seguir ao interruptor principal do circuito de<br />
potência e a seguir ao interruptor para os circuitos de<br />
iluminação.<br />
necessidades energéticas por dia e os dias de operação por<br />
ano.<br />
Procedimentode cálculo:<br />
1. Carga nominal Q em kg<br />
2. NecessidadeenergéticaP stand-by em W<br />
3. NecessidadeenergéticaE manobra em mWh/(kg.m)<br />
4. Tempo de utilização tmanobra em horas por dia<br />
5. Distância percorrida snominal em m durante o tempo de<br />
utilizaçãopor dia<br />
6. S nominal = V nominal x t manobra [1]<br />
E<br />
s tan d − by<br />
= Ps<br />
tan d −by<br />
× ts<br />
tan d −by<br />
Obtém-seassim a necessidadeenergética diária:<br />
[2]<br />
A iluminação da casa de máquinas e da caixa do ascensor<br />
não serão consideradas, para a determinação do consumo de<br />
energia.<br />
Emanobra Emanobra<br />
especifico<br />
× sno<br />
al<br />
× Q<br />
=<br />
,<br />
min<br />
E + E<br />
dia<br />
= Es<br />
tan d −by<br />
manobra<br />
[3]<br />
[4]<br />
Dever-se-ão ter em conta também para efeitos de medição<br />
os circuitos eléctricos de interligação de ascensores em<br />
grupo, devendo-se somar esses valores aos consumos em<br />
stand-by(proporcionalmentepara cada ascensor do grupo).<br />
Para além dos circuitos e das cargas já mencionadas, podem<br />
existir ainda outros circuitos independentes para alimentar<br />
cargas necessárias para o funcionamento do ascensor (por<br />
exemplo aquecimento ou arrefecimento). Os valores de<br />
consumo de energia para estas cargas têm de ser igualmente<br />
determinadose documentadosseparadamente.<br />
As medições devem ocorrer em condições reais de<br />
funcionamento do ascensor, não se podendo desligar<br />
quaisquer cargas, que normalmente estejam activas durante<br />
o normal funcionamentodo ascensor.<br />
As necessidades energéticas esperadas para operação de um<br />
ascensor podem ser projectadas calculando as necessidades<br />
energéticas por ano usando os valores de necessidade<br />
energética de stand-by e de manobra de acordo com a<br />
parcela temporal na categoria de utilização do ascensor, as<br />
As necessidadesenergéticasnominais anuais são dadas por:<br />
E Ano<br />
= E dia<br />
2.5 Necessidades energéticas e classes de eficiência<br />
energética<br />
Ao ascensor é atribuído uma classe de necessidade<br />
energética tomando por base as tabelas 1 e 2, e de acordo<br />
com as necessidadesenergéticasde stand-by e de manobra.<br />
As classes de eficiência energética para um ascensor são<br />
determinadas a partir dos valores de consumo de energia em<br />
stand-by e em manobra, projectando a potência em stand-by<br />
e a necessidade energética em manobra com os tempos<br />
médios de stand-by e viagem para a obtenção do consumo<br />
diário, de acordo com a tabela 1 e dividindo o valor obtido<br />
pelo número de metros percorridos e pela carga nominal.<br />
Obtém-se assim a energia necessária total específica para o<br />
ascensor.<br />
×365<br />
[6]<br />
233
ARTIGO TÉCNICO<br />
Para a atribuição das necessidades específicas de energia a<br />
classes de eficiência energética, os valores limite para a<br />
manobra e para as necessidades de stand-by pertencentes a<br />
uma mesma classe são combinados de acordo com as<br />
tabelas3 e 4 utilizando-sea seguinte equação:<br />
E<br />
Ascensor,max<br />
= E<br />
manobra ,max<br />
P<br />
+<br />
Q×<br />
v<br />
s tan d −by<br />
,max<br />
no min al<br />
× t<br />
× t<br />
s tan d −by<br />
manobra<br />
P stand-by deverá ser indicado em mW e t manobra em h.<br />
Tabela 3 - Classes de necessidade energéticas – stand-by<br />
Potência<br />
/Output<br />
(W)<br />
Classes de necessidades energéticas – stand-by<br />
× 1000<br />
× 3600<br />
[7]<br />
≤50 ≤100 ≤200 ≤400 ≤800 ≤1600 >1600<br />
Classe A B C D E F G<br />
Consumo<br />
energético<br />
específico<br />
(mWh/(kg.m))<br />
Tabela 4 - Classes de eficiência energética - manobra<br />
Classes de necessidades energéticas – manobra<br />
≤<br />
0,56<br />
≤<br />
0,84<br />
2.6 Certificado Energético<br />
≤<br />
1,26<br />
≤<br />
1,89<br />
Os valores característicos poderão ser entregues pelo<br />
fabricante ao construtor ou utilizador do ascensor no âmbito<br />
de um orçamento. Se não foi indicada nenhuma categoria de<br />
utilização, o fabricante poderá apresentar valores<br />
característicos para diferentes categorias. Estes valores<br />
podem ser apresentadosnum certificadoenergético.<br />
Na figura 1 apresenta-se um exemplo de um certificado<br />
energéticopara um ascensor já existente:<br />
≤<br />
2,80<br />
≤<br />
4,20<br />
><br />
4,20<br />
Classe A B C D E F G<br />
Certificado Energético para Ascensores segundo a norma VDI 4707 (Versão 03-2009)<br />
Número Ascensor:<br />
Tipo de Ascensor:<br />
Descrição:<br />
Local de Instalação:<br />
Cód. Postal<br />
Carga Nominal:<br />
Velocidade:<br />
VN106072<br />
Sem casa de máquinas, suspensão central<br />
Edíficio Douro<br />
Rua da Boavista, 232<br />
4150-322 Porto<br />
630 kg<br />
1,0 m/s<br />
Curso: 15,00 m Dias utilização: 365<br />
Classe de Eficiência Energética (VDI 4707):<br />
Nº Pisos 6 Factor de carga: 0,7<br />
Valores medidos: Potência em stand-by 54,00 W<br />
E<br />
0<br />
Necessidade Energética<br />
de Stand-by (VDI 4707):<br />
Necessidade energética para<br />
uma manobra de referência<br />
seg. VDI 4707:<br />
36,50 Wh 1,3518519<br />
Necessidade Energética<br />
de Manobra (VDI 4707):<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
F<br />
G<br />
0<br />
0<br />
C<br />
0<br />
0<br />
0<br />
≤ 100 W<br />
≤ 1,89 mWh/(m·kg)<br />
(Classe B)<br />
(Classe D)<br />
414 kWh 3357 kWh<br />
Necessidades energéticas anuais nominais de circuitos independentes: 3771 kWh<br />
365<br />
Dias de operação por ano<br />
Intensidade de Utilização:<br />
Tempo médio<br />
de Manobra<br />
(horas por dia):<br />
Categoria de Utilização (VDI 4707) 4 1,518518519 Só é possível comparar classes energéticas dentro da mesma categoria de utilização!<br />
elevada - elevada<br />
Tempo médio<br />
3<br />
(> 2 ... 4,5)<br />
de stand-by<br />
(horas por dia):<br />
21<br />
Tipo de Edifício e de<br />
utilização típica:<br />
Edifício de habitação com mais de 50 apartamentos; Edifício de escritórios<br />
em altura com mais de 10 pisos; Grande Hotel; Hospital de pequena ou<br />
média dimensão; Ascensor de carga integrado no processo produtivo com<br />
um turno<br />
Certificado elaborado em<br />
28-06-2009<br />
Data<br />
por<br />
Nome<br />
Assinatura e carimbo da empresa<br />
Figura 1 – O Certificado Energético<br />
234
ARTIGO TÉCNICO<br />
3. IDENTIFICAÇÃO DE HIPÓTESES DE OPTIMIZAÇÃO<br />
Para se poderem adoptar as diferentes hipóteses de<br />
optimização que são em baixo propostas, ter-se-á de medir o<br />
seu impacto no consumo de energia, bem como determinar<br />
o seu impacto em termos económicos.<br />
3.1 Ascensor em Stand-by<br />
Diz-se no preâmbulo da Directiva Comunitária EuP que<br />
“como princípio geral, o consumo de energia dos produtos<br />
que consomem energia em estado de vigília ou desactivados<br />
deverá ser reduzido ao mínimo necessário para o seu<br />
funcionamentonormal.”<br />
O consumo em stand-by é provocado por vários sistemas do<br />
ascensor:<br />
1. O Comando do Ascensor: mesmo com a máquina<br />
imobilizada, o autómato do ascensor está sempre activo<br />
para poder reagir de imediato a um qualquer comando<br />
do exterior. Paralelamente estará a controlar<br />
continuamente todas as seguranças do ascensor. O(s)<br />
transformador(es) normalmente utilizados têm perdas,<br />
apesar de não haver qualquer solicitaçãodirecta.<br />
Solução: Após análise do padrão de tráfego do ascensor,<br />
desligar durante as “horas mortas”, algumas das funções<br />
do comando, introduzindo um modo sleep. Desta forma,<br />
será possível por exemplo selectivamente desligar alguns<br />
pisos do edifício – solução aplicável por exemplo num<br />
edifício de escritórios, que funciona em pleno apenas<br />
entre as 08.00 horas e as 20.00 horas. Poder-se-á desligar<br />
também algumas das funções de controlo e supervisão<br />
do comando. Ter-se-á, contudo, de admitir um tempo de<br />
reacção maior, quando durante o modo sleep ocorrer<br />
algum comando externo. Quanto aos transformadores,<br />
prevê-se a instalação de fontes de alimentação mais<br />
eficientes, por exemplo através da aplicação de<br />
componentes de electrónica de potência. Ambas as<br />
soluções estão já contempladas na última geração de<br />
comandos electrónicos, modelo Schmitt+Sohn<br />
Microtronic MC10.<br />
2. Os Displays nos patamares: os sinalizadores, com<br />
indicação do piso em que se encontra<br />
momentaneamente o ascensor, bem como as setas de<br />
sinalização estão continuamente com as lâmpadas ou<br />
com os segmentos ligados.<br />
Solução: Recurso a leds para os displays nos patamares e<br />
dentro da cabina, eliminando dessa forma as pequenas<br />
lâmpadas incandescentes. Todos os ascensores<br />
produzidos actualmente pela Schmitt-Elevadores<br />
possuem já esta solução implementada.<br />
3. Painel de botoneira de cabina: situação idêntica à dos<br />
displays nos patamares, porquanto dentro da cabina<br />
também existem sinalizadores com indicação do piso em<br />
que a cabina se encontra no momento<br />
Solução: ver ponto anterior.<br />
4. Variador de frequência: quando o ascensor é dotado de<br />
um sistema de variação de frequência, o variador estará<br />
sempre activo, mesmo quando o ascensor não se<br />
encontraem movimento.<br />
Solução: Após análise do padrão de tráfego do ascensor,<br />
temporizar um período da noite em que o variador de<br />
frequência é colocado em modo sleep. Num prédio de<br />
habitação, este período será tipicamente entre a 1.00<br />
horas e as 6.00 horas da manhã. O variador ficará<br />
durante esse perído em modo “sleep”, sendo reactivado<br />
quando ocorrer um comando externo. O tempo de<br />
reacção do ascensor, perante um comando externo será<br />
maior do que em modo contínuo de utilização.<br />
Consegue-se obter uma poupança de até 50% no<br />
consumo energético provocado pelo variador de<br />
frequência. Este sistema já se encontra implantado em<br />
todos os novos sistemas de elevação da Schmitt-<br />
Elevadores,Lda.<br />
5. Cortina fotoeléctrica ou célula fotoeléctrica: sistema de<br />
protecção dos utentes, instalado na porta de cabina do<br />
ascensor.<br />
235
ARTIGO TÉCNICO<br />
Solução: Desligar o sistema de cortina fotoeléctrica ou<br />
cortina fotoeléctrica quando a porta de cabina se<br />
encontrafechada.<br />
Solução: Temporizar o extractor, isto é, ele só deverá ser<br />
activado quando a cabina iniciar uma manobra e deverá<br />
desligar-se30 segundos após a última manobra.<br />
6. Luz de cabina: em muitos ascensores, principalmente<br />
em ascensores sem porta de cabina, a luz de cabina<br />
encontra-se permanentemente acesa, mesmo quando o<br />
ascensornão se encontra em movimento.<br />
Solução 1: Eliminar a iluminação permanentemente<br />
acesa na cabina. Através de um temporizador, desligar a<br />
iluminação 3 minutos após a última manobra realizada.<br />
Solução 2: Recurso a leds para iluminação da cabina,<br />
substituindo as lâmpadas fluorescentes, incandescentes<br />
ou de halogéneo existentes. Estas lâmpadas led têm o<br />
mesmo formato das lâmpadas de halogéneo ou das<br />
lâmpadas fluorescentes(leds em forma tubolar).<br />
10. Sistema de comunicação bi-direccional: desde 1998,<br />
com a introdução da Directiva Ascensores, é obrigatória<br />
a instalação de um sistema de comunicação bidireccional<br />
entre a cabina do ascensor e uma central de<br />
atendimento permanente, 24 horas por dia, 365 dias<br />
por ano, para todos os ascensores instalados a partir<br />
dessa data.<br />
Solução: dado se tratar de um sistema de segurança,<br />
recomenda-se que o sistema não seja desligado ou<br />
colocado em modo sleep. A poupança energética poderá<br />
ser obtida através da aplicação de sistemas com fontes<br />
de alimentação mais eficientes, o que já está a ocorrer<br />
nos novos sistemas da Schmitt-Elevadores,Lda.<br />
7. Motor da porta de cabina: está constantemente em<br />
carga, para garantir que a porta de cabina se mantém<br />
fechada.<br />
Solução: A porta de patamar manter-se-á fechada,<br />
mesmo que a porta de cabina não esteja em carga. Logo,<br />
poder-se-á desligar o motor da porta de cabina 2<br />
minutos após a última manobra realizada. Desta forma o<br />
motor da porta de cabina deixa de estar<br />
permanentementeem carga e a consumir energia.<br />
8. Sistema de excesso de carga: sistema electrónico que<br />
controla a carga máxima que pode entrar na cabina,<br />
estandocontinuamenteligado.<br />
Solução: Desligar o sistema de excesso de carga 3<br />
minutos após a última manobra;<br />
9. Extractor instalado no tecto da cabina: quando o<br />
ascensor for dotado de um extractor, este poderá estar<br />
continuamenteligado.<br />
236<br />
3.2 Ascensor em movimento<br />
Hipóteses para a redução do consumo de energia com o<br />
ascensorem movimento:<br />
1. Modernização de ascensores existentes, através da<br />
substituição de máquinas com redutor (de 1 ou 2<br />
velocidades) por máquinas sem redutor (geearlss), mas<br />
com controlo por variação de frequência.<br />
2. A aplicação de variadores de velocidade por variação de<br />
frequência em ascensores com sistemas de tracção por<br />
máquinas de 1 ou 2 velocidades permitirá uma redução<br />
(estimada pelos fabricantes de máquinas) de até 30% no<br />
consumo de energia. Paralelamente aumenta-se o<br />
conforto de utilização do ascensor (menores ruídos e<br />
menores vibrações), garante-se uma paragem mais<br />
nivelada ao piso e um menor desgaste mecânico do<br />
ascensor (os arranques e as paragens do ascensor são<br />
muito menos bruscas). Deverá recorrer-se a variadores<br />
de frequência de última geração (VEV – Variadores<br />
Electrónicos Regenerativos), que produzirão menores<br />
perdas.
ARTIGO TÉCNICO<br />
3. Prever sistemas de reinjecção de energia gerada pela<br />
máquina na rede (Recuperaçãode Energia).<br />
Um ascensor ideal deveria reinjectar na rede, em<br />
movimento ascendente, a mesma energia que consumiu<br />
anteriormente à descida (carga mínima e carga máxima,<br />
respectivamente,em ascensoreseléctricos).<br />
A relação energia reinjectada face à energia absorvida<br />
seria então de 1:1. Mas um ascensor real tem perdas<br />
devido à aceleração, à travagem, à paragem, aos atritos e<br />
ao próprio sistema de tracção. Esta energia não é<br />
recuperável. Assim, o grau de recuperação de energia<br />
(relação entre a energia reinjectada durante a viagem<br />
ascendente dividida pela energia necessária para ambas<br />
as manobras – subida e descida) não ultrapassa<br />
normalmente os 50%. Em ascensores de dimensões<br />
reduzidas o grau de recuperação de energia não<br />
ultrapassará os 30%. Logo, só fará sentido (do ponto de<br />
vista económico e energético) a instalação de um<br />
sistema de reinjecção em ascensores de grandes cargas e<br />
que realizem muitas manobras.<br />
4. Recurso a comandos electrónicos, que adaptem o seu<br />
funcionamento a uma melhor gestão do tráfego, por<br />
exemplo, através do funcionamentoem grupo.<br />
Em edifícios de habitação, com dois ou mais ascensores<br />
numa mesma caixa instalados antes dos anos 90,<br />
tipicamente cada ascensor funciona em autonomia.<br />
Através da modernização do comando, mediante a<br />
instalação de um comando electrónico em grupo, será<br />
possível fazer a gestão de funcionamento da bateria.<br />
Desta forma será enviado apenas um ascensor de cada<br />
vez a cada solicitação, colocando-se em movimento o<br />
ascensor que se encontrar mais próximo do local onde<br />
foi enviado o comando externo. A avaliação do padrão<br />
de tráfego poderá ser feita no próprio ascensor ou por<br />
um sistema de gestão de tráfego centralizado no edifício,<br />
quando este tem vários ascensores instalados.<br />
Este sistema de gestão de tráfego disponibilizará então<br />
o(s) ascensor(es) necessário(s), optimizando o número<br />
de manobras a realizar pelos ascensores e distribuindo<br />
os passageiros a transportar pelos diferentes ascensores<br />
existentesno edifício.<br />
3.3 Outras acções<br />
Apresentam-se em seguida outras acções, que embora não<br />
estando relacionadas directamente com o funcionamento do<br />
ascensor, permitirão uma redução do consumo de energia<br />
no edifício e não só especificamenteno ascensor:<br />
1. Instalação de luminárias de baixo consumo na casa de<br />
máquinas do ascensor (quando esta existir);<br />
2. Instalação de luminárias de baixo consumo na caixa do<br />
ascensor;<br />
3. Sistema de arrefecimento da casa de máquinas<br />
controladopor termóstato;<br />
4. Sistema de ventilação forçada da caixa do ascensor<br />
controlado por termóstato, para minimizar as perdas<br />
caloríficas;<br />
5. Instalação de luminárias de baixo consumo nos<br />
patamares, podendo o seu accionamento ser<br />
comandado por sensores de movimento;<br />
4. CONCLUSÕES<br />
4.1 Conclusões Gerais<br />
Em termos gerais é possível extrair as seguintesconclusões:<br />
1. A concepção de ascensores eficientes em termos de<br />
energia contribuirá para um menor impacto ambiental;<br />
2. Para se atingir o objectivo universal de utilização racional<br />
de energia (eléctrica) num edifício, não se deverá<br />
237
ARTIGO TÉCNICO<br />
analisar apenas a eficiência energética, mas também o<br />
balanço energético. Assim, no caso dos ascensores,<br />
dever-se-á ter em conta, para além do período de<br />
operação, também o fabrico e a manutenção dos<br />
mesmos, o fornecimento de matérias-primas, bem como<br />
a sua reciclagem: a análise do ciclo de vida do produto.<br />
3. A norma VDI4707:2009 apenas analisa a eficiência<br />
energética de ascensores. Contudo, para a avaliação da<br />
eficiência energética do sistema “edifício com<br />
ascensor(es)” dever-se-ão considerar ainda outros<br />
critérios (não abrangidos pela referida norma), como por<br />
exemplo as perdas caloríficas através da ventilação<br />
(obrigatória) da caixa do ascensor.<br />
4. Verificou-se que a temática da eficiência energética é<br />
ainda pouco explorada pela indústria de ascensores, seja<br />
através da incorporação nos ascensores das novas<br />
tecnologias já disponíveis em outras aplicações, seja<br />
através da divulgação de informação relevante em<br />
termos do desempenho energético dos equipamentos<br />
comercializados. Existem ainda muito poucos estudos<br />
realizados neste âmbito na Europa, com uma notável<br />
excepção da Suíça que tem vindo a patrocinar, através de<br />
uma organização estatal (a SAFE - Swiss Agency for<br />
Efficient Energy Use), vários estudos sobre a eficiência<br />
energéticade ascensores;<br />
5. Verificam-se diversas barreiras à adopção de ascensores<br />
eficientesem termos energéticos:<br />
a) O Comprador e o utilizador do ascensor não têm<br />
interesses coincidentes: Na grande maioria das<br />
situações, o ascensor não é fornecido directamente<br />
ao cliente final, mas a uma empreiteiro geral que o<br />
incorpora no edifício. Este orienta-se<br />
fundamentalmente pelo preço de aquisição do<br />
ascensor e não pelos custos de energia eléctrica e de<br />
operação que este venha a provocar no futuro, que<br />
será sempre suportado pelo utilizador.<br />
b) Em edifícios existentes, ocorre uma grande<br />
resistência à incorporação de novos componentes<br />
que possam por em causa a operação e a<br />
disponibilidade dos ascensores existentes. Em novos<br />
edifíciosé mais fácil incorporar as novas tecnologias.<br />
Pelo que se recomenda uma sensibilização do cliente<br />
final bem como de projectistas (arquitectos e gabinetes<br />
de engenharia).<br />
Distribuição de consumos em função da<br />
categoria de utilização<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
Standby<br />
Manobra<br />
1<br />
0% 20% 40% 60% 80% 100%<br />
1 2 3 4 5<br />
Manobra 34,8% 44,4% 69,4% 88,4% 88,3%<br />
Standby 65,2% 55,6% 30,6% 11,6% 11,7%<br />
Figura 2 – Distribuição de consumos anuais em função da categoria de utilização<br />
238
ARTIGO TÉCNICO<br />
6. Recomenda-se que o consumo energético dos<br />
ascensores seja considerado também no âmbito do<br />
Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização<br />
dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de<br />
Abril. Dessa forma existiria desde logo uma maior<br />
atenção na fase de projecto por parte dos projectistas<br />
relativamente à aplicação de ascensores eficientes<br />
energeticamente, para que pudessem ver aprovado o<br />
seu projecto.<br />
4.2 Conclusões Específicas<br />
A partir do estudo da amostra de 20 ascensores eléctricos é<br />
possível identificaras seguintes conclusões:<br />
1. O consumo do ascensor em stand-by (estado em que se<br />
encontra o ascensor quando não está em movimento,<br />
ascendente ou descendente), pode variar entre 12% e<br />
65% do consumo total de energia anual do mesmo<br />
ascensor, em função da categoria de utilização do<br />
mesmo.<br />
Do gráfico é possível concluir que quanto menor for a<br />
categoria de utilização, mais relevante se torna o<br />
consumo energético de um ascensor em stand-by ao<br />
longo de um ano, pelo que o investimento a realizar na<br />
melhoria da eficiência energética se deve concentrar em<br />
todas as medidas que possam reduzir o consumo em<br />
stand-by. Assim, para a categoria de utilização 1<br />
(intensidade de utilização muito baixa e frequência de<br />
utilização muito baixa) a que corresponde, por exemplo,<br />
um edifício de habitação (que representará a situação<br />
com o maior número de ascensores instalados em<br />
Portugal), o consumo anual de energia em stand-by<br />
representa 65% do consumo energético total do<br />
ascensor. Por outro lado, quanto maior for a intensidade<br />
de utilização e a frequência de utilização, maior é o<br />
consumo energético durante a manobra. Na categoria de<br />
utilização 5 (correspondente a um grande hospital ou um<br />
grande edifício de escritórios) valerá a pena concentrar<br />
os esforços de investimento em melhorias no<br />
desempenho energético das máquinas de tracção e em<br />
sistemas de reinjecção de energia: o consumo em standby<br />
representa “apenas” cerca de 12% do consumo total.<br />
2. Do total dos 20 ascensores eléctricos estudados apenas 2<br />
apresentam uma classe de eficiência energética “A”. São<br />
precisamente os 2 ascensores que são equipados com<br />
máquinas com redutor, mas com apenas uma velocidade<br />
e sem velocidade variável por variação de frequência.<br />
Estando numa categoria de utilização “1”, ambos os<br />
ascensores têm um baixo consumo de stand-by. Contudo<br />
do ponto de vista do conforto, da segurança – devido ao<br />
facto de terem uma máquina com apenas uma<br />
velocidade, não se consegue uma paragem nivelada ao<br />
piso, havendo normalmente um degrau à saída da cabina<br />
– do ruído (actuação dos contactores e dos travões) e do<br />
desgaste do material recomendar-se-ia a substituição da<br />
máquina e a aplicação de um sistema de variação de<br />
velocidadepor variação de frequência.<br />
3. Do estudo realizado, pode-se concluir ainda que é muito<br />
difícil, se não impossível, atingir a classe de eficiência<br />
energética “A”, em ascensores com categorias de<br />
utilização de 1 a 3. Para as categorias mais elevadas só se<br />
conseguirá atingir a classe de eficiência energética “A”,<br />
recorrendo a um sistema de reinjecção de energia.<br />
4. Para além da avaliação da optimização energética deverá<br />
ser realizada também a avaliação económica. Para a<br />
grande maioria das situações estudadas o investimento<br />
só se amortiza passados mais de 5 anos, pelo que a<br />
realização desse investimento fará sentido quando se<br />
pretender modernizar o equipamento (por fadiga dos<br />
materiais, por exemplo) ou como forma de aumentar o<br />
conforto, a segurança e diminuir o ruído e o desgaste do<br />
ascensor, ou por alguma imposição legal.<br />
5. Estima-se que em Portugal, dos cerca de 120.000<br />
ascensores instalados, cerca de 90% ainda foram<br />
instalados com tecnologias menos eficientes do ponto de<br />
vista energético, pelo que existe um grande potencial de<br />
poupançano consumo de energia eléctrica.<br />
239
ARTIGO TÉCNICO<br />
6. Os resultados obtidos poderão contribuir para a<br />
formação de um critério de qualidade para ascensores e<br />
para a sua operação, e dessa forma para uma gestão<br />
sustentável.<br />
5. BIBLIOGRAFIA<br />
[1] ALMEIDA, Aníbal, PATRÃO, Carlos, FONSECA, Paula,<br />
MOURA, Pedro – Manual de boas práticas de eficiência<br />
energética. Lisboa, ISR – Departamento de Engenharia<br />
Electrotécnica e de Computadores Universidade de<br />
Coimbra e BCSD Portugal – Conselho Empresarial para<br />
o Desenvolvimento Sustentável, 2005.<br />
[2] BARNEY, Gina – Elevator Traffic Handbook – Theory<br />
and Practice. Nova Iorque, Spon Press, 2003. ISBN 0-<br />
415-27476-I.<br />
[3] BOLLA, Mario – Verbesserung der Energieeffizienz von<br />
Aufzügen und Förderanlagen durch Entwicklung eines<br />
Neuartigen Frequenzumformers – Jahresbericht 2007.<br />
Seftigen, Bundesamt für Energie, Suiça, 2007.<br />
[4] CASTANHEIRA, Luís; BORGES GOUVEIA, Joaquim –<br />
Energia, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.<br />
Porto, Spi – Sociedade Portuguesa de Inovação, 2004.<br />
ISBN 972-8589-45-X.<br />
[5] CÓIAS, Vítor; FERNANDES, Susana – Reabilitação<br />
Energética dos Edifícios: Porquê? Oz – Diagnóstico<br />
Levantamento e Controlo de Qualidade em Estruturas<br />
e Fundações, Lda, 2006.<br />
[6] KÜNTSCHER, Dietmar – Energiesparende<br />
Aufzugsysteme– Lift-Report nº2 – Ano 32, 2006.<br />
[7] FITZGERALD, A.; KINGSLEY, Charles; UMANS, Stephen –<br />
Electric Machinery. Nova Iorque, McGraw Hill, 2003.<br />
ISBN 0-07-123010-6.<br />
[8] FRANCHI, C. – Acionamentos Eléctricos. Editora Érica,<br />
Ltda, 2007. ISBN 978-85-365-0149-9.<br />
[9] GAMBOA, José – Ascensores e Elevadores. Lisboa, Rei<br />
dos Livros, 2005. ISBN 972-51-1007-2.<br />
[10] JANOVSKY, Lumomír – Elevator Mechanical Design. 3ª<br />
Edição. Mobile USA, Elevator World, Inc., 1999. ISBN 1-<br />
886-536-26-0.<br />
240
ARTIGO TÉCNICO<br />
José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco<br />
Schmitt - Elevadores<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
OPTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA EM NOVOS ASCENSORES<br />
1 ENQUADRAMENTO<br />
De acordo com um estudo da S.A.F.E – “Agência Suíça para a<br />
Utilização Eficiente da Energia”, realizado em 2005, os<br />
ascensores podem representar uma parte significativa do<br />
consumo de energia num edifício (o consumo energético de<br />
um ascensor poder representar em média 5% do consumo<br />
total de energia de um edifício de escritórios). Na Suíça<br />
estima-se que o somatório do consumo de energia dos cerca<br />
de 150.000 ascensores instalados represente cerca de 0,5%<br />
do total de 280 GWh de consumo energético do país.<br />
A redução do consumo de energia nos edifícios poderá ser<br />
obtida através da melhoria das características construtivas,<br />
reduzindo dessa forma as necessidades energéticas, através<br />
de medidas de gestão da procura, no sentido de reduzir os<br />
consumos na utilização e através do recurso a equipamentos<br />
energeticamentemais eficientes.<br />
No preâmbulo da Directiva 2005/32/CE de 06 de Julho de<br />
2005 – “EuP – Energy Using Products” (Requisitos de<br />
concepção ecológica dos produtos que consomem energia) 1<br />
refere-se que “a melhoria da eficiência energética – de que<br />
uma das opções disponíveis consiste na utilização final mais<br />
eficiente da electricidade – é considerada um contributo<br />
importante para a realização dos objectivos de redução das<br />
emissõesde gases com efeito de estufa na Comunidade.”<br />
Daí que seja importante estudar também a optimização<br />
energéticaem novos ascensores.<br />
2 DESENVOLVIMENTO DO MODELO EM MATLAB-SIMULINK<br />
De acordo com a Directiva 2005/32/CE de 06 de Julho acima<br />
referida, “deverá actuar-se na fase de concepção do<br />
produto, já que é aí que a poluição originada no seu ciclo de<br />
vida é determinada e que a maior parte dos custos surgem”.<br />
Para o estudo de optimização energética<br />
na fase de<br />
desenvolvimento de novos ascensores desenvolveu-se um<br />
modelo de simulação que permitiu analisar diversos cenários<br />
e apresentar soluções a ter em conta na fase de definição de<br />
um novo ascensor.<br />
2.1 FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE ACCIONAMENTO<br />
ELECTROMECÂNICO E A SUA MODELIZAÇÃO<br />
Segundo Palma (2008) as partes móveis dos accionamentos<br />
envolvem quase sempre fenómenos complexos, quer pela<br />
multiplicidade dos seus detalhes, quer pela sua própria<br />
natureza, muitas vezes, não linear.<br />
Contudo, como o objectivo da modelação é a utilização em<br />
sistemas de controlo onde intervêm diversos outros<br />
subsistemas, com destaque para os eléctricos, os<br />
electrónicos e os mecânicos, procuram-se modelos<br />
matemáticos tão simples quanto possível para cada um<br />
deles.<br />
Para muitos dos sistemas electromecânicos que se pretende<br />
modelizar pode-se considerar simplificadamente a seguinte<br />
equação de comportamento dinâmico, baseada na lei<br />
fundamental da dinâmica para um sistema rotativo:<br />
Tm − Tr<br />
=<br />
dw<br />
J<br />
dt<br />
Onde T m representa o binário motor (expresso em Nm), T r o<br />
binário resistente (expresso em Nm), J o momento de inércia<br />
do sistema (expresso em kgm 2 dw<br />
) e a aceleração angular<br />
dt<br />
(rad.s- 2 ).<br />
O momento de inércia será calculado a partir de:<br />
[2]<br />
dω dω dω<br />
T.<br />
ω = F ⋅v ⇔ J ω = m ⋅a ⋅v ⇔ J ω = m ⋅ r ⋅ω<br />
⋅r<br />
dt dt dt<br />
⇔ J = m⋅<br />
r<br />
2<br />
(1)<br />
(2)<br />
1<br />
Esta directiva cria um quadro de definição dos requisitos comunitários de concepção ecológica dos produtos consumidores de energia com o<br />
objectivo de garantir a livre circulação destes produtos nos mercado interno. Prevê ainda a definição de requisitos a observar pelos produtos<br />
consumidores de energia abrangidos por medidas de execução, com vista à sua colocação no mercado e/ou colocação em serviço. Contribui<br />
para o desenvolvimento sustentável, na medida em que aumenta a eficiência energética e o nível de protecção do ambiente, e permite ao<br />
mesmo tempo aumentar a segurança do fornecimento de energia<br />
241
ARTIGO TÉCNICO<br />
Onde m representa a massa suportada pela roda de tracção<br />
e r o raio da roda de tracção da máquina.<br />
A potência mecânica do sistema será obtida a partir de:<br />
F ⋅v<br />
P = F ⋅ v = T ⋅ω<br />
⇒ T =<br />
(3)<br />
ω<br />
Sendo a velocidade linear v, dada por:<br />
v = ω ⋅ r<br />
(4)<br />
Como sob o ponto de vista electrotécnico todo o sistema de<br />
accionamento electromecânico está subordinado ao motor<br />
eléctrico ter-se-á de reduzir as diferentes grandezas<br />
mecânicas envolvidas ao eixo motor. Nessa redução utilizase<br />
o Princípio da Conservação da Energia.<br />
A energia cinética é dada por:<br />
1 Ec = Jω<br />
2<br />
2<br />
(5)<br />
Entãopara o todo o sistema será válida a seguinte relação:<br />
1 2 1 2 2 2<br />
Ec 1 = Ec2<br />
⇒ J1ω1<br />
= J 2ω2<br />
⇔ J1ω1<br />
= J 2 ω 2 (6)<br />
2 2<br />
As equações [1] a [6] foram então transpostas para o modelo<br />
em Matlab-Simulink.<br />
Apresenta-se na figura 1 o modelo de base do ascensor<br />
eléctricocom roda de aderência e máquina com redutor.<br />
Ainda segundo Palma (2008), um sistema de accionamento<br />
electromecânico de velocidade variável, que permite o<br />
ajuste de velocidade, de posição ou de binário, dentro de<br />
certas gamas de variação, é constituído por diversos<br />
componentes:<br />
1. Fonte de energia eléctrica;<br />
2. Conversor estático de potência;<br />
3. Máquina eléctrica, incluindo a transmissão;<br />
4. Sistema mecânico movido, ou carga;<br />
5. Órgãos electrónicos de controlo e de comando do<br />
conversor.<br />
2.2 O MODELO DO ASCENSOR EM MATLAB-SIMULINK<br />
Na concepção do modelo simulink separou-se cada um dos<br />
componentes do sistema, eléctrico e mecânico (elevador),<br />
para uma maior facilidade de parametrização e<br />
interpretação de resultados, conforme as figuras 2 e 3.<br />
Foram ainda concentrados todos os outputs das grandezas<br />
mecânicas consideradas, num mesmo bloco (caixa redutora),<br />
que simula o acoplamento mecânico com o motor eléctrico.<br />
As grandezas eléctricas de monitorização são retiradas do<br />
próprio bloco variador/motor (AC2).<br />
Desta forma, o modelo foi dividido em três blocos principais<br />
– Bloco Mecânico, Bloco Eléctrico e Blocos de medições de<br />
grandezas eléctricas e mecânicas -, que por sua vez se<br />
subdividem em outros blocos secundários, conforme a<br />
seguir se descreve.<br />
Figura 1 – Modelo de base do ascensor eléctrico com roda de aderência e máquina com redutor<br />
242
ARTIGO TÉCNICO<br />
Figura 2 – Diagrama geral de blocos do ascensor com variação de velocidade PWM<br />
Figura 3 – Diagrama geral de blocos do ascensor – Arranque directo<br />
243
ARTIGO TÉCNICO<br />
Figura 4 – Diagrama geral de blocos do ascensor – Modelo mecânico<br />
2.2.1 BLOCO MECÂNICO (ASCENSOR)<br />
O bloco mecânico foi dividido em três sub-blocos,<br />
correspondentes a cada um dos componentes mecânicos do<br />
sistema:<br />
1. A cabine do ascensor;<br />
2. A roda de tracção;<br />
3. A caixa redutora.<br />
Na janela de parametrização da cabine do ascensor são<br />
introduzidas as massas do conjunto cabine/contrapeso. O<br />
bloco simulink faz a soma das massas da carga e da cabine e<br />
finalmente subtrai a massa do contrapeso 2 . Se o resultado<br />
for positivo o sistema vai criar um binário resistente positivo<br />
na subida da cabine e negativo na descida da mesma,<br />
conforme tabela 1. Considerou-se ainda o rendimento da<br />
cabine, que representa as perdas por atrito das roçadeiras da<br />
cabina nas guias, eventuais oscilaçõesdos cabos, etc.<br />
2.2.1.1 CABINE DO ASCENSOR<br />
A cabina do ascensor pode ser modelizada a partir do<br />
seguinteconjunto de sub-blocos:<br />
Figura 5 – Diagrama de blocos Simulink da cabine<br />
Figura 6 – Janela de parametrização da cabine/contrapeso<br />
2<br />
É prática na indústria de ascensores que o contrapeso seja dimensionado para contrabalançar a massa da cabina + 50% da carga nominal da<br />
cabina. Assim, para uma cabina com uma carga útil de 630 kg e um peso próprio de 850 kg, o contrapeso terá de ter uma massa de 1165 kg.<br />
Procurar-se-á através de uma análise de cenários verificar se esta é a solução óptima em termos de consumo energético.<br />
244
ARTIGO TÉCNICO<br />
Tabela 1 – Sentido do binário resistente em função do movimento da cabine e das massas<br />
Binário Resistente<br />
Movimento da Cabine<br />
(Carga+Cabine) > Contrapeso<br />
Massas (kg)<br />
(Carga+Cabine) < Contrapeso<br />
Subida positivo negativo<br />
Descida negativo positivo<br />
O output deste bloco será a massa resultante do sistema<br />
cabine/contrapeso responsável pela força vertical do sistema<br />
(peso), que poderá ser positiva ou negativa e será um dos<br />
inputs do bloco da roda de tracção.<br />
2.2.1.2 RODA DE TRACÇÃO<br />
A roda de tracção da máquina elevadora pode ser<br />
modelizada a partir do conjunto de sub-blocos indicados na<br />
figura 7.<br />
Na janela de parametrização, são introduzidos os dados<br />
relativos à roda de tracção, nomeadamente o momento de<br />
inércia, o rendimento e o raio da roda de tracção.<br />
Como já foi dito anteriormente, outro dos inputs é a massa<br />
resultante do sistema cabine/contrapeso, responsável por<br />
parte do momento de inércia do sistema que influenciará o<br />
binário transitório (arranques/paragens) e pelo binário<br />
permanente, quando a cabina atinge a velocidade nominal.<br />
No bloco simulink da roda de tracção será calculado o binário<br />
resistente permanente referido ao seu eixo, bem como o<br />
momento de inércia resultante da carga total do sistema<br />
cabine/contrapeso, sendo este referido também ao mesmo<br />
eixo. Estas duas grandezas associadas ao rendimento da roda<br />
de tracção e ao seu raio, integrarão um bus de dados de<br />
output, que será um dos inputs do bloco da caixa redutora.<br />
Figura 7 - Diagrama de blocos Simulink da roda de tracção<br />
245
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.2.1.3 CAIXA REDUTORA<br />
Figura 8 – Janela de parametrização da roda de tracção<br />
A caixa redutora da máquina elevadora pode ser modelizada<br />
a partir do conjunto de sub-blocos, indicados na figura 9,<br />
para a situação de variação de velocidade e arranque<br />
directo.<br />
Na modelização do arranque directo, o motor roda sempre<br />
no mesmo sentido de tal forma que para distinguir a subida<br />
da descida da cabine, foi necessário implementar algumas<br />
modificações para que o bloco identificasse ambas as<br />
situações,conforme indicado na figura 10.<br />
Figura 9 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora com variador de velocidade<br />
Figura 6 – Janela de parametrização da cabine/contrapeso<br />
246<br />
Figura 10 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora para o arranque directo
ARTIGO TÉCNICO<br />
O input de dados do bloco simulink da caixa redutora dividese<br />
pelo bus de dados proveniente da roda de tracção, pelos<br />
parâmetros introduzidos pelo utilizador, tais como o<br />
momento de inércia, rendimento e a relação da caixa<br />
redutora e finalmente pela velocidade de rotação (rad/s) no<br />
veio do motor (rotação efectiva do motor) e pelo Setpoint de<br />
velocidade. A velocidade de rotação vai permitir o cálculo do<br />
binário transitório, bem como a potência solicitada e a<br />
velocidadelinear da cabine.<br />
De referir ainda que o Setpoint de velocidade neste bloco<br />
tem uma actuação indirecta, permitindo unicamente definir<br />
o sentido do binário resistente. Os outputs deste bloco são o<br />
binário resistente, referido ao veio do motor, que será o<br />
input mecânico do motor de indução, que por sua vez vai<br />
gerar a velocidade de rotação que serve de input ao mesmo<br />
bloco. São ainda outputs, a potência solicitada pelo sistema e<br />
a velocidade linear da cabine, sendo estas duas grandezas só<br />
para monitorização, não tendo por isso qualquer<br />
interferênciacom o sistema.<br />
quer à descida. Pretende-se simular uma viagem completa<br />
da cabina 3 .<br />
O Tempo de arranque/paragem foi definido com o sendo de<br />
um segundo.<br />
Figura 12 – Setpoint de velocidade do motor com variação de<br />
velocidade<br />
2.2.2 BLOCO ELÉCTRICO<br />
Estebloco é constituídopor dois sub-blocos:<br />
2.2.2.1 FONTE DE ALIMENTAÇÃO<br />
Este bloco estabelece as condições da rede eléctrica (400V<br />
AC 50Hz), conforme os parâmetros introduzidos na janela de<br />
parametrização.<br />
Figura 11 – Janela de parametrização da caixa redutora<br />
2.2.1.4 SETPOINT DE VELOCIDADE DO MOTOR<br />
Através desta função define-se a curva de aceleração,<br />
desaceleraçãoe velocidade nominal da carga, quer à subida<br />
Figura 13 – Janela de parametrização da fonte de alimentação<br />
(input de dados pelo utilizador)<br />
3<br />
Viagem com a cabina em vazio, em sentido descendente e ascendente, vencendo todo o curso, isto é, a cabina deve ser movimentada entre os<br />
pisos extremos do edifício.<br />
247
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.2.2.2 BLOCO SIMULINK AC2<br />
O bloco AC2 incorpora dois equipamentos, o variador de<br />
frequência e o motor de indução e ainda inputs e outputs,<br />
que servem para controlar e monitorizar o sistema.<br />
Relativamente aos inputs de controle, faz-se referência ao<br />
Setpoint de velocidade que foi já indicado na figura 12, que<br />
vai servir de base à aceleração/desaceleração do sistema,<br />
bem como à sua velocidade permanente e ainda o binário<br />
resistente, gerado pelo sistema mecânico (output da caixa<br />
redutora).<br />
O bloco AC2 permite ainda escolher o input mecânico, que<br />
poderia ser a velocidade de rotação ou binário resistente.<br />
Optou-se por adoptar o binário resistente como input<br />
mecânico. Como num elevador a velocidade é imposta, o<br />
que vai variar no sistema é o binário resistente que depende<br />
da carga total e poderá variar em cada viagem do elevador.<br />
O bloco AC2 vai gerar a velocidade de rotação que serve de<br />
input ao bloco da caixa redutora, que é velocidade real do<br />
sistema. A velocidade real depende de todas as grandezas<br />
mecânicas e eléctricas do sistema, bem como do Setpoint de<br />
velocidade. Existem ainda vários outputs de controlo ou<br />
meramente indicativos e para monitorizaçãodo sistema.<br />
Na janela de parametrização do motor assíncrono, são<br />
introduzidos todos os dados que caracterizam a máquina,<br />
eléctricos e mecânicos. Foram considerados os parâmetros<br />
recolhidosdo ascensor real estudado.<br />
Figura 14 – Janela de parametrização do motor de indução trifásico<br />
248
ARTIGO TÉCNICO<br />
Na janela de parametrização do conversor e<br />
barramento DC, indicada na figura 15, faz-se especial<br />
referência à capacidade do barramento que é a<br />
responsável pelo filtro dos harmónicos e consequente<br />
estabilização de correntes, e à frequência de<br />
comutaçãodo chopper.<br />
Quanto mais elevada for esta frequência de<br />
comutação, mais precisa será a onda gerada pelo<br />
conversor e consequente maior será a estabilidade<br />
mecânica do sistema.<br />
No bloco de parametrização do controlador, indicado<br />
na figura 16, será definida a forma como irá actuar o<br />
variador no motor, ou seja, a rapidez de resposta a<br />
alterações de velocidade provocadas pelo binário<br />
resistente e Setpoint de velocidade. De referir o<br />
controlador PI, a tensão no barramento DC, a<br />
aceleração e a desaceleração do motor, os limites de<br />
output de frequência e a relação tensão/frequência.<br />
Figura 16 – Janela de parametrização do controlador do sistema<br />
variador/motor<br />
2.2.3 BLOCOS DE MEDIÇÕES DE GRANDEZAS ELÉCTRICAS E<br />
MECÂNICAS<br />
Figura 15 – Janela de parametrização do conversor e barramento DC<br />
Para efectuar medições aplicaram-se blocos do tipo<br />
scope (visualização de outputs) na caixa redutora,<br />
com os seguintesagrupamentos de variáveis:<br />
SCOPE 1<br />
- Velocidadelinear da cabine (m/s)<br />
SCOPE 2<br />
- Binário resistente / binário electromagnético<br />
(N.m)<br />
- Binário transitório (arranque/paragem do<br />
sistema) (N.m)<br />
- Potênciado sistema mecânico (W)<br />
SCOPE 3<br />
- Corrente no estátor (A)<br />
- Velocidadeparametrizada/real (rpm)<br />
- Binário electromagnético(N.m)<br />
SCOPE 4<br />
- Corrente RMS absorvida pelo conjunto<br />
variador/motor/sistemamecânico (A)<br />
249
ARTIGO TÉCNICO<br />
3 VALIDAÇÃO DO SIMULADOR<br />
O ascensor que serviu de base para a modelização em<br />
Simulink e para as respectivas medições, é o ascensor<br />
número 3 de uma bateria dupla de ascensores produzidos e<br />
instalados em 2007 no Alfena Trade Center, em Alfena –<br />
Ermesinde.<br />
O ascensor seleccionado é um ascensor eléctrico com roda<br />
de aderência, com casa de máquinas em cima na vertical,<br />
sobre a caixa. A escolha deste tipo de ascensor resulta da lei<br />
actualmente em vigor (DL 163/2006 de 08.08), que<br />
determina que os ascensores a instalar tenham de ser<br />
dimensionados para uma carga de pelo menos 630 kg / 8<br />
pessoas, por forma a garantir o acesso a pessoas com<br />
mobilidade reduzida (resulta da imposição das dimensões da<br />
cabina que deverá ter no mínimo uma largura de 1,1 m e<br />
uma profundidade de 1,4 m).<br />
Os dados medidos e os simulados vão de encontro às<br />
mesmas conclusões, com a excepção do modo de frenagem<br />
do motor, dado que nas medições não se verifica a<br />
reinjecção de energia na rede (uma vez que o variador de<br />
frequênciautilizado na realidade não o permite).<br />
4 HIPÓTESES DE OPTIMIZAÇÃO<br />
4.1 NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS ASCENSORES:<br />
1. Aplicação de soluções construtivas mecânicas que<br />
permitam reduzir o consumo de energia:<br />
a. Cabinas suspensas ao centro da cabina, pois reduzem o<br />
atrito gerado sobre as guias. De acordo com um artigo<br />
publicado por Küntscher em 2006, intitulado “Sistemas<br />
de Ascensores que poupam energia” em que se<br />
comparam diferentes soluções de tracção, será possível<br />
fazer a seguinte avaliação energética de ascensores:<br />
i. Para ascensores com máquina com redutor e<br />
suspensão lateral, o rendimento da caixa do ascensor<br />
será de aproximadamente 70% e o rendimento da<br />
máquina (motor + redutor) também será de<br />
aproximadamente 70%, pelo que o rendimento<br />
global do sistema será de aproximadamente 50%;<br />
ii. Para ascensores com máquina sem redutor e<br />
suspensão central, o rendimento da caixa do<br />
ascensor será de aproximadamente 85% e o<br />
rendimento da máquina (apenas motor) será de<br />
aproximadamente 100%, pelo que o rendimento<br />
global do sistema será de aproximadamente 85%;<br />
Conclusão: O ascensor com suspensão central (e com<br />
máquina gearless só consome 60% da energia (quociente<br />
entre 0,5/0,85) do ascensor com suspensão lateral;<br />
b. Recurso a roçadeiras ou rodas que gerem menos atrito<br />
nas guias;<br />
c. Recurso a cabinas executadas em materiais mais leves,<br />
isto é, cabinas menos pesadas, que implicarão<br />
contrapesoscom menor massa;<br />
d. Recurso a um número reduzido de rodas de desvio. Cada<br />
uma destas deverá ter uma baixa inércia;<br />
2. Optimização do peso do contrapeso. De acordo com<br />
dados da indústria, o grau de ocupação normal médio da<br />
cabina representa apenas 20% da carga nominal.<br />
Contudo, os contrapesos estão dimensionados para uma<br />
ocupação média da cabina de 50% da carga nominal.<br />
Uma optimização para cargas mais pequenas, levaria a<br />
um melhor balanceamento, e logo a uma poupança da<br />
energia necessária;<br />
3. Recurso a máquinas gearless (sem redutor) ou então a<br />
máquinas de indução com elevado rendimento;<br />
4. Aplicação do motor linear. Contudo, o estado da arte<br />
ainda não corresponde actualmente aos graus de<br />
exigência em termos de segurança e perfomance<br />
pretendidos;<br />
5. Aplicação de um sistema de reinjecção de energia. Para<br />
além da redução do consumo energético directo, este<br />
sistema reduz a emissão de calor para a casa de<br />
máquinas (elimina-se a energia calorífica libertada na<br />
resistência regenerativa) reduzindo os custos com a<br />
instalação de um sistema de climatização da casa de<br />
máquinas;<br />
250
ARTIGO TÉCNICO<br />
6. Utilização de cabos de suspensão com diâmetros<br />
inferiores, bem como formas de gornes nas rodas de<br />
tracção que possibilitem a sua aplicação. Esta solução<br />
permite a aplicação de diâmetros de rodas de tensão<br />
menores, que requerem momentos menores (mas<br />
motores com um número de rotações mais elevado);<br />
7. Instalação de ascensores com uma carga nominal<br />
inferior, naturalmente tendo em atenção as imposições<br />
legais: a NP EN 81-70:2003 indica que um ascensor de<br />
450 kg é adequado para o transporte de pessoas em<br />
cadeiras de rodas. Contudo o Decreto-Lei 163/2006<br />
obriga à instalação de ascensores com um mínimo de<br />
630 kg;<br />
8. Recurso a velocidades nominais inferiores: v=0,4 a 0,63<br />
m/s. Muitas das vezes, principalmente em edifícios de<br />
habitação com um número de pisos reduzido, os<br />
ascensores têm velocidades de 1,0 m/s, o que implica a<br />
instalação de máquinas mais potentes, quando uma<br />
velocidadeinferior seria mais do que suficiente;<br />
9. Verificação contínua da qualidade da montagem,<br />
nomeadamente a colocação das guias – evitar<br />
desaprumos e prisões nas guias, bem como a<br />
parametrização do variador de frequência e optimização<br />
das curvas de andamento;<br />
4.2 DIMENSIONAMENTO E PROJECTO DE EDIFÍCIOS<br />
Também será possível intervir na fase de projecto de novos<br />
edifícios, apresentando informações sobre os consumos<br />
energéticosde ascensores aos projectistas.<br />
Actualmente a escolha do tipo (essencialmente o sistema de<br />
tracção, a carga nominal e a velocidade) e da quantidade de<br />
ascensores para um dado edifício é feita por recurso a<br />
modernos programas de cálculo de tráfego, que se baseiam<br />
em critérios de qualidade de serviço que se pretende<br />
garantir.<br />
De acordo, por exemplo, com a Norma Portuguesa NP4267 –<br />
“Critérios de escolha de ascensores a instalar em edifícios<br />
não destinados a habitação”, deverão ser utilizados os<br />
seguintes parâmetros (que serão calculados através de<br />
modelos matemáticos igualmente definidos na mesma<br />
norma) para a aferição dos critérios de qualidade de serviço:<br />
- A duração máxima do percurso teórico (TD), ou seja o<br />
tempo de percurso teórico entre pisos extremos.<br />
- O Intervalo máximo no piso principal (I), ou seja, o<br />
tempo médio entre as partidas sucessivas da mesma<br />
cabina do piso principal;<br />
- A capacidade de transporte (C5), que representa a<br />
percentagem da população do edifício acima do piso<br />
principal que pode ser transportada em 5 minutos pela<br />
bateria de ascensores;<br />
10. Instalação de sistemas centralizados de gestão de tráfego<br />
informatizados que realizem uma avaliação automática<br />
do padrão de tráfego. Este sistema de gestão de tráfego<br />
disponibilizará então o(s) ascensor(es) necessário(s),<br />
optimizando o número de manobras a realizar pelos<br />
ascensores e distribuindo os passageiros a transportar<br />
pelos diferentes ascensoresexistentes no edifício.<br />
11. Incorporar o Estado da Arte de Componentes analisados<br />
no artigo anterior sobre optimização energética de<br />
ascensores<br />
o projectista dimensiona, então os ascensores em função<br />
dos valores obtidos pelo cálculo, por comparação com<br />
critérios tabelados (por exemplo a TD deverá ser de 20<br />
segundos, no máximo, para que a qualidade do serviço possa<br />
ser considerada excelente), sem ter em conta a eficiência<br />
energéticados mesmos.<br />
Perante a instalação cada vez maior de ascensores, mesmo<br />
em edifícios com baixo número de pisos (para facilitar a<br />
mobilidade de pessoas com mobilidade reduzida), dever-seá<br />
ter um cuidado especial no seu planeamento (projecto),<br />
para se obter uma boa solução, quer do ponto de vista<br />
técnico, legal 4 e económico, quer do ponto de vista<br />
energético.<br />
251
ARTIGO TÉCNICO<br />
A partir do simulador apresentado também no artigo<br />
anterior, deverá ser possível obter informação sobre os<br />
consumos energéticos das diferentes soluções estudadas e<br />
incorporá-las nos estudos de tráfego a realizar. Igualmente<br />
deverão ser elaboradas tabelas com informação sobre o<br />
desempenho energético das diferentes soluções oferecidas,<br />
que deverão ser disponibilizadasaos projectistas.<br />
5 RESULTADOS<br />
1. Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o<br />
consumo energético<br />
Para a verificação do impacto de diferentes massas do<br />
contrapeso sobre o consumo energético estudaram-se 3<br />
cenários:<br />
a. cenário ideal - 100% da energia é reinjectada;<br />
b. cenário real - 30% da energia é reinjectada;<br />
c. cenário real - não existe reinjecção.<br />
Tomou-se como base o ascensor de 630 kg a que<br />
corresponde uma cabina com 850 kg de peso e um<br />
contrapeso com 1165 kg. Utilizou-se a manobra de<br />
referênciaindicada na norma VDI 4707.<br />
A solução óptima da massa do contrapeso ocorre, para todos<br />
os cenários considerados, aos 910 kg (ou seja quando o<br />
contrapeso assume um peso de 78% de 1165 kg, que é a<br />
soluçãoinicialmente estudada).<br />
Os 910 kg correspondem à situação em que não há consumo<br />
de energia à subida na manobra com a cabina vazia 5 .<br />
Para cenários com e sem reinjecção de energia, a eficiência<br />
torna-se efectiva para massas do contrapeso superiores a<br />
73% e inferiores a 100% da massa do contrapeso de<br />
referência.<br />
A melhor solução ocorre quando o contrapeso pesa 910 kg.<br />
Contudo, esta solução implicará a aplicação de uma máquina<br />
mais potente do que a que seria necessária na solução base<br />
(1165 kg).<br />
Se fosse possível reaproveitar toda a energia nas manobras<br />
que o permitem, o contrapeso poderia assumir qualquer<br />
massa acima dos 50% (ou seja 582,5 kg). Para este cenário a<br />
solução óptima passaria por um contrapeso com uma massa<br />
de 1165 kg, porque implicaria uma máquina de menor<br />
potência.<br />
Se fosse possível reaproveitar toda a energia nas manobras<br />
que o permitem, o contrapeso poderia assumir qualquer<br />
massa acima dos 50% (ou seja 582,5 kg).<br />
Para este cenário a solução óptima passaria por um<br />
contrapeso com uma massa de 1165 kg, porque implicaria<br />
uma máquina de menor potência.<br />
Tabela 2 - Resultados: Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o consumo energético<br />
Carga<br />
Massa %<br />
Contrapeso 0% Contrapeso 25% Contrapeso 50% Contrapeso 68% (a)<br />
Energia da Manobra de Referência em Função da Massa do Contrapeso<br />
Contrapeso=Cabine<br />
73%<br />
Contrapeso 75%<br />
0kg 291,25kg 582,5kg 790kg 850kg 873,75kg 910kg<br />
Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida<br />
0,0 kg 0% 34,16 Wh -28,41 Wh 23,10 Wh -18,10 Wh 12,17 Wh -7,58 Wh 4,55 Wh 0,00 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 1,35 Wh 3,11 Wh 0,00 Wh 4,45 Wh -7,02 Wh 11,59 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh<br />
157,5 kg 25% 40,20 Wh -33,81 Wh 29,06 Wh -23,71 Wh 18,06 Wh -13,29 Wh 10,30 Wh -5,76 Wh 8,07 Wh -0,57 Wh 7,19 Wh -2,70 Wh 5,84 Wh -1,37 Wh -1,26 Wh 5,73 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh<br />
315,0 kg 50% 46,28 Wh -34,64 Wh 35,06 Wh -29,24 Wh 24,00 Wh -18,95 Wh 16,19 Wh -11,49 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh 13,05 Wh -8,45 Wh 11,70 Wh -7,13 Wh 4,56 Wh -0,10 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh<br />
472,5 kg 75% 52,40 Wh -39,29 Wh 41,11 Wh -34,58 Wh 29,96 Wh -24,55 Wh 22,10 Wh -17,16 Wh 19,85 Wh -15,00 Wh 18,96 Wh -14,15 Wh 17,59 Wh -12,84 Wh 10,41 Wh -5,87 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh<br />
630,0 kg 100% 58,57 Wh -50,72 Wh 47,20 Wh -34,28 Wh 35,97 Wh -30,07 Wh 28,07 Wh -22,78 Wh 25,79 Wh -20,65 Wh 24,89 Wh -19,80 Wh 23,52 Wh -18,50 Wh 16,30 Wh -11,59 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh<br />
Média ponderada 39,008 Wh -31,741 Wh 27,885 Wh -22,545 Wh 16,899 Wh -12,129 Wh 9,195 Wh -4,593 Wh 6,914 Wh -1,487 Wh 6,031 Wh -1,514 Wh 4,681 Wh -0,181 Wh -2,389 Wh 6,917 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh<br />
VDI 4707<br />
Ideal - 100%<br />
Reinjecção<br />
7,267 Wh 5,340 Wh 4,770 Wh 4,601 Wh 5,428 Wh 4,517 Wh 4,500 Wh 4,528 Wh 4,562 Wh<br />
159,31% 117,06% 104,57% 100,87% 118,98% 99,02% 98,65% 99,27%<br />
100,00%<br />
30% Reinjecção 29,486 Wh 21,122 Wh 13,260 Wh 7,817 Wh 6,468 Wh 5,577 Wh 4,627 Wh 6,201 Wh<br />
375,69% 269,12% 168,96% 99,59% 82,42% 71,06% 58,95% 79,00% 100,00%<br />
Sem Reinjecção 39,008 Wh 27,885 Wh 16,899 Wh 9,195 Wh 6,914 Wh 6,031 Wh 4,681 Wh<br />
Contrapeso 78% (b) Contrapeso 95% Contrapeso 100% (c)<br />
421,39% 301,23% 182,56% 99,33% 74,69% 65,15% 50,57% 74,72%<br />
1102kg<br />
1165 kg<br />
7,848 Wh<br />
6,917 Wh 9,257 Wh<br />
100,00%<br />
4<br />
Existem normas que definem determinados requisitos mínimos que têm de ser cumpridos pelos ascensores, por exemplo em termos de<br />
capacidade de carga. Assim, desde Fevereiro de 2007, todos os novos ascensores devem obedecer à nova legislação (DL163/2006), que regula<br />
as acessibilidades a pessoas com mobilidade reduzida. Esta norma obriga à instalação de ascensores com uma cabina mínima de<br />
1.100mmx1.400mm (largura x profundidade), a que corresponde uma carga nominal mínima de 8 pessoas-630 kg. Para unidades de saúde,<br />
como hospitais existem outras normas portuguesas que sugerem a instalação de ascensores monta-camas para uma carga nominal de 21<br />
pessoas - 1.600 kg.<br />
5<br />
Como se verá adiante, esta solução não poderá ser adoptada, por não cumprir os requisitos de aderência impostos pela norma NP EN 81-<br />
1:2000.<br />
252
ARTIGO TÉCNICO<br />
Energia da manobra de referência em função da massa do contrapeso<br />
44,000 Wh<br />
39,000 Wh<br />
34,000 Wh<br />
29,000 Wh<br />
24,000 Wh<br />
19,000 Wh<br />
14,000 Wh<br />
9,000 Wh<br />
4,000 Wh<br />
0kg<br />
291,25kg<br />
582,5kg<br />
790kg<br />
850kg<br />
Energia da Manobra de Referência<br />
873,75kg<br />
910kg<br />
1102kg<br />
1165 kg<br />
Massa do Contrapeso<br />
Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção<br />
2. Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o<br />
consumo energético:<br />
Figura 17 – Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o consumo energético<br />
Tomou-se por base um ascensor idêntico ao utilizado para<br />
validar o modelo em Matlab-Simulink, com as características<br />
ao lado indicadas.<br />
Verificou-se que não é suficiente analisar apenas o impacto<br />
que implicará a redução da massa da cabina, de per se.<br />
Ter-se-á de ter em conta também as recomendações em<br />
termos de aderência na roda de tracção da máquina,<br />
indicadaspela norma NP EN 81-1:2000 – Anexo M 6 .<br />
Com base nestas duas premissas foram obtidos os resultados<br />
indicadosna tabela 3.<br />
Local da casa das máquinas: Em cima na vertical, sobre a caixa<br />
Carga nominal: 630 Kg / 8 Pessoas<br />
Curso: 20,79 m<br />
Velocidade nominal: 1,0 m/s VVVF<br />
Tipo de Suspensão: 1:1<br />
Diâmetro dos cabos 8 mm<br />
Diâmetro da roda de tracção: 400 mm<br />
Abraçamento: 165 º<br />
Tipo de gorne: em U<br />
Ângulo do gorne: 25 º<br />
Ângulo do gorne subtalhado: 90,88 º<br />
Relação diâmetro cabo vs diâmetro roda de tracção: 50<br />
Diâmetro da roda de desvio: 320 mm<br />
Tabela 3: Resultados: Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o consumo energético<br />
Contrapeso Peso Mínimo Peso do Quantidade Diferença face<br />
% da carga nominal Cabina Contrapeso Cabos à solução base<br />
da cabina (kg) (kg) (kg)<br />
100 1750 2380 7 2015<br />
90 1550 2117 6 1552<br />
80 1400 1904 6 1189<br />
70 1250 1691 6 826<br />
60 1050 1428 5 363<br />
50 900 1215 5 0<br />
40 800 1052 4 -263<br />
30 1050 1239 5 174<br />
20 1300 1426 6 611<br />
10 1500 1563 6 948<br />
0 1750 1750 7 1385<br />
6<br />
O Anexo M desta norma, descreve a metodologia a seguir para calcular a aderência dos cabos na roda de tracção, tendo em conta o curso, o<br />
carregamento da cabina, a desaceleração motivada por uma paragem de emergência, o tipo de gorne, o ângulo do gorne, o coeficiente de<br />
atrito, o diâmetro da roda de tracção, o diâmetro da roda de desvio, o ângulo do gorne subtalhado, etc.<br />
253
ARTIGO TÉCNICO<br />
Peso Mínimo da Cabina<br />
Peso mínimo da cabina (kg)<br />
2000<br />
1800<br />
1600<br />
1400<br />
1200<br />
1000<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100<br />
Contrapeso (% da carga nominal)<br />
Figura 18 – Peso mínimo da cabina<br />
Pode-se concluir, que o ponto que permitirá optimizar o<br />
peso da cabina e o consumo energético do ascensor ocorre,<br />
quando a cabina pesar 800 kg e o contrapeso 1052 kg.<br />
Ou seja dever-se-á adoptar uma solução em que o<br />
contrapeso compense o peso da cabina + 40% da carga<br />
nominal da mesma, e não a solução utilizada presentemente<br />
nos ascensores produzidos maioritariamente pela indústria,<br />
que prevê um contrapeso que compensa o peso da cabina +<br />
50% da carga nominal da mesma (pesando a cabina 900 kg e<br />
o contrapeso 1215 kg).<br />
Para um ascensor com um contrapeso que compense o peso<br />
da cabina + 40% da carga nominal da cabina, o consumo<br />
energético será de 6,917 Wh para uma manobra de<br />
referência, em vez de 9,257 Wh, na solução adoptada<br />
actualmente. Ou seja, conseguir-se-á uma redução de<br />
aproximadamente26 % no consumo de energia.<br />
Com esta solução seria igualmente possível poupar 263 kg de<br />
aço, em todo o sistema (cabina e contrapeso). Acresce ainda<br />
o facto de acordo com a norma EN81:2000 – Anexo M, ser<br />
possível para esta solução aplicar 4 cabos de 8mm 2 em vez<br />
dos 5 cabos de 8 mm 2 que são normalmente aplicados.<br />
Ou seja com a optimização do peso da cabina, conseguir-se-á<br />
não só uma redução do consumo energético, mas também<br />
uma redução no custo dos materiais a aplicar.<br />
3. Suspensãolateral vs suspensão central<br />
Pretendeu-se avaliar o impacto que o tipo de suspensão da<br />
cabina tem sobre o consumo energético.<br />
Viu-se no ponto 4.1, que num estudo publicado por<br />
Küntscher (2006), o rendimento da caixa do ascensor será de<br />
aproximadamente 70%, quando a cabina é suspensa<br />
lateralmente e de aproximadamente 85%, quando a cabina é<br />
suspensacentralmente.<br />
Recorrendo ao simulador desenvolvido verificou-se que a<br />
solução da suspensão central, por permitir uma redução do<br />
atrito nas guias, implicou uma poupança de 16% em termos<br />
energéticos em relação à solução da suspensão lateral da<br />
cabina, para o ascensor de 630 kg estudado, pelo que se<br />
recomenda a sua adopção.<br />
254
ARTIGO TÉCNICO<br />
Tabela 4 - Resultados: suspensão lateral vs suspensão central<br />
Carga<br />
Energia da Manobra de Referência em Função da<br />
Suspensão da Cabine<br />
Massa %<br />
Suspensão lateral<br />
Suspensão Central<br />
70% 85%<br />
Subida Descida Subida Descida<br />
0,0 kg 0% -11,76 Wh 16,47 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh<br />
157,5 kg 25% -4,80 Wh 9,33 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh<br />
315,0 kg 50% 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh<br />
472,5 kg 75% 9,33 Wh -4,80 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh<br />
630,0 kg 100% 16,47 Wh -11,76 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh<br />
Média ponderada<br />
com base na -6,166 Wh 10,775 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh<br />
VDI 4707<br />
Ideal - 100%<br />
Reinjecção<br />
30% Reinjecção<br />
4,610 Wh<br />
101,05%<br />
8,925 Wh<br />
4,562 Wh<br />
100,00%<br />
7,848 Wh<br />
113,72% 100,00%<br />
0,000 Wh 10,775 Wh 0,000 Wh 9,257 Wh<br />
Sem Reinjecção<br />
10,775 Wh<br />
9,257 Wh<br />
116,40%<br />
100,00%<br />
Energia da Manobra de Referência em Função da Suspensão<br />
da Cabine<br />
12,000 Wh<br />
Energia da Manobra de Referência<br />
11,000 Wh<br />
10,000 Wh<br />
9,000 Wh<br />
8,000 Wh<br />
7,000 Wh<br />
6,000 Wh<br />
5,000 Wh<br />
4,000 Tabela Wh3: Resultados: Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o consumo energético<br />
Suspensão<br />
lateral<br />
Tipo de Suspensão<br />
Suspensão<br />
Central<br />
Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção<br />
Figura 19 – Suspensão lateral vs suspensão central<br />
255
ARTIGO TÉCNICO<br />
4. Impacto da redução da velocidade linear do ascensor no<br />
consumo energético:<br />
Mantendo todas as características técnicas do ascensor, com<br />
excepção da velocidade (o que implicou uma mudança na<br />
relação da caixa redutora, mantendo o mesmo diâmetro da<br />
roda de tracção), verifica-se que quanto menor for a<br />
velocidade nominal do ascensor (ou seja, a velocidade linear<br />
da cabina), menor é o consumo energético. Assim, e por<br />
comparação a uma velocidade nominal de v = 1,0 m/s,<br />
conseguir-se-á uma redução de 46% no consumo energético<br />
se a velocidade for reduzida para v= 0,4 m/s, ceteris paribus.<br />
Na tabela 4 é possível verificar a poupança que se conseguirá<br />
obter mediante a redução da velocidade.<br />
Se fosse possível a reinjecção de toda a energia gerada<br />
durante a manobra de referência, não se verificariam<br />
variações no consumo energético, com a variação da<br />
velocidadelinear da cabina.<br />
Tabela 5 - Resultados: Impacto da redução da velocidade linear no consumo energético<br />
Carga<br />
Energia da Manobra de Referência em Função da Velocidade Linear da Cabine<br />
Massa %<br />
Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida<br />
0,0 kg 0% -2,30 Wh 6,78 Wh -3,41 Wh 7,90 Wh -4,87 Wh 9,39 Wh -6,82 Wh 11,38 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh<br />
157,5 kg 25% -0,04 Wh 4,50 Wh -0,60 Wh 5,06 Wh -1,33 Wh 5,80 Wh -2,31 Wh 6,79 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh<br />
315,0 kg 50% 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh<br />
472,5 kg 75% 4,50 Wh -0,04 Wh 5,06 Wh -0,60 Wh 5,80 Wh -1,33 Wh 6,79 Wh -2,31 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh<br />
630,0 kg 100% 6,78 Wh -2,30 Wh 7,90 Wh -3,41 Wh 9,39 Wh -4,87 Wh 11,38 Wh -6,82 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh<br />
Média ponderada<br />
com base na<br />
VDI 4707<br />
Ideal - 100%<br />
Reinjecção<br />
Velocidade Linear da Cabine<br />
0,4m/s 0,5m/s 0,63m/s 0,8m/s<br />
-0,487 Wh 4,958 Wh -1,154 Wh 5,634 Wh -2,030 Wh 6,523 Wh -3,200 Wh 7,720 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh<br />
4,471 Wh 4,480 Wh 4,493 Wh<br />
4,520 Wh<br />
98,01% 98,20% 98,50% 99,08%<br />
61,31% 67,37%<br />
75,36% 86,13%<br />
100,00%<br />
0,000 Wh 4,958 Wh 0,000 Wh 5,634 Wh 0,000 Wh 6,523 Wh 0,000 Wh 7,720 Wh 0,000 Wh 9,257 Wh<br />
Sem Reinjecção 4,958 Wh 5,634 Wh 6,523 Wh 7,720 Wh 9,257 Wh<br />
53,56% 60,86% 70,47% 83,39%<br />
4,562 Wh<br />
100,00%<br />
30% Reinjecção 4,812 Wh 5,287 Wh 5,914 Wh 6,760 Wh 7,848 Wh<br />
1m/s<br />
100,00%<br />
Energia da Manobra de Referência em Função da Velocidade<br />
Linear da Cabine<br />
Energia da Manobra de Referência<br />
9,500 Wh<br />
9,000 Wh<br />
8,500 Wh<br />
8,000 Wh<br />
7,500 Wh<br />
7,000 Wh<br />
6,500 Wh<br />
6,000 Wh<br />
5,500 Wh<br />
5,000 Wh<br />
4,500 Wh<br />
4,000 Wh<br />
0,4m/s<br />
0,5m/s<br />
0,63m/s<br />
0,8m/s<br />
1m/s<br />
Velocidade da Cabine<br />
Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção<br />
Figura 20 – Impacto da redução da velocidade do ascensor sobre o consumo energético<br />
Em edifícios residenciais com curso reduzido, recomenda-se, por isso, a instalação de ascensores com velocidade reduzida.<br />
256
ARTIGO TÉCNICO<br />
6 CONCLUSÕES<br />
1. A concepção de ascensores eficientes em termos de<br />
energia contribuirá para um menor impacto ambiental;<br />
2. Para se atingir o objectivo universal de utilização racional<br />
de energia (eléctrica) num edifício, não se deverá<br />
analisar apenas a eficiência energética, mas também o<br />
balanço energético. Assim, no caso dos ascensores,<br />
dever-se-á ter em conta, para além do período de<br />
operação, também o fabrico e a manutenção dos<br />
mesmos, o fornecimento de matérias-primas, bem como<br />
a sua reciclagem: a análise do ciclo de vida do produto.<br />
3. Verificou-se que a temática da eficiência energética é<br />
ainda pouco explorada pela indústria de ascensores, seja<br />
através da incorporação nos ascensores das novas<br />
tecnologias já disponíveis em outras aplicações, seja<br />
através da divulgação de informação relevante em<br />
termos do desempenho energético dos equipamentos<br />
comercializados. Existem ainda muito poucos estudos<br />
realizados neste âmbito na Europa, com uma notável<br />
excepção da Suiça que tem vindo a patrocinar, através<br />
de uma organização estatal (a SAFE - Swiss Agency for<br />
Efficient Energy Use), vários estudos sobre a eficiência<br />
energéticade ascensores;<br />
4. Verificam-se diversas barreiras à adopção de ascensores<br />
eficientesem termos energéticos:<br />
a) O Comprador e o utilizador do ascensor não têm<br />
interesses coincidentes: Na grande maioria das<br />
situações, o ascensor não é fornecido directamente<br />
ao cliente final, mas a uma empreiteiro geral que o<br />
incorpora no edifício. Este orienta-se<br />
fundamentalmente pelo preço de aquisição do<br />
ascensor e não pelos custos de energia eléctrica e de<br />
operação que este venha a provocar no futuro, que<br />
será sempre suportado pelo utilizador<br />
b) Em edifícios existentes, ocorre uma grande<br />
resistência à incorporação de novos componentes<br />
que possam por em causa a operação e a<br />
disponibilidade dos ascensores existentes. Em novos<br />
edifíciosé mais fácil incorporar as novas tecnologias.<br />
Pelo que se recomenda uma sensibilização do cliente<br />
final bem como de projectistas.<br />
5. Recomenda-se que o consumo energético dos<br />
ascensores seja considerado também no âmbito do<br />
Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização<br />
dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de<br />
Abril. Dessa forma existiria desde logo uma maior<br />
atenção na fase de projecto por parte dos projectistas<br />
relativamente à aplicação de ascensores eficientes<br />
energeticamente, para que pudessem ver aprovado o<br />
seu projecto.<br />
Bibliografia<br />
[1] ALMEIDA, Aníbal, PATRÃO, Carlos, FONSECA, Paula,<br />
MOURA, Pedro – Manual de boas práticas de eficiência<br />
energética. Lisboa, ISR – Departamento de Engenharia<br />
Electrotécnica e de Computadores Universidade de<br />
Coimbra e BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o<br />
DesenvolvimentoSustentável, 2005.<br />
[2] BARNEY, Gina – Elevator Traffic Handbook – Theory and<br />
Practice. Nova Iorque, Spon Press, 2003. ISBN 0-415-<br />
27476-I.<br />
[3] BOLLA, Mario – Verbesserung der Energieeffizienz von<br />
Aufzügen und Förderanlagen durch Entwicklung eines<br />
Neuartigen Frequenzumformers – Jahresbericht 2007.<br />
Seftigen, Bundesamt für Energie, Suiça, 2007.<br />
[4] CASTANHEIRA, Luís; BORGES GOUVEIA, Joaquim –<br />
Energia, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.<br />
Porto, Spi – Sociedade Portuguesa de Inovação, 2004.<br />
ISBN 972-8589-45-X.<br />
[5] CÓIAS, Vítor; FERNANDES, Susana – Reabilitação<br />
Energética dos Edifícios: Porquê? Oz – Diagnóstico<br />
Levantamento e Controlo de Qualidade em Estruturas e<br />
Fundações, Lda, 2006.<br />
[6] KÜNTSCHER, Dietmar – Energiesparende Aufzugsysteme<br />
– Lift-Report nº2 – Ano 32, 2006.<br />
[7] FITZGERALD, A.; KINGSLEY, Charles; UMANS, Stephen –<br />
Electric Machinery. Nova Iorque, McGraw Hill, 2003.<br />
ISBN 0-07-123010-6.<br />
[8] FRANCHI, C. – Acionamentos Eléctricos. Editora Érica,<br />
Ltda, 2007. ISBN 978-85-365-0149-9.<br />
257
ARTIGO TÉCNICO<br />
Bibliografia (Cont.)<br />
Directivas, Leis e Normas<br />
[9] GAMBOA, José – Ascensores e Elevadores. Lisboa, Rei<br />
dos Livros, 2005. ISBN 972-51-1007-2.<br />
[10]JANOVSKY, Lumomír – Elevator Mechanical Design. 3ª<br />
Edição. Mobile USA, Elevator World, Inc., 1999. ISBN 1-<br />
886-536-26-0.<br />
[11]MATIAS, José – Máquinas Eléctricas. 5ª Edição. Lisboa,<br />
DidácticaEditora, 2005. ISBN 972-650-124-5.<br />
[12]MEIRELES, Vitor – Circuitos Eléctricos. 3ª Edição revista.<br />
Lisboa, Lidel – Edições Técnicas, Lda, 2005. ISBN 972-757-<br />
386-X.<br />
[13]NIPKOW, Jürg, SCHALCHER, Max – Energy consumption<br />
and efficiency potentials of lifts – Zurique. - SAFE – Swiss<br />
Agency for Efficient Energy Use, 2005.<br />
[14]NIPKOW, Jürg – Elektrizitätsverbrauch und Einspar-<br />
Potenzialebei Aufzügen – Bundesamt für Energie, 2005.<br />
[15]PALMA, João – Accionamentos Electromecânicos de<br />
Velocidade Variável. 2ª Edição. Lisboa, Fundação<br />
Calouste Gulbenkian – Serviço de Educação e Bolsas,<br />
2008. ISBN 978-972-31-0839-2.<br />
[16]PAIVA, J. Sucena – Redes de Energia Eléctrica – Uma<br />
Análise Sistémica. Lisboa, IST Press, 2005. ISBN 972-8469-<br />
34-9.<br />
[17]RODRIGUES, José; MATIAS, José – Máquinas Eléctricas –<br />
Transformadores. Lisboa, Didáctica Editora, 2005. ISBN<br />
972-650-183-0.<br />
[1] DIRECTIVA 1995/16/CE do Parlamento Europeu e do<br />
Conselho de 29 de Junho de 1995 – Directiva Ascensores.<br />
Jornal Oficial das Comunidades Europeias.<br />
[2] DIRECTIVA 2002/91/CE do Parlamento Europeu e do<br />
Conselho de 16 de Dezembro de 2002 – EPB – Energy<br />
Performance of Buildings – Desempenho Energético de<br />
Edifícios.Jornal Oficial das Comunidades Europeias.<br />
[3] DIRECTIVA 2005/32/CE do Parlamento Europeu e do<br />
Conselho de 06 de Julho de 2005 – EuP – Energy Using<br />
Products – Requisitos de Concepção Ecológica dos<br />
Produtos que Consomem Energia. Jornal Oficial das<br />
ComunidadesEuropeias.<br />
[4] DECRETO-LEI nº 513/70 de 24 de Setembro.<br />
[5] DECRETO-LEInº 295/98 de 22 de Setembro<br />
[6] DECRETO-LEInº 78/2006 de 04 de Abril.<br />
[7] DECRETO-LEInº 79/2006 de 04 de Abril.<br />
[8] DECRETO-LEInº 80/2006 de 04 de Abril.<br />
[9] DECRETO-LEInº 176/2008 de 26 de Agosto.<br />
[10]NORMA PORTUGUESA NP 2058:1993 de Abril de 1993.<br />
InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />
[11]NORMA PORTUGUESA NP 4267:1994 de Maio de 1994.<br />
InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />
[12]NORMA PORTUGUESA NP 3661:1989 de Agosto 1989.<br />
InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />
[13]NORMA PORTUGUESA NP EN 81-1:2000 – Regras de<br />
Segurança para o Fabrico e Instalação de Elevadores –<br />
Parte 1: Ascensores Eléctricos. Fevereiro de 2001.<br />
InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />
[14]NORMA PORTUGUESA NP EN 81-2:2000 – Regras de<br />
Segurança para o Fabrico e Instalação de Elevadores –<br />
Parte 2: Ascensores Hidráulicos. Fevereiro de 2001.<br />
InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />
[15]NORMA SUIÇA SIA 380/4:2006 – Electricity in Buildings<br />
(2006), Swiss Society of Engineersand Architects(SIA).<br />
[16]NORMA ALEMÃ VDI 4707:2009 – Ascensores – Eficiência<br />
Energética(2009), Verein Deutscher Ingenieure (VDI)<br />
258
ARTIGO TÉCNICO<br />
José Marílio Oliveira Cardoso<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
EXTINÇÃO DAS TARIFAS REGULADAS NO SECTOR ELÉCTRICO<br />
1 ENQUADRAMENTO<br />
2 MERCADO REGULADO<br />
O sector eléctrico foi, historicamente, um sector de<br />
monopólio natural, controlado por uma única entidade a<br />
qual assegurava as diversas actividades relacionadas com o<br />
fornecimento da energia eléctrica, desde a sua produção,<br />
transporte e distribuição até ao abastecimento ao<br />
consumidor final. Esta é uma realidade que tem vindo a ser<br />
radicalmentealterada nas últimas décadas.<br />
Após longos anos de actuação em regime de monopólio<br />
(público, privado ou misto) verticalmente integrado,<br />
verificaram-se em diversos países, em diferentes latitudes,<br />
várias experiências que resultaram em processos de<br />
desverticalização do sector com separação das suas<br />
actividades. O primeiro destes exemplos ocorreu no Chile no<br />
final da década de 70 do século XX, tendo as alterações<br />
consistido, basicamente, no fim dos monopólios da energia<br />
eléctrica e na introdução duma lógica de concorrência no<br />
mercado da electricidade. Esta passou a verificar-se na<br />
produção e na comercialização, mantendo-se como<br />
monopólios as actividades ligadas a infra-estruturas de rede<br />
como são o transporte e a distribuição.<br />
Também em Portugal a EDP funcionou, durante muito<br />
tempo, como a empresa vertical, que actuando em toda a<br />
cadeia, assegurava a produção, o transporte, a distribuição e<br />
a comercializaçãoda energia eléctrica.<br />
Esta realidade teve um ponto de inflexão significativo após a<br />
adesão de Portugal à, então, CEE. Em 1988 foi publicado um<br />
importante pacto legislativo que, entre outras inovações,<br />
consagrou a possibilidade de acesso ao sector pelos<br />
pequenos produtores privados na área da produção<br />
hidroeléctrica (mini-hídricas) e cogeração, obrigando a EDP a<br />
adquirir toda a energia por eles produzida a um preço<br />
regulado.<br />
É também nesse período que cessa a exclusividade da<br />
concessão à EDP, sendo liberalizadas algumas das<br />
actividades do sector. Tal teve como objectivo a abertura do<br />
investimento no sector à iniciativa privada, permitindo<br />
canalizar verbas públicas para outros investimentos e,<br />
funcionando o mercado, permitir uma redução de preços<br />
com benefícios para os consumidores.<br />
Fig. 1 - Actividades tradicionais no sector eléctrico<br />
259
ARTIGO TÉCNICO<br />
Com uma progressiva abertura do sector a um ambiente de<br />
mercado concorrencial, emergiu o papel das entidades<br />
reguladoras como garantia de condições de igualdade de<br />
tratamento, de transparência e de não discriminação no<br />
acesso de produtores e de consumidores às redes de<br />
transporte e de distribuição. Em 1995 é criada a ERSE<br />
(Entidade Reguladora do Sector Eléctrico) pela publicação do<br />
Decreto-Lei n.º 187/95, de 27 de Julho.<br />
Das suas competênciasconstam:<br />
• O estabelecimento dos valores das tarifas e preços para a<br />
energia eléctrica a aplicar anualmente<br />
• A protecção dos interesses dos consumidores em relação<br />
a preços, serviços e qualidade do abastecimento<br />
• Fomentar a concorrência<br />
• Contribuir para uma utilização eficiente da energia<br />
eléctrica<br />
Em 2002 são aprovados novos estatutos da ERSE pela<br />
publicação do Decreto-Lei nº 97/2002 de 12 de Abril. A ERSE<br />
vê as suas competências alargadas com a inclusão da<br />
regulação das actividades relativas ao gás natural, passando<br />
a designar-se Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos,<br />
embora mantendo a sigla original.<br />
3 MERCADO LIBERALIZADO<br />
O processo de liberalização do sector eléctrico ocorreu, na<br />
maior parte dos países europeus, de modo faseado. Estes<br />
processos começaram tipicamente por contemplar os<br />
clientes dos níveis de tensão mais elevados e com maiores<br />
consumos. Também em Portugal, ainda na década de 90 do<br />
século passado, foi publicada legislação que abria o mercado<br />
apenas aos maiores clientes, tendo o processo sido<br />
progressivamenteestendidoa todos os clientes.<br />
A abertura do mercado concorrencial teve como objectivo<br />
dinamizar o sector e impor-se como solução para o encontro<br />
entre a oferta e a procura, reflectindo-se numa expectável<br />
descidados preços e melhoria da qualidade de serviço.<br />
Este é um novo paradigma onde é concedida a cada<br />
consumidor a possibilidade de escolha do fornecedor,<br />
implicando alterações profundas em todo o enquadramento<br />
legislativo e regulatório bem como no modo de actuação das<br />
diversas entidades intervenientes. Potencia ainda o<br />
aparecimento de novos produtores e comercializadores,<br />
aumentando o número de intervenientes no sector e a<br />
complexidadede funcionamentodo mesmo.<br />
Fig. 2 - Calendário de abertura do mercado em Portugal (ERSE)<br />
260
ARTIGO TÉCNICO<br />
A Directiva n.º 2003/54/CE, de 26 de Junho, definiu como<br />
data limite o dia 1 de Julho de 2007, para abertura do<br />
mercado a todos os clientes, independentemente dos seus<br />
consumos e da tensão de alimentação. A Directiva foi<br />
transposta para a ordem jurídica nacional pela publicação do<br />
Decreto-Lei n.º 29/2006, de 15 de Fevereiro. Aí, no âmbito<br />
da protecção dos consumidores, consagra-se a figura do<br />
comercializador de último recurso o qual assume o papel de<br />
garante do fornecimento de electricidade aos consumidores.<br />
Para Portugal continental foi estabelecida a data de 4 de<br />
Setembro de 2006 como aquela a partir da qual todos os<br />
clientesde energia eléctrica poderiam escolher livremente o<br />
seu fornecedor de energia eléctrica.<br />
Este foi um processo que apresentou alguns percalços,<br />
nomeadamente, no final de 2007 com vários<br />
comercializadores a não aceitarem novos contratos de<br />
fornecimento de energia eléctrica nem renovarem contratos<br />
já existentes, alegando impossibilidade de concorrência com<br />
as tarifas reguladas. No final de 2008 e, principalmente, em<br />
2009 e assistiu-se a um retorno de muitos clientes ao<br />
mercado liberalizado. Actualmente a adesão de novos<br />
clientes ao mercado apresenta-se como uma forte<br />
tendência.<br />
Fig. 3 - Evolução do consumo no mercado liberalizado (ERSE)<br />
Fig. 4 - Número total de clientes no mercado liberalizado (ERSE)<br />
261
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.2.1.3 CAIXA REDUTORA<br />
Fig. 5 - Consumo (GWh) no mercado liberalizado (ERSE)<br />
Figura 9 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora com variador de velocidade<br />
Fig. 6 - Peso relativo do consumo do mercado liberalizado (ERSE)<br />
4 NOVO MODELO<br />
Com a recente publicação do Decreto-Lei n.º 104/2010 de 29<br />
de Setembro verifica-se uma nova “revolução” no sector<br />
eléctrico, com a extinção das tarifas reguladas de<br />
fornecimento de energia eléctrica em Portugal continental, a<br />
partir de 1 de Janeiro de 2011. Por este diploma são<br />
abrangidos os clientes cuja alimentação seja em muito alta<br />
tensão(MAT), alta tensão (AT), média tensão (MT) ou baixa<br />
tensão especial (BTE). Significa que todos os clientes, com<br />
excepção daqueles que são alimentação em baixa tensão<br />
normal (BTN), deverão, no próximo ano, passar a ser<br />
abastecidosno âmbito do mercado liberalizado.<br />
Esta é uma nova mudança de paradigma alterando, em<br />
pouco anos, o fornecimento no mercado liberalizado de um<br />
direito do consumidor para uma obrigação.<br />
262
ARTIGO TÉCNICO<br />
A legislação prevê que os clientes que, à data de entrada em<br />
vigor do diploma, tivessem como fornecedor um<br />
comercializador de último recurso (CUR) e que entretanto<br />
não estabeleçam um contrato no mercado liberalizado,<br />
possam continuar a ser abastecido pelo CUR até à data limite<br />
de 31 de Dezembro de 2011. Para esse fim serão definidas<br />
pela ERSE tarifas transitórias determinadas pela soma das<br />
tarifas de energia, comercialização e acesso às redes, sendo<br />
agravada por uma percentagem a definir pela ERSE.<br />
O CUR deverá notificar por carta registada todos os seus<br />
clientes até 30 dias após a entrada em vigor do Decreto-Lei<br />
n.º 104/2010 prestando-lhes toda a informação necessária à<br />
mudança de comercializador. Este não é um processo<br />
automático cabendo a cada cliente consultar o mercado e<br />
optar por um comercializador do mercado liberalizado.<br />
Os comercializadores autorizados a actuar no mercado<br />
liberalizado em Portugal obtém licenciamento junto da<br />
Direcção-Geral de Geologia e Energia. A ERSE disponibiliza na<br />
sua página de Internet (www.erse.pt) a lista com a<br />
identificação e os contactos dos comercializadores que se<br />
encontram a actuar no mercado.<br />
A mudança de comercializador pode ser efectuada até<br />
quatro vezes em cada doze meses consecutivos, não<br />
podendo ser invocadas razões de ordem técnica para<br />
impedir essa mudança, nomeadamente as características dos<br />
contadoresde energia.<br />
De notar que, sendo o mercado livre, cada comercializador<br />
pode apresentar uma proposta comercial que poderá não<br />
ser facilmente comparável com a de um seu concorrente.<br />
Cabe a cada cliente obter junto de cada comercializador os<br />
esclarecimentos necessários à sua decisão, garantindo que<br />
estão acautelados os seus interesses e que esses serão<br />
vertidos no contrato a estabelecer.<br />
Deverão ainda ser tomados em conta outros aspectos como,<br />
por exemplo, que o ciclo mais adequado (semanal ou diário)<br />
ao funcionamento das instalações é o que consta na<br />
proposta, ou a explicitação de a quem competirá suportar<br />
eventuais alterações de custos com as tarifas de acesso às<br />
redes no decorrer da vigência do contrato.<br />
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O sector eléctrico tem vindo a sofrer diversas alterações ao<br />
longo da sua existência tendencialmente no sentido do<br />
fomento da concorrência.<br />
Em Portugal a manifestação mais recente dessa tendência é<br />
corporizada na publicação do Decreto-Lei n.º 104/2010 que<br />
determina a extinção de tarifas reguladas com excepção dos<br />
consumidores domésticos. Esta é uma realidade que impõe<br />
aos clientes a procura de um comercializador em mercado<br />
liberalizado. Este é um desafio que poderá potenciar a<br />
oportunidade de cada cliente dedicar mais atenção aos<br />
aspectos relacionados com a energia eléctrica que consome,<br />
eventualmente conseguindo obter condições mais<br />
vantajosas e incrementar a eficiência energética e a<br />
utilizaçãoracional da energia nas suas instalações.<br />
Esta não é contudo a única novidade no sector, havendo<br />
alterações ao nível da introdução de escalões no consumo de<br />
energia reactiva, já no início de 2011. Prevê-se ainda que,<br />
num futuro mais longínquo, se possam verificar alterações<br />
significativas no que diz respeito à qualidade de serviço e à<br />
poluição da responsabilidadede cada consumidor.<br />
Referências<br />
www.galpenergia.com<br />
www.erse.pt<br />
www.edp.pt<br />
www.dgge.pt<br />
www.unionfenosa.pt<br />
www.dre.pt<br />
263
|264<br />
CURIOSIDADE
ARTIGO TÉCNICO<br />
Domótica<br />
Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />
artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da Domótica.<br />
A Domótica é uma tecnologia recente que permite a gestão de todos os recursos habitacionais, satisfazendo as necessidades de<br />
comunicação,de conforto e segurança.<br />
Apesar de ainda ser pouco conhecida e divulgada, mas pelo conforto e comodidade que pode proporcionar, a domótica promete<br />
vir a ser uma das áreas mais procuradas no âmbito das instalaçõeseléctricas.<br />
As diversas tecnologias e soluções técnicas para este sector são descritas nos vários artigos que compõem esta secção, bem<br />
como soluções específicas para possibilitar o comando de iluminação, a requalificação dos edifícios e a gestão técnica<br />
centralizada.<br />
265
ARTIGO TÉCNICO<br />
Índice<br />
A Domótica ao Serviço da Sociedade<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
267<br />
A Solução POWERLINE Para o Sector Residencial<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
270<br />
Gestão Técnica de Edifícios com KNX<br />
Domingos Salvador Gonçalves dos Santos<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
274<br />
Sistema de Gestão de Iluminação LUTRON<br />
Sónia Viegas<br />
Astratec, Lighting Consultant<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
279<br />
A Criação de Valor no Binómio “Casa Inteligente” / Consumidor<br />
António Manuel Luzano de Quadros Flores<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
284<br />
Domótica e a Requalificação de Edifícios<br />
José Luís Faria<br />
Touchdomo, Lda, Porto, Portugal<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
295<br />
266
ARTIGO TÉCNICO<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />
A Domótica ao Serviço da Sociedade<br />
Introdução<br />
Com a elevada evolução dos sistemas electrónicos e<br />
computacionais, associados a tecnologias de comunicação<br />
cada vez mais evoluídas, alcançou-se um novo domínio de<br />
aplicação tecnológica que tem por objectivo satisfazer as<br />
cada vez maiores necessidades de utilização racional da<br />
energia e proporcionar uma maior sensação de conforto aos<br />
utilizadores das instalações. Esta integração da electrónica<br />
com as tecnologias de comunicação de dados está na base<br />
de um conceito que começou a emergir no início dos anos 80<br />
do século passado.<br />
criação de cenários ou ainda a simulação da presença de<br />
pessoas em casa, permitem diminuir os consumos de energia<br />
e aumentar a protecção das habitações e bens. Outra das<br />
funções mais vulgares de controlo é o da climatização dos<br />
edifícios. A este nível, o controlo dos aparelhos de<br />
condicionamentode ar traduzem-seem elevados ganhos em<br />
termos de eficiência energéticae de conforto.<br />
Ainda a nível das funções de gestão é possível, através dos<br />
sistemas domóticos, controlar estores e toldos, sistemas de<br />
rega, controlar e monitorizar piscinas, etc..<br />
Esta conjugação das tecnologias aplicada a ambientes<br />
residenciais, permite a realização de uma vasta gama de<br />
aplicações de gestão local ou remota, a nível de segurança,<br />
conforto,gestão de energia, etc.<br />
Assim apareceu o conceito de DOMÓTICA.<br />
Funções da domótica<br />
As necessidades de dotar os edifícios com sistemas<br />
centralizados de controlo puramente informáticos, em<br />
detrimento dos tradicionais sistemas electromecânicos,<br />
levaram a um maior controlo de certas funções, permitindo<br />
assim uma maior funcionalidade das instalações e uma<br />
optimizaçãodos recursos energéticos.<br />
Figura 1 – Funcionalidades da Domótica<br />
A integração de sistemas de segurança é uma das funções<br />
mais interessantesda domótica.<br />
Funções como o controlo da iluminação, permitindo ligar ou<br />
desligar os aparelhos de iluminaçãoautomaticamenteou a<br />
A possibilidade de ter sistemas de alarme de intrusão,<br />
incêndio, inundação, fugas de gás e vigilância a interagir com<br />
267
ARTIGO TÉCNICO<br />
os sistemas de gestão de energia e com os sistemas de<br />
comunicação permitem o aumento da eficiência destes<br />
sistemas.<br />
Sistemas domóticos<br />
A grande diversidade de sistemas existentes, cada um com o<br />
seu protocolo de comunicação, levou à existência de<br />
problemas quanto à compatibilidade ao nível da integração<br />
dos diversos sistemas. No entanto, desde os primeiros<br />
sistemas domóticos até aos evoluídos sistemas dos dias de<br />
hoje, esses problemas têm vindo a ser ultrapassados.<br />
Os primeiros sistemas domóticos foram desenvolvidos nos<br />
Estados Unidos da América (EUA), tendo depois disso sido<br />
exportados para a Europa onde países como a França e a<br />
Alemanha foram os grandes impulsionadores destes<br />
sistemas.<br />
Um dos primeiros sistemas a ser desenvolvido foi o “X-10”.<br />
Desenvolvido pela Pico Electronics, foi um sistema com<br />
muita aceitação nos EUA onde se estima existirem milhões<br />
de casas equipadas com este tipo de domótica. A grande<br />
vantagem deste sistema é a sua simplicidade de instalação.<br />
Os equipamentos são ligados à rede de distribuição de<br />
energia eléctrica da instalação e usam a referida rede para<br />
comunicarem. Este sistema pode apresentar uma topologia<br />
em anel, em estrela ou em árvore, o que permite uma<br />
grande flexibilidade. Hoje em dia já existem módulos que se<br />
podem incorporar e que permitem a recepção de sinais de<br />
rádio frequência dando ainda uma maior flexibilidade ao<br />
sistema.<br />
Um outro sistema, desenvolvido na década de 90, foi o<br />
LonWorks.<br />
É um sistema de aplicação exclusiva para a industria e que<br />
tenta solucionar os problemas de controlo existentes nesse<br />
sector. Esta tecnologia permite a integração fácil e rápida da<br />
rede dos dispositivos. Fazendo uso de uma cablagem<br />
comum, é criada uma rede de dispositivos que podem<br />
comunicar através da utilização de mensagens.<br />
O sistema European Home System (EHS) foi desenvolvido na<br />
Europa e tem como grande vantagem ser um sistema aberto,<br />
permitindo assim que equipamentos de vários fabricantes<br />
possam ser instalados, comunicando entre si, com uma taxa<br />
de transmissão dependente do meio de transmissão<br />
utilizado. Este sistema permite a utilização de diversos meios<br />
físicos de transmissão tais como, a rede eléctrica ou o cabo<br />
coaxial.<br />
O sistema CEBus, desenvolvido nos Estados Unidos da<br />
América, surgiu com o objectivo de solucionar problemas na<br />
automação doméstica, nomeadamente resolver a<br />
incompatibilidade de ligação entre dispositivos de diversos<br />
fabricantes e da falta de um meio único de comunicação. O<br />
CEBus cria uma rede lógica onde o emissor e receptor estão<br />
colocadosindependentementedo meio de comunicação.<br />
O sistema BatiBus, desenvolvido em França, foi o primeiro<br />
sistema de comunicação bus a ser desenvolvido. Usando um<br />
bus único, permite a ligação de diversos módulos. O bus é<br />
realizado através de um par entrelaçado, permitindo<br />
alimentar directamente dispositivos que não tenham um<br />
consumo superior a 3mA.<br />
O sistema European Installation Bus (EIB) foi criado na<br />
Europa com o objectivo desenvolver um sistema standard<br />
europeu que possibilite a comunicação entre todos os<br />
dispositivos existentes numa instalação. O EIB usa um bus<br />
único de comunicação que permite uma comunicação<br />
elemento a elemento. O bus de comunicação, onde são<br />
ligados todos os sensores e actuadores, é independente do<br />
bus de alimentação dos equipamentos. O EIB apresenta uma<br />
grande flexibilidade e permite interligação de mais de 10000<br />
dispositivos.<br />
O sistema KONNEX (KNX), baseado na associação dos<br />
sistemas BatiBus, EIB e EHS, surgiu com o objectivo de criar<br />
um sistema internacional standard para a automação de<br />
residênciase edifícios.<br />
Actualmente o KNX é o único sistema aberto a nível<br />
mundial, utilizando um software de concepção, modificação<br />
268
ARTIGO TÉCNICO<br />
bus de potência<br />
bus EIB<br />
Interruptores Detectores Sensores Botões de<br />
pressão<br />
Figura 2 – Arquitectura de uma Instalação EIB-KNX<br />
e instalação único, o ETS. O EIB/KNX permite a utilização de<br />
diversos meios físicos de comunicação. A comunicação pode<br />
ser feita sobre o par de condutores (EIB.TP) ou usando a<br />
power line (EIB.PL) ou fazendo uso da rede Ethernet (EIB.net)<br />
ou transmitindo sinais por radiofrequência (EIB.RF) ou por<br />
transmissão por infravermelhos (EIB.IR). A grande panóplia<br />
de meios de comunicação entre equipamentos confere ao<br />
sistema uma grande flexibilidade de utilização. Este é sem<br />
dúvida o sistema com mais potencialidades e que mais tem<br />
evoluído a nível mundial.<br />
Conclusão<br />
Neste artigo foram apresentadas, sumariamente, as funções<br />
gerais de um sistema de domótica bem como uma descrição<br />
de alguns dos sistemas mais importantes. Existem e<br />
existiram no mercado outros sistemas que aqui não foram<br />
referidos, mas que também contribuíram para o objectivo<br />
final que é o de conseguir um sistema cada vez mais versátil,<br />
que permita a utilização eficiente da energia, que faça uma<br />
gestão técnica centralizada e que consiga elevar os níveis de<br />
confortoe fiabilidade das instalações.<br />
Fontes de Informação relevantes<br />
Intelligent Buildings, Carter Myers, 1996, UpWord Publishing Inc.<br />
Building Control Systems, Vaughn Bradshaw, John Wiley & Sons<br />
La ingenieria en edificios de alta tecnologia, C.J. Díaz Olivares,<br />
1999, McGraw Hill<br />
www.acasainteligente.com<br />
www.siemens.com<br />
www.cebus.org<br />
www.ehsa.com<br />
www.eiba.com<br />
www.konnex.org<br />
http://engenium.wordpress.com/<br />
269
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
A Solução POWERLINE Para o Sector Residencial<br />
Introdução<br />
Apesar de muito utilizada no sector industrial, a automação<br />
ainda não atingiu o mesmo patamar de implementação no<br />
sector doméstico. A evolução tecnológica leva a que quase<br />
todos os dias apareçam novos produtos que visam a<br />
implementação de sistemas domóticos que possibilitem o<br />
conforto, a segurança e a eficiência nas habitações. Contudo,<br />
quando se pretende instalar um sistema domótico com o<br />
objectivo de simplificar os processos numa habitação, a<br />
palavra que surge não é “simplicidade”, mas sim<br />
“complicação”.<br />
Para além de a grande maioria das pessoas não estar<br />
familiarizada com as funcionalidades que um sistema<br />
domótico permite, existe sempre o pensamento que esses<br />
sistemas têm um custo elevado, o que de certa forma não é<br />
um pensamento errado. Se quanto ao aspecto do preço, não<br />
há muito a fazer, ele depende das leis do mercado e do custo<br />
da inovação, quanto à complexidade da instalação e<br />
utilização dos sistemas, trata-se de um pensamento induzido<br />
nas pessoas que não conhecem os sistemas domóticos e que<br />
facilmentese consegue desmistificar.<br />
tecnológica permitiu desenvolver soluções para este tipo de<br />
situações. Hoje em dia não é necessário reconstruir a<br />
habitação para instalar sistemas domóticos. Existem<br />
soluções que usam a rede eléctrica já instalada e que<br />
permitem instalar funções domóticas na habitação.<br />
Funções usuais<br />
Não é preciso ter uma casa totalmente automatizada para<br />
que ela seja considerada “inteligente”. Muitas vezes a busca<br />
por mais e mais automatização dos processos leva ao<br />
aumento da complexidade e ao inerente aumento do preço<br />
do sistema instalado. Quando se pretende dotar uma<br />
instalação com um sistema domótico, a primeira coisa que se<br />
deverá fazer é perceber o que realmente se pretende. Saber<br />
quais são as funções que realmente fazem sentido dotar de<br />
alguma “inteligência”.<br />
Um dos sistemas que numa habitação faz algum sentido ser<br />
comandado é o do sistema de estores e toldes.<br />
Os projectos de domótica nas habitações deveriam ser<br />
pensados aquando do projecto da habitação. No entanto, a<br />
realidade não é essa. A grande maioria das habitações não<br />
foi pensada para a instalação desses sistemas e só depois da<br />
instalação eléctrica estar efectuada e a habitação habitada é<br />
que se percebe que se precisava de ter mais alguma<br />
flexibilidade e funcionalidade na instalação. A evolução<br />
Fig.1 – Comando de estores com sistema PLC<br />
270
ARTIGO TÉCNICO<br />
Poder abrir ou fechar os estores individualmente ou por<br />
grupos, ou fazer o comando de acordo com a quantidade de<br />
luz natural ou vento existente. Esta é uma função que para<br />
além do conforto que introduz, leva também ao aumento da<br />
eficiênciaenergéticada habitação.<br />
A iluminação é outro dos sistemas que se deve dotar de<br />
alguma automatização.<br />
A instalação de alarmes técnicos tais como a detecção de<br />
gases combustíveis, a detecção de monóxido de carbono, a<br />
detecção de inundação e a detecção de incêndios são<br />
funções que devem ser implementadas. A possibilidade de<br />
em caso de fuga de gás ou de inundação se poder actuar nas<br />
electroválvulas para se efectuar o corte do gás ou da água,<br />
ou em caso de incêndio de fazer soar um alarme sonoro, são<br />
funçõesmuito úteis numa habitação.<br />
Fig.2 – Cenários de iluminação<br />
A criação de cenários de iluminação ou a variação da<br />
iluminação de acordo com as necessidades ou de acordo<br />
com a iluminação natural existente cria uma sensação de<br />
conforto,flexibilidade e eficiência da instalação.<br />
A segurança é um outro sistema que deve ser considerado.<br />
Os três sistemas que se falaram anteriormente são os que<br />
usualmente são dotados de “inteligência” numa habitação.<br />
Também começa a ser usual querer comandar alguns<br />
circuitos de potência, por exemplo o circuito em que está<br />
ligada a televisão ou as máquinas de lavar roupa ou louça, ou<br />
pode ter interesse comandar algumas tomadas, ou até a<br />
difusão sonora, ou o aquecimento. Contudo, apesar de<br />
quase todas as funções poderem ser dotadas de<br />
“inteligência”, é preciso ter em atenção que quanto mais<br />
funções se pretenderem automatizar, mais cara ficará a<br />
instalaçãoe a complexidade da mesma também aumenta.<br />
Tecnologia POWER LINE<br />
Detector de gás<br />
Detector de inundação<br />
Fig.3 – Alarmes técnicos<br />
A tecnologia Powerline Carrier (PLC) usa a cablagem<br />
tradicional de uma instalação (circuitos de tomadas e<br />
iluminação) para enviar as mensagens entre os emissores e<br />
os receptores. É enviado um sinal modulado em frequência<br />
(normalmente superior a 100kHz) pelos condutores<br />
eléctricos da instalação e apenas os receptores programados<br />
para esses sinais poderão actuar de acordo com esse sinal.<br />
271
ARTIGO TÉCNICO<br />
Como esta tecnologia usa a cablagem da instalação eléctrica<br />
da habitação, é preciso ter em atenção que como as<br />
instalações estão ligadas pela mesma cablagem eléctrica, um<br />
sistema instalado numa habitação poderá comunicar com a<br />
instalação do vizinho. Para evitar esse tipo de situações é<br />
conveniente a instalação de filtros no quadro eléctrico de<br />
entrada da habitação. Existem já sistemas desenvolvidos em<br />
que os aparelhos são dotados de um endereço, um código<br />
único para cada aparelho. Nesse tipo de sistemas a<br />
necessidade de filtros é menor. Os sistemas mais actuais<br />
também combinam a tecnologia de infra vermelhos (IR) e<br />
rádio frequencia (RF) com a tecnologia PLC. Com esta<br />
combinação de sistemas a flexibilidade da instalação<br />
aumenta. Por exemplo é possivel com um comando IR ou RF<br />
dar ordem a um estore para abrir ou fechar ou gerar um<br />
cenário de iluminação numa sala.<br />
Fig.4 – Comunicação PLC<br />
Uma vantagem deste tipo de instalações é que elas não são<br />
estáticas, isto é, se num determinado momento quisermos<br />
que um determinado comando deixe de fazer a sua função<br />
para passar a fazer outra, não é necessário alterar a<br />
aparelhagem mas apenas alterar a sua programação. Como<br />
não são sistemas muito complicados, a programação<br />
também é fácil de entender e efectuar. Geralmente é feita<br />
com recurso a apenas a uma chave de fendas e à manobra<br />
de alguns switchs.<br />
ideia de que este tipo de sistemas são demasiadamente<br />
caros. Como não é necessário aplicar a tecnologia a toda a<br />
instalação, ela pode ser aplicada de acordo com as<br />
necessidades ou de acordo com a disponibilidade monetária<br />
do proprietário da instalação.<br />
Como se tenta demonstrar na figura 5, apenas na sala está<br />
aplicado o sistema de domótica para comando da iluminação<br />
e criação de cenários de iluminação, a restante instalação<br />
eléctricacontinua a ser a tradicional.<br />
Uma limitação de alguns destes sistemas PLC é que a<br />
transmissão do sinal pode ser feito através do condutor<br />
neutro, o que implica a iunstalação de mais um condutor de<br />
neutro em algumas situações.<br />
Quanto ao design e estética dos aparelhos, que antigamente<br />
eram diferentes dos aparelhos de comando da instalação<br />
tradicional, hoje em dia esse problema desapareceu. Os<br />
fabricantes destes produtos investiram bastante neste<br />
aspecto e é fácil encontrar aparelhos de comando com<br />
design modernos e que não se diferenciam esteticamente da<br />
aparelhagem tradicional. Em algumas marcas, as diferenças<br />
existentes na aparelhagem não se conseguem notar<br />
exteriormente, pois quer os espelhos quer as teclas são as<br />
mesmas. A diferença está no mecanismo interno.<br />
Uma outra vantagem deste tipo de sistemas é que não é<br />
necessário alterar toda a instalação. É possível dotar de<br />
“inteligência” apenas algumas divisões de uma habitação,<br />
continuando o resto da habitação a usar a instalação<br />
tradicional. Esta é uma vantagem importante porque anula a<br />
Fig.5 – Instalação tradicional e sistema PLC<br />
272
ARTIGO TÉCNICO<br />
Conclusão<br />
Neste artigo foi referido o sistema Powerline Carrier como<br />
alternativaaos sistemas de domótica pura.<br />
Este sistema, apesar de não ter todas as funcionalidades que<br />
um sistema de domótica baseado na tecnologia EIB/KONNEX<br />
possibilita, conseguem automatizar e controlar as funções<br />
mais úteis numa instalação, tais como a iluminação, o<br />
comando de estores, o aquecimento e os alarmes técnicos.<br />
Uma vantagem dos sistemas PLC é a não necessidade de<br />
haver um bus dedicado à passagem da informação. As<br />
mensagens são enviadas pela cablagem tradicional da<br />
instalaçãoeléctrica.<br />
Apesar de estes sistemas poderem ser utilizados como<br />
upgrades às instalações tradicionais, sem haver a<br />
necessidade de fazer uma nova instalação eléctrica, para se<br />
tirar todo o partido das vantagens que estes sistemas<br />
permitem, o ideal seria os projectistas eléctricos<br />
dimensionarem as instalações para este tipo de sistemas ao<br />
nível do projecto eléctrico.<br />
273
Domingos Salvador Gonçalves dos Santos<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
Gestão Técnica de Edifícios<br />
com KNX<br />
1. Enquadramento<br />
A eficiência energética dos edifícios é cada vez mais uma das<br />
prioridades nas agendas dos gestores comercias dos edifícios<br />
e proprietários. Em parte deve-se ao processo de certificação<br />
energética dos edifícios, que entrou em vigor em 2007,<br />
através dos Decretos de Lei 78/2006, 79/2006 e 80/2006. A<br />
solução passa agora pela poupança contínua de energia<br />
através de uma eficienteGestão Técnica de Edifícios.<br />
2. Standard KNX<br />
O Standard KNX (anteriormente EIB) é um sistema para o<br />
controlo e automação de todo tipo de Edifícios, totalmente<br />
compatível com a Norma Europeia EN50090.<br />
Grande parte dos proprietários de edifícios comerciais, ao<br />
nível mundial, rapidamente aceitou esta tecnologia como<br />
suporte para alcançar a máxima eficiência energética, uma<br />
vez que tem uma série de vantagens em relação a soluções<br />
alternativas. Por exemplo, num momento em que é<br />
esperado que a Gestão Técnica de Edifícios (BEMS - Building<br />
Energy Management Systems) seja cada vez mais a solução<br />
adoptada, o KNX tem a capacidade de ser integrado em<br />
qualquer tipo de BEMS. Uma vez integrado, outras<br />
vantagens do KNX entram em jogo no controlo local em cada<br />
área do edifício.<br />
A vantagem do KNX cobrir praticamente todas as áreas<br />
funcionais de um edifício, oferece-nos uma abordagem<br />
holística da utilização eficiente da energia. O KNX não está<br />
limitado à iluminação, aquecimento ou medição, ou<br />
qualquer outra função específica.<br />
A plataforma KNX tem sido adoptada por muitos e altamente<br />
respeitados fabricantes, oferecendo uma vasta escolha de<br />
produtos que abrangem todas as áreas funcionais dos<br />
edifícios.<br />
A escolha um protocolo proprietário de um único fabricante,<br />
obriga a uma dependência que poderia ser problemática<br />
durante o ciclo de vida de um sistema.<br />
Com o KNX, se um determinado produto já não está<br />
disponível, existe a garantia que haverá uma alternativa de<br />
substituição.<br />
Como o KNX abrange uma diversidade de aplicações que<br />
utilizam o mesmo protocolo de comunicações, a ligação em<br />
rede dos dispositivos é muito simples. Um único cabo par<br />
entrançado pode, em muitas vezes, ser suficiente para<br />
interligar vários dispositivos que operam em conjunto numa<br />
única rede. O KNX utiliza como suporte físico o cabo verde J-<br />
Y(st)Y2x2x0.8mm2 (i.e. par entrançado TP), podendo<br />
contudo usar outros meios, tais como, Rádio (RF), Ethernet,<br />
Fibra Óptica ou Linha de Potência.<br />
Como exemplo de integração do KNX, já existem vários<br />
dispositivos no mercado, designados por “gateways”, que<br />
proporcionam a interligação com outros protocolos de<br />
controlo, tais como DALI (Digital Addressable Lighting<br />
Intelligence). Estes dispositivos, são utilizados para expandir<br />
a capacidade dos sistemas de controlo KNX e fornecer a<br />
soluçãode gestão completa de um edifício.<br />
KNX também tem trabalhado com protocolos ao nível da<br />
gestão, como o BACnet, para permitir o interfuncionamento<br />
entre estas duas normas, sempre que o projecto exige<br />
gestãocentralizada.<br />
Consultores, especialistas e utilizadores finais à procura de<br />
soluções abertas para Gestão Técnica de Edifícios, estão cada<br />
vez mais a considerar KNX como tecnologia base em<br />
detrimento de soluções proprietárias ou de vários controlos<br />
baseadosem hardware.<br />
274
ARTIGO TÉCNICO<br />
O que também contribui para escolha do KNX, é que um<br />
produto que é colocado no mercado, é totalmente testado e<br />
certificado por um organismo regulador independente e só<br />
depois é que o produto pode ter o logótipo KNX.<br />
A KNX Association é o organismo internacional responsável<br />
pela certificação. Este processo, garante total confiança na<br />
fiabilidade e interoperabilidade dos produtos KNX,<br />
independentementedos dispositivose fabricantes.<br />
- Inglaterra, Heathrow Airport, Terminal 5<br />
No terminal 5 do aeroporto de Heathrow, o KNX controla a<br />
gestão dos sistemas de iluminação, de forma a proporcionar<br />
aos passageiros um ambiente bem iluminado nas diversas<br />
áreas do terminal, incluindo o terminal ferroviário, o pátio<br />
principal do edifício e a ligação dos passageiros (TTS -<br />
Tracked Transit System) entre o edifício principal e os<br />
edifíciosutilizados para o embarque.<br />
O novo paradigma da gestão energética, faz com que seja<br />
extremamente importante tornar mais eficiente a utilização<br />
da energia.<br />
Também controla a iluminação dos vários andares do parque<br />
de estacionamento, do centro climatização e da torre de<br />
controlo de tráfego aéreo.<br />
Por exemplo, um sistema de controlo da iluminação pode ser<br />
simplesmente configurado para acender as luzes somente<br />
quando alguém está presente na sala, mas também pode<br />
monitorar níveis luminosidade e regular a iluminação<br />
(escurecer ou clarear) em função da luz natural. Este é um<br />
exemplo muito simples de eficiência energética.<br />
O controlo eficaz da iluminação pode resultar em economias<br />
de energia muito significativas. Se o sistema for integrado<br />
com o controlo de estores e persianas, climatização e<br />
monitorização, poderá proporcionar enormes poupanças. A<br />
beleza do KNX é a capacidade de possibilitar a inclusão de<br />
mais soluções de poupança de energia, sem condicionar o<br />
normal funcionamento do edifício. Mais, sendo o KNX uma<br />
tecnologia distribuída, a avaria ou falha de um elemento não<br />
compromete o funcionamentodos restantes.<br />
3. Alguns Exemplos de Utilização do KNX<br />
Figura 1 - Inglaterra, Heathrow Airport, Terminal 5<br />
Embora não tenha sido desenvolvido para comunicar<br />
directamente com o Sistema de Gestão Técnica (SGT), sendo<br />
a plataforma KNX é uma tecnologia aberta, foi possível<br />
integrar o sistema KNX no SGT.<br />
Hoje em dia, o KNX é uma tecnologia adoptada em todo<br />
mundo, desde da China aos Estados Unidos, bem como da<br />
Austráliaao Médio Oriente.<br />
Seguidamente apresentam-se alguns exemplos que<br />
representam alguns dos projectos mundiais realizados com<br />
KNX.<br />
Esta solução permite à manutenção acompanhar a evolução<br />
dos sistemas de iluminação em todo o terminal e<br />
rapidamente identificar eventuais falhas através do Sistema<br />
Central de Gestão Técnica, incluindo a sua localização<br />
precisa. Desta forma, garante-se que todas as áreas do<br />
terminal estão constantemente bem iluminada, facilitando<br />
ainda a sua manutenção.<br />
275
ARTIGO TÉCNICO<br />
O sistema de iluminação reage de acordo com as condições<br />
climáticas, regulando automaticamente a iluminação<br />
artificial em função da iluminação natural exterior.<br />
Ao todo, foram instalados mais de 400 actuadores KNX para<br />
o controlo da iluminação. Em algumas áreas, existem botões<br />
de pressão que fornecem um controlo manual do sistema de<br />
iluminação, sobrepondo-se ao sistema automático de<br />
controlo. Ao anoitecer e ao amanhecer, quando o aeroporto<br />
é menos movimentado, o sistema de iluminação reduzirá<br />
automaticamenteiluminação níveis.<br />
- China, Estádio Olímpico de Pequim<br />
- Pequim, Terminal 3 do Aeroporto<br />
Mais de 11.000 dispositivos KNX entraram na construção do<br />
Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim, para o<br />
controlo da iluminação, climatização e transmissão de<br />
mensagensde erro.<br />
O Terminal 3 do Aeroporto de Pequim, que possui uma área<br />
de 986.000 m² e é o maior edifício num aeroporto no<br />
mundo, foi inaugurado em Fevereiro 2008. Actualmente, os<br />
dois mais importantes aeroportos da China - Xangai e<br />
Pequim - estão equipados com a tecnologiaKNX.<br />
As principais arenas utilizadas nos Jogos Olímpicos de<br />
Pequim estão automatizadascom a tecnologia KNX.<br />
Figura 3- Terminal 3 do Aeroporto de Pequim<br />
- Turquia, Hotel Kempinski, “The Dome”<br />
Figura 2- China, Estádio Olímpico de Pequim<br />
No espectacular "Ninho de Pássaros", o todo sistema de<br />
iluminação é controlado por KNX, incluindo a deslumbrante<br />
iluminação exibida durante a abertura e encerramento da<br />
29.ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão.<br />
O novo e luxuoso Hotel Kempinski, “The Dome”, na<br />
paradisíaca praia de Antalya na Turquia, apresenta-se como<br />
um sonho das 1001 Noites. A arquitectura de um complexo<br />
edifíciomoderno faz lembrar o estilo Seljukian.<br />
A mesma tecnologia foi instalada no maior centro Aquático<br />
do mundo, no qual os organizadores dos Jogos investiram<br />
100 milhões de euros.<br />
Este edifício, utiliza a tecnologia KNX, por exemplo, para<br />
tempo de controlo e regulação do consumo de energia,<br />
assim como para os efeitos de iluminação na fachada do<br />
edifício.<br />
Figura 4- Turquia, Hotel Kempinski - The Dome, Antalya<br />
276
ARTIGO TÉCNICO<br />
O complexo hoteleiro com 157 quartos, 16 moradias, seis<br />
restaurantes e três bares está localizado sobre uma área de<br />
aproximadamente1.250.000m².<br />
Os quartos foram concebidos com base nas cores<br />
Mediterrâneas e estão equipados com o mais recente<br />
tecnologia. Não existem os típicos sinais "Por favor, não<br />
perturbar" em qualquer lugar do Kempinski. Esta<br />
informação, é por sua vez exibida na porta por um display<br />
LED, que pode ser convenientemente controlado pelo<br />
hóspede junto à cama.<br />
- Áustria, Cidade de Salzburgo<br />
A cidade de Salzburgo cobre uma área de 65,65km² e tem<br />
150.269habitantes (conforme dados de 2007).<br />
O sistema de iluminação pública da Cidade de Salzburgo<br />
inclui 19.000 luminárias com um total de 2,9 MW de<br />
potênciae uma rede de 600km de comprimento.<br />
Os custos da energia por hora de funcionamento (0,11€ por<br />
kW/h) são 319 euros.<br />
Quartos com Pensamento - Conforto Funções<br />
Uma tecnologia avançada e normalizada, sem um<br />
compromisso de um único fabricante e que proporciona-se<br />
conforto elevado ao utilizador e eficiência energética, foram<br />
as razões que levaram os investidores e operadores do<br />
Kempinski Hotels a optar pela tecnologia KNX. Durante o<br />
check-in dos hóspedes, a recepção poderá activar as<br />
seguintes funções do quarto seleccionado: A climatização<br />
definida para modo de conforto, luzes de boas-vindas e TV<br />
ligada. Todas as outras funções estarão operacionais mal o<br />
hóspede introduza o cartão no leitor do seu quarto.<br />
Ajuda Rápida em Caso de Emergência<br />
Todas as casas de banho estão equipadas com um sistema de<br />
chamada de emergência. Isso garante que a recepção será<br />
alertada através do sistema KNX com um alarme sonoro e a<br />
exibição do número do quarto no caso de uma emergência.<br />
O novo sistema KNX liga as luzes quando a luminosidade<br />
baixa os 180 lux e desliga a 40 lux na parte de manhã.<br />
Comutações devido ao mau tempo (tempestades, neve,<br />
nuvens) são ultrapassadasatravés do modo de longo tempo.<br />
Os algoritmos do KNX verificam o desenvolvimento da luz<br />
natural em Salzburgo e só permitem que as luzes se liguem<br />
após um alargado período de escuridão, poupando assim<br />
uma grande quantidade de energia. A alta estabilidade do<br />
sistema KNX garante a segurança do sistema.<br />
O sistema está construído em redundância. Existem dois<br />
sistemas idênticos a correr em paralelo, segundo o qual o<br />
sistema o primeiro sistema é executado como sistema<br />
primário. Se este sistema entra em modo de erro, o segundo<br />
sistema assume o controlo. Cada sistema auto verifica-se<br />
através da transmissão cíclica de mensagens de todos os KNX<br />
componentespara detectar avarias.<br />
Figura 5 – Áustria, Central Publica de Iluminação de Salzburg<br />
277
ARTIGO TÉCNICO<br />
Os algoritmos de controlo foram implementados módulos de<br />
funções KNX. Dois sensores luz estão localizados numa caixa<br />
metrológica aquecida e com a temperatura controlada. O<br />
circuito de equipamentos sensíveis à luz envia à noite um<br />
pré-aviso de 4 quatro minutos para a companhia eléctrica.<br />
Este pré-aviso é necessário para que o arranque e<br />
sincronização de um gerador de 4 MW. Todas as comutações<br />
seguintes serão desfasadas em 10 minutos para evitar picos<br />
de arranque e prevenir religações de iluminação.<br />
Cada sistema permite um controlo manual, que se sobrepõe<br />
ao modo normal, durante a manutenção ou em<br />
circunstânciasespeciais.<br />
O navio tem mais de 100 cabines em diferentes categorias e<br />
tem capacidadepara mais de 200 passageiros.<br />
Para além do elevado conforto, um grande navio de cruzeiro<br />
deve satisfazer todas as exigências no que diz respeito à<br />
segurança. A comutação da iluminação nos quartos, salões e<br />
corredores para a energia de emergência tem de ser<br />
efectuado num tempo muito curto. A tripulação do navio<br />
deve ter o controlo sobre esta funcionalidade em qualquer<br />
momento. Sendo a tecnologia KNX um sistema<br />
descentralizado,é o ideal para este tipo de aplicação.<br />
4. Conclusões<br />
Benefícios do Sistema KNX<br />
• Comutação automática do sistema de iluminação<br />
pública, poupando energia e aumentando os intervalos<br />
de manutenção para a mudança luzes.<br />
• A automatização foi implementada com o KNX, porque<br />
um sistemas industriais equivalente SPS teria um custo<br />
muito superior. Os investimentos para componentes e<br />
engenhariaforam de apenas 10.250€.<br />
- França, Cruzeiro MS Belle de l’Adriatique<br />
Em edifícios utilizadospara fins comerciais, a flexibilidadee a<br />
eficiênciade custos desempenham um papel importante.<br />
Neste enquadramento, o KNX apresenta-se como solução<br />
em virtude da sua flexibilidade e integração.<br />
Factores como, flexibilidade, economia, segurança e<br />
confortosão alguns dos argumentos de KNX.<br />
Funcionalidades tais como, gestão automática da iluminação,<br />
climatização, monitorização entre outras são soluções de<br />
integrantesdo KNX.<br />
O MS Belle de l'Adriatique percorre o Mar Mediterrâneo<br />
desde da Costa da Croácia até às Ilhas Canárias.<br />
Figura 6- França, Cruzeiro MS Belle de l’Adriatique<br />
278
ARTIGO TÉCNICO<br />
Sónia Viegas<br />
Astratec, Lighting Consultant<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />
Sistema de Gestão de Iluminação<br />
LUTRON<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
2. ILUMINAÇÃO<br />
Os custos da construção dos edifícios e posteriormente a sua<br />
manutenção,são cada vez mais elevados.<br />
A dimensão e a densidade de ocupação, que hoje<br />
caracterizam os edifícios, os objectivos de flexibilidade de<br />
utilização e contenção de custos de funcionamento, são cada<br />
vez mais uma necessidade, tornando indispensável a<br />
racionalização do projecto e a optimização da exploração dos<br />
edifícios.<br />
Quer sejam através de imposições legais, como os recentes<br />
diplomas relativos ao Sistema de Certificação Energética<br />
(SCE), Regulamento das Características de Comportamento<br />
Térmico dos Edifícios (RCCTE) e Regulamento dos Sistemas<br />
Energéticos de Climatização em Edifícios (RSECE), quer<br />
surjam das próprias necessidades de evolução da actual<br />
sociedade, assistimos a uma exigência cada vez maior dos<br />
requisitos de conforto, de segurança e flexibilidade. Esta<br />
preocupação não se pode esgotar no correcto e eficaz<br />
projecto dos sistemas implementados, mas é importante não<br />
descurar a sua performance ao longo do seu tempo de vida<br />
útil dos Sistemas.<br />
A automatização e integração de sistemas nos edifícios é um<br />
tema actual e que se vem tornando obrigatório dadas as<br />
necessidades actuais de cumprir os requisitos energéticos,<br />
de segurança, de conforto, de sustentabilidade e<br />
adaptabilidade em todas as fazes da vida de uma edificação:<br />
projecto, construção e utilização, englobando a sua<br />
manutenção e remodelações. De acordo com estas<br />
necessidades as características tecnológicas evoluíram desde<br />
os tempos em que não existia nenhuma automatização nos<br />
edifícios, passando pelos sistemas centralizados em que,<br />
num único ponto, era possível saber o estado dos<br />
equipamentos do edifício e exercer controlo sobre eles, mas<br />
sem integração dos vários sistemas, até aos sistemas de<br />
gestãointegrados com arquitecturasdistribuídas.<br />
Para os que possuem o sentido da visão, a iluminação é um<br />
bem essencial, esta pode ser natural ou artificial, sendo<br />
sempre benéfico privilegiar a iluminação natural, a<br />
iluminação artificial tem sofrido evoluções tecnológicas com<br />
o passar dos anos, com origem na descoberta do fogo e<br />
desenvolvimento da energia eléctrica, sendo que a<br />
iluminação foi o primeiro serviço disponibilizado pelas<br />
empresas produtoras de electricidade.<br />
A iluminação pode ser definida como o efeito visual obtido<br />
no cérebro dos observadores, resultante da luz ali existente,<br />
ou seja é o nível energético existente nesse local, que é o<br />
resultado da soma de todas as radiações electromagnéticas<br />
que lá existem e cujas frequências são visíveis pelos seres<br />
humanos.<br />
Para se fazer bom uso da iluminação, esta deve estar no local<br />
correcto, no tempo preciso, na intensidade e quantidade<br />
certa e com a cor e qualidade ideal, oferecendo condições de<br />
salubridade,conforto, segurança e eficiência energética.<br />
O melhor ou pior desempenho energético de um Sistema de<br />
iluminação depende essencialmentedos seguintesfactores:<br />
• Eficiência dos diferentes componentes do sistema:<br />
lâmpadas, balastros e armaduras;<br />
• A utilização dada à instalação, sendo muito importante<br />
adequar o tipo de controlo utilizado e a luz natural<br />
disponível;<br />
• A manutenção efectuada nas instalações.<br />
Um dos grandes avanços tecnológicos baseados em<br />
microprocessadores, foi criar a possibilidade de se efectuar<br />
um “controlo inteligente” da iluminação, proporcionando<br />
uma maior flexibilidade e oferecendo uma melhor gestão da<br />
iluminação. Através deste controlo é possível criar um<br />
ambiente esteticamente agradável e, ao mesmo tempo,<br />
poupar energia.<br />
279
ARTIGO TÉCNICO<br />
Os factores que têm influência neste controlo podem ser o<br />
tipo de ocupação, as funções desenvolvidas no espaço, a<br />
hora do dia e os níveis de iluminação exterior. Sendo um<br />
sistema de controlo dotado de “inteligência”, este tem a<br />
capacidade de memorização dos níveis de iluminação para<br />
efectuar ajustes automáticos, ou seja, a programação dos<br />
cenáriosde iluminação.<br />
O controlo de iluminação pode ser realizado com uma<br />
arquitectura independente ou em rede centralizada ou<br />
distribuída, sendo que uma arquitectura em rede tem mais<br />
vantagens, inclusive a da integração com os restantes<br />
sistemas de gestão e controlo existentes no edifício e<br />
flexibilidadeda instalação.<br />
Os reguladores de iluminação permitem o chamado<br />
“arranque suave” que por exemplo para as lâmpadas<br />
incandescentes lhe pode prolongar o tempo de vida útil que<br />
tendem a apresentar falhas de funcionamento quando são<br />
ligadas e o filamento sofre um choque térmico, podendo<br />
também oferecer protecção contra picos de corrente.<br />
Regular a iluminação também origina poupanças indirectas,<br />
com a redução da carga térmica da iluminação e<br />
consequente economia energética relacionada com os<br />
sistemasAVAC.<br />
3. O SISTEMA DE GESTÃO DE ILUMINAÇÃO - LUTRON<br />
O Sistema de Controlo de Iluminação da LUTRON, que tem<br />
sido um dos pioneiros na regulação de iluminação, desde a<br />
década de 60, após Joel Spira ter inventado o seu primeiro<br />
regulador em 1959.<br />
Algumas característicasdo Sistema LUTRON:<br />
• Poupança de energia com a regulação da potência de<br />
fluxo;<br />
• Capacidade para regular os vários tipos de iluminação,<br />
assim como:<br />
1. Incandescência e Halogéneo (230V, transformador<br />
magnético, transformador electrónico de fase<br />
directa, transformador electrónico de fase inversa –<br />
ELVI)<br />
2. Fluorescência - Balastro electrónico regulável<br />
(analógico1-10v, DSI ou DALI)<br />
3. Néon (transformadormagnético) e LED´s<br />
• Programaçãode vários cenários de iluminação;<br />
• Transição gradual entre os vários cenários de iluminação,<br />
proporcionando maior conforto e também valorizando<br />
os aspectosdecorativos;<br />
• Possibilidade de utilização de comando à distância por<br />
meio de infravermelhos;<br />
280
ARTIGO TÉCNICO<br />
• Possibilidade de integração com outros sistemas (ex.<br />
Comandos de cortinas);<br />
• Possibilidade de gravação de cenários para posterior<br />
simulação de presença, sendo que esta função poderá<br />
estar interligada com os sistemas de segurança;<br />
• Possibilidade de regulação automática da iluminação<br />
através de relógio astronómico, detectores de presença<br />
e sensores de iluminação;<br />
• Filtro RTISS, RTISS-TE e SOFTSWITCH para estabilidade da<br />
iluminação<br />
A LUTRON efectua a regulação da iluminação através de<br />
TRIAC's, um TRIAC é um interruptor de estado sólido que<br />
abre e fecha 120 vezes/segundo.<br />
A regulação é efectuada controlando a proporção do tempo<br />
da luz ligada versus desligada, quanto mais tempo o TRIAC<br />
está aberto mais brilhante é a luz visível, pelo contrário,<br />
quanto mais tempo o TRIAC está fechado, mais ténue está a<br />
luz, ver figura 1.<br />
Quando as luzes estão desligadas, não há consumo de<br />
energia, logo a utilização de TRIAC's para regulação do fluxo<br />
luminoso irá gerar poupanças energéticas, relativamente ao<br />
tempo de vida útil da lâmpada, este não é afectado pelo<br />
número de vezes que esta liga e desliga, mas sim pela<br />
temperatura que atinge, reduzir a temperatura aumenta o<br />
tempo de vida útil da lâmpada, tabela 1.<br />
Tabela 1 − Relação de poupança com uma lâmpada incandescente<br />
(extraído de LUTRON)<br />
% de Luz Poupança<br />
Energética<br />
Vida Útil da<br />
Lâmpada<br />
90% 10% 2 vezes mais<br />
75% 20% 4 vezes mais<br />
50% 40% 20 vezes mais<br />
25% 60% > 20 vezes mais<br />
Figura 1 – Relação da iluminação com a posição do triac (extraído de LUTRON)<br />
281
ARTIGO TÉCNICO<br />
Utilizando este sistema de regulação e apesar de se ligarem<br />
e desligarem as luzes, este processo acontece de uma forma<br />
tão rápida que não é perceptível para o olho humano, por<br />
outro lado a nossa percepção da luz é superior ao real, ver<br />
figura 2.<br />
A escolha do método de controlo da luz eléctrica (lâmpadas)<br />
tem um papel importante para a regulação eficaz da<br />
iluminação.<br />
Se se utilizar um controlo do tipo on/off, este não será o<br />
método mais eficaz, por outro lado um controlo<br />
proporcional permite saídas de sinal adaptativas ao longo do<br />
tempo (dia), normalmente este é o método mais indicado<br />
para o controlo e regulação da iluminação, sendo assumido<br />
que a principal fonte de iluminação é a da luz solar, nos<br />
casos que a fonte de luz é uma mistura de luz solar com luz<br />
eléctrica/artificial - loop de controlo proporcional fechado,<br />
existem métodos que permitem filtrar e eliminar totalmente<br />
o contributo da luz eléctrica – loop de controlo proporcional<br />
aberto. Assim, o posicionamento, a direcção e da área de<br />
vista do sensor de iluminação, são factores relevantes para a<br />
escolhado método de controlo.<br />
Figura 2 – Relação entre luz perceptível e real<br />
(extraído de LUTRON)<br />
Para controlo da iluminação natural são utilizados sensores<br />
de luz (iluminação), que avaliam continuamente a luz do dia<br />
disponível, para garantir o nível de luz dentro um intervalo<br />
pré-determinado. De modo geral, os sensores de iluminação<br />
respondem à luz que é incidente na superfície do sensor,<br />
além da luz directa do sol, que na maioria dos casos não se<br />
quer que seja reflectida nas superfícies, a outra fonte de luz<br />
natural é proveniente da reflexão (e relativamente difusa) da<br />
luz solar no céu e nas nuvens.<br />
Para um controlo eficiente da luz natural dentro dos<br />
edifícios, é necessário orientar o sensor de iluminação (luz)<br />
de forma a que consiga medir a luz solar reflectida na<br />
proporção exacta em que varia nas superfícies que se<br />
pretendem controlar. O local ideal será aquele em que o<br />
sensor consegue medir o máximo de iluminação solar, mas<br />
não é influenciado por outras fontes exteriores de brilho<br />
(luz).<br />
A Lutron usa o método de controlo proporcional, o que pode<br />
ser configuradocomo em loop aberto ou fechado.<br />
Quando se controla no mesmo sistema a regulação de<br />
cortinas/persianas e de luz eléctrica (lâmpadas), as cortinas<br />
/persianas têm uma saída de controlo on/off, enquanto que<br />
a iluminação eléctrica é regulada em loop de controlo<br />
proporcional, sendo que não é fornecida ordem de<br />
abertura/fecho das cortinas/persianas enquanto os valores<br />
do sensor de iluminação se encontrarem no intervalo prédefinido<br />
(banda morta do sistema), se o sinal do sensor de<br />
iluminação ultrapassar este intervalo, então as<br />
cortinas/persianas são actuadas para obter o valor central do<br />
intervalo, para garantir que não são dadas ordens constantes<br />
de actuação aos motores (vistos que esta acção seria muito<br />
desagradável para os utilizadores do espaço e desgastante<br />
para os motores).<br />
O sensor de iluminação converte a quantidade de luz<br />
detectada num sinal de corrente contínua que pode variar,<br />
por exemplo, entre 0 e 3 mA ao longo do dia, sendo que o<br />
sinal de saída do controlador proporcional que determina os<br />
níveis de regulação das lâmpadas é proporcional a este sinal,<br />
282
ARTIGO TÉCNICO<br />
quanto mais elevado o sinal do sensor, mais baixo o nível de<br />
iluminação eléctrica. No controlo on/off são definidos três<br />
níveis que correspondem à luz incidente no sensor, que<br />
podem ser definidos como “valor desejado”, “elevado” e<br />
“fraco”, o intervalo de valores entre estes níveis deve ser<br />
grande o suficiente para fornecer a histerese do sistema<br />
(diferença máxima obtida entre as leituras de um ciclo de<br />
calibração, expressa em percentagem do alcance), quando<br />
um determinado limiar é ultrapassado, o sistema de controlo<br />
actua de forma a obter de novo valores aceitáveis.<br />
A relação entre a iluminação fornecida pelos candeeiros de<br />
tecto e pelos candeeiros de pé ou secretária, nem sempre é<br />
muito boa, mas melhora à medida que nos afastamos das<br />
janelas, então deve escolher-se como localização<br />
preferencial para o sensor de iluminação uma distância de<br />
cerca de “duas janelas” para o interior da sala. Quando se<br />
controla simultaneamente as luzes e as cortinas, o sensor<br />
deve estar localizado mais próximo da janela para receber a<br />
influência directa da janela a ser controlada, devendo então<br />
localizar-seo sensor à distância de cerca de “uma janela”.<br />
Antes de dar por terminada a instalação do sistema de<br />
controlo de iluminação, este deve ser calibrado, é necessário<br />
dizer ao sistema qual o nível de iluminação desejado e<br />
definir o nível a contribuição da iluminação artificial<br />
requerida para um dia típico de iluminação natural, os<br />
valores medidos durante a noite ou com as<br />
cortinas/persianas fechadas (se forem do tipo blackout<br />
total), que definimos a contribuição da iluminação artificial<br />
sem influência de qualquer iluminação natural, com toda a<br />
iluminação ligada, os valores medidos pelo sensor são<br />
registados, esta informação pode então ser utilizada durante<br />
o dia para subtrair a contribuição da iluminação artificial<br />
medida continuamente pelo sensor, tornando o sistema<br />
dotado de um controlo proporcional em loop aberto.<br />
Os sensores de iluminação da LUTRON têm as seguintes<br />
características:<br />
• Uma resposta espectral que está perto de resposta do<br />
olho humano;<br />
• Utilizam correcção de co-seno espacial, o que representa<br />
correctamente as fontes de luz em vários ângulos de<br />
incidência;<br />
• Ângulo de visão vertical de 60 graus e 180 graus na<br />
horizontal fornecem um amplo ângulo de visão<br />
adequadapara sistemas de controlo proporcional;<br />
• A visão é orientada para o lado, proporcionando direcção<br />
ao sensor e tornando-o facilmente adaptável a uma<br />
variedade de locais de montagem;<br />
• Grande alcance dinâmico (0 a 20000 Lx) e resposta linear<br />
dentro deste intervalo.<br />
Com sistemas de controlo centralizado de iluminação é<br />
possível efectuar comutação, regulação e gestão de energia<br />
e controle de sombra de forma centralizada ou localizada,<br />
gerir todo o sistema, incluindo a gestão da manutenção de<br />
agendamento, sistema de diagnóstico e relatórios do estado<br />
da instalação, bem como a integração com o SGIT de outros<br />
fabricantes pode ser realizada através de BACnet, Lonworks,<br />
RS232, ou CCI/CCO (entradase saídas de contactos).<br />
A hora do nascer e do pôr-do-sol mudar todos os dias, o<br />
relógio astronómico integrado no sistema permite<br />
programar eventos para o amanhecer e/ou anoitecer,<br />
enquanto que um programador horário normal apenas<br />
permite criação de eventos a horas fixas.<br />
As possibilidades de programação deste sistema têm as<br />
seguintescaracterísticas:<br />
• Programação de sequências: sequências de iluminação<br />
automáticas disponíveis para cada espaço, as sequências<br />
podem ter vários passos e cada passo pode ter uma<br />
temporização programada de 0,2 segundos a 90 minutos<br />
com incremento de 0,1 segundos;<br />
• Partições: Controlo adaptativo da iluminação em espaços<br />
configuráveis;<br />
• Compensação da iluminação exterior: Selecção<br />
automática de cenas pré-programadas com regulação da<br />
iluminação artificial (lâmpadas) e natural<br />
(cortinas/persianas).<br />
283
António Manuel Luzano de Quadros Flores<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />
ARTIGO TÉCNICO<br />
A CRIAÇÃO DE VALOR NO BINÓMIO<br />
“CASA INTELIGENTE” / CONSUMIDOR<br />
RESUMO<br />
Este trabalho tem como objectivo entender a criação de valor<br />
no binómio casa inteligente/consumidor, esperando assim<br />
contribuir para um novo equilíbrio procura/oferta tendente a<br />
que uma casa inteligente fique acessível a mais lares<br />
portugueses.<br />
O método utilizado baseou-se na pesquisa do mercado<br />
português de sistemas de domótica e posteriormente no<br />
estudo das motivações do consumidor recorrendo ao método<br />
quantitativo de análisede inquéritos.<br />
Do cruzamento do conhecimento dos sistemas<br />
disponibilizados para casas inteligentes e das motivações dos<br />
consumidores poderá resultar uma melhor aproximação à<br />
soluçãoque conduz à satisfaçãodo consumidor.<br />
Neste estudo concluiu-se que, actualmente, em Portugal,<br />
estão disponíveis sistemas domóticos capazes de satisfazer<br />
as necessidades e motivações dos diferentes consumidores.<br />
Assim, os sistemas baseados no protocolo EIB com excelentes<br />
características enquadram-se no segmento mais exigente e<br />
com maior investimento.<br />
O protocolo X10 oferecendo uma elevada flexibilidade a<br />
baixo custo, disponibilizando pequenos kits de inicialização<br />
acessíveis e facilitando a sua instalação, dado utilizarem a<br />
rede eléctrica para comunicação e interligação, parece dar<br />
resposta ao segmento de mercado de menor investimento<br />
nesta área.<br />
O segmento intermédio encontra uma resposta diversificada<br />
nas soluções oferecidas baseados em sistemas proprietários<br />
desenhados para responder às exigências mais comuns dos<br />
consumidores.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A casa, a nossa habitação, é um pouco de nós, pois nela<br />
passamosgrande parte da nossa vida.<br />
Por isso, ela é algo de muito delicado e reflecte um pouco da<br />
nossa personalidade.<br />
Tentamos permanentemente ajustá-la à nossa maneira de<br />
estar, de modo a ser cada vez mais confortável, mais segura<br />
e mais agradável.<br />
Tornamo-la mais inteligente, preparando-a para assumir<br />
novas funcionalidades: “how far you go with your smart<br />
home depends on your lifestyle, budget and tastes” [01].<br />
Esses são os limites actuais: “lifestyle, budget and tastes”! A<br />
tecnologiadeixou de ser o limite! Agora o limite está em nós.<br />
Tecnicamente, os sistemas evoluíram e proliferaram. Hoje<br />
em dia, a oferta é diversa e o consumidor, que<br />
anteriormente tinha que aceitar o que o mercado lhe<br />
disponibilizava, agora tem de fazer opções e seleccionar uma<br />
solução com a qual terá de conviver. A lógica do mercado<br />
inverteu-se nos últimos anos: anteriormente a oferta era<br />
escassa e por isso produzia-se para stock, agora a lógica de<br />
mercado passou a ser comandada pela procura.<br />
Estudar os diferentes sistemas de domótica para casas<br />
inteligentes é pensar num cliente exigente, criativo e que<br />
procura na tecnologia a concretização dos seus sonhos: uma<br />
casa segura, confortável e atractiva. Neste contexto, para<br />
que os clientes de casas inteligentes sintam a satisfação que<br />
as tecnologias lhes podem oferecer, sondamos os seus<br />
interesses e motivações e decidimos cruzá-los com a oferta<br />
de sistemas domóticos existentes em Portugal.<br />
2 O CONCEITO DE CASA INTELIGENTE<br />
Diversas empresas promovem, em termos de marketing, o<br />
nome de "casa inteligente", quando apenas utilizam alguns<br />
automatismos isolados, sem qualquer possibilidade de<br />
integraçãoou expansão.<br />
O resultado provoca a desconfiança e saturação entre os<br />
clientes particulares ou profissionais, ainda à procura de<br />
elementos de referência numa tecnologia que ainda não<br />
conhecem. [08]<br />
Quando se aborda o tema das casas inteligentes tem-se<br />
normalmente o cuidado de definir previamente esse<br />
conceito.<br />
284
ARTIGO TÉCNICO<br />
Dado a designação de “casa inteligente” ter um termo<br />
controverso, resultam normalmente definições, no mínimo,<br />
curiosas.<br />
Senão, vejamos:<br />
- Franco [03] afirma que “uma casa inteligente deve ser<br />
como um mordomo invisível, capaz de observar, tomar<br />
decisõese actuar sobre o meio envolvente”.<br />
- Segundo Roseta [12] “talvez a melhor casa do futuro seja<br />
aquela que for capaz de transmitir uma lição de<br />
harmonia entre memória e sonho, que a faça resistir à<br />
prova do tempo que passa. Mas há também que abrir as<br />
portas à imaginação criadora e construtora do homem,<br />
capaz de fazer do seu habitat um mundo maravilhoso e<br />
mágico, onde ao alcance de um botão podem estar as<br />
mais diversas possibilidades de realizar as suas<br />
aspirações”.<br />
- Soares [14] considera que “a “Casa do Futuro” deve ser o<br />
espaço por excelência da vida moderna, onde a família<br />
no seu todo, e cada membro do agregado familiar em<br />
particular (crianças, jovens, adultos e idosos), encontra<br />
as diversas instalações especiais úteis e necessárias ao<br />
seu “contacto com o mundo”. A “Casa do Futuro” deve<br />
também estar preparada para permitir o acesso fácil a<br />
todos os cidadãos, incluindo os deficientes”.<br />
- No “Logar Digital Conectado los PCs y otros equipos<br />
electrónicos de consumo trabajan de forma conjunta<br />
para ofrecer contenido digital en todos los lugares de la<br />
casa. La gestión de este contenido se realiza de forma<br />
fácil y cómoda, con los distintos dispositivos en red y<br />
desde cualquier lugar de la casa”. [06]<br />
Em termos de conclusão, Oliveira [11] acrescenta que se<br />
perspectiva que “a «Casa do Futuro» vai reinventar a função<br />
do habitáculo doméstico e as sociabilidades individuais ou<br />
colectivasà sua volta”!<br />
a) TIPOS DE CASAS INTELIGENTES<br />
De facto, há problemas com a conceptualização da “casa<br />
inteligente”! Parece haver pouca concordância sobre como<br />
uma casa inteligente deve ser e sobre que tecnologias ela<br />
deve incorporar.<br />
Um ponto de partida poderá ser a sistematização de Gann<br />
(1999) referida por Harper [04] que consiste na distinção<br />
entre casas que simplesmente contêm aparelhos<br />
inteligentes e aquelas que permitem computação interactiva<br />
dentro e para fora da casa.<br />
Assim mantendo a atenção na funcionalidade disponível<br />
para o utilizador podemos identificar cinco tipos de casa<br />
inteligentes:<br />
- Contains intelligent objects: Contém dispositivos e<br />
electrodomésticos que funcionam de um modo<br />
inteligente.<br />
- Contains intelligent, communicating objects: Contém<br />
dispositivos inteligentes que comunicam entre si,<br />
trocando informação e aumentando assim a sua<br />
funcionalidade.<br />
- Connected home: A casa tem uma rede interna<br />
interligada com a rede externa, permitindo o controle<br />
interactivo dos sistemas, e o acesso aos serviços e à<br />
informação, quer de dentro, quer do exterior.<br />
- Learning home: Os padrões de utilização são gravados e<br />
os dados acumulados são usados para antecipar as<br />
necessidades dos utilizadores. Por exemplo, a casa que<br />
aprende padrões da utilização do aquecimento e da<br />
iluminação (“theadaptativehome”).<br />
- Alert home: As actividades das pessoas e dos objectos<br />
são constantemente monitoradas alertando e<br />
antecipandoas acções a tomar (“the aware home”).<br />
b) AS FUNÇÕES DA CASA INTELIGENTE<br />
Actualmente as habitações podem estar equipadas com<br />
sistemas que associam diversas funcionalidades nas áreas de<br />
segurança, conforto, gestão de energia e comunicações.<br />
Funcionalidades principais: detecção de incêndio, intrusão,<br />
fuga de água ou gás, avisos, comandos e controlo remotos,<br />
“Anything, Anytime, Anywere”.<br />
As capacidades da domótica podem ser um auxiliar precioso<br />
para contornar as dificuldades temporárias ou permanentes,<br />
físicas ou mentais do ser humano. Além disso, estes sistemas<br />
permitem facilitar as tarefas a idosos que assim vêem<br />
minimizados algumas limitações a que estão expostos.<br />
285
ARTIGO TÉCNICO<br />
3 A OFERTA<br />
a) A OFERTA DE SISTEMAS PARA CASAS INTELIGENTES<br />
“Various industry groups and technology companies have<br />
tried (and mainly failed) to come up with next-generation<br />
protocolsto help automate a home”. (2003) [01]<br />
Existem vários estudos que referem protocolos que<br />
tecnicamente parecem ser interessantes, mas que na prática<br />
não são implementados, não estando assim disponíveis no<br />
mercado. Por exemplo um estudo científico [03] ressalta o<br />
particular interesse das redes tipo CEBus [02] que permitem<br />
o transporte de dados através de redes eléctricas<br />
convencionais podendo operar em redes wireless.<br />
Relativamente a esse protocolo Briere refere que nos anos<br />
90, “a bunch of companies grouped together with a standard<br />
called CEBus (or Consumer Electronics Bus), which was<br />
designed to be a replacement of X10 and other in-home<br />
communications protocols. There was a lot of fanfare, but at<br />
the end of the day, we never saw any products hit the<br />
market that used the CEBus Home Plug & Play standard”!<br />
[01] (2003)<br />
Do mesmo modo, a tecnologia DomoBus corresponde a um<br />
desenvolvimento académico, não existindo produtos<br />
comerciais disponíveis. [13] Este protocolo foi desenvolvido<br />
com o objectivo de servir de ferramenta didáctica e permitir<br />
o desenvolvimento e avaliação de novas funcionalidades<br />
sem restrições dos produtos comerciais [10]. Além disso,<br />
diversos protocolos de comunicação constam de<br />
publicações técnicas e científicas estando implementadas no<br />
mercado americano com sucesso (homologadas pelo<br />
American National Standards Institute - ANSI). Porém,<br />
devido a não serem conformes com os standards CE, não<br />
penetram no nosso mercado.<br />
b) A OFERTA EM PORTUGAL<br />
Para que, de facto, este estudo tenha alguma realidade<br />
prática relativamente ao mercado, no qual participamos<br />
como stakeholders, quer como técnicos, quer como<br />
consumidores, os sistemas analisados neste estudo foram<br />
apenas aqueles que têm tido uma representação mais<br />
notória nas feiras internacionais em Portugal. Analisaremos<br />
os protocolos X10 e EIB e os sistemas proprietários Vivimat,<br />
Domus, Simon, Hometronic e Cardio.<br />
1) Protocolo X10 : “This is something that's been around for<br />
a long time. It’s fought long and hard to earn some of its<br />
improvements in reliability, and has a definite place in<br />
your home. A real purist may object to some of the<br />
potential problems with it, but unless money is no object<br />
to you, you can’t beat the affordability and practical<br />
flexibility of X10”. [05] A tecnologia X10 usa a rede<br />
eléctrica como meio de comunicação entre os vários<br />
dispositivos. Este é um aspecto chave desta tecnologia e<br />
é a sua maior vantagem face a outras soluções, pois<br />
permite o seu uso em casas já existentes. Os dispositivos<br />
podem ser ligados directamente nas tomadas e serem<br />
usados para ligar ou desligar equipamentos, lâmpadas<br />
ou regular a sua intensidade luminosa. O grande sucesso<br />
deste sistema reside no seu baixo custo, flexibilidade e<br />
na sua facilidade de instalação. Dado que a patente<br />
deste protocolo já expirou há alguns anos, diversos<br />
fabricantes contribuíram para a existência no mercado<br />
de uma elevada variedade de dispositivos que<br />
contemplam as mais variadas funcionalidades Para evitar<br />
que os sinais actuem os dispositivos das habitações<br />
vizinhas existem filtros que bloqueiam a passagem<br />
destes para fora da sua rede de energia. Quando é<br />
necessário vencer distâncias consideráveis estão<br />
também disponíveis módulos que repetem e amplificam<br />
os sinais. O X-10 é de momento a tecnologia mais<br />
acessível para a realização de uma instalação domótica<br />
não muito complexa.<br />
2) Protocolo EIB: Este protocolo, tal como o X10, baseia-se<br />
numa arquitectura descentralisada sendo considerado<br />
de elevada fiabilidade. Possibilita a execução de<br />
qualquer projecto graças à enorme diversidade de<br />
equipamentos que os seus associados disponibilizam.<br />
Pode usar diferentes meios de comunicação: bus de 2<br />
condutores,rede eléctrica ou rádio frequência.<br />
286
ARTIGO TÉCNICO<br />
Este sistema permite que um único par entrançado seja<br />
usado para alimentar um dispositivo e para comunicar<br />
com ele. Este protocolo conduz normalmente a soluções<br />
de investimento relativamente elevado.<br />
3) Sistema proprietário Vivimat: O sistema domótico<br />
VIVIMAT, é um sistema centralizado que pode ser<br />
ampliado com a introdução de módulos adicionais<br />
interligados por um bus de comunicação. Ajusta-se às<br />
necessidades de todo o tipo de casas de nova<br />
construção. Permite o controlo e manutenção local e<br />
remota através de teclado, computador, painel de<br />
visualização,telefone, WAP e Internet.<br />
4) Sistema proprietário Domus/Inteligente: Este sistema<br />
baseia-se num ecrã táctil que incorpora o processamento<br />
da informação. A este painel é ligado um cabo bifilar ao<br />
qual estão ligados em anel os “módulos de sensor”. Em<br />
cada divisão da casa é instalado um destes módulos que<br />
incorpora como entradas um receptor de<br />
infravermelhos, um sensor de movimento, um sensor se<br />
luminosidade e um sensor de temperatura e como saídas<br />
um emissor de infravermelhos, dois contactos secos para<br />
controlo de iluminação e um outro para controlo de<br />
aquecimento. As persianas são controladas por módulos<br />
centralizados num quadro próprio (com uma ligação bus<br />
ao painel táctil). Pode ser controlado por painel táctil,<br />
SMS e a visualização do estado do sistema pode ser feita<br />
na televisão. As suas limitações são a impossibilidade de<br />
regulaçãoda intensidade luminosa.<br />
5) Sistema proprietário Simon: O sistema SIMON VIS é um<br />
sistema semi-centralizado radial. Tem uma unidade<br />
central de processamento, “módulo de controlo” que<br />
interliga com os módulos de saída e entrada. Em cada<br />
piso de uma habitação cada interruptor liga ao módulo<br />
de entrada (situado num quadro parcial) através de um<br />
par de condutores. Do mesmo modo, cada lâmpada é<br />
alimentada a partir do módulo de saídas. Como o<br />
controlo é feito por software qualquer saída pode ser<br />
temporizada. O sistema inclui a possibilidade de cada<br />
botão de pressão poder ter duas funcionalidades<br />
distintas:uma com toque curto e outra com toque longo.<br />
O telecontrolo via teclado do telefone permite, quer<br />
actuar qualquer dispositivo, quer saber qual é o seu<br />
estado. O sistema pode ser acedido remotamente por<br />
computadorvia linha telefónica.<br />
6) Sistema proprietário Hometronic: O sistema Hometronic<br />
usa a radio-frequência para a comunicação entre a<br />
central e os vários sensores e actuadores espalhados<br />
pela casa. As suas acções podem ser activadas<br />
localmente, automaticamente através da central, por<br />
telefoneou por Internet.<br />
7) Sistema proprietário Cardio. O sistema CARDIO dispõe de<br />
uma sonda no ecrã táctil que permite o controle da<br />
temperatura da habitação e pode ser remotamente<br />
controlado por telefone. Além disso, permite controlar<br />
qualquer dispositivo X10, injectando sinais na rede<br />
eléctricaatravés da interfaceX10.<br />
De modo a evidenciar as potencialidades oferecidas por<br />
todos estes sistemas organizaram-se na tabela 1 as suas<br />
características, nas seguintes áreas: campo de aplicação do<br />
sistema domótico, expansibilidade, capacidade de<br />
interligação com outros sistemas, rapidez de resposta,<br />
facilidade e versatilidade de utilização, interfaces de controlo<br />
e custo global para uma vivenda modelo.<br />
4 A PROCURA<br />
a) COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR<br />
De acordo com a perspectiva da tomada de decisão, a<br />
adesão a um sistema inteligente para a sua habitação<br />
resulta, primeiramente, da percepção do consumidor de que<br />
existe uma necessidade, em seguida, da transição, por uma<br />
série de etapas, em direcção a um processo racional da<br />
satisfação dessa necessidade. Entre essas etapas estão o<br />
reconhecimento do problema, a busca, a avaliação de<br />
alternativas, a escolha e a avaliação pós-aquisição. A<br />
perspectiva experimental sobre o comportamento do<br />
consumidor sugere que, em alguns casos, os consumidores<br />
não fazem as suas compras de acordo com um processo de<br />
tomada de decisão estritamente racional.<br />
287
ARTIGO TÉCNICO<br />
Em vez disso, às vezes, as pessoas compram produtos e<br />
serviços apenas para se divertirem, para criarem fantasias ou<br />
obterem emoções e sentimentos.<br />
Deste modo, tornar a casa inteligente pode constituir, para o<br />
consumidor, um meio de este sentir prazer ao ter controlo<br />
sobre as variáveis da sua habitação, ou apenas satisfazer a<br />
sua necessidade de reconhecimento e valorização pela<br />
sociedade.<br />
Assim, as pessoas podem adquirir uma casa inteligente para<br />
expressar a terceiros certas ideias e significados a respeito<br />
de si mesmas [09].<br />
Mais do que nunca a nossa casa revelará os nossos valores, o<br />
nosso conceito de vida e a nossa relação com a família e com<br />
o mundo.<br />
No futuro poderemos afirmar: "Mostra-me a tua casa, dirte-ei<br />
quem és”. [08]<br />
Tabela 1 – Características dos sistemas domóticos analisados<br />
SISTEMA:<br />
X10 EIB VIVIMAT DOMUS-INT SIMON OMTRONIC CARDIO<br />
Localização<br />
Aplicação<br />
Construção<br />
Interligação<br />
Expansibilidade<br />
- - DINITEL JG SIMON HONEYWELL SECANT<br />
- - E P E G USA<br />
P P P P P P P<br />
S S S S S S S<br />
S S S S S S S<br />
N S N S S N N<br />
N N N S S N N<br />
S S S S S S S<br />
S N N N N S N<br />
N - N N N N N<br />
- N N N N S S<br />
256 12.000 48 IN + 56 OUT ILIMITADO 128IN+128OUT 100 200<br />
N N N ILIMITADO N S 160Lamp+40plug<br />
S N N DIFÍCIL DIFÍCIL S N<br />
Rapidez Tempo de resposta a 1 ordem 1 seg 0 0 0 0 0 0<br />
Utilização<br />
Controlo<br />
Orçamento global<br />
Telefone<br />
PC<br />
Módulo<br />
programável<br />
Fabricante:<br />
EIB<br />
X10<br />
Nr. Max de enderços<br />
Outras Limitações<br />
Expansibilidade futura<br />
Relógio despertad. com timers<br />
Telecomando<br />
Ecran<br />
Iluminação<br />
Origem<br />
Assistência<br />
Apartamentos<br />
Vivendas<br />
Edifícios<br />
Indústria<br />
Nova<br />
Existente<br />
Facilidade<br />
Versatilidade<br />
Eficácia<br />
Por voz<br />
ELEVADO MÉDIA EXCELENTE ELEVADA ELEVADA EXCELENTE S<br />
ELEVADO MÉDIA BAIXA ELEVADA MÉDIA EXCELENTE S<br />
ELEVADO ELEVADA ELEVADA ELEVADA MÉDIA EXCELENTE S<br />
S N N N N N N<br />
Voz S S S N N S N<br />
Teclas S N S S S N S<br />
SMS N N S S N N N<br />
WAP S N N S N N N<br />
Recebe imagens S N S N N N N<br />
Local S S S N S N S<br />
Lig. telefone S N S N N N S<br />
Internet S N S S N N S<br />
Macros S S S 7 /ROOM S S 50<br />
Nr. de timers ELEVADO S ILIMITADO 7 /ROOM 128 ILIMITADO ILIMITADO<br />
S ILIMITADO S N S S S<br />
Infravermelhos S S N S S N S<br />
Rádio-freq. S S N N N S N<br />
Botões S S S N N S N<br />
Táctil S S S S N N S<br />
A cores N S S N N N N<br />
Diagomal (mm) 130 120 120 135 N N 120<br />
Valor mínimo aprox. €<br />
Resolução MÉDIA ELEVADA MÉDIA MÉDIA N N MÉDIA<br />
WI-FI<br />
N N S S N N N<br />
Regulação S S S N S S S<br />
Valor max. aprox. €<br />
Preços (€) para vivenda média<br />
com 3 pisos<br />
Cenários S S S S S S S<br />
2.000 7.000 4.000 3.500 7.500 3.000 5.000<br />
5.000 20.000 7.000 70.000 15.000 6.000 15.000<br />
5.709 7.112 5.700 4.629 5948<br />
13.700 9.628 6.480<br />
288
ARTIGO TÉCNICO<br />
b) METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO<br />
Pretendendo conhecer a opinião dos consumidores<br />
relativamente às casas inteligentes, optamos por um estudo<br />
quantitativo, (questionário por inquérito), que nos permitiu<br />
obter um número significativo de respostas, que admitimos<br />
constituírem uma base aceitável para extrapolação de<br />
resultados,sendo os seus resultados apenas aproximados.<br />
O critério de selecção da população alvo baseou-se na<br />
escolhade profissionaisde classe média e alta.<br />
Assim o inquérito foi enviado via e-mail, para endereços<br />
colectivos, estimando-se que terão chegado a cerca de 4000<br />
pessoasde diversas partes do país.<br />
Foram recebidos 90 inquéritos no período de uma semana.<br />
Seguidamenteapresentam-seos resultadosdos inquéritos,<br />
1) Bloco A: A questão inicial tenta captar qual é o conceito<br />
que o inquirido já tem (ou não) de casa inteligente:<br />
”Que ideia tem de uma casa inteligente”?<br />
Da análise das respostas constata-se que uma casa<br />
inteligente é sobretudo uma casa que apresenta<br />
automatismos, que gere da melhor forma os seus<br />
recursos energéticos e ecológicos, que é programada,<br />
que pode ser comandada à distância, que tem<br />
componentes electrónicos que auxiliam a gestão de<br />
tarefas domésticas e, tudo isto, para melhorar a<br />
qualidade de vida dos seus utilizadores. Registaram-se<br />
expressões curiosas que retractam uma casa inteligente<br />
em várias perspectivas: “casa prática”, “gere de forma<br />
eficiente” “casa com vida própria”, “tem memória, noção<br />
temporal, há interligação com o utilizador”, “permite<br />
poupar tempo, ganhar segurança e economia de<br />
energia”, “resolve os problemas de quem a habita” e<br />
“melhora a qualidade de vida”, entre outras. Porém,<br />
paralelamente, há expressões reveladoras de dúvidas, de<br />
preocupações e até de desânimo: “sujeita a avarias”,<br />
“não sei se é de confiança”, “pouco funcional”, “se tudo<br />
funcionar é óptimo”, “até tudo funcionar, dá mais<br />
trabalho que uma casa normal”.<br />
2.1)Bloco B - Consideramos neste bloco as dimensões<br />
satisfaçãoe insatisfaçãodo cliente.<br />
2.1.1) “Se tem uma casa inteligente, está satisfeito?”<br />
Destaca-se a satisfação da maioria dos clientes<br />
utilizadores de uma casa inteligente. A insatisfação é<br />
apresenta somente por um utilizador que a atribui à<br />
incompetência do fornecedor inicial como<br />
responsável pelo facto.<br />
2.1.2) “Se tem uma casa inteligente, o que mais o satisfaz”?<br />
Das funções típicas domóticas, são a rega automática<br />
e a detecção de intrusão as mais significativas na<br />
satisfação dos utilizadores inquiridos, seguidas da<br />
detecção de fuga de gás e de incêndio e do facto de<br />
poderem controlar as persianas, iluminação e<br />
alarmes através do computador.<br />
Das funções domóticas apresentadas pelos inquiridos<br />
são elegidas as funções que proporcionam conforto e<br />
comodidade e aquelas que facilitam as rotinas<br />
domésticas.<br />
2.2) “Se tem uma casa inteligente, que funções inteligentes<br />
tem na sua habitação?<br />
A rega automática e a detecção de intrusão são as<br />
funções que existem em maior número nas casas<br />
inteligentes da população que diz possuir este tipo de<br />
habitação. Também elas foram as mais representativas<br />
na satisfação dos utilizadores. Seguem-se as funções de<br />
controlo de persianas, de iluminação e de alarmes<br />
através do computador, de detecção de incêndio e de<br />
gás. São também estas, as funções eleitas como as que<br />
mais os satisfazem, com excepção da protecção contra<br />
electrocussão que eventualmente não é conhecida por<br />
muita gente. Parece-nos que temos aqui uma relação<br />
entre a satisfação do cliente e as funções procuradas<br />
para instalar na sua casa.<br />
Das funções apresentadas pelos inquiridos é o<br />
aquecimento central a função mais comum nas casas<br />
inteligentes.<br />
289
ARTIGO TÉCNICO<br />
2.3) “Se tem uma casa inteligente, quais são as dificuldades<br />
com que se depara no seu dia a dia”?<br />
A maioria dos inquiridos afirmam que as dificuldades não<br />
são relevantes. Apresentam de facto algumas<br />
dificuldades, mas eventualmente ultrapassam-nas com<br />
facilidade. Este resultado parece-nos significativo na<br />
medida em que a maioria dos utilizadores de casas<br />
inteligentes desta amostra afirma estar satisfeito com a<br />
sua casa.<br />
Constata-se, porém, uma preocupação do consumidor<br />
relativamente à fiabilidade do sistema eléctrico. Como já<br />
foi referido anteriormente neste estudo, existem<br />
sistemas que centralizam o processamento numa única<br />
unidade correndo o risco, em caso de avaria ou de erro<br />
fatal do software, de deixarem os seus habitantes às<br />
escuras, mas já há sistemas que funcionam em paralelo<br />
com a instalação eléctrica tradicional sem nada<br />
perturbarem o seu funcionamento.<br />
3) Bloco C: Seguidamente pretende-se detectar qual é a<br />
imagem que as pessoas captam de quem tem uma casa<br />
inteligente..<br />
3.1) “Se conhece alguém que tenha uma casa inteligente,<br />
como é que a descreve”?<br />
Segundo as opiniões recebidas a casa inteligente é<br />
sobretudo confortável e segura. É programada, tem rega<br />
automática e detecção de movimento. Mas também é<br />
importante verificar que os “amigos” dos utilizadores de<br />
uma casa inteligente ficam com a ideia de que ela é, por<br />
um lado “espectacular”, “ boa e útil” e “tem tudo o que<br />
é necessário para se sentirem bem” e reconhecem que<br />
ela é “atractiva perante os amigos”; por outro lado, é<br />
“complexa”, “complicada quando não está o dono” e<br />
“fica aquém da propaganda”. Estas duas facetas poderão<br />
ser uma consequência do sucesso do sistema<br />
implementadoou da limitada capacidade do instalador.<br />
3.2) “Se conhece alguém que tenha uma casa inteligente,<br />
qual é a experiência que os moradores dessa casa têm”?<br />
A experiência dos moradores das casas inteligentes é<br />
francamentepositiva.<br />
290<br />
Parece-nos que há um certo consenso nas respostas dos<br />
nossos inquiridos, ou seja, os que possuem uma casa<br />
inteligente dizem que estão satisfeitos e que não<br />
apresentam dificuldades relevantes. Os que conhecem<br />
utilizadores de casas inteligentes confirmam esta<br />
opinião. Os inquiridos retractam-na, mais uma vez, como<br />
uma casa “fantástica” e que dá “prazer”. As experiências<br />
são “boas e más”, mas “os problemas resolvem-se”. Eis a<br />
razão por que se sentem satisfeitosos seus donos.<br />
4) Bloco D: Este bloco é referente à valorização que o<br />
inquirido atribui a uma série de funções domóticas<br />
típicasapresentadasno inquérito.<br />
A marca triangular (Fig.1), relativa a cada função,<br />
representa o valor médio das valorizações que os<br />
respondentes lhe atribuíram numa escala de 0 a 100%.<br />
De modo a conhecer a dispersão das respectivas<br />
valorizações atribuídas, determinou-se o desvio padrão<br />
de cada função e assinalou-se no gráfico a<br />
correspondente variação, para mais e para menos,<br />
relativamente ao valor médio. Assim, o traço vertical<br />
assinalado para cada função representa a variação da<br />
valorização atribuída correspondente a dois terços da<br />
amostra.<br />
Segundo o gráfico apresentado, praticamente todas as<br />
funções domóticas apresentam uma valorização média<br />
superior a 50%.<br />
É de destacar que as funções de segurança (detecção de<br />
intrusão, detecção de gás, detecção de inundação e<br />
detecção de incêndio) são aquelas que apresentam um<br />
valor médio na ordem dos 80% e com um desvio padrão<br />
apertado, o que quer dizer que cerca de dois terços da<br />
amostra se situam nesta faixa. Recorde-se que estas<br />
funções foram ditas pelos utilizadores de casas<br />
inteligentes como as que os satisfazem mais e verificouse,<br />
por sua vez, que são ainda as mesmas funções as que<br />
se encontram em maior número nas casas inteligentes,<br />
ou seja, parece confirmar-se que as funções relativas à<br />
segurança, que os respondentes dizem ter instaladas,<br />
são as mesmas que eles valorizam mais, e também as<br />
que mais satisfaçãolhes dão.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Como o consumidor valoriza as funções domóticas<br />
125<br />
100<br />
Valorização 0 a 100%<br />
75<br />
50<br />
25<br />
0<br />
Rega<br />
Telecomandos<br />
Simulação presença<br />
Controlar c/ PC<br />
Recepção alarmes<br />
Tele Escuta<br />
Telecontrol fogão<br />
Telecontrol sirene<br />
Telecontrol aquec.<br />
Telecontrol ILU<br />
P.electrocussão<br />
Gravador<br />
Câmaras<br />
Alarme congelador<br />
D.Q. vidros<br />
D.fogo<br />
D.água<br />
D. gás<br />
D.exterior<br />
D.Portas<br />
D.Intrusao<br />
Figura 1 – Nível de valorização das funções domóticas por parte do consumidor<br />
5) Bloco E - A questão seguinte pretende que os inquiridos,<br />
após a reflexão anterior, possam manifestar o interesse<br />
em incluir as funções domóticas referidas, na sua<br />
habitaçãoactual.<br />
“Se decidisse tornar a sua casa inteligente, que<br />
modificaçõesfaria na sua casa actual”?<br />
6) Bloco F: Este bloco diz respeito ao nível de investimento<br />
(em euros) que o consumidor está disposto a aplicar com<br />
vista à satisfação das necessidades que entretanto lhe<br />
foram estimuladas.<br />
Na figura 2 apresenta-se o número total de interessados<br />
(acumulado) para cada nível de investimento.<br />
7) No fim do inquérito, sobre a designação de observações,<br />
permitiu-se que as pessoas manifestassem livremente as<br />
suas opiniões e os seus receios sobre este tema tão<br />
polémico das casas inteligentes.<br />
Nr. total de interessados<br />
50<br />
46<br />
45<br />
42<br />
39<br />
40<br />
41<br />
35<br />
34<br />
32<br />
30<br />
29<br />
25<br />
25<br />
21<br />
20<br />
15<br />
11<br />
12<br />
10<br />
10<br />
5<br />
0<br />
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000<br />
Investimento disponível (€)<br />
Figura 2 – Percepção de valor de um sistema domótico<br />
Transcriçãode algumas das observações mais relevantes:<br />
“Acho que a designação de “casa inteligente” não passou e<br />
precisa de ser repensada!!!”<br />
“As pessoas estão pouco informadas sobre o que é uma casa<br />
inteligente. Além disso, esta expressão assusta muita gente<br />
pelo automatismo que ela envolve e pelo investimento que<br />
se imagina que ela carece.<br />
291
ARTIGO TÉCNICO<br />
Penso que há necessidade de desmistificar este assunto para<br />
que as pessoas compreendam que se pode ter algo<br />
inteligente na casa por pouco por pouco dinheiro e de forma<br />
simplificada, que se usa da mesma maneira como qualquer<br />
aparelho eléctrico.”<br />
“Julgo que ainda estamos na fase de mercado em que reinam<br />
os improvisadores e as soluções dirigidas a quem tem muito<br />
dinheiro. A tecnologia está mais que madura, acho eu, logo<br />
há espaço para quem não seja ganancioso e perceba do<br />
tema.”<br />
“Todos os contributos nesta área são de facto importantes,<br />
ainda mais se tivermos em consideração o ritmo de vida que<br />
a maioria da população leva. Parece-me fundamental<br />
democratizar o acesso a, pelo menos, algumas das<br />
funcionalidades que tornam uma casa numa Casa<br />
Inteligente”<br />
5 O CRUZAMENTO DA OFERTA COM A PROCURA<br />
Há que reconhecer que a maior parte das soluções<br />
domóticas que o mercado apresenta estão algo fora do<br />
alcance da maioria dos portugueses. O mesmo não acontece<br />
nos Estados Unidos ou noutros países da Europa onde o<br />
poder de compra é bem superior ao nosso.<br />
Os interesses que o consumidor manifestou relativamente às<br />
casas inteligentesforam essencialmenteos seguintes:<br />
- Na área da segurança: detecção de intrusão no interior<br />
da casa, com detectores de movimento; detecção de<br />
incêndio, de inundação e de fuga de gás.<br />
- Na área do conforto: controlar persianas, iluminação e<br />
alarmes através do computador; ligar, desligar e<br />
controlar o aquecimento central; ligar ou desligar o<br />
fogão através do telefone;rega automática dos jardins.<br />
Claro está que a selecção de qualquer solução domótica está<br />
intrinsecamente associada ao nível de investimento<br />
disponível. Como se pode inferir da análise do gráfico do<br />
”número total de interessados por cada nível de<br />
investimento” vinte e um dos inquiridos estão dispostos a<br />
investir 5.000 euros para tornar a sua casa inteligente”.<br />
292<br />
Para este patamar de “esforço económico”, como se pode<br />
concluir da análise do resumo das fichas técnicas de cada<br />
sistema analisado, estes teriam várias soluções possíveis:<br />
- Sistema Cardio<br />
- Simon Vis<br />
- Domus<br />
- Vivimat<br />
- Omtronic<br />
- X10.<br />
Estes sistemas, com excepção do X10, são todos sistemas<br />
centralizadose proprietários.<br />
Além disso, qualquer deles oferece possivelmente melhores<br />
característicase fiabilidade que o X10.<br />
Portanto, para a faixa de investimento dos 5.000 euros o<br />
consumidor tem uma grande oferta de sistemas de<br />
domótica.<br />
A fase seguinte deveria ser uma análise detalhada de cada<br />
característica para determinar qual seria a solução que<br />
melhor “integraria cada sistema domótico com o seu dono”,<br />
resultando daí, concerteza, uma maximização da sua<br />
satisfaçãopós-venda.<br />
Dado os interesses e motivações de cada um serem<br />
diferentes, a ponderação de cada especificação é um factor<br />
pessoal e consequentemente a “melhor solução” dependerá<br />
de critérios subjectivos.<br />
Se analisarmos o caso, de um nível de investimento<br />
disponível inferior, por exemplo 1500 euros, já teríamos<br />
cerca de 34 consumidores nesse grupo.<br />
Assim, se segmentarmos a procura em três faixas, podem daí<br />
resultar três tipos de soluções que satisfazem a maior parte<br />
dos inquiridos procurados:<br />
a) Sistema de 5.000 euros para 21 respondentes<br />
b) Sistema de 1.500 euros para 13 respondentes<br />
c) Sistema de 500 euros para 7 respondentes<br />
Para satisfazer o grupo representativo dos “13” inquiridos<br />
que disponibilizariam um investimento de 1.500 euros para<br />
terem a sua casa mais inteligente, poderia considerar-se um<br />
sistema híbrido em que se proporia uma central de intrusão<br />
inteligente que acumularia funções de comunicação e<br />
controlo bidireccional, associada a uma aplicação criteriosa<br />
do sistema X10 que permitiria um escalonamento<br />
progressivoà medida do interesse do consumidor.
ARTIGO TÉCNICO<br />
Assim, os alarmes técnicos seriam geridos pela central de<br />
intrusão e o conforto ficaria a cargo do sistema X10. A rega<br />
automática ficaria, opcionalmente, isolada com um<br />
controlador dedicado, dado estes terem elevada fiabilidade<br />
e serem de baixo custo, evitando-se assim, o perigo de<br />
inundaçãoprovocado pela baixa fiabilidade do sistema X10.<br />
Relativamente ao terceiro grupo que apenas disponibilizava<br />
500€ o mercado também oferece um sistema domótico que<br />
pode ser escalonado em várias fases, sendo mesmo possível<br />
aplicá-lo apenas numa única sala: sistema X10. De modo a<br />
tornar este produto mais acessível, a cadeia de valor que<br />
inclui todos os processos desde a produção, distribuição,<br />
retalho, instalação e cliente, foi reduzido apenas a 2 níveis:<br />
Produtore consumidor.<br />
Dado o sistema X10 ser muito fácil de instalar o nível técnico<br />
do “instalador” pode ser abolido, podendo incluir-se este<br />
sistema no sector “faça você mesmo” e ser a sua instalação<br />
encaradacomo um trabalho de bricolage.<br />
Assim, para o grupo dos “investidores dos 500 euros”, o<br />
sistema X10 tem kits económicos, que vão desde um sistema<br />
compacto de detecção de intrusão telecomandado com<br />
telecomando de rádio frequência compatível com os sinais<br />
X10 e que avisa telefonicamente o dono em caso de intrusão<br />
(a Portugal Telecom comercializa este produto), até kits de<br />
automação, que incluem um módulo X10 para controlar<br />
electrodomésticos, um módulo X0 de casquilho para<br />
intercalar no circuito eléctrico do candeeiro junto à lâmpada,<br />
um receptor de rádio frequência que injecta o sinal de X10<br />
na rede e um telecomando de rádio frequência que pode<br />
controlar os referidos módulos que recebem o sinal X10 pela<br />
rede eléctrica.<br />
É de referir a grande vantagem desse sistema em ser fácil de<br />
incluir posteriormente, mais funcionalidades, pois apenas é<br />
necessário ligar mais módulos às tomadas; estes passam a<br />
estar interligados pela rede eléctrica e a responder de<br />
acordo com o código com o qual foram programados por<br />
simples selecção de uma letra e de um número em dois<br />
selectores, por meio de uma chave de fenda. Quando a<br />
instalação atingir uma dimensão maior, quer pelo número de<br />
módulos ligados, quer pelas distâncias que os sinais têm que<br />
vencer, todos os problemas de falha de comunicação podem<br />
ser solucionados pela aplicação de um<br />
repetidor/amplificador, disponibilizado por diversos<br />
fabricantesde dispositivos X10.<br />
6 CONCLUSÕES<br />
“Se a introdução da concorrência teve o mérito de fazer<br />
passar o consumidor de Utilizador a Cliente, a prática de<br />
criação de valor para o cliente, tem como efeito fazer<br />
passar o consumidor de Cliente a Amigo”. [07]<br />
As casas inteligentes, quando instaladas com sucesso,<br />
proporcionam aos seus utilizadores a satisfação como<br />
clientes e todo o prazer que a tecnologia actual lhes pode<br />
oferecer. Daí lhes advém a verdadeira percepção de valor da<br />
domótica.<br />
Compreender as motivações dos consumidores, no âmbito<br />
da casa inteligente e o processo de consumo, proporciona<br />
uma série de vantagens. Entre elas destacam-se o auxílio aos<br />
gestores nas suas decisões, o fornecimento de uma base de<br />
conhecimento a partir da qual os pesquisadores de<br />
marketing podem analisar os consumidores e, ainda, o<br />
auxílio ao consumidor na tomada de melhores decisões de<br />
compra.<br />
Acresce ainda que, num mercado tecnológico cada vez mais<br />
exigente, a lógica da relação Fornecedor-Cliente mudou,<br />
estando a ser substituída por uma relação Amigo-Amigo<br />
como resultado de uma relação de cooperação “win-win”.<br />
Relativamente à casa inteligente, corre um certo misticismo<br />
como sendo “muito cara” e só para quem “percebe muito de<br />
computadores”, necessitando quase de um técnico<br />
permanentemente ao seu lado. É necessário clarificar este<br />
conceito. Actualmente as casas inteligentes são, de facto,<br />
muito caras para clientes exigentes e que estão dispostos a<br />
investir nelas para concretizar os seus desejos mais<br />
sofisticados. No entanto, mostrou-se que o mercado<br />
também oferece outros sistemas fiáveis, mais económicos,<br />
ou seja, permite que o cliente vá comprando os<br />
equipamentos à sua medida e vá lentamente construindo a<br />
sua casa inteligente por partes.<br />
293
ARTIGO TÉCNICO<br />
Acresce ainda, que também a tecnologia dos equipamentos<br />
foi amadurecendo ao longo do tempo. Hoje em dia, tal como<br />
se liga a televisão, as aparelhagens de som, ou outras por<br />
telecomando, também, com a mesma facilidade, pega-se no<br />
mesmo comando e “clica-se” na tecla de levantar a persiana,<br />
acender a luz ou qualquer outra função que o cliente<br />
imaginou. Parece-nos, deste modo, que os sistemas das<br />
casas inteligentes estão disponíveis para todas as “bolsas” e<br />
preparados para finalmente entrarem na casa do<br />
consumidor comum. Esta ainda não é uma realidade da<br />
esmagadoramaioria dos lares portugueses.<br />
Apesar das limitações deste trabalho, pelo facto de se ter<br />
baseado numa amostra relativamente limitada, parece<br />
poder concluir-se que, actualmente, existem todas as<br />
condições para um perfeito encontro da oferta com a<br />
procura no domínio da domótica, constituindo assim o seu<br />
conhecimento uma nítida vantagem para todos os players:<br />
para os consumidores na medida em que estes poderão<br />
usufrir da tecnologia “à sua medida” e para todos os outros<br />
também, dado existir, actualmente, um potencial elevado de<br />
oportunidadesde negócio.<br />
A constante subida dos preços dos imóveis, e a crescente<br />
dificuldade em vender as casas e os apartamentos novos,<br />
associada à presente crise económica, originaram um<br />
excesso de construção que dificilmente o mercado<br />
português absorverá. Estes factores levaram a que os<br />
construtores recorram cada vez mais à Domótica como<br />
factor diferenciador, sendo já vulgar verem-se “outdoors”<br />
aliciando os consumidores para as “Casas de Sonho<br />
Inteligentes”.<br />
Espero com este trabalho ter contribuído para desmistificar<br />
o conceito de casa inteligente e faço votos que a sua leitura<br />
sirva de estímulo para que mais alguns lares portugueses<br />
beneficiem da magia e das maravilhas que a tecnologia<br />
actual nos oferece.<br />
Bibliografia<br />
[01] BRIERE, Danny e HURLEY, Pat, “Smart Homes for<br />
Dummies”, Wiley Publishing, Inc., 2003<br />
[02] CEBus – Consumer Electronics Bus (EIA-600),<br />
http://www.cebus.org.<br />
[03] FRANCO, Ivan, “A Casa do Futuro Interactiva”, Cap.<br />
“Sensores e Actuadores: os Sentidos e Músculos da Casa<br />
Inteligente”,2003<br />
[04] HARPER, Richard,”Inside the Smart Home”, Springer-<br />
Verlag London Limited, 2003, PAG. 299, 229<br />
[05] JACKSON, Andy, “Integrating the smart home with its<br />
owner”, Integratorpo, 2003<br />
[06] JUNESTRAND, Stefan, “Hogar Digital Conectado”, El<br />
SIMO TCI, feria internacional de informática, multimedia<br />
y comunicaciones.<br />
[07] MICHEL, H.,”Criação de valor para o cliente”, Monitor,<br />
2003.<br />
[08] MOTA, José Augusto, “Casas inteligentes”, Centro<br />
AtlânticoLda, 2003<br />
[09] MOWEN, John C. e MINOR, Michael S.,<br />
“Comportamento do Consumidor”, Pearson Education,<br />
2003<br />
[10] NUNES, Renato, "DomoBus - A New Approach to Home<br />
Automation", 8CLEEE"-<br />
[11] OLIVEIRA, José Manuel Paquete, “A Casa do Futuro<br />
Interactiva”,Cap. "Estar em Casa, Estar no Mundo", 2003<br />
[12] ROSETA, Helena, “A Casa do Futuro Interactiva”, Cap.<br />
"CASA DO FUTURO", 2003<br />
[13] SANTOS, José Armando, “Meios para melhorar a<br />
qualidade de vida e a autonomia de pessoas com<br />
necessidades especiais”, Tese de Mestrado da<br />
Universidade Técnica de Lisboa – Instituto superior<br />
Técnico,2004<br />
[14] SOARES, Francisco Sousa, “A Casa do Futuro<br />
Interactiva”,Cap. "CASA DO FUTURO", 2003<br />
294
ARTIGO TÉCNICO<br />
José Luís Faria<br />
Touchdomo, Lda, Porto, Portugal<br />
Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />
DOMÓTICA<br />
E A REQUALIFICAÇÃO DE EDIFÍCIOS<br />
RESUMO<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Para a elaboração deste artigo técnico foi necessário adoptar<br />
uma estrutura que possibilitasse fornecer um estudo teóricoprático,<br />
transversal e equilibrado, das diferentes tecnologias<br />
domóticas.<br />
“Os edifícios que são planeados e funcionam de forma eficaz<br />
ao nível energético já não são novidades exclusivas. Até a<br />
designação um edifício inteligente começa a perder a sua<br />
naturezaexótica.<br />
Inicialmente realizou-se um pequeno estudo teórico das<br />
tecnologias domóticas mais relevantes, de uma forma<br />
transversal e resumida (Capítulo 2).<br />
Ambas as tendências estão agora a revolucionar a<br />
arquitectura cada vez mais ambiciosa e a abrir caminho na<br />
luta mundial contra as alterações climáticas.”<br />
Em função do estudo teórico do capítulo anterior, no<br />
Capítulo 3 realizou-se uma análise mais prática, em que ao<br />
invés de abordar um caso prático existente, de grandes<br />
instalações com o seu valor emblemático, optou-se por<br />
utilizar como modelo o edifício F do Instituto Superior de<br />
Engenharia do Porto e apresentar uma das soluções possíveis<br />
de implementação de tecnologias domóticas em edifícios já<br />
existentes (aplicação do conceito de requalificação de<br />
edifícios).<br />
Depois da exposição do caso prático, expôs-se o futuro e<br />
oportunidades de mercado da domótica ou sistema de<br />
gestão técnica centralizada, mais focalizado para o mundo<br />
académico (Capítulo4).<br />
Por fim, são tecidas as conclusões e considerações finais do<br />
artigo (capitulo5).<br />
Esse artigo foi elaborado sob o ponto de vista de integrador.<br />
Por outras palavras, procurou-se realizar uma aproximação<br />
da realidade prática a nível de implementação das<br />
tecnologias domóticas em edifícios, ao dar uma linha de<br />
conhecimento abrangente e ao mesmo acessível aos leitores,<br />
que muitas das vezes esse tema acaba por transmitir<br />
conceitos errados.<br />
As tecnologias de domótica (também conhecida como<br />
“automação de edifícios”) existem já há algumas décadas.<br />
Contudo, essas tecnologias sempre estiveram associadas a<br />
habitações particulares de alto nível ou a edifícios e<br />
instalaçõesfabris de grandes empresas.<br />
Mas a partir do momento em que ocorreu a actual crise<br />
energética (início do séc. XXI), em que o aumento da procura<br />
dos combustíveis fósseis não acompanhava a oferta, a<br />
domótica ganhou mais relevância, pelas vantagens que<br />
apresenta a nível de poupança energética e de gestão. Por<br />
isso mesmo, tornou-se mais rentável implementá-la nos<br />
edifíciosactuais, construídos de raiz ou requalificados.<br />
As vantagens que a domótica apresenta serviram como<br />
reforço motivador da elaboração da dissertação:<br />
• Edifícios/empresas: eficiência energética, segurança,<br />
etc.;<br />
• Habitações particulares: conforto, segurança e<br />
incremento do valor das habitações, devido ao luxo e<br />
ostentaçãoque exibem.<br />
Actualmente a área da domótica (automação de casas e<br />
edifícios) encontra-se em franca expansão, com principal<br />
relevância nos países mais desenvolvidos, com um<br />
crescimentode mercado de mais de 10% ao ano.<br />
295
ARTIGO TÉCNICO<br />
2 ESTADO DA ARTE DAS TECNOLOGIAS DOMÓTICAS<br />
Quer se trate do Terminal 5 do aeroporto de Heathrow, ou<br />
de uma habitação comum, uma norma uniforme para o<br />
controlo de diversos dispositivos existente dentro de um<br />
edifício facilitaria imenso a implementação de<br />
funcionalidades inovadoras e complexas. Aqui o<br />
funcionamento em rede, máximo de abrangência de<br />
funcionalidades possíveis e elevado índice de fiabilidade,<br />
bem como a utilização económica da energia, são critérios<br />
importantespara a rentabilidade desses edifícios.<br />
Como tal, as instalações eléctricas/electrónicas padrão só<br />
podem cumprir estes requisitos até um certo ponto,<br />
exigindo além disso mais trabalho e diferentes tipos de<br />
materiais e instalações.<br />
Assim, os projectistas e investidores escolhem cada vez mais<br />
diferentes tecnologias de domótica para edifícios com base<br />
em protocolos normalizados internacionais (p. ex.: KNX,<br />
LonWorks, BACnet, etc.), com provas comprovadas das suas<br />
vantagens e potencialidades nos diferentes tipos de<br />
mercados. Também é razão de escolha das tecnologias KNX e<br />
LonWorks ao apresentarem respectivamente, cerca de 300 e<br />
4200 fabricantes afiliados, mostrando o seu grande nível de<br />
interoperabilidade.<br />
climatização, iluminação, persianas/lamelas, segurança, etc.,<br />
podem ser baseadas num sistema de rede conveniente,<br />
rentável e muito flexível, ao garantir em qualquer momento<br />
a sua interoperabilidade.<br />
Uma das outras grandes vantagens é a sua topologia de<br />
rede, em que ao utilizar um único cabo de par entrançado,<br />
que na maioria dos casos prova ser o suficiente para realizar<br />
a interligação de inúmeros dispositivos numa só rede. Sendo<br />
assim, a nível de topologia de rede, existem quatro tipos<br />
para o meio TP (mais utilizado):<br />
• Topologiaem linha (Fig. 1– Ponto 1);<br />
• Topologiade estrela (Fig. 1– Ponto 2);<br />
• Topologia em anel, sendo apenas para a tecnologia<br />
LonWorks(Fig. 1– Ponto 3);<br />
• Topologia mista, sendo a mais utilizada em edifícios,<br />
porque é a que apresenta menos obstáculos para<br />
expansõesfuturas da rede (Fig. 1– Ponto 4).<br />
Um outro factor referente à existência do elevado número<br />
de fabricantes afiliados às tecnologias baseiam-se destas<br />
serem denominadas como tecnologias de protocolos<br />
abertos, em que qualquer fabricante é livre de desenvolver e<br />
comercializar novos produtos, desde que sejam cumpridas<br />
os requisitos das tecnologias de domótica em questão. Este<br />
grande facto acaba por criar uma outra grande<br />
particularidade dessas tecnologias, em que para uma<br />
qualquer funcionalidade que seja necessário cumprir ou<br />
satisfazer de uma dado edifício, terá sempre um ou mais<br />
produtosque conseguirão corresponder às expectativas.<br />
O seu conceito base consiste em utilizar módulos actuadores<br />
e sensores com várias funcionalidades, as instalações de<br />
Figura 1 – Diferentes tipos de topologia de rede<br />
Como tal, cada vez mais as empresas de construção civil e<br />
clientes finais estão a mostrar um aumento da<br />
implementaçãoem edifícios novos e requalificados.<br />
A flexibilidade de utilização é muito importante por vários<br />
motivos. Frequentemente, durante o planeamento da<br />
construção, não são considerados a utilização subsequente e<br />
futuros requisitos de modificação e optimização do espaço.<br />
Esta neglicência pode tornar-se rapidamente dispendiosa,<br />
pois as alterações subsequentes envolvem normalmente<br />
custoselevados.<br />
296
ARTIGO TÉCNICO<br />
Ao implementar um sistema com um elevado nível de<br />
flexibilidade, permite que o sistema de bus seja altamente<br />
flexível e ser simplesmente reprogramado a baixo custo.<br />
Contudo quando não é suficiente o cabo entrançado (TP –<br />
Y(st)Y 2x2x0,8 mm 2 ), pode-se utilizar outros meios tais como<br />
radiofrequência (RF), PowerLine (PL), rede Ethernet ou até<br />
mesmo fibra óptica.<br />
Quando necessário podemos expandir ainda mais a rede ao<br />
interligar na mesma rede várias tecnologias de domótica ou<br />
de automação (DALI, DMX, LonWorks, Bacnet, etc.).<br />
Ao invés de apresentar casos práticos em instalações com<br />
sistemas de domóticas implementadas (p. ex. Terminal 5 do<br />
aeroporto de Heathrow, Estádio Olímpico de Pequim, etc.),<br />
que por um lado já foram apresentados em artigos<br />
anteriores da revista “Neutro à Terra”, casos esses que são<br />
bastante conhecidos (devido à sua projecção), por vezes<br />
sente-se um distanciamento considerável desses casos com<br />
a maioria das instalações de domóticas existentes em todo o<br />
mundo e com a percepção genérica do público em geral. Por<br />
outras palavras, o principal mercado da domótica, por<br />
motivos históricos confina-se ao utilizador particular<br />
(habitações).<br />
Todos os produtos de diferentes tecnologias de domótica<br />
(KNX e LonWorks), antes de serem lançados para o mercado<br />
são devidamente testados e certificados, por organismos<br />
independentes, e se aprovados são lançados para o mercado<br />
com a sua certificação visível nos produtos (inclusão do<br />
logótipo). Ou seja, além dos diferentes protocolos serem<br />
fiáveis e funcionais, todos os produtos que funcionam em<br />
redor dos protocolos também transmitem a sua fiabilidade e<br />
segurança.<br />
Por fim, uma outra característica que as tecnologias de<br />
domótica apresentam é que a sua base de funcionamento é<br />
de modo distribuído. Ou seja, todos os produtos funcionam<br />
de forma independente, que ao falhar um dado dispositivo<br />
não implica a paragem de funcionamentoda restante rede.<br />
3 CASO PRÁTICO: EDIFÍCIO F DO INSTITUTO SUPERIOR DE<br />
ENGENHARIA DO PORTO<br />
Contudo é necessário relembrar que cada vez mais as<br />
instalações de domótica são instaladas em edifícios de<br />
serviços, industrias, hospitais, etc. A principal razão é pelo<br />
facto desse tipo de edifícios possuírem uma elevada taxa de<br />
utilização, que aliada à eficiência energética que a domótica<br />
oferece, o retorno do seu custo de implementação pode<br />
ocorrer num espaço de alguns anos.<br />
Para terminar as notas genéricas sobre os edifícios, segundo<br />
alguns estudos, o custo construção de um edifício face ao<br />
seu custo global (custo de construção e manutenção<br />
continuada durante a sua vida útil) raramente ultrapassa os<br />
45%.<br />
Como todos nós sabemos, a eficiência energética é uns dos<br />
factores de peso (senão o maior) para a adopção ou<br />
implementação de uma instalação de domótica num edifício<br />
como o caso do edifício F do ISEP.<br />
Antes de começar a abordar o caso prático iremos expor as<br />
razões que levaram a uma instalação de uma instituição<br />
pública de renome.<br />
Em primeiro lugar, é preciso referir que actualmente não<br />
existe nenhuma instalação de domótica ou de gestão técnica<br />
centralizada no Edifício F do Instituto Superior de Engenharia<br />
do Porto.<br />
É de realçar que não se pretende de forma alguma,<br />
incentivar ou forçar a instalação de qualquer tipo de sistema<br />
no edifício em estudo. O que deseja é mostrar a sua<br />
aplicabilidade a um edifício português, permitindo aos<br />
leitores terem umas noções mais precisas e intuitivas e claro,<br />
uma parte dos leitores são de alguma forma, frequentadores<br />
do local em estudo.<br />
297
ARTIGO TÉCNICO<br />
3.1 Metodologia de Estudo<br />
O edifício é constituído por 7 níveis/pisos, estando incluído a<br />
garagem/cave, constituídos basicamente por laboratórios,<br />
salas de ensino e gabinetesde docentes.<br />
Para o estudo ser mais simples de compreender iremos<br />
dividir o estudo em duas partes:<br />
• Implementação de uma solução de gestão técnica<br />
centralizada;<br />
• Implementação do sistema de domótica num laboratório<br />
típico.<br />
Essa consola central actual possui um grande problema, de<br />
não apresentar o estado dos circuitos de iluminação (ligado<br />
ou desligado), o que em certos casos pode induzir ao<br />
accionamento errado de certos circuitos por parte dos<br />
seguranças presentes. Por exemplo não é pouco comum ver<br />
alguns circuitos de iluminação em funcionamento de forma<br />
inadequada durante a noite ou durante o dia. Foi também<br />
realizado um estudo baseado no programa de estágio para<br />
estudar a viabilidade financeira de tornar operacional a<br />
apresentação dos diferentes estados dos circuitos de<br />
iluminação, mas por questões financeiras não se avançou<br />
com a solução.<br />
A implementação será realizada com o objectivo de<br />
requalificar o edifício, ao aproveitar ao máximo possível as<br />
tubagensexistentes.<br />
A questão das tubagens, sempre problemática, só permitirá<br />
uma instalação integral de um sistema de domótica (nível de<br />
campo) depois de fazer um levantamento detalhado e actual<br />
de toda a instalação, de forma a elaborar um projecto<br />
preciso e sem derrapagens orçamentais (e ao mesmo tempo<br />
permitirá saber as limitações a nível de actualizações futura,<br />
a nível de equipamento).<br />
3.1.1 Implementação de uma Solução de Gestão Técnica<br />
Centralizada<br />
Um sistema de gestão centralizada significa gerir o máximo<br />
de funcionalidades presentes no edifício baseado num ou<br />
mais sistemas de automação (KNX, LonWorks, BACnet, etc.).<br />
Mas a palavra “gestão” não exclui o controlo, monitorização<br />
e optimização de todas as funcionalidadespresentes.<br />
Voltando para o edifício em estudo, ao invés de existir a<br />
consola central, presente na entrada principal do edifício F,<br />
em que permite uma gestão muito básica de todos os<br />
circuitos de iluminação, todo o controlo é realizado através<br />
de qualquer computador com ligação à rede local ou à<br />
Internet (ver Fig. 2).<br />
Para o/s segurança/s responsável/eis poderão realizar o<br />
controlo de todo o edifício quer a nível de:<br />
• Circuitosde iluminação;<br />
• Circuitosde aquecimento (radiadores de parede)<br />
• Sistema HVAC presente no edifício;<br />
• Controlo dos portões da garagem;<br />
• Sistema de acessos às salas e laboratórios, incluindo<br />
saber o local de presença de cada docente e/ou alunos<br />
(uma boa ferramenta de informação);<br />
• Gastos de energia (electricidade, gás natural, etc) e de<br />
água (que poderá ser uma excelente forma de detecção<br />
de fugas ou gastos desnecessários);<br />
• Elevadores (p. ex. em função da afluência activar o<br />
numero de elevadores necessário para menor uso<br />
desnecessário);<br />
• Monitorização de janelas abertas, por motivos<br />
energéticos(fugas de calor) e por motivos de segurança;<br />
• Etc.<br />
As funcionalidades atrás referidas são apenas algumas que é<br />
possível implementar. Mais outras funcionalidades podem<br />
ser implementadas sem requerem a compra a fornecedores<br />
terceiros. Poderão ser desenvolvidas internamente, pelos<br />
laboratórios de investigação ou pelos programas de estágios<br />
para alunos para aquisição de uma maior experiencia nessa<br />
área em crescimento (ver Cap. 4).<br />
298
ARTIGO TÉCNICO<br />
A nível de monitorização podemos terminar com a definição<br />
de níveis de acesso de controlo/monitorização. Por exemplo,<br />
o/s segurança/s poderão proceder apenas ao controlo e<br />
monitorização da maioria dos circuitos de diferentes<br />
funcionalidades, mas os altos responsáveis do universo ISEP<br />
ou IPP poderão realizar uma gestão global e sem restrições<br />
de toda a instalação.<br />
3.1.2 Implementação do Sistema de Domótica num<br />
Laboratório Típico<br />
Depois de se abordar a implementação de uma solução de<br />
gestão técnica centralizada no edifício F, iremos abordar a<br />
implementação de domótica num laboratório típico<br />
(baseadana tecnologiaKNX).<br />
Antes de iniciar o estudo da implementação em causa, é<br />
preciso referir que a solução equacionada de gestão técnica<br />
centralizada no edifício F proposto no subcapítulo 3.1.1<br />
permite gerir, monitorizar e controlo todas as<br />
funcionalidades do edifício (interligadas com o sistema),<br />
incluindo todas as salas de ensino, laboratórios e gabinetes<br />
dos docentes.<br />
Asrazões para aprofundar na solução de domótica para um<br />
laboratóriotípico são:<br />
• São as divisões onde a taxa de ocupação é a mais<br />
elevada;<br />
• Em muito dos casos é onde ocorrem maior desperdício<br />
de energia (em termos de percentagens, em relação às<br />
áreas comuns presentes nos edifícios);<br />
• Permitem, ao adaptar os hábitos de cada utilizador ou<br />
grupo de utilizadores, ajustar da melhor forma os gastos,<br />
sem sacrificar o conforto, qualidade de ensino e de<br />
concentração.<br />
• Etc.<br />
Figura 2 – Esquema de rede de gestão técnica centralizada<br />
299
ARTIGO TÉCNICO<br />
Irá ser exposta uma das soluções possíveis de implementar,<br />
dividida em vários parâmetros:<br />
- Iluminação<br />
Possivelmente a variável mais significativa no gasto global de<br />
utilização (não se pode confundir com os gastos de materiais<br />
de laboratórios, de manutenção e outros) mas ao mesmo<br />
tempo é a variável mais ajustável ou mais susceptível a<br />
maior capacidade de controlo com o sistema de domótica.<br />
as janelas estão abertas) e para controlo de segurança.<br />
Normalmente a esse tipo de controlo recorre-se ao uso de<br />
contactosmagnéticos.<br />
Por fim, o terceiro controlo, menos utilizado, é o controlo<br />
remoto da abertura das janelas. A sua grande utilidade<br />
reflecte-se para manutenção dos níveis de CO 2 e como forma<br />
de controlo adicional para os sistema de climatização,<br />
sempre que for necessário.<br />
Ao incluir um ou mais detectores de movimento de presença<br />
(depende da dimensão do laboratório) permite fazer uma<br />
gestão automática de iluminação em função da existência de<br />
movimento no seu interior (p. ex. presença de alunos) com a<br />
luminosidade interior. Mas o detector permite ainda realizar<br />
os seus cálculos matemáticos de forma a realizar a regulação<br />
contínua da iluminação de forma a manter uma iluminação<br />
constante 1 .<br />
Por fim, a regulação da iluminação pode ser feita<br />
directamente ou através da tecnologia 1-10V ou DALI,<br />
podendo em qualquer momento ser desabilitada/habilitada<br />
o controlo automático através de umas das teclas de pressão<br />
presentesna entrada do laboratório.<br />
- Janelas<br />
Poderãoser realizados três tipos de controlos.<br />
- Climatização<br />
O sistema de climatização a ser controlado será separado em<br />
dois tipos.<br />
O primeiro tipo de climatização, aquecimento por caldeira,<br />
que irá fornecer água quente aos radiadores presentes no<br />
laboratório.<br />
O segundo tipo de climatização, HVAC, procederá ao<br />
arrefecimento e aquecimento (menos eficiente que o<br />
aquecimento por caldeira). Para um correcto funcionamento<br />
do sistema HVAC em todas as divisões, essas têm que<br />
comunicar com o sistema de gestão técnica centralizada para<br />
que accione o sistema HVAC central (controlado através de<br />
controladores baseados na tecnologia BACnet ou LonWorks)<br />
sempre que for necessário (através de cálculos matemáticos<br />
e de históricos de utilizaçãoanteriores).<br />
O controlo mais comum é o controlo das persianas de<br />
lamelas (que apesar do investimento inicial ser mais elevado<br />
que as persianas normais), permitem um controlo da<br />
entrada de iluminação natural e também um controlo da<br />
entrada de luz directa, de onde provém a radiação<br />
infravermelhos como uma das formas de aquecimento do<br />
laboratóriosempre que a temperatura interior seja baixa.<br />
O segundo tipo de controlo que poderá ser feito é o estado<br />
das janelas (aberta ou fechada), em que é muito útil para o<br />
sistema de climatização (que não irá funcionar sempre que<br />
O sistema de climatização é controlado com base nos valores<br />
apresentados pelo/s sensor/es de temperatura presentes na<br />
divisão. O valor de setpoint (valor de temperatura interior<br />
que se pretenda) poderá ou não ser ajustado em tempo real,<br />
pelos docentes ou outro tipo de pessoal autorizado.<br />
- Níveis de CO 2<br />
Ao monitorizar os valores de CO 2 permitem usufruir de duas<br />
grandes mais-valias. A mais notória é controlar os níveis de<br />
CO 2 , de forma que as condições de aprendizagem e de estar<br />
nos laboratórios sejam as ideais (evitando o muito conhecido<br />
efeitode “ar abafado” ou “saturado”).<br />
1<br />
Esta ao realizar a regulação de iluminação, permite um menor consumo de energia eléctrica, aumentando o tempo de vida útil das lâmpadas.<br />
Por exemplo, uma dada lâmpada a 50% de luminosidade pode durar até 20 vezes mais que uma lâmpada em funcionamento pleno<br />
300
ARTIGO TÉCNICO<br />
A outra vantagem que poderá apresentar é ser considerado<br />
como mais uma variável de controlo por parte do sistema de<br />
climatização. Por exemplo, em função dos diferentes níveis<br />
de prioridades das diferentes variáveis de controlo do<br />
sistema de climatização (apenas HVAC por permitir<br />
circulação de ar) e eventualmente controlo das janelas<br />
poderá contribuir para uma maior poupança energética.<br />
Por outro lado pretende-se referir que um sistema de<br />
domótica ou gestão técnica centralizada por si só não é uma<br />
solução eficaz e significativa para redução da factura<br />
energética de um edifício (uns dos factores mais<br />
significativos para o sucesso ou fracasso no factor de decisão<br />
de implementação), devido à solução arquitectónica a nível<br />
de estrutura e de materiais de construção.<br />
- Controlo de acessos<br />
Apesar do sistema de controlo de acessos existir, ao reportar<br />
a presença dos diferentes utilizadores, não possui outras<br />
funcionalidades. Ao interligar com o sistema de gestão<br />
técnicacentralizadapermite usufruir de inúmeras vantagens.<br />
Por exemplo, o accionamento dos diferentes circuitos de<br />
iluminação, persianas e climatização só será realizado<br />
sempre que o docente der como entrada na divisão,<br />
evitando accionamentoindevido por terceiros.<br />
Possibilita também, referido no capítulo 3.1.1, saber em<br />
tempo real onde está um dado utilizador (docente, aluno ou<br />
outro tipo de utilizadores) para uma maior facilidade de<br />
encontro.<br />
- Medição de energia<br />
Em qualquer altura, dependendo da existência do medidores<br />
de energia na divisão (energia eléctrica e do sistema de<br />
climatização em unidades British Thermal Unit - BTU), poderse-á<br />
utilizar os seus valores para controlo de custos em<br />
tempo real, identificar os valores de gastos de energia por<br />
utilizador ou até mesmo monitorizar a qualidade da rede<br />
eléctrica.<br />
Por fim, apesar de ser um caso teórico, permite dar uma<br />
outra sensibilidade aos leitores o leque de funcionalidades<br />
que poderão ser implementadas, que forma e as suas razões.<br />
4 FUTURO E OPORTUNIDADES DE MERCADO A DOMÓTICA OU<br />
SISTEMA DE GESTÃO TÉCNICA CENTRALIZADA<br />
Depois de fazer uma análise do caso pratico, irão ser<br />
expostas as tendências futuras da área da domótica e da<br />
área da gestão técnica centralizada.<br />
Actualmente a área da domótica (automação de casas e<br />
edifícios) encontra-se em franca expansão, com principal<br />
relevância nos países mais desenvolvidos, com um<br />
crescimentode mercado de mais de 10% ao ano.<br />
Existem inúmeras razões para a crescente implantação da<br />
domótica em edifícios, entre as quais a maior eficiência<br />
energética, o aumento da segurança e a redução do custo de<br />
aquisição das tecnologias. No que diz respeito às habitações<br />
particulares, acrescenta-se essencialmente o aumento do<br />
conforto devido ao grau de automação trazido pela<br />
domótica.<br />
3.2 Considerações Finais<br />
Pretende-se relembrar que foi proposto uma das muitas<br />
soluções possíveis de implementar, mostrando a<br />
versatilidade da implementação de uma sistema de<br />
domótica num dado ambiente (edifício F pertencente ao<br />
ISEP).<br />
A nível de previsões futuras, prevê um crescimento cada vez<br />
mais acelerado de implementação, embora haja ainda hoje<br />
muita falta de informação, que por vezes totalmente errada.<br />
Uma outra vertente muito cativante (oportunidade de<br />
mercado) é a nível académico (opinião baseada no universos<br />
dos alunos universitários) que há um grande interesse na<br />
continuação do estudo dessas tecnologias mais é muito<br />
pouco apostado no mundo académico nacional.<br />
301
ARTIGO TÉCNICO<br />
Umas das vertentes a explorar, é por exemplo, a continuação<br />
em desenvolver ou melhorar as tecnologias de domóticas<br />
actuais.<br />
Antes de se expor as diferentes alternativas serão<br />
justificadas as razões que levaram a abordar esse assunto.<br />
Em primeiro lugar espera-se que seja considerado como um<br />
"incentivo” para que os diferentes pólos de investigação<br />
presentes no ISEP e outras faculdades existentes em<br />
Portugal comecem a olhar para o mercado da domótica<br />
como uma aposta na área da investigação.<br />
É preciso realçar que uma solução completa ou não de<br />
domótica não pode ser considerada como uma solução de<br />
elevado retorno devido a sua eficiência energética e outros<br />
factores. Ou seja, uma verdadeira solução de domótica ou<br />
gestão técnica centralizada além de possuir uma rede a nível<br />
de campo, a nível de rede e quando necessário também a<br />
nível de supervisão todos os sistemas que estejam a operar<br />
em concordância com o sistema de domótica (tais como<br />
sistemas de iluminação, sistemas de climatização, sistemas<br />
de persianas/lamelas, etc) têm que ser igualmente<br />
eficientes.<br />
Para ser visto como um foco de investigação, a domótica tem<br />
que ser estudada sob várias frentes. Estas poderão ser, ao<br />
utilizar como linha de referência os diferentes pólos de<br />
investigaçãoexistentesno ISEP.<br />
As (algumas) alternativas/frentesque existem são:<br />
• Apesar de existirem imensas tecnologias de domótica,<br />
cada vez mais o mercado está inclinado para tecnologia<br />
baseadas em protocolos abertos (tais como KNX,<br />
LonWorks, etc), cujo seu sucesso comercial está mais que<br />
comprovado. Em vez se focar no desenvolvimento de<br />
novos protocolos de domótica, proceder ao<br />
desenvolvimento de novos produtos ou novos tipos de<br />
produtos aplicáveis em contextos e ambiente, que até ao<br />
momento não foram satisfeitos;<br />
• Relativamente ao ponto anterior, devido ao actual<br />
panorama financeiro nacional, cujo ensino superior<br />
acaba de sofrer um corte significativo no seu orçamento,<br />
para o ISEP continuar ou melhorar o seu nível de ensino,<br />
ao desenvolver novos produtos para o mercado (com<br />
vantagens competitivas a nível de prestigio e financeiro),<br />
fomenta na globalidade do ISEP (alunos e docentes) ao<br />
criarem novos produtos. Por outro lado, a facilidade de<br />
obter financiamento face às empresas privadas para a<br />
criação de um projecto de produção e venda de produtos<br />
de uma área em crescimento é outro facto de peso,<br />
acaba por ser uma forma de obter fundos para<br />
manutençãoe melhoramento do universo ISEP;<br />
• Como se referiu anteriormente, o desenvolvimento de<br />
produtos envolve a engenharia electrónica (que podem<br />
ou não estar envolvidos os laboratórios LSA, CISTER,<br />
etc.), engenharia mecânica (acondicionamento e<br />
formatos mais adequados a nível mecânico dos produtos<br />
ou até mesmo conhecimentos termodinâmicos –<br />
sistemas de climatização), engenharia informática<br />
(software de gestão, de supervisão, etc.), engenharia civil<br />
(estudo da concepção de edifícios mais ecológicos e/ou<br />
optimização dos edifícios actuais), engenharia de<br />
sistemaseléctricos, etc.;<br />
• Continuação do desenvolvimento da tecnologia sem-fios<br />
ZigBee, pelo laboratório CISTER, que ao interligar com os<br />
sistemas de domótica permitirá aumentar a versatilidade<br />
de implementação da domótica e de aplicações<br />
SmartGrid (rede de sensores sem fios);<br />
• Etc.<br />
6 CONCLUSÕES FINAIS<br />
Depois de realizar um breve estado da arte das tecnologias<br />
domóticas,de seguida elaborou-se uma exposição a um caso<br />
prático, pondo em prática a aplicação das diferentes<br />
tecnologiasdomóticas(KNX, LonWorks e BACnet).<br />
302
ARTIGO TÉCNICO<br />
Em jeito de conclusão geral, findo este trabalho, poderá-seão<br />
tecer as seguintes considerações:<br />
• Em função do contexto da sua aplicação, as vantagens<br />
das tecnologias domóticas são evidentes ao reduzirem a<br />
factura energética de um edifício, fornecendo o mesmo<br />
nível de conforto, oferecendo uma versatilidade mais<br />
elevada na utilização das diferentes funcionalidades<br />
existente no edifício face a um edifício tradicional e entre<br />
outros;<br />
• Por outro lado, ao oferecer um nível elevado de<br />
escalabilidade (maior facilidade de futuras expansões de<br />
rede), é criado um nível elevado de segurança,<br />
fiabilidadee diferentestipos de topologias de rede;<br />
• A nível da interoperabilidade, as tecnologias KNX e<br />
LonWorks ao apresentarem respectivamente, cerca de<br />
300 e 4200 fabricantes afiliados, oferecem uma grande<br />
versatilidade.<br />
Por outro lado podemos concluir que além de se provar um<br />
claro crescimento das tecnologias domóticas nos mercados,<br />
devido à aceitação crescentes das vantagens que estas<br />
oferecem, podem ser consideradas como uma excelente<br />
área de investigação para as faculdades e politécnicos<br />
portugueses.<br />
Bibliografia<br />
[1] EchelonCorporation<br />
http://www.echelon.com/<br />
[2] ECHELON - LonWorksEngeneering Bulletin 005-0025-<br />
01D, 1996<br />
[3] KNX Organization - KNX Handbook for Home and<br />
BuildingControl. 3º Release. Bélgique, 1999<br />
[4] KNX Organization<br />
http://knx.org/<br />
[5] LonMarkInternacional<br />
http://www.lonmark.org/<br />
[6] LonMark of Germany<br />
http://www.lno.de<br />
[7] Partner’sKNX<br />
http://www.knx.org/knx-partners/knxeib-partners/list/<br />
[8] SCADA<br />
http://www.scadaengine.com/<br />
[9] SYSMIK GmBH DRESDEN<br />
http://www.sysmik.co<br />
[10] ZIGBEEALLIANCE<br />
http://www.zigbee.org/<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />
(Edifício F)<br />
303
Autores<br />
304
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />
António Augusto Araújo Gomes<br />
(aag@isep.ipp.pt)<br />
Mestre (pré-bolonha) em Engenharia Electrotécnica e Computadores, pela Faculdade de<br />
Engenhariada Universidade do Porto.<br />
Doutorandona Área Científicade Sistemas Eléctricosde Energia (UTAD).<br />
Docentedo InstitutoSuperior de Engenharia do Porto desde 1999.<br />
Coordenadorde Obras na CERBERUS- Engenharia de Segurança, entre 1997 e 1999.<br />
Prestação, para diversas empresas, de serviços de projecto de instalações eléctricas,<br />
telecomunicaçõese segurança, formação, assessoriae consultadoria técnica.<br />
Investigador do GECAD (Grupo de Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à<br />
Decisão),do ISEP, desde 1999.<br />
António Manuel Luzano de Quadros Flores<br />
(aqf@isep.ipp.pt)<br />
Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Produção<br />
Transporte e Distribuição de Energia pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;<br />
"M.B.A."em Gestão na Escola de Gestão do Porto da Universidade do Porto.<br />
Aluno de doutoramento na Faculdade de Ciências e Tecnologiada Universidade de Coimbra.<br />
Docentedo InstitutoSuperior de Engenharia do Porto desde 19993<br />
Desenvolveu actividade profissional na SOLIDAL no controlo de qualidade e manutenção, na<br />
EFACEC na área comercial de exportação de máquinas eléctricas, na British United Shoe Machinery<br />
na área de manutenção, na ALCATEL-Austrália na área de manutenção, na ELECTROEXPRESS, em<br />
Sidney, na área de manutenção e instalaçõeseléctricas.<br />
Bolseiroda F.C.T., Fundação para a Ciência e Tecnologia desde 2008.<br />
Arlindo Ferreira Francisco<br />
(1060991@isep.ipp.pt)<br />
Finalista do curso de Engenharia Electrotécnica, área Científica de Sistemas Eléctricos de Energia,<br />
no InstitutoSuperior Engenharia do Porto.<br />
Colaborador na empresa Grohe-Portugal (Fábrica de Componentes Sanitários em Albergaria-a-<br />
Velha) desde 1998, desempenhando funções na área da Manutenção e Projectos Especiais.<br />
Larga experiência na área de Automação e Controlo.<br />
Recentementea desenvolver projecto sobre Gestão de Energia.<br />
Domingos Salvador Gonçalves dos Santos<br />
(dss@isep.ipp.pt)<br />
Licenciadoe Mestre em Engenharia Electrotécnica.<br />
Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do<br />
Porto.<br />
Eduardo Sérgio Correia<br />
(SCorreia@iems.pt)<br />
Engº Técnico Electrotécnico– Sistemas de Energia (ISEP 1995), inscrito na ANET (1555).<br />
Director de Operações da Delegação Norte da IEMS – Instalações de Electrónica Manutenção e<br />
Serviços, Lda desde 2000.<br />
Notacurricular da empresa:<br />
Fundada em 1993, a IEMS, começou a operar como uma empresa fornecedora de acessórios para<br />
sistemas de cablagem e prestadora de serviços associados. A IEMS tem acompanhado o rápido<br />
desenvolvimento da indústria das tecnologias de informação, evoluindo ao longo dos anos, para a<br />
comercialização de produtos nas áreas de cablagem estruturada, de telecomunicações,<br />
equipamentos activos de rede, tendo-se especializado em adaptar soluções de fabricantes<br />
mundiais, líderes no mercado, às realidades e exigências nacionais. Neste âmbito, tem uma vasta<br />
experiência em instalação e manuseamento das Redes de Fibra Óptica, estando sempre na<br />
vanguarda com os produtos mais avançados disponíveis no mercado.<br />
305
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />
Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />
(hjs@isep.ipp.pt)<br />
Licenciado em Engenharia Electrotécnica, em 1979, pela Faculdade de Engenharia da Universidade<br />
do Porto, opção de Produção, Transporte e Distribuição de Energia.<br />
Diploma de Estudos Avançados em Informática e Electrónica Industrial pela Universidade do<br />
Minho. Mestre em Ciências na área da ElectrónicaIndustrial.<br />
Professor Adjunto Equiparado do ISEP, leccionando na área da Teoria da Electricidade e Instalações<br />
Eléctricas.<br />
Hugo Miguel Ferreira de Sousa<br />
(1060992@isep.ipp.pt)<br />
Finalista do curso de Engenharia Electrotécnica, Sistemas Eléctricos de Energia, no instituto<br />
superior de Engenharia do Porto.<br />
A desempenhar funções como Técnico de Manutenção Industrial, na empresa Socitrel – Sociedade<br />
Industrial de Trefilaria S.A., desde 1997.<br />
José Luís Almeida Marques de Faria<br />
(jlamfaria@gmail.com)<br />
Mestre em Engenharia Electrónica e de Computadores, na área de Sistemas e Planeamento<br />
Industrial (Plano de estudos Bolonha - 120ECTS), InstitutoSuperior de Engenharia do Porto).<br />
Director técnico na empresa Touchdomo.<br />
Fornece serviços à Industria Azevedos, com a função de integrador KNX e EnOcean.<br />
Formador na área da domótica e engenharia electrónica/eléctrica.<br />
Funcionário da empresa Intelbus, Soluções para edifícios, Lda, com a função de integrador KNX e<br />
LonWorks, desde Agosto de 2008 até Junho de 2010.<br />
José Marílio Oliveira Cardoso<br />
(joc@isep.ipp.pt)<br />
Licenciado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior<br />
de Engenharia do Porto.<br />
Doutorando da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro na Área Cientifica de Sistemas<br />
Eléctricosde Energia.<br />
Docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto desde 2003 e investigador do GECAD (Grupo<br />
de Investigaçãoem Engenharia do Conhecimentoe Apoio à Decisão).<br />
Docenteno ensino secundário, na área da electrotecniaentre 2001 e 2004.<br />
Formador no Curso de Especialização Pós-Graduada em Eficiência Energética e Utilização Racional<br />
de Energia Eléctrica, do ISEP. Formador na Pós-Graduação em Gestão de Energia – Eficiência<br />
Energética,no Institutode Soldadura e Qualidade(ISQ), Taguspark, Oeiras e em Grijó, V.N. Gaia.<br />
José António Beleza Carvalho<br />
(jbc@isep.ipp.pt)<br />
Nasceu no Porto em 1959. Obteve o grau de B.Sc em engenharia electrotécnica no Instituto<br />
Superior de Engenharia do Porto, em 1986, e o grau de M.Sc e Ph.D. em engenharia electrotécnica<br />
na especialidade de sistemas de energia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em<br />
1993 e 1999, respectivamente.<br />
Actualmente, é Professor Coordenador no Departamento de Engenharia Electrotécnica do<br />
Instituto Superior de Engenharia do Porto, desempenhando as funções de Director do<br />
Departamento.<br />
306
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />
José Jacinto Gonçalves Ferreira<br />
(jacintoferreira@googlemail.com)<br />
Engenheiro Electrotécnico na Área de Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior de<br />
Engenhariado Porto.<br />
Chefe de Serviço Após-Vendana Schmitt - Elevadores, Lda<br />
Luís Filipe Caeiro Castanheira<br />
(lcc@isep.ipp.pt)<br />
Licenciadoe Mestre em Engenharia Electrotécnica.<br />
Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do<br />
Porto.<br />
Luís António Sequeira Peixoto<br />
Bacharelatoem Engenharia Electrotécnica<br />
Director de Formação, AssistênciaTécnica e Gestor de Produto , Televés.<br />
Manuel José Rodrigues Cunha<br />
(manuel-r-cunha@telecom.pt)<br />
Licenciado em Engenharia Electrotecnia - Sistemas Eléctricos de Energia pelo Instituto Superior de<br />
Engenhariado Porto<br />
Coordenadorda área técnica norte do Canal Imobiliário, Portugal Telecom.<br />
Miguel Leichsenring Franco<br />
(m.franco@schmitt-elevadores.com)<br />
Licenciado em Engenharia Electrotécnica – Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior<br />
de Engenharia do Porto.<br />
Master in Business Administration (MBA) com especialização em Marketing pela Universidade<br />
CatólicaPortuguesa– Lisboa.<br />
Licenciado em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa –<br />
Porto.<br />
Administradorda Schmitt-Elevadores,Lda.<br />
307
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />
Nelson Ferreira da Silva<br />
(1071169@isep.ipp.pt)<br />
Licenciadoem Engenharia Electrotécnicade Sistemas Eléctricosde Energia no ISEP.<br />
Encontra-sea frequentar o Mestrado em Sistemas Eléctricos de Energia no ISEP.<br />
Pedro Daniel Soares Gomes<br />
(1071106@isep.ipp.pt)<br />
A frequentar o 1º ano do Mestrado em Engenharia Electrotécnica – Sistemas Eléctricos de Energia,<br />
no InstitutoSuperior de Engenharia do Porto (2010/2011)<br />
Licenciado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia pelo Instituto Superior de<br />
Engenhariado Porto (2007/2008 - 2009/2010)<br />
Pedro Gerardo Maia Fernandes<br />
(1070172@isep.ipp.pt)<br />
Licenciado em Engenharia Eléctrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia, no Instituto Superior de<br />
Engenhariado Porto.<br />
Encontra-se a frequentar o curso Mestrado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de<br />
Energia.<br />
Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />
(pma@isep.ipp.pt)<br />
Mestre em Automação, Instrumentação e Controlo pela Faculdade de Engenharia da Universidade<br />
do Porto.<br />
Aluno do Programa Doutoral em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Faculdade de<br />
Engenhariada Universidade do Porto.<br />
Docentedo InstitutoSuperior de Engenharia do Porto desde 2001.<br />
Desenvolveu actividade de projectistade instalaçõeseléctricas de BT na DHV-TECNOPOR.<br />
Roque Filipe Mesquita Brandão<br />
(rfb@isep.ipp.pt)<br />
Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Sistemas Eléctricos<br />
de Energia, pela Faculdade de Engenhariada Universidade do Porto.<br />
Aluno de doutoramento em Engenharia Electrotécnica e de Computadores na Faculdade de<br />
Engenhariada Universidade do Porto.<br />
Investigadordo INESC Porto, Laboratório Associado. Bolseiro da FCT.<br />
Desde 2001 é docente no Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de<br />
Engenhariado Porto.<br />
Consultortécnico de alguns organismos públicos na área da electrotecnia.<br />
308
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />
Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />
(scr@isep.ipp.pt)<br />
Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Sistemas Eléctricos<br />
de Energia, pelo InstitutoSuperior Técnico de Lisboa.<br />
Aluno de doutoramento em Engenharia Electrotécnica e de Computadores no Instituto Superior<br />
Técnicode Lisboa.<br />
Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do curso de Sistemas Eléctricos de<br />
Energiado InstitutoSuperior de Engenhariado Porto desde 2001.<br />
Prestação, para diversas empresas, de serviços de projecto de instalações eléctricas,<br />
telecomunicaçõese segurança, formação, assessoriae consultadoria técnica.<br />
Investigador do GECAD (Grupo de Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à<br />
Decisão),do ISEP, desde 2002.<br />
Sónia Viegas<br />
Licenciatura em Engenharia de Gestão Industrial no Ramo de Instrumentação e Controlo pelo<br />
InstitutoPolitécnicode Setúbal / Escola Superior de Tecnologia.<br />
Pós-Graduação em Energias Renováveis em Edifícios. Instituto Politécnico de Setúbal / Escola<br />
Superior de Tecnologia<br />
Eng.ª de Integração de Sistemas, Astratec (1 de Julho de 2009).<br />
Eng.ª de Gestão da Manutenção e Projecto, Gestimótica – Gestão Integrada de Edifícios (15 de<br />
Janeiro de 2001 – 28 de Fevereiro de 2009)<br />
Gestora de Produto de automação e sistemas de controlo e supervisão, Tecnilab Portugal (15 de<br />
Novembro de 1999 – 5 de Janeiro de 2001)<br />
Eng.ª Projectista de Automação Industrial, Nessie – Soluções em Automação (23 de Fevereiro de<br />
1998 – 31 de Maio de 1999)<br />
Eng.ª Projectista de Automação Industrial, Eurobótica Automação (1 de Novembro de 1995 – 20 de<br />
Fevereiro de 1998)<br />
Teresa Alexandra Ferreira Mourão Pinto Nogueira<br />
(tan@isep.ipp.pt)<br />
Licenciatura e mestrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, área científica de<br />
Sistemas de Energia, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.<br />
Doutoramento em Engenharia Electrotécnica e Computadores, pela Universidade de Trás-os-<br />
Montes e Alto Douro.<br />
Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica, curso de Sistemas Eléctricos de Energia<br />
do ISEP – Instituto Superior de Engenharia do Porto. Investigadora no GECAD – Grupo de<br />
Investigaçãoem Engenharia do Conhecimento e Apoio à Decisão, desde 2003.<br />
O percurso profissional inclui o dimensionamento e projecto de transformadores de distribuição –<br />
EFACEC, empresa fabril de máquinas eléctricas.<br />
Subdirectorano Departamento de EngenhariaElectrotécnicano ISEP.<br />
309