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EUTRO À TERRA

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Nº7 ⋅ 1º semestre de 2011 ⋅ ano 4 ⋅ ISSN: 1647-5496<br />

<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong><br />

Revista Técnico-Científica |Nº7| Julho de 2011<br />

http://www.neutroaterra.blogspot.com<br />

“A revista “Neutro-à-Terra” celebra agora três anos de vida e seis<br />

publicações já realizadas. Os objectivos que se pretendiam<br />

inicialmente com a publicação desta revista, e que se mantêm,<br />

assentam fundamentalmente na divulgação de assuntos de carácter<br />

técnico-científico, com uma abordagem crítica, mas construtiva, de<br />

forma que esta publicação seja uma referência em assuntos<br />

relacionados com a Engenharia Electrotécnica.”<br />

Doutor Beleza Carvalho<br />

Instalações<br />

Eléctricas<br />

Pág.5<br />

Máquinas<br />

Eléctricas<br />

Pág. 63<br />

Telecomunicações<br />

Pág. 115<br />

Segurança<br />

Pág. 149<br />

Energias<br />

Renováveis<br />

Pág. 195<br />

Eficiência<br />

Energética<br />

Pág.215<br />

Domótica<br />

Pág. 265<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto – Engenharia Electrotécnica – Área de Máquinas e Instalações Eléctricas


Índice<br />

<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong><br />

3| Editorial<br />

5| InstalaçõesEléctricas<br />

63| Máquinas Eléctricas<br />

115| Telecomunicações<br />

149| Segurança<br />

195| Energias Renováveis<br />

215| Eficiência Energética<br />

265| Domótica<br />

304| Autores<br />

FICHA TÉCNICA DIRECTOR: Doutor José António Beleza Carvalho<br />

SUB-DIRECTORES:<br />

Engº António Augusto Araújo Gomes<br />

Engº Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Engº Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />

PROPRIEDADE:<br />

CONTACTOS:<br />

PUBLICAÇÃO SEMESTRAL: ISSN: 1647-5496<br />

Área de Máquinas e Instalações Eléctricas<br />

Departamento de Engenharia Electrotécnica<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

jbc@isep.ipp.pt ; aag@isep.ipp.pt


EDITORIAL<br />

Estimados leitores<br />

A revista “Neutro-à-Terra” celebra agora três anos de vida e seis publicações já realizadas. A sua publicação é da<br />

responsabilidade de um grupo de docentes e investigadores do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto<br />

Superior de Engenharia do Porto, que trabalham diariamente na área das Instalações e Máquinas Eléctricas, quer na leccionação<br />

de unidades curriculares desta área de especialização, quer em actividades de projecto, ou em actividades de investigação. Os<br />

objectivos que se pretendiam inicialmente com a publicação desta revista, e que se mantêm, assentam fundamentalmente na<br />

divulgação de assuntos de carácter técnico-científico, com uma abordagem crítica, mas construtiva, de forma que esta<br />

publicação seja uma referência em assuntos relacionados com a Engenharia Electrotécnica. Neste âmbito, a revista “Neutro-à-<br />

Terra” destina-se a todos os profissionais na área da Engenharia Electrotécnica, especialmente aos engenheiros projectistas de<br />

instalações eléctricas, mas também a todos os alunos de cursos de engenharia electrotécnica. Os incentivos recebidos ao longo<br />

dos últimos anos deram a motivação necessária para a sua continuação. Nesta edição, que celebra os três anos de vida e as seis<br />

publicações realizadas, decidiu-se elaborar uma colectânea com todas as publicações das edições anteriores, agrupadas pelas<br />

diversas áreas de especialização da Engenharia Electrotécnica em que a revista se propõe intervir, ou seja: as instalações<br />

eléctricas, as máquinas eléctricas, as infra-estruturas de telecomunicações, a segurança, a domótica, as energias renováveis e a<br />

eficiência energética. Pretende-se assim, criar um documento que seja uma referência e um guia para engenheiros<br />

electrotécnicos com intervenção nas referidas áreas, mas também um manual de apoio aos alunos que frequentam cursos de<br />

engenharia electrotécnica, particularmente dos cursos afectos ao Departamento de Engenharia Electrotécnica do ISEP. Como<br />

também foi habitual nos últimos três anos, faz-se a divulgação dos laboratórios do Departamento de Engenharia Electrotécnica<br />

do ISEP, onde foram realizados vários dos trabalhos correspondentes aos artigos publicados nas várias edições da revista.<br />

Desejando que esta edição comemorativa dos três anos da publicação da revista “Neutro-à-Terra” possa satisfazer novamente<br />

as expectativas dos nossos leitores, apresento os meus cordiais cumprimentos.<br />

Porto, Julho de 2011<br />

José António Beleza Carvalho<br />

3


4<br />

DIVULGAÇÃO


ARTIGO TÉCNICO<br />

Instalações Eléctricas<br />

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />

artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Instalações Eléctricas.<br />

Nesta compilação de artigos é feita uma exposição crítica, mas construtiva, dos assuntos de carácter técnico-científico das<br />

Instalações Eléctricas com especial relevo para as temáticas menos abordadas, tais como a análise da secção técnica versus<br />

secção económica das canalizações eléctricas, problemática das correntes de curto-circuito nas instalações eléctricas, influência<br />

dos harmónicos nas instalações, protecção das pessoas, queda de tensão, entre outros.<br />

Estes temas, embora com menor visibilidade, assumem um papel preponderante para o correcto dimensionamento e<br />

exploração das instalações eléctricas.<br />

5


ARTIGO TÉCNICO<br />

Índice<br />

O Aquecimento dos Condutores na Situação de Curto-Circuito<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

7<br />

Harmónicos em Instalações Eléctricas. Causas, efeitos e normalização<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

11<br />

Projecto de Instalações Eléctricas. Secção Técnica Vs Secção Económica de Canalizações Eléctricas<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva, António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

23<br />

Protecção das Pessoas em Instalações Eléctricas de Baixa Tensão. Cálculo dos Dispositivos de Protecção<br />

José António Beleza Carvalho<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

29<br />

FASES DE REALIZAÇÃO E TIPOS DE PROJECTOS DE INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

37<br />

Técnicas de Manutenção em Linhas de Transmissão de Energia<br />

Arlindo Francisco, Hugo Miguel Sousa, Teresa Alexandra F. M. Pinto Nogueira<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

45<br />

QUEDAS DE TENSÃO EM INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS DE BAIXA TENSÃO<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

51<br />

6


ARTIGO TÉCNICO<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

O Aquecimento dos Condutores na Situação de Curto-Circuito<br />

Do calor gerado uma parte vai elevar a temperatura do<br />

condutor e a outra vai ser dissipada por radiação, convecção<br />

ou condução.<br />

Podemos, então, escrever a seguinte relação:<br />

P=UI=RI 2 =P1 + P2<br />

Eq. 1<br />

As Regras Técnicas das Instalações Eléctricas em Baixa<br />

Tensão, RTIEBT, apresentam no parágrafo 434.3.2 uma<br />

expressão que determina o tempo máximo de exposição de<br />

um condutor a uma corrente de curto-circuito, expressão<br />

esta conhecida por curva de fadiga térmica da canalização,<br />

função de diversas grandezas entre as quais a variável K por<br />

sua vez dependente da natureza da alma condutora e do<br />

isolamento.<br />

Os valores de K vêm tabelados no mesmo parágrafo.<br />

Vejamos como podemos obter esses valores mediante um<br />

estudo analítico dos fenómenos envolvidos.<br />

Consideremos um condutor cilíndrico de secção S,<br />

comprimento l, resistividade ρ, submetido a uma tensão U e<br />

percorrido pela corrente I, figura 1.<br />

U<br />

I<br />

S<br />

em que P1 representa a potência responsável pelo<br />

aquecimento do condutor e P2 a fracção restante que é<br />

dissipada.<br />

Em termos energéticos, considerando um intervalo de<br />

tempo infinitesimal, a equação que traduz o processo<br />

termodinâmico que decorre da passagem da corrente pode<br />

ser detalhado da forma seguinte:<br />

2<br />

RI dt = Pdt<br />

1<br />

+ P2 dt = mcdϑc + KSdϑdt<br />

Eq. 2<br />

Onde:<br />

m – massa do condutor<br />

c – calor específico<br />

Θc – temperatura do condutor<br />

K – constante de Newton que traduz a potência dissipada<br />

por unidade de área e grau centígrado<br />

Sd – área lateral de dissipação do calor<br />

Θ – sobreelevação de temperatura do condutor, isto é, θ =<br />

θc – θa, em que θa é a temperatura ambiente que se<br />

considera inalterável (reservatório térmico de<br />

capacidade infinita)<br />

L<br />

Figura 1 – Condutor cilíndrico homogéneo<br />

A potência eléctrica fornecida ao condutor P=UI é<br />

transformada em calor pela conhecida lei de Joule P= RI 2 .<br />

(A fórmula correspondente ao termo P2 apenas contempla a<br />

potência dissipada por convecção.)<br />

A situação de curto-circuito é uma ocorrência anómala<br />

caracterizada por elevadas correntes devidas normalmente a<br />

defeitos de isolamento.<br />

7


ARTIGO TÉCNICO<br />

Assim é necessário, para evitar danos maiores, que as<br />

protecções intervenham em tempos muito reduzidos. A<br />

legislação impõe que o corte se faça num tempo quando<br />

muito igual a 5 s.<br />

Nestas condições é lícito supor que a transformação<br />

termodinâmica seja adiabática, isto é, que não haja<br />

permutação de calor com o exterior – o calor gerado servirá<br />

apenas para elevar a temperatura do próprio condutor. Esta<br />

é também a situação mais desfavorável, do ponto de vista<br />

das temperaturas atingidas, uma vez que com a passagem do<br />

tempo as trocas com o exterior serão inevitáveis, pelo que o<br />

dimensionamento segundo este pressuposto favorece a<br />

segurança da protecção.<br />

Retomemos a eq. 2<br />

γ ϑ ϑ ϑ ϑ<br />

2<br />

RI dt = V cd<br />

c<br />

+ KSd dt = Slcvd c<br />

+ KSd<br />

dt<br />

Eq. 3<br />

O produto γc, massa específica do material pelo seu calor<br />

específico,é designado por calor específico volumétrico cv.<br />

Onde:<br />

V – volume do condutor<br />

γ – massa específica<br />

S – secção do condutor<br />

c v – calor específico volumétrico<br />

Uma vez que consideramos o aquecimento adiabático, a<br />

parcela correspondente a P2 pode ser desprezada.<br />

ρ0(1 + αθ<br />

c)<br />

S<br />

l I<br />

2<br />

dt<br />

Eq. 4<br />

Eq. 5<br />

= Slc d ϑ<br />

2 2<br />

ρ (1 )<br />

0<br />

+ αθc I dt = S cvdϑc<br />

v<br />

c<br />

Onde:<br />

ρ 0 – resistividade a 0ºC<br />

α - coeficiente de termorresistividade do material<br />

O aquecimento do condutor não depende do seu<br />

comprimento.<br />

2<br />

S cv<br />

dt =<br />

(1 ) dϑ<br />

2 c<br />

ρ + αθ I<br />

0 c<br />

dτ<br />

τ = 1+ αθc dτ = αdϑc dϑc=<br />

α<br />

Eq. 6<br />

2<br />

S c v<br />

2<br />

0<br />

I<br />

dt =<br />

ρ α<br />

Eq. 7<br />

Com a mudança de variável operada podemos prosseguir<br />

para integração:<br />

2<br />

S c v<br />

2<br />

0<br />

I<br />

Eq. 8<br />

em que k 1 é uma constante de integração.<br />

Neste ponto vamos fazer uma hipótese de trabalho que<br />

consiste em considerar que para o instante t=0 de ocorrência<br />

do curto-circuito a temperatura do condutor é a sua<br />

temperatura de regime θz.<br />

Eq. 9<br />

dτ<br />

τ<br />

t = lnτ<br />

+ k<br />

ρ α<br />

2<br />

S cv<br />

2<br />

0<br />

I<br />

0 = lnτ<br />

z<br />

+ k<br />

ρ α<br />

t = 0 ⇒ ϑ = ϑ ⇒ τ = τ<br />

c z z<br />

1<br />

1<br />

8


ARTIGO TÉCNICO<br />

2<br />

S cv<br />

1<br />

= −<br />

2<br />

ρ0α<br />

I<br />

Eq. 10<br />

Substituindo este resultado na eq. 8:<br />

k<br />

2<br />

S cv<br />

2<br />

0<br />

I<br />

t = (lnτ<br />

− ln τ<br />

z<br />

)<br />

ρ α<br />

2<br />

S cv<br />

2<br />

0<br />

I<br />

t =<br />

ρ α<br />

τ<br />

(ln )<br />

τ<br />

Eq. 11<br />

lnτ<br />

z<br />

z<br />

Procedendo à substituição,obter-se-á:<br />

Uma vez que<br />

ρ = ρ (1 + α 20)<br />

ρ<br />

20 0<br />

20<br />

0<br />

=<br />

1 + α 20<br />

cv<br />

+ +<br />

k =<br />

ρ<br />

( β 20) β θ (ln<br />

c )<br />

ρ β + θ<br />

20<br />

Eq. 15<br />

β (1 + α20) = ( β + 20)<br />

z<br />

Usando agora a definição de τ:<br />

Eq. 16<br />

2<br />

S cv<br />

2<br />

0 I<br />

t =<br />

ρ α<br />

Eq. 12<br />

1+<br />

αθc<br />

(ln )<br />

1+<br />

αθ<br />

z<br />

De notar que a expressão de k a que se chegou, eq. 15, se<br />

desenvolveu a partir da eq. 4 que considerava a resistividade<br />

a 0ºC. Se se tivesse partido com o seu valor a 20ºC, chegarse-ia<br />

a uma expressão um pouco diferente:<br />

Se introduzirmos a grandeza β como sendo o inverso de α,<br />

obteremos:<br />

k =<br />

cvβ β + θc<br />

− 20<br />

(ln )<br />

ρ β + θ − 20<br />

20<br />

z<br />

t =<br />

β β + θc<br />

(ln )<br />

ρ β + θ<br />

2<br />

S cv<br />

2<br />

0I<br />

Eq. 13<br />

A eq. 13 pode ser reescrita na forma dada no parágrafo das<br />

Regras Técnicas acima citado.<br />

k S<br />

t =<br />

2<br />

I<br />

k =<br />

2 2<br />

cvβ β + θc<br />

(ln )<br />

ρ β + θ<br />

0<br />

Eq. 14<br />

O k assim definido usa o valor da resistividade a 0º C, ρ0.<br />

Normalmente a fórmula utiliza o valor a 20º, ρ 20 .<br />

z<br />

z<br />

Eq. 17<br />

É fácil verificar que os kk determinados pelas eq. 15 e 17 dão<br />

valores ligeiramente diferentes.<br />

A razão prende-se com a fórmula da variação da<br />

resistividade com a temperatura.<br />

De facto, a expressão geral da fórmula vem expressa por:<br />

[ ]<br />

ρ = ρ 1 + α ( ϑ − ϑ ) = ρ + ρ α ( ϑ −ϑ<br />

)<br />

ϑ ϑ 1 ϑ ϑ<br />

1<br />

1 1 1<br />

Eq. 18<br />

Ora esta fórmula não é senão a expansão em série de Taylor,<br />

considerados somente os dois primeiros termos, de ρ θ em<br />

torno do ponto θ 1 . O produto ρ θ1 .α corresponde à derivada<br />

de ρ θ em θ 1 . A linearização da função implica que o declive<br />

da recta seja constante, ou seja os produtos ρ θ .α, pelo que o<br />

9


ARTIGO TÉCNICO<br />

coeficiente de termorresistividade α deve variar<br />

inversamente com ρ.<br />

Assim sendo, a eq. 15 deverá ser escrita sob a forma mais<br />

correcta:<br />

k =<br />

c<br />

+ +<br />

ρ β + θ<br />

v<br />

( β0 20) β (ln<br />

0<br />

θ<br />

c )<br />

20 0<br />

Eq. 15’<br />

z<br />

k =<br />

c<br />

β β θ<br />

ρ β + θ<br />

v<br />

(<br />

0<br />

+ 20) (ln<br />

0<br />

+<br />

c )<br />

20 0<br />

Eq. 15’<br />

em que β 0 é o inverso do coeficiente de termorresistividade<br />

α a 0ºC.<br />

A eq. 15’ está também em acordo com a norma CEI IEC 60<br />

949 – Calculation of thermally permissible short-circuit<br />

currents, taking into account non-adiabatic heating effects<br />

(1ª ed. 1988).<br />

No entanto, normalização de alguns países usa a expressão:<br />

k =<br />

c<br />

v( β<br />

20<br />

+ 20) β (ln<br />

20<br />

+ θ<br />

c )<br />

ρ β + θ<br />

20 20<br />

Eq. 15’’<br />

Ou seja, usando o valor de α a 20ºC.<br />

z<br />

z<br />

Natureza do condutor Cu Al<br />

Natureza do isolamento PVC XLPE PVC XLPE<br />

Temperatura máxima de regime 70º 90º 70º 90º<br />

Temperatura máxima de curto-circuito 160º 250º 160º 250º<br />

Tab.1 Temperaturas de regime e de curto-circuito<br />

Contudo, a norma CEI IEC 60 986 – Short-circuit temperature<br />

limits of electric cables with rated voltages from 6 kV (Um =<br />

7,2 kV) up to 30 kV (Um = 36 kV), (Out. 2000), faz uma<br />

distinção para o caso de cabos isolados a Policloreto de<br />

Vinilo, PVC:<br />

PVC (PVC/B) Temperatura máxima de cc (ºC)<br />

S ≤ 300 mm2 160<br />

S > 300 mm2 140<br />

Tab. 2 Temperaturas máx. de cc para o PVC<br />

Natureza do condutor Cu Al<br />

Calor específico volumétrico<br />

3,45.10 -3 2,5.10 -3<br />

J/ºC.mm 3<br />

Resistividade a 20º C<br />

17,241.10 -6 28,264.10 -6<br />

Ω.mm<br />

Resistividade a 0º C<br />

15,885.10 -6 26.10 -6<br />

Ω.mm<br />

(calculado)<br />

Coeficiente de termorresistividade a 20ºC<br />

3,93.10 -3 4, 034.10 -3<br />

/ºC<br />

Coeficiente de termorresistividade a 0ºC<br />

/ºC<br />

(calculado)<br />

4,265.10 -3 4,386.10 -3<br />

Tab. 3 Características físicas do cobre e do alumínio<br />

A expressão de k pode também apresentar-se numa forma<br />

simplificada como segue:<br />

k =<br />

c ( θ −ϑ<br />

)<br />

v c z<br />

ρ<br />

eq<br />

Eq. 19<br />

em que ρeq é um valor médio da resistividade, tomado para<br />

uma temperatura intermédia.<br />

Cálculo dos KK<br />

Vamos usar a eq. 15’ do k para calcular os seus valores para<br />

os cabos mais utilizados:<br />

A Tab. 3 – a menos dos valores calculados – encontra-se<br />

definida como na citada norma CEI IEC 60 949.<br />

A temperatura final do condutor será feita igual à máxima de<br />

curto-circuito e a inicial à máxima de regime permanente.<br />

Natureza do condutor Cu Al<br />

Natureza do isolamento PVC XLPE PVC XLPE<br />

Valor de k (Eq. 15’) 114,83 142,87 76,08 94,55<br />

Valor de k (parágrafo 434.3.2 RTIEBT) 115 143 76 94<br />

Valor de k (artº 580º DL 740/74) 115 135 74 87<br />

Tab. 4 Comparação dos valores de k<br />

Como se pode apreciar pela Tab. 4 os novos valores de k<br />

dados pelas RTIEBT estão bastante mais próximos dos<br />

valores teóricos calculados pela Eq. 15’ que os valores<br />

anteriormente fornecidos pelo Regulamento de Instalações,<br />

o célebre 740/74, valores estes que ainda são os do<br />

Regulamento de Redes de BT, o DR nº 90/84.<br />

10


ARTIGO TÉCNICO<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

Harmónicos em Instalações Eléctricas<br />

Causas, efeitos e normalização<br />

1. Análise harmónica<br />

Jean Baptiste Joseph, barão de Fourier, publicou em Paris no<br />

ano de 1822 a sua ópera magna “Théorie Analytique de la<br />

Chaleur”. Nesta obra Fourier demonstrava que a condução<br />

do calor nos corpos sólidos podia ser descrita através de uma<br />

série infinita de senos e co-senos. O trabalho estimulou<br />

investigações nos mais variados campos da ciência e da<br />

técnica, tendo ressaltado que o tipo de formulação<br />

matemática empregada por Fourier era um pré-requisito<br />

para a solução de fenómenos que exibiam natureza<br />

periódica.<br />

O método de exprimir funções periódicas em termos de<br />

somas de senos e co-senos recebe o nome de Análise<br />

Harmónica.<br />

Fig. 1 Frontispício da Théorie Analytique de la Chaleur<br />

O princípio de Fourier é basicamente o seguinte: sendo dado<br />

um sinal (função) periódico representá-lo como série de<br />

senos e co-senos. Obviamente que se o sinal já for um seno<br />

ou co-seno nada mais haverá para dizer (eventualmente, um<br />

termo médio não-nulo); mas o nosso intuito é o de extrair<br />

informação de onde a haja, i.e., de funções não-sinusoidais.<br />

Aos vários termos da série de Fourier, cada um deles de<br />

argumento múltiplo inteiro do período da função original,<br />

dá-se-lhes o nome de harmónicos, sendo a ordem destes<br />

precisamente o valor desse múltiplo.<br />

2. Harmónicos em sistemas eléctricos<br />

Um sistema é dito linear quando é possível descrevê-lo<br />

mediante um conjunto de equações diferenciais lineares de<br />

coeficientesconstantes.<br />

Isso significa que num sistema eléctrico linear, alimentado<br />

com tensões sinusoidais, as correntes dos diversos ramos<br />

serão igualmente sinusóides da mesma frequência (regime<br />

permanente).<br />

Caso tal não suceda, as correntes virão distorcidas e, assim,<br />

também as tensões de alimentação se desviarão da forma<br />

sinusoidal desejada, uma vez que a rede sempre comportará<br />

uma impedância não desprezável.<br />

De um modo geral estes harmónicos serão de ordem<br />

superior, múltiplos inteiros da frequência fundamental, mas,<br />

devido às características especiais dos sistemas não-lineares,<br />

em especial para cargas assimétricas e variáveis no tempo,<br />

poderão surgir outros harmónicos não-característicos, interharmónicos,sub-harmónicosemesmo<br />

um espectro contínuo.<br />

11


20<br />

10<br />

0<br />

-10<br />

-20<br />

0. 005 0.01 0.015 0.02 0.025<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

- 10<br />

- 15<br />

- 20<br />

0 .002 0 .00 4 0.0 06 0.0 08 0 .01 0 .01 2 0.0 14 0 .0 16 0 .01 8 0.02<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

-10<br />

-20<br />

-30<br />

0.005 0.01 0.01 5 0.02 0. 025<br />

ARTIGO TÉCNICO<br />

No início dos anos 70 sobrevieram dois acontecimentos que<br />

concorreram para a constante preocupação que desde então<br />

o conteúdo harmónico das redes eléctricas tem suscitado<br />

entre a comunidade electrotécnica - o embargo petrolífero,<br />

que teve como consequência a busca da eficiência<br />

energética, e o domínio da técnica de controle de velocidade<br />

de motores com dispositivos do estado sólido.<br />

A proliferação de cargas não-lineares, que desde então se<br />

tem verificado, tem conduzido ao aumento do conteúdo<br />

harmónico existente e consequentemente ao agravamento<br />

das perturbações da rede eléctrica.<br />

3. Cargas responsáveis pela geração de harmónicos<br />

Dentre as cargas geradoras de perturbação harmónica<br />

contam-se:<br />

De um modo geral os equipamentos geradores de<br />

harmónicos, quando considerados individualmente,<br />

provocam distorção em escala reduzida, exceptuando certas<br />

grandes cargas não-lineares como fornos a arco,<br />

cicloconversores, sistemas electrónicos de grande potência<br />

com regulação de fase, rectificadores não-controlados com<br />

condensadores de filtragem (smoothing): é a extensão do<br />

seu número que causa sérios problemas.<br />

E<br />

Tensão da fonte<br />

Z<br />

U<br />

U = E − ZI<br />

I<br />

Carga nao-poluente/ ɶ<br />

carga sensível<br />

Carga não-linear<br />

1. sistemas de rectificação na indústria, transportes,<br />

transporte de energia e equipamento electrodoméstico;<br />

2. compensadores estáticos;<br />

3. fornos a arco de CA e CC;<br />

4. cicloconversores;<br />

5. inversores;<br />

6. iluminação com lâmpadas de descarga, por ex.<br />

fluorescentes, vapor de sódio, vapor de mercúrio, com<br />

halogéneos metálicos, etc;<br />

7. variadores de velocidade em motores de CC e CA;<br />

8. fontes comutadas (switch mode power supplies);<br />

9. fontes ininterruptíveis (uninterruptible power supplies);<br />

10. balastros electrónicos e de núcleo de ferro (saturados);<br />

11. equipamento electrónico de controle de processos,<br />

controladores lógicos programáveis (PLCs),etc;<br />

12. computadores pessoais, impressoras, etc;<br />

13. variadores de luminosidade (dimmers);<br />

14. equipamento de aquecimento por indução;<br />

15. equipamento eléctrico de soldadura;<br />

16. funcionamento de transformadores nos limites da<br />

saturação;<br />

17. geradores;<br />

18. motores de indução com rotor em gaiola; Etc.<br />

Fig. 2 Acção das cargas poluidoras sobre a qualidade da tensão<br />

De um modo geral os equipamentos geradores de<br />

harmónicos, quando considerados individualmente,<br />

provocam distorção em escala reduzida, exceptuando certas<br />

grandes cargas não-lineares como fornos a arco,<br />

cicloconversores, sistemas electrónicos de grande potência<br />

com regulação de fase, rectificadores não-controlados com<br />

condensadores de filtragem (smoothing): é a extensão do<br />

seu número que causa sérios problemas.<br />

Estas fontes de distorção, de acordo com o impacto dos seus<br />

efeitos, podem ser definidas como fontes identificadas,<br />

grandes cargas não-lineares, e fontes não-identificadas,<br />

pequenas cargas dispersas mas numerosas.<br />

4. Efeitos dos harmónicos em redes eléctricas<br />

Os efeitos negativos da ocorrência dos harmónicos podem<br />

ser integrados em duas categorias:<br />

- Efeitos instantâneos<br />

- Efeitos de longa duração<br />

12


ARTIGO TÉCNICO<br />

4.1.Efeitos instantâneos<br />

Estes efeitos estão associados a falhas, mau funcionamento<br />

ou degradação do desempenho dos equipamentos ou<br />

dispositivos devido à perda de sincronismo por alteração da<br />

passagem por zero da onda de tensão. Os aparelhos de<br />

regulação, equipamento electrónico e computadores sãolhes<br />

particularmente sensíveis.<br />

Elevadas amplitudes dos harmónicos com frequências<br />

próximas da frequência de controle podem perturbar o<br />

funcionamento de relés detectores de picos usados em<br />

grandes redes de energia para controle centralizado.<br />

4.2.Efeitos de longa duração<br />

Estes efeitos são sobretudo de natureza térmica e estão<br />

ligados, pelas perdas adicionais e sobreaquecimento, ao<br />

envelhecimento prematuro e mesmo avaria de<br />

condensadores,máquinas rotativas e transformadores.<br />

Sir William Thomson, Lorde Kelvin, dizia que se começava a<br />

saber alguma coisa de um assunto quando se era capaz de<br />

descrevê-lo através de números. Observação muito judiciosa<br />

pois que sabendo-se dos problemas causados pelos<br />

harmónicos a sua quantificação encontra-se longe de estar<br />

feita. Daí que, para certos equipamentos, apenas se poderá<br />

dar uma informação qualitativa.<br />

Assim:<br />

1. Variadores de velocidade<br />

Estes equipamentos são sempre geradores de harmónicos<br />

mas igualmente sujeitos aos seus efeitos: múltipla detecção<br />

de cruzamento por zero, elevados valores de dv/dt, etc.<br />

2. Condensadores<br />

Estes aparelhos não são geradores de harmónicos mas<br />

podem constituir malhas para circuitos de ressonância o que<br />

pode ser um problema grave para a integridade da rede. A<br />

sua inserção deve pois merecer atenção e estudo cuidados.<br />

Os condensadores por possuírem impedância inversamente<br />

proporcional à frequência são amplificadores de distorção<br />

harmónica de corrente. Os harmónicos provocam aumento<br />

da dissipação térmica e podem levar à deterioração do<br />

dieléctrico. De um modo geral, os condensadores estão<br />

habilitados para suportar sobretensões de exploração de<br />

longa duração de 10%, sobretensões de curta duração de<br />

20% e sobreintensidades devidas aos harmónicos de 30%. As<br />

normas internacionais da CEI/IEC e da ANSI/IEEE especificam<br />

as características destes dispositivos, medidas de instalação,<br />

filtragem anti-ressonante e outras acções a tomar para o seu<br />

uso correcto.<br />

3. Disjuntores e fusíveis<br />

Os harmónicos podem prejudicar a capacidade de<br />

interrupção para o caso dos disjuntores mercê de elevados<br />

di/dt no cruzamento por zero. A produção suplementar de<br />

calor nos solenoides dos relés magnéticos em disjuntores<br />

magnetotérmicos, devida às frequências elevadas, podem<br />

reduzir até 20% o limiar de disparo destes aparelhos.<br />

Relativamente aos fusíveis, pela razão térmica do seu<br />

princípio de funcionamento, parecem não ser afectados pela<br />

distorção harmónica.<br />

4. Condutores<br />

Os harmónicos de corrente provocam sobreaquecimento<br />

além do esperado pelo valor eficaz da corrente<br />

essencialmente por duas ordens de razão: uma devido ao<br />

efeito pelicular e ao efeito de proximidade, por um lado e,<br />

por outro, em redes com neutro distribuído a produção de<br />

harmónicos múltiplos de três, por se encontrarem em fase -<br />

são de sequência homopolar (sequência zero), somam-se em<br />

vez de se anularem dando origem a correntes elevadas no<br />

condutor neutro. Valores estes que podem atingir até 1,7<br />

vezes, mesmo mais, dependendo do valor dos harmónicos, a<br />

corrente eficaz das fases. Geralmente estas instalações têm<br />

o neutro reduzido o que implica uma dupla preocupação: o<br />

sobreaquecimento do condutor e a elevada queda de tensão<br />

nele produzida, questão preocupante se o sistema de<br />

protecção de pessoas escolhido for o TN-C, terra pelo<br />

neutro, condutores neutro e protecção comuns. Nesta<br />

situação, o sistema TN-C é altamente desaconselhável.<br />

A duplicação da sua secção relativamente à das fases,<br />

13


ARTIGO TÉCNICO<br />

pressupondo o mesmo modo de instalação, é uma medida<br />

para obstar o problema do aquecimento excessivo<br />

5. Equipamentos e instrumentos electrónicos<br />

A detecção múltipla de passagem por zero, para sistemas<br />

que usam a passagem por zero como medida do tempo,<br />

pode provocar funcionamento desajustado dos sistemas. Em<br />

particular, todos os dispositivos que sincronizam com a<br />

passagem por zero são considerados vulneráveis à distorção<br />

harmónica. Semicondutores comutados à passagem por zero<br />

da tensão, para reduzir a interferência electromagnética, são<br />

também sensíveis à múltipla detecção e sujeitos a mau<br />

funcionamento. Equipamento electrónico, como fontes de<br />

tensão, que usam o pico da tensão de entrada para carregar<br />

condensadores e estabilizar o seu valor de saída,<br />

dependendo do conteúdo harmónico da mesma, podem<br />

encontrar-se a operar acima ou abaixo do valor de entrada<br />

embora possa manter-se o valor eficaz nominal da tensão na<br />

mesma. Certos fabricantes especificam valores máximos<br />

para o factor de crista (entendido como o quociente entre o<br />

valor de pico do sinal e o seu valor eficaz, o que para<br />

sinusóides vale 2) de, por exemplo, 2 ± 0, 1 .<br />

Outro problema é a quebra de tensão (voltage notch)<br />

produzida pela comutação de semicondutores em<br />

conversores (quebra de comutação). Estas quedas são<br />

expressas através da taxa dv/dt. Podem produzir mau<br />

funcionamento dos equipamentos e se cruzarem o zero<br />

interferem com os sistemas de detecção de zero como<br />

explicado antes. Harmónicos fraccionários, isto é,<br />

harmónicos cuja ordem não é um número inteiro, e subharmónicos<br />

podem afectar televisores e monitores de vídeo.<br />

Tão-somente 0,5% de um harmónico fraccionário, amplitude<br />

referida à fundamental, produz modulação de amplitude do<br />

sinal fundamental responsável pelo alargamento e<br />

contracção periódicos da imagem num TRC (tubo de raios<br />

catódicos).<br />

6. Iluminação<br />

Redução da vida útil das lâmpadas incandescentes uma vez<br />

que são sensíveis à sobretensão aplicada. Estudos referem<br />

queuma sobretensão,devidaa harmónicos,de valor eficaz 5%<br />

continuamente aplicada reduz o tempo médio de vida das<br />

lâmpadas de 47%. Relativamente às lâmpadas de descarga<br />

referem-se o ruído audível e possíveis ressonâncias<br />

envolvendo as lâmpadas, balastros e condensadores usados<br />

na rectificação do factor de potência.<br />

7. Aparelhagem de medida e contadores<br />

Amperímetros e voltímetros que baseiam o seu<br />

funcionamento nos valores eficazes das grandezas a medir<br />

são relativamente imunes à distorção da forma de onda dos<br />

sinais. Pelo contrário, os medidores sensíveis ao valor médio<br />

absoluto ou ao valor de pico e calibrados para indicar<br />

valores eficazes não devem ser empregados na presença de<br />

distorção harmónica. Erros podem atingir valores de 13% e<br />

mais. Os contadores de energia de indução, os mais<br />

frequentes, sob condições de tensão e corrente distorcidas<br />

podem apresentar erros de até –20%, subcontagem, e com<br />

tensão sinusoidal e corrente distorcida de até +5%,<br />

sobrecontagem. Este tipo de contadores não são<br />

apropriados para instalações com forte distorção de tensão e<br />

corrente devido quer aos erros de contagem quer às<br />

possíveis ressonâncias mecânicas na gama dos 400 a 1000<br />

Hz. Os contadores electrónicos têm normalmente<br />

desempenho excelente em redes poluídas.<br />

8. Relés de protecção<br />

As distorções nas formas de onda afectam o desempenho<br />

dos relés, podem causar mau funcionamento ou impedi-los<br />

de funcionar quando devido. Variando o ângulo de fase<br />

entre as componentes fundamental e harmónicas da tensão<br />

ou corrente pode significativamente alterar a característica<br />

de resposta dos relés.<br />

9. Máquinas rotativas<br />

Os harmónicos aplicados a máquinas rotativas podem causar<br />

aquecimento, vibrações, binários pulsantes ou ruído. O<br />

sobreaquecimento rotórico é o principal problema associado<br />

à distorção da tensão. As perdas nas máquinas eléctricas<br />

dependem do espectro da tensão de alimentação. As perdas<br />

no núcleo podem tornar-se significativas para motores de<br />

indução alimentados por inversores que produzem<br />

14


ARTIGO TÉCNICO<br />

harmónicos de frequências elevadas. O aumento da<br />

temperatura de funcionamento dos motores reduzirá o<br />

tempo de vida médio dos mesmos. Neste âmbito, os<br />

motores monofásicos são os mais afectados. A interacção<br />

entre o fluxo principal do entreferro, maioritariamente de<br />

componente fundamental, com os fluxos produzidos pelas<br />

correntes harmónicas darão lugar ao aparecimento de<br />

binários pulsantes. No caso de motores com controle de<br />

velocidade deverá ser feita uma análise de possíveis<br />

ocorrências de fenómenos de ressonância mecânica, no<br />

sentido de precaver avarias, por efeito de amplificação dos<br />

binários pulsantes. Os harmónicos também contribuem para<br />

a geração de ruído audível.<br />

10. Telecomunicações<br />

A proximidade de linhas de energia e de telecomunicações<br />

cria condições para interferências com estes sistemas,<br />

interferências motivadas pela irradiação de campos<br />

electromagnéticos gerados pelos harmónicos das redes de<br />

potência. A frequência fundamental, para redes telefónicas,<br />

normalmente não é causadora de problemas, como<br />

resultado da resposta em frequência do ouvido humano. A<br />

indução pelos harmónicos de ruído nos canais de dados<br />

pode adulterar a informação transmitida. Existem vários<br />

mecanismos pelos quais se pode gerar acoplamento entre as<br />

redes de energia e de telecomunicações. Medidas para<br />

atenuar os seus efeitos consistem na transposição das linhas<br />

de energia (para redes aéreas), escolha de cabos com<br />

blindagens electromagnéticas, de pares trançados, realização<br />

de terras adequadas para os sistemas de energia, evitando<br />

assim a propagação de potenciais, e, naturalmente, a<br />

utilização de filtros adequados.<br />

11. Transformadores<br />

O primeiro efeito dos harmónicos nos transformadores é o<br />

aquecimento adicional gerado por efeito das correntes de<br />

Foucault induzidas no núcleo destas máquinas. Outros<br />

problemas incluem eventual ressonância entre a indutância<br />

do transformador e capacidades do sistema, tensões<br />

mecânicas nos isolamento dos enrolamentos e do núcleo por<br />

efeito das variações de temperatura e eventuais pequenas<br />

vibrações do núcleo laminado. O sobreaquecimento causado<br />

pela presença dos harmónicos, correntes de remoinho ou de<br />

Foucault, sendo proporcionais ao quadrado da frequência,<br />

obrigam à redução da potência estipulada (potência<br />

nominal) dos transformadores. A norma IEEE/ANSI Standard<br />

C57.110, “IEEE Recommended Practice for Establishing<br />

Transformer Capability when Supplying Nonsinusoidal Load<br />

Currents“, estipula como máxima distorção à plena carga o<br />

valor de 5%. Contempla ainda formas para determinar o<br />

abaixamento da potência por efeito da presença dos<br />

harmónicos. Para tal é definido um factor K dependendo da<br />

ordem do harmónico e do valor da corrente harmónica. As<br />

normas contemplam ainda a máxima sobretensão (valor<br />

eficaz) permitida sendo de 5% à plena carga e de 10% para<br />

funcionamento em vazio (de referir que as correntes de<br />

Foucault são proporcionais ao quadrado da indução máxima<br />

e, como tal, proporcionais ao quadrado do valor máximo da<br />

tensão aplicada). Por outro lado para transformadores com<br />

secundários ligados em triângulo, as correntes de frequência<br />

múltipla de três, por serem de natureza homopolar,<br />

podendo circular nestes enrolamentos, não se transmitem<br />

para o primário o que pode dar indicação errónea da carga<br />

do transformador para medições efectuadas nos condutores<br />

destes enrolamentos.<br />

15


ARTIGO TÉCNICO<br />

5. Características das grandezas não-sinusoidais<br />

5.2 Taxa de distorção<br />

De acordo com a decomposição de Fourier qualquer<br />

grandeza periódica não-sinusoidal pode ser representada<br />

por uma série infinita de termos composta de:<br />

1. uma sinusóide de frequência fundamental<br />

2. sinusóides cujas frequências são múltiplas da frequência<br />

fundamental - harmónicos<br />

3. eventualmente de um termo constante - componente<br />

contínua<br />

De acordo com a definição da CEI, a taxa total de<br />

harmónicos, ou factor de distorção, representa a razão entre<br />

o valor eficaz dos harmónicos, n ≥ 2, e o valor eficaz da<br />

grandeza alternada.<br />

THD%<br />

= 100<br />

∞<br />

∑Y<br />

n=<br />

2<br />

∞<br />

∑Y<br />

n=<br />

1<br />

2<br />

n<br />

2<br />

n<br />

eq. 4<br />

A expressão que discrimina a série de Fourier de uma<br />

grandeza y(t) vem dada por:<br />

y<br />

ϕ<br />

( t) + sen( nωt<br />

− )<br />

Y<br />

= ∑ ∞ 2<br />

0<br />

n=1<br />

Y<br />

n<br />

n<br />

eq. 1<br />

ou como<br />

THD% 100<br />

Y −<br />

=<br />

Y<br />

Y<br />

2 2<br />

1<br />

eq. 5<br />

em que:<br />

Y 0 - é o valor da componente contínua, normalmente nula<br />

Y n - o valor eficaz do harmónico de ordem n<br />

ω - a velocidade angular da frequência fundamental<br />

ϕn - o esfasamento inicial do harmónico de ordem n<br />

A CIGRÉ, por outro lado, define a taxa global de distorção<br />

como sendo:<br />

D%<br />

= 100<br />

∑ ∞<br />

n=<br />

2<br />

Y<br />

Y<br />

1<br />

2<br />

n<br />

eq. 6<br />

5.1 Valor eficaz de uma grandeza não-sinusoidal<br />

5.3 Taxa individual harmónica<br />

O valor eficaz (valor médio quadrático) de uma grandeza de<br />

forma de onda qualquer é obtido a partir da expressão geral<br />

de definição<br />

Y<br />

ef<br />

1<br />

=<br />

T<br />

T<br />

∫ y<br />

0<br />

2<br />

( t)dt<br />

eq. 2<br />

Em função dos valores eficazes dos harmónicos, a expressão<br />

virá dada por:<br />

Este parâmetro representa a razão entre o valor eficaz de um<br />

harmónico de ordem n e o valor eficaz da grandeza<br />

alternada, segundo a CEI<br />

Hn%<br />

= 100<br />

Y<br />

∑ ∞<br />

n=<br />

1<br />

n<br />

Y<br />

2<br />

n<br />

eq. 7<br />

ou entre o valor eficaz do termo fundamental, segundo a<br />

CIGRÉ<br />

∑ ∞<br />

n=<br />

1<br />

2<br />

Y =<br />

ef Y n<br />

eq. 3<br />

Hn% = 100<br />

Y n<br />

Y<br />

1<br />

eq. 8<br />

16


ARTIGO TÉCNICO<br />

6. Recomendações e normalização<br />

Os problemas potenciais levantados pela existência de<br />

harmónicos nas redes eléctricas levaram as organizações de<br />

normalização a estudar meios de prover especificações que<br />

servissem os utilizadores e engenheiros aquando da<br />

instalação de equipamentos de conversão, rectificação e<br />

outros em redes que continham condensadores.<br />

No âmbito da Comunidade Europeia, no sentido da<br />

harmonização da legislação, sem a qual ficaria afectada a<br />

livre troca de bens e serviços, várias directivas foram<br />

publicadas tendentes a eliminar as diferenças na legislação<br />

desses Estados.<br />

Uma dessas directivas é a nº 85/374 sobre responsabilidade<br />

por produtos defeituosos.<br />

O seu Artº 2º define electricidade como produto e como tal<br />

tornou-se necessário definir as suas características. Daqui<br />

resultou a norma europeia NE/EN 50 160 - Características da<br />

Tensão Fornecida pelas Redes Públicas de Distribuição.<br />

A EN 50 160 CÉNÉLEC (NP EN 50 160) - define, no ponto de<br />

fornecimento ao consumidor, as características principais da<br />

tensão para as redes públicas de abastecimento de energia<br />

em Baixa Tensão e Média Tensão tais como:<br />

- frequência<br />

- amplitude<br />

- forma de onda<br />

- cavas de tensão<br />

- sobretensões<br />

- tensões harmónicas<br />

- tensões inter-harmónicas<br />

- simetria das tensões trifásicas<br />

- transmissão de sinais de informação pelas redes de<br />

energia<br />

O âmbito desta norma não é a compatibilidade<br />

electromagnética mas sim a definição de um produto - as<br />

características da tensão, especificando os seus valores<br />

máximos ou variações que, sob condições normais de<br />

exploração, os consumidores esperarão encontrar em<br />

qualquer ponto da rede.<br />

Para as redes de Baixa Tensão, relativamente às tensões<br />

harmónicas, nas condições normais de exploração, durante<br />

cada período de uma semana, 95% dos valores eficazes de<br />

cada tensão harmónica, valores médios em cada 10<br />

minutos, não devem ultrapassar os valores indicados na<br />

tabela abaixo.<br />

Harmónicos ímpares<br />

Não múltiplos de 3 Múltiplos de 3<br />

Harmónicos pares<br />

Ordem n Tensão relativa % Ordem n Tensão relativa % Ordem n Tensão relativa %<br />

5<br />

6,0<br />

3<br />

5,0<br />

2<br />

2,0<br />

7<br />

5,0<br />

9<br />

1,5<br />

4<br />

1,0<br />

11<br />

3,5<br />

15<br />

0,5<br />

6 - 24<br />

0,5<br />

13<br />

3,0<br />

21<br />

0,5<br />

17<br />

2,0<br />

19<br />

1,5<br />

23<br />

1,5<br />

25<br />

1,5<br />

Nota: Os valores correspondentes aos harmónicos de ordem superior a 25 por serem geralmente fracos e muito imprevisíveis pelo facto dos<br />

efeitos da ressonância, não são indicados nesta tabela<br />

Tab. 1 Valores das tensões harmónicas nos pontos de fornecimento até à ordem 25 expressas em percentagem da tensão nominal U N<br />

17


ARTIGO TÉCNICO<br />

Além disso, a taxa total de distorção harmónica da tensão<br />

fornecida (até à ordem 40) não deverá ultrapassar 8%.<br />

O limite à ordem 40 considerado na norma é convencional.<br />

Para as redes de Média Tensão aplica-se a mesma tabela,<br />

com os valores relativos referidos à tensão nominal UC e<br />

com a observação de que o valor do harmónico de ordem 3,<br />

dependendo da concepção da rede, pode ser muito mais<br />

baixo. Tensões mais elevadas para uma dada ordem poderão<br />

dever-se a efeitos de ressonância.<br />

De igual modo, a taxa total de distorção harmónica, até à<br />

ordem 40, está limitada a 8%.<br />

A CEI/IEC 61 000 – a série 61 000 de normas CEI diz respeito<br />

à compatibilidade electromagnética e compreende as<br />

seguintes partes:<br />

1. Generalidades. Considerações gerais, definições,<br />

terminologia, etc: 61000-1-x<br />

2. Ambiente. Descrição do ambiente. Características do<br />

ambiente onde vai ser instalado o equipamento. Níveis<br />

de compatibilidade: 61 000-2-x<br />

3. Limites. Limites de emissão definindo os níveis de<br />

perturbação permitidos pelos equipamentos ligados à<br />

rede de energia eléctrica. Limites de imunidade: 61000-<br />

3-x<br />

4. Ensaios e medidas. Técnicas de medida e técnicas de<br />

ensaio de modo a assegurar a conformidade com as<br />

outras partes da norma: 61000-4-x<br />

5. Guias de instalação e de atenuação. Provê guias na<br />

aplicação de equipamento tal como filtros, equipamento<br />

de compensação, descarregadores de sobretensões, etc.,<br />

para resolver problemas de qualidade da energia: 61000-<br />

5-x<br />

6. Normas gerais e de produto. Definem os níveis de<br />

imunidade requeridos pelo equipamento em geral ou<br />

para tipos específicos de equipamento: 61000-6-x<br />

internacional CEI/IEC60050(161) VEI, quando aplicável:<br />

• Nível de Emissão - máximo nível permitido para um<br />

consumidor de uma rede pública ou para um aparelho<br />

(equipamento)<br />

• Nível de Compatibilidade - nível máximo especificado de<br />

perturbação que se pode esperar num dado ambiente<br />

• Nível de Imunidade - nível de perturbação suportado<br />

por um aparelho ou sistema<br />

• Nível de Susceptibilidade - nível a partir do qual um<br />

aparelho ou sistema começa a funcionar<br />

deficientemente.<br />

Nível de perturbação (não definido no VEI)<br />

Nível de de Susceptibilidade<br />

Nível de Imunidade<br />

Nível de Imunidade<br />

Nível de de Compatibilidade<br />

Nível de Emissão<br />

Nível de Emissão<br />

0<br />

Fig. 3 Os vários níveis de perturbação para compatibilidade cargas<br />

não-lineares/equipamento sensível<br />

Os níveis de compatibilidade electromagnética são definidos<br />

como segue de acordo o vocabulário electrotécnico<br />

18


ARTIGO TÉCNICO<br />

A norma CEI 61000-2-2 define os níveis de compatibilidade<br />

para as tensões harmónicas em BT de acordo com a tabela 2.<br />

Por sua vez a norma CEI 61000-2-4 estabelece os níveis de<br />

compatibilidade para redes industriais. Em termos dos<br />

ambientes electromagnéticos possíveis são definidas três<br />

classes com exigências de compatibilidade diferentes.<br />

Classe 1<br />

Aplica-se a redes protegidas e tem níveis de compatibilidade<br />

mais baixos que os das redes públicas. Diz respeito à<br />

utilização de aparelhos muito sensíveis às perturbações da<br />

rede eléctrica, por ex. instrumentação de laboratórios<br />

tecnológicos, certos equipamentos de automatização e de<br />

protecção,certos computadores, etc.<br />

Classe 2<br />

Esta classe aplica-se aos PAC , ponto de acoplamento comum<br />

(à rede pública), VEI 161-07-15, e aos pontos de ligação<br />

interna no ambiente industrial em geral. Os níveis de<br />

compatibilidade desta classe são idênticos aos das redes<br />

públicas, pelo que os equipamentos destinados à utilização<br />

nestas redes podem ser usados nesta classe de ambiente<br />

industrial.<br />

Classe 3<br />

Esta classe aplica-se somente aos pontos de ligação interna<br />

dos ambientes industriais. Os níveis de compatibilidade são<br />

superiores aos da classe 2 para certas perturbações. Por ex.,<br />

esta classe deve ser considerada quando uma das seguintes<br />

condições é satisfeita:<br />

• a maior parte das cargas são alimentadas através de<br />

conversores<br />

• existem máquinas de soldar<br />

• frequentes arranques de motores de grande potência<br />

• as cargas variam rapidamente<br />

Harmónicos ímpares não múltiplos de 3 Harmónicos ímpares múltiplos de 3 Harmónicos pares<br />

Ordem do<br />

Tensão harmónica<br />

Ordem do<br />

Tensão harmónica<br />

Ordem do<br />

Tensão harmónica<br />

harmónico<br />

%<br />

harmónico<br />

%<br />

harmónico<br />

%<br />

n<br />

n<br />

n<br />

5<br />

6<br />

3<br />

5<br />

2<br />

2<br />

7<br />

5<br />

9<br />

1,5<br />

4<br />

1<br />

11<br />

3,5<br />

15<br />

0,3<br />

6<br />

0,5<br />

13<br />

3<br />

21<br />

0,2<br />

8<br />

0,5<br />

17<br />

2<br />

>21<br />

0,2<br />

10<br />

0,5<br />

19<br />

1,5<br />

12<br />

0,2<br />

23<br />

1,5<br />

>12<br />

0,2<br />

25<br />

1,5<br />

>25<br />

0,2 + 0,5 x 25/n<br />

Tab. 2 Níveis de compatibilidade para as tensões harmónicas individuais em redes públicas de BT<br />

Distorção harmónica total<br />

Classe 1 Classe 2 Classe 3<br />

5% 8% 10%<br />

Tab. 3 Níveis de compatibilidade para harmónicos<br />

19


ARTIGO TÉCNICO<br />

Ordem<br />

n<br />

Classe 1<br />

Tensão harmónica %<br />

Classe 2<br />

Tensão harmónica %<br />

Classe 3<br />

Tensão harmónica %<br />

5 3 6 8<br />

7 3 5 7<br />

11 3 3,5 5<br />

13 3 3 4,5<br />

17 2 2 4<br />

19 1,5 1,5 4<br />

23 1,5 1,5 3,5<br />

25 1,5 1,5 3,5<br />

>25 0,2 + 12,5/n 0,2 + 12,5/n 5x<br />

Tab. 4 Componentes da tensão harmónica, ímpares, não múltiplos de três<br />

Ordem<br />

n<br />

Classe 1<br />

Tensão harmónica %<br />

Classe 2<br />

Tensão harmónica %<br />

Classe 3<br />

Tensão harmónica %<br />

3 3 5 6<br />

9 1,5 1,5 2,5<br />

15 0,3 0,3 2<br />

21 0,2 0,2 1,75<br />

>21 0,2 0,2 1<br />

Tab. 5 Componentes da tensão harmónica, ímpares, múltiplos de três<br />

Ordem<br />

n<br />

Classe 1<br />

Tensão harmónica %<br />

Classe 2<br />

Tensão harmónica %<br />

Classe 3<br />

Tensão harmónica %<br />

2 2 2 3<br />

4 1 1 1,5<br />

6 0,5 0,5 1<br />

8 0,5 0,5 1<br />

10 0,5 0,5 1<br />

>10 0,2 0,2 1<br />

Tab. 6 Componentes da tensão harmónica, ordem par<br />

Ordem<br />

Classe 1<br />

Classe 2<br />

Classe 3<br />

n<br />

Tensão inter- harmónica %<br />

Tensão inter-harmónica %<br />

Tensão inter-harmónica %<br />

25 0,2 0,2 1<br />

Tab. 7 Componentes da tensão inter-harmónica<br />

20


ARTIGO TÉCNICO<br />

7. Observações finais<br />

Como se pode verificar pela análise dos valores das tensões<br />

harmónicas dados pelas tabelas, os limites máximos<br />

individuais e taxa total de distorção impostos pela norma<br />

europeia NE/EN 50 160 coincidem com os valores das<br />

normas CEI/IEC 61000-2-2 e 61000-2-4, classe 2 de<br />

ambientes industriais.<br />

De modo a assegurar que estes níveis de distorção não sejam<br />

atingidos, têm de ser fixados limites para as perturbações<br />

emitidas (níveis de emissão) pelos aparelhos e<br />

equipamentos considerados quer individualmente quer<br />

como conjunto de cargas ligadas à rede no ponto de<br />

acoplamento comum.<br />

Assim a norma CEI/IEC 61000-3-2 especifica os limites para<br />

as emissões de corrente harmónica para aparelhos com<br />

corrente estipulada (corrente nominal) por fase até 16A e a<br />

norma 61000-3-4 fixa os limites para emissão de correntes<br />

harmónicas para aparelhos com corrente estipulada<br />

(corrente nominal) por fase superior a 16A, em baixa tensão.<br />

21


DIVULGAÇÃO<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Departamento de Engenharia Electrotécnica<br />

Laboratório de Instalações Eléctricas<br />

O laboratório de Instalações eléctricas do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do<br />

Porto, enquadra as valências de Instalações Eléctricas,Telecomunicações,Domótica e Sistemas Automáticos de Segurança.<br />

Apoia a leccionação de diversas unidades curriculares do curso de Licenciatura em Engenharia Electrotécnica - Sistemas<br />

Eléctricos de Energia - Bolonha, da Pós-Graduação em Infra-Estruturas de Telecomunicações, Segurança e Domótica e da Pós-<br />

Graduação em Eficiência Energética e Utilização Racional de Energia Eléctrica.<br />

Está equipado com diversas bancadas de testes e ensaios e equipamentos modulares nas áreas técnicas anteriormente<br />

referidas.<br />

Possui diversos equipamentos de medição essenciais à execução de certificações ITED, equipamentos no âmbito da<br />

certificação, exploração e manutenção das instalações eléctricas e equipamentos no âmbito da realização de auditorias<br />

energéticas e da monitorização da qualidade de serviço.<br />

22


ARTIGO TÉCNICO<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva, António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

Projecto de Instalações Eléctricas<br />

Secção Técnica Vs Secção Económica de Canalizações Eléctricas<br />

1. Introdução<br />

O projecto das instalações eléctricas deve responder a<br />

critérios de ordem técnica, nomeadamente no que se refere<br />

à garantia da protecção das pessoas e instalações, mas<br />

contrapõem-se necessariamente os aspectos de ordem<br />

económica; resultará do compromisso entre estas duas<br />

posições contrastantes a definição daquela que será a<br />

solução mais acertada para uma dada instalação.<br />

No capítulo dos custos associados a uma instalação eléctrica<br />

tem um peso crucial a energia desperdiçada durante o<br />

funcionamento da mesma, duração esta que pode em média<br />

considerar-se compreendida entre 20 e 30 anos.<br />

Este desperdício tem duas origens: perdas excessivas por<br />

ineficiente concepção das instalações e selecção não<br />

criteriosa de equipamentos que utilizam a energia eléctrica e<br />

malbaratamento da energia eléctrica por funcionamento<br />

além do necessário.<br />

A abordagem dum projecto eléctrico eficiente sob o ponto<br />

de vista energético deverá contemplar os seguintes pontos:<br />

a) Minimização de perdas no sistema de distribuição<br />

b) Redução das perdas devido ao desperdício na utilização<br />

do equipamento eléctrico<br />

c) Redução das perdas associadas aos problemas<br />

associados à qualidade da energia<br />

d) Prever as instalações para incorporarem aparelhagem de<br />

contagem e medida para fins de monitorização e de<br />

realização de auditorias eléctricas<br />

2. A Secção Técnica dos Condutores<br />

A definição técnica de canalizações em instalações de<br />

utilização de energia eléctrica, deve ser realizada de acordo<br />

com o definido nas Regras Técnicas de Instalações Eléctricas<br />

de Baixa Tensão, e assenta na verificação das seguintes<br />

condições:<br />

- Critério do Aquecimento;<br />

- Critério da protecção contra sobreintensidades<br />

Põe-se, portanto, também neste domínio a questão da<br />

eficiência energética.<br />

3. A Secção Económica dos Condutores Calculada a Partir<br />

da Norma CEI/IEC60287-3-2<br />

Assim, o responsável pela concepção de uma instalação<br />

eléctrica deverá procurar não somente a solução técnica<br />

funcional da mesma mas preocupar-se que essa solução seja<br />

igualmente eficiente do ponto de vista energético.<br />

Os métodos de cálculo económico dos condutores levam em<br />

linha de conta não somente o custo inicial dos mesmos e da<br />

sua instalação mas também os custos associados à<br />

exploração, isto é, os custos das perdas por efeito Joule.<br />

23


ARTIGO TÉCNICO<br />

A norma CEI/IEC 60 287-3-2 – Electric cables – Calculation of<br />

the current rating –Economic optimization of power cable<br />

size (CEI, 1995) apresenta duas metodologias de cálculo –<br />

uma baseada na determinação de gamas económicas de<br />

corrente, para diferentes cabos empregados, e uma outra,<br />

conhecida a corrente de projecto, que determina a secção<br />

que minimiza a função custo total.<br />

CT = CI + CE (1)<br />

A norma considera uma temperatura média igual a:<br />

θ<br />

m<br />

θ − θa<br />

= + θ<br />

3<br />

Onde:<br />

θ = temperatura correspondente a Iz<br />

θa = temperatura ambiente<br />

T = nº de horas de utilização das perdas<br />

a<br />

(3)<br />

Onde:<br />

CT – custo total<br />

CI – custo de investimento<br />

CE – custo de exploração<br />

Perda de energia no 1º ano:<br />

( I × R × L× N × N ) T<br />

2<br />

max<br />

E = (2)<br />

p<br />

c<br />

O número de horas de utilização das perdas é dado pela<br />

relação:<br />

T<br />

8760 2<br />

0<br />

I ( t)<br />

dt<br />

I<br />

2<br />

m á x<br />

Na Fig. 1 podemos apreciar um diagrama de carga diário, que<br />

traduz a variação da corrente com o tempo.<br />

60<br />

= ∫<br />

(4)<br />

Onde:<br />

Imax – corrente de pico do diagrama<br />

R – resistência CA por unidade de comprimento<br />

L – comprimento da canalização<br />

Np – nº de condutores sob idênticas condições<br />

Nc – nº de circuitos idênticos<br />

T – nº de horas de utilização das perdas<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Figura 1 - Diagrama de carga I(t)<br />

A resistência unitária R é definida através do seu valor em CC<br />

e leva em consideração quer os efeitos pelicular e de<br />

proximidade – y S e y P , quer as perdas em ecrãs metálicos e<br />

armaduras - λ 1 e λ 2 .<br />

A Fig. 2 representa o chamado diagrama normalizado π(t)<br />

que resulta do precedente dividindo-o por I máx . A ordenada<br />

máxima passa a ser obviamente 1.<br />

1,2<br />

Em virtude da variação da corrente, factor de carga≠1, e da<br />

possibilidade de incremento da mesma, a temperatura do<br />

condutor será diferente da correspondente à corrente<br />

máxima admissível θ(θz).<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24<br />

Figura 2 - Diagrama normalizado π(t)<br />

24


ARTIGO TÉCNICO<br />

A Fig. 3 corresponde ao diagrama π 2 (t).<br />

Custo da potência de perdas:<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

CE = ( I × R × L × N × N ) × D<br />

2<br />

P max<br />

p c<br />

(9)<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24<br />

Figura 3 - Diagrama normalizado π 2 (t)<br />

Onde:<br />

CE P = custo de exploração por solicitação de potência<br />

adicional<br />

D = custo anual da potência<br />

Como se trata da elevação ao quadrado de valores quando<br />

muito iguais a 1 virá mais cavado.<br />

T<br />

8760<br />

= ∫<br />

0<br />

2<br />

π ( t)<br />

dt<br />

O nº de horas de utilização das perdas é referido ao período<br />

de 8760 h (1 ano). A estimação deste valor vem<br />

normalmente dada através da fórmula:<br />

(5)<br />

Custos de exploração (1º ano):<br />

CE = ( I × R × L × N × N )( TP + D)<br />

2<br />

max<br />

(10)<br />

Considerando-se os pagamentos feitos no fim do ano, os<br />

custos no iésimo ano virão dados por:<br />

CE = CE[(1 + a) (1 + b)] i−<br />

i<br />

p<br />

2 1<br />

c<br />

(11)<br />

T = µ × 8760<br />

µ = p × f + (1 − p)<br />

× f<br />

c<br />

Onde:<br />

µ = factor de carga das perdas<br />

fc = factor de carga<br />

p = coeficiente<br />

2<br />

c<br />

(6)<br />

(7)<br />

Admitindo-se crescimento percentual anual da carga de a e<br />

dos custos de energia e potência de b.<br />

Há duas abordagens para lidar com pagamentos feitos em<br />

tempos diferentes, o investimento no início da exploração da<br />

instalação e os custos durante o tempo de vida da mesma:<br />

- método das anuidades ;<br />

- método da actualização.<br />

(igual a 0,3 - redes de transporte, e igual a 0,2 - redes de<br />

distribuição (IEEE,1990)<br />

O método da actualização é mais geral e é o usado na norma.<br />

Custo das perdas no 1º ano:<br />

CE = ( I × R × L × N × N ) T × P<br />

2<br />

E max<br />

p c<br />

(8)<br />

2<br />

(1 + a) (1 + b)<br />

r =<br />

(1 + i)<br />

N<br />

1−<br />

r<br />

Q =<br />

1 − r<br />

(12)<br />

(13)<br />

Onde:<br />

Onde:<br />

CE E = custo de exploração por perda de energia no 1º ano<br />

i = taxa de actualização<br />

P = custo do Wh<br />

N = nº de anos de vida média da instalação<br />

25


ARTIGO TÉCNICO<br />

2<br />

Q<br />

CEa = ( Imax<br />

× R × L × Np × Nc<br />

)( TP + D)<br />

×<br />

1 + i<br />

(14)<br />

4. Método de fixação dos valores máximos de perdas<br />

admissíveis nas canalizações<br />

Onde:<br />

CEa = custo de N anos de exploração da instalação, referidos<br />

ao início do empreendimento, isto é, actualizados.<br />

Seja F uma variável auxiliar dada por:<br />

Q<br />

F = Np<br />

× Nc( TP + D)<br />

×<br />

1 + i<br />

A função custo total virá então com a forma:<br />

2<br />

CT = CI + I RLF<br />

máx<br />

Onde:<br />

ρ20 = resistividade do condutor a 20º C em CC<br />

θm = temperatura média<br />

( ) ⎤<br />

ρ20 × B ⎡<br />

⎢1 + α20 θm<br />

− 20 ⎥ 6<br />

R = ⎣<br />

⎦ × 10 Ω/m<br />

S<br />

B = (1 + y + y )(1 + λ + λ )<br />

s<br />

p<br />

1 2<br />

(15)<br />

(16)<br />

(17)<br />

(18)<br />

Este método é preconizado pela Região Administrativa de<br />

Hong-Kong, que através do Departamento Eléctrico e<br />

Mecânico do Governo (EMSD) definiu uma abordagem no<br />

domínio da baixa tensão, até 2008 de carácter voluntário,<br />

mas que a partir de 2009 será integrado na legislação,<br />

tornando-se, por conseguinte de carácter obrigatório (EMSD,<br />

1997).<br />

A metodologia sugerida pelo presente método conduziu a<br />

resultados significativos no que se refere à poupança de<br />

energia eléctrica, comprovados pelo EMSD, no decorrer de<br />

estudos realizados nos últimos 30 anos, junto dos<br />

operadores que voluntariamente adoptaram este<br />

procedimento (EMSD, 1997), (Hui, 2003).<br />

A metodologia consiste em fixar os valores máximos de<br />

perdas admissíveis nas canalizações, ou seja, a de impor<br />

rendimentos mínimos das linhas.<br />

Para além das condições técnicas de temperatura e queda de<br />

tensão a máxima perda de potência passa a ser critério de<br />

dimensionamento.<br />

Admitindo um custo de investimento dado por:<br />

CI = ( A × S + C)<br />

× L<br />

(19)<br />

Consideram-se duas situações:<br />

- circuitos trifásicos lineares equilibrados;<br />

- trifásicos não-lineares.<br />

Onde:<br />

A = termo dependente da secção do cabo<br />

C = termo constante<br />

1º caso - Circuito trifásico linear equilibrado<br />

Potência transportada e perdas nos condutores do circuito:<br />

S<br />

A secção económica virá dada pela fórmula:<br />

ec<br />

F × ρ20 × B ⎡1 α20 ( θm<br />

20)<br />

⎤<br />

⎢ + − ⎥<br />

2<br />

= 1000 × I<br />

⎣<br />

⎦ mm (20)<br />

máx<br />

A<br />

A secção económica será normalizada para o valor comercial<br />

mais próximo.<br />

26<br />

P = 3 × U × I × cosϕ<br />

p = × I × r × L<br />

2<br />

3<br />

b<br />

Onde:<br />

Ib = corrente do circuito<br />

c<br />

b<br />

(21)<br />

(22)


ARTIGO TÉCNICO<br />

L = comprimento dos condutores<br />

r = resistência em CA por metro de canalização à<br />

temperatura de funcionamento<br />

α 0 = coeficiente de termorresistividade a 0ºC<br />

Donde:<br />

O valor percentual p r das perdas vem dado pela relação:<br />

p<br />

r<br />

=<br />

3× I × r × L<br />

2<br />

b<br />

3 × U × I × cosϕ<br />

c<br />

b<br />

(23)<br />

Donde, definido o valor percentual que se admite para as<br />

perdas, se determinará o máximo valor para a resistência r.<br />

R<br />

R<br />

1 + α × θ 234, 4 + θ<br />

= =<br />

1 + α × θ 234, 4 + θ<br />

c 0 c c<br />

z 0 z z<br />

(27)<br />

2º caso - Circuito trifásico não-linear, equilibrado, com<br />

valores conhecidos de corrente Ib e de taxa de distorção<br />

harmónica THD<br />

r<br />

máx<br />

=<br />

p × U × cosϕ<br />

× 1000<br />

r<br />

c<br />

3 × I × L<br />

b<br />

mΩ/m (24)<br />

A potência aparente transportada pelo circuito será dada<br />

por:<br />

Encontrado o valor de r máx , as tabelas fornecerão a secção a<br />

utilizar.<br />

Correcção das perdas nos cabos devido às diferentes<br />

temperaturas de funcionamento.<br />

A temperatura do condutor pode ser aproximada através da<br />

seguinte fórmula:<br />

I<br />

θ = θ + θ − 30<br />

2<br />

2<br />

b<br />

c a z<br />

IzT<br />

( )<br />

(25)<br />

Onde:<br />

θ c = temperatura do condutor<br />

θ a = temperatura ambiente<br />

I zT = corrente máxima admissível no cabo dada pelas tabelas<br />

S = 3 × Uc × Ib<br />

Onde:<br />

I = I = I + I + I<br />

b<br />

THD =<br />

∞<br />

∑<br />

h=<br />

1<br />

2 2 2 2<br />

h 1 2 3<br />

∞<br />

∑<br />

h=<br />

2<br />

I<br />

1<br />

I<br />

2<br />

h<br />

I = I + THD<br />

I<br />

1<br />

b<br />

=<br />

1 1<br />

I b<br />

1 + THD<br />

2<br />

2<br />

...<br />

(28)<br />

(29)<br />

(30)<br />

(31)<br />

(32)<br />

θ z = temperatura máxima admissível nos condutores<br />

A resistência à temperatura θc pode ser expressa a partir da<br />

relação:<br />

Admitindo baixa distorção da tensão, o que é razoável, a<br />

potência activa transportada terá por expressão:<br />

P = 3 × U × I × cos ϕ<br />

c<br />

1<br />

(33)<br />

c<br />

( 1 )<br />

R = R + α × θ<br />

0 0<br />

Onde:<br />

R 0 = resistência do condutor a 0º C<br />

c<br />

(26)<br />

Onde:<br />

I1 = componente fundamental da corrente<br />

cos ϕ = factor de potência do circuito<br />

27


ARTIGO TÉCNICO<br />

Desprezando os efeitos pelicular e de proximidade, as perdas<br />

nos condutores, incluindo o condutor neutro, será:<br />

2 2<br />

( 3<br />

b N )<br />

p = × I + m × I × r × L<br />

I = 3 × I + I + I ...<br />

N<br />

S<br />

m = S<br />

F<br />

N<br />

2 2 2<br />

3 6 9<br />

Que é a relação entre as secções de fase e de neutro.<br />

(34)<br />

(35)<br />

(36)<br />

As perdas percentuais (pr) na canalização virão então dadas<br />

por:<br />

p<br />

r<br />

=<br />

2 2<br />

( 3<br />

b<br />

N )<br />

× I + m× I × r × L<br />

3 × U × I × cosϕ<br />

c<br />

E a máxima resistência unitária a atribuir ao cabo:<br />

r<br />

máx<br />

As tabelas especificarão a secção do cabo a considerar.<br />

(37)<br />

(38)<br />

A correcção de temperatura poderá ser feita mediante a<br />

fórmula aproximada seguinte:<br />

Alguns valores de referência para p r :<br />

1<br />

pr<br />

× 3 × Uc<br />

× I1<br />

× cosϕ<br />

× 1000<br />

=<br />

× I + m × I × L<br />

2 2<br />

( 3<br />

b<br />

N )<br />

( 3× Ib<br />

+ m × IN<br />

)<br />

2<br />

( 3×<br />

IzT<br />

)<br />

(39)<br />

Tabela I - Valores máximos das perdas percentuais para diferentes<br />

tipos de circuitos<br />

Tipo de circuito<br />

( 30)<br />

θ = θ + θ −<br />

c a z<br />

Ligações entre transformadores de distribuição<br />

e Quadros Gerais<br />

Canalizações entre Quadros Gerais e Quadros<br />

Parciais<br />

Circuitos terminais: iluminação, tomadas ou<br />

outros usos com correntes acima de 32 A<br />

Colunas montantes e entradas, (até 2,5% para<br />

utilizações domésticas)<br />

Alimentações de grandes cargas como motores<br />

de potência apreciável<br />

2<br />

p r<br />

Máx.<br />

0,5%<br />

1,5%<br />

1%<br />

1,5%<br />

2,5%<br />

5. Conclusões<br />

A busca da eficiência e da utilização racional de energia<br />

(URE), particularmente nos sistemas eléctricos, leva a<br />

considerar todos aqueles aspectos que concorrem para<br />

realizar esse fim. A consideração do rendimento das<br />

canalizações, já contemplada nas áreas do transporte e<br />

grande distribuição, faz todo o sentido aplicada às redes de<br />

baixa tensão, até pela sua enorme extensão.<br />

Em Hong-Kong, onde o sistema de fixação de perdas<br />

máximas se encontra implementado há alguns anos, o<br />

dimensionamento económico de condutores insere-se num<br />

programa mais vasto de URE em edifícios de serviços,<br />

contemplando vertentes tais como instalações de<br />

iluminação, sistemas de aquecimento, ventilação e ar<br />

condicionado, transporte por elevadores, monta-cargas e<br />

escadas rolantes e o desempenho energético de edifícios<br />

apresentando resultados tangíveis significativos.<br />

Fontes de Informação Relevantes<br />

[CEI, 1995] CEI IEC 60 287-3-2, Electric cables, Calculation of<br />

the current rating – Part 3 – Section 2, Suiça, 1995.<br />

[Cooper, 1997] Copper Development Association, Electrical<br />

Energy Efficiency, U.K., 1997.<br />

[EMSD, 1997] Electrical and Mechanical Services Department<br />

(EMSD), Code of Practice for Energy Efficiency of Electrical<br />

Installations,Hong-Kong,2005.<br />

[Anders, 1997] Anders J George, Rating of Electric Power<br />

Cables, McGraw-Hill, Nova Iorque, 1997.<br />

[Hui, 2003] Hui, Sam C. M., Energy Efficiency and<br />

Environmental Assessment for Buildings in Hong Kong,<br />

MECM LEO Seminar, Advances on Energy Efficiency and<br />

Sustainability in Buildings, pag, 21-22, 2003, Kuala Lumpur,<br />

Malaysia.<br />

[Silva, 2009] Silva H.J., Gomes A.A., Ramos S.C., “A definição<br />

do valor máximo das perdas nas canalizações eléctricas como<br />

medida de eficiência energética”, JLBE09 - Jornadas Luso-<br />

Brasileiras de Ensino e Tecnologia em Engenharia 2009, 10 a<br />

13 de Fevereiro de 2009, Instituto Superior de Engenharia do<br />

Porto, Porto, Portugal.<br />

28


ARTIGO TÉCNICO<br />

José António Beleza Carvalho<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

Protecção das Pessoas em Instalações Eléctricas de Baixa Tensão<br />

Cálculo dos Dispositivos de Protecção<br />

RESUMO<br />

1. CÁLCULOS NO REGIME DE N<strong>EUTRO</strong> “TN”<br />

O correcto dimensionamento dos dispositivos de protecção<br />

das pessoas contra contactos indirectos em instalações<br />

eléctricas de Baixa Tensão (BT), é uma das condições<br />

fundamentais para que uma instalação possa ser utilizada e<br />

explorada com conforto e em perfeitas condições de<br />

segurança. De acordo com a normalização em vigor, é,<br />

também, uma das condições essenciais para a certificação ou<br />

licenciamento das instalações eléctricas por parte das<br />

entidades ou organismos responsáveis, a quem estão<br />

atribuídasestas competências.<br />

A função dos dispositivos de protecção das pessoas contra os<br />

contactos indirectos será o corte automático da alimentação<br />

da instalação eléctrica, que, em caso de defeito, e em<br />

consequência do valor e da duração da tensão de contacto,<br />

evitará o risco de se produzirem efeitos fisiopatológicos<br />

perigosos nas pessoas. Esta medida de protecção obriga à<br />

coordenação entre o Regime de Neutro (ou Esquema de<br />

Ligação à Terra (ELT)) adoptado na instalação, e as<br />

características dos condutores de protecção e dos respectivos<br />

dispositivos de protecção.<br />

Neste artigo são apresentados alguns exemplos de cálculo<br />

dos dispositivos de protecção das pessoas contra contactos<br />

indirectos, de acordo com o Regime de Neutro adoptado<br />

para a instalação eléctrica.<br />

Este regime de neutro caracteriza-se por todas as massas da<br />

instalação serem ligadas ao ponto da alimentação ligado à<br />

terra, próximo do transformador ou do gerador da<br />

alimentação da instalação, por meio de condutores de<br />

protecção.<br />

O ponto da alimentação ligado à terra é, em regra, o ponto<br />

neutro.<br />

De acordo com a legislação em vigor, nas instalações fixas<br />

pode-se utilizar um só condutor com as funções de condutor<br />

de protecção e de condutor neutro (designado por condutor<br />

PEN) desde que o condutor de protecção tenha uma secção<br />

não inferior a 10mm 2 , se de cobre ou a 16mm 2 , se de<br />

alumínio e, a parte da instalação comum (esquema TN-C)<br />

não esteja localizada a jusante de um dispositivo diferencial.<br />

Este regime de neutro encontra-se representado na Figura 1.<br />

Neste regime de neutro um defeito de isolamento é similar a<br />

um curto-circuito entre fase e neutro, e o corte deve ser<br />

assegurado pelo dispositivo de protecção contra curtoscircuitos,<br />

com um tempo máximo de corte especificado que<br />

é função da tensão limite convencional (UL) admissível para<br />

o local da instalação, ou seja, 25V ou 50V em corrente<br />

alternada, sendo o valor definido pela classificação do local<br />

quanto às influências externas.<br />

PE<br />

Figura 1: Regime terra pelo neutro, ou esquema TN (Fonte Schneider Electric)<br />

29


ARTIGO TÉCNICO<br />

Segundo a norma CEI 364 o tempo de corte do dispositivo de<br />

protecção deverá ser de 0,4s para UL=50V e, 0,2s para<br />

A curva deste dispositivo de protecção é apresentada na<br />

figura 3.<br />

UL=25V.<br />

Seguidamente, apresenta-se um circuito de uma instalação<br />

eléctrica de BT, trifásica (400V), onde é adoptado o regime<br />

de neutro TN-C, ou seja, a função de neutro e de protecção<br />

estão combinadas num único condutor (PEN).<br />

Este circuito é apresentado na figura 2.<br />

Figura 3: Curva de disparo TM250D.<br />

(Fonte Schneider Electric)<br />

Como se pode verificar, a actuação do disparador magnético<br />

deste disjuntor poderá ser regulada para funcionar entre 5 a<br />

Figura 2: Exemplo de cálculo. Regime TN-C<br />

10 vezes o valor nominal (In), ou seja, entre 1250 e 2500A.<br />

O circuito tem um comprimento de 40m, a secção do<br />

condutor de fase é de 95mm 2 e a do condutor de protecção<br />

é de 50mm 2 .<br />

O circuito está protegido com disjuntor NS 250N (Merlin<br />

Gerin) equipado com disparador magnetotérmico TM 250<br />

curva D.<br />

Pretende-se verificar se neste regime de neutro, a protecção<br />

das pessoas contra contactos indirectos está efectivamente<br />

garantida com este dispositivo de protecção.<br />

Uma condição fundamental para o correcto<br />

dimensionamento do dispositivo de protecção, é conhecer a<br />

sua curva de actuação, de maneira a obter-se o valor da<br />

corrente correspondente ao limiar de funcionamento do<br />

disparador magnético do aparelho de protecção.<br />

30<br />

Neste regime de neutro a impedância da malha de defeito Zs<br />

será:<br />

Z<br />

s<br />

K.<br />

U<br />

=<br />

I<br />

d<br />

0<br />

em que K toma o valor de 0,8 para instalações eléctricas, U 0<br />

é a tensão simples nominal da instalação e I d é a corrente de<br />

defeito.<br />

Para que a protecção contra curtos-circuitos também<br />

garanta a protecção contra contactos indirectos, é necessário<br />

para os disjuntores que:<br />

Z<br />

s<br />

K.<br />

U<br />

≤<br />

I<br />

m<br />

0<br />

em que I m é a corrente de actuação do disparador magnético<br />

do dispositivo.<br />

(1)<br />

(2)


ARTIGO TÉCNICO<br />

Para a protecção por fusíveis, é necessário que:<br />

Z<br />

s<br />

K.<br />

U<br />

≤<br />

I<br />

f<br />

0<br />

em que I f é a corrente convencional de funcionamento do<br />

fusível.<br />

Atendendo a que neste regime de neutro um defeito é<br />

efectivamente um curto-circuito entre uma fase e o<br />

condutor de protecção, a impedância da malha de defeito<br />

será então:<br />

(3)<br />

Para o circuito apresentado na figura 2, o comprimento<br />

máximo protegido do circuito, para uma regulação do<br />

disparador magnético de 5xIn (Im=1250A) será de:<br />

0,8.230.95<br />

l ≤<br />

≤ 214m<br />

0,0225.(1 + 19).1250<br />

para uma regulação do disparador magnético de 10xIn<br />

(Im=2500A) será de:<br />

0,8.230.95<br />

l ≤<br />

≤ 107m<br />

0,0225.(1 + 19).2500<br />

(9)<br />

(10)<br />

Z<br />

s<br />

≈ R<br />

s<br />

l<br />

= ρ<br />

f<br />

+ ρ<br />

s<br />

f<br />

PE<br />

l<br />

s<br />

PE<br />

(4)<br />

Atendendo que o comprimento do circuito é de 40m,<br />

verifica-se que em qualquer dos casos o disjuntor garante a<br />

protecção das pessoas contra contactos indirectos.<br />

em que ρ f é a resistividade de condutor de fase, ρ PE a<br />

resistividade do condutor de protecção, l é o comprimentos<br />

dos condutores, s f a secção do condutor de fase e s PE a<br />

secção do condutor de protecção.<br />

Considerando que os condutores de fase e de protecção têm<br />

as mesmas características, a impedância da malha de defeito<br />

será então:<br />

em que ;<br />

l<br />

Z<br />

s<br />

≈ Rs<br />

= ρ .( 1+<br />

m)<br />

s<br />

s<br />

m =<br />

s<br />

f<br />

PE<br />

f<br />

(5)<br />

(6)<br />

O comprimento máximo protegido do circuito será então,<br />

para disjuntores:<br />

No entanto, deve-se também verificar se o tempo de<br />

actuação do dispositivo é compatível com o especificado<br />

pelas curvas de segurança, para a tensão limite convencional<br />

definida para o local da instalação, que como já foi referido,<br />

segundo a norma CEI 364 deverá ser de 0,4s para U L =50V e,<br />

0,2s para U L =25V.<br />

Assim, torna-se importante calcular o valor da tensão de<br />

contacto em caso de defeito.<br />

em que:<br />

então:<br />

U = R . I<br />

I<br />

d<br />

c<br />

PE<br />

K U<br />

=<br />

Z<br />

d<br />

.<br />

0<br />

0<br />

s<br />

K.<br />

U<br />

=<br />

i<br />

ρ.<br />

.(1 + m)<br />

s<br />

f<br />

(11)<br />

(12)<br />

K. U<br />

0<br />

s<br />

f<br />

l ≤ .<br />

ρ .(1 + m).<br />

I<br />

e para fusíveis será de:<br />

K. U<br />

0<br />

s<br />

f<br />

l ≤ .<br />

ρ .(1 + m).<br />

I<br />

m<br />

f<br />

(7)<br />

(8)<br />

U<br />

R<br />

c<br />

PE<br />

= R<br />

PE<br />

l<br />

= ρ<br />

s<br />

K.<br />

U0.<br />

s<br />

f<br />

.<br />

ρ.<br />

l.(1<br />

+ m)<br />

PE<br />

U m<br />

= K. U 0.<br />

c 1 + m<br />

(13)<br />

(14)<br />

31


ARTIGO TÉCNICO<br />

Para o exemplo em consideração, representado na figura 2,<br />

tem-se:<br />

1,9<br />

U c<br />

= 0 ,8* 230* = 120, 6V<br />

1+<br />

1,9<br />

(15)<br />

Pelas curvas de segurança, e para a tensão limite<br />

convencional de 25V, o dispositivo deve actuar num tempo<br />

inferior a 180ms.<br />

Neste regime de neutro, a presença de um primeiro defeito<br />

não origina valores de tensão de contacto perigosos para as<br />

pessoas.<br />

No entanto, é obrigatório a presença de um Controlador<br />

Permanente de Isolamento (CPI), de maneira a sinalizar o<br />

defeito e permitir a sua eliminação o mais rapidamente<br />

possível.<br />

Como se pode verificar na curva de funcionamento do<br />

disjuntor, apresentada na figura 3, o dispositivo actuará num<br />

tempo inferior ao referido e compatível com o especificado<br />

pela norma CEI 364.<br />

Assim, para esta instalação, e para este regime de neutro,<br />

pode-se garantir que o disjuntor apresentado protege<br />

efectivamente as pessoas contra contactos indirectos.<br />

A manifestação de um segundo defeito, sem que tenha sido<br />

eliminado o primeiro, implicaria agora a existência de<br />

tensões de contacto muito perigosas, devendo ser tomadas<br />

as medidas adequadas de forma a evitar riscos de efeitos<br />

fisiopatológicos perigosos nas pessoas susceptíveis de ficar<br />

em contacto com partes condutoras simultaneamente<br />

acessíveis.<br />

Como tal, a protecção das pessoas neste regime de neutro é<br />

orientada para o dimensionamento dos dispositivos de<br />

protecção actuarem na situação de segundo defeito.<br />

Figura 4: Painel de regulação do relé electrónico TM250D.<br />

(Fonte Schneider Electric)<br />

2. CÁLCULOS NO REGIME DE N<strong>EUTRO</strong> “IT”<br />

Este esquema de ligação à terra apresenta como principal<br />

vantagem, a garantia de continuidade de serviço em<br />

presença de um primeiro defeito de isolamento.<br />

Também se devem eliminar todas as situações que possam<br />

contribuir para diminuir a fiabilidade do sistema. Assim, não<br />

se deve distribuir o condutor neutro, pois poderá correr-se o<br />

risco de manifestar-se um segundo defeito sem que o<br />

primeiro tenha sido sinalizado, actuando a protecção e<br />

perdendo-se todas as vantagens inerentes à utilização deste<br />

regime de neutro.<br />

Figura 5: Esquema de Ligação à Terra IT. (Fonte Schneider Electric)<br />

32


ARTIGO TÉCNICO<br />

Este regime de neutro caracteriza-se por as partes activas da<br />

instalação eléctrica serem isoladas da terra ou ligadas a esta<br />

através de uma impedância de valor elevado. As massas dos<br />

aparelhos de utilização são ligadas à terra, individualmente<br />

ou por grupos.<br />

O circuito tem um comprimento de 76m, a secção do<br />

condutor de fase e de protecção é de 25mm 2 . O circuito está<br />

protegido com disjuntor especifico para protecção de saídas<br />

motor NS 80H (Merlin Gerin) equipado com disparador<br />

“motor” integrado MA 80.<br />

A situação mais comum nas instalações onde é adoptado<br />

este regime de neutro, é todas as massas, incluindo as da<br />

fonte, estarem ligadas a um mesmo eléctrodo de terra<br />

(figura 5). Assim, as condições de eliminação da corrente de<br />

um segundo defeito são então garantidas pelas mesmas<br />

condições indicadas para o esquema TN.<br />

Neste regime de neutro IT, a protecção das pessoas contra<br />

contactos indirectos é fundamentalmente garantida por dois<br />

tipos de equipamentos:<br />

• pelos CPI, essencialmente destinados à vigilância do<br />

primeiro defeito, embora possam também ser utilizados<br />

como dispositivos de protecção nas situações em que for<br />

necessário provocar o corte ao primeiro defeito;<br />

• pelos dispositivos de protecção contra sobreintensidades<br />

(disjuntores e fusíveis). Estes dispositivos são utilizados<br />

nas situações em que ao segundo defeito são aplicadas<br />

as condições de protecção definidas para o esquema TN;<br />

Pretende-se verificar se neste regime de neutro, a protecção<br />

das pessoas contra contactos indirectos está efectivamente<br />

garantida com este dispositivo de protecção.<br />

Também no caso deste regime de neutro é fundamental<br />

para o correcto dimensionamento do dispositivo de<br />

protecção, conhecer a curva de actuação do dispositivo, de<br />

maneira a obter-se o valor da corrente correspondente ao<br />

limiar de funcionamento do disparador magnético do<br />

aparelho de protecção.<br />

A curva deste dispositivo de protecção é apresentada na<br />

figura 7.<br />

Seguidamente, apresenta-se um circuito de uma instalação<br />

eléctrica de BT, trifásica (400V), onde é adoptado o regime<br />

de neutro IT, sem neutro distribuído (situação comum neste<br />

regime de neutro) . Este circuito é apresentado na figura 6.<br />

Figura 7: Curva de disparo MA80.<br />

(Fonte Schneider Electric)<br />

Figura 6: Exemplo de cálculo. Regime IT<br />

Como se pode verificar, a actuação do disparador magnético<br />

deste disjuntor verifica-se entre 6 a 14 vezes o valor nominal<br />

(In=80A),ou seja, entre 480 e 1120A.<br />

33


ARTIGO TÉCNICO<br />

Também neste regime de neutro, tal como no regime TN,<br />

um defeito é efectivamente um curto-circuito entre uma<br />

fase e o condutor de protecção.<br />

Então, para este circuito, sem neutro distribuído, a<br />

impedância da malha de defeito será:<br />

34<br />

Z<br />

s<br />

(16)<br />

em que I m é a corrente de actuação do disparador magnético<br />

do dispositivo.<br />

Neste regime de neutro considera-se como boa aproximação<br />

que ao segundo defeito, o comprimento da malha de defeito<br />

é duplo em relação ao primeiro defeito.<br />

Então, a impedância da malha de defeito será neste caso:<br />

Z<br />

s<br />

(17)<br />

Considerando também que os condutores de fase e de<br />

protecção têm as mesmas características, a impedância da<br />

malha de defeito será então:<br />

em que ;<br />

(18)<br />

(19)<br />

O comprimento máximo protegido deste circuito será então,<br />

para disjuntores:<br />

K.<br />

3. U<br />

≤<br />

I<br />

≈ R<br />

s<br />

m<br />

0<br />

l<br />

= 2*( ρ<br />

f<br />

+ ρ<br />

s<br />

(20)<br />

Para o circuito apresentado na figura 6, o comprimento<br />

máximo protegido do circuito, para uma regulação do<br />

disparador magnético de 6xIn (Im=480A) será de:<br />

f<br />

PE<br />

l<br />

s<br />

l<br />

Z<br />

s<br />

≈ Rs<br />

= 2*(<br />

ρ .(1 + m))<br />

s<br />

s<br />

m =<br />

s<br />

l<br />

f<br />

PE<br />

K<br />

= 1<br />

U<br />

s<br />

f<br />

PE<br />

. 3.<br />

0.<br />

f<br />

≤<br />

2. ρ .(1 + m).<br />

I<br />

m<br />

0,8. 3.230.25<br />

≤<br />

≤ m<br />

l 184<br />

2.0,0225.(1 + 1).480<br />

)<br />

(21)<br />

Para uma regulação do disparador magnético de 14xIn<br />

(Im=1120A) será de:<br />

0,8. 3.230.25<br />

l ≤<br />

≤ 79m<br />

2.0,0225.(1 + 1).1120<br />

(22)<br />

Atendendo que o comprimento do circuito é de 76m,<br />

verifica-se que para qualquer regulação do disparador MA (6<br />

a 14xIn), o disjuntor garante a protecção das pessoas contra<br />

contactos indirectos.<br />

No entanto, tal como no regime de neutro TN, também se<br />

deve verificar se o tempo de actuação do dispositivo é<br />

compatível com o especificado pelas curvas de segurança,<br />

para a tensão limite convencional definida para o local da<br />

instalação, que como já foi referido, segundo a norma CEI<br />

364 deverá ser de 0,4s para U L =50V e, 0,2s para U L =25V.<br />

Assim, torna-se importante calcular o valor da tensão de<br />

contacto em caso de segundo defeito.<br />

U = R . I<br />

c<br />

PE<br />

d<br />

(23)<br />

em que, através de uma dedução idêntica à efectuada para o<br />

regime de neutro TN, obtêm-se:<br />

m<br />

U c<br />

= K. 3. U<br />

0.<br />

2.(1 + m)<br />

(24)<br />

Para o exemplo em consideração, representado na figura 6,<br />

tem-se:<br />

1<br />

U c<br />

= 0 ,8* 3 *230* = 79, 7V<br />

2*(1 + 1)<br />

(25)<br />

Pelas curvas de segurança, e para a tensão limite<br />

convencional de 25V, o dispositivo deve actuar num tempo<br />

inferior a 280ms.<br />

Como se pode verificar na curva de funcionamento do<br />

disjuntor, apresentada na figura 7, o dispositivo actuará num<br />

tempo inferior ao referido e compatível com o especificado<br />

pela norma CEI 364.


ARTIGO TÉCNICO<br />

Assim, também para esta instalação, e para este regime de<br />

neutro, pode-se garantir que o disjuntor apresentado<br />

protege efectivamente as pessoas contra contactos<br />

indirectos.<br />

3. CONCLUSÕES<br />

como tensão de contacto limite, 25V ou 50V. Assim, torna-se<br />

importante calcular o valor da tensão de contacto em caso<br />

de defeito e, através da curva de segurança dos 25V ou 50V,<br />

conforme o caso, obter o tempo máximo de actuação do<br />

dispositivo para que a tensão de contacto nunca ultrapasse o<br />

valor da tensão limite convencional.<br />

Neste artigo apresentou-se dois exemplos de cálculo e<br />

dimensionamento dos dispositivos de protecção das pessoas<br />

contra contactos indirectos. Um exemplo para o regime de<br />

neutro TN, e outro para o regime de neutro IT.<br />

Atendendo a que nestes regimes de neutro, e para o caso<br />

dos exemplos apresentados, uma situação de defeito é<br />

sempre uma situação de curto-circuito entre um condutor<br />

activo e a massa do equipamento de utilização, ou seja, um<br />

curto-circuito entre um condutor activo e o condutor de<br />

protecção, são, normalmente, os dispositivos de protecção<br />

contra sobreintensidades que terão a função de também<br />

garantir a protecção das pessoas contra contactos indirectos.<br />

Na realidade, nos exemplos que são apresentados, o que se<br />

teve que fazer foi verificar se realmente o dispositivo de<br />

protecção contra curtos-circuitos também verificava as<br />

condições necessárias à protecção das pessoas contra<br />

contactos indirectos.<br />

Este facto foi analisado através da verificação do máximo<br />

comprimento protegido.<br />

Efectivamente, nestes dois regimes de neutro, para se poder<br />

dimensionar correctamente os dispositivos de protecção, é<br />

fundamental conhecer bem as características do circuito,<br />

nomeadamente comprimento da instalação, tipo de<br />

condutores,trajecto dos cabos, secção dos condutores, etc.<br />

Outro factor importante, é verificar se o dispositivo actua<br />

num tempo compatível com especificado pelas normas de<br />

segurança. Este facto depende das condições do local da<br />

instalação eléctrica.<br />

De acordo com estas condições, a legislação em vigor impõe<br />

Este facto obriga, também, a conhecer muito bem as curvas<br />

de funcionamento dos dispositivos de protecção, para<br />

verificar se esta regra do tempo de actuação também é<br />

garantida. No caso dos disjuntores, a zona de funcionamento<br />

magnético dos disparadores é quase instantânea, não sendo<br />

a regra do tempo de actuação problemática para este tipo de<br />

equipamento de protecção.<br />

O facto torna-se mais importante quando os dispositivos de<br />

protecção são fusíveis.<br />

O regime de neutro TT, para o dimensionamento dos<br />

dispositivos de protecção das pessoas contra contactos<br />

indirectos, não obriga necessariamente a conhecer todas as<br />

características da instalação.<br />

A análise do dimensionamento dos dispositivos de protecção<br />

para o regime TT será efectuada num próximo artigo.<br />

Bibliografia<br />

[1] Regras Técnicas das Instalações Eléctricas de Baixa Tensão" -<br />

(Decreto-Lei n.º 226/2005 de 28 de Dezembro)<br />

[2] Técnicas e Tecnologias em Instalações Eléctricas" - L. M. Vilela<br />

Pinto – Edição Certiel<br />

[3] Instalações Eléctricas de Baixa Tensão. A Concepção e o<br />

Projecto" – Aulas de IELBT, José Beleza Carvalho, ISEP<br />

[4] Instalações Eléctricas Industriais" - João Mamede Filho - Editora<br />

LTC 5ª Edição<br />

[5] Esquemas de Ligação à Terra em BT (Regimes de Neutro)”<br />

Caderno Técnico nº 172 - Bernard Lacroix e Roland Calvas.<br />

Edição: Schneider Electric<br />

35


36<br />

CURIOSIDADE


ARTIGO TÉCNICO<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

FASES DE REALIZAÇÃO<br />

E TIPOS DE PROJECTOS DE INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A realização do projecto eléctrico de uma instalação requer,<br />

além do domínio técnico dos assuntos particulares que a<br />

esta digam respeito, sistematização na sua abordagem e<br />

programação, necessária tanto no faseamento da sua<br />

concepção como na elaboração processual dos seus<br />

documentos.<br />

Neste sentido a publicação da portaria nº 701-H/2008, de 29<br />

de Julho, através do seu anexo I - Instruções para a<br />

Elaboração de Projectos de Obras - representa um salto<br />

qualitativo significativo no processo de realização do<br />

projecto, visando uma concepção de mais elevada qualidade<br />

do mesmo, ao definir a metodologia a seguir na sua<br />

elaboração, com discriminação das suas fases, seus<br />

conteúdos e objectivos.<br />

Embora a portaria se destine expressamente a projectos de<br />

obras públicas e uma vez que a caracterização das obras<br />

particulares se rege, de um modo geral, pelas regras das<br />

obras públicas, a transposição dos seus princípios para<br />

aquele tipo de obras representa uma mais-valia significativa<br />

para o projectista e para a consequente melhoria do projecto<br />

electrotécnico.<br />

Este artigo faz uma ligeira incursão nos aspectos das<br />

Instruções para a Elaboração e revêem-se alguns princípios<br />

formais da estruturação do projecto de licenciamento.<br />

2 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL<br />

- Decreto-Lei nº 26 852, de 30 de Julho de 1936 – Aprova<br />

o Regulamento de Licenças para Instalações Eléctricas<br />

- Portaria nº 401/76, de 6 de Julho - Estabelece as normas<br />

a que deverão obedecer os projectos destinados a<br />

instruírem os pedidos de licença de instalações eléctricas<br />

de serviço público<br />

- Decreto-Lei nº 446/76, de 5 de Junho - Dá nova redacção<br />

a alguns artigos do Regulamento de Licenças para<br />

Instalações Eléctricas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º<br />

26852 de 30 de Julho de 1936<br />

- Decreto-Lei nº 517/80, de 31 de Outubro - Estabelece<br />

normas a observar na elaboração dos projectos das<br />

instalações eléctricas de serviço particular<br />

- Decreto Regulamentar nº 31/83, de 18 de Abril - Aprova<br />

o Estatuto do Técnico Responsável por Instalações<br />

Eléctricas de Serviço Particular<br />

- Portaria nº 344/89, de 13 de Maio - Altera os artigos<br />

19.º e 20.º do Decreto-Lei n.º 26 852 de 30 de Julho de<br />

1936. Revoga a Portaria n.º 24/80 de 9 de Janeiro<br />

- Decreto-Lei nº 272/92, de 3 de Dezembro - Estabelece<br />

normas relativas às associações inspectoras de<br />

instalações eléctricas<br />

- Decreto-Lei nº 315/95, de 28 de Novembro - Regula a<br />

instalação e o funcionamento dos recintos de<br />

espectáculos e divertimentos públicos e estabelece o<br />

regime jurídico dos espectáculos de natureza artística<br />

- Decreto-Lei nº 59/99, de 2 Março - Estabelece o regime<br />

do contrato administrativo de empreitada de obras<br />

públicas.<br />

- Decreto-Lei nº 555/99, de 16 de Dezembro (com as<br />

alterações subsequentes)- Estabelece o regime jurídico<br />

da urbanização e da edificação<br />

- Portaria nº 454/2001, de 5 de Maio - Aprova o novo<br />

contrato-tipo de concessão de distribuição de energia<br />

eléctrica em baixa tensão<br />

- Portaria nº 1110/2001, de 19 de Setembro - Determina<br />

quais os elementos que devem instruir os pedidos de<br />

informação prévia, de licenciamento e de autorização<br />

referentes a todos os tipos de operações urbanísticas<br />

- Decreto-Lei n.º 5/2004, de 6 de Janeiro - Aprova a<br />

orgânica das direcções regionais da economia<br />

- Portaria nº 193/2005, de 17 de Fevereiro - Actualiza a<br />

relação das disposições legais e regulamentares a<br />

observar pelos técnicos responsáveis dos projectos de<br />

obras e a sua execução<br />

- Decreto-Lei nº 229/2006, de 24 de Novembro - Altera o<br />

Decreto Regulamentar n.º 31/83 de 18 de Abril, que<br />

aprova o Estatuto do Técnico Responsável por<br />

Instalações Eléctricas de Serviço Particular, e derroga<br />

37


ARTIGO TÉCNICO<br />

parcialmente o disposto na alínea e) do n.º 3 do artigo<br />

3.º do Decreto-Lei n.º 5/2004, de 6 de Janeiro<br />

- Decreto-Lei nº 101/2007, de 2 de Abril - Simplifica o<br />

licenciamento de instalações eléctricas, quer de serviço<br />

público quer de serviço particular, alterando os<br />

Decretos-Lei n.os 26 852, de 30 de Julho de 1936,<br />

517/80, de 31 de Outubro, e 272/92, de 3 de Dezembro<br />

- Lei nº 60/2007, de 4 de Setembro - Procede à sexta<br />

alteração ao Decreto -Lei n.º 555/99, de 16 de<br />

Dezembro, que estabelece o regime jurídico da<br />

urbanização e edificação<br />

- Decreto-Lei nº 18/2008, de 29 de Janeiro - Aprova o<br />

Código dos Contratos Públicos, que estabelece a<br />

disciplina aplicável à contratação pública e o regime<br />

substantivo dos contratos públicos que revistam a<br />

natureza de contrato administrativo<br />

- Portaria nº 232/2008, de 11 de Março - Determina quais<br />

os elementos que devem instruir os pedidos de<br />

informação prévia, de licenciamento e de autorização<br />

referentes a todos os tipos de operações urbanísticas, e<br />

revoga a Portaria n.º 1110/2001 de 19 de Setembro<br />

- Portaria nº 701-H/2008, de 29 de Julho - Aprova o<br />

conteúdo obrigatório do programa e do projecto de<br />

execução, bem como os procedimentos e normas a<br />

adoptar na elaboração e faseamento de projectos de<br />

obras públicas, designados «Instruções para a elaboração<br />

de projectos de obras», e a classificação de obras por<br />

categorias<br />

3 DEFINIÇÕES<br />

- Anteprojecto ou Projecto Base - o documento a elaborar<br />

pelo Projectista, correspondente ao desenvolvimento do<br />

Estudo prévio aprovado pelo Dono da Obra, destinado a<br />

estabelecer, em definitivo, as bases a que deve obedecer<br />

a continuação do estudo sob a forma de Projecto de<br />

execução.<br />

(Ao Projecto Base também se dá o nome de Projecto de<br />

Licenciamento, pois nesta fase o projectista prepara as<br />

peças escritas e as peças desenhadas para entregar o<br />

projecto para aprovação).<br />

38<br />

- Dono da Obra – pessoa colectiva ou individual que<br />

promove o projecto ou obra<br />

Os donos de obra podem classificar-se em dois tipos:<br />

donos de obra pública e de obra particular<br />

Os donos de obra pública são as entidades que se<br />

encontram sujeitas ao Regime Jurídico de Obras Públicas,<br />

conforme define o art.º 3.º do Decreto-Lei n.º 59/99, de<br />

2 de Março. Alguns donos de obra pública encontram-se<br />

sujeitos ao Regime de Licenciamento Urbano (Decreto-<br />

Lei n.º 555/99 de 16 de Dezembro)<br />

Os donos de obra particular encontram-se sujeitos, nas<br />

operações de licenciamento de urbanizações e de<br />

edificações, às disposições do Decreto-Lei n.º 555/99 de<br />

16 de Dezembro<br />

- Estudo prévio - o documento elaborado pelo Projectista,<br />

depois da aprovação do programa base, visando a opção<br />

pela solução que melhor se ajuste ao programa,<br />

essencialmente no que respeita à concepção geral da<br />

obra<br />

- Peças do projecto - os documentos, escritos ou<br />

desenhados que caracterizam as diferentes partes de um<br />

projecto<br />

- Programa base - o documento elaborado pelo<br />

Projectista a partir do programa preliminar resultando da<br />

particularização deste, visando a verificação da<br />

viabilidade da obra e do estudo de soluções alternativas,<br />

o qual, depois de aprovado pelo Dono da Obra, serve de<br />

base ao desenvolvimento das fases ulteriores do<br />

projecto<br />

- Programa preliminar - o documento fornecido pelo<br />

Dono da Obra ao Projectista para definição dos<br />

objectivos, características orgânicas e funcionais e<br />

condicionamentos financeiros da obra, bem como dos<br />

respectivos custos e prazos de execução a observar<br />

- Projecto - o conjunto de documentos escritos e<br />

desenhados que definem e caracterizam a concepção<br />

funcional, estética e construtiva de uma obra,<br />

compreendendo, designadamente, o projecto de<br />

arquitectura e projectos de engenharia.<br />

- Projecto de execução - o documento elaborado pelo<br />

Projectista, a partir do estudo prévio ou do anteprojecto<br />

aprovado pelo Dono da Obra, destinado a facultar todos


ARTIGO TÉCNICO<br />

os elementos necessários à definição rigorosa dos trabalhos<br />

a executar<br />

Telas finais - o conjunto de desenhos finais do projecto,<br />

integrando as rectificações e alterações introduzidas no<br />

decurso da obra e que traduzem o que foi efectivamente<br />

construído<br />

4 FASES DO PROJECTO<br />

e) Dados básicos relativos às exigências de comportamento,<br />

funcionamento, exploração e conservação da obra,<br />

tendo em atenção as disposições regulamentares;<br />

f) Estimativa de custo e respectivo limite dos desvios e,<br />

eventualmente, indicações relativas ao financiamento do<br />

empreendimento;<br />

g) Indicação geral dos prazos para a elaboração do projecto<br />

e para a execução da obra.<br />

A realização do Projecto deve seguir um cronograma<br />

específico, caracterizado pela definição de etapas sucessivas,<br />

em número dependente da importância e complexidade da<br />

obra, de pormenorização crescente e tendente à fixação<br />

definitiva das soluções, culminando na elaboração do<br />

Projecto de Licenciamento e no de Execução.<br />

Estas fases podem ser enumeradas do modo seguinte de<br />

acordo com a portaria citada:<br />

- Programa Base<br />

- Estudo Prévio<br />

- Anteprojecto (Projecto Base ou Projecto de<br />

Licenciamento)<br />

- Projecto de Execução<br />

Estas seguem-se cronologicamente às especificações<br />

fornecidas pelo Dono da Obra ao Projectista e traduzidas no<br />

Programa Preliminar.<br />

Como características que estas fases devem conter, incluemse<br />

as seguintes:<br />

- Programa preliminar<br />

O Programa preliminar contém, além de elementos<br />

específicos constantes da legislação e regulamentação<br />

aplicável, os seguintes elementos, podendo alguns destes<br />

ser dispensados consoante a obra a projectar:<br />

a) Objectivos da obra;<br />

b) Características gerais da obra;<br />

c) Dados sobre a localização do empreendimento;<br />

d) Elementos topográficos, cartográficos e geotécnicos,<br />

levantamento das construções existentes e das redes de<br />

infra-estruturas locais, coberto vegetal, características<br />

ambientais e outros eventualmente disponíveis, a<br />

escalas convenientes;<br />

- Programa Base<br />

O Programa base é apresentado de forma a proporcionar ao<br />

Dono da Obra a compreensão clara das soluções propostas<br />

pelo Projectista, com base nas indicações expressas no<br />

programa preliminar, incluindo:<br />

a) Esquema da obra e programação das diversas operações<br />

a realizar, quando aplicável;<br />

b) Definição dos critérios gerais de dimensionamento das<br />

diferentes partes constitutivas da obra;<br />

c) Peças escritas e desenhadas e outros elementos<br />

informativos necessários para o perfeito esclarecimento<br />

do Programa Base, no todo ou em qualquer das suas<br />

partes, incluindo as que porventura se justifiquem para<br />

definir as alternativas de solução propostas pelo<br />

Projectista e avaliar a sua viabilidade, em função das<br />

condições de espaço, técnicas, de custos e de prazos;<br />

d) Estimativa geral do custo da obra, tomando em conta os<br />

encargos mais significativos com a sua realização e<br />

análise comparativa dos custos de manutenção e<br />

consumos da obra nas soluções propostas;<br />

e) Informação sobre a necessidade de obtenção de<br />

elementos topográficos, geológicos, geotécnicos,<br />

hidrológicos, climáticos, características da componente<br />

acústica do ambiente, redes de infra-estruturas ou de<br />

qualquer outra natureza que interessem à elaboração do<br />

projecto, bem como sobre a realização de estudos em<br />

modelos, ensaios, maquetes, trabalhos de investigação e<br />

quaisquer outras actividades ou formalidades que<br />

podem ser exigidas, quer para a elaboração do projecto,<br />

quer para a execução da obra.<br />

39


ARTIGO TÉCNICO<br />

- Estudo Prévio<br />

1- O Estudo prévio desenvolve as soluções aprovadas no<br />

Programa Base, sendo constituído por peças escritas e<br />

desenhadas e por outros elementos informativos, de<br />

modo a possibilitar ao Dono da Obra a fácil apreciação<br />

das soluções propostas pelo Projectista e o seu confronto<br />

com os elementos constantes naquele.<br />

2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o<br />

Estudo prévio contém, para cada uma das soluções<br />

alternativas apresentadas à aprovação do Dono da Obra,<br />

e sem prejuízo dos elementos constantes da<br />

regulamentação aplicável, os elementos seguintes:<br />

a) Memória descritiva e justificativa, incluindo capítulos<br />

respeitantes a cada um dos objectivos relevantes do<br />

estudo prévio;<br />

b) Elementos gráficos elucidativos sob a forma de<br />

plantas, alçados, cortes, perfis, esquemas de<br />

princípio e outros elementos, em escala apropriada;<br />

c) Dimensionamento aproximado e características<br />

principais dos elementos fundamentais da obra;<br />

d) Estimativa do custo da obra e do seu prazo de<br />

execução.<br />

- Anteprojecto ou Projecto base (Projecto para<br />

Licenciamento)<br />

1- O Anteprojecto, ou Projecto base, desenvolve a solução<br />

do Estudo prévio aprovado, sendo constituído por peças<br />

escritas e desenhadas e outros elementos de natureza<br />

informativa que permitam a conveniente definição e<br />

dimensionamento da obra, bem como o esclarecimento<br />

do modo da sua execução.<br />

2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o<br />

anteprojecto deve conter, para além dos elementos<br />

constantes da regulamentação aplicável os seguintes:<br />

a) Memórias descritivas e justificativas da solução<br />

adoptada, incluindo capítulos especialmente<br />

destinados a cada um dos objectivos especificados<br />

para o anteprojecto, onde figuram designadamente<br />

descrições da solução orgânica, funcional e estética<br />

da obra, dos sistemas e dos processos de construção<br />

previstos para a sua execução e das características<br />

técnicas e funcionais dos materiais, elementos de<br />

construção,sistemas e equipamentos;<br />

b) Avaliação das quantidades de trabalho a realizar por<br />

grandes itens e respectivos mapas;<br />

c) Estimativa de custo actualizada;<br />

d) Peças desenhadas a escalas convenientes e outros<br />

elementos gráficos que explicitem a localização da<br />

obra, a planimetria e a altimetria das suas diferentes<br />

partes componentes e o seu dimensionamento bem<br />

como os esquemas de princípio detalhados para cada<br />

uma das Instalações Técnicas, garantindo a sua<br />

compatibilidade;<br />

e) Identificação de locais técnicos, centrais interiores e<br />

exteriores, bem como mapa de espaços técnicos<br />

verticais e horizontais para instalação de<br />

equipamentos terminais e redes.<br />

f) Os elementos de estudo que serviram de base às<br />

opções tomadas, de preferência constituindo anexos<br />

ou volumes individualizados identificados nas<br />

memórias;<br />

g) Programa geral dos trabalhos.<br />

- Projecto de execução<br />

1- O Projecto de execução desenvolve o Projecto base<br />

aprovado, sendo constituído por um conjunto<br />

coordenado das informações escritas e desenhadas de<br />

fácil e inequívoca interpretação por parte das entidades<br />

intervenientes na execução da obra, obedecendo ao<br />

disposto na legislação e regulamentação aplicável.<br />

2- Se outras condições não forem fixadas no contrato, o<br />

Projecto de execução inclui, além de outros elementos<br />

constantes de regulamentação aplicável, as seguintes<br />

peças:<br />

a) Memória descritiva e justificativa, incluindo a<br />

disposição e descrição geral da obra, evidenciando<br />

quando aplicável a justificação da implantação da<br />

obra e da sua integração nos condicionamentos<br />

locais existentes ou planeados; descrição genérica da<br />

solução adoptada com vista à satisfação das<br />

disposições legais e regulamentares em vigor;<br />

indicação das características dos materiais, dos<br />

40


ARTIGO TÉCNICO<br />

elementos da construção, dos sistemas,<br />

equipamentos e redes associadas às Instalações<br />

Técnicas;<br />

b) Cálculos relativos às diferentes partes da obra<br />

apresentados de modo a definirem, pelo menos, os<br />

elementos referidos na regulamentação aplicável a<br />

cada tipo de obra e a justificarem as soluções<br />

adoptadas;<br />

c) Medições e mapas de quantidade de trabalhos,<br />

dando a indicação da natureza e da quantidade dos<br />

trabalhos necessários para a execução da obra;<br />

d) Orçamento baseado nas quantidades e qualidades<br />

de trabalho constantes das medições;<br />

e) Peças desenhadas de acordo com o estabelecido<br />

para cada tipo de obra na regulamentação aplicável,<br />

devendo conter as indicações numéricas<br />

indispensáveis e a representação de todos os<br />

pormenores necessários à perfeita compreensão,<br />

implantação e execução da obra;<br />

f) Condições técnicas, gerais e especiais, do caderno de<br />

encargos.<br />

6) Instalações eléctricas de serviço particular do tipo C cuja<br />

potência a alimentar pela rede seja superior a 50 kVA;<br />

7) Redes particulares de distribuição de energia eléctrica<br />

em baixa tensão e respectivas instalações de iluminação<br />

exterior.<br />

A pormenorização e alcance de cada fase variará de acordo<br />

com as características particulares associadas ao tipo de<br />

empreendimento a projectar. Assim, teremos<br />

sucessivamente:<br />

- Instalações,Equipamentos e Sistemas em Edifícios<br />

- Instalações, Equipamentos e Sistemas de Comunicação<br />

em Edifícios<br />

- Instalações, Equipamentos e Sistemas de Aquecimento,<br />

ventilação e ar condicionado (AVAC)<br />

- Instalações, Equipamentos e Sistemas de transporte de<br />

pessoas e cargas<br />

- Sistemas de Segurança Integrada<br />

- Produção, transformação, transporte e distribuição de<br />

Energia Eléctrica<br />

- Redes de comunicações<br />

Caso a instalação não careça de projecto, do Estudo Prévio<br />

passar-se-ádirectamente para o Projecto de Execução.<br />

O anexo I do Decreto-Lei nº 517/80, de 31 de Outubro, na<br />

redacção actual do Decreto-Lei nº 101/2007, de 2 de Abril,<br />

lista as instalações eléctricas que carecem de projecto:<br />

1) Instalaçõeseléctricas de serviço particular do tipo A;<br />

2) Instalaçõeseléctricas de serviço particular do tipo B;<br />

3) Instalações eléctricas de serviço particular do tipo C<br />

situadas em recintos públicos ou privados destinados a<br />

espectáculos ou outras diversões, incluindo-se,<br />

nomeadamente, teatros, cinemas, praças de touros,<br />

casinos, circos, clubes, discotecas, piscinas públicas,<br />

associações recreativas ou desportivas, campos de<br />

desporto, casas de jogo, autódromos e outros recintos<br />

de diversão;<br />

4) Instalações eléctricas estabelecidas em locais sujeitos a<br />

risco de explosão;<br />

5) Instalações de parques de campismo e portos de recreio<br />

(marinas);<br />

Para cada tipo de instalação enunciada se procede à<br />

pormenorização dos objectivos a alcançar em cada uma das<br />

fases do projecto cuja satisfação será levada à consideração<br />

do Dono da Obra para aprovação.<br />

Exemplificando com a primeira das obras consideradas,<br />

teremos, como elementos especiais das diversas fases, os<br />

seguintes:<br />

- Programa Preliminar<br />

a) Identificação de aspectos específicos do edifício ou zonas<br />

do edifício, em termos de energia eléctrica, ambiente,<br />

utilização, segurança e outros e ligações a redes ou<br />

sistemas exteriores.<br />

b) Condicionamentos à localização dos equipamentos e das<br />

instalações necessárias ao seu funcionamento.<br />

c) Identificação dos níveis de qualidade, disponibilidade,<br />

redundância e autonomia pretendidos.<br />

d) Condicionamentos a nível de manutenção, exploração e<br />

expansão.<br />

41


ARTIGO TÉCNICO<br />

- Programa Base<br />

a) Identificação das diferentes instalações e equipamentos<br />

a considerar e suas configurações gerais justificadas a<br />

partir dos condicionamentos e imposições do Programa<br />

Preliminar.<br />

b) Bases de dimensionamento consideradas para as<br />

diferentes instalações e equipamentos.<br />

c) Discriminação e justificação das necessidades em termos<br />

de energia eléctrica, segurança e outras.<br />

d) Interligações com outras especialidades e respectivas<br />

condições ou exigências.<br />

- Estudo Prévio<br />

a) Representação gráfica geral das instalações e<br />

equipamentos em concordância com o desenvolvimento<br />

das outras especialidades e com a definição das<br />

condições regulamentares de segurança, sob a forma de<br />

plantas e outros elementos, a escala apropriada.<br />

b) Esquemas de princípio necessários à definição<br />

esquemática da concepção dos sistemas e redes que<br />

integram as instalações e equipamentos e da sua<br />

interligação espacial e funcional.<br />

c) Caracterização genérica das instalações e equipamentos<br />

principais.<br />

d) Pré-dimensionamento dos equipamentos e das redes<br />

principais das instalações.<br />

e) Condições de ligação às redes de energia eléctrica<br />

(produção, consumo) e outras, de funcionamento e<br />

utilização das instalações e equipamentos e da sua<br />

eventual expansão.<br />

- Anteprojecto (Projecto Base, Projecto de<br />

Licenciamento)<br />

a) Plantas, em escalas apropriadas, onde se indiquem os<br />

traçados das redes principais das diversas instalações,<br />

com indicação da localização aproximada dos<br />

equipamentos.<br />

b) Cortes, esquemas e diagramas, sempre que isso seja<br />

necessário à boa compreensão da solução proposta.<br />

c) Esquemas de princípio das instalações e da sua<br />

interligação espacial e funcional.<br />

d) Caracterização das instalações e equipamentos<br />

principais.<br />

e) Dimensionamentos dos equipamentos e redes principais<br />

das instalações.<br />

f) Enumeração dos principais artigos que constituem o<br />

mapa de quantidades de trabalho, dividido nos principais<br />

capítulos constituintes das instalações e equipamentos,<br />

de forma a permitir a elaboração da estimativa do custo<br />

preliminar da obra.<br />

g) Justificação dos níveis de conforto luminotécnico, de<br />

segurança e outros, bem como de produção e consumo<br />

de energia eléctrica que suportem a solução proposta;<br />

h) Verificação do cumprimento das regulamentações<br />

técnicas aplicáveis.<br />

- Projecto de Execução<br />

a) Memória descritiva e justificativa, incluindo a análise<br />

prospectiva de desempenhos, descrevendo e<br />

justificando as soluções projectadas, tendo em atenção o<br />

Anteprojecto aprovado e as disposições legais em vigor.<br />

b) Condições técnicas, gerais e especiais, especificando as<br />

condições de execução ou montagem e as características<br />

técnicas das instalações e equipamentos previstos.<br />

c) Planta geral dos locais servidos pelas instalações e<br />

equipamentos, em escala apropriada, quando não<br />

definida em regulamento aplicável, contendo os<br />

elementos de referência e de orientação necessários à<br />

fácil localização das instalações e equipamentos.<br />

d) Plantas em escala apropriada, quando não definida em<br />

regulamento aplicável, com o traçado e constituição das<br />

redes e localização dos equipamentos, com a indicação<br />

dos elementos indispensáveis à sua conveniente<br />

apreciação.<br />

e) Alçados e cortes dos edifícios ou partes dos edifícios,<br />

sempre que isso seja necessário à boa compreensão do<br />

projecto, a escala apropriada, quando não definida em<br />

regulamento aplicável.<br />

f) Pormenores necessários à definição detalhada e boa<br />

execução das instalações e equipamentos projectados, a<br />

escalas apropriadas quando não definidas em<br />

regulamento aplicável.<br />

42


ARTIGO TÉCNICO<br />

g) Esquemas de princípio das instalações e da sua<br />

interligação espacial e funcional, quando necessárias à<br />

sua perfeita compreensão.<br />

h) Dimensionamento das instalações e dos equipamentos,<br />

incluindo os cálculos necessários para o efeito.<br />

i) Medições e mapas de quantidade de trabalhos, divididos<br />

nos diversos capítulos constituintes da obra.<br />

j) Orçamento de projecto da obra.<br />

Além das fases enunciadas, há uma outra não menos<br />

importante que é a Assistência Técnica, prestada e solicitada<br />

pelo Projectista ao Dono da Obra. Esta é requerida antes e<br />

durante a execução da obra:<br />

1- Na fase do procedimento de formação do contrato, e até<br />

à adjudicação da obra, a Assistência técnica do<br />

Projectista ao Dono da Obra compreende as actividades<br />

seguintes:<br />

a) Esclarecimento de dúvidas relativas ao projecto<br />

durante a preparação do processo do concurso para<br />

adjudicação da empreitada ou fornecimento;<br />

b) Prestação de informações e esclarecimentos<br />

solicitados por candidatos a concorrentes, sob a<br />

forma escrita e exclusivamente por intermédio do<br />

Dono da Obra, sobre problemas relativos à<br />

interpretação das peças escritas e desenhadas do<br />

projecto;<br />

c) Prestação do apoio ao Dono da Obra na apreciação e<br />

comparação das condições da qualidade das soluções<br />

técnicas das propostas de molde a permitir a sua<br />

correcta ponderação por aquele, incluindo a<br />

apreciação de compatibilidade com o projecto de<br />

execução, constante do caderno de encargos, de<br />

variantes ou alterações que sejam apresentadas;<br />

2- Durante a execução da obra, a assistência técnica<br />

compreende:<br />

a) Esclarecimento de dúvidas de interpretação de<br />

informações complementares relativas a<br />

ambiguidades ou omissões do projecto, bem como<br />

elaboração das peças de alteração do projecto<br />

necessárias à respectiva correcção e à integral e<br />

correcta caracterização dos trabalhos a executar no<br />

âmbito da referida correcção;<br />

b) Apreciação de documentos de ordem técnica<br />

apresentados pelo empreiteiro ou Dono da Obra,<br />

incluindo, quando apropriado, a sua compatibilidade<br />

com o projecto;<br />

c) Proceder, concluída a execução da obra, à<br />

elaboração das Telas Finais a ela respeitantes,<br />

verificando a conformidade das mesmas com o<br />

projecto de execução e das eventuais alterações nele<br />

introduzidas, de acordo com as informações<br />

fornecidas pelo Dono da Obra.<br />

5 ELABORAÇÃO DO PROJECTO DE LICENCIAMENTO<br />

O projecto de licenciamento é um documento técnico<br />

destinado a instruir um pedido de licença de<br />

estabelecimento de uma instalação eléctrica, por ex. uma<br />

linha aérea de alta tensão com mais de 1000 m de extensão,<br />

ou a fazer parte, na qualidade de projecto de engenharia de<br />

especialidade, de um projecto de arquitectura de uma obra<br />

que careça de licença municipal de construção, como por ex.<br />

um prédio de habitações e escritórios.<br />

O projecto pode ainda ser de obra que não careça de licença<br />

municipal 1 ou de estabelecimento 2 . De todos os modos é<br />

um documento apresentado a aprovação.<br />

Daí a sua constituição ser objecto de legislação específica<br />

pois tratando-se de um documento a ser sujeito a apreciação<br />

técnica e à análise da observância do disposto nos<br />

Regulamentos de Segurança aplicáveis a sua forma necessita<br />

ser adequada à transmissão da informação requerida e<br />

organizada de tal maneira que a consulta seja fácil,<br />

elucidativa,tanto quanto possível exaustiva e inequívoca.<br />

A estrutura básica do projecto é composta de uma parte<br />

preliminar e de um corpo, constituído este por uma parte<br />

textual e uma outra de desenhos.<br />

1<br />

As obras que não carecem de concessão de licença administrativa, passada pela Câmara Municipal respectiva, são as referidas no DL nº 555,<br />

Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, art. 6º, com as alterações introduzidas pelo DL n.º 177/2001, de 4/06 e Lei n.º 60/2007, de 04/09<br />

2<br />

As instalações eléctricas que não carecem de licença de estabelecimento são as referidas nos arts. 9º, 27º e 28º do DL nº 26 852, de 30 de<br />

Julho de 1936, com as alterações introduzidas pelos DL nº 446/76, de 05/06 e DL nº 101/2007, de 02/04<br />

43


ARTIGO TÉCNICO<br />

À parte textual dá-se o nome de Peças Escritas e ao conjunto<br />

de desenhos, plantas, alçados, cortes, perfis, diagramas,<br />

outras representações gráficas o de Peças Desenhadas.<br />

- Corpo do Projecto<br />

Como partes em que o projecto se divide podemos<br />

considerar as seguintes:<br />

- Memória descritiva e justificativa<br />

- Caderno de encargos<br />

- Medições e orçamento<br />

- Peças desenhadas<br />

observância dos regulamentos em vigor e às regras inerentes<br />

à boa técnica de execução dos diversos trabalhos.<br />

Especiais - Definição de modo exaustivo e tão completo<br />

quanto possível de todos os componentes da instalação e<br />

dos trabalhos relativos à sua implantação.<br />

- Medições e Orçamento<br />

Determinação, com o rigor possível, das quantidades dos<br />

materiais a empregar e dos trabalhos a realizar e atribuição<br />

dos valores correspondentes à instalação de cada unidade de<br />

material e execução de cada espécie de trabalho.<br />

- Memória Descritiva e Justificativa<br />

A memória descritiva e justificativa do projecto deve conter<br />

todos os elementos e esclarecimentos necessários para<br />

darem uma ideia perfeita da natureza, importância, função e<br />

características das instalações e do equipamento.<br />

- Caderno de Encargos (CE)<br />

- Peças Desenhadas<br />

Conjunto de esquemas eléctricos e outros desenhos relativos<br />

à obra em questão feitos a escalas convenientes e<br />

permitindo a perfeita compreensão dos pormenores,<br />

estabelecimento e localização da instalação.<br />

No entanto, a forma final a dar ao Projecto de Licenciamento<br />

não necessita ter todos estes componentes, pelo menos ao<br />

seu nível mais pormenorizado.<br />

CE<br />

<br />

Condições Jurídicas e administrativas<br />

6 CONCLUSÕES<br />

Gerais<br />

Condições Técnicas<br />

Especiais<br />

Condições Jurídicas e Administrativas - Condições que a<br />

entidade compradora, o Adjudicante, formaliza à entidade<br />

fornecedora, o Adjudicatário, relativa a aspectos tais como<br />

cauções, garantias, obrigações, prazos, facturação e<br />

condições de pagamento, seguros, cessões, incumprimentos<br />

e penalidades.<br />

Condições Técnicas:<br />

Gerais - Referência ao objecto e extensão da empreitada,<br />

contemplando o fornecimento e montagem de todos os<br />

materiais e equipamentos eléctricos, e às condições que<br />

devem reger as tarefas a realizar no que diz respeito à<br />

A existência de um projecto, deve conferir, por si só, uma<br />

garantia de qualidade, segurança e funcionalidade das<br />

instalações, assim como a diminuição dos custos de<br />

execução e exploração das mesmas, uma vez que o técnico<br />

tem de ter a consciência de que o exercício da sua profissão<br />

o obriga não só a cumprir a lei, o preceituado nos<br />

Regulamentos de Segurança, como também, dominar o<br />

estado da arte no âmbito das Instalações Eléctricas.<br />

O projecto é uma actividade complexa e exigente pela<br />

diversidade das suas áreas e número de intervenientes no<br />

mesmo.<br />

As Instruções para a Elaboração de Projectos de Obras,<br />

anexas à portaria nº 701-H/2008, de 29 de Julho, ao<br />

sistematizarem a sua abordagem introduziram no processo<br />

um mecanismo de regulação que constitui uma mais-valia<br />

sensível para a actividade de projectista.<br />

44


ARTIGO TÉCNICO<br />

Arlindo Francisco, Hugo Miguel Sousa, Teresa Alexandra F. M. Pinto Nogueira<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

TÉCNICAS DE MANUTENÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA<br />

RESUMO<br />

A manutenção das linhas de transporte e distribuição de<br />

energia eléctrica é um serviço fundamental prestado pelas<br />

empresas de transporte e distribuição. A aplicação de<br />

técnicas eficientes na actividade de manutenção das linhas,<br />

define a qualidade de serviço prestado pelas empresas.<br />

Indicadores como o tempo e número de intervenções para<br />

restabelecer as condições normais de funcionamento, são<br />

reveladores da qualidade de serviço prestado por essas<br />

empresas que, no caso de incumprimento das regras<br />

estabelecidas no Regulamento da Qualidade de Serviço,<br />

podem implicar em elevados prejuízos.<br />

A disponibilidade de informação apropriada ao pessoal<br />

técnico torna-se essencial e contribui para uma maior<br />

eficácia dos serviços de manutenção, tanto ao nível da<br />

manutençãocorrectiva como na manutenção preventiva.<br />

Este trabalho descreve a aplicação de duas técnicas<br />

modernas na manutenção das linhas eléctricas que, além de<br />

incrementarem a segurança e a fiabilidade do sistema<br />

eléctrico, garantem uma melhoria dos dados quantitativos<br />

fornecidosàs equipas de manutenção.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A segurança e fiabilidade do sistema eléctrico estão<br />

fortemente relacionadas com o bom funcionamento das<br />

linhas de transmissão.<br />

Enquanto as centrais de produção, subestações primárias e<br />

de distribuição possuem controlo e monitorização com<br />

tecnologias avançadas, como sistemas computadorizados e<br />

SCADA (Supervisory Control And Data Acquisition), a<br />

protecção principal e as informações para manutenção das<br />

linhas de transmissão são baseadas nos dados fornecidos por<br />

relés ou oscilógrafos.<br />

Apesar de estes dispositivos serem extremamente fiáveis e<br />

eficientes no âmbito da protecção, os relés apenas fornecem<br />

informações qualitativas, e dificilmente fornecem<br />

informações quantitativas relevantes para a execução dos<br />

trabalhos de manutenção. Os dados fornecidos por<br />

oscilógrafos dependem de complexas análises que podem<br />

levar horas ou mesmo dias, e geralmente não possuem a<br />

precisão adequada para as equipas de campo.<br />

Assim sendo, para a melhoria da segurança e o aumento da<br />

fiabilidade do sistema eléctrico, é imprescindível o<br />

desenvolvimento de soluções que melhorem os dados<br />

quantitativos fornecidos às equipas de manutenção, tanto<br />

correctiva como preventiva. Este trabalho apresenta e<br />

analisa os benefícios de duas técnicas modernas de<br />

manutenção em linhas de transmissão que vêm ao encontro<br />

das necessidades expostas.<br />

A primeira técnica descrita, aplicada nos serviços de<br />

manutenção correctiva, é a localização de falhas em linhas<br />

transmissão através do princípio das ondas viajantes.<br />

Trata-se de uma configuração simples, capaz de localizar<br />

defeitos fase-terra e identificar as secções afectadas com<br />

grande precisão e rapidez, trazendo assim informação<br />

preciosa para os serviços de manutenção correctiva.<br />

A segunda tecnologia apresentada é a detecção de corrosão<br />

nos condutores em linhas de transmissão aéreas, com<br />

aplicação nas actividades de manutenção preventiva. O<br />

sistema pode funcionar com a linha activa e efectua o<br />

diagnóstico das condições de corrosão dos cabos<br />

condutores, incluindo as partes internas, permitindo desta<br />

forma que as equipas de manutenção actuem<br />

preventivamente evitando acidentes e a interrupção do<br />

fornecimento de energia. Esta técnica tem uma aplicação<br />

intensiva em ambientes agressivos como zonas litorais ou<br />

com incidência de chuva ácida (zonas industriais).<br />

2 LOCALIZADOR DE DEFEITOS POR ONDAS VIAJANTES<br />

2.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO<br />

Na ocorrência duma falha numa linha de transmissão radial,<br />

surge um surto de corrente induzindo ondas<br />

electromagnéticas que se propagam nas três fases por toda<br />

extensão da linha.<br />

45


ARTIGO TÉCNICO<br />

A localização do ponto de defeito consiste em detectar a<br />

diferença de tempo que essas ondas viajantes levam para<br />

chegar aos seus extremos.<br />

Este princípio está representado na figura 1.<br />

a) TIPOS DE CASAS INTELIGENTES<br />

De facto, há problemas com a conceptualização da “casa<br />

inteligente”! Parece haver pouca concordância sobre como<br />

uma casa inteligente deve ser e sobre que tecnologias ela<br />

deve incorporar.<br />

e antecipando as acções a tomar (“the aware home”).<br />

b) AS FUNÇÕES DA CASA INTELIGENTE<br />

Actualmente as habitações podem estar equipadas com<br />

sistemas que associam diversas funcionalidades nas áreas de<br />

segurança, conforto, gestão de energia e comunicações.<br />

Funcionalidades principais: detecção de incêndio, intrusão,<br />

fuga de água ou gás, avisos, comandos e controlo remotos,<br />

“Anything,Anytime, Anywere”.<br />

As capacidades da domótica podem ser um auxiliar precioso<br />

para contornar as dificuldades temporárias ou permanentes,<br />

físicas ou mentais do ser humano. Além disso, estes sistemas<br />

permitem facilitar as tarefas a idosos que assim vêem<br />

minimizados algumas limitações a que estão expostos.<br />

Figura 1 – Principio das ondas viajantes<br />

O comprimento da linha L e a velocidade de propagação do<br />

surto v fazem parte dos aspectos construtivos da linha, são<br />

valores conhecidos. Medindo a diferença de tempo entre a<br />

chegada das ondas aos pontos A (início da linha) e B (final da<br />

linha) é possível calcular a localização exacta da falha,<br />

através do cálculo do valor de X:<br />

(1)<br />

2.2 LOCALIZAÇÃO POR SISTEMA GPS<br />

Um localizador de defeitos por ondas viajantes basicamente<br />

é composto por um ou mais pares de estações locais,<br />

sensores de campo magnético e antenas GPS (Global<br />

Positioning System) ligados entre si e com a estação<br />

principal, conforme mostra a fig. 2.<br />

46<br />

Figura 2 – Visão geral de um localizador de defeitos por ondas<br />

viajantes<br />

Pela análise da equação (1), concluímos que a precisão da<br />

medida de tempo está directamente relacionada com a<br />

localização exacta da falha. Por isso, os sistemas de<br />

localização de defeitos por ondas viajantes utilizam as<br />

informações de tempo dos satélites do GPS para manter a<br />

precisão necessária dos seus contadores e sincronizar os<br />

relógios das estações locais.<br />

Assim, cada estação local de um sistema localizador de<br />

defeitos por ondas viajantes recebe dados dos satélites para<br />

a sincronização dos seus contadores, através de uma antena<br />

e receptor GPS. Ao utilizar o GPS é possível manter uma<br />

contagem de tempo de alta definição com imprecisão menor<br />

que 1μs, permitindo uma localização de defeitos com<br />

incerteza menor que 300 metros, mesmo em linhas com<br />

compensação série.


ARTIGO TÉCNICO<br />

Também na estação local, um processador de sinais recebe<br />

as informações dos sensores de campo magnético instalados<br />

nas fases. Na ocorrência de uma falha, armazena-se o valor<br />

dos contadores e envia-se um sinal de informação para a<br />

estação principal.<br />

Nesse momento, a estação principal confirma o sinal de<br />

informação da estação local e armazena os dados do surto,<br />

com os quais o software de análise fará o cálculo da<br />

distância. Este software de análise também deve ter em<br />

consideração as deformações da onda de surto durante a sua<br />

propagação para melhorar a precisão do cálculo.<br />

Para isso, é comum que se execute um processo de<br />

compensação dessa distorção que é baseado na correcção da<br />

forma de onda do surto recebida das estações locais.<br />

No final do processo, a estação principal indica a distância e<br />

o ponto de referência mais próximo do defeito, bem como a<br />

oscilografia da corrente de sequência zero da falha, através<br />

da qual é possível identificar o tipo de defeito.<br />

3 DETECTOR DE CORROSÃO EM CABOS CONDUTORES<br />

3.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO<br />

O funcionamento do detector de corrosão em cabos<br />

condutores é relativamente simples, baseando-se no<br />

princípio das correntes de Foucault e numa ponte de<br />

indutâncias.<br />

As correntes de Foucault são um fenómeno eléctrico que<br />

ocorre quando um campo magnético variável intercepta um<br />

material condutor fixo ou vice-versa. O movimento relativo<br />

causa uma corrente de circulação no condutor, que segundo<br />

a Lei de Lenz gera um campo magnético que se opõe ao<br />

efeito do campo aplicado. Quanto maior for a condutividade<br />

do condutor, mais forte for o campo magnético aplicado ou<br />

mais rápido for o movimento relativo, maior será a corrente<br />

gerada e consequentemente maior o campo que se opõe.<br />

Conforme mostra o esquema da figura 3, ao aplicar um<br />

campo magnético paralelo ao condutor que possui uma<br />

velocidade v conhecida, é gerada uma corrente de Foucault<br />

marginal ao condutor, que induz um campo magnético<br />

oposto ao aplicado e que pode ser medido utilizando uma<br />

bobina activa Z’.<br />

Figura 3 – Princípio de funcionamento do detector de corrosão<br />

As bobines Z e Z’ estão interligadas em forma de ponte de<br />

indutâncias como mostra a figura 3, na bobine Z é colocada<br />

uma amostra do cabo original funcionando esta como<br />

referência.<br />

Aos terminais da ponte surge uma tensão de<br />

desbalanceamento cujo a magnitude dessa tensão é<br />

directamente proporcional à secção do cabo condutor<br />

avaliado, já que quanto pior o estado de corrosão do<br />

mesmo, menor será sua condutividade. Consequentemente,<br />

menor será a corrente Foucault e maior será a tensão de<br />

desbalanceamento nos terminais da ponte de indutâncias.<br />

Numa situação em que o cabo se encontre em estado de<br />

corrosão é ainda possível avaliar qual a tensão mecânica que<br />

o condutor pode suportar. Para tal é incorporada uma<br />

câmara com sensor CCD (charged coupled device) que faz o<br />

registo da imagem para que seja avaliada pelo conjunto dos<br />

dados guardados no sistema.<br />

Através de uma recta ajustada de forma empírica, a qual<br />

depende apenas do material usado (aço ou alumínio),<br />

obtém-se a percentagem remanescente da secção original<br />

do cabo. Com este dado definido, consegue-se estimar<br />

também através de forma empírica a tensão mecânica<br />

máxima suportável pelo cabo.<br />

O procedimento de avaliação das condições do condutor é<br />

mostrado na figura 4.<br />

3.2 IMPLEMENTAÇÃO UTILIZANDO UM CARRINHO DE LINHA VIVA<br />

Para executar a inspecção da linha de transmissão, o circuito<br />

mostrado na figura 3 é montando sobre um carrinho de linha<br />

activa, que pode utilizar tanto auto propulsão como ser<br />

47


ARTIGO TÉCNICO<br />

Figura 4 – Procedimento para estimar quantitativamente o estado<br />

de corrosão de um condutor<br />

deslocado por um técnico devidamente treinado para o<br />

serviço em linha activa. As bobines são implementadas<br />

através de acopladores indutivos do tipo bipartido que<br />

suportam bitolas entre 160 e 810 mm 2 .<br />

Além disso, a câmara CCD é posicionada próxima da bobine<br />

activa para registar visualmente as condições do condutor.<br />

Os detalhes do sistema podem ser vistos na figura 5.<br />

O peso do equipamento é de 50 kg e a velocidade<br />

aproximada de 10 m/min, sendo o ângulo máximo de<br />

catenária suportado de 20º.<br />

Na versão com auto-propulsão, são adicionados 20 kg devido<br />

às baterias que conseguem realizar até 1000 m de inspecção<br />

sem recarregar.<br />

Após percorrer a linha, o equipamento emite um relatório<br />

completo e referenciado com as condições do condutor, que<br />

associado às gravações da câmara CCD, identifica as secções<br />

críticas dos condutores. Para cabos ACSR é possível,<br />

inclusive, detectar separadamente a condição dos fios de<br />

alumínio e dos fios de aço que compõem o mesmo.<br />

Um exemplo deste relatório pode ser visto na figura 6.<br />

Figura 5 – Detalhes construtivos do sistema detector de corrosão<br />

48<br />

Figura 6 – Informações fornecidas pelo sistema detector de corrosão


ARTIGO TÉCNICO<br />

4 APLICAÇÕES NO ÂMBITO DA MANUTENÇÃO<br />

4.1 MANUTENÇÃO CORRECTIVA<br />

As aplicações no âmbito da manutenção correctiva do<br />

localizador de defeitos por ondas viajantes são imediatas.<br />

Com uma configuração simples o sistema é capaz de localizar<br />

curto-circuitos defeitos fase-terra e identificar as secções<br />

afectadas com grande precisão e rapidez. Com uma incerteza<br />

menor que 300 metros, o defeito fica restrito a dois vãos na<br />

maior parte das linhas de transmissão existentes.<br />

Isso significa que a fonte do defeito pode ser localizada com<br />

maior rapidez, muitas vezes numa simples inspecção visual a<br />

partir do solo. Essa informação mais precisa facilita o<br />

trabalho das equipas de campo, principalmente em áreas<br />

sujeitas a alagamento, regiões montanhosas ou de selva, já<br />

que é possível identificar antes mesmo da saída das equipas<br />

para o campo o melhor local de acesso ao ponto de defeito.<br />

Além de auxiliar na localização dum ponto de defeito que<br />

causou o desligamento da linha, o sistema também pode<br />

identificar fontes de defeitos intermitentes. Como as ondas<br />

viajantes são geradas sempre que há um transitório na linha,<br />

ocorrências de difícil localização como defeitos fase-terra<br />

causados por falhas em isoladores, presença de vegetação<br />

ou excrementos de pássaros podem ser restritas a uma área<br />

delimitada e estudada detalhadamente em menor tempo,<br />

gerando economia de tempo e recursos para as<br />

concessionárias.<br />

4.2 MANUTENÇÃO PREVENTIVA<br />

O detector de corrosão em cabos condutores tem aplicação<br />

voltada para a manutenção preventiva. Ao realizar uma<br />

inspecção aos condutores, é possível obter informações<br />

valiosas sobre o estado de conservação dos cabos.<br />

Através dos dados fornecidos pelo equipamento, como<br />

secção de condutor remanescente e tensão mecânica<br />

suportável, torna-se relativamente fácil recalcular a carga<br />

máxima do sistema. Desta forma, através da restrição<br />

temporária da corrente máxima da linha para valores abaixo<br />

do nominal, evita-se um possível rompimento do condutor e<br />

os enormes transtornos que uma ocorrência deste tipo pode<br />

trazer. Também permite que as equipas de manutenção<br />

tenham tempo hábil para se preparar e mobilizar recursos<br />

para resolver o problema da maneira mais eficiente possível.<br />

Além disso, ao identificar secções específicas da linha com<br />

alto índice de corrosão mas sem perigo de rompimento,<br />

torna-se possível abordar o problema de forma preditiva,<br />

estudando soluções como substituição dos condutores por<br />

cabos resistentes à corrosão ou aplicação de produtos anticorrosão<br />

em novos cabos do mesmo tipo, de forma a realizar<br />

uma intervenção programada no sistema para a solução do<br />

problema.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

A localização de defeitos por ondas viajantes e a detecção de<br />

corrosão são duas técnicas que pretendem disponibilizar<br />

informações quantitativas às equipas de manutenção.<br />

Apesar de os seus princípios já serem conhecidos há muito<br />

tempo, apenas recentemente, através do desenvolvimento<br />

de novos materiais e uso de sistemas modernos como o GPS,<br />

foi possível desenvolver equipamentos que gerassem<br />

informações precisas sobre defeitos que ocorrem numa linha<br />

de transmissão.<br />

O resultado é imediato na área de manutenção, já que uma<br />

localização precisa de defeitos traz uma maior eficácia,<br />

reduzindo o tempo no deslocamento da equipa e na<br />

identificação do defeito, permitindo a identificação de fontes<br />

intermitentes, um maior tempo para a solução do problema<br />

e a programação na realização dos serviços.<br />

Isso traz benefícios directos tanto para as concessionárias<br />

como para as populações, já que a energia não distribuída<br />

engloba duas parcelas: o lucro cessante, que é o prejuízo da<br />

companhia pela energia não facturada e o custo social, o que<br />

a sociedade em geral perde quando há falta de energia.<br />

Apesar de em Portugal não existir um estudo relacionado<br />

com as quebras de energia, em países como o Brasil alguns<br />

estudos apontam que o custo social é da ordem de 35 a 50<br />

vezes o preço médio do kWh facturado, para regiões menos<br />

industrializadas, e de 50 a 100 vezes, para regiões mais<br />

industrializadas.<br />

49


ARTIGO TÉCNICO<br />

Por isso, embora os equipamentos tradicionais se<br />

demonstrem eficazes no âmbito da protecção, torna-se<br />

necessária a aplicação de novas técnicas e equipamentos<br />

para disponibilizar informações quantitativas às equipas de<br />

manutenção, de forma a manter um sistema eléctrico seguro<br />

e confiável.<br />

Bibliografia<br />

[1] Regulamento da Qualidade de Serviço, ERSE – Entidade<br />

Reguladora dos Serviços Energéticos,Março 2006<br />

[2] Motta, S. e Colosimo, E., Impactos da Manutenção e dos<br />

Custos da não Confiabilidade de Equipamentos sobre as<br />

Receitas de Serviços de Transmissão de Energia Eléctrica.<br />

Anais do XVII SNPTEE - Seminário Nacional de Produção e<br />

Transmissão de Energia Eléctrica<br />

[3] Relatório do Comitê Nacional Brasileiro nº B2 da CIGRÉ –<br />

Conference Internationale dês Grands Réseaux<br />

Electrique a Haute Tension, Belo Horizonte, Outubro<br />

2003<br />

[4] REN – Rede Energética Nacional, disponível em<br />

www.ren.pt<br />

[5] Esmo - 95 Proceedings, The Seventh International<br />

Conference on Transmission and Distribution<br />

Construction and Live Line Maintenance, October 29-<br />

November 3, International Conference on Transmission<br />

and Distribution Construction and Live Line<br />

Maintenance,1995, Ohio<br />

[6] Documento técnico elaborado pelo Departamento de<br />

Gestão e Economia da Universidade da Madeira<br />

publicado em:<br />

http://www.uma.pt/sbudria/Blackout_project_Jan09.pdf<br />

Imagem adaptada de: www.siemens.com<br />

50


ARTIGO TÉCNICO<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva; António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

QUEDAS DE TENSÃO<br />

EM INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS DE BAIXA TENSÃO<br />

1 ENQUADRAMENTO<br />

Numa instalação eléctrica, por motivos técnicos e funcionais,<br />

a tensão aplicada aos terminais das cargas, isto é, dos<br />

equipamentos de utilização, deve manter-se dentro de<br />

determinados limites.<br />

Cada equipamento possui uma tensão estipulada, fixada pela<br />

norma respectiva. A aplicação de tensões abaixo dos limites<br />

definidos, pode prejudicar o desempenho desses<br />

equipamentos, podendo reduzir a sua vida útil ou mesmo<br />

impedir o seu funcionamento.<br />

As quedas de tensão nas instalações devem ser calculadas<br />

durante a fase de projecto, devendo ser cumpridos os limites<br />

máximos fixados pelos respectivos regulamentos aplicáveis.<br />

2 QUEDA DE TENSÃO<br />

- Apenas se levam em conta as impedâncias longitudinais,<br />

resistências e indutâncias, desprezando-se as<br />

admitâncias transversais, perditâncias e capacitâncias.<br />

Em instalações de Baixa Tensão, o comprimento das<br />

canalizações não vai além das poucas centenas de<br />

metros e sendo a frequência utilizada a frequência<br />

industrial de 50Hz é possível desprezar, para as mais<br />

baixas secções, os efeitos da indutância, capacitância e<br />

pelicular, considerando-se assim os condutores como<br />

resistências puramente hómicas. Daí termos:<br />

Z = R + jX ≅ R Y = G + JB ≅ 0<br />

L<br />

- Tomar-se-á uma temperatura do condutor igual à<br />

máxima admissível em regime permanente.<br />

Para o receptor da Fig. 1, a queda de tensão que importa<br />

observar é a diferença entre os valores absolutos das<br />

tensões à partida e à chegada, isto é,<br />

c<br />

Na dedução de uma fórmula aplicável à determinação da<br />

queda de tensão num circuito ter-se-ão em conta os<br />

seguintes pontos:<br />

- Consideram-se sistemas trifásicos em regime<br />

equilibrado;<br />

U 0 − U 1<br />

Da figura 1 depreende-se que, atendendo à desigualdade<br />

triangular, a diferença entre as leituras dos voltímetros V0 e<br />

V1 há-de ser menor que a indicação do voltímetro Vz. Daí<br />

que esta tensão não nos interesse muito para o objectivo em<br />

vista, isto é, o do dimensionamento do cabo.<br />

V<br />

R<br />

jω<br />

L<br />

I −<br />

V<br />

V − V −<br />

0<br />

1<br />

V<br />

Fig. 1 – Circuito monofásico RL<br />

51


ARTIGO TÉCNICO<br />

Assim:<br />

− − − −<br />

− jϕ<br />

V = ( R + jX ) I + V I = Ie = I cosϕ<br />

− jIsenϕ<br />

−<br />

0 1<br />

V = RI cosϕ − jRIsenϕ + jXI cosϕ + XIsenϕ<br />

+ V<br />

−<br />

0 1<br />

V = ( RI cosϕ + XIsen ϕ + V ) + j( XI cosϕ − RIsen ϕ)<br />

0 1<br />

V − R I − jX I −<br />

q<br />

V −<br />

f<br />

1<br />

I −<br />

0<br />

− −<br />

Z I<br />

f<br />

d<br />

f<br />

V = V cosθ<br />

− ZI cosδ<br />

1 0<br />

ZI<br />

⎛ ZI ⎞<br />

senθ = senδ cosθ = 1− ⎜ senδ<br />

⎟<br />

V0 ⎝ V0<br />

⎠<br />

2<br />

⎛ Z I ⎞<br />

V1 = V0<br />

1− ⎜ senδ<br />

⎟ − ZI cosδ<br />

⎝ V0<br />

⎠<br />

2<br />

k<br />

Aplicando o teorema de Taylor ao desenvolvimento da raiz, resulta que:<br />

1 1 1 5<br />

2 8 16 128<br />

2 3 4<br />

1+ k = 1 + k − k + k − k + ... k < 1<br />

2 4 6 8<br />

( ZIsen δ ) ( ZIsen δ ) ( ZIsen δ ) 5 × ( ZIsen δ )<br />

V − V = ZI cos δ + + + + + ...<br />

0 1 3 5 7<br />

2V 0<br />

8V 0<br />

16V 0<br />

128V<br />

0<br />

( XI − RI ) ( XI − RI ) ( XI − RI ) 5 × ( XI − RI )<br />

V − V = RI + XI + + + + + ...<br />

2 4 6 8<br />

a r a r a r a r<br />

0 1 a r<br />

3 5 7<br />

2V 0<br />

8V 0<br />

16V 0<br />

128V<br />

0<br />

ε<br />

Com Ia = Icosφ e Ir = Isenφ<br />

V − R I − jX I −<br />

0<br />

− −<br />

Z I<br />

V −<br />

1<br />

I −<br />

RI cosϕ XIsenϕ<br />

52


ARTIGO TÉCNICO<br />

Para correntes em atraso relativamente à tensão, ϕ<br />

positivos, e tendo em consideração que a queda de tensão<br />

máxima terá um valor pequeno, imposto pelos regulamentos<br />

técnicos, os termos não-lineares de I são desprezáveis face<br />

aos termos lineares.<br />

Quando a corrente se encontra em avanço nada se pode<br />

dizer acerca da transcurabilidade dessas parcelas.<br />

Exemplo:<br />

Pretende-se calcular a queda de tensão no extremo de um<br />

cabo trifásico do tipo VV, 4 mm 2 de secção, comprimento 80<br />

m, percorrido por uma corrente de 30 A, tensão de<br />

alimentação 400 V e as características do cabo, indicadas na<br />

tabela 1.<br />

A tabela 2, apresenta os resultados (análise monofásica)<br />

obtidos.<br />

Como se observa pelo quadro de resultados a fórmula<br />

∆V = RIa+XIr<br />

dá-nos valores bastante aproximados, fixando já os dois<br />

primeiros algarismos significativos.<br />

Para um resultado mais correcto pode usar-se a fórmula .<br />

ΔV=RI +XI +<br />

a<br />

r<br />

( XI -RI ) 2<br />

a<br />

2V<br />

0<br />

r<br />

A expressão ∆V = RIa, apesar da sua simplicidade, pode<br />

empregar-se com vantagem em muitos casos,<br />

particularmente na BT e para secções de cabos<br />

suficientemente baixas, por permitir relacionar directamente<br />

a queda de tensão máxima com a secção do cabo a atribuir.<br />

Tab. 1 – Características do cabo<br />

Tipo<br />

Secção<br />

mm 2<br />

Comprimento<br />

m<br />

Resistividade<br />

a 20°C<br />

Ωmm 2 /m<br />

Resistência<br />

Coeficiente<br />

°C -1 Ω<br />

temperatura a 20°C<br />

Resistência a<br />

70°C<br />

Ω<br />

Reactância<br />

Ω<br />

VV 4 80 17,241.10 -3 3,93.10 -3 0,3448 0,41257 6,4.10 -3<br />

Tab. 2 – Resultados do exemplo<br />

V 0<br />

(V)<br />

V 1<br />

(V)<br />

∆V (real)<br />

(V)<br />

%<br />

RI a<br />

(V)<br />

%<br />

∆V (aproximação)<br />

RI a +XI r<br />

(V)<br />

%<br />

(V)<br />

%<br />

230 219,867 10,132 4,4 9,902 4,305 10,017 4,35 10,132 4,4<br />

53


ARTIGO TÉCNICO<br />

A expressão aproximada ∆V = RIa+XIr pode ser reescrita de<br />

A partir da expressão<br />

∆ = +<br />

ϕ ϕ<br />

modo a contemplar quer a situação da sua aplicação a um V RIcos<br />

XIsen<br />

I −<br />

circuito trifásico, quer a um circuito monofásico, quer = rLIcosϕ<br />

+ xLIsenϕ<br />

mesmo ao caso de um circuito de corrente contínua.<br />

= rMf<br />

+ xMq<br />

⎛ L<br />

⎞<br />

define-se a queda de tensão como a soma do produto do<br />

∆ V = b× ⎜ ρ1 × × cosϕ + λ × L× senϕ<br />

⎟×<br />

Ib<br />

⎝ S<br />

⎠<br />

momento da componente em fase da corrente pela<br />

resistência linear com o produto do momento da<br />

Onde:<br />

componente em quadratura da mesma corrente pela<br />

∆ V queda de tensão em V;<br />

reactância linear do cabo.<br />

B coeficiente igual a 1 para circuitos trifásicos e a 2 para<br />

monofásicos ou de corrente contínua;<br />

Mf<br />

= LIcosϕ<br />

ρ1 resistividade eléctrica dos condutores em serviço Mq<br />

= LIsenϕ<br />

normal, em Ωmm2/m;<br />

L comprimento simples da canalização, em m;<br />

Donde:<br />

S secção recta dos condutores, em mm2;<br />

ϕ ângulo de esfasamento entre a tensão simples ∆ V = ∆ Vf + ∆ Vq = ∆ Va + ∆Vr<br />

respectiva e a corrente (para corrente contínua = 0) ∆ Va<br />

= RIcosϕ<br />

= RIa<br />

λ reactância linear dos condutores (igual a 0 para ∆ Vr<br />

= XIsenϕ<br />

= XIr<br />

circuitos de corrente contínua), em Ω/m;<br />

Ib corrente de serviço, em A.<br />

Por aplicação do método da sobreposição é possível<br />

decompormos a obtenção da queda de tensão mediante a<br />

A queda de tensão percentual virá referida à tensão nominal<br />

resolução de dois circuitos:<br />

do sistema:<br />

∆V<br />

∆ Vr<br />

= × 100%<br />

U<br />

U = U0, tensão simples em CA ou U = UN<br />

,em CC<br />

∆ Va = rMf = RIa<br />

3 × ∆V<br />

∆ Vr<br />

= × 100%<br />

U<br />

U = Uc<br />

, tensão composta em CA<br />

Para a situação comum de uma linha alimentando uma carga<br />

na sua extremidade:<br />

∆ Vr = xMq = XIr<br />

54<br />

L


ARTIGO TÉCNICO<br />

- Características da Impedância de um Cabo<br />

A resistência e a reactânciade um cabo são função da secção do condutor - R=R(S) e X=X(S).<br />

Daí que sendo:<br />

∆V= ∆ V(R,X) ∆ V= ∆ V(S)<br />

(para uma dada corrente)<br />

l<br />

R = ρ θ = const.<br />

s<br />

Andamento hiperbólico<br />

X - praticamente constante (para um dado tipo de<br />

canalização)<br />

A figura abaixo apresenta a variação da resistência e reactância com a secção para o cabo VAV 0,6/1 kV, 4 condutores, a uma<br />

temperaturade cerca de 80° C. Impedâncias em mΩ/m e secções em mm 2 .<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300<br />

Fig. 2 – variação da resistência e reactância com a secção para o cabo VAV 0,6/1 kV, 4 condutores, a uma temperatura de cerca de 80° C<br />

55


ARTIGO TÉCNICO<br />

3. QUEDAS DE TENSÃO MÁXIMAS ADMISSÍVEIS<br />

3.1 REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA EM BAIXA<br />

TENSÃO<br />

Tendo em consideração o disposto no Regulamento de<br />

Seguranças de Redes de Distribuição de energia eléctrica em<br />

baixa tensão, aprovado pelo Decreto Regulamentar 90/84 de<br />

26 de Dezembro e os documentos normativos do<br />

concessionário da rede de distribuição, DIT-C11-010/N, Maio<br />

2006 - Guia Técnico de Urbanizações e DIT-C14-100/N MAI<br />

2007 – Ligação de Clientes de Baixa Tensão, a queda de<br />

tensão total, desde o Posto de Transformação Público MT/BT<br />

até ao final da rede de Baixa Tensão, isto é, à Portinhola ou,<br />

quando esta não existir, ao Quadro de Colunas de um<br />

edifício ou aos terminais de entrada do contador, não deve<br />

ser superior a 8 %, sendo que a queda de tensão máxima no<br />

ramal 1 não deve ser superior a 2% da tensão nominal.<br />

3.2 INSTALAÇÕES DE UTILIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA EM BAIXA<br />

TENSÃO<br />

Tendo em consideração o disposto nas Regras Técnicas de<br />

Instalações Eléctricas de Baixa Tensão, aprovadas pela<br />

Portaria n.º 949-A/2006 de 11 de Setembro a queda de<br />

tensão máxima entre a origem da instalação 2 e qualquer<br />

ponto de utilização, expressa em função da tensão nominal<br />

da instalação, não deve ser superior aos valores indicados na<br />

tabela 1.<br />

Ao abrigo do mesmo regulamento, em Instalações Colectivas<br />

e Entradas as secções dos condutores usados nos diferentes<br />

troços das instalações colectivas e entradas devem ser tais<br />

que não sejam excedidos os valores de queda de tensão<br />

seguintes:<br />

a) 1,5 %, para o troço da instalação entre os ligadores da<br />

saída da portinhola e a origem da instalação eléctrica (de<br />

utilização),no caso das instalações individuais;<br />

b) 0,5 %, para o troço correspondente à entrada ligada a<br />

uma coluna (principal ou derivada) a partir de uma caixa<br />

de coluna, no caso das instalações não individuais;<br />

c) 1,0 %, para o troço correspondente à coluna, no caso<br />

das instalações não individuais;<br />

No entanto, quando for técnica e economicamente<br />

justificado, os valores de queda de tensão indicados<br />

anteriormente para a coluna e entradas, podem ser<br />

ultrapassados, desde que, no seu conjunto (coluna mais<br />

entrada),não seja ultrapassado o valor de 1,5%.<br />

Tab. 3 - Queda de tensão máxima entre a origem da instalação e qualquer ponto de utilização<br />

Utilização Iluminação Outros usos<br />

Instalações alimentadas directamente a partir de uma rede de distribuição (pública) em<br />

baixa tensão<br />

3 % 5 %<br />

Instalações alimentadas a partir de um Posto de Transformação MT/BT (*) 6 % 8 %<br />

(*) Sempre que possível, as quedas de tensão nos circuitos finais não devem exceder os valores indicados para a situação A. As<br />

quedas de tensão devem ser determinadas a partir das potências absorvidas pelos aparelhos de utilização com os factores<br />

de simultaneidaderespectivos ou, na falta destes, das correntes de serviço de cada circuito.<br />

1<br />

Ramal - Canalização eléctrica, sem qualquer derivação, que parte do quadro de um posto de transformação, do quadro de uma central<br />

geradora ou de uma canalização principal e termina numa portinhola, quadro de colunas ou aparelho de corte de entrada de uma instalação de<br />

utilização.<br />

56


ARTIGO TÉCNICO<br />

Ao abrigo do mesmo regulamento, para as instalações<br />

colectivas e entradas deverão ser observados ainda os<br />

seguintes pontos:<br />

- Quando existir “troço comum 3 ” , a queda de tensão<br />

neste troço deve ser afectada ao ramal e não à instalação<br />

colectiva.<br />

- A queda de tensão, no caso das entradas trifásicas, deve<br />

ser calculada a partir da potência prevista para<br />

alimentação dos equipamentos normais previstos para<br />

as instalações eléctricas (de utilização) por elas<br />

alimentadas, suposta uniformemente repartida pelas<br />

diferentes fases. O cálculo deve ser feito fase a fase,<br />

como se de uma entrada monofásica se tratasse,<br />

considerando que apenas a fase em análise está em<br />

serviço.<br />

3.3 CÁLCULO DA QUEDA DE TENSÃO<br />

Para canalizações em que a secção do condutor de fase seja<br />

igual à do condutor neutro, as quedas de tensão podem ser<br />

determinadas a partir da expressão seguinte:<br />

⎛ l<br />

⎞<br />

u = b × ⎜ ρ × × cosϕ + λ × l × senϕ<br />

⎟ × Ib<br />

⎝<br />

1<br />

S<br />

⎠<br />

u<br />

∆u=100 U<br />

0<br />

em que:<br />

u queda de tensão, expressa em volts;<br />

∆u queda de tensão relativa, expressa em percentagem;<br />

Uo tensão entre fase e neutro, expressa em volts;<br />

b coeficiente igual a 1 para os circuitos trifásicos e a 2<br />

para os monofásicos (os circuitos trifásicos com o<br />

neutro completamente desequilibrado, isto é, com<br />

uma só fase carregada, são considerados como sendo<br />

monofásicos);<br />

r1 resistividade dos condutores à temperatura em serviço<br />

normal,<br />

L comprimento simples da canalização, expresso em<br />

metros;<br />

S secção dos condutores, expressa em milímetros<br />

quadrados;<br />

cosϕ factorde potência;<br />

Nas instalações de utilização às quais se aplicam as<br />

RTIEBT pode ser usado o valor cos j =0,8.<br />

Para efeitos do cálculo das quedas de tensão nas<br />

entradas das instalações, deve ter-se em consideração<br />

os valores de potências nominais definidos para essas<br />

entradas, os quais, na falta de elementos mais<br />

precisos, devem ser considerados como resistivos (cos<br />

j = 1).<br />

λ reactâncialinear dos condutores.<br />

Nas instalações de utilização às quais se aplicam as<br />

RTIEBT, na falta de outras indicações mais precisas,<br />

pode ser usado o valor 0,08 mW/m.<br />

Relativamente à determinação da resistividade dos<br />

condutores à temperatura em serviço normal, dever-se-á ao<br />

valor da resistividade a 20°C (0,0225 W.mm²/m para o cobre<br />

e 0,036 W.mm²/m para o alumínio), efectuar a correcção<br />

para a temperatura máxima de funcionamento dos<br />

condutores/cabos.<br />

2<br />

Origem das instalações eléctricas de utilização<br />

Considera-se que as instalações eléctricas objecto das Regras Técnicas têm por origem um dos pontos indicados nas alíneas seguintes:<br />

a) nas instalações alimentadas directamente por uma rede de distribuição (pública) em baixa tensão:<br />

- os ligadores de saída da portinhola;<br />

- os ligadores de entrada do quadro de colunas, no caso de não existir portinhola;<br />

- os ligadores de entrada do equipamento de contagem ou os do aparelho de corte da entrada, quando este estiver a montante do<br />

equipamento de contagem, no caso de não existir portinhola nem quadro de colunas.<br />

No que se refere às instalações eléctricas (de utilização), alimentadas, pelas instalações colectivas e entradas, estas têm, no caso de serem<br />

alimentadas por uma rede de distribuição (pública) em baixa tensão, por origem um dos pontos seguites:<br />

a) os ligadores de saída do aparelho de corte da entrada da instalação eléctrica (de utilização);<br />

b) os ligadores de saída do sistema de contagem, se o aparelho de corte da entrada não existir.<br />

b) nas instalações alimentadas por um posto de transformação privativo, os ligadores de entrada do(s) quadro(s) de entradaTroço comum -<br />

Canalização eléctrica da instalação colectiva que tem início na portinhola e que termina no quadro de colunas.<br />

3<br />

Troço comum - Canalização eléctrica da instalação colectiva que tem início na portinhola e que termina no quadro de colunas.<br />

57


ARTIGO TÉCNICO<br />

A tabela 4, apresenta as temperaturas máximas de<br />

funcionamento de diversos tipos de isolamentos de<br />

condutores:<br />

A correcção da resistividade é realizada através da seguinte<br />

expressão:<br />

R<br />

θ R20 α20<br />

θ<br />

= [1 + ( −20)] Ω/km<br />

em que:<br />

Rθ resistênciaeléctricaà temperatura θ °C<br />

R20 resistênciaeléctricaà temperatura 20 °C<br />

α20 coeficiente de temperatura a 20 °C<br />

θ temperaturafinal em °C<br />

As RTIEBT recomendem a utilização de um factor 1,25 para<br />

correcção geral do valor da resistividade para a temperatura<br />

de serviço, independente do tipo de isolamento dos<br />

condutores/cabos, sendo uma aproximação ao cálculo<br />

anteriormente apresentado.<br />

Tab. 4 – Temperatura máxima de funcionamento dos condutores em função do tipo de isolamento<br />

Tipo de isolamento<br />

Temperatura máxima de<br />

funcionamento (1)<br />

(°C)<br />

Policloreto de vinilo (PVC) Condutor: 70<br />

Polietileno reticulado (XLPE)<br />

Ou<br />

etileno-propileno (EPR)<br />

Condutor: 90<br />

Mineral (com bainha em PVC ou nu e acessível) Bainha metálica: 70<br />

Mineral (nu, inacessível e sem estar em contacto com materiais combustíveis) Bainha metálica: 105 (2)<br />

(1)<br />

- Segundo as Normas NP 2356, NP 2357 e NP 2365.<br />

(2)<br />

- Para este tipo de condutores podem ser admitidas temperaturas superiores em serviço contínuo, de acordo com a<br />

temperatura do cabo e das terminações e com as condições ambientais e outras influências externas.<br />

Tab. 5 - Resistência à Temperatura do condutor/cabo a 20°C<br />

``<br />

R 20<br />

θ<br />

Resistência à Temperatura do condutor/cabo a 20°C<br />

Temperaturamáxima de funcionamento do condutor/cabo<br />

α 20<br />

coeficiente de variação da resistividade com a temperatura a 20°C<br />

α<br />

α<br />

<br />

Cu20<br />

C<br />

<br />

Al20<br />

C<br />

= 3,93.10<br />

= 4,03.10<br />

C<br />

−3 −1<br />

C<br />

−3 −1<br />

58


ARTIGO TÉCNICO<br />

4. METODOLOGIAS DE VERIFICAÇÃO EM OUTROS PAÍSES<br />

França – A norma NF C 15-100, publicada pela Union<br />

Technique de l’Electricité (UTE), trata e define os requisitos<br />

técnicos e de segurança das instalações eléctricas de baixa<br />

tensão. A norma sofre actualização regular para ter em conta<br />

a evolução da técnica e das necessidades de consumo de<br />

electricidade.<br />

O artigo 525 da NF C 15-100 fixa os valores máximos da<br />

queda de tensão, conforme indicado na tabela 3.<br />

No comentário ao Artº 525 da norma é indicada a fórmula a<br />

empregar para cálculo da queda de tensão que resulta ser a<br />

mesma usada pelas RTIEBT.<br />

Para a resistividade dos condutores em serviço normal<br />

apresentaos valores, indicados na tabela 4.<br />

O coeficiente 1,25 leva a determinar a queda de tensão a<br />

uma temperatura do condutor de cerca de 82 °C.<br />

A norma remete ainda para o guia da UTE C 15-105, GUIDE<br />

PRATIQUE Détermination des sections de conducteurs et<br />

choix des dispositifs de protection Méthodes pratiques, onde<br />

são detalhadas outras informações bem como, em<br />

particular, quadros com valores de reactância linear para<br />

outras configurações de canalizações a serem consultados<br />

para a determinação da queda de tensão.<br />

Tab. 6 - Queda de tensão máxima nas instalações de utilização<br />

Iluminação<br />

Outros usos<br />

Tipo A – instalações alimentadas directamente por uma derivação em BT a partir<br />

de uma rede pública de distribuição em BT<br />

3%<br />

5%<br />

Tipo B – Instalações alimentadas por um posto de entrega(1) ou por um posto de<br />

transformação a partir duma instalação de AT e instalações do tipo A em que o<br />

ponto de entrega se situa no QGBT dum posto de distribuição público.<br />

6%<br />

8%<br />

Quando as canalizações principais da instalação tiverem um comprimento superior a 100 m, as quedas de tensão podem ser<br />

aumentadas de 0,005 % por metro de canalização acima de 100 m, sem todavia superar 0,5 %.<br />

As quedas de tensão são determinadas a partir das potências absorvidas pelos aparelhos de utilização, aplicando, sendo o<br />

caso, factores de simultaneidade, ou, por omissão, a partir dos valores das correntes de serviço dos circuitos.<br />

Tab. 7 – Resistividade corrigida do cobre e alumínio para a temperatura de funcionamento dos condutores<br />

Cobre<br />

Alumínio<br />

Resistividade ρ 1 = 1,25×ρ 20°C Ωmm 2 /m 0,023 0,037<br />

Obs<br />

Em França não se faz distinção entre postos de transformação e subestações de transformação. A sua designação genérica é poste de<br />

transformation, contemplando ambas as instalações. Quando as instalações de BT são alimentadas por uma rede de distribuição pública em AT,<br />

por intermédio de um posto de transformação, observando a norma NF C 13-100 a 13-103, o posto de transformação é chamado poste de<br />

livraison, posto de entrega. Quando forem alimentadas por uma instalação de AT por intermédio de uma instalação de transformação<br />

observando a norma NF C 13-200, a sua designação é poste de transformation, posto de transformação.<br />

59


ARTIGO TÉCNICO<br />

Reino Unido – Neste país a norma BS 7671: 2008<br />

Requirements for Electrical Installations IEE Wiring<br />

Regulations, Seventeenth Edition é o padrão normativo<br />

adoptado no domínio das instalações eléctricas em BT<br />

quando em 1992 a British Standards Institution (BSI) fez das<br />

regras técnicas<br />

IEE Wiring Regulations, 16th Edition,<br />

publicadas pela Institution of Electrical Enginneers (IEE), sua<br />

norma. A BS 7671 é também usada noutros países de língua<br />

inglesa.<br />

Os requisitos respeitantes à queda de tensão são tratados<br />

nos pontos 525.1 a 525.3. Para uma instalação em BT<br />

alimentada directamente a partir de uma rede de<br />

distribuição em BT, a queda de tensão máxima, especificada<br />

no Apêndice 12, relativamente à tensão nominal, é:<br />

O Apêndice 4 da norma contém uma série de tabelas<br />

fornecendo, para vários tipos de cabos e condutores, os<br />

valores das quedas de tensão, quer resistivas, quer reactivas,<br />

quer totais, dadas em mV/m/A, calculadas para a<br />

temperatura máxima permitida pelos condutores em regime<br />

normal de funcionamento.<br />

Equipamento de<br />

Iluminação<br />

Outros<br />

Usos<br />

Queda de tensão máxima 3% 5%<br />

Onde:<br />

r – queda de tensão resistiva em mV/A/m<br />

x – queda de tensão reactiva em mV/A/m<br />

A norma prevê a correcção da temperatura dos condutores<br />

para uma melhor aproximação do cálculo da queda de<br />

tensão.<br />

Assim a temperatura de serviço vem determinada pela<br />

expressão seguinte:<br />

2<br />

⎛<br />

2 2 I ⎞<br />

b<br />

θb = θz − ⎜CgCa − θ<br />

2 ⎟ z<br />

−θa<br />

⎝ Izt<br />

⎠<br />

( )<br />

Θb = temperatura do cabo ou condutor, °C<br />

Θz = temperatura máxima em regime normal, °C<br />

Θa = temperatura ambiente, °C<br />

Cg = factor de correcção de agrupamento<br />

Ca = factor de correcção da temperatura ambiente<br />

Ib = corrente de serviço, A<br />

Izt = corrente máxima admissível nas condições da tabela, A<br />

A temperatura θb permite agora determinar o factor de<br />

correcção de temperatura Ct:<br />

C<br />

t<br />

230 + θb<br />

=<br />

230 + θ<br />

z<br />

A queda de tensão é então calculada da forma seguinte:<br />

V<br />

d<br />

=<br />

m V / m/ A tabelados × cosϕ<br />

× Ib<br />

× L<br />

1000<br />

Com<br />

1<br />

<br />

β0<br />

= ≅ 230 C<br />

α<br />

0<br />

valor médio para Cu e Al<br />

Quando a secção dos condutores for maior que 16 mm 2<br />

deverão considerar-se a queda de tensão resistiva bem como<br />

a queda reactiva.<br />

Teremos então:<br />

V<br />

d<br />

=<br />

( ϕ ϕ )<br />

cos × r + sen × x m V / A/<br />

m× L×<br />

I<br />

1000<br />

b<br />

Para secções até 16 mm2, teremos:<br />

−3<br />

( )<br />

V = C cosϕ<br />

m V / A/ m × L× I × 10<br />

d t b<br />

Para secções acima de 16 mm2:<br />

V = ( C cosϕ<br />

× r + sen ϕ × x) × L× I × 10<br />

d t b<br />

−3<br />

60


ARTIGO TÉCNICO<br />

Os valores médios das resistividades do Cu e Al a 20°C<br />

usados na norma são:<br />

ρCu20°C = 18,3 ×10-3 Ωmm 2 /m<br />

ρAl20°C = 30,4 ×10-3 Ωmm 2 /m<br />

Alemanha – Várias são as normas e disposições aplicáveis às<br />

instalações de BT. A norma DIN VDE 0100 – Errichten von<br />

Niederspannungsanlagen, Estabelecimento de Instalações de<br />

BT, contempla na sua parte 520 as prescrições em termos de<br />

quedas de tensão máximas permitidas nas instalações.<br />

Assim, entre a portinhola e o ponto electricamente mais<br />

afastado da instalação a norma fixa, para a máxima queda de<br />

tensão tolerada, um valor de 4% da tensão nominal.<br />

Às instalações residenciais aplica-se igualmente a norma DIN<br />

18015 – Elektrische Anlagen in Wohngebäuden, Instalações<br />

Eléctricas em Edifícios Residenciais. De acordo com esta<br />

norma a queda máxima entre o contador e o aparelho<br />

electricamente mais afastado deve ser 3% da tensão<br />

nominal.<br />

tramos do circuito usa-se como corrente de serviço o valor<br />

da corrente estipulada do aparelho de protecção contra<br />

sobreintensidades localizado imediatamente a montante.<br />

Outra disposição aplicável às instalações de BT prende-se<br />

com as especificações próprias das Associações de Energia<br />

Estaduais - Technischen Anschlussbedingungen für den<br />

Anschluss an das Niederspannungsnetz, Condições Técnicas<br />

para a Ligação à Rede de BT, conhecidas por TAB. De acordo<br />

com as TAB, as máximas quedas de tensão entre a portinhola<br />

e o contador vêm dadas em correspondência com o quadro<br />

seguinte:<br />

Potência Queda de tensão Disposição<br />

em kVA admissível em %<br />

Até 100 0,5 AVBEltV (1)<br />

De 100 a 250 1,0 TAB<br />

Mais de 250 a 400 1,25 TAB<br />

Acima de 400 1,5 TAB<br />

Para a determinação da queda de tensão nos diversos<br />

A figura abaixo sintetiza as diversas condições e disposições<br />

aplicáveis:<br />

Fig. 3 – Máxima queda de tensão e disposições aplicáveis na Alemanha<br />

Fonte: Siedelhofer ABB<br />

(1)<br />

Verordnung über Allgemeine Bedingungen für die Elektrizitätsversorgung von Tarifkunden, Portaria sobre as Condições Gerais para o<br />

Abastecimento de Electricidade a Clientes.<br />

61


ARTIGO TÉCNICO<br />

A queda de tensão é calculada pela expressão simplificada<br />

para as secções condutoras acima dos 16 mm2. Abaixo deste<br />

valor calcula-se somente a queda resistiva. Os dados<br />

seguintes são habitualmente empregados no cálculo da<br />

resistência:<br />

Bibliografia<br />

[4] Regras Técnicas de Instalações Eléctricas de Baixa<br />

Tensão, Decreto-Lei 226/2005, de 28 de Dezembro e<br />

PortariaN.º 949-A/2006,de 11 de Setembro, 2006;<br />

5. CONCLUSÕES<br />

Condutividade<br />

σ Sm/mm2<br />

20°C<br />

circuitos ligeiramente carregados<br />

50°C<br />

circuitos moderadamente carregados<br />

70°C<br />

circuitos carregados<br />

Cu Al<br />

56 35<br />

50 31<br />

47 29<br />

O cálculo das quedas de tensão é fundamental na fase de<br />

projecto de instalações eléctricas, por um lado, de modo a<br />

garantir que as infra-estruturas definidas cumpram os<br />

requisitos regulamentares e, por outro lado, o bom<br />

funcionamento e a longevidade dos equipamentos e<br />

instalações.<br />

Bibliografia<br />

[1] UNION TECHNIQUE DE L'ELECTRICITE – UTE C 15-105.<br />

Fontenay-aux-Roses:UTE, 2003.<br />

[2] UNION TECHNIQUE DE L'ELECTRICITE – NF C 15-100.<br />

Puteaux:UTE, 2002.<br />

[3] STOKES Geoffrey, Bradley John - A Practical Guide to<br />

the Wiring Regulations: 17th Edition IEE Wiring<br />

Regulations (BS 7671:2008). 4ª Ed. Chichester: John<br />

Wiley & Sons Ltd, 2009. ISBN: 978-1-405-17701-6.<br />

[5] Regulamento de Segurança de Redes de Distribuição<br />

de Energia Eléctrica em Baixa Tensão, Decreto-<br />

Regulamentarn.º 90 / 84 de 26 de Dezembro.<br />

[6] Guia Técnico de Urbanizações, DIT-C11-010/N, EDP –<br />

Distribuição – Energia SA, DNT – Direcção de<br />

Normalização e Tecnológica, Maio 2006;<br />

[7] Ligação de Clientes de Baixa Tensão, DIT-C14-100/N,<br />

EDP – Distribuição – Energia SA, DNT – Direcção de<br />

Normalização e Tecnológica, Maio 2007;<br />

[8] SIEDELHOFER Bernd - Hauptstromversorgung in<br />

Gebäuden [em linha]. [Consult. 06 Dez 2010]<br />

Disponível em<br />

www:<br />

[9] SCHULTKE Hans – Aktuelles aus der Welt der Normen<br />

[em linha]. [Consult. 06 Dez 2010]<br />

Disponível em<br />

www:<br />

[10] VEWSaar e. V. - Erläuterungen des Verbandes zu den<br />

Technischen Anschlussbedingungen für den Anschluss<br />

an das Niederspannungsnetz (TAB) [em linha].<br />

[Consult. 06 Dez 2010]<br />

Disponível em<br />

www:<br />

62


ARTIGO TÉCNICO<br />

Máquinas Eléctricas<br />

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />

artigos técnicos publicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Máquinas Eléctricas.<br />

As máquinas eléctricas são os equipamentos mais relevantes nas instalações industriais sendo, por isso, um dos sectores em que<br />

se tem prioritariamente tornar mais eficiente. É dado especial ênfase aos assuntos relativos à utilização racional de energia<br />

eléctrica em instalações industriais e eficiência energética em equipamentos de força motriz, bem como à área relacionada com<br />

as características mais relevantes dos principais sistemas de conversão de energia, fundamentalmente no que se refere aos<br />

geradores e conversores estáticos de potência. Assuntos emergentes, como a tecnologia dos veículos eléctricos são igualmente<br />

destacados nesta secção.<br />

63


ARTIGO TÉCNICO<br />

Índice<br />

Sistemas Geradores em Aproveitamentos Eólicos<br />

Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

65<br />

Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz<br />

José António Beleza Carvalho, Roque Filipe M. Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

73<br />

Veículos Eléctricos Características e Tipos de Motores<br />

Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

81<br />

ACCIONAMENTOS EFICIENTES DE FORÇA-MOTRIZ. NOVA CLASSIFICAÇÃO<br />

José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

91<br />

Detecção de Avarias em Motores Assíncronos de Indução<br />

António Manuel Luzano de Quadros Flores, José António Beleza Carvalho<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

99<br />

ESTRUTURAS E CARACTERÍSTICAS DE VEÍCULOS HÍBRIDOS ELÉCTRICOS<br />

105<br />

PEDRO MIGUEL AZEVEDO DE SOUSA MELO<br />

INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />

ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA N<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong>, Nº6, DEZEMBRO DE 2010<br />

64


ARTIGO TÉCNICO<br />

Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

Sistemas Geradores em Aproveitamentos Eólicos<br />

Resumo<br />

No presente artigo pretende-se focar as características mais<br />

relevantes dos principais sistemas de conversão de energia<br />

eólica, fundamentalmente, no que se refere aos geradores e<br />

conversores estáticos de potência. Começa-se por referir os<br />

princípios de base associados à conversão eólica. Em<br />

seguida, faz-se uma abordagem aos sistemas de velocidade<br />

constante (baseados no gerador de indução com rotor em<br />

gaiola) e velocidade variável (gerador de indução<br />

duplamente alimentado e sistemas sem caixa de<br />

velocidades, baseados em geradores síncronos com<br />

enrolamento de excitação e de imanes permanentes).<br />

Referem-se as principais vantagens e inconvenientes dos<br />

diferentes sistemas e, no final, uma breve abordagem acerca<br />

das tendências futuras.<br />

1. Introdução<br />

As crises petrolíferas mundiais, desde a década de 70 do<br />

século XX e o aumento da consciência ambiental das<br />

opiniões públicas têm motivado o interesse e crescimento da<br />

exploração das energias renováveis. Em particular, a energia<br />

eólica é aquela onde se tem verificado o maior crescimento<br />

em termos de aproveitamentos. Actualmente, a sua<br />

tecnologia encontra-se num elevado nível de<br />

desenvolvimento,principalmente na Europa e nos EUA. [1]<br />

Neste artigo, começa-se por referir alguns dos princípios<br />

básicos da captação da energia eólica. Pretende-se focar as<br />

características eléctricas dos principais sistemas eólicos<br />

actualmente em uso, fundamentalmente, ao nível dos<br />

geradores, incluindo algumas referências aos conversores de<br />

potência. Também são mencionadas as principais vantagens<br />

e desvantagens dos diferentes sistemas e, por último, uma<br />

breve referência a algumas tendências na sua evolução.<br />

2. Potência Eólica<br />

A expressão seguinte traduz a potência mecânica disponível<br />

no veio de uma turbina eólica: [1], [2]<br />

sendo:<br />

ρ ar –<br />

C p –<br />

massa específicado ar [kg/m3];<br />

rendimento aerodinâmico;<br />

A r – secção de varrimento das pás da turbina<br />

V vento<br />

(transversal ao eixo rotórico) [m 2 ];<br />

(1)<br />

– velocidade do vento no centro do rotor da<br />

turbina[m/s].<br />

A r =πR 2 (2)<br />

em que R corresponde ao raio do rotor, igual ao<br />

comprimento de uma pá da turbina.<br />

C p , associado às características aerodinâmicas das pás da<br />

turbina, traduz a relação entre a potência eólica<br />

efectivamente convertida pela turbina e a potência contida<br />

na massa de ar que atravessa a turbina – potência disponível<br />

no vento.<br />

1<br />

P = ρ<br />

2<br />

ar<br />

C<br />

p<br />

A<br />

r<br />

V<br />

3<br />

vento<br />

65


ARTIGO TÉCNICO<br />

O rendimento aerodinâmico (Cp) é função de 2 parâmetros:<br />

3. Regulação da Potência da Turbina<br />

• razão de velocidades na pá (λ), definida como o<br />

quociente entre a velocidade de rotação da extremidade<br />

das pás e a velocidade do vento no centro do rotor<br />

A figura 1 ilustra a característica mecânica típica de uma<br />

turbina eólica, estando evidenciadas 4 zonas distintas de<br />

condições de vento:<br />

(V vento ):<br />

λ =<br />

ωrR<br />

V<br />

vento<br />

(3)<br />

ωr - velocidade angular rotórica;<br />

• ângulo de passo (θ): ângulo entre o plano de rotação das<br />

pás do rotor e da respectiva linha de corda do seu perfil<br />

alar.<br />

Figura 1 – Característica Mecânica Turbina Eólica (linha a cheio:<br />

As turbinas eólicas são projectadas para gerarem a máxima<br />

velocidade variável; linha a tracejado: velocidade constante) [2]<br />

potência para uma determinada velocidade do vento. Os<br />

valores desta potência e da velocidade do vento são<br />

designados, respectivamente, potência nominal (P nominal ) e<br />

velocidade nominal do vento (ωr) – figura 1. [1]<br />

Existem turbinas eólicas que funcionam a velocidade<br />

constante e velocidade variável; as primeiras estão<br />

Zona 1:<br />

Zona 2:<br />

valores baixos da energia cinética do vento, não<br />

permite a conversão de energia;<br />

os valores das potências convertidas são inferiores<br />

à potência nominal; é aqui fundamental garantir<br />

que o valor de Cp é máximo, o que só é possível<br />

nos sistemas de velocidade variável (λ constante);<br />

associadas às tecnologias iniciais de aproveitamentos<br />

eólicos, sendo as turbinas de velocidade variável o resultado<br />

de tecnologias mais recentes. Neste último caso, verifica-se<br />

que o valor máximo de Cp está associado a uma razão<br />

constante entre a velocidade angular do rotor (ωr) e a<br />

Zona 3: a potência convertida corresponde ao valor<br />

nominal da turbina; o conteúdo energético do<br />

vento é agora superior à potência nominal pelo<br />

que, o valor de Cp deverá ser reduzido, sob pena<br />

do sistema entrar em sobrecarga;<br />

velocidade do vento (Vvento), com constante. Deste modo,<br />

nas turbinas eólicas de velocidade variável o valor de λ é<br />

constante – expressão 3.<br />

Zona 4:<br />

cenário oposto ao da zona 1, isto é, o valor elevado<br />

da velocidade do vento poderá danificar a turbina,<br />

sendo esta normalmente desligada.<br />

66


ARTIGO TÉCNICO<br />

A regulação da potência convertida na zona 3 é efectuada de<br />

dois modos distintos, consoante se tratem de turbinas com<br />

velocidade constante ou variável.<br />

décadade 80 e inícios da década de 90 do século passado. [4]<br />

No primeiro caso, a regulação é feita de forma passiva: as<br />

características aerodinâmicas das pás são fundamentais<br />

neste modo de controlo da potência convertida – a partir de<br />

um valor pré-definido da velocidade do vento, o rendimento<br />

da turbina decresce – “stall effect” –, mantendo-se<br />

aproximadamente constante a potência fornecida pela<br />

turbina ao gerador eléctrico. [2]<br />

Nas turbinas com velocidade variável, a regulação da<br />

potência convertida é feita de forma activa. A posição das<br />

pás relativamente ao seu plano de rotação é ajustável –<br />

ângulo de passo (θ) regulável (“pitch angle”). Deste modo, é<br />

também possível reduzir o valor de Cp. Normalmente, para<br />

velocidades do vento superiores ao valor nominal, as<br />

turbinas passam a funcionar com velocidade constante<br />

(nestas situações, a regulação de θ actua directamente no<br />

valor do binário). [2]<br />

4. Geradores Eléctricos em Sistemas Eólicos<br />

Na figura 2 estão indicadas diferentes configurações de<br />

sistemas geradores. No que se refere ao tipo de gerador<br />

eléctrico, são sistemas baseados em máquinas de indução<br />

trifásicas (rotor em gaiola de esquilo nas primeiras gerações;<br />

posteriormente, geradores de rotor bobinado) e em<br />

máquinas síncronas trifásicas (c/ enrolamento de excitação<br />

e, posteriormente, de imanes permanentes).<br />

Os sistemas 1,2,3 e 4 são actualmente os mais relevantes,<br />

pelo que serão descritos apenas estes.<br />

4.1.Gerador de Indução com Rotor em Gaiola de Esquilo<br />

(sistema 1)<br />

Este sistema, para turbinas com velocidade constante,<br />

pertence às primeiras gerações de aproveitamentos eólicos –<br />

em Portugal, o seu aparecimento remonta aos finais da<br />

Figura 2 – Tipos de Geradores Eólicos [3]<br />

O estator do gerador de indução (gaiola de esquilo) é<br />

directamente ligado à rede; A ligação mecânica do veio do<br />

rotor da turbina e do veio rotor do gerador é efectuada<br />

através de uma caixa de velocidades, devido à necessidade<br />

da velocidade deste último ter de ser superior à velocidade<br />

de sincronismo imposta pela frequência da rede (50 ou 60<br />

Hz). O controlo da potência na turbina é normalmente<br />

efectuado com base no comportamento aerodinâmico das<br />

suas pás (“stall effect”) [2].<br />

O funcionamento da máquina de indução com rotor em<br />

gaiola como gerador está associado a deslizamentos (s)<br />

negativos, isto é, velocidades de rotação rotóricas superiores<br />

à velocidade de sincronismo – figura 3.<br />

A gama de funcionamento do gerador está compreendida<br />

entre s=0 (n=n s ) e o deslizamento nominal, s=s n (n=n n ), uma<br />

vez que correspondem a regimes de funcionamento nos<br />

quais a corrente no estator não excede o valor nominal. Os<br />

baixos valores dos deslizamentos nominais – característicos<br />

das máquinas de indução – explicam a utilização destes<br />

sistemas em turbinas com velocidade praticamente<br />

constante. Não obstante, é de referir a possibilidade de<br />

alguma capacidade de adaptação às flutuações do vento,<br />

decorrente da natureza assíncrona do gerador.<br />

67


ARTIGO TÉCNICO<br />

De notar neste último algumas semelhanças, apenas em<br />

termos de princípio, com os dos sistemas baseados em<br />

geradores de indução duplamente alimentados.<br />

Posteriormente, em finais da década de 90, surgiram novos<br />

sistemas,dos quais se destacam os referidos como 2, 3 e 4.<br />

4.2. Gerador de Indução Duplamente Alimentado (sistema 2)<br />

Figura 3 – Característica Mecânica da Máquina de Indução<br />

Trifásica (U,f constantes)<br />

Um dos inconvenientes bem conhecidos das máquinas de<br />

indução é o de não serem capazes de desenvolver o campo<br />

magnético necessário ao seu funcionamento , fundamental<br />

no processo de conversão electromecânica de energia (neste<br />

caso, mecânica - eléctrica). A máquina necessita de absorver<br />

energia reactiva para criar o campo magnético referido,<br />

sendo aquela fornecida pela rede. Assim, estes sistemas<br />

exigem a inclusão de baterias de condensadores de modo a<br />

compensarem o factor de potência da máquina.<br />

Normalmente, os fabricantes permitem a compensação para<br />

valores unitários, através de baterias de condensadores com<br />

2 escalões. [4]<br />

O estator do gerador é também directamente ligado à rede.<br />

O rotor é ligado à rede (naturalmente, máquinas de rotor<br />

bobinado) através de um conversor estático de potência. O<br />

princípio deste sistema é o de aproveitamento da energia de<br />

deslizamento, associada à dissipação de energia na<br />

resistência do rotor (R r ). Tal como ilustrado na figura 4, o<br />

valor desta resistência condiciona o deslizamento da<br />

máquina, isto é, a velocidade do rotor.<br />

Este sistema possui algumas variantes que permitem uma<br />

melhor adaptação às inevitáveis flutuações do vento, sendo<br />

de destacar: [2]<br />

Figura 4 – Influência da Resistência Rotórica na Velocidade da<br />

Máquina de Indução Trifásica (U,f constantes)<br />

• geradores equipados com dois enrolamentos estatóricos<br />

com números de pólos distintos – possibilidade de<br />

funcionamento em duas velocidades distintas.<br />

• geradores equipados com sistema de variação<br />

electrónica da resistência rotórica, permitindo maiores<br />

variações de velocidade – turbinas de velocidade semivariável.<br />

No entanto, a regulação da velocidade da máquina através<br />

da alteração da resistência rotórica, implica um aumento da<br />

energia aí dissipada. A inclusão do conversor de potência<br />

mencionado permite a regulação do deslizamento, sendo<br />

que, uma parte da energia que seria dissipada no rotor passa<br />

a ser injectada na rede. (De notar que o controlo da<br />

velocidade de um motor de indução trifásico por regulação<br />

do deslizamentoassenta nestemesmo conceito).<br />

68


ARTIGO TÉCNICO<br />

Deste modo, é possível ter o gerador a funcionar com<br />

diferentes velocidades rotóricas, melhorando também o seu<br />

rendimento, uma vez que a injecção da energia na rede se<br />

faz através do estator e do rotor. Naturalmente, este sistema<br />

está associado a turbinas com velocidade variável.<br />

O controlo da potência na turbina é realizado através da<br />

regulação do ângulo de passo (“pitch angle”), anteriormente<br />

referido. A manutenção de C p no valor máximo é efectuada<br />

até ser atingido o valor nominal da corrente do gerador.<br />

É também necessária a inclusão de uma caixa de velocidades<br />

de modo a adaptar as velocidades dos eixos rotóricos da<br />

turbina e do gerador.<br />

4.2.1. Conversor Estático de Potência<br />

A figura 5 ilustra a estrutura do conversor de potência usado<br />

nestes sistemas – andar de rectificação, andar DC e andar<br />

inversor –, bem como os módulos de controlo.<br />

Figura 5 – Conversor de Potência<br />

O rectificador (controlado) e o inversor apresentam<br />

estruturas semelhantes (figura 6):<br />

(Insulated Gate Bipolar Transistor). Os sistemas de controlo<br />

dos dois conversores baseiam-se na modulação da largura de<br />

impulso (Pulse Width Modulation – PWM).<br />

O conversor ligado aos terminais do rotor (AC/DC) regula a<br />

corrente rotórica (módulo e argumento). Significa que o<br />

conversor pode fornecer energia reactiva à máquina,<br />

permitindo a sua magnetização.<br />

O conversor do lado da rede (DC/AC) regula a tensão do<br />

andar DC, podendo também injectar energia reactiva na<br />

rede. Deste modo, estes sistemas podem contribuir para a<br />

estabilidade da tensão da própria rede.<br />

A capacidade de regulação dos valores da potência activa e<br />

reactiva trocadas com a rede é conseguida através do<br />

controlo vectorial no gerador, permitindo ajustar o módulo e<br />

argumento das correntes alternadas (AC) dos conversores.<br />

[2], [4]<br />

Os sistemas baseados em geradores de indução necessitam<br />

de caixa de velocidades para o acoplamento do veio da<br />

turbina e do veio do gerador. Com efeito, são comuns<br />

valores de velocidade no veio da turbina entre 30 a 60 rpm;<br />

dependendo da frequência da rede (50 ou 60 Hz) e do<br />

número de pólos magnéticos do gerador (usualmente, 4 ou 6<br />

pólos), são frequentes valores da sua velocidade rotórica<br />

entre 1000 e 1800 rpm. Nos sistemas de geração eólica mais<br />

recentes tem-se procurado a eliminação da caixa de<br />

velocidades, pois a sua inclusão acarreta um aumento<br />

substancial do custo total do sistema, bem como operações<br />

de manutenção mais frequentes.<br />

4.3. Máquina Síncrona de Velocidade Variável (sem caixa<br />

de velocidades) (sistemas 3 e 4)<br />

Figura 6 – Estrutura do Rectificador e Inversor<br />

Basicamente, são constituídos por pontes de 6 elementos<br />

semicondutores de potência (interruptores controlados,<br />

indicado pelas setas a vermelho), tipicamente IGBT´s<br />

Estes sistemas referem-se a aproveitamentos eólicos<br />

equipados com máquinas síncronas. As respectivas turbinas<br />

são de velocidade variável e, contrariamente aos sistemas<br />

anteriormente referidos, não existe caixa de velocidades.<br />

Assim, o gerador síncrono (com enrolamento de excitação<br />

convencional – sistema 3 – e, mais recentemente, de imanes<br />

permanentes – sistema 4) é ligado à rede através de um<br />

69


ARTIGO TÉCNICO<br />

conversor de potência, de modo a converter o valor da<br />

frequência aos terminais do gerador na frequência da rede<br />

(figura7).<br />

5. Comparação Entre os Sistemas [2]<br />

As considerações aqui apresentadas baseiam-se nos<br />

seguintes critérios:<br />

5.1. Custo, dimensão e peso<br />

Figura 7 – Estrutura dos Sistemas Baseados na Máquina Síncrona<br />

de Velocidade Variável [Enercon]<br />

Em termos médios, o custo dos geradores de indução com<br />

rotor em gaiola é cerca de 25% inferior aos geradores de<br />

rotor bobinado usados nos sistemas duplamente<br />

alimentados.<br />

Os conversores de potência dos sistemas com gerador de<br />

indução duplamente alimentado têm menores dimensões e<br />

são mais baratos do que nos sistemas com geradores<br />

síncronos.<br />

O controlo da potência na turbina é realizado através da<br />

regulação do ângulo de passo (“pitch angle”). [2], [4]<br />

4.3.1. Conversor Estático de Potência<br />

O conversor de potência apresenta uma estrutura<br />

semelhante à descrita na secção anterior; apenas o andar de<br />

rectificação controlada é usualmente constituído por uma<br />

ponte de tiristores.<br />

A tensão na entrada do andar inversor (DC/AC) – figura 5 – é<br />

regulada para um valor constante. É de referir que para<br />

baixos valores da velocidade de rotação, a excitação do<br />

gerador não consegue manter o valor de tensão DC referido.<br />

Nessas situações, torna-se necessário recorrer a um<br />

conversor DC/DC (“chopper”) instalado entre a saída do<br />

andar rectificador e o andar DC, de modo a garantir que a<br />

tensão DC se mantém no valor pretendido; para velocidades<br />

de rotação mais elevadas o “chopper” é desligado.<br />

O inversor (lado da rede) é constituído por uma ponte de 6<br />

IGBT (figura 6), controlada por modulação da largura de<br />

impulso (PWM), tornando também possível regular a<br />

injecção de potência activa, bem como a potência reactiva<br />

trocadacom a rede (controlo vectorial). [4]<br />

O custo dos geradores síncronos (convencionais e de imanes<br />

permanentes) é superior ao dos geradores de indução<br />

(aqueles têm maiores dimensões e são mais pesados, para<br />

além de se tratarem de máquinas com particularidades<br />

próprias para aproveitamentos eólicos, tais como, elevado<br />

número de pólos, estatores hexafásicos,...). No entanto, é de<br />

referir a ausência de caixa de velocidades, o que atenua de<br />

forma significativaas diferenças anteriores.<br />

5.2. Rendimentos da Captação Eólica<br />

Obtém-se melhores rendimentos na captação de potência<br />

eólica nos sistemas de velocidade variável, uma vez que,<br />

garantido a proporcionalidade entre a velocidade do rotor da<br />

turbina e a velocidade do vento, o rendimento aerodinâmico<br />

mantém-se no valor máximo em toda a gama de velocidades<br />

da zona 2 da figura 1. Nos sistemas de velocidade constante,<br />

o rendimento máximo ocorre apenas para uma velocidade<br />

do vento fixa. De notar ainda a diminuição do rendimento<br />

das caixas de velocidades e dos conversores de potência<br />

para regimes de carga inferiores ao nominal.<br />

No que se refere aos geradores, nos sistemas com máquinas<br />

síncronas, a ausência de caixa de velocidades (acoplamento<br />

directo) implica naturalmente velocidades rotóricas mais<br />

baixas (na ordem das dezenas de rpm) do que nos geradores<br />

70


ARTIGO TÉCNICO<br />

de indução pelo que os binários desenvolvidos são muito<br />

superiores. Por este motivo, o rendimento nos geradores<br />

síncronos eólicos é inferior ao dos geradores de indução. [2]<br />

5.3. Fiabilidade e manutenção<br />

Os geradores de indução de rotor bobinado e os geradores<br />

síncronos com enrolamento de excitação (clássicos) são<br />

dotados de anéis e escovas. Deste modo, as acções de<br />

manutenção e inspecções periódicas são mais frequentes,<br />

relativamente aos geradores de indução com rotor em gaiola<br />

e geradores síncronos de imanes permanentes.<br />

A inclusão da caixa de velocidades diminui significativamente<br />

a fiabilidade do sistema, fazendo aumentar as operações de<br />

manutenção.<br />

Nos sistemas de velocidade constante, variações bruscas da<br />

velocidade do vento implicam variações do binário<br />

desenvolvido, bastante menores nos sistemas de velocidade<br />

variável. Assim, as turbinas de velocidade constante sofrem<br />

solicitações mecânicas mais intensas, conduzindo a<br />

aumentos de fadiga e manutenção.<br />

6. Tendências Futuras dos 3 Sistemas [2]<br />

Nos últimos anos, os sistemas de velocidade variável têm<br />

vindo a substituir os sistemas de velocidade constante. As<br />

razões encontram-se descritas nas secções anteriores.<br />

Relativamente aos sistemas de velocidade variável baseados<br />

no gerador de indução duplamente alimentado, há a referir,<br />

como vantagens, tratarem-se de máquinas convencionais e o<br />

facto destes sistemas (últimas gerações) terem maior<br />

capacidade de se manterem em funcionamento quando<br />

ocorrem falhas na rede. É igualmente de realçar a<br />

capacidade de contribuição para a estabilidade da tensão e<br />

frequência da rede, através do controlo, respectivamente,<br />

das potências reactiva e activa.<br />

Quanto aos sistemas de velocidade variável baseados em<br />

geradores síncronos, o interesse pelas máquinas de imanes<br />

permanentes tem aumentado nos últimos 10 anos,<br />

essencialmente, pela diminuição do preço dos materiais<br />

magnéticos, tornando-as mais competitivas do ponto de<br />

vista económico. Em relação aos geradores com<br />

enrolamento de excitação, apresentam melhor rendimento –<br />

eliminação das perdas rotóricas – e são mais leves. No<br />

entanto, a capacidade de controlo é menor, uma vez que a<br />

excitação é fixa.<br />

Como referido anteriormente, os geradores síncronos<br />

aplicado a aproveitamentos eólicos apresentam<br />

características próprias. Como tal, o desenvolvimento de<br />

novas configurações de máquinas para acoplamentos<br />

directos (por ex., geradores de fluxo axial e transversal)<br />

reveste-se de elevado interesse, quer na actualidade, quer<br />

no futuro próximo.<br />

Fontes de Informação Relevantes<br />

[1] Castro, Rui M. G., “Introdução à Energia Eólica”, Instituto<br />

Superior Técnico, edição 2, Janeiro de 2004.<br />

[2] Polinder, Henk et al., “Basic Operation Principles and<br />

Electrical Conversion Systems of Wind Turbines”, EPE<br />

Journal, Vol. 15, nº4, December 2005.<br />

[3] CIGRE,TF 38.0110<br />

[4] Ferreira de Jesus, J.M., Castro, Rui M. G., “Equipamento<br />

Eléctrico dos Geradores Eólicos”, Instituto Superior<br />

Técnico,edição 1.0, Abril de 2008.<br />

Como referido, a grande desvantagem reside na necessidade<br />

da caixa de velocidades.<br />

71


DIVULGAÇÃO<br />

LABORATÓRIO DE MÁQUINAS ELÉCTRICAS<br />

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA<br />

INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />

O Laboratório de Máquinas Eléctricas (LME) é uma instalação de apoio ao ensino e aos trabalhos de investigação e<br />

desenvolvimento no âmbito dos cursos de Licenciatura e Mestrado de Engenharia Electrotécnica do Departamento de<br />

EngenhariaElectrotécnicado Instituto Superior de Engenharia do Porto.<br />

O LME é utilizado por uma equipa constituída por docentes, técnico e alunos da área dos Sistemas Eléctricos de Energia<br />

(Licenciatura e Mestrado), Electrónica e Computadores (Licenciatura) e Mecânica (Licenciatura), que dispõem de equipamento<br />

técnico e laboratorial que proporciona a realização de ensaios simulados e reais de conversão de energia, que contribui<br />

positivamente para a preparação prática dos estudantes.<br />

Esta infra-estrutura é constituída por equipamentos de controlo (velocidade, binário e posição) e instrumentação que permite a<br />

realização de ensaios de máquinas eléctricas (transformadores, motores e geradores), segundo as normas vigentes, incluindo<br />

variadores de velocidade, sensores dinâmicos de binário, cargas mecânicas dinâmicas e analisadores de qualidade de energia.<br />

TRABALHOS REALIZADOS NO LABORATÓRIO:<br />

• Ensaios de transformadores monofásicos e trifásicos<br />

• Ensaios de máquinas de indução trifásicas<br />

• Ensaios de máquinas síncronas trifásicas<br />

• Ensaios de máquinas de corrente continua<br />

• Ensaios de servomotores<br />

• Ensaios de tracção eléctrica<br />

• Simulação computacional (Matlab) de funcionamento de máquinas eléctricas<br />

Director Laboratório<br />

Doutor António Andrade<br />

|72 72


ARTIGO TÉCNICO<br />

José António Beleza Carvalho, Roque Filipe M. Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

Eficiência Energética<br />

em Equipamentos de Força Motriz<br />

1. Introdução<br />

A produção de energia mecânica, através da utilização de<br />

motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia<br />

eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é<br />

energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é<br />

preciso tentar fazer economias, prioritariamente. O êxito<br />

neste domínio depende, em primeiro lugar, da melhor<br />

adequação da potência do motor à da máquina que ele<br />

acciona. Quando o regime de funcionamento é muito<br />

variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o<br />

motor com um conversor electrónico de variação de<br />

velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores<br />

“de perdas reduzidas” ou de “alto rendimento”, que<br />

permitem economias consideráveis.<br />

Também a nível Europeu, os motores eléctricos representam<br />

uma das fontes mais consumidoras de energia: 70% do<br />

consumo eléctrico na indústria e cerca de 1/3 do consumo<br />

eléctrico no sector dos serviços.<br />

Nos últimos anos, muitos fabricantes de motores investiram<br />

fortemente na pesquisa e desenvolvimento de novos<br />

produtos com o objectivo de colocarem no mercado motores<br />

mais eficientes.<br />

2. Eficiência dos Motores<br />

Os motores eléctricos convertem a energia eléctrica em<br />

energia mecânica. No entanto o rendimento desta conversão<br />

não é de 100%. A energia eléctricaé convertida em energia<br />

73


ARTIGO TÉCNICO<br />

mecânica e em perdas. Estas perdas são devidas aos diversos<br />

elementos que estão presentes na conversão e podem ser<br />

divididas em quatro tipos:<br />

o Perdas eléctricas;<br />

o Perdas magnéticas;<br />

o Perdas mecânicas;<br />

o Perdas parasitas.<br />

As perdas eléctricas são provocadas pela resistência não nula<br />

dos condutores das bobines que ao serem percorridos pela<br />

corrente provocam perdas caloríficas. As perdas magnéticas<br />

ocorrem nas lâminas de ferro do estator e do rotor devido à<br />

histerese e às correntes de Foucault. As perdas mecânicas<br />

são provocadas pela rotação das peças móveis, ventilação e<br />

atrito do ar. As perdas parasitas são devidas a fugas e<br />

irregularidades de fluxo e, também, distribuição de corrente<br />

não uniforme.<br />

Para se quantificar o valor do rendimento de um motor é<br />

necessário conhecer certos parâmetros, tais como as perdas<br />

e a potência mecânica disponibilizada para a carga. Também<br />

é necessário conhecer algumas características da máquina<br />

para que se possa fazer a sua modelização e simulação em<br />

vários regimes de carga. Os testes e estudos a efectuar para<br />

se determinar o rendimento de um motor de indução são<br />

descritos na norma CEI 34-2.<br />

A eficiência de um motor é dada pelo seu rendimento, ou<br />

seja, pela relação entre a quantidade de energia eléctrica<br />

que absorve e a quantidade de energia mecânica que produz<br />

e pode ser calculada pela expressão seguinte.<br />

Pmec<br />

Pmec<br />

η = (%) =<br />

Pabs<br />

Pmec + Pperdas<br />

(1)<br />

Figura 1 – Perdas nos equipamentos de força motriz<br />

Os sistemas de força motriz não são apenas constituídos pelo<br />

motor eléctrico. Outros componentes do sistema, para além<br />

do motor, podem ser o Variador Electrónico de Velocidade, a<br />

Transmissão Mecânica e o Dispositivo de Uso Final. Na<br />

realidade, os equipamentos de força motriz podem integrar<br />

estes 4 módulos, como se ilustra na figura 2. Deve-se actuar<br />

ao nível de cada módulo, de forma a optimizar a eficiência<br />

do sistema global. Neste âmbito, merece particular atenção<br />

a utilização sempre que possível de Variadores Electrónicos<br />

de Velocidade (VEV).<br />

ENERGIA<br />

P entrada<br />

VARIADOR<br />

ELECTRÓNICO<br />

DE VELOCIDADE<br />

(VEV)<br />

MOTOR<br />

TRANSMISSÃO<br />

P ELÉCTRICO<br />

MECÂNICA<br />

VEV<br />

P motor<br />

P trans<br />

DISPOSITIVO<br />

DE USO FINAL<br />

P saída(útil)<br />

P perdas<br />

P perdas<br />

P perdas<br />

P perdas<br />

Figura 2 – Sistemas de Força Motriz<br />

74


ARTIGO TÉCNICO<br />

3. Classificação da Eficiência Energética<br />

Na Europa a classificação dos motores CA (Corrente<br />

Alternada) de baixa tensão foi estabelecida em 1998 com o<br />

acordo dos principais fabricantes de motores Europeus.<br />

De uma forma resumida, o acordo estabelecido entre a<br />

Comissão Europeia (CE) e o Comité Europeu de Fabricantes<br />

de Máquinas Eléctricas e de equipamentos e sistemas de<br />

Electrónica de Potência (CEMEP) estabelecia que os motores<br />

de 1,1 a 90kW de potência nominal, 50 ou 60Hz, com 2 e 4<br />

pólos magnéticos, serão classificados de acordo com os<br />

valores dos respectivos rendimentos.<br />

As classes de rendimento estabelecidas foram as seguintes:<br />

o EFF1: Motores de elevado rendimento;<br />

o EFF2: Motores de rendimento melhorado;<br />

o EFF3: Motores de rendimento normal.<br />

No acordo CE/CEMEP ficou ainda estabelecido que as<br />

vendas, na União Europeia, de motores EFF3 diminuiriam<br />

para metade até 2003. Este objectivo foi alcançado e a venda<br />

de motores EFF3 terminou pouco tempo depois.<br />

Todos os fabricantes que assinaram este acordo estão<br />

autorizados a colocar a etiqueta de eficiência nos motores e<br />

em toda a documentação que os acompanhe, o que torna<br />

mais fácil a identificação da classe do motor.<br />

Figura 4 – Etiquetas de eficiência dos motores.<br />

Com base no acordo voluntário anteriormente referido, foi<br />

também criada uma base de dados europeia EuroDEEM, que<br />

foi projectada pelo centro de pesquisa da Comissão Europeia<br />

(CE/JRC), com o objectivo de reunir num só suporte as<br />

informações mais importantes sobre os motores eléctricos<br />

disponíveis no mercado. Desta forma pretende-se que os<br />

utilizadores desta ferramenta possam fazer uma escolha<br />

bem fundamentada em termos técnicos e económicos dos<br />

seus sistemas (CARLOS GASPAR, 2004).<br />

Figura 3 – Classes de eficiência de motores. [Rennie, 2000]<br />

75


ARTIGO TÉCNICO<br />

A tabela I mostra o rendimento dos motores para cada uma<br />

das classes de eficiência estabelecidas.<br />

4. Características dos motores de elevado rendimento<br />

Actualmente, encontra-se já disponível no mercado os<br />

chamados motores de “perdas reduzidas”, ou de “alto<br />

rendimento”, mais caros que os motores clássicos, mas cuja<br />

utilização se revela rentável quando o seu tempo anual de<br />

utilização for suficientemente longo. Basicamente, o<br />

acréscimo de eficiência dos motores está associado a uma<br />

redução das suas perdas, que foi conseguida à custa, quer da<br />

utilização de materiais construtivos de melhor qualidade e<br />

com melhores acabamentos, quer por alteração das suas<br />

características dimensionais.<br />

Os construtores aumentaram a massa de materiais activos<br />

(cobre e ferro) de forma a diminuir as induções, as<br />

densidades de corrente e, assim, reduzir as perdas no cobre<br />

e no ferro. Utilizam chapas magnéticas de perdas mais<br />

reduzidas, entalhes especiais em certos casos e<br />

reformularam a parte mecânica, com especial incidência<br />

sobre a ventilação, para reduzir a potência absorvida por<br />

esta e diminuir o nível de ruído. Daí resulta, para idêntica<br />

dimensão, um aumento de peso da ordem de 15%, e de<br />

preço da ordem de 20 a 25%. Contudo, a melhoria do<br />

rendimento, compreendida entre 2 e 4,5%, e do cosφ,<br />

permite amortizar rapidamente este aumento de preço. As<br />

melhorias típicas que são efectuadas a nível construtivo da<br />

máquina podem ser visualizadas na figura seguinte e são<br />

resumidas na Tabela II.<br />

kW<br />

1,1<br />

1,5<br />

2,2<br />

3<br />

4<br />

5,5<br />

7,5<br />

11<br />

15<br />

EFF3<br />

2 e 4 pólos<br />

η n (%)<br />


ARTIGO TÉCNICO<br />

Apesar de este tipo de motores possuir uma eficiência<br />

melhorada, quando inseridos num sistema, a eficiência total<br />

do mesmo sistema depende de todos os outros<br />

componentes que o compõem. Por este motivo, não se deve<br />

apenas investir na compra de um motor de elevada<br />

eficiência, quando existirem problemas de eficiência nos<br />

outros componentes do sistema.<br />

5. Estudo económico, em motores de elevado rendimento<br />

Como foi referido anteriormente, a opção por motores de<br />

elevado rendimento acarreta custos de investimentos<br />

sempre superiores ao investimento em motores standard.<br />

Por esse motivo só se torna economicamente vantajosa a<br />

aposta neste tipo de motores quando existe a necessidade<br />

de substituição de um motor ou quando se está a<br />

dimensionar uma nova instalação. Quase nunca a<br />

substituição de um motor standard, a funcionar<br />

correctamente, por um motor de elevado rendimento se<br />

torna economicamente vantajosa. Essa hipótese poderá ser<br />

considerada se o motor tiver um elevado número de horas<br />

de funcionamento anual.<br />

A equação seguinte permite calcular a poupança que se<br />

obtém com um motor de elevado rendimento em<br />

comparação com um motor standard.<br />

⎛ 1<br />

Poupança =<br />

⎜<br />

⎝η<br />

em que,<br />

η EE<br />

η STD<br />

P N<br />

N<br />

€<br />

kWh<br />

representao rendimento do motor standard<br />

(2)<br />

representa o rendimento do motor de elevada<br />

eficiência<br />

STD<br />

1 ⎞<br />

− × PN<br />

× N × €<br />

⎟<br />

η<br />

kWh<br />

EE ⎠<br />

representaa potência nominal do motor<br />

indica o número de horas de funcionamento anual<br />

traduz o preço da energia eléctrica.<br />

Figura 5 – Alterações nos motores de elevado rendimento [WEG]<br />

77


ARTIGO TÉCNICO<br />

O acréscimo de custos dos motores de alto rendimento é<br />

recuperado através da economia de energia eléctrica que<br />

proporcionam. O tempo de recuperação N do investimento<br />

suplementar devido à instalação de motores de alto<br />

rendimento, pode ser calculado através da seguinte<br />

expressão:<br />

∆Ι<br />

N =<br />

∆Ρ.Κ. t<br />

(3)<br />

Apesar de este ser apenas um exemplo e que usa<br />

pressupostos previamente estabelecidos, os valores<br />

encontrados são da mesma ordem de grandeza dos valores<br />

que se podem atingir na realidade. Para qualquer<br />

investimento em motores eléctricos efectuado, pelo menos,<br />

para 10 anos, os modelos de perdas reduzidas são<br />

fortementecompetitivos.<br />

6. Controlo de velocidade dos equipamentos de força motriz<br />

em que,<br />

∆Ι diferençade custos<br />

∆P variação das perdas entre os dois motores<br />

K preço do kWh<br />

t tempo de utilização (horas)<br />

Se por exemplo considerarmos um motor de 30kW a<br />

funcionar à plena carga durante 4000 horas anuais.<br />

Considerando um custo médio para a energia de 0,09€/kWh<br />

e que o rendimento dos motores EFF1 e EFF3 é<br />

respectivamente 93,2% e 91,4%, então a poupança anual de<br />

energia é de cerca de 228,2 €.<br />

Considerando agora que a diferença de preço entre os dois<br />

motores é de 450€, então tempo de recuperação do capital<br />

devido à instalação do motor de elevado rendimento é de<br />

aproximadamente2 anos.<br />

Uma grande parte das aplicações em que se utiliza força<br />

motriz beneficiaria, em termos de consumo de electricidade<br />

e desempenho global, se a velocidade do motor se ajustasse<br />

às necessidades do processo. As aplicações com carga<br />

variável ou parcial representam cerca de 60% das aplicações<br />

de força motriz na indústria, e 80% no sector terciário.<br />

Assim, adaptar a velocidade do motor à carga conduz em<br />

geral a uma poupança substancial de energia. Os sistemas<br />

mais eficientes e mais utilizados no controlo e regulação de<br />

velocidade dos equipamentos de força motriz são os<br />

VariadoresElectrónicosde Velocidade(VEV).<br />

Os VEVs convertem a tensão alternada da rede de 50 Hz<br />

numa tensão contínua e em seguida numa tensão com<br />

frequência variável sob controlo externo do utilizador que<br />

pode ir de 0 a 150 Hz consoante o tipo de aplicações. Na<br />

figura 6 apresenta-se a estrutura de blocos de um VEV para<br />

um motor assíncrono de indução trifásico.<br />

Ligação DC linkDC<br />

3φ<br />

Alimentação AC<br />

trifásica input<br />

Rectificador<br />

CA<br />

AC<br />

para CC<br />

to DC<br />

converter<br />

Filtro<br />

Filter<br />

Inverter:<br />

DC to<br />

Inversor<br />

variable<br />

CC para CA<br />

voltage com<br />

&<br />

frequency<br />

AC<br />

Frequência e<br />

tensão variável<br />

Motor<br />

Motor<br />

Figura 6– Diagrama de blocos de um Variador Electrónico de Velocidade<br />

78


ARTIGO TÉCNICO<br />

As principais vantagens inerentes à utilização de um VEV são<br />

as seguintes:<br />

o Elevado rendimento (96 a 98%) e elevada fiabilidade<br />

o Elevado factor de potência<br />

o Adaptaçãodo motor à carga , em binário e velocidade<br />

o Arranques suaves (poupança de energia) e frenagem<br />

controlada<br />

o Protecção do motor contra curto-circuitos, sobrecargas,<br />

sobretensões, falta de fase, etc. Vantagem técnica e<br />

económica<br />

o Poupança substancial de energia e tempo de retorno do<br />

investimento reduzido, especialmente em aplicações de<br />

controlo da caudais de bombas, ventiladores e<br />

compressorescentrífugos<br />

o Menor desgaste de componentes e equipamentos<br />

mecânicos.<br />

7. Transmissão Mecânica nos Equipamentos de Força<br />

Motriz<br />

Tipicamentesão usados 3 tipos de transmissão mecânica:<br />

o Acoplamentosdirectos no veio;<br />

o Engrenagens;<br />

o Correias.<br />

Os acoplamentos directos no veio são o tipo de transmissão<br />

mais utilizado (cerca de 50% das aplicações).<br />

Acoplamentos directos:<br />

Os acoplamentos directos, se forem alinhados com precisão,<br />

possuem um rendimento muito elevado (99%).<br />

Engrenagens:<br />

As engrenagens simples ou redutoras, são tipicamente<br />

utilizados em cargas que requerem velocidades baixas<br />

(abaixo de 1200 rpm) e binário muito elevado (que utilizando<br />

correias poderia resultar em escorregamento). Existem<br />

vários tipos de engrenagens: helicoidais, de dentes direitos,<br />

cónicase com sem-fim.<br />

Correntes:<br />

Tal como as correias síncronas, as correntes não têm<br />

deslizamento. Normalmente são usadas em aplicações onde<br />

é requerido uma velocidade reduzida e binário elevado,<br />

suportam ambientes com temperaturas elevadas e cargas de<br />

choque e têm um tempo de vida elevado se forem<br />

apropriadamente lubrificadas. O seu rendimento ascende<br />

aos 98% se forem sujeitas a uma manutenção periódica.<br />

(c)<br />

(a)<br />

(b)<br />

(d)<br />

(e)<br />

Figura 7 – Transmissão Mecânica em equipamentos de força motriz.<br />

79


ARTIGO TÉCNICO<br />

Correias:<br />

Estas permitem mais flexibilidade no posicionamento do<br />

motor em relação à carga, e usando polias de diferentes<br />

tamanhos permitem reduzir/aumentar a velocidade. Existem<br />

vários tipos de correias: (a) Correias em V, (b) Correias com<br />

dentes, (c) correias síncronas, (d) correias lisas.<br />

sua utilização. Como se demonstrou neste artigo, os ganhos<br />

de eficiência com os motores de alto rendimento, vão desde<br />

1% a 5%, o que se pode traduzir por importantes reduções<br />

do seu consumo eléctrico; contudo, pela sua concepção, são<br />

naturalmente motores que exigem um investimento inicial<br />

superior ao dos motores standard (cerca de 25% a 30%).<br />

Face a este acréscimo de custos de investimento, é<br />

conveniente efectuar-se uma análise económica prévia;<br />

pode no entanto, considerar-se tipicamente que, em<br />

situações de aquisição de novos motores, a sua utilização é<br />

normalmente justificada, sendo o sobrecusto amortizado em<br />

1 a 2 anos, para um período de laboração da ordem das 4000<br />

h/ano, e em cerca de 3 anos, para 2000 h/ano de<br />

funcionamento.<br />

Atender às necessidades de manutenção dos motores, que<br />

são essencialmente a limpeza da carcaça, a fim de reduzir a<br />

temperatura,e nalguns casos a lubrificaçãodos rolamentos.<br />

Figura 8 – Tipos de correias: 1-correias trapezoidais 2-<br />

correias síncronas<br />

8. Considerações Finais<br />

A produção de energia mecânica, através da utilização de<br />

motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia<br />

eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é<br />

energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é<br />

preciso tentar fazer economias, prioritariamente. Como se<br />

apresentou neste artigo, os pontos fundamentais em que se<br />

deve intervir são os seguintes:<br />

o Dimensionar correctamente os equipamentos de força<br />

motriz, fazendo os motores funcionar com cargas da<br />

ordem dos 70 a 80%.<br />

o Adaptar a velocidade do motor às necessidades do<br />

processo, utilizando sempre que necessário dispositivos<br />

electrónicosde variação de velocidade.<br />

o Utilizar os novos motores de “alto rendimento”, que já<br />

provaram a sua competitividade apesar do seu custo<br />

superior, devendo-se ponderar sempre que necessário a<br />

Fontes de Informação Relevantes<br />

- BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO,<br />

Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz.<br />

Jornadas Luso-Brasileiras de Ensino e Tecnologia em<br />

Engenharia. ISEP, Porto, Fevereiro de 2009.<br />

- BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.,<br />

Efficient Use of Electrical Energy in Industrial<br />

Installations. 4TH European Congress Economics and<br />

Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de<br />

2007.<br />

- CARLOS GASPAR, Eficiência Energética na Industria-<br />

ADENE,Cursos de UtilizaçãoRacional de Energia, 2004.<br />

- GARCIA, A. G. Impacto da Lei de Eficiência Energética<br />

para Motores Eléctricos no Potencial de Conservação de<br />

Energia na Indústria. 2003. Dissertação (Mestrado em<br />

Planeamento Energético) - Universidade Federal do Rio<br />

de Janeiro-COPPE,Rio de Janeiro.<br />

- IAN RENNIE, Improving Motor Efficiency for a Better<br />

Environment . ABB Review, 1/2000.<br />

- WEG, Catálogo de Motores Eléctricos, disponível em<br />

http://www.weg.com.br/.<br />

80


ARTIGO TÉCNICO<br />

Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

Veículos Eléctricos<br />

Características e Tipos de Motores<br />

RESUMO<br />

Os impactos ambientais e económicos dos combustíveis<br />

fósseis têm uma forte proveniência do sector dos<br />

transportes. Este facto tem motivado, nas últimas décadas,<br />

um aumento do desenvolvimento dos veículos eléctricos,<br />

principalmente, das soluções híbridas. Tais desenvolvimentos<br />

resultam da integração de diversos domínios da engenharia,<br />

sendo de destacar os novos materiais e concepções de<br />

motores eléctricos, a electrónica de potência, os sistemas de<br />

controloe os sistemas de armazenamento de energia.<br />

obtidos no motor de combustão interna – maiores potências<br />

e mais baratos, com menores custos de produção [1].<br />

As sucessivas crises energéticas nos finais do século XX, as<br />

crescentes preocupações ambientais e a tomada de<br />

consciência dos limites das reservas de combustíveis fósseis<br />

colocaram em evidência os veículos eléctricos como<br />

alternativa aos transportes convencionais. Paralelamente, o<br />

sector dos transportes é responsável por enormes<br />

quantidades de energia consumida, cujos valores aumentam<br />

consideravelmentetodos os anos.<br />

Neste artigo procura-se apresentar as principais<br />

características dos sistemas de propulsão eléctrica actuais.<br />

Começa-se fazer uma comparação entre os veículos<br />

eléctricos e os convencionais, baseados nos motores térmicos<br />

de combustão interna. Pela sua importância, é feita uma<br />

referência sucinta aos sistemas de armazenamento de<br />

energia.<br />

São comparadas as características da propulsão eléctrica e<br />

térmica, sob a perspectiva das exigências dos sistemas de<br />

tracção. São referidos os principais tipos de sistemas de<br />

propulsão eléctrica (motor, conversor e controlador),<br />

vantagens e desvantagens relativas.<br />

Por último, uma abordagem acerca das tendências futuras<br />

dos veículos eléctricos.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Em particular, nos meios urbanos, a substituição dos meios<br />

de transporte actuais por veículos eléctricos trará enormes<br />

reduções nos níveis de poluição atmosférica, bem como nos<br />

índices de ruído.<br />

Também em termos gerais, as emissões das centrais<br />

eléctricas, baseadas em combustíveis fósseis, associadas à<br />

generalização dos veículos eléctricos serão muito inferiores<br />

ao somatório das emissões dos motores de combustão<br />

interna, actualmente em circulação.<br />

As razões assentam nos rendimentos muito superiores dos<br />

motores eléctricos, bem como na capacidade de efectuarem<br />

frenagensregenerativas.<br />

Neste cenário, é de referir também o contributo das fontes<br />

renováveis de energia eléctrica na redução das emissões de<br />

poluentespara a atmosfera.<br />

Embora o tema dos veículos eléctricos tenha conhecido uma<br />

divulgação alargada, sobretudo nas duas últimas décadas,<br />

não se trata de uma novidade propriamente dita. No final<br />

do século XIX eram relativamente populares e, até finais da<br />

década de 1910, as suas vendas tiveram alguma expressão.<br />

Somente a partir da década de 30, os veículos eléctricos<br />

desapareceram, devido aos desenvolvimentos<br />

A tabela 1 apresenta uma comparação entre veículos<br />

eléctricos e convencionais (baseados em motores térmicos)<br />

[2].<br />

A proliferação dos veículos eléctricos será ditada pela<br />

aceitação dos utilizadores dos actuais meios de transportes<br />

(nos designados países desenvolvidos trata-se da<br />

generalidade dos seus cidadãos).<br />

81


ARTIGO TÉCNICO<br />

Tabela 1 – Características de Veículos Eléctricos e Convencionais<br />

Veículos Eléctricos<br />

Veículos c/ Motores Térmicos<br />

Tipo de Motor Motor Eléctrico Motor de Combustão Interna<br />

Fonte de Energia<br />

Peso Próprio<br />

Transmissão de Potência<br />

Baterias, super condensadores,<br />

células de combustível<br />

Elevado (fundamentalmente,<br />

devido às baterias)<br />

Pode prescindir de caixa de<br />

velocidades<br />

Gasolina e Gasóleo<br />

Leves, em termos comparativos<br />

Sistema de Engrenagens (caixa<br />

de velocidades)<br />

Frenagem Regenerativa Dissipativa<br />

Rendimento Elevado Baixo<br />

Impactos Ambientais Reduzidos Elevados<br />

Custo Inicial Elevado Médio<br />

Custos de Manutenção Reduzidos Muito Elevados<br />

Tal significa que, no mínimo, os veículos eléctricos têm de<br />

apresentar características semelhantes às dos actuais,<br />

baseados em motores térmicos, tais como: segurança,<br />

conforto, fiabilidade, robustez e desempenhos, com preços<br />

competitivos.<br />

Para tal, muito têm contribuído os progressos obtidos, nos<br />

últimos anos, nos seguintes domínios: electrónica de<br />

potência (novas arquitecturas de conversores), máquinas<br />

eléctricas (novas concepções de motores e evolução dos<br />

materiais), sistemas de controlo (gestão optimizada dos<br />

fluxos de energia, com bons desempenhos na tracção) e<br />

sistemasde armazenamento de energia.<br />

2. CARACTERÍSTICAS DOS VEÍCULOS ELÉCTRICOS<br />

Em termos básicos, um veículo eléctrico assenta na<br />

integraçãodos seguintes componentes (Figura 1):<br />

- sistema de gestão de energia;<br />

- sistema de armazenamento de energia;<br />

- sistema de propulsão eléctrica.<br />

2.1. Sistema de Gestão de Energia<br />

O sistema de gestão de energia (implementado pelo<br />

controlador) assume importância fundamental, uma vez que<br />

o fluxo de energia, quer no “modo motor” – baterias→<br />

motor, quer no “modo regenerativo” – motor→ baterias,<br />

deverá ter sempre associadoelevados rendimentos.<br />

No funcionamento em modo regenerativo (períodos de<br />

desaceleração do veículo), a diminuição da energia cinética<br />

do veículo não se traduz em dissipação, mas antes em<br />

armazenamentode energia.<br />

2.2. Sistema de Armazenamento de Energia<br />

Actualmente, na questão da autonomia dos veículos<br />

eléctricosreside o seu principal ponto fraco.<br />

Este facto explica a razão da generalidade dos fabricantes de<br />

automóveis disponibilizarem apenas veículos híbridos<br />

(motor térmico + motor(es) eléctrico(s)).<br />

82


ARTIGO TÉCNICO<br />

-<br />

Figura 1 – Estrutura de um Veículo Eléctrico (baseado em [3])<br />

Não obstante a necessidade de grandes melhorias nas<br />

características dos sistemasde armazenamentode energia,<br />

há a registar evoluções importantes nos últimos anos.<br />

Embora se afaste do tema principal a tratar neste artigo, é<br />

feita, em seguida, uma breve referência ao estado actual<br />

daquelessistemas [2], [4].<br />

As principais característicasdestessistemas são:<br />

- energia específica(Wh/Kg);<br />

- potênciaespecífica(W/Kg);<br />

- densidadede energia (Wh/volume);<br />

- densidadede potência (W/volume);<br />

- vida útil (nº de ciclos);<br />

- temperaturade funcionamento;<br />

- custo.<br />

a) Baterias<br />

Têm valores de energia específica superiores aos super<br />

condensadorese inferiores às células de combustível.<br />

No que se refere à potência específica, são inferiores aos<br />

primeiros mas têm valores superiores aos das células de<br />

combustível.<br />

São de referir os desenvolvimentos nas baterias baseadas<br />

em níquel (Ni) e iões de lítio (Li), principalmente nestas<br />

últimas (elevada densidade de energia).<br />

b) Super Condensadores<br />

Apresentam valores muito elevados de potência específica.,<br />

no entanto, têm valores baixos de energia específica, pelo<br />

que são usados como complemento das baterias ou células<br />

de combustível.<br />

Têm tempos de carga muito curtos.<br />

Possuem características importantes para permitir bons<br />

comportamentos dinâmicos (potência suficiente para as<br />

acelerações e capacidade de recuperação de energia nas<br />

frenagens).<br />

Têm ciclos de funcionamento mais elevados do que as<br />

baterias.<br />

83


ARTIGO TÉCNICO<br />

c) Células de Combustível<br />

Estes sistemas produzem energia eléctrica, através da<br />

reacção química do hidrogénio e oxigénio, sendo o vapor de<br />

água o único produto da reacção.<br />

A Figura 2 ilustra a sua constituição:<br />

- motor eléctrico;<br />

- conversor de potência;<br />

- - controlador;<br />

- sistema de transmissãomecânica.<br />

O seu impacto ambiental é nulo, apresentado rendimentos<br />

elevados. Têm elevados valores de energia específica<br />

(superiores aos das baterias e super condensadores), mas<br />

baixos valores de potência específica (inferiores aos<br />

daqueles).<br />

As exigências impostas pelos veículos eléctricos implicam<br />

motores com características particulares, sendo de destacar:<br />

elevadas densidades de potência e de binário, rendimentos<br />

altos em diferentes regimes de carga (não apenas o nominal)<br />

e custos moderados.<br />

Continuam a ser alvo de pesquisas, com vista a melhorar as<br />

suas característicase custos.<br />

O sistema de propulsão eléctrica deverá permitir dispor de<br />

elevadas potências instantâneas, com bons rendimentos, em<br />

todos os modos de funcionamento[3], [5].<br />

2.3. Sistema de Propulsão Eléctrica<br />

Os sistemas de propulsão eléctrica (“drives”) apresentam<br />

estruturas semelhantes às das “drives” industriais, em uso há<br />

já vários anos. No entanto, atendendo às especificidades dos<br />

veículos eléctricos – arranques e paragens sucessivas,<br />

regimes de carga e condições ambientais distintas, etc. –, as<br />

suas características são, em geral, muito diferentes das<br />

“drives” industriais [5]. É sobre este sistema que se procurará<br />

incidir com mais detalhe.<br />

Na Figura 3 estão representadas as características mecânica<br />

(T el (n r )) e de potência (P el (n r )) típicas dos sistemas de<br />

propulsãoeléctrica.<br />

Está também incluída a característica mecânica típica de um<br />

motor térmico (tracejado).<br />

É visível a excelente adaptação dos sistemas eléctricos aos<br />

requisitosde qualquer veículo de tracção.<br />

84<br />

Figura 2 – Estrutura Básica do Sistema de Propulsão Eléctrica (setas a cinzento: fluxo de energia)


ARTIGO TÉCNICO<br />

Actualmente,as principais escolhas são as seguintes:<br />

- Motor de Corrente Contínua (DC);<br />

- Motor de Indução Trifásico;<br />

- Motor Síncrono de Ímanes de Permanentes;<br />

- Motor “Brushless”DC;<br />

- Motor de RelutânciaComutada.<br />

3.1. Motor de Corrente Contínua (DC)<br />

Figura 3 – Características de Veículos Eléctricos e Convencionais<br />

No sistema eléctrico são obtidos elevados binários nas baixas<br />

velocidades; normalmente, acima da velocidade nominal do<br />

motor, o binário desenvolvido decresce, mantendo-se<br />

aproximadamente constante a potência desenvolvida. Esta<br />

zona de funcionamento – zona de enfraquecimento do<br />

campo – é crucial em termos da gama de velocidades<br />

permitida. É, pois, uma zona importante do funcionamento<br />

dos motores eléctricos dos sistemas de propulsão [3].<br />

Comparando com a característica de um motor de<br />

combustão, há a salientar que o binário desenvolvido no<br />

arranque é inferior neste último.<br />

A zona de funcionamento com potência constante é<br />

conseguida, no caso dos motores térmicos, somente com a<br />

inclusão de um sistema de transmissão múltipla, não sendo<br />

necessárionos sistemas eléctricos.<br />

De notar também que o valor nominal da potência do motor<br />

de combustão é necessariamente mais elevado, ou seja, um<br />

veículo eléctrico cujo funcionamento está circunscrito à zona<br />

das baixas velocidades, terá associado um motor com menor<br />

potêncianominal [6].<br />

3. TIPOS DE SISTEMAS DE PROPULSÃO ELÉCTRICA<br />

Historicamente, o início da tracção eléctrica esteve<br />

intimamenteassociado ao motor série (DC).<br />

As razões prendem-se com a sua característica mecânica,<br />

vocacionada para as exigências inerentes aos sistemas de<br />

tracção, e com a simplicidade dos respectivos sistemas de<br />

controlo e da sua implementação (controlo independente do<br />

campo magnético e do binário).<br />

São também de referir a utilização de outras variantes<br />

clássicasde motores DC: excitação independente e “shunt”.<br />

No entanto, os motores de corrente contínua convencionais<br />

apresentam rendimentos relativamente baixos, bem como<br />

baixas densidades de potência, para além de exigirem<br />

elevados níveis de manutenção (fiabilidade reduzida). Para<br />

tal, muito contribui a existência do sistema colector/escovas,<br />

o qual impõe também limites nas velocidades.<br />

Em certos casos, são usados motores DC de ímanes<br />

permanentes (não têm enrolamento de excitação, este é<br />

substituídopor ímanes permanentes).<br />

Embora apresentem melhores rendimentos, não eliminam<br />

os inconvenientes do comutador mecânico (colector), para<br />

além das limitações de potência e preço, associados aos<br />

ímanes permanentes. A título de exemplo [7]: carro de golfe,<br />

sem controlo no modo de enfraquecimento de campo<br />

(apenasbaixas velocidades).<br />

Os sistemas de propulsão eléctrica são caracterizados pelo<br />

tipo de motor associado.<br />

85


ARTIGO TÉCNICO<br />

Normalmente, ambos os enrolamentos dos motores DC são<br />

equipados com conversores de potência – “Choppers”<br />

baseados em MOSFET’s (Metal Oxide Semiconductor Field-<br />

Effect Transistor) –, permitindo o funcionamento em modo<br />

regenerativo (conversor ligado à armadura) e na zona de<br />

enfraquecimento de campo (conversor ligado à excitação)<br />

[7].<br />

A capacidade de processamento necessária à implementação<br />

dos sistemas de controlo por orientação de campo é elevada,<br />

uma vez que estes se baseiam em modelos dinâmicos do<br />

motor, fortemente não lineares, expressos em referenciais<br />

distintos. Também a variação dos parâmetros do motor (em<br />

particular, a resistência rotórica) tem importância<br />

determinantena eficácia destes sistemas de controlo.<br />

Os avanços verificados na electrónica de potência<br />

(principalmente, a partir da década de 80 do século<br />

passado), permitiram a implementação de sistemas de<br />

controlo para máquinas de corrente alternada (AC), embora<br />

mais complexos do que no caso DC.<br />

Uma vez que são motores com concepções mais simples e<br />

robustas (menor manutenção e preço), com maiores<br />

densidades de potência e rendimentos, tornaram-se<br />

preferenciaisaos tradicionaissistemas DC.<br />

Os conversores de potência mais utilizados baseiam-se em<br />

IGBT´s (Insulated Gate Bipolar Transistor), sendo as tensões<br />

aplicadas ao motor obtidas por modulação de largura de<br />

impulsos (PWM).<br />

Os sistemas de controlo são actualmente baseados em<br />

processadoresdigitaisde sinal (DSP).<br />

A Figura 4 apresenta a estrutura dos inversores mais<br />

comuns.<br />

3.2. Motor de Indução Trifásico<br />

São muito utilizados, atendendo à sua simplicidade<br />

construtiva e robustez, principalmente a variante em gaiola<br />

de esquilo, apresentando rendimentos mais elevados<br />

relativamenteaos motores DC.<br />

Embora não possuam características naturais para a tracção<br />

eléctrica, a implementação de sistemas baseados no<br />

controlo vectorial – controlo por orientação de campo –<br />

permitiram melhorar os desempenhos dinâmicos deste tipo<br />

de motores, possibilitando o funcionamento nas duas zonas<br />

indicadas na Figura 3: binário constante e potência<br />

constante.<br />

O controlo por orientação de campo assenta numa filosofia<br />

semelhante à dos motores DC (controlo independente do<br />

fluxo e do binário). No entanto, a sua implementação é<br />

muito mais complexa, uma vez que, no motor de indução<br />

trifásico não existe um circuito próprio para a excitação –<br />

ausência de “desacoplamento” natural das grandezas físicas<br />

(correntes) que controlam o campo magnético e o binário.<br />

Figura 4 – Inversor de Motor de Indução Trifásico<br />

(setas a vermelho: semicondutores de potência controlados)<br />

Como referido, aos comportamentos dinâmicos exigidos,<br />

acresce também os elevados rendimentos associados aos<br />

fluxos de energia – modo motor e frenagem regenerativa.<br />

São características fundamentais a garantir pelos sistemas de<br />

controlo, que continuam a ser alvo de investigação.<br />

3.3. Motor Síncrono de Ímanes de Permanentes<br />

Estes motores, designados na literatura anglo-saxónica por<br />

“permanent magnet brushless AC motors”, apresentam uma<br />

configuração estatórica semelhante à das máquinas AC<br />

polifásicasconvencionais.<br />

86


ARTIGO TÉCNICO<br />

A principal diferença reside no rotor, onde o enrolamento de<br />

excitação não existe, bem como o sistema de anéis e<br />

escovas, sendo substituído por ímanes permanentes com<br />

elevadas densidades de energia, em resultado dos<br />

progressosobtidos nas últimas décadas neste domínio.<br />

Onde:<br />

Ld coeficiente de auto-indução longitudinal do enrolamento<br />

induzido;<br />

Lq coeficiente de auto-indução transversal do enrolamento<br />

induzido.<br />

Actualmente, são de destacar os ímanes baseados em<br />

elementos de terras raras, em particular, ligas de neodímio,<br />

ferro e boro (Nd-Fe-B).<br />

Relativamente aos motores síncronos convencionais, têm<br />

maiores densidades de potência (redução de peso e<br />

volume), melhores rendimentos (eliminação das perdas<br />

rotóricas), maior robustez e fiabilidade (ausência de anéis e<br />

escovas).<br />

Em relação a estas últimas, estão ao nível dos motores de<br />

indução trifásicos, tendo ainda melhores rendimentos e<br />

maiores densidades de potência [8].<br />

A Figura 5 apresenta dois cortes seccionais de configurações<br />

destesmotores.<br />

Deste modo, o binário desenvolvido tem duas componentes:<br />

uma resultante da interacção do campo magnético fixo e do<br />

campo de reacção do induzido; uma segunda componente<br />

resultantedo binário de anisotropia.<br />

Assim, na zona de funcionamento com binário constante<br />

(baixas velocidades) – Figura 3 – são obtidos elevados<br />

valores de binários.<br />

Estessão motores com elevadas densidades de binário.<br />

Os conversores de potência mais usuais assemelham-se aos<br />

anteriores, com tensões de alimentação reguladas pela<br />

tecnologiaPWM.<br />

Os sistemas de controlo são baseados no controlo vectorial –<br />

controlo do ângulo de binário.<br />

Figura 5 – Motor Síncrono de Ímanes Permanentes [8]<br />

A presença do campo constante do rotor não torna possível<br />

o funcionamento no modo de enfraquecimento de campo,<br />

através dos sistemas de controlo usuais nas máquinas<br />

síncronas convencionais. Assim, o funcionamento na zona de<br />

velocidades elevadas (Figura 3) implica controlar a<br />

componente desmagnetizante do campo de reacção do<br />

induzido, em fase com a posição do campo rotórico<br />

(componentelongitudinal – eixo d).<br />

Os ímanes são colocadosno interior da estrutura rotórica.<br />

Por um lado, torna possíveis velocidades mais elevadas, uma<br />

vez que a fixação dos ímanes permite suportar forças<br />

centrifugas mais elevadas; por outro lado, esta configuração<br />

dota este tipo de motores de características anisotrópicas<br />

(Ld≠Lq),mais concretamente,anisotropia inversa (Ld


ARTIGO TÉCNICO<br />

3.4. Motor “Brushless” DC<br />

Do ponto de vista construtivo, este tipo de motores têm uma<br />

estruturasemelhante aos motores DC convencionais, sendo<br />

eliminados o enrolamento da armadura e o sistema<br />

colector/escovas.<br />

As características referidas das correntes estatóricas, bem<br />

como a comutação electrónica, implicam a inclusão de<br />

conversoresde potência e sistemas de controlo dedicados.<br />

Estes últimos são bastante mais simples do que no caso dos<br />

motores síncronos de ímanes permanentes [8], [9].<br />

No rotor são colocados ímanes permanentes, à semelhança<br />

dos motores anteriores.<br />

Os enrolamentos do estator são alimentados por uma fonte<br />

exterior, sendo através destes que se dá a entrada de<br />

energia eléctrica.<br />

Há dois aspectos fundamentaisa referir:<br />

- A função de comutação do colector/escovas é<br />

substituída por um sistema de comutação electrónica: a<br />

comutação das correntes nos enrolamentos do estator é<br />

feita em função do conhecimento, em cada instante, da<br />

posição do campo magnético rotórico. Normalmente,<br />

são utilizados sensores de efeito de Hall para este fim.<br />

- Atendendo à configuração deste tipo de motores, a<br />

distribuição espacial do campo magnético do rotor no<br />

entreferro é, em cada instante, do tipo rectangular (mais<br />

precisamente, trapezoidal). As correntes que circulam<br />

nos enrolamentos estatóricos têm uma evolução<br />

temporal do tipo rectangular (trapezoidal). Em<br />

comparação com distribuições de campos magnéticos e<br />

correntes sinusoidais, com os mesmos valores de pico<br />

(motores anteriores), os binários desenvolvidos são<br />

consideravelmente mais elevados, atendendo aos<br />

maiores valores eficazes. No entanto, existirá uma maior<br />

componentealternada no binário desenvolvido.<br />

Deste modo, para além das vantagens comuns aos motores<br />

síncronos de ímanes permanentes – robustez, fiabilidade,<br />

elevados rendimentos – há a salientar as elevadas<br />

densidades de potência, superiores às dos motores<br />

anteriores.<br />

3.5. Motor de Relutância Comutada<br />

Estes motores são muito semelhantes aos motores de passo<br />

de relutância variável, necessitando de um conversor e<br />

controladordedicados.<br />

Com efeito, os enrolamentos do estator são alimentados<br />

com impulsos de corrente (uma fase de cada vez), em função<br />

da posição do rotor, o que implica também a inclusão de<br />

sensoresde posicionamentorotórico.<br />

Apresentam uma construção simples, robusta e fiável, à<br />

semelhançados motores AC anteriores.<br />

A Figura 6 apresenta um corte seccional de uma<br />

configuraçãoreal deste tipo de motor.<br />

Figura 6 – Motor Trifásico de Relutância Comutada ( 6 pólos no<br />

estator e 4 pólos no rotor) [10]<br />

Os circuitos magnéticos do estator e do rotor são formados<br />

por empilhamentos de chapas de materiais ferromagnéticos.<br />

Os enrolamentos do estator são colocados em torno dos<br />

respectivos núcleos polares. De notar que na estrutura<br />

rotórica (pólos salientes) não existem enrolamentos nem<br />

ímanes permanentes.<br />

88


ARTIGO TÉCNICO<br />

Tal como os motores “brushless” DC, caracterizam-se por<br />

distribuições de campo no espaço rectangulares. São<br />

máquinas anisotrópicas, cujo princípio de funcionamento<br />

assentano desenvolvimento de um binário de relutância.<br />

Apresentam excelentes características para a tracção –<br />

binários muito elevados nas baixas velocidades e zona de<br />

funcionamento com potência constante caracterizada por<br />

intervalosalargados de velocidades.<br />

Os conversores de potência utilizados apresentam<br />

características próprias: usualmente, existem dois<br />

semicondutores de potência por fase (por ex., IGBT´s,<br />

MOSFET´s), o que poderá implicar um elevado número de<br />

semicondutores no conversor, no caso de motores com<br />

elevado número de fases. No entanto, como as correntes do<br />

estator têm forma rectangular (trapezoidal), as perdas de<br />

comutação nestes conversores são bastante inferiores às<br />

que ocorrem nos motores de indução e síncronos de ímanes<br />

permanentes. Isto permite a utilização de semicondutores<br />

com valores nominais mais baixos, podendo compensar o<br />

acréscimo do número.<br />

Os sistemas de controlo são bastante complexos, atendendo<br />

aos níveis de saturação que ocorrem no circuito magnético,<br />

particularmente,nas extremidades dos pólos do estator.<br />

O binário desenvolvido não é constante; existe uma<br />

componente alternada (“ripple”), principalmente nas<br />

velocidades baixas, que tende a diminuir com o número de<br />

fases do motor. Uma outra desvantagem é o ruído acústico.<br />

Aqui, as componentes mecânicas do motor têm também um<br />

papel importante na sua diminuição [10].<br />

3.6. Análise Comparativa dos Diferentes Sistemas<br />

Pelas razões já apresentadas, a utilização dos motores DC<br />

convencionais nos veículos eléctricos encontra-se cada vez<br />

mais limitada, praticamente nas aplicações de pequena<br />

potência.<br />

Como tal, far-se-á em seguida, uma síntese das<br />

características dos sistemas baseados em motores AC,<br />

anteriormenteapresentados.<br />

a) Robustez e simplicidade<br />

Os sistemas com motores de indução trifásico e de relutância<br />

comutada apresentam maior robustez e fiabilidade, com<br />

menor necessidadede operações de manutenção.<br />

b) Rendimento, densidade de Potência e binário<br />

Os motores de ímanes permanentes têm os melhores<br />

rendimentos, bem como densidades de potência e binário,<br />

em particular, o motor “brushless” DC. De destacar também<br />

o motor de relutância comutada em termos de densidade de<br />

binário.<br />

c) Custo<br />

Os motores de ímanes permanentes são os mais caros,<br />

essencialmente,devido ao custo dos ímanes permanentes.<br />

d) Conversores de potência e sistema de controlo<br />

Os conversores dos motores de indução trifásicos e dos<br />

motores síncronos de ímanes permanentes apresentam<br />

estruturas semelhantes; os seus sistemas de controlo<br />

assentam no controlo vectorial, embora nos primeiros<br />

(controlo por orientação de campo) a sua implementação<br />

seja mais complexa, atendendo à influência que a variação<br />

dos parâmetros do motor tem na sua eficácia. Nos motores<br />

de ímanes permanentes, o funcionamento no modo de<br />

enfraquecimento de campo implica a utilização de<br />

estratégiaspróprias.<br />

Os conversores dos motores de relutância comutada<br />

incluem, normalmente, um maior número de<br />

semicondutores de potência (interruptores controlados),<br />

considerando o mesmo número de fases. Atendendo às não<br />

linearidades do circuito magnético destes motores, os<br />

sistemasde controlo são bastante complexos.<br />

e) Desempenhos<br />

Os motores DC “brushless” e os motores de relutância<br />

comutada desenvolvem binários mais elevados nas baixas<br />

velocidades, com grandes intervalos de velocidade no<br />

89


ARTIGO TÉCNICO<br />

funcionamento com potência constante. Apresentam<br />

excelentes desempenhos dinâmicos, podendo prescindir da<br />

caixa de velocidades.<br />

Como foi referido, a classificação dos sistemas DC, com base<br />

nos critérios apresentados, é muito inferior à dos sistemas<br />

AC, com excepção para os custos e conversores de potência.<br />

A aceitação e proliferação dos veículos eléctricos<br />

dependerão de múltiplos factores, sendo de destacar os<br />

sociais, ambientais, económicos e tecnológicos. O papel dos<br />

estados de cada país (por ex., através de incentivos fiscais<br />

para aquisição de veículos eléctricos) e dos fabricantes de<br />

automóveis (segurança, fiabilidade, conforto, desempenhos)<br />

assumirá importância crucial.<br />

4. CONCLUSÕES<br />

Os constrangimentos energéticos presentes nas últimas<br />

décadas, quer ao nível da limitação de recursos, quer pelos<br />

impactos ambientais associados às fontes convencionais,<br />

tornam as alternativas de transportes baseadas na propulsão<br />

eléctricacada vez mas consistentes.<br />

Os motores DC foram os primeiros a ser aplicados na tracção<br />

eléctrica, devido às suas características naturais e<br />

simplicidade dos sistemas de controlo. Os elevados níveis de<br />

manutenção exigidos, densidades de potência e<br />

rendimentos relativamente baixos, a par da evolução dos<br />

conversores de potência e sistemas de controlo de motores<br />

AC, conduziram à preferência por estes últimos.<br />

O motor de indução trifásico, amplamente utilizado no<br />

sector industrial pela sua robustez, fiabilidade e custo, é<br />

também uma opção clara para a tracção, atendendo aos<br />

bons desempenhos dinâmicos conseguidos através do<br />

controlo vectorial.<br />

Os motores de ímanes permanentes e de relutância<br />

comutada têm vindo a ganhar terreno em relação ao motor<br />

de indução trifásico. Com efeito, aliam a fiabilidade deste a<br />

melhores rendimentos, densidades de potência e binário, e<br />

elevadas gamas de velocidade de funcionamento. Como<br />

desvantagens, o custo (motores de ímanes permanentes) e<br />

sistemas de controlo complexos (motores de relutância<br />

comutada). Os sistemas baseados nestes motores<br />

apresentam, actualmente, o maior potencial de<br />

desenvolvimentoe de aplicações futuras.<br />

A revitalização dos veículos eléctricos implica necessidades<br />

de desenvolvimentos em múltiplos domínios científicos e<br />

tecnológicos, tais como: autonomia de alimentação,<br />

electrónica de potência, máquinas eléctricas e sistemas de<br />

controlo.<br />

O desenvolvimento de sistemas de armazenamento de<br />

energia com maior autonomia será determinante para a<br />

proliferação, a curto prazo, dos veículos híbridos e, a<br />

médio/longoprazo, dos veículos puramente eléctricos.<br />

Bibliografia<br />

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Future”, 3rd International Conference on Power Electronics<br />

Systems and Applications, 2009.<br />

[2] Gulhane, Mr. Vidyadhar , et al., “A Scope for the Research and<br />

Development Activities on Electric Vehicle Technology in Pune<br />

City”, IEEE, 2006.<br />

[3] Chan, C.C., “An Overview of Electric Vehicle Technology”,<br />

Proceedings of the IEEE, Vol. 81, Nº9, September 1993.<br />

[4] Chan, C.C., “The State of the Art of Electric, Hybrid, and Fuel Cell<br />

Vehicles”, Proceedings of the IEEE, Vol. 95, Nº4, April 2007.<br />

[5] Nanda, Gaurav, Kar, Narayan, “A Survey and Comparison of<br />

Characteristics of Motor Drives Used in Electric Vehicles”, IEEE,<br />

2006.<br />

[6] Naunin, Dietrich, “Electric Vehicles”, IEEE, 1996.<br />

[7] Weiss, Helmut, “Revitalization, Performance Measurement, and<br />

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[8] Krishnan, R., “Electric Motor Drives – Modeling, Analysis and<br />

Control”, Prentice Hall, 2001.<br />

[9] Chan, C.C, et al., “Novel Permanent Magnet Motor Drives for<br />

Electric Vehicles”, IEEE Transactions on Industrial Electronics,<br />

vol.43, nº2, April 1996.<br />

[10] Bill Drury, “The Control Techniques Drives and Control<br />

Handbook”, The Institution of Electrical Engineers, 2001.<br />

90


ARTIGO TÉCNICO<br />

José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

ACCIONAMENTOS EFICIENTES DE FORÇA-MOTRIZ<br />

NOVA CLASSIFICAÇÃO<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Os motores eléctricos, particularmente o motor assíncrono<br />

de indução, são o tipo de máquina mais utilizada na indústria<br />

em virtude da sua grande versatilidade, gama de potências,<br />

robustez, duração, reduzida manutenção, baixa poluição,<br />

facilidade de produção e custos de aquisição relativamente<br />

baixos. Como qualquer máquina, o motor eléctrico,<br />

responsável pela conversão de energia eléctrica em<br />

mecânica, apresenta perdas. O rendimento (ou eficiência) é<br />

definido como sendo a razão entre a potência de saída (ao<br />

nível do veio de saída do accionamento) e a potência<br />

eléctricaabsorvida à entrada.<br />

A produção de energia mecânica, através da utilização de<br />

motores eléctricos, absorve cerca de 60% da energia<br />

eléctrica consumida no sector industrial do nosso País, da<br />

qual apenas metade é energia útil. Este sector é, pois, um<br />

daqueles em que é preciso tentar fazer economias,<br />

prioritariamente. Os sistemas de accionamentos têm que ser<br />

abordados como um todo, já que a existência de um<br />

componente de baixo rendimento influencia drasticamente<br />

o rendimento global.<br />

O êxito neste domínio depende, em primeiro lugar, da<br />

melhor adequação da potência do motor à da máquina que<br />

ele acciona. Quando o regime de funcionamento é muito<br />

variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o<br />

motor com um conversor electrónico de variação de<br />

velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores “<br />

de perdas reduzidas”, de “alto rendimento”, ou “elevada<br />

eficiência”, que permitem economias energéticas<br />

consideráveis.<br />

Nos últimos anos, muitos fabricantes de motores investiram<br />

fortemente na pesquisa e desenvolvimento de novos<br />

produtos com o objectivo de colocarem no mercado<br />

motores mais eficientes. O acordo voluntário obtido em<br />

1999 entre a CEMEP (Associação Europeia de Fabricantes de<br />

Motores Eléctricos) e a Comissão Europeia sobre o<br />

rendimento de motores de 2 e 4 pólos, na gama de<br />

potências1,1 a 90 kW, foi revisto em 2004.<br />

Os motores foram classificados de acordo com o seu<br />

rendimento:<br />

- EFF1 – Motores de alto rendimento;<br />

- EFF2 – Motores de rendimento aumentado;<br />

- EFF3 – Motores sem qualquer requisito especial.<br />

No seguimento da directiva "Eco-design Directive<br />

(2005/32/CE) “ publicada em 2005 para Produtos que<br />

consomem energia (EUP), a Comissão Europeia aprovou em<br />

Julho de 2009 um regulamento de aplicação dos requisitos<br />

de concepção ecológica para os motores eléctricos, com<br />

efeitos a partir de meados de 2011, dando aos fabricantes de<br />

cerca de 2 anos para garantir que seus produtos cumprem a<br />

referida directiva. O lote 11 da Directiva EUP (Energy Using<br />

Products) descreve as orientações de design, a<br />

compatibilidade ambiental, o impacte ambiental e o<br />

consumo de energia de máquinas / motores eléctricos<br />

rotativos de alto rendimento. A directiva abrange os motores<br />

de 2, 4 e 6 pólos, na gama de potências de 0,75 a 375 kW.<br />

Nesteâmbito, os motores passam a ser classificadospor:<br />

- IE1 (igual a EFF2) – com utilizaçãoproibida;<br />

- IE2 (igual a EFF1) – com utilizaçãoobrigatória;<br />

- IE3 (igual a Premium) – com utilização voluntária;<br />

- IE4 (ainda não aplicável a accionamentosassíncronos).<br />

2 CARACTERÍSTICAS DOS MOTORES DE ELEVADA EFICIÊNCIA<br />

A eficiência dos motores está associada a uma redução das<br />

suas perdas, que é conseguida à custa, quer da utilização de<br />

materiais construtivos de melhor qualidade e com melhores<br />

acabamentos, quer por alteração das suas características<br />

dimensionais. Estas perdas são devidas aos diversos<br />

elementos que estão presentes na conversão<br />

electromecânica de energia e podem ser divididas em quatro<br />

tipos:<br />

- Perdaseléctricas;<br />

- Perdasmagnéticas;<br />

- Perdasmecânicas;<br />

- Perdasparasitas.<br />

91


ARTIGO TÉCNICO<br />

As perdas eléctricas são provocadas pela resistência não nula<br />

dos condutores das bobines que ao serem percorridos pela<br />

corrente provocam perdas caloríficas. As perdas magnéticas<br />

ocorrem nas lâminas de ferro do estator e do rotor devido à<br />

histerese e às correntes de Foucault. As perdas mecânicas<br />

são provocadas pela rotação das peças móveis, ventilação e<br />

atrito do ar. As perdas parasitas são devidas a fugas e<br />

irregularidades de fluxo e, também, distribuição de corrente<br />

não uniforme.<br />

Para melhorar a eficiência dos motores eléctricos, os<br />

construtores aumentaram a massa de materiais activos<br />

(cobre e ferro) de forma a diminuir as induções, as<br />

densidades de corrente e, assim, reduzir as perdas no cobre<br />

e no ferro. Utilizam-se chapas magnéticas de perdas mais<br />

reduzidas, entalhes especiais em certos casos e reformulouse<br />

a parte mecânica, com especial incidência sobre a<br />

ventilação, para reduzir a potência absorvida por esta e<br />

diminuir o nível de ruído. Daí resulta, para idêntica<br />

dimensão, um aumento de peso da ordem de 15%, e de<br />

preço da ordem de 20 a 25%.<br />

Contudo, a melhoria da eficiência, compreendida entre 2 e<br />

4,5%, e do cosφ, permite amortizar rapidamente este<br />

aumento de preço.<br />

As melhorias típicas que são efectuadas a nível construtivo<br />

da máquina podem ser visualizadas na Figura 1 e são<br />

resumidas na seguinte tabela:<br />

Tab. 1 – Resumo das alterações nos motores de elevada eficiência<br />

Alteração Efectuada<br />

Tratamento térmico do<br />

rotor<br />

Uso de ferro laminado por<br />

camada<br />

Melhoria do circuito<br />

magnético<br />

Redução das bobines do<br />

circuito indutor<br />

Melhor qualidade dos<br />

rolamentos<br />

Maior quantidade de cobre<br />

Redução do entre-ferro<br />

Rotor mais largo<br />

Sistema de ventilação<br />

melhorado<br />

Efeito produzido<br />

Redução da resistência<br />

Redução das perdas no ferro<br />

Redução das perdas no ferro<br />

Redução das perdas por efeito<br />

de Joule<br />

Redução das perdas mecânicas<br />

Diminuição de perdas e do<br />

calor gerado<br />

Diminuição das perdas<br />

parasitas<br />

Reactância de fugas menor<br />

Diminuição de ruídos e da<br />

temperatura<br />

92<br />

Figura 1 – Alterações nos motores para obter elevada eficiência [WEG]


ARTIGO TÉCNICO<br />

Apesar de este tipo de motores possuir uma eficiência<br />

melhorada, quando inseridos num sistema, a eficiência total<br />

do mesmo sistema depende de todos os outros<br />

componentes que o compõem. Por este motivo, não se deve<br />

apenas investir na compra de um motor de elevada<br />

eficiência, quando existirem problemas de eficiência nos<br />

outros componentes do sistema.<br />

1,1 a 90 kW de potência nominal, 50 ou 60 Hz, com 2 e 4<br />

pólos magnéticos, seriam classificados de acordo com os<br />

valores dos respectivos rendimentos.<br />

As classes de rendimento estabelecidasforam as seguintes:<br />

- EFF1: Motores de elevado rendimento;<br />

- EFF2: Motores de rendimento melhorado;<br />

- EFF3: Motores de rendimento normal.<br />

3 CLASSIFICAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA<br />

Na Europa a classificação dos motores de corrente alternada<br />

de baixa tensão, foi estabelecida em 1998 com o acordo<br />

voluntário dos principais fabricantesde motores Europeus.<br />

De uma forma resumida, o acordo estabelecido entre a<br />

Comissão Europeia (CE) e o Comité Europeu de Fabricantes<br />

de Máquinas Eléctricas e de equipamentos e sistemas de<br />

Electrónicade Potência (CEMEP) definia que os motores de<br />

No acordo CE/CEMEP ficou ainda estabelecido que as<br />

vendas, na União Europeia, de motores EFF3 diminuiriam<br />

para metade até 2003.<br />

Este objectivo foi alcançado e a venda de motores EFF3<br />

terminou pouco tempo depois.<br />

Todos os fabricantes que assinaram este acordo ficaram<br />

autorizados a colocar a etiqueta de eficiência nos motores e<br />

em toda a documentação que os acompanhe, o que tornou<br />

mais fácil a identificaçãoda classe do motor.<br />

Figura 2 – Classes de eficiência de motores [SEW-Eurodrive]<br />

Figura 3 – Etiquetas de eficiência dos motores<br />

93


ARTIGO TÉCNICO<br />

Com base no acordo voluntário anteriormente referido, foi<br />

também criada uma base de dados europeia EuroDEEM, que<br />

foi elaborada pelo centro de pesquisa da Comissão Europeia<br />

(CE/JRC), com o objectivo de reunir num só suporte as<br />

informações mais importantes sobre os motores eléctricos<br />

disponíveis no mercado. A tabela 2 apresenta os valores<br />

limite para a eficiência dos motores, estabelecidos no acordo<br />

com a CEMEP com base na norma CEI 60034-2.<br />

equipamentos de força-motriz. Este novo regime abrange os<br />

motores de indução trifásicos, de velocidade simples, até<br />

375 kW. Entrará em vigor em três fases a partir de meados<br />

de 2011. Sob este novo regime os fabricantes são obrigados<br />

a apresentar a classe e valores de eficiência do motor na<br />

respectiva chapa de características e na documentação do<br />

produto, que deve indicar claramente o método de teste<br />

usado na determinação da eficiência.<br />

Tabela 2 – Definição das diversas classes de eficiência. Standard de 1996<br />

kW<br />

EFF3<br />

2 e 4 pólos<br />

η n (%)<br />

EFF2<br />

2 e 4 pólos<br />

η n (%)<br />

EFF1<br />

2 pólos<br />

η n (%)<br />

EFF1<br />

4 pólos<br />

η n (%)<br />

1,1<br />

1,5<br />

2,2<br />


ARTIGO TÉCNICO<br />

O organismo EU MEPS baseia-se em duas normas CEI. A<br />

norma CEI/EN 600034-2-1, disponível desde Setembro de<br />

2007, introduz novas regras relativas aos métodos de teste<br />

que devem ser usados na determinação das perdas e da<br />

eficiênciados motores eléctricos.<br />

A norma CEI/EN 600034-30,disponível desde Outubro de<br />

2008, especifica as classes de eficiência que devem ser<br />

adoptadas.<br />

A norma CEI/EN 600034-2-1:2007 define duas formas de<br />

determinar a eficiência dos motores eléctricos, o método<br />

directo e os métodos indirectos. A norma especifica os<br />

seguintes parâmetros para determinar a eficiência pelo<br />

método indirecto:<br />

- Temperaturade referência;<br />

- Três opções para determinar as perdas adicionais em<br />

carga: medição, estimativas e cálculo matemático.<br />

Os valores de eficiência resultantes diferem daqueles<br />

obtidos sob o padrão anterior de teste baseados na norma<br />

CEI/EN60034-2:1996.<br />

Deve-se notar que os valores de eficiência só são<br />

comparáveis se forem medidos utilizando o mesmo método.<br />

A norma CEI/EN 60034-30:2008 define três classes de<br />

eficiência IE (International Eficiency) para motores<br />

assíncronos de indução trifásicos, rotor em gaiola de esquilo,<br />

e velocidade simples:<br />

- IE1: Eficiência Standard (EFF2 do antigo sistema Europeu<br />

de classificação)<br />

- IE2: Eficiência Elevada (EFF1 do antigo sistema Europeu<br />

de classificação e idêntica à EPAct nos EUA para motores<br />

de 60Hz)<br />

- IE3: Eficiência Premium (idêntica ao "NEMA Premium"<br />

nos E.U.A. para motores de 60Hz)<br />

- IE4: futuramenteo nível de eficiência superior a IE3<br />

Os níveis de eficiência definidos na norma CEI/EN 60034-<br />

30:2008 baseiam-se em métodos de ensaio especificados na<br />

norma CEI/EN 600034-2-1:2007.<br />

Comparando com as anteriores classes de rendimento<br />

Europeias, definidas pelo acordo CEMEP (norma CEI/EN<br />

60034-2:1996),o leque foi ampliado.<br />

Figura 5 – Novas classes de eficiência de motores [SEW-Eurodrive]<br />

95


ARTIGO TÉCNICO<br />

A norma CEI/EN 60034-30 abrange quase todos os motores<br />

(por exemplo: motores standard, motores para ambientes<br />

perigosos, motores para embarcações e marinas, motores<br />

usados como freio), nomeadamente:<br />

- Motores de velocidade simples, trifásicos,50 Hz e 60 Hz<br />

- Motores de 2, 4 ou 6 pólos<br />

- Motores com potência nominal entre 0,75 - 375 kW<br />

- Motores de tensão nominal até 1000 V<br />

- Motores do tipo Duty S1 (funcionamento em contínuo)<br />

ou S3 (funcionamento intermitente ou periódico) com<br />

um factor de duração cíclica nominal de 80 porcento ou<br />

superior.<br />

Os motores que estão excluídos das normas CEI/EN 60034-30<br />

são os seguintes:<br />

- Motores feitos exclusivamente para funcionarem como<br />

conversores.<br />

- Motores feitos exclusivamente para funcionarem<br />

imersos em líquidos.<br />

- Motores totalmente integrados em máquinas que não<br />

podem ser testados separadamente da máquina (por<br />

exemplo, bombas, ventiladores ou compressores).<br />

- Motores especificamente concebidos para funcionarem<br />

a altitudes superiores a 1000 metros. Onde as<br />

temperaturas do ar possam ultrapassar os 40 °C. Em<br />

temperaturas máximas superiores a 400 °C. Onde a<br />

temperatura ambiente for inferior a -15 °C (qualquer<br />

motor) ou inferior a 0 °C (motores refrigerados a ar).<br />

Onde a temperatura da água de arrefecimento na<br />

entrada de um produto é inferior a 5 °C ou superior a 25<br />

°C. Em atmosferas potencialmente explosivas, tal como<br />

definidona Directiva 94/9/CE.<br />

IE Classes – 4 pole<br />

Figura 6 – Novas classes IE de eficiência de motores eléctricos<br />

96


ARTIGO TÉCNICO<br />

Na tabela 3 apresenta-se os valores limite para a eficiência<br />

dos motores com base na norma CEI 60034-30:2008,e CEI/EN<br />

600034-2-1.<br />

Tabela 3– Definição das diversas classes de eficiência<br />

Normas CEI 60034-30:2008,e CEI/EN 600034-2-1 [ABB]<br />

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A produção de energia mecânica, através<br />

da utilização de motores eléctricos,<br />

absorve cerca de 60% da energia eléctrica<br />

consumida no sector industrial do nosso<br />

País, da qual apenas metade é energia<br />

útil. Este sector é, pois, um daqueles em<br />

que é preciso tentar fazer economias,<br />

prioritariamente. Os sistemas de<br />

accionamentos electromecânicos têm que<br />

ser abordados como um todo, já que a<br />

existência de um componente de baixo<br />

rendimento influencia drasticamente o<br />

rendimento global. Os pontos<br />

fundamentais em que se deve intervir são<br />

os seguintes:<br />

- Dimensionar correctamente os<br />

equipamentos de força motriz,<br />

fazendo os motores funcionar com<br />

cargas da ordem dos 70 a 80%.<br />

- Adaptar a velocidade do motor às<br />

necessidades do processo, utilizando<br />

sempre que necessário dispositivos<br />

electrónicos de variação de<br />

velocidade.<br />

- Atender às necessidades de<br />

manutenção dos motores, que são<br />

essencialmente a limpeza da carcaça,<br />

a fim de reduzir a temperatura, e<br />

nalguns casos a lubrificação dos<br />

rolamentos.<br />

- Utilizar os novos motores de “alto<br />

rendimento”, que já provaram a sua<br />

competitividade apesar do seu custo<br />

superior, devendo-se ponderar<br />

sempre que necessário a sua<br />

utilização.<br />

Figura 7 – Variação do rendimento com a potência. [SEW-Eurodrive]<br />

97


ARTIGO TÉCNICO<br />

A União Europeia, através do organismo EU MEPS (European<br />

Minimum Energy Performance Standard) definiu um novo<br />

regime obrigatório para os níveis mínimos de eficiência dos<br />

motores eléctricos que sejam introduzidos no mercado<br />

europeu. O novo regime abrange motores de indução<br />

trifásicos até 375 kW, de velocidade simples. Entrará em<br />

vigor em três fases a partir de meados de 2011. Sob este<br />

novo regime os fabricantes são obrigados a apresentar os<br />

valores IE (International Eficiency) classe de eficiência nas<br />

placas do motor e na documentação do produto.<br />

O organismo EU MEPS assenta em duas normas CEI. A norma<br />

CEI/EN 600034-2-1, disponível desde Setembro de 2007,<br />

introduz novas regras relativas aos métodos de teste que<br />

devem ser usados na determinação das perdas e da<br />

eficiência dos motores eléctricos. A norma CEI/EN 600034-<br />

30,disponível desde Outubro de 2008, especifica as classes<br />

de eficiência que devem ser adoptadas. De acordo com estas<br />

normas os motores passam a ser classificadospor:<br />

- IE1 (equivalente a EFF2 na norma CEI/EN 600034-2:1996)<br />

– com utilização proibida;<br />

- IE2 (equivalente a EFF1 na norma CEI/EN 600034-2:1996)<br />

– com utilização obrigatória;<br />

- IE3 (Premium) – com utilização voluntária;<br />

- IE4 (ainda não aplicável a accionamentosassíncronos).<br />

Os motores de eficiência (IE1) não podem ser colocados no<br />

mercado europeu a partir de 16 de Junho de 2011. Até<br />

aquela data todos os novos motores em avaliação na Europa<br />

terão de cumprir a eficiênciaIE2.<br />

As regras não se aplicam fora da Europa. Por isso, será<br />

possível que os fabricantes produzam motores com<br />

eficiência IE1 para os mercados que não exijam estes<br />

requisitosmínimos de eficiência.<br />

A conformidade com os padrões de eficiência exigidos é<br />

verificada por ensaios. Cabe a cada estado membro da UE a<br />

vigilância relativa aos procedimentos de verificação e<br />

implementaçãodas normas.<br />

A implementação das novas normas em cada estado<br />

membro de EU será realizada em três fases:<br />

- Fase 1: até 16 de Julho de 2011. Todos os motores<br />

devem satisfazero nível de eficiênciaIE2;<br />

- Fase 2: até 1 de Janeiro de 2015. Todos os motores com<br />

uma potência nominal entre 7,5 - 375 kW devem<br />

satisfazer o nível de eficiência IE3 ou o nível IE2 se<br />

equipadoscom um variador electrónico de velocidade;<br />

- Fase 3: até 1 de Janeiro de 2017. Todos os motores com<br />

uma potência nominal entre 0,75-375 kW devem<br />

satisfazer o nível de eficiência IE3 ou o nível IE2 se<br />

equipadoscom um variador electrónico de velocidade.<br />

Bibliografia<br />

[1] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO,<br />

Eficiência Energética em Equipamentos de Força Motriz.<br />

Jornadas Luso-Brasileiras de Ensino e Tecnologia em<br />

Engenharia. ISEP, Porto, Fevereiro de 2009.<br />

[2] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.,<br />

Efficient Use of Electrical Energy in Industrial<br />

Installations. 4TH European Congress Economics and<br />

Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de<br />

2007.<br />

[3] CARLOS GASPAR, Eficiência Energética na Industria-<br />

ADENE,Cursos de UtilizaçãoRacional de Energia, 2004.<br />

[4] BELEZA CARVALHO, J. A., MESQUITA BRANDÃO, R. F.<br />

Eficiência Energética em Equipamentos de Força-Motriz.<br />

RevistaNeutro à Terra Nº 3, Abril de 2009.<br />

[5] ABB, Low Voltage Industrial Performance Motors.<br />

CatálogoABB 2009.<br />

[6] WEG, Catálogo de Motores Eléctricos, disponível em<br />

http://www.weg.com.br/<br />

98


ARTIGO TÉCNICO<br />

António Manuel Luzano de Quadros Flores, José António Beleza Carvalho<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

DETECÇÃO DE AVARIAS<br />

EM MOTORES ASSÍNCRONOS DE INDUÇÃO<br />

RESUMO<br />

2 CASO EM QUE A AVARIA PROVOCA PARAGEM DO MOTOR<br />

O motor assíncrono de indução é, de facto, a máquina<br />

actualmente preferida para a grande maioria dos<br />

accionamentos, graças à sua fiabilidade, robustez e baixo<br />

custo. Dado que ocupa um lugar preponderante no processo<br />

produtivo têm-se desenvolvido diversos métodos de detecção<br />

de avarias que permitem diagnosticar qualquer tipo de<br />

defeito e quantificar o seu grau de severidade.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Quando se aborda a temática do diagnóstico de avarias dos<br />

motores de indução não podemos deixar de ter presente<br />

que a forma de tratar o assunto está intimamente ligada à<br />

dimensão da máquina, à sua localização e à função que<br />

desempenhano processo em que está inserida.<br />

Assim, como é óbvio, os custos de paragem de um motor de<br />

grande dimensão podem justificar a existência dos meios de<br />

diagnóstico mais sofisticados, no sentido de evitar a<br />

interrupçãode serviço.<br />

Por outro lado, motores de menor dimensão podem<br />

também desempenhar um papel tal que a sua interrupção<br />

pode ter custos elevadíssimos de reinicialização do processo,<br />

como por exemplo, no caso de linhas de produção em que o<br />

processo inclui accionamentos que estão relacionados com a<br />

formação e solidifição da alma condutora dos cabos<br />

eléctricos. Se houver uma paragem súbita o metal solidifica<br />

ao longo do processo sendo necessário desmontar todo um<br />

sistema complexo levando à perda de produção de várias<br />

horas ou dias.<br />

A acessibilidade pode ser o factor determinante na<br />

estratégia de diagnóstico, como é o caso de ventiladores em<br />

condutas, bombas submersíveis ou máquinas em ambientes<br />

perigosos.<br />

O método de diagnóstico a implementar depende também<br />

do facto da máquina ter parado por avaria ou continuar em<br />

funcionamento.<br />

Quando a avaria leva à paragem do motor o diagnóstico<br />

deve atender às especificidades de acessibilidade e<br />

dimensão numa primeira fase.<br />

Não é demais lembrar, que o primeiro passo numa situação<br />

de paragem de um motor, deve iniciar não, pela análise do<br />

motor, como parece lógico, mas pela análise das grandezas<br />

de alimentação do mesmo e do bom estado das protecções<br />

eléctricas,fusíveis e relé térmico.<br />

De seguida devem ser levados a cabo testes eléctricos e<br />

mecânicosfundamentais:<br />

- Verificação dos valores das resistências dos<br />

enrolamentos que deverão apresentar valores<br />

semelhantes nas três fases; medição da resistência de<br />

isolamento entre enrolamentos e entre os enrolamentos<br />

e a carcaça da máquina.<br />

Os resultados destes testes podem dar indicações úteis<br />

relativamente à existência de curto-circuitos entre<br />

espiras e entre espiras e a massa. Além disso, testa<br />

também a possibilidade do circuito eléctrico de um<br />

enrolamentoestar interrompido.<br />

- No caso do veio do rotor estar acessível, rodá-lo para<br />

verificar se existe atrito anormal ou demasiada prisão,<br />

analisando-se assim, se o rotor atrita no estator, se a<br />

carga oferece demasiado binário resistivo e se os<br />

rolamentosestão gripados.<br />

Além dos testes acima descritos, não é de desprezar a<br />

verificação da existência de “cheiro a queimado” junto ao<br />

motor que pode indiciar um sobreaquecimento da máquina<br />

com consequente deteriorização dos isolamentos<br />

nomeadamentedos vernizes utilizados.<br />

99


ARTIGO TÉCNICO<br />

3 CASO EM QUE A AVARIA NÃO PROVOCA PARAGEM DO MOTOR<br />

A avaria que não obriga à paragem do motor pode<br />

manifestar-se de diversas formas como aumento de<br />

temperatura, perda de potência, binário ou velocidade<br />

oscilantes,aumento de consumo, ruído, vibração, etc..<br />

Nesse caso, os métodos indirectos de diagnóstico podem ser<br />

úteis na identificação do tipo de avaria podendo mesmo<br />

constituir um meio de acompanhamento da sua evolução,<br />

controlando o nível de severidade até ser possível uma<br />

interrupçãoprogramada para reparação.<br />

Para esse efeito, têm sido desenvolvidos vários métodos que<br />

recorrem à monitorização de diversas grandezas associadas<br />

ao funcionamento do motor, como por exemplo, a<br />

intensidade de corrente de alimentação, o fluxo magnético,<br />

as vibrações, o ruído, o binário, a velocidade e a<br />

temperatura.<br />

Seguidamente serão apresentados alguns métodos de<br />

diagnóstico mais utilizados na pesquisa de avarias eléctricas<br />

no estator e no rotor, assim como de avarias mecânicas no<br />

rotor, nos rolamentos e na carga mecânica acoplada.<br />

figura de Lissajou em forma de circunferência dada pelas<br />

componentesdo vector de Park simplificadas:<br />

(3)<br />

(4)<br />

Sendo iM o valor máximo da corrente por fase (A), ω a<br />

frequênciaangular (rad/s) e t a variável tempo (s).<br />

A representação XY das componentes do Vector de Park<br />

permite detectar a existência de espiras em curto-circuito<br />

nos enrolamentosdo estator (Fig. 1).<br />

Este método de diagnóstico “on-line” baseia-se no<br />

aparecimento de uma forma elíptica da representação XY<br />

das componentes do Vector de Park da corrente do motor,<br />

cujo alongamento elíptico é proporcional ao grau de<br />

severidade da avaria e a orientação do eixo maior está<br />

associadaà fase avariada [1].<br />

É de referir que a representação das componentes do vector<br />

de Park da corrente de alimentação do motor sem avaria<br />

(Fig. 1 – esquerda), não é uma circunferência perfeita devido<br />

à existência de harmónicos na rede.<br />

3.1 DIAGNÓSTICO DE AVARIAS ELÉCTRICAS<br />

3.1.1 AVARIAS NO ESTATOR<br />

A detecção de espiras em curto-circuito nos enrolamentos<br />

do estator pode ser feita por análise das correntes de<br />

alimentação do motor representadas a duas dimensões a<br />

partir da mudança de referencial do sistema trifásico para o<br />

sistema de coordenadas P Q através da transformada de<br />

Park.<br />

As componentes do vector de Park i D e i Q podem ser obtidas<br />

das correntes de alimentação i 1 , i 2 e i 3 a partir das seguintes<br />

expressões:<br />

(1)<br />

(2)<br />

No caso de um sistema de alimentação ideal com cargas<br />

equilibradas, obtêm-se a representação no plano XY de uma<br />

100<br />

Figura 1- Vector de Park da corrente de alimentação de um motor:<br />

sem avaria (esquerda) e com curto-circuito de 18 espiras do<br />

estator (direita) [1]<br />

3.1.2 AVARIAS NO ROTOR<br />

3.1.2.1 MÉTODO DAS COMPONENTES ESPECTRAIS DA CORRENTE<br />

A detecção de barras do rotor partidas ou fissuradas pode<br />

ser feita através da inspecção das componentes espectrais<br />

da corrente absorvida pelo motor [2]<br />

frequências:<br />

nas seguintes<br />

(5)


ARTIGO TÉCNICO<br />

Sendo f SB a frequência (Hz) das bandas laterais resultantes da<br />

avaria no rotor, s o deslizamento (%) e f a frequência da<br />

tensãode alimentação (50 Hz).<br />

Na Figura 2 é fácil identificar o aparecimento de bandas<br />

laterais que surgem nas frequências características<br />

correspondentes à ruptura de espiras (“barras”) do circuito<br />

rotórico.<br />

Figura 4 – Detecção de defeito no circuito rotórico através da<br />

medição do fluxo magnético: espectro de frequências do campo<br />

magnético de fugas [3]<br />

3.2 DIAGNÓSTICO DE AVARIAS MECÂNICAS<br />

3.2.1 DEFEITO DE ALINHAMENTO<br />

Figura 2 – Espectro de frequências da corrente absorvida pelo<br />

motor mostrando claramente a existência de bandas laterais que<br />

indiciam uma avaria nas barras do rotor [2]<br />

3.1.2.2 MÉTODO DAS COMPONENTES ESPECTRAIS DO FLUXO DE FUGAS<br />

A aquisição de dados do campo magnético de fugas com<br />

vista à análise do seu espectro pode ser feita facilmente<br />

colocando sensores de campo magnético no exterior da<br />

máquina como mostra a Figura 3.<br />

O defeito de alinhamento do rotor traduz-se no facto da<br />

folga entre o rotor e o estator (“entreferro”) não ser<br />

constante ao longo de toda a periferia do rotor, originando<br />

variações da relutância do circuito magnético com a rotação<br />

do rotor e consequente formação de harmónicos na força<br />

magnetomotriz.<br />

Daí resulta o aparecimento de frequências típicas deste<br />

fenómeno no espectro do fluxo de fugas do motor, como<br />

evidencia a Figura 5, que servem de meio de diagnóstico<br />

deste defeito [4].<br />

Figura 3 – Detecção de defeito no circuito rotórico através da<br />

medição do fluxo magnético: motor com transdutor de fluxo<br />

magnético [3]<br />

O defeito devido a barras do rotor defeituosas também pode<br />

ser detectado por identificação de determinadas frequências<br />

no espectro do campo magnético de fugas medido no<br />

exterior da máquina (Figura 4) [3]<br />

Figura 5 – Detecção de defeito de alinhamento do rotor: defeito de<br />

alinhamento longitudinal (figura esquerda em cima);<br />

desalinhamento axial (figura direita em cima); espectro de<br />

frequências da corrente de alimentação revelando o defeito de<br />

alinhamento do rotor, excentricidade estática (“SE”) (figura em<br />

baixo )[4].<br />

101


ARTIGO TÉCNICO<br />

3.2.2 DEFEITOS NOS ROLAMENTOS<br />

conhecea sua composição em funcionamento normal [6].<br />

Sendo os rolamentos a causa referenciada que provoca<br />

maior taxa de avarias no motor de indução, têm-se<br />

desenvolvido diversas técnicas de detecção deste tipo de<br />

defeito recorrendo a diferentes métodos de análise espectral<br />

da corrente de alimentação e de vibrações mecânicas.<br />

Os defeitos nos rolamentos podem ser detectados a partir da<br />

análise do espectro de frequências da corrente do motor<br />

como evidencia a Figura 6.<br />

Também neste caso surgem novas frequências que<br />

evidenciam a existência de defeito nos rolamentos assim<br />

como o seu nível de severidade [5].<br />

Figura 7 – Utilização de acelerómetros para aquisição de dados de<br />

vibração de um ventilador [6]<br />

Figura 8 – Amplitude das componentes espectrais do binário (Nm)<br />

para o caso do mesmo ventilador [6]<br />

Figura 6 – Avarias nos rolamentos e sua detecção: defeito no anel<br />

interior (figura esquerda em cima); defeito no anel exterior (figura<br />

direita em cima); decomposição em frequências da corrente de<br />

alimentação do motor mostrando o espectro no caso de um motor<br />

saudável e no caso de existir um defeito nos rolamentos (figura em<br />

baixo) [5].<br />

A monitorização do valor eficaz da corrente de alimentação<br />

do motor de um elevador pode fornecer indicações úteis<br />

relativamente a variações de carga que indiciam a existência<br />

de defeitos nas partes mecânicas accionadas.<br />

O caso apresentado na Figura 9 e 10 ilustra a detecção de um<br />

defeito existente nos dentes da roda dentada de um redutor<br />

do tipo “sem fim” [7].<br />

3.2.3 DEFEITOS NA CARGA ACCIONADA<br />

A Figura 7 apresenta o caso da aplicação de acelarómetros<br />

para aquisição de dados de vibração de um ventilador.<br />

A análise das componentes espectrais de vibração e de<br />

binário (Figura 8 ) pode ser um meio complementar de apoio<br />

ao diagnóstico de um sistema electromecânico do qual se<br />

102<br />

Figura 9 – Detecção de defeitos nas rodas dentadas do redutor de<br />

um elevador: motor de elevador com redutor de velocidade<br />

acoplado (esquerda); roda dentada do redutor (direita) com dente<br />

defeituoso [7]


ARTIGO TÉCNICO<br />

Bibliografia<br />

Figura 10 – Valor eficaz da corrente de alimentação do motor [7]<br />

4 CONCLUSÕES<br />

Apesar do motor de indução ser considerado uma máquina<br />

robusta e muito fiável está sujeito a diversos tipos de avarias<br />

causadas principalmente pelo envelhecimento, desgaste e<br />

fadiga mecânica dos materiais.<br />

Dado o seu importante papel, muitos trabalhos de<br />

investigação têm sido feitos oferecendo metodologias para<br />

um diagnóstico cada vez mais eficiente.<br />

A aplicação destas técnicas em ambiente fabril tem as suas<br />

limitações devido a diversos factores, como por exemplo, a<br />

existência de poluição harmónica proveniente de outras<br />

máquinas e a falta de registos históricos das componentes<br />

espectrais.<br />

As ferramentas de diagnóstico apresentadas não são<br />

invasivas e podem ser aplicadas durante o funcionamento<br />

normal, contribuindo para uma manutenção preventiva<br />

eficienteatravés da monitorização regular do motor.<br />

Além disso, se criteriosamente utilizadas, constituem uma<br />

mais-valia, melhorando a eficiência da equipa de<br />

manutenção e minimizando os custos de indisponibilidade e<br />

de interrupção.<br />

Assim, para além da sua função principal de fornecer energia<br />

mecânica à carga, o motor de indução pode desempenhar<br />

um segundo papel, como transdutor eficaz e<br />

permanentemente ligado, ajudando a detectar avarias no<br />

seu interior e também na carga mecânica a ele acoplada.<br />

[1] A. J. Marques Cardoso, S. M. A. Cruz, D. S. B. Fonseca,<br />

"Inter-turn stator winding fault diagnosis in three-phase<br />

induction motors, by Park's vector approach", IEEE<br />

Transactions on Energy Conversion, vol. 14, pp. 595-598,<br />

1999.<br />

[2] G. G. Acosta, C. J. Verucchi, E. R. Gelso, "A current<br />

monitoring system for diagnosing electrical failures in<br />

induction motors", Mechanical Systems and Signal<br />

Processing,vol. 20, pp. 953-965, 2006.<br />

[3] A. Yazidi, H. Henao, G. A. Capolino, "Broken rotor bars<br />

fault detection in squirrel cage induction machines", IEEE<br />

International Conference on Electric Machines and<br />

Drives, 2005, pp. 741-747.<br />

[4] L. Xiaodong, W. Qing, S. Nandi, "Performance analysis of<br />

a three-phase induction machine with inclined static<br />

eccentricity", IEEE Transactions on Industry Applications,<br />

vol. 43, pp. 531-541, 2007.<br />

[5] M. Blodt, P. Granjon, B. Raison, G. Rostaing, "Models for<br />

bearing damage detection in induction motors using<br />

stator current monitoring," IEEE International<br />

Symposium on Industrial Electronics, 2004, pp. 383-388<br />

vol. 1.<br />

[6] E. Wiedenbrug, D. Doan, "Comparison of duct-mounted<br />

vibration and instantaneous airgap torque signals for<br />

predictive maintenance of vane axial fans", International<br />

Conference on Measurement and Control, 2004, pp. 209-<br />

213.<br />

[7] A. Q. Flores, A. J. M. Cardoso, J. B. Carvalho, "The<br />

induction motor as a mechanical fault sensor in elevator<br />

systems " apresentado na conferência “11CHLIE”, 11ª.<br />

Conferencia Hispano-Lusa de Ingeniería Eléctrica,<br />

Saragoça, Espana, 2009.<br />

103


104<br />

CURIOSIDADE


ARTIGO TÉCNICO<br />

Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

ESTRUTURAS E CARACTERÍSTICAS<br />

DE VEÍCULOS HÍBRIDOS E ELÉCTRICOS<br />

RESUMO<br />

Nas últimas décadas tem-se assistido a um forte<br />

desenvolvimento dos veículos eléctricos, sobretudo das<br />

soluções híbridas, como resposta aos impactos ambientais e<br />

económicos dos combustíveis fósseis. Os desafios que se<br />

colocam no campo da engenharia são múltiplos e exigentes,<br />

motivados pela necessidade de integrar diversas áreas, tais<br />

como, novos materiais e concepções de motores eléctricos,<br />

electrónica de potência, sistemas de controlo e sistemas de<br />

armazenamento de energia.<br />

Neste artigo procura-se apresentar as principais<br />

características dos veículos híbridos eléctricos (VH) e dos<br />

veículos puramenteeléctricos (VE).<br />

Começa-se por uma breve referência à origem e evolução<br />

destes veículos. Segue-se uma abordagem às diferentes<br />

configurações de VH e VE – principalmente no que se refere<br />

aos sistemas de propulsão e armazenamento de energia –,<br />

realçando as suas vantagens e desvantagens. Por fim,<br />

referem-se alguns dos factores mais relevantes para a<br />

evoluçãotecnológicae aceitação destes veículos.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Os conceitos de veículo eléctrico e híbrido eléctrico<br />

remontam às origens do desenvolvimento do próprio<br />

automóvel, em finais do séc. XIX. Numa época onde as<br />

preocupações ambientais e de eficiência não existiam, a<br />

finalidade era incrementar os níveis de desempenho dos<br />

motores de combustão interna (MCI) ou melhorar a<br />

autonomia dos veículos baseados em motores eléctricos.<br />

Com efeito, o desenvolvimento destes motores encontravase<br />

ainda numa fase inicial, estando a tecnologia associada às<br />

máquinas eléctricas num nível superior. É nesta época que se<br />

regista a implementação de sistemas de frenagem<br />

regenerativa, que permitem recuperar a energia cinética que<br />

o veículo perde, em consequência de uma travagem, sendo<br />

armazenada nas baterias. Trata-se de uma contribuição<br />

fundamental para a eficiência destes veículos e respectiva<br />

autonomia – questão determinante para o desenvolvimento<br />

dos veículos eléctricos [1].<br />

A partir da década de 1920, a enorme evolução verificada<br />

nos motores a gasolina (principalmente, no aumento da<br />

potência disponível e rendimento, com menores dimensões)<br />

tornou-os preponderantes face aos motores eléctricos. A<br />

maior dificuldade no seu controlo (baseado em contactos<br />

mecânicos e resistências, com baixos níveis de eficácia,<br />

comprometendo o próprio desempenho do veículo), a<br />

reduzida autonomia, peso e custo mais elevados, são os<br />

principaismotivos que explicam aquela supremacia [1].<br />

As crises energéticas ocorridas na década de 1970 e o<br />

aumento das preocupações ambientais (principalmente nas<br />

sociedades ocidentais), juntamente como desenvolvimento<br />

da electrónica de potência, que permitiu a criação de<br />

sistemas eficazes de controlo de motores eléctricos,<br />

despertaram interesse para o desenvolvimento de veículos<br />

puramente eléctricos, de que é exemplo a grande<br />

quantidadede protótiposconstruídos na década de 1980.<br />

Na década de 1990 as concepções híbridas foram ganhando<br />

interesse, face à tomada de consciência das dificuldades em<br />

superar as limitações dos veículos eléctricos, relativamente<br />

aos veículos convencionais com MCI. Nesse sentido, vários<br />

fabricantes de automóveis desenvolveram diversos<br />

protótipos de versões híbridas, não tendo, no entanto,<br />

atingidoa fase de comercialização.<br />

O maior esforço no desenvolvimento e comercialização de<br />

veículos híbridos eléctricos foi feito por fabricantes<br />

japoneses: em 1997, a Toyota lançou o modelo Prius e a<br />

Honda lançou as versões híbridas dos modelos Insight e<br />

Civic. Actualmente, estes e outros modelos híbridos –<br />

entretanto lançados por outros fabricantes –, são<br />

comercializados em todo o mundo, apresentando bons<br />

desempenhos dinâmicos e níveis de consumo [1], [2].<br />

Quanto ao desenvolvimento dos veículos eléctricos, o maior<br />

obstáculo à sua comercialização e difusão reside no estado<br />

em que se encontra a tecnologia das baterias.<br />

105


ARTIGO TÉCNICO<br />

Não obstante os progressos e esforços que têm sido feitos<br />

no seu desenvolvimento, o desempenho das baterias mais<br />

recentes continua aquém das exigências requeridas pelos<br />

veículos eléctricos, principalmente, ao nível da densidade de<br />

energia (por unidade de peso e volume) e densidade de<br />

potência. Atendendo às distâncias relativamente curtas que<br />

caracterizam os trajectos nos centros urbanos, será aqui que<br />

reside o maior potencial de aceitação destes veículos.<br />

Nas últimas décadas, vários fabricantes de automóveis têm<br />

feito alguns investimentos no desenvolvimento da<br />

tecnologia das células de combustível, com vista à aplicação<br />

em veículos eléctricos. Os maiores desafios ao seu<br />

desenvolvimento e proliferação residem na capacidade de<br />

produção, armazenamento e distribuição de hidrogénio. A<br />

evolução desta tecnologia tem ainda um longo caminho a<br />

percorrer, sendo também incerta a opção futura por esta<br />

solução.<br />

2 CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS VH E VE<br />

As alternativas aos veículos convencionais, baseados em<br />

MCI, podem ser classificadasdo seguinte modo:<br />

Veículos híbridos (VH) – Em termos gerais, um veículo<br />

híbrido é caracterizado por incluir dois ou mais sistemas de<br />

propulsão. Os mais usuais são os veículos híbridos eléctricos<br />

– combinação de dois sistemas de propulsão: um baseado no<br />

MCI, o segundo assente em um ou vários motores eléctricos<br />

(ME). Existem várias configurações possíveis para estes<br />

veículos: série, paralelo e série-paralelo (esta última com<br />

duas variantes);<br />

Veículos eléctricos (VE) – apenas incluem motores<br />

eléctricos. Em termos de fontes de energia empregues há a<br />

distinguiras baterias das células de combustível.<br />

2.1 VEÍCULOS HÍBRIDOS<br />

A concepção de base dos veiculos híbridos assenta na<br />

conjugação das vantagens dos veículos convencionais (MCI)<br />

e dos veiculos eléctricos: elevada autonomia e densidades<br />

de energia e potência (MCI); elevados rendimentos e<br />

emissõesnulas a nível local (VE).<br />

106<br />

Por outro lado, procura-se superar também as limitações de<br />

ambos: no caso dos MCI, utilização de grandes quantidades<br />

de combustíveis fósseis e emissão de gases de efeito de<br />

estufa; para os VE há a referir as autonomias reduzidas,<br />

elevados tempos de carregamento do sistema de<br />

armazenamentode energia e maior custo inicial [2], [3].<br />

Na utilização de motores eléctricos nos VH há dois objectivos<br />

bem vincados: o primeiro é a optimização do rendimento do<br />

MCI; a recuperação da energia cinética na frenagem do<br />

veículo (armazenada nas baterias) é o segundo objectivo.<br />

Este apenas é possível pela presença do(s) motor(es)<br />

eléctrico(s).<br />

Existem vários modos de funcionamento possíveis,<br />

associadosàs característicasdos próprios motores [1]:<br />

O MCI propulsiona integralmente o veículo. Esta situação<br />

pode ocorrer quando as baterias estão praticamente<br />

descarregadas e a potência disponível no veio do MCI é<br />

integralmente necessária para a tracção; estando as<br />

baterias à plena carga, um cenário semelhante ocorre no<br />

caso da potência de tracção exigida corresponder a um<br />

regime de funcionamentoóptimo do MCI;<br />

Propulsão puramente eléctrica (MCI desligado). Justificase<br />

para os regimes de funcionamento do MCI com baixos<br />

rendimento (ex., nas baixas velocidades) ou em<br />

ambientescom limitaçõesde emissõeselevadas;<br />

Propulsão híbrida (MCI+ME), se no esforço de tracção<br />

são exigidas elevadas potências (por ex., em subidas e<br />

elevadas acelerações);<br />

Frenagem regenerativa, na qual a energia cinética do<br />

veículo é recuperada – o motor funciona agora como<br />

gerador – e armazenada nas baterias, podendo ser<br />

posteriormenteutilizadana tracção do veículo;<br />

O MCI efectua o carregamento das baterias, havendo<br />

diferentes cenários a considerar: veículo imobilizado ou<br />

numa descida sem modos de tracção e frenagem nos<br />

sistemasde propulsão;<br />

O MCI e o(s) ME(s) – em modo regenerativo –, carregam<br />

simultaneamenteas baterias do veículo;<br />

O MCI propulsiona o veículo, bem como efectua o<br />

carregamentodas baterias;<br />

O MCI carrega as baterias e estas alimentam o(s) ME(s);


ARTIGO TÉCNICO<br />

O elevado número de modos de funcionamento nos veículos<br />

híbridos, tornam-os muito flexíveis; no entanto, acresce a<br />

complexidade do sistema de propulsão, o que implica a<br />

necessidade de sistemas complexos de controlo, bem como<br />

o desenvolvimento de sistemas de gestão dos fluxos de<br />

energia, capazes de optimizarem a eficiência dos modos de<br />

funcionamentoanteriores.<br />

Em seguida, descrevem-se as três configurações<br />

mencionadas para os VH, as quais se distinguem pelo modo<br />

como o MCI é inserido no sistema de propulsão eléctrica.<br />

Configuração Série – O MCI apenas acciona um gerador que<br />

alimenta o ME de tracção do veículo; o gerador também<br />

efectua o carregamento das baterias. Em termos de<br />

concepção, trata-se de um VE assistido por um MCI [2] –<br />

Figura 1.<br />

Energia de propulsão/Carregamento das baterias: o<br />

sistema MCI/gerador fornece a energia para<br />

propulsionaro veículo e carrega as baterias;<br />

Frenagem regenerativa: o MCI é desligado; o ME<br />

funciona como gerador, efectuando o carregamento das<br />

baterias;<br />

Carregamento das baterias: o(s) ME(s) não são<br />

alimentados; o sistema MCI/gerador somente carrega as<br />

baterias;<br />

Carregamento híbrido das baterias: o sistema<br />

MCI/gerador e o(s) ME(s) – funcionando como<br />

gerador(es) – efectuam o carregamento das baterias.<br />

Não existindo ligação mecânica entre o MCI e o sistema de<br />

transmissão de potência, os seus regimes de funcionamento<br />

tornam-se mais flexíveis, permitindo optimizar o<br />

funcionamento do MCI (referido anteriormente). No<br />

entanto, a existência de três máquinas (MCI, gerador e ME)<br />

tornam o sistema de propulsão do veículo mais complexo,<br />

normalmente mais pesado e com menores rendimentos em<br />

relação às outras configurações.<br />

Figura 1 – VH: Configuração Série<br />

Configuração Paralela – Existe a possibilidade do MCI e do<br />

ME fornecerem potência, em paralelo, às rodas de tracção<br />

do veículo. Conceptualmente, trata-se de um veículo<br />

convencional (MCI) com assistência eléctrica (MEs) [2]. Desta<br />

forma, ambos os motores estão acoplados ao veio de<br />

transmissão através de duas embraiagens independentes,<br />

pelo que a propulsão pode ser efectuada pelo MCI, pelo ME<br />

ou por ambos (Figura 2).<br />

Em princípio, podem ser considerados os seguintes modos<br />

de funcionamento[1], [2]:<br />

Energia de propulsão – baterias: o MCI é desligado, a<br />

energia de propulsão provém unicamente das baterias;<br />

Energia de propulsão – MCI: a energia de propulsão é<br />

somente garantida pelo sistema MCI/gerador; não há<br />

qualquer fluxo de energia nas baterias;<br />

Energia de propulsão – modo híbrido: a potência de<br />

tracçãoé garantida pelo MCI e pelas baterias;<br />

Figura 2 – VH: Configuração Paralela<br />

107


ARTIGO TÉCNICO<br />

Também aqui a optimização do funcionamento do MCI é<br />

conseguida. O motor eléctrico pode funcionar como gerador<br />

para carregar as baterias, havendo duas possibilidades:<br />

- Frenagem regenerativa;<br />

- No caso da potência mecânica disponível no veio do MCI<br />

ser superior ao necessário para o esforço de tracção, o<br />

excedenteé fornecido ao gerador.<br />

Para desempenhos semelhantes é também de referir o uso<br />

de MCI e ME de menores potências, relativamente à<br />

configuraçãosérie.<br />

Configuração Série-Paralela – Esta estrutura integra as<br />

características das duas anteriores, procurando assimilar as<br />

vantagensde ambas. A figura 3 apresenta esta configuração.<br />

Os modos de funcionamentopossíveis são os seguintes:<br />

Propulsão ME: o MCI é desligado; o veículo é<br />

propulsionadoapenas pelo ME;<br />

Propulsão MCI: o contrário do anterior, o veículo é<br />

propulsionadoapenas pelo MCI;<br />

Propulsão Híbrida: ambos os motores (MCI e ME)<br />

contribuempara a propulsão do veículo;<br />

Propulsão MCI dividida: uma parte da potência no veio<br />

do MCI é usada na propulsão; a outra parte carrega as<br />

baterias, o que implica ter o ME a funcionar como<br />

gerador;<br />

Fenagem simples (apenas regenerativa): o MCI é<br />

desligado; o ME funciona como gerador, efectuando o<br />

carregamentodas baterias;<br />

Frenagem regenerativa e mecânica: ME funciona como<br />

gerador; MCI funciona como freio mecânico.<br />

Na configuração paralela há apenas duas máquinas (MCI e<br />

ME).<br />

Figura 3 – VH: Configuração Série-Paralela<br />

Em comparação com a estrutura série, há mais uma ligação<br />

mecânica ao veio de transmissão; relativamente à estrutura<br />

paralela, existe mais uma máquina eléctrica. O acoplamento<br />

mecânico das três máquinas pode ser efectuado através da<br />

inclusãode um sistema de engrenagens planetário [1], [4].<br />

A figura 4 ilustra a sua estrutura.<br />

Figura 4 – Sistema de Engrenagens Planetário<br />

108


ARTIGO TÉCNICO<br />

Este sistema tem a vantagem de permitir o funcionamento<br />

do MCI num regime de velocidade constante (permitindo a<br />

sua optimização): a variação da velocidade no veio de<br />

transmissão do veículo é conseguida através da regulação da<br />

potênciadebitada pelo gerador.<br />

Trata-se, pois, de um sistema de transmissão variável de<br />

potência em modo contínuo, mais concretamente, um<br />

sistema electrónicode transmissão variável.<br />

Comparativamente aos sistemas puramente mecânicos de<br />

transmissão contínua, este sistema electrónico é mais<br />

simples, fiável e com melhores rendimentos, uma vez que<br />

não existem embraiagens, conversores de binário e caixa de<br />

engrenagens.<br />

Com vista ao aumento do rendimento, fiabilidade e<br />

robustez, novas concepções de sistemas electrónicos de<br />

transmissão foram desenvolvidas, as quais assentam na<br />

eliminação do sistema de engrenagens planetário. Nesse<br />

sentidorefere-se:<br />

- Combinação de duas máquinas eléctricas concêntricas<br />

[3];<br />

- Uma única máquina com dois rotores [4], [5].<br />

Configuração Série-Paralela “Complexa” - A configuração<br />

representada na figura 5 apresenta semelhanças com a<br />

estruturasérie-paralela(1 MCI e 2 ME).<br />

Há, no entanto, uma diferença importante na máquina<br />

eléctrica ligada mecanicamente ao MCI: a possibilidade de<br />

fluxo de energia bidireccional, ou seja, o funcionamento<br />

como motor ou gerador.<br />

O potencial e versatilidade desta estrutura são superiores à<br />

configuração série-paralela, pois acrescenta um modo de<br />

funcionamento com três motores, o qual não existe naquela<br />

configuração.<br />

Naturalmente, também o nível de complexidade do(s)<br />

sistema(s) de propulsão é grande, o que torna o seu custo<br />

mais elevado, juntamente com maiores exigências ao nível<br />

do controlo do veículo, bem como do sistema de gestão de<br />

energia. Não obstante, é de referir a opção por esta<br />

configuração em algumas das séries mais recentes de VH [1],<br />

[2].<br />

Figura 5 – VH: Configuração Série-Paralela “Complexa”<br />

2.2 Veículos Eléctricos<br />

Na figura 6 está representada a estrutura básica deste tipo<br />

de veículo [1].<br />

Existem três componentes fundamentais:<br />

Sistema de propulsão eléctrica;<br />

Sistema de alimentação/armazenamentode energia;<br />

Sistema auxiliar.<br />

O sistema de propulsão eléctrica é composto pelos seguintes<br />

elementos:<br />

- controladordo veículo<br />

- conversor estático de potência de tracção<br />

- motor eléctrico<br />

- transmissão mecânica<br />

- rodas de tracção.<br />

O sistema de fornecimento/armazenamento de energia<br />

inclui os seguinteselementos:<br />

- fonte de energia e/ou sistema de armazenamento de<br />

energia<br />

- sistema de gestão de energia<br />

- unidade de reabastecimento.<br />

O sistema auxiliar inclui múltiplas unidades, tais como: a<br />

direcção assistida,climatização, etc.<br />

109


ARTIGO TÉCNICO<br />

Trata-se de um sistema comum a qualquer tipo de veículo,<br />

seja convencional, híbrido ou eléctrico.<br />

Os sinais emitidos pelos pedais do acelerador e travão<br />

(accionados pelo condutor do veículo) são recebidos pelo<br />

controlador do veículo, o qual actua no sistema de controlo<br />

do conversor de tracção de modo a regular os fluxos de<br />

energia entre o motor eléctrico e o sistema de<br />

armazenamento de energia. A actuação do controlador do<br />

veículo é também função dos sinais recebidos pelo sistema<br />

de gestão de energia. São várias as funções deste sistema,<br />

sendo de referir o controlo do modo de frenagem<br />

regenerativa e respectivo armazenamento de energia, a<br />

regulação das operações de reabastecimento e a<br />

monitorização dos estados do sistema de armazenamento de<br />

energia.<br />

Tal como nos VH, o sistema de gestão de energia é<br />

fundamental neste tipo de veículos.<br />

O sistema auxiliar fornece a energia necessária às unidades<br />

já referidas (tipicamentecom vários níveis de tensão).<br />

Como referido, a estrutura apresentada na figura 6 é<br />

elementar.<br />

Existem várias configurações possíveis para o sistema de<br />

propulsão dos VE, atendendo à grande flexibilidade de<br />

funcionamento dos motores eléctricos. Na figura seguinte<br />

são apresentados alguns exemplos, que se julgam ser<br />

representativos dessa variedade de configurações [1].<br />

Actualmente, este é um assunto que continua a merecer a<br />

atençãode fabricantese investigadores.<br />

Figura 6 – Configuração Básica de um VE<br />

110


ARTIGO TÉCNICO<br />

Figura 7 – Sistemas de Propulsão para VE<br />

a) Atendendo às zonas possíveis de funcionamento dos<br />

motores eléctricos – binário constante (baixas<br />

velocidades); potência constante (gama ampla de<br />

velocidades) – o sistema habitual de engrenagens com<br />

múltiplas relações (várias velocidades) pode ser<br />

substituído por um sistema com uma relação fixa. Deste<br />

modo, a embraiagem é eliminada, reduzindo o peso e<br />

tamanho do sistema de transmissão mecânica; o<br />

controlo do sistema de propulsão torna-se mais simples.<br />

b) Nesta configuração, o diferencial mecânico é substituído<br />

por dois motores eléctricos. Naturalmente, são os<br />

respectivos sistemas de controlo que garantem<br />

velocidadesdistintas em trajectoscurvilíneos.<br />

c) Com vista a tornar mais simples o sistema de propulsão,<br />

os motores eléctricos são fixados à própria roda de<br />

tracção, através de engrenagens (sistema in-wheel). Esta<br />

concepção coloca desafios vários ao motor (dimensões,<br />

peso, robustez, fiabilidade, ...).<br />

d) Relativamente à concepção anterior, é eliminado o<br />

sistema de engrenagens: os rotores dos motores são<br />

montados directamente nas rodas de tracção, pelo que o<br />

controlo da velocidade do veículo corresponde ao<br />

controlo directo da velocidade dos motores.<br />

As exigências colocadas a estes motores são várias,<br />

nomeadamente, a capacidade de desenvolver elevados<br />

binários no arranque. De referir que uma abordagem às<br />

tendências actuais dos tipos de motores eléctricos<br />

aplicadosem VE foi apresentadanum artigo anterior.<br />

Neste tipo de veículos, as emissões locais associadas são<br />

nulas. Naturalmente, esta afirmação não considera as fontes<br />

de energia utilizadas no carregamento das baterias. Com<br />

efeito, as emissões globais podem ser consideráveis,<br />

dependendo da proveniência da energia armazenada nas<br />

baterias.<br />

No momento actual, as principais desvantagens destes<br />

veículos residem no elevado peso e custo inicial das baterias,<br />

autonomias limitadas, tempos longos de carregamento e<br />

densidades de potência reduzidas. Não obstante, nos últimos<br />

anos têm sido empreendidos elevados esforços, no meio<br />

académico e industrial, com vista ao desenvolvimento de<br />

novos tipos de baterias [6], bem como de estruturas híbridas<br />

de armazenamento de energia – baterias, supercondensadorese<br />

flywheels (esta última em menor grau).<br />

111


ARTIGO TÉCNICO<br />

Como foi referido, actualmente há a considerar duas<br />

variantes de VE, associadas ao tipo de alimentação do<br />

veículo. As principais características de ambas são<br />

apresentadasa seguir.<br />

2.2.1 Tipos de Baterias<br />

Actualmente, as baterias mais usadas nos VE (e também nos<br />

VH) são as de chumbo/ácido (PB) convencionais, de hidratos<br />

metálicos de níquel (NiMH) e de iões de lítio (Li Ion).<br />

Particularmente nestas últimas, têm sido obtidos aumentos<br />

consideráveis nos valores da densidade de energia (de<br />

momento apresentam valores muito superiores aos<br />

restantes tipos de baterias). Há uma clara tendência para a<br />

sua integração com super-condensadores, aproveitando os<br />

elevados valores de densidade de potência destes últimos<br />

[3], [7]. Tais sistemas híbridos de armazenamento de energia<br />

são mais complexos, necessitando da inclusão de<br />

conversores estáticos de potência e de sistemas de gestão de<br />

energia específicos. De acordo com [8] há diversas vantagens<br />

a considerar nestes sistemas, sendo de realçar o<br />

desacoplamento do controlo dos requisitos de energia e<br />

potência (esta última é essencial nas frenagens); também a<br />

eficiência na gestão de energia do sistema de<br />

armazenamentovem melhorada.<br />

Existem diversos factores que condicionam os desempenhos<br />

das baterias, dos quais se enumeram alguns dos mais<br />

relevantes:<br />

Nível de carga – State of Charge (SOC);<br />

Capacidadede armazenamento;<br />

Tensõese correntes;<br />

Frequência das cargas e descargas;<br />

Temperaturade funcionamento;<br />

Idade da bateria.<br />

As baterias usadas nos veículos de tracção estão sujeitas a<br />

ambientes e condições de funcionamento muito agressivos<br />

(amplas variações de temperatura, ciclos de carga exigentes,<br />

choques e vibrações mecânicas). Estes aspectos podem<br />

contribuirpara um envelhecimento precoce, traduzido pela<br />

diminuição da sua capacidade de armazenamento e<br />

aumento da resistênciainterna. [9]<br />

O sistema de gestão das baterias (Battery Management<br />

System) é fundamental, não apenas na monitorização do<br />

estado das baterias e sua protecção, mas também para<br />

permitir as operações de carga e descarga, em coordenação<br />

com o sistema de gestão de energia. O modo de<br />

funcionamento em frenagem regenerativa é dos mais<br />

críticos a considerar, uma vez que as correntes envolvidas e<br />

respectivos gradientes podem destruir as baterias. Em<br />

particular, as baterias de lítio exigem condições de<br />

funcionamento muito bem controladas, sob pena de se<br />

danificarem. Com efeito, são muito sensíveis a sobretensões,<br />

sobrecorrentese à temperatura de funcionamento.<br />

2.2.2 Células de Combustível<br />

São dispositivos geradores de energia eléctrica, resultante de<br />

reacções electroquímicas baseadas em hidrogénio<br />

(combustível não poluente, com elevada densidade de<br />

energia). Sublinha-se o facto de se tratar de geradores de<br />

energia, enquanto as baterias são armazenadores de<br />

energia. Uma característica importante a referir é que o<br />

produto das reacções é apenas vapor de água. As principais<br />

vantagens residem na elevada eficiência energética das<br />

reacções electroquímicas, emissões locais nulas e tempos<br />

curtos de abastecimento(depósitode hidrogénio). [2], [3]<br />

A energia eléctrica produzida nas células de combustível é<br />

usada na propulsão do veículo ou no carregamento das<br />

bateriase super-condensadorespara uso futuro.<br />

3 Alimentação Externa de Energia Eléctrica (Plug-in)<br />

Estes veículos podem ser ligados a um sistema de<br />

carregamentoexterior das baterias.<br />

Os veículos híbridos Plug-in têm sistemas de propulsão<br />

semelhantes aos híbridos convencionais. Para distâncias<br />

curtas, o veículo funciona em modo puramente eléctrico,<br />

com as baterias a fornecer a energia necessária à propulsão.<br />

112


ARTIGO TÉCNICO<br />

Nas distâncias longas, quando a carga das baterias é inferior<br />

a um valor especificado, o veículo passa a funcionar no modo<br />

híbrido. Deste modo, conseguem-se funcionamentos que se<br />

aproximam mais dos veículos puramente eléctricos [10].<br />

É de referir que as baterias usadas nos VH Plug-in têm de ter<br />

características semelhantes às exigidas para os VE. De modo<br />

geral, os VE são sempre do tipo Plug-in.<br />

4 Conclusões<br />

Os custos e limitações das reservas de combustíveis fósseis e<br />

os impactos ambientais decorrentes da sua utilização<br />

intensa, conduziram a um aumento no interesse e<br />

desenvolvimento dos veículos eléctricos e híbridos, não<br />

apenas por parte da comunidade científica mas também ao<br />

nível dos governos e opiniões públicas mundiais.<br />

Os veículos Plug-in poderão também interagir com a rede<br />

pública de energia, podendo contribuir para uniformizar o<br />

diagrama de cargas: durante o período nocturno (menor<br />

procura de energia) efectua-se o carregamento; nas horas<br />

diurnas (maior procura de energia), havendo excedente de<br />

energia armazenada nos veículos, este pode ser injectado na<br />

rede [10], [11].<br />

A Tabela 1 apresenta uma síntese das características dos<br />

tipos de veículos considerados.<br />

Até ao momento, os veículos híbridos têm conhecido um<br />

maior grau de desenvolvimento, que se reflecte na<br />

variedade de modelos comercialmente disponibilizados<br />

pelos principais fabricantes e automóveis. Os principais<br />

desafios que continuam a ser enfrentados estão no controlo<br />

e optimização das diferentes fontes de energia (o que<br />

implica desenvolver sistemas de gestão de energia eficazes,<br />

com capacidade de actuação em tempo real) e no custo final<br />

do veículo.<br />

Tabela 1 – Características de VH e VE [2]<br />

VH VE (baterias) VE (cél. de combust.)<br />

Sistema de Propulsão<br />

Sistema de Armazenamento<br />

de Energia<br />

Fontes de Energia e Infraestruturas<br />

Características<br />

Principais Desvantagens<br />

- Motores eléctricos<br />

- MCI<br />

- Baterias<br />

- Super-condensadores<br />

- Combustíveis fósseis ou<br />

alternativos<br />

- Estaçõesde gasolina<br />

- Pontos de carregamento de<br />

energia (“Plug-in”híbrido)<br />

- Emissõeslocais baixas<br />

- Elevada economia de<br />

combustível<br />

- Dependente de<br />

combustíveisfósseis<br />

- Autonomia longa<br />

- Disponível<br />

- Desempenhosdas baterias<br />

- Controlo e optimização de<br />

consumos; gestão de várias<br />

fontesde energia<br />

- Custo superior ao dos<br />

veículos convencionais<br />

(MCI)<br />

- Motores<br />

eléctricos<br />

- Baterias<br />

- Super-condensadores<br />

- Pontos de carregamento de<br />

energia (“Plug-in”)<br />

- Emissões locais nulas<br />

-Rendimentoselevados<br />

-Não depende directam. de<br />

combustíveisfósseis<br />

- Autonomia limitada<br />

- Disponível<br />

- Desempenhos e tempos de<br />

vida útil das baterias<br />

- Disponibilidade de pontos<br />

de carregamento de energia<br />

- Elevado custo inicial<br />

- Motores eléctricos<br />

- Depósito de H2<br />

- Baterias<br />

- Super-condensadores<br />

- H2<br />

-Produção de H2; infraestruturasde<br />

transporte<br />

- Emissões locais nulas<br />

-Rendimentoselevados<br />

- Não depende directamente<br />

de combustíveis fósseis<br />

- Em desenvolvimento<br />

- Custo elevado das células<br />

de combustível, ciclos de<br />

vida curtos, fiabilidade<br />

-Produção de H2; criação de<br />

infra-estruturas de<br />

transporte<br />

- Custo elevado do veículo<br />

113


ARTIGO TÉCNICO<br />

Nos últimos anos, os veículos eléctricos têm vindo a<br />

conhecer um maior desenvolvimento dos seus subsistemas,<br />

sendo de destacar: novas concepções de máquinas eléctricas<br />

e conversores de potência, estruturas híbridas nos sistemas<br />

de armazenamento de energia (baterias integradas com<br />

super-condensadores e respectivos conversores de<br />

potência). O grande obstáculo continua a residir nas<br />

características das baterias disponíveis (densidades de<br />

energia, ciclos de carga/descarga, custos). Também aqui o<br />

desenvolvimento de sistemas de gestão de energia em<br />

tempo real será um factor determinante no sucesso destes<br />

veículos.<br />

A opção pelas células de combustível é ainda uma incógnita<br />

grande: não só a sua tecnologia se encontra numa fase muito<br />

inicial, como também esta via implicará a disseminação em<br />

larga escala de infra-estruturas para a produção, distribuição<br />

e armazenamento de hidrogénio.<br />

A necessidade de integração de múltiplos domínios<br />

científicos e tecnológicos, tais como, indústria automóvel,<br />

máquinas eléctricas e respectivo controlo, electrónica de<br />

potência e sistemas de armazenamento de energia, com<br />

desempenhos semelhantes aos dos veículos convencionais<br />

(MCI), coloca elevados níveis de exigência à concepção dos<br />

VH e VE. Como tal, a modelização e simulação destes<br />

sistemas assume um papel determinante no seu<br />

desenvolvimento, uma vez que permite a concepção e teste<br />

de novas estruturas e sistemas de controlo, sem grandes<br />

exigências em termos materiais e de tempo. Também no<br />

campo do diagnóstico de avarias é de salientar a mais-valia<br />

conseguidacom ferramentas de modelização e simulação.<br />

Por último, o futuro dos VH e VE passará seguramente pela<br />

integração das opiniões públicas mundiais e respectivos<br />

governos com os interesses de múltiplos sectores, tais como,<br />

indústria automóvel, transportes, comunidade académica e<br />

empresas do ramo energético.<br />

Bibliografia<br />

[1] Ehsani, Mehrdad, Gao,Yimin, E. Gay, Sebastien, Emadi,<br />

Ali (2005). “Modern Electric, Hybrid Electric and Fuel Cell<br />

Vehicles– Fundamentals, Theory and Design”, CRC Press.<br />

[2] Chan, C.C. (2007). “The State of the Art of Electric,<br />

Hybrid, and Fuel Cell Vehicles”, Proceedings of the IEEE,<br />

Vol. 95, No. 4, pp. 704-718.<br />

[3] Chan, C.C. et al. (2010). “Electric, Hybrid and Fuel- Cell<br />

Vehicles: Architectures and Modeling”, IEEE Transactions<br />

on Vehicular Technology, Vol.59, No2, pp. 589-598.<br />

[4] K. T. Chau and C. C. Chan (2007). “Emerging energyefficient<br />

technologies for Hybrid Electric Vehicle”, Proc.<br />

IEEE,vol. 95, no. 4, pp. 821–835.<br />

[5] Hoeijmakers, Martin J., Ferreira, Jan A. (2006). “The<br />

Electric Variable Transmission”, IEEE Transactions on<br />

IndustryApplications, Vol.42, No4, pp. 1092-1100.<br />

[6] Affanni, Antonio et al. (2005). “Battery Choice and<br />

Management for New-Generation Electric Vehicles”, IEEE<br />

Transactions on Industrial Electronics, Vol.52, No5, pp.<br />

1343-1349.<br />

[7] Sun, Liqing et al. (2008). “State of Art of Energy System<br />

for New Energy Vehicles”, IEEE Vehicle Power and<br />

PropulsionConference (VPPC),September 3-5, China.<br />

[8] Miller, John M., Startorelli, Gianni (2010). “Battery and<br />

Ultracapacitor Combinations – Where Should the<br />

Converter Go?”, IEEE Vehicle Power and Propulsion<br />

Conference(VPPC),September 1-3, France.<br />

[9] http://www.mpoweruk.com<br />

[10]Amjad, Shaik al. (2010). “Review of Design<br />

Considerations and Technological Challenges for<br />

Successful Development and Deployment of Plug-in<br />

Hybrid Electric Vehicles”, Renewable and Sustainable<br />

Energy Reviews, No14, pp. 1104-1110, Elsevier.<br />

[11]Somayajula, Deepak et al. (2009). “Designing Efficient<br />

Hybrid Electric Vehicles”, IEEE Vehicular Technology<br />

Magazine, Vol.4, no.2, pp. 65-72.<br />

114


ARTIGO TÉCNICO<br />

Telecomunicações<br />

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />

artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das telecomunicações.<br />

Nos últimos anos, o sector das telecomunicações em Portugal sofreu profundas alterações decorrentes da introdução de<br />

mudanças significativas ao nível das prescrições especificações técnicas das infra-estruturas de telecomunicações em edifícios<br />

(ITED).<br />

Com efeito, a introdução do DL 59/2000 de 19 de Abril abriu caminho a uma verdadeira revolução nas infra-estruturas de<br />

telecomunicações em edifícios, tendo-se observado, a partir de Janeiro de 2005, à aplicação efectiva das prescrições e<br />

especificações técnicas de telecomunicações em edifícios (1ª Edição Manual ITED) ao nível da realização de projectos e,<br />

consequentemente,na posterior execução das instalações.<br />

Decorridos poucos anos, e em resposta a uma procura cada vez maiores de serviços de maiores larguras de banda, bem como<br />

pela necessidade de harmonização e adaptação da legislação vigente à legislação europeia, no início de 2009 é encetado todo<br />

um trabalho de modernização e adequação do Manual ITED a uma nova realidade que se espera poder perdurar durante vários<br />

anos. Nesse mesmo ano, e pela primeira vez, é iniciado o estudo de soluções técnicas a aplicar a infra-estruturas de<br />

telecomunicações em urbanizações de cariz pública e privada. O Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto<br />

Superior de Engenharia do Porto teve uma contribuição activa e reconhecida com o grupo de consultores da ANACOM na<br />

propostade elaboração dos novos manuais de telecomunicações.<br />

Assim, em Novembro de 2009 são editados a 2ª Edição do Manual ITED e a 1ª Edição do Manual ITUR, preenchendo esta última<br />

edição um vazio legal ao nível das infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações em Portugal, decorrentes da<br />

publicaçãodo DL 123/2009 de 21 de Maio, tendo em conta a redacção conferida pelo DL258/2009 de 25 de Setembro.<br />

Assim, esta compilação de artigos, que vão desde a aplicação das infra-estruturas de telecomunicações em edifícios aplicados à<br />

1ª e 2ª edição do Manual ITED, evidenciação das potencialidades do estabelecimento de infra-estruturas de fibra óptica bem<br />

como referência às infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações, visa contribuir para o enriquecimento do<br />

conhecimento acerca das mudanças técnicas e tecnológicas sofridas ao longo dos últimos anos no sector das telecomunicações<br />

em Portugal.<br />

115


ARTIGO TÉCNICO<br />

Índice<br />

Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios. O Estado da Arte<br />

Manuel Cunha<br />

Responsável Departamento de Certificações ITED no Porto da Portugal Telecom<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

117<br />

ITED – Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios. Novos Horizontes Alcançados<br />

Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

119<br />

Redes “Fiber To The Home – FTTH”. O Despertar de Novos Serviços de Telecomunicações<br />

Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

127<br />

INFRA-ESTRUTURAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM EDIFÍCIOS (ITED). O QUE MUDARÁ COM O ITED RNG ?<br />

133<br />

LUÍS PEIXOTO, SÉRGIO FILIPE CARVALHO RAMOS<br />

TELEVÉS/INSTITUTOSUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />

ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA N<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong>, Nº4, OUTUBRO DE 2009<br />

FIBRA ÓPTICA. NOVAS AUTO-ESTRADAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM URBANIZAÇÕES<br />

137<br />

SÉRGIO FILIPE CARVALHO RAMOS , ROQUE FILIPE MESQUITA BRANDÃO<br />

INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />

ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA N<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong>, Nº5, JUNHO DE 2010<br />

FIBRAS ÓPTICAS. O PARADIGMA<br />

143<br />

EDUARDO SÉRGIO CORREIA<br />

IEMS – INSTALAÇÕES DE ELECTRÓNICA MANUTENÇÃO E SERVIÇOS, LDA<br />

ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA N<strong>EUTRO</strong> À <strong>TERRA</strong>, Nº6, DEZEMBRO DE 2010<br />

116


ARTIGO TÉCNICO<br />

Manuel Cunha<br />

Responsável Departamento de Certificações ITED no Porto da Portugal Telecom<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios. O Estado da Arte<br />

Hoje em dia quando se fala em ITED, não se fala apenas num<br />

regulamento de infra-estrutura de telecomunicações em<br />

edifícios. Quando se fala em ITED fala-se, também, de<br />

mudança, das novas tecnologias e, sobretudo, de novos<br />

horizontes.<br />

As mudanças tiveram início com a publicação do Decreto-Lei<br />

59/2000 de 19 de Abril, em que, por exemplo, deixou de ser<br />

obrigatório o licenciamento do projecto, impondo assim aos<br />

projectistas a total responsabilidade pela arquitectura das<br />

infra-estruturas.<br />

Por outro lado, liberalizou-se o mercado das certificações,<br />

criando assim espaço ao aparecimento de novas empresas<br />

no sector, sendo neste momento mais de 140 empresas a<br />

certificar.<br />

Em termo das Infra-estruturas, a grande mudança aconteceu<br />

em Julho de 2004, altura em que foi publicada a primeira<br />

edição do Manual ITED, que vigorou em fase de<br />

implementação até Dezembro do mesmo ano em<br />

simultâneo com o RITA, passando em Janeiro de 2005 a ser o<br />

único regulamento aceite.<br />

Se o novo manual se apresentou como um documento algo<br />

ambíguo em determinados pontos, teremos de lhe<br />

reconhecer o devido valor, na medida em que veio dar uma<br />

lufada de ar fresco num sector que se fazia reger por um<br />

regulamento com quase 20 anos, sem que nesse período de<br />

tempo tivesse sofrido qualquer actualização. O regulamento<br />

RITA era já pois um regulamento que não servia as<br />

necessidades dos seus utilizadores e amplamente desfasado<br />

das novas tecnologias.<br />

Nos últimos anos, com o acumular de experiências tem-se<br />

verificado uma constante melhoria na qualidade dos<br />

projectos realizados. No entanto, ainda existe uma gama de<br />

projectistas que, pelo seu minimalismo, hábito<br />

provavelmente adquirido pelos anos que passaram a<br />

projectar pelo regulamento RITA, assim como pelos<br />

apertados orçamentos previstos para a instalação, tendem a<br />

elaborar projectos pouco flexíveis, não preparando as<br />

instalações para as novas tecnologias que se adivinham,<br />

nomeadamentea IPTV.<br />

Neste capítulo, as instituições de ensino superior terão um<br />

papel fundamental a desempenhar, reservando algum<br />

espaço nas cadeiras de projecto para as ITED, promovendo<br />

mesmo um relacionamento entre os alunos e empresas do<br />

sector, quer ao nível de projecto, de instalação, ou mesmo<br />

ao nível da Certificação.<br />

Também na qualidade da instalação se tem verificado uma<br />

curva ascendente bastante positiva, em que os técnicos<br />

instaladores sem formação que se arriscam em cumprir um<br />

projecto com regras diferentes das que estão habituados dão<br />

lugar a técnicos com formação adequada, e com vontade de<br />

se aperfeiçoarema cada obra que realizam.<br />

No capítulo da instalação, há que salientar que também os<br />

117


ARTIGO TÉCNICO<br />

fabricantes que se mostraram atentos às novas exigências do<br />

mercado, renovando as suas ofertas ou desenvolvendo<br />

novos produtos dando assim uma resposta de encontro às<br />

novas exigências de mercado.<br />

Com a abertura do mercado das Certificações ITED, surgiram<br />

muitas empresas, e com elas, alguns desajustes, resultantes<br />

do fraco “know how” de algumas dessas novas empresas,<br />

mas também aqui já se verifica os resultados do trabalho<br />

desenvolvido pela ANACOM na procura de seriedade,<br />

profissionalismoe rigor, exigido pela entidade certificadora<br />

como condições obrigatórias.<br />

O processo ITED, embora ainda esteja a dar os seus<br />

primeiros passos, já demonstra algum amadurecimento, as<br />

primeiras poeiras já assentaram, e consequentemente, já é<br />

possível tirar as primeiras e mais importantes conclusões.<br />

Com base numa análise do que se tem verificado e das<br />

experiências acumulados é pois tempo da ANACOM cumprir<br />

o que inicialmente prometeu, ou seja, rever e actualizar o<br />

Manual ITED.<br />

118


ARTIGO TÉCNICO<br />

Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

ITED – Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios<br />

Novos Horizontes Alcançados<br />

Introdução<br />

Ao longo das últimas décadas, o nosso estilo e hábitos de<br />

vida tem vindo, paulatinamente, a ser alterados e<br />

melhorados, a par do desenvolvimento das economias, e dos<br />

progressos tecnológicos, contribuindo, sobremaneira para<br />

uma melhoria generalizada das condições sociais.<br />

Com desenvolvimento do sector económico tem-se assistido<br />

em Portugal à implementação de ambientes liberalizados em<br />

áreas tradicionalmente controladas pelo estado e, assim,<br />

sujeitas a um verdadeiro regime de monopólio, como eram<br />

os casos do sector energético e das telecomunicações.<br />

A publicação do Decreto-Lei n.º 59/2000, de 19 de Abril e a<br />

subsequente publicação das Prescrições Técnicas de<br />

Instalações e Especificações Técnicas de Equipamentos e<br />

Materiais, projectou Portugal para a vanguarda de um<br />

verdadeiro ambiente concorrencial ao nível das<br />

telecomunicações.<br />

O presente artigo visa, sucintamente, reflectir sobre o novo<br />

enquadramento das Infra-estruturas de Telecomunicações<br />

em Edifício (ITED) criado pelo DL n.º 59/2000, de 19 de Abril,<br />

assim como, evidenciar os aspectos mais específicos desse<br />

mesmo enquadramento.<br />

Enquadramento Legislativo<br />

Na década de 50 do século passado foi editado o Decreto<br />

n.º41486 de 30 de Dezembro de 1957 que regulamentou as<br />

estações receptoras de radiodifusão, decorrentes da<br />

evolução da “caixa que mudou o mundo”, a televisão.<br />

Apenas na década de 80 do século passado foram<br />

fixadas as regras básicas, com o objectivo de dotar os<br />

edifícios de infra-estruturas de telecomunicações,<br />

nomeadamente telefone, telex e dados, com acesso<br />

através de redes físicas, mediante a publicação do<br />

Decreto-Lei 146/87 de 24 de Março – Instalações<br />

Telefónicas de Assinante (ITA). Em execução do regime<br />

fixado, em 8 de Abril de 1987 foi editado o Decreto<br />

Regulamentar n.º 25/87, o Regulamento de Instalações<br />

Telefónicas de Assinante (RITA), que estabeleceu as<br />

condições técnicas a que deveriam obedecer os<br />

projectos, as instalações e a conservação das infraestruturas<br />

de telecomunicações, bem como os<br />

procedimentos legais a seguir para a elaboração de<br />

projectos e solicitação de vistorias às instalações<br />

executadas. Em complemento do RITA, o despacho n.º<br />

42 de 11 de Novembro de 1990, homologou o<br />

Regulamento de Aprovação de Materiais, bem como o<br />

Regulamento de Inscrição de Técnicos Responsáveis.<br />

“Assim, as soluções técnicas instituídas inseriam-se<br />

num contexto de exploração da rede pública de<br />

telecomunicações e oferta de serviço fixo de telefone<br />

em regime de monopólio.” (Diário da República – I<br />

Série A, 19 de Abril de 2000).<br />

Mais tarde, em 1997 e pelo Decreto-Lei n.º249/97 de<br />

23 de Setembro, foi estabelecido o regime de<br />

Instalação, em edifícios, de sistemas de distribuição de<br />

sinais de radiodifusão sonora e televisiva para uso<br />

privativo, por via hertziana terrestre (tipo A), por via de<br />

119


ARTIGO TÉCNICO<br />

satélites de radiodifusão (tipo B), ou por cabo (CATV),<br />

devidamente complementado por Prescrições Técnicas de<br />

instalação e por Prescrições Técnicas de equipamentos e<br />

materiais, revogando o anterior diploma DL 41486.<br />

Com os avanços tecnológicos verificados na área da<br />

electrónica e das telecomunicações, e devido às novas<br />

exigências emergentes do estabelecimento de medidas<br />

legislativas que determinaram a liberalização do sector das<br />

telecomunicações em Portugal, impuseram a necessidade de<br />

formular novas regras para a instalação das infra-estruturas<br />

de telecomunicações em edifícios, bem como para as<br />

actividades de certificação das instalações e avaliação de<br />

conformidadede infra-estruturas,materiais e equipamentos.<br />

Assim, e com o aparecimento actual de legislação foram<br />

estabelecidos os regimes das ITED’s e respectivas ligações às<br />

redes públicas de telecomunicações, assim como o regime<br />

de actividade de certificação das instalações e avaliação de<br />

conformidadede materiais e equipamentos.<br />

Caracterizaçãodas ITED<br />

O artigo 2º do DL 59/2000 considera que as infra-estruturas<br />

de telecomunicaçõesem edifíciosdestinam-se a:<br />

1. Ao acesso aos serviços de telecomunicações fixas<br />

(serviço telefónico e de dados), ligadas a rede públicas<br />

de acesso físicas e a redes públicas de acesso via rádio<br />

(FWA – Fixed Wired Access);<br />

2. Às redes de cabos constituída pela rede de cabos<br />

colectiva (RCC) e pela rede de cabos individual (RCI), para<br />

posteriorligação física às redes de telecomunicações;<br />

3. Aos sistemas de recepção e distribuição de sinais de<br />

radiodifusãosonora ou televisiva (Tipo A e B);<br />

4. Aos sistemas de uso exclusivo do edifício,<br />

nomeadamentevideoportarias e televigilância.<br />

Em todos os edifícios novos ou a reconstruir é obrigatória a<br />

instalação das infra-estruturas necessárias para a instalação<br />

dos diversos equipamentos, cabos e outros dispositivos, bem<br />

como armários e caixas de entrada para ligação a sistemas de<br />

acesso via rádio (FWA), sendo, também, obrigatória a<br />

instalação das infra-estruturas de redes de cabos (RCC e<br />

RIC), para ligação física às redes públicas de<br />

telecomunicações. Estas infra-estruturas devem permitir o<br />

acesso ao serviço fixo telefónico, distribuição de sinais<br />

sonoros e televisivos do tipo A e distribuição por cabo.<br />

Sendo a obrigatoriedade de instalação destas infraestruturas<br />

para distribuição de sinais sonoros e televisivos do<br />

tipo A, aplicável aos edifícios com 4 ou mais fracções<br />

autónomas(artigo 4º do DL 59/2000, de 19 de Abril).<br />

A instalação das infra-estruturas das ITED deve obedecer a<br />

um projecto técnico especializado, realizado por um<br />

projectista devidamente credenciado, inscrito na Autoridade<br />

Nacional de Comunicações(ANACOM).<br />

Projectista ITED – Quais as suas obrigações<br />

Cabe ao dono de obra escolher livremente o projectista de<br />

infra-estruturas de telecomunicações. O projectista tem<br />

como obrigações executar o projecto ITED em conformidade<br />

com o estado da arte e legislação em vigor, prestando todos<br />

os esclarecimentos necessários ao promotor da obra, ao<br />

instalador e à entidade certificadora para a correcta<br />

interpretação do projecto. O projectista deverá, também,<br />

dar os esclarecimentos necessários sobre o projecto<br />

realizado, a assistência técnica ao instalador e dono de obra<br />

na selecção dos componentes e materiais a serem utilizados,<br />

assim como, acompanhar a execução das obras, colaborar<br />

nas acções realizadas pelas entidades responsáveis por<br />

fiscalização e vistorias, disponibilizar ao dono de obra, bem<br />

como à entidade certificadora o projecto técnico ITED. Os<br />

projectistas, deverão, ainda, emitir um termo de<br />

responsabilidade que ateste a observância das normas gerais<br />

e específicas constantes das disposições legais e<br />

regulamentares aplicáveis, que dispensará a apreciação<br />

prévia dos projectos por parte dos serviços municipais.<br />

Finalmente, o projectista deverá endereçar uma cópia do<br />

termo de responsabilidadeà ANACOM.<br />

120


ARTIGO TÉCNICO<br />

O Projecto Técnico ITED<br />

O projecto técnico das instalações ITED tem como objectivo<br />

a definição da arquitectura da rede (e seus percursos), a<br />

definição e respectiva caracterização da rede de cabos e da<br />

rede de tubagens (quer se tratem de rede colectivas ou<br />

individuais), definição e dimensionamento de equipamentos<br />

e materiais a usar, permitindo a instalação das redes de<br />

tubagens, cabos e equipamentos, com total clareza, de<br />

modo a não suscitar dúvidas aos técnicos instaladores.<br />

De acordo com o consagrado no artigo 12.º do Decreto-Lei<br />

59/2000, de 19 de Abril, o projecto técnico ITED deve incluir<br />

obrigatoriamenteos seguinteselementos:<br />

a) Informação identificadora do projectista, do edifício a<br />

que se destina, nomeadamente da sua finalidade;<br />

b) Memória descritiva, contendo os esclarecimentos<br />

necessários à correcta interpretação do projecto, os<br />

pressupostos que foram considerados, nomeadamente<br />

as características dos interfaces técnicos de acesso de<br />

redes públicas de telecomunicações, os cálculos técnicos<br />

dos parâmetros principais da infra-estrutura, referência<br />

ao modo como o projecto assegura a não interferência<br />

com outras infra-estruturas do edifício, as características<br />

técnicas a que devem obedecer os equipamentos e<br />

materiais que irão ser utilizadosna infra-estrutura.<br />

O projecto ITED deverá ainda ter em conta o estabelecido no<br />

nº2 do artigo 40º, do DL 59/2000, de 19 de Abril, ou seja, as<br />

instalações ITED devem respeitar os parâmetros técnicos da<br />

interface de acesso às redes públicas de telecomunicações<br />

devendo, também, respeitar o designado nos guias de<br />

instalação dos fabricantes dos materiais e equipamento. O<br />

projecto deve contemplar obrigatoriamente os Pontos<br />

Terminais(PT) de todas as redes das ITED.<br />

Quantoaos equipamentosterminais de cliente, é desejável<br />

que o projecto defina o tipo, a capacidade, a quantidade e a<br />

localização desses equipamentos. O projecto deverá ter em<br />

conta o aspecto estético exterior das instalações,<br />

privilegiandoa não existência de cablagem à vista.<br />

As novas infra-estruturas de telecomunicações em edifícios<br />

conduzem a uma procura de uma maior qualidade dos<br />

serviços prestados aos utilizadores. Assim, com vista a<br />

promover ao aperfeiçoamento tecnológico das instalações<br />

surgem os Níveis de Qualidade (NQ) dos seus constituintes.<br />

Com efeito, as necessidades de acesso dos utilizadores a<br />

serviços de telecomunicações a larguras de banda cada vez<br />

maiores conduziram à subdivisão por frequências de<br />

trabalho e pelos diversos tipos de cablagem,<br />

nomeadamente:<br />

- Cabos de par de cobre;<br />

- Cabo coaxial;<br />

- Fibra óptica.<br />

A cada grupo corresponde um NQ distinto. Assim é atingida<br />

uma melhor caracterização dos requisitos obrigatórios<br />

decorrentes do DL 59/2000. A tabela 1, referente a cabos de<br />

pares de cobre, indica a correspondência entre a classe de<br />

ligação que o percurso de transmissão suporta, a categoria<br />

do cabo e a frequência máxima para que são especificados.<br />

Classe<br />

da<br />

Ligação<br />

A<br />

B<br />

Categoria dos<br />

Componentes<br />

(Cabo)<br />

1<br />

2<br />

Tabela 1 – Categorias de cabos e componentes de par de cobre e<br />

classes correspondentes<br />

Frequência<br />

Máxima<br />

(MHz)<br />

0,1<br />

C 3 16<br />

-<br />

4<br />

20<br />

D 5 100<br />

E<br />

F<br />

6<br />

7<br />

250<br />

(Adap.: Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)<br />

1<br />

600<br />

121


ARTIGO TÉCNICO<br />

A tabela 2 indica os meios de transmissão utilizados que<br />

deverão satisfazeros diversos níveis de qualidade.<br />

O NQ 0, ao abrigo de antigos regulamentos, foi abandonado<br />

em termos de solução para a instalação de infra-estruturas<br />

de telecomunicaçõesem edifícios.<br />

A tabela 3 enuncia os diversos níveis de qualidade da<br />

cablagem a instalar nos diferentes edifícios e, define os NQ<br />

mínimos e recomendados decorrentes, respectivamente dos<br />

requisitos mínimos estabelecidos no DL 59/2000, e nas<br />

sugestões tecnicamente mais avançadas emitidas pela<br />

ANACOM.<br />

Em função das infra-estruturas de telecomunicações a<br />

instalar, é necessário diferenciar os diversos edifícios.<br />

Também é previsto a coexistência de soluções mínimas e<br />

recomendadas.<br />

Níveis<br />

(NQ)<br />

Sub-Nível<br />

Tipo<br />

de<br />

Cablagem<br />

Classe ou Frequência<br />

suportada<br />

Categorias dos<br />

Cabos Par Cobre<br />

Fibra Óptica<br />

0<br />

-<br />

Par Cobre<br />

Classes A e B<br />

Categorias 1 e 2<br />

1<br />

a<br />

b<br />

c<br />

Pares<br />

de<br />

Cobre<br />

Classe C<br />

Classe D<br />

Classe E e F<br />

Categoria 3<br />

Categoria 5<br />

Categoria 6 e 7<br />

2<br />

a<br />

b<br />

Coaxial<br />

Frequência até 1 GHz<br />

Frequência até 2150 MHz<br />

Não se aplica<br />

Não se aplica<br />

3<br />

-<br />

Fibra óptica<br />

(depende tipo fibra)<br />

OM1, OM2, OM3 E OS1<br />

Tabela 2 – Definição dos Níveis de Qualidade<br />

(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)<br />

EDIFÍCIOS<br />

Nível de Qualidade (NQ) da Cablagem<br />

Cablagem a Instalar (Tipo / Número)<br />

Rede Colectiva Rede Individual Rede Colectiva Rede Individual<br />

Moradia Unifamiliar<br />

2 e 3 fracções<br />

autónomas<br />

4 ou mais fracções<br />

autónomas<br />

não existe<br />

NQ1a<br />

NQ2a<br />

NQ1b<br />

NQ2a<br />

MÍNIMO<br />

RECOMENDADO<br />

não existe<br />

Par Cobre /1<br />

Cabo Coaxial /1<br />

Par Cobre /1<br />

Cabo Coaxial /2<br />

Par Cobre /1<br />

Cabo Coaxial /1<br />

Moradia Unifamiliar não existe não existe Par de Cobre /1<br />

2 ou mais fracções<br />

autónomas<br />

NQ1b<br />

NQ2a e NQ2b<br />

NQ1b<br />

NQ2a e NQ2b<br />

Par de Cobre /1<br />

Cabo Coaxial (NQ2a) /2<br />

Cabo Coaxial (NQ2a) /1<br />

Cabo Coaxial /1<br />

Par de Cobre /1<br />

Cabo Coaxial (NQ2a) /1<br />

Tabela 3 – Tabela dos níveis de qualidade da cablagem e da cablagem a instalar, consoante o tipo de edifícios<br />

(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)<br />

122


ARTIGO TÉCNICO<br />

Assim, para os edifícios de 1 a 3 fracções autónomas devem<br />

ser instaladas, pelo menos, 2 redes de cablagem, uma em<br />

par de cobre (PC) e uma outra em cabo coaxial (CC). Para os<br />

edifícios de 4 ou mais fracções autónomas devem ser<br />

instaladas, pelo menos, 3 redes de cablagem na rede<br />

colectiva, uma em par de cobre, outra em cabo coaxial e<br />

ainda uma outra (também em cabo coaxial) para a recepção<br />

e distribuição de sinais de radiodifusão sonora e televisiva do<br />

tipo A (MATV). Finalmente, as redes individuais (fracção<br />

autónoma) são compostas por 2 redes de cablagem, uma em<br />

par de cobre e outra em cabo coaxial.<br />

O Projecto Técnico ITED – Critérios de concepção<br />

Em termos de concepção de projecto de ITED para fracções<br />

residenciais, e relativamente a PC, deve prever-se no<br />

mínimo:<br />

- 1 Tomada telefónicapor quarto;<br />

- 1 Tomada por sala;<br />

- 1 Tomada por cozinha.<br />

Como a tomada da cozinha poderá estar sujeita a condições<br />

especiais deverá existir um cuidado especial na sua<br />

localização de modo a minorar essa situação,<br />

nomeadamente o mais possível afastada de fontes de vapor<br />

e calor. Deverão ser utilizadas tomadas e cabos adaptados a<br />

essas situações.<br />

Para fracções de uso profissional ou não residencial o critério<br />

de concepção da rede de cabos de par de cobre deve<br />

contemplar:<br />

- 1 Tomada por cada posto de trabalho ou por cada 10 m².<br />

tipologia em estrela, até às tomadas de cliente. Estas<br />

ligações são tipicamente efectuadas por cabos de 4 pares de<br />

cobre (UTP - Unshielded TwistedPair, por exemplo).<br />

Todas as tomadas de cliente podem ser interligadas entre si,<br />

no DDC, por intermédio de chicotes adequados, permitindo<br />

distribuiro sinal das entradas por todas as tomadas.<br />

Aquando da previsão da quantidade mínima de pares de<br />

cobre da rede colectiva, prevendo necessidades acrescidas<br />

ou avarias, dever-se-á, obrigatoriamente considerar 4 pares<br />

de cobre por fracção autónoma, e prever um<br />

sobredimensionamento de 20% no valor total de pares de<br />

cobre. A folga de 20% é justificada pela ANACOM como uma<br />

medida de facilitação na ligação rápida a novos clientes, com<br />

um mínimo de intervenção.<br />

Relativamente à rede colectiva de cabos coaxiais, nos<br />

edifícios com 3 ou mais fracções autónomas, deverá ser<br />

constituída, no mínimo por um 1 sistema de cabo coaxial,<br />

adaptado ao NQ2a, conforme a tabela 3. Por sua vez, nos<br />

edifícios com mais de 4 fracções autónomas, deverá, no<br />

mínimo, ser constituída por 2 sistemas de cabos coaxial,<br />

adaptado ao NQ2a, sendo um deles destinado à recepção de<br />

sinal CATV (Community Antenna Television) e o segundo à<br />

recepção de sinal MATV (Master Antenna Television –<br />

sistema de distribuição e recepção Tipo A).<br />

Nas redes de cabo coaxial é recomendado a utilização de<br />

cabos coaxiais flexível dos tipos RG11, RG7, RG6 ou RG59,<br />

devendo-se respeitar as atenuações típicas de cada tipo de<br />

cabo. Os níveis de sinal na entrada deverão estar<br />

compreendidosentre 75 e 100 dBµV.<br />

No caso de outras fracções autónomas em locais específicos,<br />

tais como industrias, estabelecimentos públicos, etc, o<br />

projectista deve ter em conta as necessidades específicas do<br />

cliente.<br />

Na elaboração da rede de pares de cobre, por exemplo numa<br />

fracção para uso residencial, a distribuição a partir do<br />

Dispositivo de Derivação do Cliente (DDC) apresenta uma<br />

A rede individual de cabos é, normalmente, constituída por<br />

um único sistema de cabo coaxial, adaptado a frequências<br />

até 1GHz. Aquando da elaboração da rede individual de<br />

cabos coaxiais, dever-se-á ter em atenção os critérios de<br />

dimensionamento já mencionados no primeiro parágrafo<br />

desta secção.<br />

Ainda nas fracçõesresidenciais, é recomendada a existência<br />

123


ARTIGO TÉCNICO<br />

de uma Zona de Acesso Privilegiado (ZAP), que é<br />

caracterizada pela existência, no mesmo local, de 2 tomadas<br />

coaxiais a uma distância máxima de, aproximadamente,<br />

30cm uma da outra (se possível, integradas no mesmo<br />

espelho). Embora a localização da ZAP esteja ao critério do<br />

projectista ela é colocada usualmente na sala de estar. A ZAP<br />

permitirá, assim, a ligação a um mesmo dispositivo terminal<br />

de 2 sinais distintosprovenientes de redes coaxiais.<br />

O projecto ITED contempla, ainda, o projecto da respectiva<br />

instalação eléctrica das ITED. Assim, dever-se-á prever a<br />

instalação de 4 tomadas de potência monofásicas com terra<br />

no Armário de Telecomunicações do Edifício (ATE),<br />

proveniente do Quadro de Serviços Comuns do Edifício (QSC)<br />

e 1 tomada no Armário de Telecomunicações Individual<br />

(ATI), proveniente do quadro eléctrico da fracção autónoma.<br />

A rede de terras das ITED deverá ser estabelecida de forma<br />

independenteda rede de terras da electricidade. A ligação<br />

da rede de terra ITED e electricidade deverá ser feita apenas<br />

no ligador geral de terras. A título de exemplo, o condutor<br />

de terra do circuito de alimentação da tomada de um ATI<br />

não deve ser ligado ao barramento de terra da ATI mas sim<br />

ao barramento de terra do quadro eléctrico da fracção<br />

autónoma respectiva.<br />

As figuras 1 e 2 representam um esquema resumido da rede<br />

individual de tubagem e de cabos, respectivamente. Cada<br />

uma das redes individuais é composta por tubagem e caixas.<br />

A rede de cabos é compostapelos dispositivos de ligação e<br />

distribuição dos Pares de Cobre e Cabo Coaxial e pelos<br />

diferentes tipos de cabos, por exemplo, cabo par de cobre<br />

tipo UTP-4’’ Categoria 5 e cabo coaxial tipo RG6.<br />

A categoria mínima de par de cobre pertencente a uma rede<br />

individual deve ser da Categoria 5 e o Nível de Qualidade do<br />

cabo coaxial deve ser NQ2a, ou seja, frequências até 1 GHz<br />

(recepçãode sinal sonoro televisivo Tipo A e CATV).<br />

≥ 25mm Ø<br />

pares de cobre<br />

≥ 20mm Ø<br />

QE<br />

I1<br />

40mm Ø<br />

≥ 20mm Ø<br />

PAT<br />

CEMU<br />

≥ 32mm Ø coaxial/fibra óptica<br />

ATI<br />

25mm Ø<br />

50mm Ø<br />

Moradia<br />

Figura 1 – Moradia Unifamiliar – Rede individual de tubagem<br />

≥ 25mm Ø (pares de cobre)<br />

QE<br />

ATI<br />

I1<br />

PAT<br />

UTP<br />

Entrada de<br />

cabos aérea<br />

CEMU<br />

Entrada de cabos subterrânea<br />

Profundidade ≥ 0,6 m<br />

≥ 32mm Ø (coaxial/fibra óptica)<br />

D<br />

D<br />

TC<br />

C<br />

RG59/<br />

RG6/<br />

RG7<br />

Moradia<br />

RJ45<br />

h ≥ 2,5 m<br />

Figura 2 – Moradia Unifamiliar – Rede individual de cabos<br />

124


ARTIGO TÉCNICO<br />

A figura 3 representa o esquema da rede colectiva e<br />

individual de tubagem de uma instalação colectiva. Cada<br />

uma das redes é composta por tubagem (a qual se deve<br />

respeitar a determinação do diâmetro mínimo interno) e<br />

pelas respectivas caixas. A categoria mínima de par de cobre<br />

pertencentea uma rede colectiva deve ser da Categoria 3.<br />

Nos edifícios com 3 ou menos fracções autónomas, a rede<br />

colectiva deve ser constituída no mínimo por 1 sistema de<br />

cabo coaxial, adaptado ao NQ2a. Nos edifícios com 4 ou mais<br />

fracções autónomas, a rede de cabo coaxial deve ser<br />

constituída, no mínimo, por 2 sistemas de cabo coaxial,<br />

adaptadosao NQ2a(MATV e CATV).<br />

PAT - Passagem aérea de<br />

topo (obrigatória)<br />

Sistemas de antenas<br />

(MATV, SMATV, FWA)<br />

ATE - Armário de<br />

Telecomunicações de<br />

Edifício (superior)<br />

Permite a ligação dos<br />

sistemas de antenas<br />

As redes<br />

individuais de<br />

cabos seguem uma<br />

topologia em<br />

estrela (obrigatório)<br />

Os componentes e os<br />

cabos em pares de cobre<br />

das RIC são de categoria 5<br />

ou superior<br />

Rede Individual de<br />

Cliente (RIC) -<br />

residencial ou escritório<br />

Os componentes e os<br />

cabos coaxiais das RIC<br />

suportam sinais, no<br />

mínimo, até 1GHz<br />

Coluna Montante de<br />

cabos de pares de cobre<br />

de categoria 3 ou<br />

superior (+ reserva)<br />

ATI<br />

Armário de<br />

Telecomunicações<br />

Individual<br />

ATI<br />

Tomadas de cliente<br />

(par de cobre e cabo<br />

coaxial)<br />

Na rede individual os<br />

cabos partilham a<br />

mesma tubagem<br />

Coluna Montante de<br />

sistemas de cabos<br />

coaxiais (+ reserva)<br />

ATI<br />

ATI<br />

(num edifício de 4 ou mais<br />

fracções é obrigatória a<br />

existência de 2 sistemas,<br />

que partilham a mesma<br />

tubagem)<br />

Entrada<br />

subterrânea<br />

(obrigatória)<br />

Tubos de entrada<br />

de cabos de<br />

operadores<br />

Caixa de<br />

entrada de<br />

cabos<br />

(opcional)<br />

ATE (inferior)<br />

Ponto de ligação<br />

dos operadores<br />

das redes fixas<br />

Câmaras de<br />

Visita de<br />

operadores<br />

Figura 3 – Exemplo dos espaços e redes de tubagens de uma ITED<br />

(Adaptado de Prescrições e Especificações Técnicas – Manual ITED)<br />

125


ARTIGO TÉCNICO<br />

Certificação, Vistorias e Fiscalização<br />

Considerações finais<br />

Durante a execução das infra-estruturas de<br />

telecomunicações ou no seu término, são efectuadas<br />

“análises” às instalações, com o principal objectivo de<br />

certificar a conformidade das instalações, de acordo com as<br />

Prescrições e Instruções Técnicas e, sobretudo, de acordo<br />

com o projecto apresentado, bem como certificar a<br />

conformidade dos materiais e a sua adequação ao ambiente<br />

do local a instalar. As instalações são verificadas por uma<br />

entidade certificadora ou instalador-certificador. Com efeito,<br />

e segundo o número 2 do artigo 22º do DL 59/2000, no caso<br />

da instalação ter sido realizada por um instaladorcertificador,<br />

pode o mesmo proceder à auto certificação da<br />

obra, com emissão do correspondente certificado. Por outro<br />

lado, no caso da instalação ter sido realizada por um<br />

instalador devidamente inscrito como tal no ICP-ANACOM,<br />

mas não qualificado para proceder à certificação, esta deve<br />

ser efectuada por um instalador-certificador ou por uma<br />

entidadecertificadora.<br />

É da competência do instalador-certificador ou entidade<br />

certificadora emitir certificados de conformidade das<br />

instalações, fiscalizar (em fase de execução) as instalações,<br />

Alertar o director de obra para qualquer facto relevante<br />

relativo à execução da instalação e participar na vistoria que<br />

conduz à emissão de licença ou à autorização de utilização<br />

do edifício. A posterior conservação da ITED e os respectivos<br />

encargos são da responsabilidade dos proprietários ou das<br />

administrações dos edifícios, artigo 32º do DL 59/2000,<br />

podendo ser efectuada por um instalador escolhido pelo<br />

dono de obra.<br />

As Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios e<br />

respectiva legislação, não são especificações fixas ao longo<br />

do tempo, pelo contrário, as soluções técnicas adoptadas<br />

para cada um dos projectos, a par das evoluções<br />

tecnológicas, contribuem para que ao nível das ITED’s haja<br />

uma constante actualização de conhecimento e soluções<br />

técnicas. Todo este processo é, pois, dinâmico requerendo,<br />

por isso, uma constante necessidade de formação nos<br />

domínios das ITED’s.<br />

O projectista é soberano na escolha dos diferentes Níveis de<br />

Qualidade para as instalações, salvaguardando-se sempre a<br />

obrigatoriedade de cumprimento de Níveis de Qualidade<br />

mínimo exigidos. Porém, e de forma a dotar as infraestruturas<br />

de melhores desempenhos, a escolha e selecção<br />

desses mesmos Níveis de Qualidade poderão ser superiores<br />

aos especificados regulamentarmente, aliás, e ao nível da<br />

concepção do projecto ITED bem se poderá dizer que... o céu<br />

é o limite!<br />

A elaboração deste artigo surge no seguimento da segunda<br />

publicação da revista técnica “Neutro à Terra”, da área de<br />

Máquinas e Instalações Eléctricas, do grupo de disciplinas de<br />

Sistemas Eléctricos de Energia, do Departamento de<br />

Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de<br />

Engenharia do Porto e visa, fundamentalmente, contribuir<br />

para o enriquecimento do conhecimento das competências<br />

no âmbito de actuação do projecto ITED.<br />

126


ARTIGO TÉCNICO<br />

Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

Redes “Fiber To The Home – FTTH”<br />

O Despertar de Novos Serviços de Telecomunicações<br />

1. Enquadramento<br />

2. Novos Serviços de Telecomunicações<br />

Se há poucos anos não imaginávamos as nossas vidas sem o<br />

conforto proporcionado pela iluminação artificial, fruto do<br />

desenvolvimento e proliferação da produção, transporte e<br />

distribuição de energia eléctrica, seguramente que nos dias<br />

de hoje é indissociável juntar a esse mesmo conforto e estilo<br />

de vida a utilizaçãodos meios de telecomunicaçõesactuais.<br />

Com efeito, a vulgarização do uso de telemóveis, a recepção<br />

e transmissão de dados a velocidades cada vez maiores, o<br />

aparecimento de televisão de alta definição (TVAD) em<br />

substituição do actual formato PAL, a surgimento de ofertas<br />

de novos serviços como o Vídeo on Demand a par da<br />

emergente televisão digital terrestre constituem,<br />

seguramente, uma nova revolução nas infra-estruturas de<br />

telecomunicaçõesdomésticase profissionais.<br />

O sector das telecomunicações tem sido aquele que se<br />

encontra em pleno crescimento, com os fabricantes e<br />

operadores a lançarem novos produtos e soluções de forma<br />

continuada, bem como uma atenta e perspicaz reacção por<br />

parte dos legisladores. Assiste-se verdadeiramente na<br />

indústria das telecomunicações a um movimento<br />

relacionado com a convergência para as redes IP (“Internet<br />

Protocol”,ou Protocolo de Internet).<br />

Esta nova oferta de serviços de telecomunicações apenas<br />

tem sido possível pelos enormes investimentos realizados<br />

pelos operadores, de forma a dar uma resposta cabal às<br />

necessidades de operabilidade e de inovação de serviços aos<br />

consumidoresdomésticos e empresariais.<br />

Tem-se assistido a uma estratégia comum por parte dos<br />

diversos operadores em fornecer aos seus clientes “pacotes”<br />

de serviços de telecomunicações. A oferta desses serviços,<br />

denominados por “Triple Play”, disponibiliza numa única<br />

plataforma: telefone, internet de banda larga, “vídeo on<br />

demand” e televisão. Do ponto de vista económico estes<br />

serviços disponibilizados pelos operadores poderá ser<br />

vantajoso na medida em que os clientes, tendencialmente,<br />

pagarão menos pelo conjunto de todos os serviços do que<br />

pagaria por eles em separado.<br />

Assim, e para que estes serviços possam chegar ao<br />

consumidor final, no seu potencial máximo de exploração, é<br />

necessário criar e dotar as infra-estruturas de<br />

telecomunicaçõesque suportem tais serviços.<br />

A crescente inovação tecnológica no sector das<br />

telecomunicações origina, forçosamente, mudanças<br />

sucessivas ao nível das redes e dos serviços dos operadores,<br />

e ainda nas infra-estruturas individuais (dentro das fracções<br />

autónomas). De facto, é necessário dotar as fracções de<br />

novos meios que possibilitem recepcionar os novos serviços<br />

de telecomunicações. A par da utilização de cabos em par de<br />

cobre de classes cada vez maiores, e da utilização de cabos<br />

coaxiais de maiores frequências, a utilização de fibra óptica<br />

poderá constituir uma nova realidade para dotar as infraestruturasde<br />

telecomunicaçõesinteriores.<br />

Dada a crescente tendência dos operadores chegarem a casa<br />

dos clientes em fibra óptica para disponibilização de serviços<br />

“Triple Play”, a extensão desta tecnologia poderá, pois,<br />

entrar pelas nossas casas de forma a dinamizar e<br />

proporcionar cada vez mais melhores serviços de<br />

telecomunicações.<br />

127


ARTIGO TÉCNICO<br />

3. “Fiber To The Home ”<br />

Fiber To The Home (FTTH) é uma tecnologia de interligação<br />

de residências através de fibras ópticas para o fornecimento<br />

de serviços de comunicação de dados, TV digital, internet e<br />

telefone,conforme ilustrado na a figura 1.<br />

Paulatinamente, os operadores têm substituído os cabos de<br />

par de cobre e coaxiais (no caso de serviços de “Community<br />

Antenna Television” – CATV) pela fibra óptica, levando-a até<br />

às nossas casas.<br />

As residências são ligadas a um ponto do operador (ponto 3<br />

da figura 1), designada por terminal de fibra ou “Tap<br />

Closure”.<br />

Os operadores têm apostado na instalação das redes FTTH<br />

cuja tecnologia mais utilizada é a GPON (“Gigabit Passive<br />

Optical Network”). Neste tipo de redes a distribuição de sinal<br />

é feita por equipamentos sem qualquer electrónica,<br />

passivos, portanto, conforme a figura 1. Usualmente, os<br />

equipamentos activos encontram-se localizados no edifício<br />

técnico central (ponto 1 da figura 1 – “Central Office” – OLT –<br />

“Optical Line Terminal”). Na fracção respeitante ao cliente<br />

encontra-seinstaladoo ONT – “Optical Network Terminal”.<br />

Pelo facto de serem redes passivas apresentam como grande<br />

vantagem a redução com os custos de exploração e<br />

manutenção, quando comparadas com as redes de CATV e<br />

xDSL (tecnologia avançada de transmissão analógica a qual<br />

permite transportar informação digital a elevadas<br />

velocidades através de pares de cobre, mediante sistemas de<br />

modulação-desmodulaçãocomplexos).<br />

A rede GPON é uma rede óptica ponto-multiponto que<br />

compartilha numa única fibra óptica diversos pontos finais<br />

usuários. Uma rede GPON consiste na ligação de<br />

equipamentos OLT, de um lado, e do outro lado conectados<br />

em vários outros equipamentos ONT, conforme a figura 1, e<br />

que poderão estar localizados em condomínios (ONU –<br />

“Optical Network Units”) ou residências (ONT). O sinal óptico<br />

é, pois, transmitido pelo OLT por uma única fibra e nessa<br />

mesma fibra são feitas derivações mediante a utilização de<br />

divisores ópticos passivos de forma a possibilitar a sua<br />

conectorização às ONT's ou ONU’s. Cada ONT transmite e<br />

recebe um canal óptico independente e disponibiliza para o<br />

cliente final entre 1Mbit/s e 1Gbit/s, para as aplicações de<br />

voz, dados e vídeo.<br />

Figura 1 – Exemplo de uma rede “Online Service Provider” (OSP Network)<br />

128


ARTIGO TÉCNICO<br />

Existe, ainda uma outra possibilidade de projecto para FTTH,<br />

denominada FTTH em modo dedicado (D-FTTH). Num<br />

projecto FTTH em modo dedicado a fibra óptica funciona<br />

directamente de centro técnico a um cliente final. A fibra<br />

dedicada fornece a maioria de largura de banda uma vez que<br />

entrega toda a largura de banda de uma única fibra.<br />

Contudo, o custo de D-FTTH é ainda considerado por grande<br />

parte dos operadores como altamente proibitiva.<br />

A figura 2 apresenta uma ilustração esquemática de como a<br />

arquitectura de uma FTTH varia relativamente às distâncias<br />

de fibra óptica utilizada entre o centro técnico e o cliente<br />

final.<br />

Fiber to the Home é a tecnologia de banda larga para o<br />

mercado de massa do futuro, em termos de<br />

telecomunicações. O FTTH disponibiliza o transporte<br />

simultâneo de uma série de serviços, tais como internet com<br />

acesso cada vez mais rápido, telefone e televisão através de<br />

uma única fibra óptica.<br />

Com o FTTH, a rede de acesso será baseada na fibra e capaz<br />

de promover velocidades de 100Mb/s, 1Gb/s, podendo<br />

mesmo chegar-se aos 40Gb/s. Com certeza que tal feito<br />

criará uma rede de acesso com inúmeras possibilidades e<br />

potencialidades. Esta tecnologia suportará um modelo<br />

aberto completo pelo qual o consumidor terá total liberdade<br />

de escolha do seu fornecedor de serviço contribuíndo,<br />

decisivamente, para a solidificação da livre concorrência<br />

neste sector.<br />

Em virtude das suas características, as fibras ópticas<br />

apresentam vantagens inquestionáveis sobre os demais<br />

sistemas,nomeadamente:<br />

• Apresentaçãode dimensões reduzidas;<br />

• Capacidade para transportar grandes quantidades de<br />

informaçãonum par de fibra óptica;<br />

• Atenuação muito baixa, o que promove grandes<br />

distâncias entre regeneradores de sinal, com distância<br />

entre regeneradores superiores a algumas centenas de<br />

quilómetros;<br />

• Excelente imunidade às interferências<br />

electromagnéticas;<br />

• Matéria-primaabundante;<br />

• Custo cada vez mais reduzido,<br />

• Material que não sofrem qualquer inconveniente a<br />

descargaseléctricase/ou atmosféricas.<br />

Legenda:<br />

FTTN - Fiber to the node / neighborhood<br />

FTTC – Fiber to the curb<br />

FTTB – Fiber to the building<br />

FTTH – Fiber to the home (FTTH)<br />

Figura 2 – Exemplo de várias arquitecturas FTTH<br />

129


ARTIGO TÉCNICO<br />

No entanto, a utilização e manuseamento de fibra óptica<br />

requer técnicas especializas, designadamente no que<br />

respeita aos aspectos referentes com a junção, terminação e<br />

ensaio, pelo que deverá ser manuseado por técnicos com<br />

formação específica nesta área. O custo de converter um<br />

sinal óptico em eléctrico ou vice-versa, é ainda mais oneroso<br />

do que transmitir esse mesmo sinal, por exemplo, num par<br />

de cobre, pese embora seja expectável que este cenário se<br />

modifique a curto prazo.<br />

Finalmente, não se poderá esquecer o risco de<br />

vulnerabilidade associada à utilização da fibra óptica. Com<br />

efeito, e dado que as fibras apresentam grandes capacidades<br />

de transmissão, poderá haver a tendência para veicular<br />

muita informação numa única fibra. O risco de acontecer um<br />

desastre e, consequentemente, a perda de grandes<br />

quantidades de informação e comunicação poderão ser<br />

elevadas.<br />

No entanto, e dada as vantagens acrescidas da utilização das<br />

fibras ópticas, combinando acções de segurança em caso de<br />

catástrofe, são, com toda a certeza uma realidade ao dispor<br />

dos serviços de telecomunicações.<br />

4. Fibra Óptica: Suas Potencialidades<br />

O aumento da procura por serviços com cada vez maiores<br />

larguras de banda impele a que sejam utilizadas infraestruturas<br />

adequadas. A fibra óptica surge como resposta<br />

aos sistemas de comunicação, pois oferece por fibra uma<br />

largura de banda na ordem das centenas de GHz, o que<br />

equivale a mais de 6 milhões de canais telefónicos<br />

convencionais. Daí as vantagens competitivas que os<br />

operadores poderão advir com a utilização das infraestruturasde<br />

fibra óptica.<br />

O aumento crescente entre os requisitos de aplicações e as<br />

capacidades técnicas (por exemplos dos computadores)<br />

fomentam a utilizaçãode maiores larguras de banda.<br />

A figura 3 mostra o aumento exponencial na procura de<br />

maior largura de banda resultante da inovação tecnológica<br />

nos produtos e serviços disponibilidades aos clientes finais.<br />

Assim, o investimento por parte dos operadores na<br />

instalação de redes FTTH, a par com a devida dotação<br />

interior dos edifícios, ao nível da recepção e transmissão de<br />

sinal, conduzirá a que, ao nível dos serviços de<br />

telecomunicações, sejam disponibilizadas larguras de banda<br />

cada vez mais elevadas o que contribuirá fortemente para o<br />

desenvolvimento da economia, da difusão da informação e,<br />

consequentemente,da formação das pessoas do país.<br />

Figura 3 – Tendência da evolução da procura da Largura de Banda<br />

130


ARTIGO TÉCNICO<br />

5. Considerações Finais<br />

As redes de fibra óptica são, há já algum tempo, uma<br />

realidade no nosso país. Para isso, a contribuição dos<br />

operadores tem sido decisiva. Uma eventual futura exigência<br />

desta tecnologia, ao nível do projecto e execução de infraestruturas<br />

de telecomunicações, reforçaria ainda mais a<br />

visão de inovação e aproveitamento tecnológico que estas<br />

“auto-estradas”das telecomunicaçõestêm para oferecer.<br />

A elaboração deste artigo surge no seguimento da terceira<br />

edição da Revista Técnica “Neutro à Terra”, do grupo de<br />

Instalações Eléctricas, do grupo de disciplinas de Sistemas<br />

Eléctricos de Energia, do Departamento de Engenharia<br />

Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

e visou, fundamentalmente, contribuir para uma maior<br />

familiarização da tecnologia FTTH e para despertar a atenção<br />

das enormes potencialidades que estas infra-estruturas<br />

podem oferecer, bem como pela mudança significativa que<br />

poderá ocorrer nas nossas vidas, tal como a conhecemos<br />

pois, o futuro…é já amanhã!<br />

Imagem adaptada de: http://www.proscend.com/<br />

131


132<br />

CURIOSIDADE


ARTIGO TÉCNICO<br />

Luís Peixoto, Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />

Televés/Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

Infra-Estruturas de Telecomunicações em Edifícios (ITED)<br />

O que mudará com o ITED RNG ?<br />

A defesa dos interesses dos consumidores de comunicações<br />

electrónicas passa por infra-estruturas de telecomunicações<br />

modernas, fiáveis e adaptadas aos serviços dos operadores<br />

públicos.<br />

É com este parágrafo que se iniciam as prescrições técnicas<br />

do novo Manual de Infra-estruturas de Telecomunicações<br />

em Edifícios (ITED) alterado e renovado de acordo com as<br />

Novas Normas Europeias e sobretudo com a necessidade de<br />

se adaptarem os edifícios às Redes de Nova Geração.<br />

O novo manual ITED não sendo um manual de ruptura<br />

relativamente ao 1º é mesmo assim bastante inovador tanto<br />

em conceitos de infra-estrutura como de equipamentos e<br />

respectivasespecificações.<br />

Afirmar que o novo manual ITED se relaciona com a<br />

obrigação de instalar fibra óptica nos edifícios trata-se de<br />

uma afirmação bastante redutora daquilo que representa na<br />

realidade o novo Manual ITED.<br />

Para além da introdução da fibra óptica, o novo manual<br />

introduz melhoras nas condutas, nos equipamentos,<br />

respectivas aplicações e métodos de comprovação, cujas<br />

principais diferenças para o anterior se pretendem destacar<br />

neste artigo.<br />

Sendo permitida a aplicação de apenas uma Caixa de Coluna,<br />

por piso, que albergará os cabos e equipamentos referentes<br />

às três tecnologias Cabo Coaxial (CC), Fibra óptica (FO) e Par<br />

de Cobre (PC). Espera-se que o instalador organize com rigor<br />

a colocação dos mesmos na caixa evitando os possíveis<br />

cruzamentos, respeitando raios de curva e identificando<br />

claramentetodos os cabos.<br />

Duas Fibras, dois Cabos coaxiais e um cabo Par de cobre na<br />

entrada do Armário de Telecomunicações Individual (ATI)<br />

são as cablagens mínimas obrigatórias para fracções<br />

autónomaspresentes numa InstalaçãoColectiva.<br />

No caso de uma Moradia na ligação entre a Caixa de Entrada<br />

Moradia Unifamiliar (CEMU) e o ATI torna-se apenas<br />

obrigatória a passagem de Cabo par de cobre Categoria 6,<br />

sendo facultativa a instalação de cabo das restantes<br />

tecnologias,Fibra e Cabo Coaxial.<br />

Por fogo habitacional, em cada divisão – Quartos, e Sala -<br />

será obrigatória a instalação de uma Tomada Mista ( TV<br />

5…2150 MHz + RJ45 Cat. 6 ) e ainda um Tomada RJ45. Na<br />

Cozinha reserva-se a obrigatoriedade de apenas uma<br />

Tomada Mista.<br />

Desde de logo se obriga à instalação de um sistema colectivo<br />

de Antenas SMATV (Satellite Master Antenna Television) e<br />

um outro de CATV (Cable Television, ou Community Antenna<br />

Television)em edifícios que possuam 2 ou mais fogos.<br />

A rede de CATV tem que obrigatoriamente partir em estrela<br />

desde o Armário de Telecomunicações do Edifício (ATE)<br />

inferior enquanto que a rede de SMATV seguirá a tipologia<br />

que melhor se adeqúe ao edifício, partindo normalmente do<br />

ATE superior em cascata de derivadores.<br />

Tabela 1 – Caracterização das Classes e das Categorias em PC<br />

133


ARTIGO TÉCNICO<br />

A Zona de Acesso Privilegiada (ZAP) passa a ser obrigatória<br />

de colocação em qualquer fogo sendo no mínimo constituída<br />

por:<br />

• Duas Tomadas Mistas (TV 5…2150 MHz + RJ45 Cat. 6);<br />

• Duas Tomadas Fibra Óptica.<br />

-Fibra Óptica;<br />

- Cabo Coaxial;<br />

- Cabo Par de Cobre .<br />

A fibra óptica a instalar nas ITED será Monomodo e a<br />

conécticaa utilizar será SC/APC.<br />

Figura 1 – Exemplo de uma tomada ZAP<br />

Esta pequeníssima abordagem sobre o Novo Manual ITED RNG<br />

não poderia concluir-se sem uma breve referência aos<br />

limites de qualidade dos mais influentes equipamentos que<br />

compõem uma infra-estruturaITED:<br />

O cabo coaxial deverá cumprir especificações perfeitamente<br />

definidas até aos 3GHz e pelos limites especificados para a<br />

resistência óhmica, o condutor central terá que ser<br />

integralmenteem Cobre.<br />

A cablagem estruturada para o interior do edifício deverá<br />

garantir a Classe E de ligação em cabo de Cat6.<br />

A figura 2 apresenta um diagrama ilustrativo do manual<br />

ITED RNG num edifício colectivo.<br />

ITED RNG – Nova e diferente concepção de condutas<br />

Figura 2 - Diagrama redes ITED num edifício colectivo.<br />

134


ARTIGO TÉCNICO<br />

O novo paradigma da obrigatoriedade da instalação das três<br />

tecnologias obrigará à reestruturação das caixas, armários,<br />

bastidores ou espaço dedicados à recepção e derivação da<br />

cablagem.<br />

Tabela 2 – Caracterização das TCD-C (Tecnologias de Comunicação<br />

por Difusão, em cabo coaxial)<br />

Com efeito, haverá cada vez mais uma preocupação<br />

crescente em dotar os edifícios com espaço suficiente para o<br />

alojamento dos equipamentos activos que serão necessários<br />

alojar no seu interior.<br />

O Armário de Telecomunicações de Edifício (ATE), que<br />

constitui a fronteira entre a entrada dos diferentes<br />

operadores e a rede colectiva terá de ser convenientemente<br />

projectada de modo a alojar as três categorias. Essa solução<br />

poderá passar pela previsão de um espaço (sala técnica),<br />

armário único ou multi-armário.<br />

Tabela 3 – Classes de Fibra Óptica<br />

No que respeita à utilização específica de tubos de secção<br />

circular, dever-se-ão considerar a tubagem que consta das<br />

Normas EN 50086-2-2 ou EN 50086-2-4 onde são<br />

especificados os tipos de tubos, bem como a respectiva<br />

adaptaçãoao local de instalação.<br />

Relativamente ao Armário de Telecomunicações Interior<br />

(ATI), que faz parte da rede individual de tubagens, poderá<br />

ser constituído por uma ou duas caixas e pelos seus<br />

equipamentos (activos e passivos), de interligação entre a<br />

rede colectiva e a rede individual de cabos. O ATI poderá ser<br />

constituído por um armário bastidor, ficando a solução ao<br />

critério do projectista.<br />

No que concerne à execução dos projectos de infraestruturas<br />

de telecomunicações, os projectistas vêem<br />

reconhecidas e incrementadas as suas obrigações e<br />

responsabilidades.<br />

Tabela 4 – Tipos de Tubos a usar nas ITED’s<br />

Ao projectista será, pois, exigida responsabilidade pelo seu<br />

projecto até ao final da obra devendo efectuar o<br />

acompanhamento da execução, dar todo o apoio ao<br />

instalador e dono de obra e, após reconhecimento dos<br />

ensaios de funcionalidades por parte do instalador, assinar o<br />

livro de obra. A semelhança do que foi vertido pelo decretolei<br />

59/2000, o projecto ITED entregue nos serviços<br />

municipaisnão carece de aprovação ou verificação prévia.<br />

135


ARTIGO TÉCNICO<br />

Para cada tipo de edifício, nomeadamente no que se refere à<br />

sua utilização, prever-se-ão soluções mínimas a adoptar em<br />

cada caso.<br />

Caberá, no entanto, ao projectista, conjuntamente com o<br />

dono de obra, aferir das desejáveis necessidades de<br />

telecomunicações para os diversos tipos de edifícios tendo<br />

em conta o cumprimento dos requisitos mínimos<br />

estabelecidospara cada um deles.<br />

O projecto de Infra-estruturas de Telecomunicações em<br />

Edifícios deverá ser, tipicamente, um projecto de execução,<br />

devendo obedecer ao artigo 70.º do Decreto-Lei 123/2009,<br />

de 21 de Maio, ou seja, deverá ser constituídopor:<br />

- Informaçãoidentificadorado projectistaITED;<br />

- Identificação do edifício a que se destina,<br />

nomeadamentea sua finalidade;<br />

- Memória Descritiva;<br />

- Medições e mapa de quantidades dos trabalhos;<br />

- Orçamento;<br />

- Fichas técnicas.<br />

Com entrada em vigor do Novo Manual de Infra-estruturas<br />

de Telecomunicações em Edifícios (Janeiro / Fevereiro de<br />

2010), haverá a obrigatoriedade para todos os técnicos que<br />

trabalham nesta área, projectistas e instaladores, em obter<br />

formação reconhecidanesta área.<br />

A actualização de conhecimentos, aliado ao estrito<br />

cumprimento da legislação em vigor contribuirá, sem<br />

precedentes, para a edificação de edifícios dotados de infraestruturas<br />

adequadas às actuais e futuras tecnologias de<br />

telecomunicações.<br />

136


ARTIGO TÉCNICO<br />

Sérgio Filipe Carvalho Ramos , Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

FIBRA ÓPTICA<br />

NOVAS AUTO-ESTRADAS DE TELECOMUNICAÇÕES EM URBANIZAÇÕES<br />

RESUMO<br />

“…O Manual ITUR define as condições de elaboração de<br />

projectos e construção da rede de tubagem e redes de cabos<br />

em urbanizações, garantindo a segurança de pessoas e bens<br />

e a defesa do interessepublico.<br />

As regras técnicas de projecto e instalação das ITUR devem<br />

ser entendidas como objectivos mínimos a cumprir, podendo<br />

os intervenientes prever outras soluções, desde que<br />

devidamente justificadas, tendo sempre em vista soluções<br />

tecnicamentemais evoluídas.”<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A 1ª edição do Manual ITUR (Infra-estruturas de<br />

Telecomunicações em Urbanizações), na qual o<br />

Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto<br />

Superior de Engenharia do Porto teve uma participação<br />

activa como consultor externo, foi extraordinariamente<br />

inovador tanto em conceitos de infra-estrutura como de<br />

equipamentos e respectivas especificações. A defesa dos<br />

interesses dos consumidores de comunicações electrónicas<br />

que passa por infra-estruturas de telecomunicações<br />

modernas, fiáveis e adaptadas aos serviços dos operadores<br />

públicosfoi devidamente salvaguardada.<br />

A 1ª Edição do Manual ITUR constitui a concretização de um<br />

desejo há muito esperado pois, até então, havia um vazio<br />

legal no que se refere ao projecto e execução deste tipo de<br />

instalações que eram, essencialmente, baseados no<br />

conhecimento empírico armazenado ao longo dos anos pelos<br />

projectistas, instaladores e pelo operador que actuava em<br />

regime de monopólio, a Portugal Telecom, detentora da<br />

exploração das infra-estruturas de telecomunicações em<br />

urbanizações. Esta nova legislação veio, assim, impor regras<br />

claramente definidas para as infra-estruturas de<br />

telecomunicações em loteamentos quer sejam de âmbito<br />

privado ou público.<br />

Este novo enquadramento regulamentar que estabelece as<br />

regras para o projecto, instalação, e exploração das<br />

instalações, reveste-se como um elemento promotor das<br />

novas mudanças verificadas ao nível das técnicas e<br />

tecnologiasde telecomunicações.<br />

Com efeito, uma das especificações da 1ª edição do Manual<br />

ITUR – PRIVADA será a da obrigação de instalação de<br />

cablagem de Par de Cobre (PC), Cabo Coaxial (CC) e Fibra<br />

Óptica (FO), proporcionando num futuro próximo a oferta de<br />

serviços de nova geração a velocidades de transmissão e<br />

larguras de banda cada vez maiores.<br />

Em particular, a fibra óptica constitui já hoje, um pilar basilar<br />

na revolução das tecnologias de telecomunicações que<br />

entrarão, naturalmente, pelas nossas casas.<br />

O presente artigo visa, sucintamente, expor e reflectir sobre<br />

a importância da fibra óptica nas infra-estruturas de<br />

telecomunicaçõesem urbanizações.<br />

2 ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO<br />

Decorrente do crescimento económico verificado em<br />

meados da década de 80 do século passado, o que<br />

promoveu um aumento galopante ao nível da construção em<br />

Portugal, foram fixadas as regras básicas, com o objectivo de<br />

dotar os edifícios de infra-estruturas de telecomunicações,<br />

designadamente telefone, telex e dados, com acesso através<br />

de redes físicas, mediante a publicação do DL 146/87 –<br />

Instalações Telefónicas de Assinante (ITA). Ao abrigo do<br />

disposto no n.º 1 do artigo 1.º do DL 146/87 o Decreto<br />

Regulamentar n.º 25/87, de 8 de Abril, vem aprovar e<br />

publicar o Regulamento de Instalações Telefónicas de<br />

Assinante (RITA), que estabeleceu as condições técnicas a<br />

que deveriam obedecer os projectos, as instalações e a<br />

conservação das infra-estruturas de telecomunicações, bem<br />

como os procedimentos legais a seguir para a elaboração de<br />

projectos e solicitação de vistorias às instalações executadas.<br />

O Regulamento RITA esteve em vigor durante 13 anos!<br />

137


ARTIGO TÉCNICO<br />

O desenvolvimento das actividades económicas, os avanços<br />

tecnológicos, assim como as novas exigências emergentes do<br />

estabelecimento de medidas legislativas que determinaram<br />

a liberalização do sector das telecomunicações em Portugal,<br />

impuseram a necessidade de formular novas regras para a<br />

instalação das infra-estruturas de telecomunicações em<br />

edifícios, bem como para as actividades de certificação das<br />

instalações e avaliação de conformidade de infra-estruturas,<br />

materiais e equipamentos.<br />

Em Abril de 2000 foi publicado o DL 59/2000, o qual<br />

estabeleceu o regime ITED e respectivas ligações às redes<br />

públicas de telecomunicações, assim como o regime de<br />

actividade de certificação das instalações e avaliação de<br />

conformidade de materiais e equipamentos. Relativamente<br />

às infra-estruturas de telecomunicações em urbanizações<br />

nada foi feito, continuando a elaboração dos projectos com<br />

base na informação, não oficial, de regras de boa prática<br />

fornecidaspela Portugal Telecom.<br />

O rápido desenvolvimento e crescimento do “mundo” das<br />

comunicações electrónicas e o aparecimento de novos<br />

produtos e serviços, cada vez mais inovadores e com<br />

maiores larguras de banda, impôs a necessidade imperiosa<br />

de preparar e dotar os edifícios com infra-estruturas capazes<br />

de satisfazeressas novas exigências.<br />

Após 5 anos da edição do Manual ITED, é publicada a 2ª<br />

edição desse mesmo Manual acompanhado, desta feita, da<br />

1ª edição do Manual ITUR, decorrentes do novo<br />

enquadramento criado pelo DL 123/1009 com as alterações<br />

conferidasna redacção do DL 258/2009.<br />

Foi, assim, dado um passo importante e há muito reclamado,<br />

no estabelecimento de regras claras e precisas para a<br />

elaboração do projecto e execução da nova geração de infraestruturasde<br />

telecomunicações.<br />

3 PARA QUÊ NOVAS INFRA-ESTRUTURAS DE TELECOMUNICAÇÕES?<br />

Vivenciamos uma época de uma autêntica “revolução<br />

tecnológica” ao nível da oferta de novos serviços de<br />

telecomunicações, subsequentes da ávida procura por cada<br />

vez maiores larguras de banda.<br />

Os diversos operadores têm tido um papel meritório no que<br />

respeita aos grandes investimentos realizados no<br />

estabelecimento de infra-estruturas de forma a dar uma<br />

resposta cabal às necessidades de operacionalidade e de<br />

inovação de serviços aos consumidores empresariais e<br />

domésticos.<br />

Os diversos operadores têm seguido uma estratégia de<br />

propor e fornecer aos seus clientes “pacotes” de serviços de<br />

telecomunicações. A oferta desses serviços (“Triple Play”),<br />

disponibilizanuma única plataforma:<br />

- Telefone(voz);<br />

- Internet de banda larga (dados);<br />

- “vídeo on demand”e Televisão<br />

Do ponto de vista económico, estes serviços disponibilizados<br />

pelos operadores poderão ser vantajosos na medida em que<br />

os clientes, tendencialmente, pagarão menos pelo conjunto<br />

de todos os serviços do que pagariam por eles em separado.<br />

Assim, e para que estes serviços possam chegar ao<br />

consumidor final, é necessário criar e dotar as infraestruturasde<br />

telecomunicaçõesque suportem tais serviços.<br />

Dada a crescente tendência dos operadores chegarem aos<br />

diversos clientes em fibra óptica a extensão desta tecnologia<br />

entrará pelas nossas casas de forma a dinamizar e<br />

proporcionar cada vez melhores serviços de<br />

telecomunicações.<br />

4 ITUR – CARACTERIZAÇÃO<br />

Ao abrigo do definido no Artigo 28º do DL 123/2009 as infraestruturas<br />

de Telecomunicações em Urbanizações são,<br />

genericamente,constituídaspor:<br />

1. Espaçospara a instalação de tubagem, cabos, caixas e<br />

câmaras de visita, armários para repartidores e para<br />

instalaçãode equipamentos e outros dispositivos;<br />

2. Rede de tubagens ou tubagem para a instalação dos<br />

diversos cabos, equipamentos e outros dispositivos,<br />

incluindo, nomeadamente, armários de<br />

telecomunicações,caixas e câmaras de visita;<br />

3. Cablagem, nomeadamente, em par de cobre, em cabo<br />

coaxial e em fibra óptica para ligação às redes públicas<br />

de comunicações;<br />

138


ARTIGO TÉCNICO<br />

4. Sistemas de cablagem do tipo A;<br />

5. Instalações eléctricas de suporte a equipamentos e<br />

sistema de terra;<br />

6. Sistemas de cablagem para uso exclusivo do loteamento,<br />

urbanização ou conjunto de edifícios, nomeadamente<br />

domótica, videoportaria e sistemas de segurança.<br />

Nas ITUR há a distinguir claramente dois tipos de infraestruturasde<br />

Telecomunicaçõesem Loteamentos:<br />

- As ITUR Públicas, situadas em áreas públicas, as quais são<br />

obrigatoriamenteconstituídaspor tubagem;<br />

- As ITUR Privadas, situadas em conjuntos de edifícios, as<br />

quais são constituídaspor tubagem e cablagem.<br />

Nos loteamentos de iniciativa pública (infra-estrutura de<br />

acesso de comunicações electrónicas a um conjunto de<br />

edifícios integrando um domínio municipal – Artigo 31º do<br />

DL 123/2009) são basicamente projectados e executados<br />

rede de tubagem e caixas de passagem para a instalação<br />

futura das respectivas cablagens pelos diversos operadores<br />

de telecomunicações, bem como a instalação de caixas de<br />

visita multi-operadores (CVM), cabendo aos respectivos<br />

municípiosa gestão e conservação dessas infra-estruturas.<br />

Nos loteamentos de natureza Privada (ITUR que integram<br />

conjuntos de edifícios de acesso restrito – Artigo 32º do DL<br />

123/2009) são detidas em compropriedade por todos os<br />

proprietários cabendo-lhes a si, ou à respectiva<br />

administração, a sua gestão e conservação. Estas infraestruturas<br />

além de serem constituídas por redes de tubagem<br />

e caixas de visita são ainda constituídas por um Armário de<br />

Telecomunicações de Urbanização (ATU) que faz a fronteira<br />

entre a entrada dos operadores e a rede ITUR e de cablagem<br />

associada às três tecnologias exigidas: Par de Cobre, Cabo<br />

Coaxial e Fibra Óptica.<br />

5 MANUAL ITUR – FIBRA ÓPTICA – NOVO PARADIGMA<br />

De uma forma sucinta, uma fibra óptica (FO) é constituída<br />

por um fio muito fino de material transparente,<br />

normalmente de vidro (por vezes de material plástico), que<br />

transmiteluz a longa distância.<br />

A fibra tem um núcleo central, onde a luz é “guiada”,<br />

revestido de uma, ou mais, bainhas transparentes.<br />

A bainha tem um índice de refracção superior ao do núcleo,<br />

impedindo desta forma a fuga da luz para o exterior por um<br />

mecanismo que pode ser descrito, em primeira<br />

aproximação, como a reflexão total na superfície de<br />

separação. A bainha é revestida com um polímero para<br />

proteger a fibra de eventuais danos.<br />

A utilização da FO apresenta claramente várias vantagens em<br />

comparação com a utilização dos cabos metálicos,<br />

designadamente:<br />

- Grande Capacidade de Transmissão: um sistema de<br />

transmissão por FO pode apresentar uma largura de<br />

banda na ordem das centenas de GHz, o que é<br />

equivalente a mais de 6.000.000 canais telefónicos<br />

convencionais;<br />

- Longas Distâncias de Transmissão: permite enviar sinais<br />

(luminosos) a algumas dezenas de quilómetros sem<br />

necessidade de regeneração de sinal. Apresentam, pois,<br />

níveis de atenuação muito baixos, normalmente 10.000<br />

vezes inferior aos cabos de par de cobre;<br />

- Imunidade: apresentam imunidade total às<br />

interferências electromagnéticas, o que significa que os<br />

dados não serão corrompidos durante a transmissão;<br />

- Segurança: as FO não irradiam qualquer sinal para o<br />

ambiente exterior (no seu modo de funcionamento<br />

normal). Apresentam, assim, imunidade a qualquer<br />

tentativa de intrusão. Do ponto de vista da<br />

Compatibilidade Electromagnética (CEM) não causam<br />

perturbação nos equipamentos electrónicos<br />

circundantes.<br />

- Leves e Compactos: os cabos de FO apresentam um<br />

volume e peso mais baixo que os cabos de comunicações<br />

em cobre. A título ilustrativo, um cabo composto por 864<br />

fibras apresenta um diâmetro aproximado de uma cabo<br />

de 100 pares de cobre.<br />

Não obstante todas estas valências a FO apresenta, ainda<br />

assim, algumas desvantagens,designadamente:<br />

- Necessidade de Pessoal Especializado: ao nível da<br />

instalação, operação e manutenção de cablagens de FO<br />

são necessários técnicos especializados, designadamente<br />

no que se refere aos aspectos relacionados com a junção,<br />

terminaçãoe ensaio;<br />

139


ARTIGO TÉCNICO<br />

- Custo Equipamento de Transmissão: o custo associado à<br />

conversão do sinal óptico em eléctrico, e vice-versa,<br />

apresenta ainda um custo relativamente elevado quando<br />

comparado com a transmissão do mesmo sinal num par<br />

de cobre. No entanto, e dada a vulgarização da utilização<br />

desta tecnologia, os custos poderão baixar<br />

consideravelmente;<br />

- Vulnerabilidade: devido à grande capacidade de<br />

transmissão que as FO apresentam, existe a tendência<br />

para incluir muita informação numa única fibra. Deste<br />

modo, o risco de acontecer uma catástrofe e a<br />

consequente perda de grandes quantidades de<br />

informaçãoé bastante elevado.<br />

O tipo de fibra óptica a utilizar é, obrigatoriamente,<br />

Monomodo, em que o diâmetro do núcleo é diminuído cerca<br />

de 5 vezes menos, comparadas com as fibras Multimodo, o<br />

número de modos que poderão ser guiados e conduzidos<br />

pela fibra será de um, daí a sua denominação de<br />

Monomodo.<br />

A largura de banda nesta fibra é fortemente dominada pela<br />

dispersãocromática da mesma.<br />

As fibras do tipo Monomodo estão especialmente<br />

vocacionadas para operarem com débitos binários da ordem<br />

das dezenas a centenas de Gbit/s, com atenuações que<br />

permitem o envio de sinais a largas dezenas de quilómetros<br />

prescindindoregeneração de sinal intermédio.<br />

Figura 1 – Exemplo de uma fibra óptica Monomodo<br />

O aumento da procura por serviços com cada vez maiores<br />

larguras de banda invoca a necessidade de infra-estruturas<br />

adequadas.<br />

A fibra óptica surge como resposta aos sistemas de<br />

comunicação electrónica pois oferece, por fibra, uma largura<br />

de banda na ordem das centenas de GHz, o que equivale a<br />

mais de 6 milhões de canais telefónicos convencionais. Daí<br />

as vantagens competitivas que os operadores poderão advir<br />

com a utilização das infra-estruturasde fibra óptica.<br />

O aumento crescente entre os requisitos de aplicações e as<br />

capacidades técnicas (por exemplos dos computadores)<br />

fomentam a utilizaçãode maiores larguras de banda.<br />

Assim, o investimento por parte dos operadores na<br />

instalação de redes de fibra óptica (tipicamente em<br />

configuração FTTH – “Fiber To The Home”), a par com a<br />

devida dotação interior dos edifícios, ao nível da recepção e<br />

transmissão de sinal, conduz a que, ao nível dos serviços de<br />

telecomunicações, sejam disponibilizadas larguras de banda<br />

cada vez mais elevadas o que contribui, seguramente, para o<br />

desenvolvimento da economia, da difusão da informação e,<br />

naturalmente, da formação das pessoas do país pelo fácil<br />

acesso à informação e conhecimento que lhe são<br />

disponibilizados.<br />

A 1ª Edição das Prescrições e Especificações Técnicas de<br />

Infra-estruturas de Telecomunicações em Urbanizações<br />

(Privada) obriga a que cada fracção seja servida por duas<br />

fibras.<br />

Com efeito, as fibras ópticas permitidas (tipo Monomodo –<br />

OS1 e OS2) deverão cumprir o emanado na norma EN60793-<br />

2-50:2004.<br />

Todos os cabos de fibra óptica deverão igualmente cumprir<br />

os requisitos da norma EN 60794-1-1.<br />

O projecto técnico das instalações ITUR tem como objectivo<br />

primordial definir a arquitectura da rede (tubagens e/ou<br />

cablagem) bem como os seus percursos, definindo e<br />

caracterizando o sistema de cablagem (quando aplicável), as<br />

tubagens, equipamentos e os materiais a utilizar, bem como<br />

o seu dimensionamento, com a devida clareza, para não<br />

suscitardúvidas aos técnicos instaladores.<br />

O Armário de Telecomunicações de Urbanizações (ATU) é o<br />

ponto de interligação das redes públicas de comunicações<br />

electrónicas, com as redes de cabos da ITUR privada, sendo,<br />

ainda, o ponto interligação com a rede colectiva dos edifícios<br />

no ATE, ou CEMU, no caso de moradias, caso não exista uma<br />

rede privada.<br />

O ATU deve ser um espaço que possa albergar as três<br />

tecnologias de telecomunicações previstas no manual ITUR<br />

(PC, CC e FO).<br />

140


ARTIGO TÉCNICO<br />

Para cada uma das tecnologias deverá existir um Repartidor<br />

de Urbanização (RU) individual, constituído por dois<br />

primários por tecnologia, cujo dimensionamento e instalação<br />

é da responsabilidade da entidade que ligar a rede de cabos<br />

das ITUR à rede pública de comunicações electrónicas, e por<br />

um secundário por tecnologia, onde se inicia a rede de cabos<br />

da ITUR.<br />

Repartidorde Urbanização de Fibra Óptica (RU-FO):<br />

- Primário, cujo dimensionamento e instalação é da<br />

responsabilidade da entidade que ligar a rede de cabos<br />

da ITUR à rede pública de comunicações electrónicas.<br />

Poderá ser constituído, por exemplo, por um painel de<br />

adaptadoresdo tipo SC/APC;<br />

- Secundário, onde se inicia a rede de cabos de fibras<br />

ópticas da ITUR. A rede deve obedecer à topologia em<br />

estrela com recurso, por exemplo, a cabos multi-fibras.<br />

As fibras são terminadas em conectores SC/APC ligados<br />

em painéis de adaptadores.<br />

Como o ATU pode conter equipamentos activos, há a<br />

necessidade de existirem circuitos de alimentação eléctrica,<br />

nomeadamente 2 circuitos de 230 VAC, com 3 tomadas cada,<br />

protegidos por disjuntor diferencial com um valor de<br />

sensibilidade não superior a 300 mA e ligados ao circuito de<br />

terra do ATU.<br />

O barramento geral de terra do ATU deverá ter capacidade<br />

para ligar, pelo menos 10 condutores de terra.<br />

Em concordância com o consagrado no Art. 39 do DL<br />

258/2009 o projecto técnico ITUR deve incluir<br />

obrigatoriamenteos seguinteselementos:<br />

1. Informação identificadora do projectista ITUR que<br />

assume a responsabilidadepelo projecto;<br />

2. Identificação da operação de loteamento, obra de<br />

urbanização, ou conjunto de edifícios a que se destina,<br />

nomeadamenteda sua finalidade;<br />

3. Memória descritiva;<br />

4. Medições e mapas de quantidade de trabalhos, dando a<br />

indicação da natureza e quantidade dos trabalhos<br />

necessáriospara a execução da obra;<br />

5. Orçamento baseado na espécie e quantidade de<br />

trabalhosconstantesdas medições;<br />

6. Outros elementos estruturantes do projecto,<br />

nomeadamente fichas técnicas, plantas topográficas,<br />

esquemas da rede de tubagem e cablagem, quadros de<br />

dimensionamento, cálculos de níveis de sinal, esquemas<br />

de instalação eléctrica e terras das infra-estruturas,<br />

análise das especificidades das ligações às infraestruturas<br />

de telecomunicações das empresas de<br />

comunicaçõeselectrónicas.<br />

A colocação de cablagem PC, CC e FO é inovadora, no caso<br />

das ITUR privada. No caso específico da instalação de<br />

tecnologia em FO, além de requer pessoal técnico altamente<br />

especializado requer, igualmente, a realização de ensaios de<br />

carácterobrigatório, designadamente:<br />

- Atenuação(Perdas de Inserção);<br />

- Comprimento.<br />

Para a medida destes parâmetros deverão ser efectuados os<br />

ensaiosseguintes:<br />

- Ensaiode perdas totais;<br />

- Ensaios de reflectometria, quando considerado<br />

adequado.<br />

Os ensaios deverão ser efectuados desde o RU-FO do ATE<br />

inferior de cada edifício.<br />

6 CONCLUSOES<br />

A elaboração deste artigo pretende contribuir, embora de<br />

uma forma lisonjeira, para o enriquecimento do<br />

conhecimento das potencialidades da instalação de fibra<br />

óptica nas Infra-estruturas de Telecomunicações em<br />

Urbanizações à luz do novo contexto legislativo criado pela<br />

1ª Edição do Manual ITUR, não dispensado, naturalmente,<br />

uma consulta detalhada e rigorosa do documento integral.<br />

Bibliografia<br />

[1] Decreto-Lei n.º123/2009 de 21 de Maio, Diário da República, 1ª<br />

Série-N.º98-21 de Maio de 2009.<br />

[2] Decreto-Lei n.º258/2009 de 25 de Setembro, Diário da<br />

República, 1ª Série-N.º187-25 de Setembro de 2009.<br />

[3] Manual ITED, Prescrições e Especificações Técnicas das Infraestruturas<br />

de Telecomunicações em Edifícios, 2ª Edição,<br />

Novembro de 2009.<br />

[4] Manual ITUR, Infra-estruturas de Telecomunicações em<br />

Loteamentos Urbanizações e Conjuntos de Edifícios, 1ª Edição,<br />

Novembro de 2009.<br />

141


142<br />

CURIOSIDADE


ARTIGO TÉCNICO<br />

Eduardo Sérgio Correia<br />

IEMS – Instalações de Electrónica Manutenção e Serviços, Lda<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

FIBRAS ÓPTICAS<br />

O PARADIGMA<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Com a obrigatoriedade de dotar todos os edifícios e<br />

urbanizações com instalações de fibra óptica devido ao<br />

Decreto-Lei 123/2009, todos os projectistas, retalhistas,<br />

instaladores e promotores deparam-se com a necessidade<br />

de implementar algo ainda estranho para muitos.<br />

Se, por um lado a legislação obriga ao uso das fibras<br />

monomodo, indo de encontro à compatibilização com as<br />

tecnologias que os operadores de telecomunicações já<br />

estavam a implementar ( ex: Gigabit Ethernet – Passive<br />

Optical Network (GE-PON) nas FTTH (Fiber To The Home),<br />

por outro temos as redes locais de Complexos Empresariais e<br />

Fabris ou mesmo edifícios comerciais, cuja distribuição<br />

interior inter-bastidores, continua a ser implementada em<br />

fibras multimodo de última geração, pois a nível de custos<br />

dos conversores electro-ópticos (ONT) ainda há uma<br />

diferença substancial de valor entre os monomodo e os<br />

multimodo.<br />

Tendo em vista a constante evolução, os fabricantes tendem<br />

a desenvolver produtos optimizados para as necessidades de<br />

agora e as que se perspectivam para um futuro próximo.<br />

Figura 1 – Exemplo de Solução de Transporte IP baseada em GEPON<br />

143


ARTIGO TÉCNICO<br />

2 A FIBRA ÓPTICA NAS INSTALAÇÕES ITED<br />

As principais razões para a utilização da fibra óptica são:<br />

- Segurança na transmissão de dados: a fibra óptica não<br />

emite radiação electromagnética, como tal não é<br />

possível interceptaras comunicaçõesremotamente.<br />

- Largura de banda: A fibra óptica tem uma capacidade de<br />

transmissãode dados muito superior ao cobre.<br />

- Distância na transmissão: A atenuação dos sistemas<br />

ópticos é muito inferior aos sistemas de cobre, logo os<br />

dados podem ser transmitidos a distânciasmais longas.<br />

- Sem risco de interferências (EMI e RFI): A fibra óptica é<br />

construída maioritariamente em vidro, logo é imune a<br />

influências electromagnéticas (EMI) e de rádio<br />

frequência(RFI).<br />

As distâncias de transmissão num link (ligação entre dois<br />

activos) estão limitadas quer pela atenuação, quer pela<br />

largura de banda. Nas instalações cujo limite é a atenuação,<br />

a perda individual de cada componente deve ser somado<br />

para todos os componentes do link e o valor da atenuação<br />

deve ficar dentro do limite de perda para o canal (definido<br />

na norma).<br />

Na figura apresenta-se um resumo das distâncias possíveis<br />

em links de fibra óptica baseado em protocolos específicos<br />

utilizando 2 Conectores / Emendas (fusões). Componentes e<br />

cabos com melhores características de desempenho, que as<br />

definidas nas normas (standards) podem ser necessários<br />

para atingir as distânciasmáximas indicadas.<br />

O fabricante europeu Brand-Rex, é um dos líderes de<br />

mercado na tecnologia dos cabos de fibra óptica. Os seus<br />

produtos excedem todos os parâmetros das normas que são<br />

definidas para estes cabos e ainda desenvolvem sistemas<br />

inovadores e revolucionários, como veremos a seguir.<br />

A gama de produtos FibrePlus tem aplicação tanto em<br />

cablagens estruturadas convencionais, como em sistemas<br />

centralizados de instalações de fibra óptica. Esta gama de<br />

produtos suporta os 2000m em instalações de redes locais<br />

conforme descrito na norma ISO 11801:2002, bem com os<br />

300m descritos na norma TSB72 (Directrizes sobre sistemas<br />

de centralizadosde fibra óptica) e na TIA568B/EIA.<br />

Figura 2 – Identificação da Distância de Transmissão<br />

Figura 3 – Distância de Transmissão em cata tipo de fibra óptica<br />

144


ARTIGO TÉCNICO<br />

Os imites de atenuação definidos na norma, são os indicados<br />

na figura 4.<br />

O UFS 01 (Optical Unitube Fire Survival Cable) é usado nos<br />

locais onde a transmissão de informação crítica deve<br />

continuar mesmo que o edifício ou a estrutura onde está<br />

instalado esteja em chamas. Por essa razão, o seu uso em<br />

grandes edifícios públicos, tais como data-centers,<br />

aeroportos, estações ferroviárias, estádios e estruturas<br />

industriaisestá a tornar-se cada vez mais comum.<br />

O uso do cabo nos sistemas de gestão do edifício, sistemas<br />

de segurança e incêndio, significa que estes sistemas vitais<br />

permanecerão em funcionamento em caso de incidentes<br />

que ponham a vida humana em risco e obriguem à<br />

evacuaçãodo edifício.<br />

Figura 4 – Limites de atenuação definidos na norma<br />

No actual ambiente de negócios, a manutenção em<br />

funcionamento dos sistemas críticos do negócio, em caso de<br />

emergência é um pré-requisito fundamental. Nesse sentido<br />

já está disponível no mercado o cabo de fibra óptica<br />

resistenteao fogo.<br />

O cabo UFS 01 Fire Survival Cable foi desenhado para<br />

cumprir as normas IEC60794 e exceder as norma IEC60331 –<br />

part25.<br />

Figura 6 – Teste de fogo IEC60331<br />

O teste de fogo IEC60331, vulgarmente conhecido por teste<br />

de sobrevivência ao fogo, foi definido para cabos eléctricos.<br />

Mas a “part25”, publicada em 1999 já refere os cabos de<br />

fibra óptica.<br />

Esta norma define o teste a uma temperatura mínima de<br />

chama de 750°C, com uma duração de aplicação<br />

recomendada de 90min., mais 15min. para arrefecimento. A<br />

norma só define como critério de aprovação, a manutenção<br />

da integridade do circuito.<br />

O fabricante (Brand-Rex) foi mais além e definiu como<br />

critério extra para aprovação, não exceder 1.5dB no<br />

aumento da atenuaçãonestas condições de teste.<br />

Figura 5 – Composição do UFS 01<br />

145


ARTIGO TÉCNICO<br />

Para demonstrar o desempenho ao teste de<br />

sobrevivência ao fogo prolongado, o<br />

fabricante (Brand-Rex) testou o cabo<br />

segundo a norma BS8434-2.<br />

Esta norma define o teste do cabo a uma<br />

temperatura de 930°C por 120min.,<br />

incluindo o choque mecânico e jactos de<br />

água como define a BSEN 50200, provando<br />

que o cabo UFS 01 Fire Survival Cable pode<br />

superar os testes mais rigorosos.<br />

Figura 7 - Alteração da atenuação ao longo do tempo<br />

(IEC60331)<br />

Já a norma BSEN 50200:2000 Classe PH120<br />

define o teste do cabo a uma temperatura<br />

maior (830°C), choques mecânicos<br />

adicionais e spray de água durante o<br />

período de "chama”.<br />

Este reforço de exigência simula uma<br />

situação real de fogo com sistemas de<br />

compartimentação em funcionamento e<br />

potenciais impactos de detritos caindo<br />

sobre o cabo.<br />

Figura 8 – Alteração da atenuação ao longo do tempo<br />

(BSEN 50200:2000)<br />

Figura 9 – Comparação dos testes IEC60331, BSEN 50200 e BS 8434-2<br />

146


ARTIGO TÉCNICO<br />

Sistema de fibra óptica Pré-Conecterizado MT Connect<br />

A tecnologia do conector MT<br />

MT Connect é um sistema de cabos fibra óptica de alto<br />

desempenho, pré-conecterizados, modulares, baseado na<br />

tecnologiado conector MPO.<br />

Este sistema poderá ser usado em projectos convencionais<br />

para diminuir o tempo de instalação dos links de backbone<br />

(ligações entre bastidores), em distribuição horizontal na<br />

fibra ao posto de trabalho ou data-centers onde as multiplas<br />

ligações ponto-a-ponto em fibra óptica entre bastidores de<br />

distribuição e bastidores de equipamentos activos podem<br />

ser rápida e eficientemente instaladas, mantidas e alteradas<br />

conforme as necessidades.<br />

O conector MPO é a parte mais importante do sistema MT<br />

Connect.<br />

Este conector acomoda até 12 fibras graças à alta precisão de<br />

fabrico das partes de termoplástico e guias metálicas, que<br />

garantem o alinhamento e a manutenção da polaridade das<br />

fibras, sendo a sua ligação ao painel por encaixe, com um<br />

Click audivel para garantir que as ligações estão bem<br />

efectuadas.<br />

Instalação<br />

O sistema MT Connect é de instalação simples e rápida.<br />

1. Coloca-seos cabos de backbonne no lugar.<br />

2. Instala-seos paineis nos bastidores.<br />

3. Liga-seos cabos dentro das caixas LGX.<br />

4. Monta-seas caixas LGX nos paineis.<br />

O tempo de instalação deste sistema é uma fracção do<br />

tempo de instalação de um sistema de fibra convencional.<br />

Ligar 12 fibras pré-conecterizadas é muito mais simples e<br />

rápido que fundir 12 pigtails em cada ponta do cabo.<br />

Figura 10 – MT Connect Pre-Terminated Fibre Cabling Systems<br />

O sistema MT Connect tem vantagens únicas em relação aos<br />

sistemasconvencionais:<br />

• Cabos pré-conecterizados com 12 fibras por conector<br />

MPO assegura uma instalação mais rápida de vários links<br />

de fibra.<br />

• Cabos com menor secção poupam espaço nos caminhos<br />

de cabos e bastidores favorecendo a circulaçãode ar<br />

• Construção modular favorece a simples e rápida<br />

manutençãoe reparação.<br />

• Link ponta-a-ponta assegurado com os melhores<br />

desempenhos obtidos através de conecterização de<br />

fábrica.<br />

Figura 11 – MT Connect Pre-Terminated Fibre Cabling Systems<br />

A manutenção e acrescentos ao sistema é também mais<br />

simples graças à sua concepção modular.<br />

147


ARTIGO TÉCNICO<br />

Cabos do Sistema MT Connect<br />

O fabrico de um cabo MT Connect é feito com até 12 fibras<br />

LSOH num só cabo terminando nas duas pontas com um<br />

conector MPO (sem pinos). Estes cabos são usados nos<br />

backbones ou na interligação horizontal de bastidores de<br />

distribuição.<br />

Estão disponívei para fibras OM3, OM3 melhorada (Z50) e<br />

OS1(008) e com comprimentos standard de 1, 3, 5, 10, 20, 50<br />

e 100mts.<br />

O painel de bastidor do sistema MT connect é modular, pelo<br />

que permite a utilização dos diversos componentes num só<br />

painel. Pode ser equipado com 3 modulos, sejam eles caixas<br />

LGX (para conectores LC ou SC em OM3, OM3(Z50) ou OS1),<br />

placa de 6 acopoladores MPO ou tampas cegas.<br />

Com este sistema podemos ter até 216 fibras num só painel<br />

de 1U/19” (usando 3 x 6 MPO), ou 36 LC duplex usando as<br />

caixas LGX.<br />

6 way MPO Adaptor plate<br />

Blanking plate<br />

Figura 12 – Cabo de fibra do Sistema MT Connect<br />

19” Panel LGX Module<br />

Figura 15 – Painel de bastidor do sistema MT Connect<br />

3 OBSERVAÇÕES FINAIS<br />

Figura 13 – Cabo de inter-ligação tipo “C” do sistema MT Connect<br />

Para a ligação do sistema MT Connect aos equipamentos<br />

activos nos bastidores é necessário usar este cabo hibrido<br />

constituíido por até 12 fibras LSOH num só cabo terminado<br />

numa ponta com o conector MPO e na outra ponta por<br />

conetores LC ou SC após as fibras terem sido separadas na<br />

unidade de divisão.<br />

Observando que o desenvolvimento tecnológico nos<br />

produtos de fibra óptica não se centra só nas fibras<br />

monomodo, podemos concluir que as fibras multimodo<br />

ainda terão uma grande aplicação nos próximos anos nas<br />

infra-estruturasde comunicações.<br />

Bibliografia<br />

1. Documentação técnica do fabricante Brand-Rex (www.brandrex.com)<br />

2. Documentação técnica do integrador IEMS (www.iems.pt)<br />

Figura 14 – Cabo Hibrido do Sistema MT Connect<br />

148


ARTIGO TÉCNICO<br />

Sistemas Segurança<br />

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />

artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da Segurança.<br />

Os edifícios devem satisfazer requisitos arquitectónicos, funcionais, ecológicos, de segurança e económicos. A utilização e o fim a<br />

que se destina cada edifício determinam a instalação e implementação de diferentes medidas de protecção e segurança, de<br />

forma a assegurar e controlar os aspectos de segurança das instalações,equipamentos e ocupantes.<br />

A implementação de sistemas integrados de protecção e segurança, baseados em sistemas coerentes de detecção e extinção de<br />

incêndios, detecção de gases combustíveis e monóxido de carbono, evacuação de emergência, alarme contra roubo e intrusão,<br />

controlo de acessos, vídeo vigilância por circuito fechado de televisão, gestão de alarmes técnicos e gestão técnica centralizada,<br />

são um aspecto fundamental na segurança de edifícios.<br />

Dada a extrema importância deste sector são apresentados vários artigos, desde a descrição e apresentação de soluções técnicas<br />

até à legislação sobre esta temática.<br />

149


ARTIGO TÉCNICO<br />

Índice<br />

Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio. Projecto e Execução<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

151<br />

Legislação de Segurança Contra Incêndio em Edifícios. Presente e Futuro<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

157<br />

Segurança em Edifícios. Sistemas de Circuito Fechado de Televisão<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

167<br />

Sistemas Automáticos de Segurança<br />

Detecção de Monóxido de CarbonoAntónio Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

173<br />

Sistemas de Controlo de Acesso<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

179<br />

Segurança Contra Intrusão. Habitação<br />

António Augusto Araújo Gomes; Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

183<br />

150


ARTIGO TÉCNICO<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio – Projecto e Execução<br />

Enquadramento<br />

Durante milhares de anos o fogo foi considerado um<br />

fenómeno da natureza, sendo olhado como um mistério,<br />

provocando medo, superstiçãoe adoração.<br />

O domínio do fogo por parte do homem permitiu a utilização<br />

do mesmo para aquecimento, cozinhar e mesmo para sua<br />

protecção. Contudo, o fogo, grande elemento de evolução<br />

do homem, é também, em potencial, um dos seus maiores<br />

inimigos. Muitos são os fogos florestais e urbanos, que<br />

ocorrem diariamente, provocando mortes e avultados<br />

prejuízosmateriais.<br />

As causas principais dos incêndios são a deficiência nas<br />

canalizações eléctricas, a má utilização de equipamentos<br />

eléctricos, nomeadamente ferros, fogões, fornos e<br />

aquecedores eléctricos, bem como a negligência na<br />

utilizaçãodo fogo.<br />

as informações correspondentes a uma central de sinalização<br />

e comando (CDI - central de detecção de incêndios), dar o<br />

alarme automaticamente, quer local e restrito, quer geral,<br />

quer à distância (alerta) e accionar todos os comandos<br />

(imediatos ou temporizados) necessários à segurança contra<br />

incêndios dos ocupantes e do edifício onde está instalado:<br />

fechar portas corta-fogo, parar elevadores, fechar registos<br />

corta-fogo, comandar sistemas automáticos de extinção de<br />

incêndios (SAEI), parar/ligar ventiladores, desligar energia<br />

eléctrica,etc.<br />

Para que um SADI consiga cumprir de uma forma eficaz a sua<br />

missão é necessário que o projecto e a posterior execução<br />

das instalações sejam realizados em conformidade com os<br />

requisitospróprios da instalação.<br />

O presente artigo pretende sistematizar a informação mais<br />

relevante no âmbito do projecto e execução das instalações<br />

de detecção automáticade incêndio.<br />

Os Sistemas Automáticos de Detecção de Incêndio (SADI) são<br />

hoje encarados como fazendo (quase) obrigatoriamente<br />

parte dos sistemas aplicados no sector da habitação,<br />

serviços, comércio e indústria.<br />

A instalação de um SADI torna-se, assim, fundamental como<br />

elemento de garantia do bem-estar e da segurança das<br />

pessoas, velando pela sua salvaguarda e dos seus bens.<br />

Um SADI é uma instalação técnica capaz de registar um<br />

princípio de incêndio, sem a intervenção humana, transmitir<br />

1 Central de Sinalização e Comando<br />

Deve estar localizada de forma a que:<br />

- As sinalizações e comandos estejam facilmente<br />

acessíveis ao pessoal responsável do edifício e aos<br />

bombeiros no caso de ser necessária a sua intervenção;<br />

- O nível de ruído de fundo deve permitir a audição das<br />

indicaçõessonoras;<br />

- O meio ambiente seja limpo e seco;<br />

- O risco de danos mecânicos para o equipamento seja<br />

baixo;<br />

151


ARTIGO TÉCNICO<br />

- O risco de incêndio seja baixo e a zona protegida com<br />

pelo menos um detector, integrada no sistema;<br />

- A iluminação ambiente permita que etiquetas e<br />

indicaçõesvisuais sejam facilmente visíveis e legíveis.<br />

2 Painéis Repetidores de Comando e de Sinalização<br />

São utilizados quando o edifício tiver mais do que uma<br />

entrada principal, quando houver possibilidade dos<br />

responsáveis pela segurança poderem estar longe da central<br />

e quando a distância entre a CDI e o elemento mais distante<br />

for considerável.<br />

3 Botões Manuais de Alarme<br />

Devem encontra-se claramente visíveis e identificáveis e ser<br />

posicionados de forma que possam ser fácil e rapidamente<br />

accionados por qualquer pessoa que detecte um princípio de<br />

incêndio.<br />

4 Sinalização do Alarme<br />

O método de transmitir o alarme aos ocupantes dos edifícios<br />

deve estar de acordo com os requisitos da estratégia da<br />

respostaa um alarme de incêndio.<br />

Nalguns casos, os procedimentos de segurança podem<br />

requerer que o alarme seja dado inicialmente ao pessoal<br />

treinado que poderá tomar a seu cargo as operações<br />

subsequentes no edifício. Nesses casos não será necessário<br />

dar de imediato alarme geral de incêndio, deve, no entanto,<br />

deve ser providenciado um dispositivo que permita um<br />

alarme geral.<br />

Qualquer alarme de incêndio, para ser reconhecido por<br />

pessoas não treinadas (como público em geral), deve ser<br />

dado, pelo menos, por meios audíveis que poderão ser<br />

dispositivos de alarme acústico ou sistemas de alarme por<br />

voz (tais como sistemas de chamada de pessoas).<br />

Devem estar devidamente sinalizados e em locais em que<br />

não sejam ocultados por quaisquer elementos decorativos<br />

ou outros, nem por portas, quando abertas.<br />

Devem ser posicionados em caminhos de evacuação, junto a<br />

cada porta de acesso a escadas de emergência (dentro ou<br />

fora) e em cada saída para o exterior e colocados junto a<br />

locais sujeitos a riscos especiais e junto dos extintores<br />

manuais.<br />

Devem ser localizados de modo a que nenhuma pessoa<br />

dentro das instalações tenha que percorrer mais de 30 m<br />

para chegar a um botão.<br />

Em locais em que os previsíveis utilizadores possam ser<br />

deficientesmotores a distância deve ser reduzida.<br />

Devem ser colocados entre 1,2 a 1,6m acima do chão, a uma<br />

altura recomendada de 1,5m.<br />

Em zonas nas quais o sinal sonoro possa não ser eficaz,<br />

devido, por exemplo à existência de ruído de fundo<br />

excessivo, ocupantes com dificuldades auditivas, ou locais<br />

que obriguem a utilização de protecção auricular, deve ser<br />

usada sinalização óptica e/ou táctil como complemento da<br />

sinalizaçãosonora.<br />

4.1 Sinais Sonoros<br />

Devem permitir a audição do sinal de alarme em qualquer<br />

local da instalação.<br />

Os sinais sonoros de alarme devem ser inconfundíveis com<br />

qualquer outro sinal sonoro, ter um nível de som que seja<br />

imediatamente audível acima de qualquer ruído ambiente e<br />

audível em todos os locais do edifício ou recinto a que seja<br />

destinado.<br />

O som utilizado para alarme de incêndio deverá ser contínuo<br />

e o mesmo em todas as partes do edifício.<br />

152


ARTIGO TÉCNICO<br />

O número e tipo de equipamentos de alarme de incêndio<br />

usados devem ser suficientes para produzir o nível de som<br />

recomendado, devendo ser instaladas num edifício pelo<br />

menos duas sirenes, mesmo que o nível de som<br />

recomendadopossa ser alcançado com uma única sirene.<br />

Os equipamentos de alarme de incêndio, em geral devem,<br />

sempre que possível, ser instalados fora do alcance dos<br />

ocupantes e, no caso de se situarem a uma altura do<br />

pavimento inferior a 2,25m, ser protegidos por elementos<br />

que os resguardem de danos acidentais;<br />

O som de alarme de incêndio deve ter um nível mínimo de<br />

65 dB(A), mas devendo ser sempre 5 dB(A) superior a<br />

qualquer outro ruído que possa persistir por um período<br />

superior a 30 segundos.<br />

seleccionados proporcionar mais rapidamente um aviso<br />

fiável nas condições ambientais dos locais em que serão<br />

instalados.<br />

Embora existam no mercado, diversos tipos de detectores<br />

automáticos, os detectores de fumos e de temperatura, são<br />

os mais utilizados, permitindo dar resposta à quase<br />

totalidade das necessidades de detecção, assim, no presente<br />

trabalho apenas serão referidos estes dois tipos de<br />

detectoresautomáticos.<br />

5.1 Detectores de Fumos (Ópticos)<br />

São rápidos na detecção de um fogo e têm uma resposta<br />

suficientemente vasta para permitir uma utilização<br />

generalizada.<br />

4.2 Dispositivos Visuais de Alarme de Incêndio<br />

Devem apenas ser usados como complemento dos alarmes<br />

sonoros, não devendo ser usados isoladamente, devendo<br />

qualquer dispositivo visual de alarme de incêndio<br />

deve ser claramente visível e distinto de quaisquer outros<br />

sinais visuais existentesnas instalações.<br />

5 Detectores Automáticos<br />

Os principais factores que condicionam a selecção do tipo de<br />

detectorautomático são:<br />

- Requisitoslegais;<br />

- Materiais existentes no local e as manifestações da sua<br />

combustão;<br />

- Configuraçãodo local (particularmenteo pé direito);<br />

- Efeitosda ventilação e do aquecimento;<br />

- Condições ambientais no interior dos compartimentos<br />

vigiados;<br />

- Possibilidadede falsos alarmes.<br />

Nenhum tipo de detector é mais adequado para qualquer<br />

situação, e a escolha final deverá depender das<br />

circunstâncias individuais, devendo os detectores<br />

Responde a fumo visível, sendo bom para fogos onde não há<br />

chamas (fogos latentes), como é o caso de fogos com<br />

tecidos, mobília, móveis, etc.<br />

São ideais para espaços amplos, onde a presença de fumo é<br />

mais facilmente detectada do que a elevação de<br />

temperatura, pois o calor dissipa-se mais facilmente. Não são<br />

apropriados para locais onde se verifique a permanente<br />

existência de fumos, vapor ou pó, como é o caso de<br />

garagens, cozinhas e industrias transformadoras de<br />

madeiras, devido à possibilidade de ocorrência de falsos<br />

alarmes.<br />

5.2 Detector de Temperatura (Térmicos)<br />

São geralmente considerados como os menos sensíveis dos<br />

vários tipos de detectores disponíveis.<br />

Os detectores termovelocimétricos são mais adequados em<br />

locais onde as temperaturas ambientes são baixas ou variam<br />

lentamente, enquanto que os detectores de temperatura<br />

fixa são mais adequados em locais onde se prevê que a<br />

temperatura ambiente possa variar rapidamente em curtos<br />

espaçosde tempo.<br />

153


ARTIGO TÉCNICO<br />

Regra geral, os detectores de temperatura têm uma maior<br />

resistência a condições ambientais adversas do que outros<br />

tipos de detectores.<br />

Os detectores devem ser colocados de modo a que os seus<br />

elementos sensitivos se situem nos 5% superiores do pé<br />

direito dos espaços.<br />

São apropriados para locais:<br />

- De humidade do ar ≥95%;<br />

- Onde se preveja que o incêndio não liberte fumo;<br />

- Onde exista forte risco de engorduramento;<br />

- Onde se possam desenrolar trabalhos que libertem fumo<br />

ou vapor;<br />

- Cozinhas;<br />

- Aquecedorescom combustíveis sólidos;<br />

- Pequenas garagens para estacionamento de veículos de<br />

motor de combustão.<br />

Não são apropriados para locais:<br />

- Com altura> 7,5m;<br />

- Onde se prevejam fogos lentos e encobertos;<br />

- Onde, face aos riscos, a detecçãoprecoce é necessária.<br />

Para prevenir a possível existência de uma camada<br />

envolvente fria, os detectores não devem ser embebidos no<br />

tecto.<br />

A tabela 1, indica os limites de altura dos tectos e o raio de<br />

acção, para detectoresinstalados na zona dos 5% superiores.<br />

b) Detectores em Tectos Inclinados<br />

Para detectores instalados em tectos inclinados, o raio<br />

indicado na tabela 1 pode ser aumentado em 1% por cada 1 o<br />

de inclinação do tecto, até um aumento máximo de 25%.<br />

Em tectos curvos a inclinação deve ser obtida através da<br />

média da inclinação total em toda a área.<br />

5.3 Localização e Distribuição<br />

Os detectoresautomáticos devem ser posicionados de forma<br />

que os produtos resultantes de qualquer incêndio dentro da<br />

área protegida possam chegar aos detectores sem grande<br />

dissipação,atenuação ou demora.<br />

As características específicas das instalações, requerem<br />

particular atenção aquando do projecto e da execução das<br />

mesmas, sob pena de os sistemas previstos não garantirem a<br />

completa e eficaz protecção dessas mesmas instalações.<br />

Assim, e relativamente à utilização de detectores<br />

automáticos térmicos e de fumo, será necessário atender às<br />

seguintesconsiderações:<br />

a) Detectores em Tectos Planos<br />

Na generalidade o desempenho de detectores térmicos ou<br />

de fumo depende da existência de um tecto fechado por<br />

cima dos detectores.<br />

154<br />

No caso do espaço protegido ter um tecto em escada os<br />

detectoresdevem ser instalados em cada um dos vértices.<br />

No caso da diferença de altura entre o cimo e a base de cada<br />

vértice ser inferior a 5% da altura total do vértice acima do<br />

chão, a sala deve ter o tratamento de uma sala de tecto<br />

plano.<br />

c) Paredes, Divisórias e Obstáculos<br />

Os detectores (excepto os detectores ópticos de feixe) não<br />

devem ser instalados a menos de 0,5 m de qualquer parede<br />

ou divisória.<br />

No caso do espaço ter menos de 1,2 m, o detector deve ser<br />

instaladono terço do meio.<br />

Quando as salas estão divididas em secções por paredes,<br />

divisórias ou estantes de armazenagem que fiquem a uma<br />

distância inferior a 0,3 m do tecto, as divisórias devem ser<br />

consideradas tal como se chegassem ao tecto e as secções<br />

devem ser consideradascomo salas diferentes.


ARTIGO TÉCNICO<br />

Altura do tecto (m)<br />

≤4,5 >4,5<br />

>6<br />

>8<br />

>11<br />

>25<br />

≤6<br />

≤8<br />

≤11<br />

≤25<br />

Tipo de Detector<br />

Raio de acção (m)<br />

Térmicos (EN 54-5: Grau 1) 5 5 5 NN NU NU<br />

Fumo – Pontual (EN 54-7) 7,5 7,5 7,5 7,5 NN NU<br />

Fumo – Feixe (EN54-12) 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 (a) NU<br />

NU - Não utilizável para esta gama de alturas.<br />

NN - Normalmente não utilizável, mas pode ser utilizado em aplicações especiais.<br />

a) Será normalmente necessária uma segunda camada de detectores a aproximadamente metade da altura do tecto.<br />

Tabela 1 – Limites de altura dos tectos e raio de acção<br />

Deve existir um espaço desobstruído mínimo de 0,5 m à<br />

volta de cada detector.<br />

d) Irregularidades do Tecto<br />

O volume interno das células cobertas por um só detector<br />

não deve exceder:<br />

- DetectoresTemperatura:V= 6 m 2 x (H-h)<br />

- DetectoresFumo: V = 12 m 2 x (H-h)<br />

Os tectos que tenham irregularidades com alturas inferiores<br />

a 5% do pé direito devem ser tratados como se fossem lisos<br />

e devem ser aplicados os seguintes limites radiais,<br />

constantesda tabela 1.<br />

e) Detecção Acima de Tectos Falsos<br />

Quando uma sala tem um tecto falso perfurado, a colocação<br />

dos detectoresdeve ter em consideraçãodois objectivos:<br />

Qualquer irregularidade do tecto (tal como uma viga) com<br />

uma altura superior a 5% do pé direito deve ser tratada<br />

como uma parede e devem ser aplicados os seguintes<br />

requisitos:<br />

- D > 0,25 x (H-h) ⇒ Um detector em todas as células;<br />

- D < 0,25 x (H-h) ⇒ Um detector em células alternadas;<br />

- D < 0,13 x (H-h) ⇒ Um detector em cada três células.<br />

Em que:<br />

D – Distância entre vigas (m), medida fora a fora;<br />

H – Pé direito da sala;<br />

h – Altura da viga.<br />

- Protecção contra fogos que comecem abaixo do tecto<br />

falso;<br />

- Protecção contra fogos que comecem acima do tecto<br />

falso.<br />

No caso das perfurações do tecto falso serem pequenas, e<br />

não exista ventilação pressurizada que empurre o fumo<br />

através deste, a protecção contra fogos que comecem abaixo<br />

do tecto falso requer a colocação de detectores abaixo do<br />

tecto falso.<br />

Caso não exista qualquer risco do fogo começar abaixo do<br />

tecto falso, os detectores devem ser colocados acima deste.<br />

Se a disposição do tecto for de modo a formar séries de<br />

pequenas células (como num favo de mel), então, dentro<br />

dos limites radiais da Tabela 1, um único detector pode<br />

cobrir um grupo de células.<br />

No caso das perfurações perfazerem mais do que 40% em<br />

qualquer secção de 1m x 1m do tecto, as dimensões de cada<br />

orifício excederem 10mm x 10mm, e a espessura do tecto<br />

não exceder três vezes a dimensão mínima de uma furação,<br />

155


ARTIGO TÉCNICO<br />

os detectores acima do tecto falso podem ser utilizados para<br />

detectar um fogo que comece abaixo do tecto falso, e<br />

podem ser dispensados detectoresabaixo deste.<br />

f) Detecção Abaixo do Chão Falso<br />

Quando as salas têm chão falso, devem ser instalados<br />

detectores por baixo do chão tal como se o vazio abaixo do<br />

chão falso fosse outro compartimento.<br />

Dispensa-se a colocação de detectores por baixo do chão<br />

falso, quando se verificar, pelo menos, uma das seguintes<br />

condições:<br />

- o chão falso seja perfurado;<br />

- o chão falso seja de um material que tenha uma reacção<br />

ao fogo classificada como A1, A2 ou B1 (Anexos II e III do<br />

RG-SCIE)e não exista carga térmica debaixo.<br />

g) Detectores que não estejam debaixo de tecto<br />

Na ausência de um tecto ou de um plano estratificado, os<br />

produtos da combustão confinam-se à coluna ascendente<br />

acima do fogo.<br />

Caso se utilizem detectores de fumo ou calor para detectar<br />

os produtos da combustão na coluna ascendente (tal como<br />

quando são utilizados nos átrios detectores de feixe em<br />

níveis baixos, ou quando são utilizados detectores sem<br />

tecto), os limites em altura para a operação são os indicados<br />

na Tabela 1, e o raio de operação efectivo (tanto para<br />

detectores de fumo como de calor) deve ser calculado como<br />

sendo 12,5% da altura medida do previsível foco de incêndio<br />

que esteja mais alto até ao detector acima.<br />

- Portascorta-fogo;<br />

- Sistemas de controlo de fumo;<br />

- Registoscorta-fogo;<br />

- Paragem de ventilação;<br />

- Controlo de elevadores;<br />

- Portasde segurança.<br />

7 Canalizações<br />

As canalizações devem satisfazer quaisquer requisitos<br />

especificados pelo fabricante ou fornecedor do<br />

equipamento, devendo ser dada particular atenção à<br />

capacidadecondutora e à atenuação do sinal.<br />

Devem ser respeitadas as recomendações existentes em<br />

regulamentos nacionais relativamente a tipos de cabo e sua<br />

instalação.<br />

8) Conclusão<br />

Este artigo visou abordar aspectos técnicos e conceptuais, ao<br />

nível do projecto e da instalação de Sistemas Automáticos de<br />

Detecção de Incêndios pretendendo e, fundamentalmente,<br />

contribuir para o enriquecimento do conhecimento das<br />

competências no âmbito de actuação do projecto de<br />

segurança.<br />

Fontes de Informação Relevantes<br />

Segurança Contra Incêndio em Edílicos, NT12: Nota Técnica<br />

Complementar do RG-SCIE / Refª VII.III.01, Sistemas<br />

Automáticos de Detecção de Incêndio, Autoridade Nacional<br />

de ProtecçãoCivil, 2007<br />

Cada sala protegida ou espaço fechado deve conter no<br />

mínimo um detector.<br />

6 Comandos<br />

A sinalização do alarme deve ser usada também para<br />

accionar, equipamentosauxiliares, tais como:<br />

- Equipamentode extinção;<br />

Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em<br />

Edílicos, Autoridade Nacional de Protecção Civil, Versão<br />

aprovada na Generalidadena RCM, 25 de Janeiro de 2007<br />

EN54 - Sistemas de detecção e de alarme de incêndio –<br />

Parte3-4-5-7-11-12-20<br />

156


ARTIGO TÉCNICO<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

Legislação de Segurança Contra Incêndio em Edifícios<br />

Presente e Futuro<br />

Resumo<br />

A regulamentação de segurança das instalações reveste-se<br />

da maior relevância, não só em consideração à vida humana,<br />

como à própria actividade económica.<br />

Motivada pela constante evolução da tecnologia, do<br />

surgimento de novos materiais e equipamentos e das<br />

exigências funcionais dos espaços, a regulamentação de<br />

segurança requer uma constante actualização e adaptação a<br />

essa novas necessidadese exigências.<br />

Cada vez mais a segurança de pessoas e bens é uma directriz<br />

fundamental aquando da realização dos projectos e<br />

execução dos edifícios, dos mais diversos fins.<br />

parte de todos de todos os agentes envolvidos (projectistas,<br />

instaladores...), da aplicação dos regulamentos estabelecidos<br />

para as instalaçõesde Segurança.<br />

Esta tarefa apenas poderá ser conseguida se houver um<br />

conhecimento completo e profundo dos diplomas legais que<br />

enquadram a área de segurança dos edifícios.<br />

O presente trabalho tem, pois, por objectivo, sistematizar e<br />

apresentar a presente regulamentação contra incêndios em<br />

edifícios, bem como apresentar o futuro Regulamento de<br />

Segurança Contra Incêndio em Edifícios, que vem criar um<br />

inovador enquadramento nesta área, por forma a serem<br />

garantidas as exigências mínimas de protecção de pessoas,<br />

instalaçõese bens.<br />

De forma a precaver situações que possam colocar em risco<br />

pessoas e bens, são consideradas medidas activas e passivas<br />

de protecção, das quais poderemos destacar os sistemas de<br />

detecção automática de incêndio, detecção automática de<br />

intrusão, sinalizaçãode saída, etc.<br />

Assim, a especial preocupação com a segurança de pessoas e<br />

bens justifica a importância ocupada pela segurança, a qual<br />

exige a necessidade de se assegurar a forma como são<br />

projectadas, executadas, exploradas e conservadas, em geral<br />

as instalações e em particular as instalações de segurança<br />

dos edifícios.<br />

Torna-se, pois, imperioso garantir-se o cumprimento, por<br />

1. Enquadramento<br />

A maioria da legislação portuguesa sobre segurança contra<br />

incêndio em edifícios é relativamente recente e encontra-se<br />

dispersa por diversos diplomas legais criando regras para as<br />

instalações e preconizando especificações para os sistemas<br />

activos e passivos de segurança.<br />

A base histórica inicial desta estrutura de leis de protecção<br />

contra incêndio em edifícios parte do Decreto-Lei n.º 38 382,<br />

de 7 de Agosto de 1951, que aprovou o Regulamento Geral<br />

das Edificações Urbanas (RGEU), com particular referência no<br />

Título V - Condições especiais relativas à segurança das<br />

edificações,Capítulo III - Segurança contra incêndios.<br />

157


ARTIGO TÉCNICO<br />

Quase quatro décadas depois, através do Decreto-Lei 426/89<br />

de 06 de Dezembro, foram publicadas as Medidas Cautelares<br />

de Segurança Contra Riscos de Incêndio em Centros Urbanos<br />

Antigos. Posteriormente foram publicados outros diplomas<br />

enquadrandooutros tipos de instalações.<br />

Actualmente existe um conjunto significativo de<br />

regulamentos de Segurança Contra Incêndio dispersos por<br />

tipo de ocupação, Normas de Segurança Contra Incêndio e<br />

Medidas de Segurança Contra Incêndio, dos quais uns<br />

apresentam excessiva minúcia, mas outros raramente<br />

ultrapassamo plano genérico.<br />

Assim, a actual legislação de segurança contra incêndios em<br />

edifícios encontra-se dispersa por um número excessivo de<br />

diplomas avulso, mas mesmo assim ainda incompleta, no<br />

espaço e no tempo, é parcialmente incoerente e repetitiva,<br />

volumosa e de manuseamento complicado, por vezes, de<br />

interpretação problemática, em particular em edifícios de<br />

utilização mista, heterogénea em termos jurídicos e técnicos<br />

e, parcialmente incoerente.<br />

Verifica-se ainda que uma vasta área de edifícios não dispõe<br />

de regulamentos específicos de segurança contra incêndios,<br />

como é, designadamente, o caso das instalações industriais,<br />

armazéns, gares de transporte, parques de campismo, lares<br />

de idosos, museus, bibliotecas, arquivos e locais de culto.<br />

Justifica-se assim a pertinência da criação de um diploma,<br />

que consolide toda a legislação de segurança contra incêndio<br />

em edifícios num único regulamento, que seja tronco<br />

normativo comum de aplicação geral a todos os edifícios,<br />

sem prejuízo de nele se incluírem disposições específicas<br />

complementares julgadas convenientes a cada utilizaçãotipo.<br />

De forma a dar cumprimento a este objectivo, no futuro,<br />

toda a legislação de segurança contra incêndio em edifícios,<br />

assentará no Regulamento Geral de Segurança Contra<br />

Incêndio em Edifícios (RG-SCIE), que se espera seja aprovado<br />

e publicado ainda durante o ano de 2008.<br />

2. Actual Legislação de Segurança Contra Incêndio<br />

A actual legislação de segurança contra incêndio encontra-se<br />

dispersa por diversos Regulamentos, Normas e Medidas de<br />

Segurança Contra Incêndio, de aplicação específica aos<br />

edifíciosde utilização objecto dos diplomas.<br />

2.1. Edifícios de Habitação<br />

O Decreto-Lei n.º 64/90 de 21 Fevereiro, Rectificado por<br />

Declaração publicada no DR - I Série n.º 99 de 30 de Abril de<br />

1990, aprovou e publicou o Regulamento de Segurança<br />

Contra incêndio em Edifíciosde Habitação.<br />

Nestes casos, apenas é aplicável o Regulamento Geral das<br />

Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 38 382,<br />

de 7 de Agosto de 1951, manifestamente insuficiente para a<br />

salvaguardada segurança.<br />

Assim, além de incompleta e demasiado dispersa por<br />

diversos diplomas, a actual legislação de segurança contra<br />

incêndio em edifícios, é dificilmente harmonizável entre si e<br />

geradora de dificuldades na sua compreensão, sendo<br />

particularmente difícil obter, por parte das várias entidades<br />

responsáveis pela aplicação da lei, uma visão sistematizada e<br />

uma interpretação uniforme, com evidente prejuízo da<br />

autoridadetécnica que deve assistir às suas normas.<br />

O Regulamento de Segurança Contra incêndio em Edifícios<br />

de Habitação, tem por objecto definir as condições a que<br />

devem satisfazer os edifícios destinados a habitação, com<br />

vista a limitar o risco de ocorrência e de desenvolvimento de<br />

incêndio, a facilitar a evacuação dos ocupantes e a favorecer<br />

a intervenção dos bombeiros.<br />

Este Decreto-Lei revogou relativamente a edifícios de<br />

habitação, o capítulo III do título V do Regulamento Geral<br />

das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 38<br />

382, de 7 de Agosto de 1951.<br />

158


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.2. Parques de Estacionamento Cobertos<br />

O Decreto-Lei n.º 66/95, de 08 Abril, aprovou e publicou o<br />

Regulamento de segurança contra incêndio em parques de<br />

estacionamentocobertos.<br />

O Regulamento de segurança contra incêndio em parques de<br />

estacionamento cobertos estabelece as medidas de<br />

segurança contra incêndio a observar em parques de<br />

estacionamento cobertos que ocupam a totalidade do<br />

edifício e em parques de estacionamento cobertos que<br />

ocupam apenas parte de um edifício cuja parte restante tem<br />

ocupação diferente, nomeadamente habitações e<br />

estabelecimentos que recebem público, de área bruta total<br />

superior a 200 m 2 .<br />

Decreto Regulamentar n.º 34/95, de 16 de Dezembro,<br />

aprova e publica o regulamento das condições técnicas e de<br />

segurança dos recintos de espectáculos e divertimentos<br />

públicos.<br />

Revoga o Decreto n.º 42 662, de 20 de Novembro de 1959.<br />

2.4. Edifícios do Tipo Hospitalar<br />

O Decreto-Lei n.º 409/98, de 23 de Dezembro, Rectificado<br />

pela DR nº7-H/99, I Série-A nº49 de 27 de Fevereiro, aprovou<br />

e publicou o Regulamento de segurança contra incêndio em<br />

edifícios do tipo hospitalar (Hospitais e centros de saúde,<br />

Unidades privadas de saúde, Unidades de saúde das<br />

instituiçõesprivadas de solidariedadesocial).<br />

Este Decreto-Lei revogou relativamente a espaços ocupados<br />

para recolha de veículos automóveis e seus reboques, as<br />

disposições constantes nos art.º 23.º e 24.º, n.º 4,5 e 7 do<br />

art.º 51.º e art.º 81.º do Regulamento de Segurança Contra<br />

Incêndio em Edifícios de Habitação, aprovado pelo Decreto-<br />

Lei n.º 64/90, de 15 de Fevereiro.<br />

2.3. Recintos de Espectáculos e de Divertimento Público<br />

O Decreto Regulamentar n.º 315/95, de 16 de Dezembro,<br />

publicou o Regulamento das condições técnicas e de<br />

segurança dos recintos de espectáculos e de divertimentos<br />

públicos.<br />

Este Decreto-Lei revogou relativamente aos edifícios de tipo<br />

hospitalar, as disposições do capítulo III do título V do<br />

Regulamento Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo<br />

Decreto-Lei n.º 38 382, de 7 de Agosto de 1951.<br />

A Portaria n.º 1275/2002, de 19 de Setembro, aprovou as<br />

Normas de segurança contra incêndio a observar na<br />

exploração dos estabelecimentos de tipo hospitalar, de<br />

acordo com o disposto no artigo 4.º do Decreto-Lei n.º<br />

409/98, de 23 de Dezembro, que aprovou o Regulamento de<br />

Segurança contra Incêndio em Edifíciosde Tipo Hospitalar.<br />

2.5. Edifícios do Tipo Administrativo<br />

O Decreto-Lei n.º 309/2002, de 16 Dezembro, regula a<br />

instalação e o funcionamento dos recintos de espectáculos e<br />

de divertimentos públicos.<br />

Revoga os artigos 20º a 23º do Decreto -Lei n.º 315/95, de 28<br />

de Novembro. São ainda revogados os artigos 1.º, 2.º, 3.º,<br />

35.º, 37.º e 43.º a 46.º do Decreto-Lei n.º 315/95, de 28 de<br />

Novembro, na parte relativa aos recintos de espectáculos e<br />

de divertimentos públicos previstos no referido diploma.<br />

O Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de Dezembro, Rectificado<br />

pelo DR n.º 44/99, Série I-A, de 27 de Fevereiro, aprovou e<br />

publicou o Regulamento de segurança contra incêndios em<br />

edifíciosdo tipo administrativo.<br />

Revogou relativamente aos edifícios de tipo administrativo,<br />

as disposições do capítulo III do título V do Regulamento<br />

Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º<br />

38382, de 7 de Agosto de 1951.<br />

159


ARTIGO TÉCNICO<br />

A Portaria n.º 1276/2002, de 19 de Setembro, aprovou as<br />

Normas de segurança contra incêndio a observar na<br />

exploração dos estabelecimentos de tipo Administrativo, de<br />

acordo com o artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de<br />

Dezembro, que aprovou o Regulamento de Segurança contra<br />

Incêndioem Edifícios de Tipo Administrativo.<br />

2.6. Edifícios Escolares<br />

Revoga os artigos 57.º e 260.º do Regulamento das<br />

Condições Técnicas e de Segurança dos Recintos de<br />

Espectáculos e Divertimentos Públicos anexo ao Decreto<br />

Regulamentarn.º 34/95, de 16 de Dezembro.<br />

O Decreto Regulamentar Nº 5/97 de 31 de Março, aprova o<br />

Regulamento das Condições Técnicas de Segurança dos<br />

Recintosde Diversões Aquáticas.<br />

O Decreto-Lei n.º 414/98 de 31 de Dezembro, Rectificado<br />

pelo DR nº44/99, Série I-A de 27 de Fevereiro aprovou e<br />

publicou o Regulamento de segurança contra incêndio em<br />

edifíciosescolares.<br />

Revogou relativamente aos edifícios escolares, as<br />

disposições do capítulo III do título V do Regulamento Geral<br />

das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º<br />

38382, de 7 de Agosto de 1951.<br />

A Portaria nº1444/2002 de 07 de Novembro, publica as<br />

Normas de segurança contra incêndio a observar na<br />

exploração dos estabelecimentos escolares, de acordo com o<br />

artigo 4º do Decreto-Lei nº 414/98, de 31 de Dezembro, que<br />

aprovou o Regulamento de Segurança contra Incêndio em<br />

EdifíciosEscolares.<br />

2.9 Estabelecimentos de fabrico e armazenagem de<br />

produtos explosivos<br />

O Decreto-Lei n.º 87/05 de 23 Maio define normas relativas a<br />

à emissão de alvarás e licenças para estabelecimentos de<br />

fabrico e armazenagem de produtos explosivos.<br />

Revoga os artigos 2.º e 3.º do Decreto-Lei n.º 139/2002, de<br />

17 de Maio e o n.º 1 do artigo 3.º e o n.º 2 do artigo 12.º do<br />

Regulamento de Segurança dos Estabelecimentos de Fabrico<br />

e de Armazenagem de Produtos Explosivos, aprovado pelo<br />

Decreto-Lei n.º 139/2002, de 17 de Maio.<br />

O Decreto-Lei n.º 139/2002, de 17 de Maio, aprovou o<br />

Regulamento da segurança nas instalações de fabrico e de<br />

armazenagemde produtos explosivos.<br />

2.7. Estádios<br />

O Decreto-Lei nº 317/97, de 25 de Novembro, criou o regime<br />

de instalaçãoe funcionamento de instalações desportivas.<br />

O Decreto Regulamentar nº 10/2001, de 7 de Junho, de<br />

acordo com o disposto no artigo 7º do Decreto-Lei nº<br />

317/97, de 25 de Novembro, aprovou e publicou o<br />

Regulamento das condições técnicas de segurança nos<br />

estádios.<br />

Revoga o Decreto-Lei n.º 142/79, de 23 de Maio, a Portaria<br />

n.º 29/74, de 16 de Janeiro, a Portaria n.º 831/82, de 1 de<br />

Setembro e a Portaria n.º 506/85, de 25 de Julho.<br />

O Decreto-Lei n.º 164/2001 de 23 de Maio, determina as<br />

medidas de prevenção de acidentes graves que envolvam<br />

substâncias perigosas e a limitação das suas consequências<br />

para o homem e para o ambiente.<br />

Revoga o Decreto-Lei n.º 204/93, de 3 de Junho.<br />

2.8 Recintos de Diversões Aquáticas<br />

2.10 Centros Urbanos Antigos<br />

O Decreto-Lei n.º 65/97 de 31 de Março, regula a Instalação<br />

e Funcionamento dos Recintoscom Diversões Aquáticas.<br />

O Decreto-Lei n.º 426/89, de 6 Dezembro, aprovou e<br />

publicou as medidas cautelares de segurança contra riscos<br />

160


ARTIGO TÉCNICO<br />

de incêndio em centros urbanos antigos.<br />

2.13 Empreendimentos de Restauração e Bebidas<br />

As medidas cautelares de segurança contra riscos de<br />

incêndio em centros urbanos antigos contém as disposições<br />

genéricas a observar em operações de beneficiação de<br />

edifícios e outras acções a realizar em centros urbanos<br />

antigos destinadas a reduzir o risco de eclosão de incêndio, a<br />

limitar a propagação de incêndio, a possibilitar a evacuação<br />

dos edifíciose a facilitara intervenção dos bombeiros.<br />

2.11 Instalações de armazenamento de produtos do<br />

petróleo e instalações de abastecimento de<br />

combustíveis líquidos e gasosos.<br />

O Decreto-Lei n.º 267/02 de 26 de Novembro, estabelece os<br />

procedimentos e define as competências para efeitos de<br />

licenciamento e fiscalização de instalações de<br />

armazenamento de produtos do petróleo e instalações de<br />

postosde abastecimentode combustíveis.<br />

Portaria nº 1188/03 de 10 de Outubro, regula os pedidos de<br />

licenciamento de combustíveis. Pormenorização de certos<br />

aspectos do processo de licenciamento e fiscalização de<br />

instalações de armazenamento de produtos do petróleo e de<br />

abastecimento de combustíveis de acordo com o disposto no<br />

n.º2 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 267/2002, de 26 de<br />

Dezembro.<br />

2.12 Empreendimentos Turísticos<br />

O Decreto-Lei n.º 167/97, de 04 de Julho, Rectificado pelo<br />

Decreto-Lei n.º 305/99, de 06 de Agosto e o Decreto-Lei n.º<br />

55/02, de 11 de Março aprovou o Regime jurídico dos<br />

empreendimentosturísticos.<br />

A Portaria nº 1063/97 de 21 Outubro, de acordo com o n.º 3<br />

do artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 167/97, de 4 de Julho, e n.º<br />

3 do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 168/97, aprovou e publicou<br />

as Medidas de segurança aplicadas na construção, instalação<br />

e funcionamento dos empreendimentos turísticos e dos<br />

estabelecimentosde restauração e de bebidas.<br />

A Portaria nº1063/97 de 21 Outubro, publicou as Medidas de<br />

segurança aplicadas na construção, instalação e<br />

funcionamento dos empreendimentos turísticos e dos<br />

estabelecimentosde restauração e de bebidas.<br />

Deu cumprimento ao definido no n.º 3 do artigo 21.º do<br />

Decreto-Lei n.º 167/97, de 4 de Julho, que aprovou o novo<br />

regime jurídico de instalação e funcionamento dos<br />

empreendimentos turísticos e no n.º 3 do artigo 6.º do<br />

Decreto-Lei n.º 168/97, de 4 de Julho, que aprovou o novo<br />

regime jurídico de instalação e funcionamento dos<br />

estabelecimentosde restauração e de bebidas.<br />

2.14 Estabelecimentos Comerciais (A≥300m 2 )<br />

O Decreto-Lei n.º 368/99, de 18 Setembro, aprovou e<br />

publicou as medidas de segurança contra risco de incêndio<br />

aplicáveis aos estabelecimentos comerciais com área igual<br />

ou superior a 300m 2 ou de substâncias perigosas<br />

independentementeda área.<br />

Revogou o Decreto-Lei n.º 61/90, de15 de Fevereiro, que<br />

aprovou as normas de segurança contra riscos de incêndio a<br />

aplicar em estabelecimentoscomerciais.<br />

2.15 Estabelecimentos Comerciais (A


ARTIGO TÉCNICO<br />

publicou as medidas cautelares mínimas contra riscos de<br />

incêndio a aplicar nos locais e seus acessos integrados em<br />

edifícios onde estejam instalados serviços públicos da<br />

administração central, regional e local e instituições de<br />

interessepúblico e entidades tuteladaspelo Estado.<br />

3. Futura Legislação de Segurança Contra Incêndio<br />

Dadas as fragilidades da actual legislação de segurança<br />

contra incêndio, anteriormente expostas, está prevista a<br />

publicação do Regulamento Geral de Segurança Contra<br />

Incêndio em Edifícios, já aprovado na generalidade em<br />

conselho de Ministros e fazendo parte dos objectivos do<br />

governo para o ano de 2008, conforme as "Grandes Opções<br />

do Plano para 2008" (Lei n.º 31/2007 de 10 de Agosto).<br />

O Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em<br />

Edifícios apresenta um conjunto amplo de exigências<br />

técnicas aplicáveis à segurança contra incêndio, no que se<br />

refere à concepção geral da arquitectura dos edifícios e<br />

recintos a construir ou remodelar, às disposições<br />

construtivas, às instalações técnicas e aos sistemas e<br />

equipamentos de segurança. Será um único regulamento, de<br />

utilização mais fácil, homogéneo e coerente e cobrindo todo<br />

o ciclo de vida dos edifícios. Congrega os 16 diplomas<br />

dispersose reduz 1200 artigos a 334.<br />

Engloba as disposições regulamentares de segurança contra<br />

incêndio aplicáveis a todos os edifícios e recintos,<br />

distribuídos por 12 utilizações-tipo, sendo cada uma delas,<br />

por seu turno, estratificada por quatro categorias de risco de<br />

incêndio. São considerados não apenas os edifícios de<br />

utilização exclusiva, mas também os edifícios de ocupação<br />

mista.<br />

No diploma encontram-se estruturadas um conjunto amplo<br />

de exigências técnicas aplicáveis à segurança contra<br />

incêndio, no que se refere à concepção geral da arquitectura<br />

dos edifícios e recintos a construir ou remodelar, às<br />

disposiçõesconstrutivas,às instalaçõestécnicas,aos sistemas<br />

162


ARTIGO TÉCNICO<br />

e equipamentos de segurança, para além das necessárias<br />

medidas de auto-protecção e de organização de segurança<br />

contra incêndio, aplicáveis quer em edifícios existentes, quer<br />

em novos edifícios a construir.<br />

Do mesmo modo, são estabelecidas as necessárias medidas<br />

de auto-protecção e de organização de segurança contra<br />

incêndio, aplicáveis quer em edifícios existentes, quer em<br />

novos edifícios a construir, e define-se um regime<br />

sancionatóriopara o incumprimento das novas regras.<br />

3.1 Objectivo<br />

Protecção, face ao risco de incêndio em edifícios,<br />

estabelecimentose recintos itinerantes ou ao ar livre:<br />

- Da vida humana;<br />

- Do ambiente;<br />

- Do património cultural;<br />

- De meios essenciais à continuidade de actividades sociais<br />

relevantes.<br />

Para cumprimentos dos seus objectivos o RG-SCIE:<br />

- É de aplicação universal;<br />

- Cobre todo o ciclo de vida dos edifícios e dos recintos;<br />

- As medidas de segurança são graduadas em função da<br />

classificaçãodo risco;<br />

- Explicita as competências, as responsabilidades e os<br />

mecanismosde fiscalizaçãode SCIE.<br />

3.2 Campo de Aplicação<br />

O RG-SCIE aplica-se a:<br />

- Novos edifícios, partes de edifícios e recintos, a<br />

construir, montar ou implantar;<br />

- Reconstruções e ampliações de edifícios e recintos já<br />

existentesou de suas partes;<br />

- Mudanças de uso permanente de edifícios e recintos já<br />

existentesou de suas partes;<br />

- As medidas de auto-protecção e de gestão de segurança<br />

constantes no diploma aplicam-se também a edifícios e<br />

recintosjá existentes.<br />

163


ARTIGO TÉCNICO<br />

3.3 Estrutura<br />

O Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em<br />

Edifíciosdesenvolve-senos seguintes 9 capítulos:<br />

I. Disposiçõesgerais e fiscalização;<br />

II. Caracterizaçãodo risco de incêndio;<br />

III. Condiçõesexteriores comuns;<br />

IV. Condições gerais de comportamento ao fogo, isolamento<br />

e protecção;<br />

V. Condiçõesgerais de evacuação;<br />

VI. Condiçõesgerais das instalações eléctricas;<br />

VII. Condições gerais dos equipamentos e sistemas de<br />

segurança;<br />

VIII. Condiçõesgerais de organização e gestão da segurança;<br />

IX. Condiçõesespecíficasdas utilizações-tipo.<br />

3.4 Diplomas Revogados<br />

A entrada em vigor do Regulamento Geral de Segurança<br />

Contra Incêndio em Edifícios revoga os seguintes diplomas:<br />

- As disposições do capítulo III do título V do Regulamento<br />

Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-<br />

Lei n.º 38 382, de 7 de Agosto de 1951;<br />

- A Resolução do Concelho de Ministros n.º 31/89, de 15<br />

de Setembro, publicado no DR - I série n.º 213;<br />

- O Decreto-Lei n.º 64/90, de 21 Fevereiro, publicado no<br />

DR - I série n.º 44, rectificado por Declaração publicada<br />

no DR - I Série n.º 99 de 30-04-90;<br />

- O Decreto-Lei n.º 66/95, de 08 Abril, publicado no DR - I<br />

série-A n.º 84;<br />

- A Portaria n.º 1063/97, de 21 Outubro, publicada no DR -<br />

I série-B n.º 244;<br />

- O Decreto-Lei n.º 409/98, de 23 de Dezembro, publicado<br />

no DR - I série-A n.º 295, e a Portaria n.º 1275/2002, de<br />

19 de Setembro, publicada no DR - I série-B n.º 217;<br />

- Decreto-Lei n.º 410/98, de 23 de Dezembro, publicado<br />

no DR - I série-A n.º 295, rectificadopelo DR - I série-A<br />

n.º 44, série I-A de 27-02-99, que aprovou o regulamento de<br />

segurança contra incêndios em edifícios do tipo<br />

Administrativo, e respectiva Portaria n.º 1276/2002, de 19 de<br />

Setembro, publicada no DR - I série-B n.º 217, que aprovou<br />

as normas de segurança contra incêndio a observar na<br />

exploração dos estabelecimentosde tipo Administrativo.<br />

- Decreto-Lei n.º 414/98, de 31 de Dezembro, publicado<br />

no DR - I série-A n.º 301, rectificado pelo DR n.º 44/99,<br />

Série I-A de 27 de Fevereiro, que aprovou o regulamento<br />

de segurança contra incêndio em edifícios Escolares, e<br />

respectiva Portaria n.º 1444/2002, de 07 de Novembro,<br />

publicada no DR - I Série-B n.º 257, que aprovou as<br />

normas de segurança contra incêndio a observar na<br />

exploração dos estabelecimentosEscolares.<br />

- Decreto-Lei n.º 368/99, de 18 Setembro, publicado no DR<br />

- I Série-A n.º 219, que aprovou a protecção contra<br />

incêndio em Estabelecimentos Comerciais com área igual<br />

ou superior a 300m 2 ou de substâncias perigosas<br />

independentemente da área, e respectiva Portaria n.º<br />

1299/2001, de 21 de Novembro, publicada no DR - I<br />

Série-B n.º 5270, que aprovou as medidas de segurança<br />

contra incêndio a observar em Estabelecimentos<br />

Comerciais ou Prestação de Serviços com área inferior a<br />

300 m2.<br />

- As disposições relativas à segurança contra incêndio<br />

constantes do Decreto Regulamentar n.º 34/95, de 16 de<br />

Dezembro, publicado no DR - I série-B n.º 289, que<br />

aprovou o regulamento das condições técnicas e de<br />

segurança dos Recintos de Espectáculos e de<br />

Divertimentos Públicos, e do Decreto-Lei n.º 309/2002,<br />

de 16 de Dezembro, publicado no DR - I Série A n.º 290,<br />

que aprovou a revisão do regime geral aplicável aos<br />

Recintos de Espectáculos e de Divertimentos Públicos da<br />

competênciadas autarquias locais.<br />

– As disposições relativas à segurança contra incêndio<br />

constantes do Decreto Regulamentar n.º 10/2001, de 7<br />

de Junho, publicado no DR – I série-B n.º 132, que<br />

aprovou o regulamento das condições técnicas e de<br />

segurança dos Estádios, e do Decreto-Lei n.º 317/97, de<br />

25 de Novembro, publicado no DR - I série-A n.º 273, que<br />

aprovou o regime de instalação e funcionamento das<br />

164


ARTIGO TÉCNICO<br />

InstalaçõesDesportivas de uso público.<br />

- As disposições relativas à segurança contra incêndio<br />

constantes do Decreto Regulamentar n.º 5/97, de 13 de<br />

Março, publicado no DR – I série-B n.º 75, que aprovou o<br />

regulamento das condições técnicas e de segurança dos<br />

Recintoscom Diversões Aquáticas.<br />

4. Conclusão<br />

A necessidade de constante actualização de conhecimentos,<br />

imposta quer pela evolução técnica, tecnológica e<br />

concepcional das instalações, quer pela evolução<br />

regulamentar nos diversos domínios de projecto é um<br />

desafio para os diversos agentes interveniente na área da<br />

segurançade pessoas e bens.<br />

A actual existência de um conjunto significativo de<br />

Regulamentos de Segurança, Normas de Segurança e<br />

Medidas de Segurança Contra Incêndio, traduz-se na<br />

dispersão da regulamentação por um número excessivo de<br />

diplomas, o que a torna volumosa e de interpretação<br />

problemática e mesmo, em alguns casos, parcialmente<br />

incoerentee repetitiva.<br />

A futura publicação do Regulamento Geral de Segurança<br />

Contra Incêndio em Edifícios e consequente revogação dos<br />

diversos diplomas actualmente em vigor, vêm realizar um<br />

novo enquadramento regulamentar de segurança contra<br />

incêndio, mais coerente e completo, e abrangendo a<br />

totalidadede edifícios existentes.<br />

No presente artigo pretendeu-se sistematizar a actual<br />

legislação de segurança contra incêndio em edifícios, assim<br />

como apresentar o futuro Regulamento de Segurança Contra<br />

Incêndio em Edifícios, de forma a permitir antecipar o<br />

conhecimento do diploma por parte dos diversos agentes<br />

intervenientes na temática da protecção de pessoas,<br />

instalaçõese bens.<br />

165


166<br />

ARTIGO TÉCNICO


ARTIGO TÉCNICO<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

Segurança em Edifícios<br />

Sistemas de Circuito Fechado de Televisão<br />

1. Enquadramento<br />

Para que os ocupantes e operadores possam usufruir na<br />

plenitude dos edifícios, estes devem satisfazer requisitos<br />

arquitectónicos, funcionais, ecológicos, económicos e de<br />

segurança.<br />

O fim e a utilização a que se destina cada edifício<br />

determinam a selecção, instalação e implementação de<br />

diferentes medidas de protecção e segurança, de forma a<br />

assegurar e controlar os aspectos de segurança das diversas<br />

valênciasdas instalações,equipamentos e ocupantes.<br />

Independentemente do risco ou complexidade de cada<br />

instalação, deverão ser estudados, desenvolvidos e<br />

implementados sistemas de protecção e segurança, capazes<br />

de garantir o conforto e a segurança dos ocupantes e a<br />

protecçãode bens.<br />

2. A Videovigilância como Valência de Segurança em<br />

Edifícios<br />

É cada vez mais frequente o recurso à videovigilância através<br />

de sistemas de circuitos fechados de televisão (Closed Circuit<br />

Television – CCTV), quer como elementos isolados de<br />

vigilância, quer como elementos de complemento dos<br />

sistemas de segurança, em geral, e, em particular, dos<br />

sistemas de detecção automática de intrusão e controlo de<br />

acessos.<br />

Embora existam dispositivos pertencentes ao CCTV que<br />

podem realizar a detecção automática de intrusão, os<br />

sistemas de CCTV não são, habitualmente, designados de<br />

sistemas de segurança, mas sim, sistemas de vigilância. Não<br />

tendo por isso, normalmente, uma missão de vigilância com<br />

detecção automática de intrusão, mas sim a vigilância como<br />

elemento de suporte ao controlo e à intervenção humana.<br />

A segurança contra incêndios, nas áreas de redução e<br />

protecção do risco, são a principal vertente da segurança em<br />

edifícios. A segurança contra intrusão, controlo de acessos,<br />

videovigilância e alarmes técnicos são outras vertentes<br />

fundamentaisno garante da segurança em edifícios.<br />

Além da visualização de imagem, em tempo real, os sistemas<br />

de CCTV permitem a gravação e arquivo dessas mesmas<br />

imagens, que posteriormente poderão ser consultadas, se tal<br />

for necessário.<br />

A instalação de sistemas de CCTV é, assim, hoje em dia, um<br />

facto generalizado motivado, por um lado, pela necessidade<br />

de proceder ao controlo e à protecção de pessoas e bens e,<br />

por outro, pelo reduzido custo destes sistemas.<br />

Fonte: www.siemens.com<br />

167


ARTIGO TÉCNICO<br />

3. Áreas de Intervenção dos Sistemas de Videovigilância<br />

A utilização dos sistemas de videovigilância através de<br />

sistemas de Circuito Fechado de Televisão encontra-se,<br />

actualmente, generalizada a todas as áreas de actividade,<br />

desde a comercial, industrial, serviços, recintos desportivos,<br />

estabelecimentos de ensino, actividade portuária e<br />

aeroportuária,vias de circulação até à área residencial.<br />

De entre as inúmeras vantagens da utilização de sistemas de<br />

CCTV, podemos destacar<br />

- Aumento da segurança física das instalações;<br />

- Aumento da segurança e do conforto dos utilizadores<br />

das instalações;<br />

- Facilidade no controlo dos acessos de pessoas internas e<br />

externas às organizações;<br />

- Facilidade no controlo de viaturas próprias e externas às<br />

organizações;<br />

- Supervisão de pontos de venda e atendimento a clientes;<br />

- Controlo e gestão eficaz em processos produtivos;<br />

- Controlo mais eficaz das instalações;<br />

- Possibilidade de acesso remoto via internet, de qualquer<br />

ponto do mundo, em tempo real;<br />

- Flexibilidade na utilização do sistema.<br />

- Vigilância de veículos de transporte público (comboios,<br />

metro, barcos, …);<br />

- Vigilânciade zonas públicas em hotéis, casinos;<br />

- Vigilânciade parques de estacionamento;<br />

- Vigilânciade zonas pedonais;<br />

- Análise facial para identificaçãode pessoas;<br />

- Sondas médicas;<br />

4. Arquitectura de um Sistema de Videovigilância<br />

A arquitectura de um sistema de videovigilância pode ser<br />

dividida em quatro grupos principais:<br />

- Recolha de imagem<br />

Corresponde às unidades que fazem a transformação do<br />

sinal óptico (imagem) em sinal eléctrico, sendo constituída<br />

pelos elementos de conversão da zona visualizada num sinal<br />

de vídeo.<br />

É composto essencialmente pelas câmaras, lentes, suportes<br />

e caixas.<br />

- Transmissão do sinal<br />

Como utilização mais comum dos sistemas de CCTV,<br />

podemos destacar a vídeo vigilância e segurança em:<br />

- Estabelecimentoscomerciais;<br />

- Bancos;<br />

- Oficinas;<br />

- Edifíciospúblicos;<br />

- Portose aeroportos;<br />

- Moradias.<br />

Outras aplicações, mais específicas da utilização de sistemas<br />

de CCTV são:<br />

- Monitorizaçãode tráfego em pontes e estradas;<br />

- Monitorizaçãode processosindustriais;<br />

- Vigilância de áreas interditas à presença humana tais<br />

como: fornos, zonas tóxicas, submersas, etc.<br />

- Vigilânciade sítios sem iluminação;<br />

Responsável pelo transporte do sinal recolhido pelo grupo<br />

anterior, até à zona de processamento, controlo e comando<br />

e monitorização da imagem.<br />

A transmissão do sinal é realizada, essencialmente, por cabo<br />

coaxial, par troçado ou cabo de fibra-óptica.<br />

- Processamento do sinal, controlo, comando e gravação<br />

da imagem<br />

Constituído pelo conjunto de equipamentos responsáveis<br />

pelo processamento, controlo e comando e gravação da<br />

imagem, proveniente do grupo de recolha.<br />

É composto essencialmente selectores, multiplexadores e<br />

gravadores.<br />

168


ARTIGO TÉCNICO<br />

- Monitorizarão da Imagem<br />

- Tipos de Lentes<br />

Constituído pelos equipamentos de recepção do sinal de<br />

vídeo, que voltam a fazer a transformação do sinal eléctrico<br />

em sinal óptico, observável pelo olho humano e que permite<br />

a visualização das imagens.<br />

o<br />

o<br />

o<br />

Focagem variável ou fixa;<br />

Íris manual ou automática<br />

Filtros IR<br />

A monitorização da imagem é realizada em monitores<br />

dedicadosou em monitores de computadores.<br />

Figura 2 – Diversos tipos de lentes de um sistema de videovigilância<br />

- Tipos de Câmaras<br />

Figura 1 – Vista Geral de uma Sala de Segurança<br />

o<br />

o<br />

o<br />

Fixas<br />

MiniDome<br />

SpeedDome<br />

5. Tecnologia dos Sistemas de Videovigilância<br />

Podendoser a preto e branco, cor ou day/night.<br />

- Tipo de Sistemas<br />

o<br />

o<br />

Analógico<br />

Digital<br />

Nos sistemas digitais, destacamos o sistema IP (Internet<br />

Protocol), que pode-se dizer, veio revolucionar os sistemas<br />

de videovigilância, uma vez que permite novas<br />

funcionalidades como o acesso ao sistema, através de uma<br />

rede interna, ou à distância, via internet.<br />

Figura 3 – Diversos tipos de câmaras de um sistema de<br />

videovigilância<br />

Fonte: www.siemens.com<br />

169


ARTIGO TÉCNICO<br />

- Suportes e caixas<br />

- Gravador<br />

Os suportes são os elementos de fixação das câmaras.<br />

As caixas são os elementos de protecção e, por vezes, de<br />

dissimulaçãodas câmaras.<br />

É o elemento responsável pela gravação das imagens, para<br />

posteriorvisualização.<br />

o GravadoresAnalógicos<br />

São a solução tradicional para a gravação do sinal de<br />

vídeo. São aparelhos que permitem a gravação do<br />

sinal de vídeo em fitas magnéticas, bastante<br />

semelhantesaos aparelhos domésticos.<br />

Com o surgimento dos sistemas digitais este tipo de<br />

solução de gravação da imagem está a cair em<br />

desuso .<br />

Figura 4 – Suportes e caixas<br />

- Monitores<br />

Figura 6 – Gravador analógico<br />

Embora ainda se encontrem em utilização monitores do tipo<br />

CRT (cathode ray tube), os monitores mais largamente<br />

utilizados hoje em dia são do tipo TFT (Thin Film<br />

Transmitter).<br />

Os monitores podem ser monocromáticos ou policromáticos.<br />

o Gravadoresdigitais<br />

Actualmente, com o surgimento do digital e dos<br />

sistemas IP, a gravação é realizada em discos duros<br />

de sistemas dedicados (gravadores digitais<br />

autónomos) ou nos discos dos computadores.<br />

Figura 5 – Monitores CRT e TFT<br />

Figura 7 – Gravador digital<br />

170


ARTIGO TÉCNICO<br />

6. Arquitectura Geral dos Sistemas de Videovigilância<br />

De seguida apresentam-se alguns exemplos de configurações gerais de sistemas de CCTV, envolvendo as diversas tecnologias<br />

anteriormentedescritas.<br />

- Sistema tradicional<br />

Câmaras<br />

Quadri<br />

Multiplexer<br />

Sequenciador<br />

Gravador<br />

Monitor<br />

- Sistema com Gravador Digital Simples<br />

Câmaras<br />

Sequenciador<br />

Gravador<br />

Monitor<br />

- Sistema com Transmissão por TCP/IP<br />

Câmaras<br />

Sequenciador<br />

Gravador<br />

Monitor<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

ADSL<br />

ISDN<br />

PSTN<br />

Ethernet<br />

Acesso<br />

Remoto<br />

171


ARTIGO TÉCNICO<br />

7. Conclusão<br />

Os sistemas de videovigilância são cada vez mais uma importante valência na segurança dos edifícios, de forma a garantir a<br />

segurançade pessoas instalaçõese bens.<br />

A instalação de sistemas de Circuito Fechado de Televisão é, hoje em dia, um facto generalizado motivado, por um lado, pela<br />

necessidadede proceder à protecção de pessoas e bens e, por outro, pela flexibilidade e baixo preço destes sistemas.<br />

Actualmente os sistemas de Circuito Fechado de Televisão estão presentes em todas as áreas de actividade, desde o comércio,<br />

industria, até ao sector habitacional.<br />

Imagem adaptada de: http://www.solid-state-logic.com/broadcastsound/C100%20HD%20Range/C100_HD_gallery.asp<br />

172


ARTIGO TÉCNICO<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

Sistemas Automáticos de Segurança<br />

Detecção de Monóxido de Carbono<br />

Resumo<br />

A segurança de pessoas e bens é um aspecto fundamental na<br />

qualidade de vida das pessoas.<br />

Os sistemas automáticos de segurança em geral, e os sistemas<br />

automáticos de detecção de Monóxido de Carbono (CO) em<br />

particular, visam assegurar a protecção das pessoas em locais cuja<br />

qualidade atmosférica as possa por em perigo.<br />

O Monóxido de Carbono é um gás inflamável, que se mistura<br />

facilmente no ar ambiente, muito perigoso devido à sua elevada<br />

toxicidade e que sendo inodoro, incolor e insípido, não permite que<br />

os ocupantes das instalações tenham consciência de estar expostas<br />

a uma atmosfera susceptível de lhes provocar intoxicações e, até,<br />

mesmo a morte.<br />

O Monóxido de Carbono, que constitui a maior parte da poluição<br />

do ar, é resultado, essencialmente, da combustão incompleta de<br />

combustíveis fósseis.<br />

O Monóxido de Carbono forma com a hemoglobina do sangue, um<br />

composto mais estável do que hemoglobina e o oxigénio, podendo<br />

levar à morte por asfixia. Concentrações abaixo de 400 ppm (parte<br />

por milhão – medida de concentração) no ar causam dores de<br />

cabeça e acima deste valor são potencialmente mortais.<br />

O presente artigo aborda, em geral, a temática da detecção de<br />

monóxido de carbono, no que se refere aos aspectos<br />

regulamentares, técnicas e tecnológicos da mesma, que possam<br />

servir as pessoas em geral e os projectistas e instaladores em<br />

particular.<br />

1. Monóxido de Carbono<br />

O Monóxido de Carbono (CO) é formado pela combinação de<br />

um átomo de carbono e um átomo de oxigénio.<br />

É um gás extremamente perigoso devido à sua elevada<br />

toxidade, que se mistura facilmente no ar ambiente, e que<br />

sendo inodoro, incolor e insípido, não permite que os<br />

ocupantes das instalações tenham consciência de estar<br />

expostas a uma atmosfera susceptível de lhes provocar<br />

intoxicaçõese, até, mesmo a morte.<br />

O Monóxido de Carbono não se vê, não se cheira, não se<br />

ouve, mas mata.<br />

2. Principais Fontes de Monóxido de Carbono<br />

O Monóxido de Carbono (CO), que constitui a maior parte da<br />

poluição do ar, é resultado, essencialmente, da combustão<br />

incompletade combustíveis fósseis.<br />

Os incêndios florestais e o tráfego rodoviário são os<br />

principais exemplos de fontes de poluição por Monóxido de<br />

Carbono, podendo ser, também, formado por oxidação de<br />

poluentesorgânicos, tais como o metano.<br />

No sector residencial, muitos aparelhos usados no dia-a-dia<br />

funcionam com base em combustíveis – sólidos (lenhas,<br />

carvão), líquidos (petróleo, gasóleo) ou gasosos (gás natural,<br />

propano, butano ou GPL), cuja queima pode, também, ser<br />

fonte de CO, nomeadamente:<br />

- Caldeiras(a lenha, carvão, gás e gasóleo)<br />

- Salamandras (a lenha ou carvão)<br />

- Esquentadores(a gás)<br />

- Aquecedoresportáteis (a GPL, ou a petróleo)<br />

- Fogões (a lenha, carvão e gás)<br />

- Braseiras(a carvão)<br />

As condutas e chaminés obstruídas ou mal dimensionadas,<br />

provocando uma deficiente saída dos produtos da<br />

combustão, podem igualmente, motivar o aumento da<br />

concentraçãode monóxido carbono.<br />

As garagens e aparcamentos de veículos automóveis<br />

cobertos são, igualmente, locais com elevado potencial<br />

produção e concentração de Monóxido de Carbono e, por<br />

conseguinte, de perigo potencial para as pessoas que os<br />

utilizam.<br />

173


ARTIGO TÉCNICO<br />

3. Efeitos do Monóxido de Carbono na Saúde<br />

O Monóxido de Carbono (CO) penetra no organismo através<br />

da respiração e entra nos pulmões e no sangue,<br />

combinando-se com a hemoglobina, diminuindo a<br />

capacidade de transporte de oxigénio dos pulmões até aos<br />

tecidos.<br />

A exposição a este poluente traduz-se em dificuldades<br />

respiratórias e asfixia, principalmente para os indivíduos com<br />

problemas cardiovasculares. Para além disso este poluente<br />

provoca também a diminuição da percepção visual, destreza<br />

manual e capacidade de trabalho.<br />

Existem dois tipos de intoxicaçãopor monóxido de carbono:<br />

- A intoxicação crónica, cujos sintomas são dores de<br />

cabeça, náuseas, vómitos e cansaço, a qual se poderá<br />

desenvolver de forma lenta e afecta pessoas<br />

habitualmente expostas às concentrações elevadas de<br />

CO;<br />

- A intoxicação aguda, que provoca vertigens, fraqueza<br />

muscular, distúrbios visuais, taquicardia, perturbações<br />

de comportamento, desmaios e, no limite, o coma e<br />

mesmo a morte.<br />

No que se refere ao sector residencial, a análise dos<br />

acidentes resultantes de intoxicações com CO, efectuadas<br />

com base nos dados do sistema EHLASS / Sistema Europeu<br />

de Vigilância de Acidentes Domésticos e de Lazer, entre os<br />

anos de 1987 e 1999 mostra que a maioria dos<br />

acidentes/intoxicações por gás ou Monóxido de Carbono<br />

ocorrem no Outono/Inverno e têm a sua origem em<br />

equipamentos para aquecimento (por exemplo salamandras<br />

e caldeiras) que, normalmente por esquecimento, são<br />

deixadas acesas durante a noite.<br />

A perigosidade destes acidentes reflecte-se no elevado<br />

número de hospitalizações e óbitos registados anualmente,<br />

com origem no Monóxido de Carbono (9% dos acidentes<br />

ocorridos por intoxicação / envenenamento). A taxa de<br />

letalidade (relação entre o numero de óbitos e o número de<br />

vítimas) também é elevada: 5%.<br />

174<br />

Os grupos mais susceptíveis aos efeitos do CO são as<br />

crianças, as pessoas idosas e as pessoas com doenças<br />

cardíacas, respiratórias ou anemia. Os trabalhadores de<br />

garagens e polícias de trânsito estão muito expostos à<br />

presença deste gás, pois os automóveis libertam para a<br />

atmosfera elevadas quantidades de monóxido de carbono.<br />

As nossas casas podem, igualmente, ter problemas de<br />

acumulação de CO, sendo que em Portugal entre os anos de<br />

1995 e 2003, o número de mortes ocorridas por efeito tóxico<br />

de monóxido de carbono foi de 268, o que corresponde a<br />

quase 30 mortes por ano.<br />

4. Protecção Geral Contra a Intoxicação por Monóxido de<br />

Carbono<br />

Caso se verifique uma intoxicação por inalação de Monóxido<br />

de Carbono, deverão de imediato ser tomadas algumas<br />

medidas para protecção da vítima, nomeadamente:<br />

- Arejar o local;<br />

- Desligar os aparelhos que possam estar na origem do<br />

acidente;<br />

- Evacuar a vítima para fora da atmosfera tóxica, o mais<br />

rapidamente possível, e colocá¬-la em repouso,<br />

preferencialmente,deitada;<br />

- Chamar os serviços médicos de emergência<br />

Contudo, dever-se-á sempre tomar medidas que permitam<br />

prevenir a ocorrência deste tipo de acidentes que poderão<br />

passar por:<br />

- Garantir que os aparelhos de queima são instalados de<br />

acordo com as normas e especificações técnicos em vigor<br />

e por entidades reconhecidas;<br />

- Proceder à manutenção regular dos aparelhos que<br />

utilizem combustíveis fósseis, recorrendo aos serviços de<br />

entidadesreconhecidas;<br />

- Providenciar, periodicamente, inspecções às instalações<br />

de gás, realizadas por entidades devidamente<br />

reconhecidaspara o efeito.<br />

- Proceder à limpeza regular dos queimadores dos fogões<br />

a gás, caso estes apresentarem sinais de estarem<br />

obstruídos, no caso da mistura ar-gás não se efectuar nas<br />

melhores condições, originando maior produção de CO;


ARTIGO TÉCNICO<br />

- Não manter em funcionamento o motor do automóvel<br />

dentro de uma garagem fechada, uma vez que a<br />

quantidadede CO libertada pode tornar-se perigosa.<br />

- Não adquirir aparelhos que não respeitem as normas de<br />

segurança;<br />

As medidas anteriormente mencionadas poderão ser<br />

complementadas com a instalação de um Sistema de<br />

Detecção Automática de Monóxido de Carbono, que de uma<br />

forma autónoma e automática detecta as concentrações<br />

perigosas de monóxido de carbono e, de acordo com essas<br />

concentrações, promove medidas de sinalização e de<br />

redução desses níveis de concentração, por extracção e/ou<br />

insuflaçãode ar.<br />

Edifícios (SCIE), no seu artigo 185.º, determina as<br />

características dos sistemas automáticos de detecção de gás<br />

combustível, nomeadamente no que se refere à constituição<br />

dos mesmos.<br />

Assim um sistema de detecção automática de Monóxido de<br />

Carbono será constituído pelos seguintes elementos,<br />

devidamentehomologados e compatíveis entre si:<br />

- Unidade de controlo e sinalização;<br />

- Detectores;<br />

- Sinalizadoresóptico-acústicos;<br />

- Transmissoresde dados;<br />

- Cabos<br />

- Canalizações<br />

5. Detecção Automática de Monóxido de Carbono<br />

5.1. Definição<br />

Um sistema de detecção e alarme de Monóxido de Carbono<br />

(CO) é uma instalação técnica com a capacidade de medir e<br />

comparar automaticamente a concentração de Monóxido de<br />

Carbono, e quando essas concentrações atingirem valores<br />

acima dos valores pré-estabelecidos, sinalizar e executar<br />

todas as acções definidas como necessárias, para garantir o<br />

aviso e a protecção dos seres vivos.<br />

5.2. Enquadramento Regulamentar<br />

O enquadramento regulamentar de segurança contra<br />

incêndio em edifícios, encontra-se definido pela Portaria n.º<br />

1532/2008 de 29 de Dezembro aprovou e publicou o<br />

Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />

Edifícios (SCIE), conforme determinado no artigo 15ª do<br />

Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro que aprovou o<br />

regime jurídico da segurança contra incêndios em edifícios<br />

(SCIE) e, que, entre outros aspectos, aborda a questão da<br />

detecçãode gases e do controlo da poluição do ar.<br />

5.3. Constituição Geral do Sistema<br />

O Regulamento Técnico de Segurança Contra Incêndio em<br />

A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de<br />

detecçãode monóxido de carbono:<br />

Detectores<br />

Automáticos<br />

Outros<br />

Imputs<br />

Alimentação<br />

Rede<br />

Gestão Técnica<br />

Centralizada<br />

Unidade de<br />

Controlo e<br />

Sinalização<br />

Figura 1 – Arquitectura Geral de um Sistema Automático de<br />

Detecção de Monóxido de Carbono<br />

- Unidade de Controlo e Sinalização<br />

A Unidade de Controlo e Sinalização (Central de Detecção e<br />

Alarme) é o “cérebro” do sistema.<br />

Sinalizadores<br />

Ópticos-<br />

Acústicos<br />

Sistemas de<br />

Extracção/Insu<br />

flação Ar<br />

Outros<br />

Outputs<br />

Alimentação<br />

Emergência<br />

175


ARTIGO TÉCNICO<br />

É um equipamento electrónico programável, capaz de<br />

interpretar correctamente as informações vindas dos<br />

detectores automáticos e de outros tipos de inputs, de<br />

monitorizar o funcionamento dos diversos elementos e<br />

respectivos circuitos, gerar sinalização e executar comandos,<br />

em conformidade com a programação predefinida.<br />

As Unidade de Controlo e Sinalização podem ser, em termos<br />

funcionais,divididas em dois grupos principais:<br />

- Sistema de Zonas;<br />

São sistemas de pequenas dimensões em que as acções<br />

são definidas por zona.<br />

- Sistema Endereçável.<br />

São sistemas de grandes dimensões em que as acções<br />

podem ser definidas por elemento.<br />

- Detectores<br />

Tem como função realizar a medição dos níveis de<br />

concentração de monóxido de carbono e de transmitir essa<br />

informaçãoà central.<br />

técnicas dos fabricantes dos equipamentos, de modo a<br />

verificar quais as áreas de protecção efectivas dos mesmos.<br />

c) Altura de Colocação<br />

O Monóxido de carbono é um gás menos denso que o ar,<br />

pelo que tem tendência para subir e, por conseguinte,<br />

acumular-sena parte superior das instalações.<br />

Gás Fórmula Volume Molar Densidade em<br />

Relação ao Ar<br />

Monóxido CO 22,40 0,967<br />

Carbono<br />

Tabela 1 – Características do Monóxido de Carbono<br />

O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />

Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina que os<br />

detectores do sistema automático de monóxido de carbono<br />

devem ser instaladosa uma altura de 1,5 m do pavimento.<br />

d) Sinalizadores Óptico-Acústicos<br />

a) Tecnologias<br />

As tecnologias detecção, varia de fabricantes pata fabricante<br />

de equipamento, mas, de um modo geral, as mais utilizadas<br />

são as seguintes:<br />

- Electroquímicos;<br />

- Pelistor;<br />

- Catalitico<br />

- Semicondutor.<br />

b) Área de Protecção<br />

O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />

Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º, determina que os<br />

detectores do sistema automático de monóxido de carbono<br />

devem ser distribuídos uniformemente de modo a cobrir<br />

áreas inferiores a 400 m² por cada detector.<br />

Dever-se-á, no entanto, ter em atenção as especificações<br />

O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />

Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina quando for<br />

atingida a concentração de 200 ppm de monóxido de<br />

carbono, as pessoas devem ser avisadas através de um<br />

alarme óptico e acústico colocado junto às entradas do<br />

espaço em questão, por cima das portas de acesso e no<br />

interior nos nós de circulação.<br />

A referida sinalização é realizada através de sinalizadores<br />

óptico-acústicos, normalmente construídos em caixa<br />

metálica, que possuirão no visor frontal a inscrição<br />

«Atmosfera Saturada-CO», a qual será iluminada em caso de<br />

alarme e possuirão também, um avisador acústico<br />

incorporado, com som intermitente.<br />

e) Canalizações<br />

Neste particular salienta-se o disposto no Artigo 77.º -<br />

Protecção dos circuitos das instalações de segurança,<br />

176


ARTIGO TÉCNICO<br />

do Regulamentode Segurança Contra Incêndio em Edifícios.<br />

.<br />

f) Alimentaçãode Energia Eléctrica<br />

O sistema de detecção automática de monóxido de carbono<br />

deve, em situação normal de funcionamento, ser alimentado<br />

pela rede eléctrica 230V/50 Hz.<br />

O Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em<br />

Edifícios (SCIE), no seu artigo 180.º determina que o sistema<br />

automático de detecção de monóxido de carbono deverá<br />

dispor de uma fonte local de energia, capaz de garantir o<br />

funcionamento do mesmo por um período não inferior a 60<br />

minutos em caso de falha de energia da rede.<br />

No caso particular do Monóxido de Carbono, quanto mais<br />

rápido for detectada a sua presença, menores serão os<br />

perigos e danos provocados por ele, podendo mesmo<br />

poupar-sevidas.<br />

No projecto e instalação de sistemas de segurança, em geral<br />

e, de detecção automática de Monóxido de Carbono, em<br />

particular, é fundamental o conhecimento profundo dos<br />

aspectos regulamentares que enquadram a área, assim como<br />

o conhecimento técnico e tecnológicos sobre os<br />

equipamentos disponíveis no mercado, de modo a garantir<br />

que os equipamentos especificados são os mais indicados,<br />

quer em termos características e qualidade, quer em termos<br />

económicos.<br />

g) Simbologia de Projecto<br />

A simbologia a utilizar no projecto de Sistemas de Detecção<br />

Automáticade Monóxido de Carbono é a seguinte:<br />

Central de Detecção de Monóxido<br />

de Carbono<br />

Sinalizador de Atmosfera Perigosa<br />

(CO)<br />

Detector de Monóxido de Carbono<br />

Cada vez mais, existem parques de estacionamento cobertos<br />

e os espaços para actividades de lazer e de compras são,<br />

também, dotados de parques de estacionamento cobertos,<br />

potenciando o perigo de concentrações de CO perigosos<br />

para as pessoas.<br />

A existência de equipamentos de detecção automática da<br />

presença de gases tóxicos confere às pessoas uma maior<br />

confiança nos espaços de utilização e, consequentemente,<br />

uma maior qualidade de vida.<br />

Devendo, em cada peça desenhada, constar da legenda os<br />

símbolos utilizadosnessa peça.<br />

6. Considerações Finais<br />

Este artigo visou abordar aspectos regulamentares, técnicos,<br />

tecnológicos e conceptuais, ao nível do projecto e da<br />

instalação de Sistemas Automáticos de Detecção de<br />

Monóxido de Carbono.<br />

Uma segura, fiável e rápida detecção de presença de gases<br />

tóxicos, que possam colocar em perigo a vida de pessoas e<br />

animais, é um componente crucial de um conceito geral de<br />

sistemasde segurança e protecção.<br />

A qualidade de vida e a protecção das pessoas constituem,<br />

cada vez mais, um processo concomitante das sociedades<br />

modernas, para isso contribuindo em geral os sistemas<br />

automáticos de segurança e, em particular, os sistemas<br />

automáticosde detecção de Monóxido de Carbono.<br />

Fontes de Informação Relevantes<br />

[1] Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de Novembro, regime<br />

jurídico da segurança contra incêndios em edifícios.<br />

[2] Portaria n.º 1532/2008 de 29 de Dezembro, Regulamento<br />

Técnicode Segurança contra Incêndio em Edifícios.<br />

[3] www.dgge.pt<br />

[4] www.fichet.pt<br />

[5] Fire ProtectionHandbook, NFPA<br />

[6] www.nfpa.org<br />

177


DIVULGAÇÃO<br />

LABORATÓRIO DE SISTEMAS DE ENERGIA<br />

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA<br />

INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />

O Laboratório de Sistemas de Energia (LSE) é uma instalação de apoio ao ensino e aos trabalhos de investigação e<br />

desenvolvimento no âmbito do curso de Engenharia Electrotécnica do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto<br />

Superior de Engenharia do Porto.<br />

Esta infra-estrutura é utilizada por uma equipa constituída por docentes, técnicos e alunos da área dos Sistemas Eléctricos de<br />

Energia, que dispõem de equipamento técnico e laboratorial que proporciona a simulação dos diversos efeitos eléctricos e<br />

electrónicos,o que constitui uma contribuição decisiva para a tão necessária preparação prática dos estudantes.<br />

O LSE é constituído por equipamento que incorpora inovação tecnológica e funcionalidades avançadas, incluindo analisadores<br />

de energia, kits de células de combustível e painéis fotovoltaicos, bancadas experimentais, simuladores de defeitos e outros<br />

equipamentosde monitorizaçãode energia em redes eléctricas.<br />

TRABALHOS REALIZADOS NO LABORATÓRIO DE SISTEMAS DE ENERGIA<br />

Doutora Teresa Alexandra Nogueira<br />

Directora Laboratório Sistemas Energia<br />

• Medição da resistênciade Terra<br />

• Simulação da Compensação do Factor de Potência num Sistema de<br />

Energia<br />

• Simulação no Simulink de um Sistema Trifásicocom Cargas RL e RC<br />

• Manobras de Ligação de Alternadores num SEE sem Interrupção de<br />

Serviço<br />

• Pilha de combustível<br />

• Utilização de Contactores no arranque Estrela-Triângulo e Inversão do<br />

seu sentido marcha<br />

• Simulação computacional da colocação em serviço de uma linha de<br />

transporteque alimenta uma carga indutiva<br />

• Observação das componentes harmónicas da onda de corrente<br />

• Verificaçãoexperimental e computacional do efeito Ferranti<br />

• Ensaio de uma linha de transporte: Curto-circuito simétrico trifásico e<br />

Curto-circuitoassimétrico:bifásico e monofásico<br />

• Simulação da geração de energia eléctrica em rede isolada<br />

• Simulação em MatLab-Simulink de Fenómenos Transitórios em<br />

CircuitosEléctricos<br />

|178


ARTIGO TÉCNICO<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

SISTEMAS DE CONTROLO DE ACESSO<br />

RESUMO<br />

A segurança, o conforto, a funcionalidade e a fiabilidade dos<br />

sistemas que integram as instalações são aspectos<br />

fundamentaisna qualidadede vida das pessoas.<br />

Os sistemas de controlo de acessos são, cada vez mais, um<br />

elemento facilitador da gestão dos espaços essenciais à<br />

dinâmica funcional das instalações e um meio imprescindível<br />

de controlo da actividadenas organizações.<br />

O presente artigo aborda a temática do controlo de acessos,<br />

no que se refere, essencialmente, aos aspectos técnicos e<br />

tecnológicosdos mesmos.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Os sistemas de controlo de acesso visam a permissão de<br />

acesso, em função de parâmetros pré-ajustados, tais como,<br />

locais de acessos, horários de acesso,....<br />

A sua base de funcionamento é a permissão de acesso<br />

apenas a utilizadoresautorizados.<br />

O sistema de controlo de acessos pode ser interligado a<br />

sistemas de gestão técnica centralizada, sistemas<br />

automáticos de detecção de intrusão e sistemas de vídeo<br />

vigilância, integrando e complementando o funcionamento<br />

destessistemas.<br />

3 PRINCIPAIS VANTAGENS<br />

As principais vantagens de um sistema de controlo de<br />

acessossão:<br />

- Segurança<br />

- Fiabilidade<br />

- Conforto<br />

- Flexibilidade<br />

- Integração<br />

4 CONSTITUIÇÃO GERAL DO SISTEMA<br />

A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de<br />

controlo de acessos:<br />

Gestão Técnica<br />

Centralizada<br />

Imagem adaptada de: www.boydelectronics.co.uk<br />

Software de<br />

Gestão<br />

2 FUNÇÕES PRINCIPAIS<br />

As funções principais de um sistema de controlo de acessos<br />

são:<br />

- Definiçãode áreas de acesso;<br />

- Definiçãode direitos de acesso por área;<br />

- Definiçãode horários de acesso;<br />

- Definiçãode percursos de acesso;<br />

- Seguimento e localização;<br />

- Registoautomático de entradas e saídas;<br />

- Alarme em caso de entrada forçada em zonas com<br />

acesso condicionado.<br />

Leitores<br />

Sensores<br />

Automáticos<br />

Botões<br />

Manuais<br />

Contactos<br />

Outros<br />

Inputs<br />

Alimentação<br />

da Rede<br />

Unidade de<br />

Controlo<br />

Trincos<br />

Eléctricos<br />

Sinalização<br />

Outros<br />

Outputs<br />

Alimentação<br />

de Socorro<br />

Figura 1 – Constituição geral de sistema de controlo de acessos<br />

179


ARTIGO TÉCNICO<br />

4.1 UNIDADE DE CONTROLO<br />

4.3 CONTACTOS<br />

A Unidade de Controlo é o “cérebro” do sistema. É neste<br />

equipamento que são ligados todos os periféricos (leitores,<br />

sensores, botões, trincos eléctricos,…) e a partir do qual<br />

sairá, ou não, uma ordem de abertura, dependendo das<br />

definições de acessos e da validade dos dados recebidos<br />

pelos elementos periféricos.<br />

São os elementos de informação do estado do sistema.<br />

Podem ser de dois tipos:<br />

- Magnéticos;<br />

- Mecânicos.<br />

4.4 BOTÕES MANUAIS<br />

Os sistemas de controlo de acessos dividem-se em dois<br />

grupos principais:<br />

- Sistemas em Rede;<br />

- Sistemas Stand Alone.<br />

4.2 LEITORES<br />

São utilizados normalmente como elementos de saída,<br />

quando não se justifique a utilização de leitores nos dois<br />

lados das portas.<br />

Estes botões quando pressionados, actuam um contacto que<br />

vai gerar o pedido de abertura à central de controlo de<br />

acessos.<br />

São o meio de interacção do utilizador com o sistema.<br />

Podem ser de diversos tipos:<br />

- Teclado;<br />

- Banda Magnética;<br />

- Proximidade;<br />

- Códigos de barras;<br />

- Ópticos;<br />

- Biométricos(leitura da íris, impressão digital)<br />

Podem ainda combinar duas ou mais das tecnologias acima<br />

referidas.<br />

4.5 CARTÕES<br />

São utilizados em alguns dos sistemas anteriormente<br />

referidos. Para esses sistemas, os cartões são as chaves do<br />

sistema.<br />

Imagem: www.engineeringnews.co.za<br />

Imagem adaptada de: www.siemens.com<br />

180


ARTIGO TÉCNICO<br />

4.6 TRINCOS ELÉCTRICOS<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

São as fechaduras do sistema. Permitem, para utilizadores<br />

autorizados,a abertura das portas e o acesso aos espaços.<br />

Este artigo visou abordar aspectos técnicos, tecnológicos e<br />

conceptuais,dos sistemas de controlo de acessos.<br />

4.7 ALIMENTAÇÃO DO SISTEMA<br />

A alimentação de energia eléctrica do sistema em condições<br />

normais de funcionamento deverá ser realizada através da<br />

rede de energia eléctrica devendo para o efeito ser prevista<br />

uma alimentação vinda do Quadro Eléctricoda instalação.<br />

O sistema deverá ainda ter uma alimentação própria de<br />

socorro que garanta o seu funcionamento em caso de falha<br />

da alimentação normal da rede.<br />

Os sistemas de controlo de acesso são sistemas<br />

tecnologicamente maduros e que cada vez mais são uma<br />

realidade nas instalações, potenciando uma mais eficaz<br />

gestão dos espaços e dos utentes desses mesmos espaços,<br />

de uma forma segura, simples, fiável e económica.<br />

Em instalações com sistemas de controlo de acessos, a<br />

alteração das condições de acesso de um utilizador, é<br />

realizada de uma forma simples, rápida, cómoda e<br />

económica, contrariamenteàs instalaçõestradicionais.<br />

4.8 SOFTWARES DE GESTÃO<br />

Destinam-se, essencialmente, a controlar e gerir a totalidade<br />

do sistema de controlo de acessos a partir de um ou<br />

diversos postos.<br />

Através de interfaces gráficas, o utilizador, gere de uma<br />

forma simples e intuitiva a totalidade do(s) sistema(s).<br />

Para além da gestão e supervisão de funcionamento dos<br />

sistemas que recebe, permitem a geração de relatórios com<br />

os eventos recebidos pelo sistema, tornando-se numa<br />

ferramenta muito útil para gestores e responsáveis de<br />

empresas e entidades.<br />

4.9 GESTÃO TÉCNICA CENTRALIZADA<br />

A Gestão Centralizada consiste na integração dos diversos<br />

sistemas existentes numa instalação para que o seu<br />

comando, controlo e operação possam ser realizados de uma<br />

forma centralizadanum sistema de gestão.<br />

A gestão centralizada normalmente só é utilizada em<br />

instalações grandes e complexas, de forma a facilitar o<br />

comando, controlo e operação dos diversos sistemas.<br />

Imagem adaptada de: www.siemens.com (Jin Mao Tower )<br />

181


CURIOSIDADE<br />

Imagem adaptada de: www.siemens.com (Jin Mao Tower )<br />

182


ARTIGO TÉCNICO<br />

António Augusto Araújo Gomes; Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

SEGURANÇA CONTRA INTRUSÃO<br />

HABITAÇÃO<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O crescente aumento da criminalidade, com especial<br />

incidência nos crimes contra a propriedade, levou a um forte<br />

incremento na procura e instalação de Sistemas Automáticos<br />

de Detecção de Intrusão (SADI).<br />

A instalação de um SADI não pode ser analisada numa<br />

perspectiva exclusivamente monetária, ignorando-se uma<br />

série de outros aspectos, como por exemplo, o facto de,<br />

aquando de um assalto, além do roubo e/ou vandalismo de<br />

bens de elevado valor comercial, poder ocorrer também o<br />

roubo e/ou vandalismo de bens de baixo valor comercial,<br />

mas de elevado valor sentimental, além de que podem<br />

também ocorrer danos físicos e/ou psicológicos nos<br />

ocupantesdas instalações.<br />

A instalação de um SADI torna-se, assim, fundamental como<br />

elemento de garantia do bem-estar e da segurança das<br />

pessoas, velando pela sua salvaguarda e pela salvaguarda<br />

dos seus bens, fazendo hoje (quase), obrigatoriamente,<br />

parte dos sistemas aplicados no sector da habitação,<br />

serviços, comércio e indústria.<br />

A instalação de sistemas automáticos de detecção de<br />

intrusão tornou-se, deste modo, hoje em dia, uma<br />

necessidade e um facto generalizado, em todos os sectores<br />

de actividade, desde o comércio, serviços, industria até á<br />

habitação, motivado, por um lado, pela necessidade de<br />

proceder à protecção de pessoas e bens, mas também, pela<br />

confiabilidadee baixo preço destes sistemas.<br />

2 CONSTITUIÇÃO DE UM SISTEMA DE DETECÇÃO DE INTRUSÃO<br />

É um equipamento ou conjunto de equipamentos integrados<br />

entre si, com o intuito de vigiar determinado espaço e, que<br />

em caso de intrusão (tentativa de entrada concretizada ou<br />

não), accione meios sonoros (Sirene), luminosos (Flash) ou<br />

ainda electrónicos (Comunicadores Telefónicos, ligados ou<br />

não a Centrais de Recepção de Alarmes, etc), com vista à<br />

dissuasãodos actores do acto.<br />

Tipicamente, um SADI para uma moradia é constituído por<br />

uma central de intrusão por zonas, com um número de zonas<br />

de acordo com as dimensões e características<br />

arquitectónicas da instalação, um ou vários painéis de<br />

comando do sistema localizados nas entradas/saídas,<br />

detectores automáticos normalmente passivos de<br />

infravermelhos ou de dupla tecnologia, contactos de alarme<br />

e meios de sinalização, regra geral uma sirene óptico<br />

acústica auto alimentada de exterior e uma sirene acústica<br />

de interior, bem como, um sistema de transmissão do<br />

alarme, normalmente um comunicador telefónico.<br />

A figura 1, mostra a arquitectura geral de um sistema de<br />

detecçãoautomática de intrusão.<br />

Gestão Técnica<br />

Centralizada<br />

Detectores<br />

Automáticos<br />

Contactos<br />

Botões de<br />

Alrme<br />

Pedais de<br />

Alarme<br />

Unidade<br />

de<br />

Controlo<br />

Painel de<br />

Operação<br />

Sinalização<br />

Óptico/Acústica<br />

Sinalização à<br />

Distância<br />

Um sistema automático de detecção de intrusão é um<br />

sistema que automaticamente detecta e sinaliza uma<br />

tentativade intrusão.<br />

Outros<br />

Inputs<br />

Alimentação<br />

da Rede<br />

Outros Outputs<br />

Alimentação de<br />

Socorro<br />

Figura 1 – Constituição geral de sistema um SADI<br />

183


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.1 CENTRAL DE INTRUSÃO<br />

A Central de Intrusão (CI) é o cérebro de todo o sistema. É a<br />

este equipamento que são ligados todos os periféricos<br />

(Detectores, Painéis de Operação, Sirenes, …) e, a partir do<br />

qual poderá ser enviada uma ordem de acção, em função<br />

dos dados recebidos dos periféricos.<br />

zonas por meio de interfaces de endereçamento<br />

conseguindo-se, assim, soluções mais funcionais e mais<br />

fáceis de gerir. Embora este equipamento seja mais caro,<br />

quando comparado com o equipamento dos sistemas de<br />

zonas, a possibilidade de economia em cablagem e em mãode-obra,<br />

aquando da realização da instalação, contribui para<br />

uma atenuação do diferencial de custos.<br />

2.1.1 SELECÇÃO DO TIPO DE CENTRAL<br />

2.1.2 LOCALIZAÇÃO<br />

A selecção do tipo de Central de Intrusão é um aspecto<br />

fundamental para realizar uma eficaz protecção das<br />

instalações e deverá ser realizada de acordo com o tipo de<br />

instalaçãoque se está a projectar.<br />

Os principais elementos a ter em conta na escolha da central<br />

de intrusão, são: o número de zonas de base, a possibilidade<br />

de expansão do número de zonas, o número de painéis de<br />

operação necessários, a capacidade de registo em memória<br />

de eventos, a possibilidade de integração com sistemas de<br />

gestão centralizada, a fiabilidade e, obviamente, o preço<br />

bem como a estéticado equipamento.<br />

O tipo e a capacidade da CI deverão, assim, ser escolhidos<br />

em função dos parâmetros anteriormente mencionados,<br />

destacando-se de entre todos a dimensão da instalação a<br />

proteger e o número de zonas requeridas pelo sistema.<br />

Com efeito, para instalações de pequena/média dimensão,<br />

são normalmente utilizadas centrais por zonas, onde cada<br />

zona deverá corresponder a uma área protegida. Existem no<br />

mercado variadas gamas com 4, 6, 8, 10, 12 e 16 zonas,<br />

podendo mesmo chegar às centenas de zonas.<br />

Para instalações de média/grande dimensão, cujos sistemas<br />

requeridos são, normalmente, de maior dimensão e mais<br />

complexos, sendo necessárias um número bastante elevado<br />

de zonas e em que as distâncias dos locais a proteger à<br />

Central de Intrusão possam ser significativas, será vantajosa<br />

a utilização de sistemas endereçáveis. Estes sistemas<br />

contemplam a existência e um bus onde estarão ligadas as<br />

184<br />

A localização da CI dependerá essencialmente do facto de<br />

esta ter, ou não, painel de comando incorporado.<br />

Se a CI não tiver painel de controlo incorporado, que é o caso<br />

mais frequente, esta poderá e deverá ser instalada numa<br />

zona técnica, em local seguro e protegido, já que depois de<br />

realizada a sua cablagem e programação, todas as restantes<br />

operaçõesestarão disponíveis nos painéis de controlo.<br />

Se a CI tiver painel de comando incorporado, como é o caso<br />

de pequenos sistemas, esta deverá ficar localizada num lugar<br />

de fácil acesso que permita, além da sua cablagem e<br />

programação, um acesso fácil aos futuros utilizadores do<br />

sistema.<br />

2.1.3 SELECÇÃO DO TIPO D E ZONA<br />

Embora possam variar de fabricante para fabricante de<br />

equipamento, de uma forma geral, são consideradas as<br />

seguintesfuncionalidadesdas zonas de detecção:<br />

• Zona de Intrusão<br />

- Instantânea<br />

Quando o sistema se encontra “activado” esta zona tem<br />

um funcionamento instantâneo.<br />

- Entrada/saída<br />

- Seguimento de zonas de entrada/saída<br />

• Zona de Pânico<br />

• Zona de Ataque<br />

• Zona de Incêndio<br />

• Zona de Sabotagem<br />

• Zona Técnica (Gás, Inundação, Humidade,<br />

Temperatura,...)


ARTIGO TÉCNICO<br />

A programação da funcionalidade da zona deverá ser<br />

realizada de acordo com a finalidade da mesma.<br />

Dependendo do tipo de equipamento, esta poderá ser<br />

realizada através do painel de operação e/ou através de<br />

softwarevia computador.<br />

2.3 DETECTORES AUTOMÁTICOS<br />

Os Detectores automáticos são os “olhos” do sistema, são<br />

eles os elementos responsáveis pela detecção da tentativa<br />

de intrusão e respectiva comunicação à Central de Intrusão.<br />

2.2 PAINEL DE OPERAÇÃO<br />

Os Painéis de Operação são os equipamentos que permitem<br />

o acesso ao sistema, quer para programação, quer para<br />

utilização.<br />

O princípio de funcionamento dos detectores e a filosofia de<br />

detecção a utilizar, vai determinar a escolha correcta dos<br />

detectoresde intrusão.<br />

2.3.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO<br />

Em pequenos sistemas, os Painéis de Operação podem<br />

encontrar-se integrados na própria Central de Intrusão,<br />

reunindo-se desta forma a central e o painel de operação<br />

num só equipamento. No entanto, o mais vulgar é que a<br />

central e os painéis se encontrem separados, sendo estes<br />

interligadose instaladosem diversos locais da instalação.<br />

O acesso aos Painéis de Operação deve ser protegido por<br />

códigos de segurança, que inibam as entradas indevidas no<br />

sistema. Normalmente, existem códigos diferenciados para<br />

“Código Mestre”, que tem acesso a todas as funções, com<br />

excepção da programação do sistema, “Código Engenheiro”,<br />

com acesso à programação e testes do sistema e “Códigos de<br />

Utilizador” que usualmente tem acesso a armar e desarmar o<br />

sistema, leitura de incidências, alarme parcial e inibição de<br />

zonas.<br />

Os detectores automáticos agrupam-se em dois grandes<br />

grupos de acordo com o seu princípio de funcionamento:<br />

• Passivos, que funcionam como receptores e que através<br />

de um sensor, registam alterações na sua área de<br />

cobertura. São exemplo deste tipo de detectores, os<br />

detectores passivos de infravermelhos, detectores<br />

acústicosde quebra de vidros e os detectoressísmicos.<br />

• Activos, que funcionam como um transmissor e um<br />

receptor, sendo que o transmissor envia um sinal ao<br />

receptor, que o recebe e avalia, determinado nível de<br />

variação em relação a um valor padrão origina o envio de<br />

um sinal para a central. Transmissor e receptor, podem<br />

constituir elementos separados, ou estar incluídos numa<br />

mesma unidade. São exemplo deste tipo de detectores,<br />

as Barreiras de infravermelhos, os detectores ultrasónicose<br />

os detectores de micro-ondas.<br />

Existe também a possibilidade de, em situações particulares,<br />

permitir o aceso ao sistema através de chave, dispositivo<br />

codificadovia rádio ou via infravermelhos.<br />

2.3.2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO<br />

<br />

Detectores Passivos de Infravermelhos<br />

O número de Painéis de Controlo que poderão ser utilizados<br />

depende das característicasda CI que estiver a ser utilizada.<br />

Sendo Os Painéis de Controlo o interface utilizador/sistema,<br />

são uma parte importantíssima do sistema. Por isso, deverão<br />

estar localizados em locais com acesso fácil e rápido, dentro<br />

do(s) percurso(s) normais de entrada (entrada principal,<br />

garagem, etc. ), de forma a que o tempo necessário para<br />

activação e desactivação do alarme seja o mais curto<br />

possível.<br />

São os detectores automáticos, mais utilizados, pois<br />

permitem realizar a protecção de uma forma eficiente em<br />

praticamentetodas as situações.<br />

O seu princípio de funcionamento baseia-se no facto de<br />

todos os elementos (paredes, mobiliário, animais, corpo<br />

humano, etc.) irradiarem energia na zona do infravermelho,<br />

de acordo com a temperatura das suas superfícies.<br />

185


ARTIGO TÉCNICO<br />

Essa energia é recebida por um sensor piroeléctrico colocado<br />

no detector, através de zonas de vigilância, criando aquando<br />

do arme do sistema uma imagem da quantidade de<br />

infravermelho no espaço de vigilância.<br />

Quando alguém penetra na zona de vigilância do detector, a<br />

temperatura medida sofre alteração, gerando-se então o<br />

sinal de alarme.<br />

A geração do sinal de alarme, é feita pela temperatura<br />

medida e pela taxa de variação desta temperatura.<br />

Estes detectores, embora sendo os mais baratos, poderão,<br />

em certas situações particulares, não garantir o melhor<br />

funcionamento do sistema e provocar alarmes<br />

intempestivos, como é o caso da protecção de locais em que<br />

possam existir fontes de calor (lareiras, radiadores) ou<br />

janelas com a incidência directa do sol que poderão variar<br />

bruscamentede temperatura.<br />

A existência de falsos alarme é um factor decisivo para a<br />

perda de confiança e descrédito no sistema, pelo que deverá<br />

ser sempre minimizado, através da escolha certa do tipo de<br />

detector a utilizar, em função das suas condições particulares<br />

de implementação.<br />

Assim, em instalações onde se possam verificar qualquer<br />

uma das situações anteriormente descritas, recomenda-se a<br />

utilização de detectores de dupla tecnologia (Passivos de<br />

Infravermelhos e de Micro Ondas), que permitem minimizar<br />

a possibilidadede falsos alarmes.<br />

Detectores de Dupla Tecnologia (Passivos de<br />

Infravermelhos e de Micro-Ondas)<br />

O princípio de funcionamento do detector passivo de infravermelhos<br />

já foi referido anteriormente. Relativamente ao<br />

princípio de funcionamento de um ultra-sónico de<br />

movimento, baseia-se na existência de um transmissor que<br />

envia continuamente ondas sonoras a frequências não<br />

audíveis para a área de detecção.<br />

Um receptor dotado de um microfone, recebe e avalia a<br />

frequênciadetectada.<br />

Se algum elemento (pessoa, animal, objecto, etc.), penetrar<br />

na área de protecção do detector, devido ao Efeito Doppler,<br />

vai verificar-se um aumento de frequência do sinal emitido,<br />

se o intruso se aproximar do detector e uma diminuição,<br />

caso se esteja a afastar. O detector ao detectar a alteração<br />

da frequência do sinal, gera a informação de alarme.<br />

Detectores Acústicos de Quebra de Vidros<br />

Para situações particulares, nomeadamente para protecção<br />

periféricam, poderá ser utilizado outro tipo de detectores,<br />

sendo os mais usuais os detectores acústicos de quebra de<br />

vidros.<br />

O seu princípio de funcionamento baseia-se na existência de<br />

uma superfície em contacto com o vidro, por onde são<br />

transmitidas a um sensor piezoeléctrico, as vibrações desse<br />

mesmo vidro.<br />

Aquando de uma tentativa de intrusão, quando o vidro se<br />

parte, gera frequências entre os 0,1 MHz e 1 MHz. O sensor<br />

do detector avalia a amplitude, frequência e duração desse<br />

sinal, gerando o alarme, quando se ultrapassam certos<br />

valores, pré-definidos.<br />

A actuação de um detector de dupla tecnologia, assenta na<br />

combinação dos dois sinais de alarme, do detector passivos<br />

de Infravermelhos e do detector de micro-ondas, reduzindo<br />

assim o risco dos falsos alarmes anteriormentereferidos.<br />

Barreiras de Infra-vermelhos<br />

São constituídas por um transmissor e um receptor. O<br />

receptor emite para o receptor, um feixe de luz na zona do<br />

infravermelho, modulado, para protecção contra luz<br />

exterior.<br />

186


ARTIGO TÉCNICO<br />

O receptor mede a intensidade e frequência do feixe,<br />

podendo ainda medir também a sua fase.<br />

Ao haver interposição de um corpo entre o transmissor e o<br />

receptor, as características do feixe são alteradas ou o feixe é<br />

interrompido, o que gera sinalização de alarme.<br />

- Detectoresde pressão para vitrinas<br />

- Sistema de protecção de quadros<br />

- Detectoresquebra-vidros<br />

- Detectoresde vibrações<br />

- Detectoresde metais<br />

- Sistemas de raio X<br />

São normalmente utilizadas para a vigilância de corredores,<br />

passagens,paredes, janelas, portas, etc..<br />

Existem, também, versões para utilização no exterior, para a<br />

realização de uma protecção perimétrica, mas a sua<br />

utilização pode originar falsos alarmes, por exemplo, devido<br />

à presença de nevoeiro.<br />

Cabo Electrostático Subterrâneo<br />

É composto por um par de cabos enterrados, em cuja malha<br />

existem pontos favoráveis ao estabelecimento de um campo<br />

electromagnético (sinal de 40 MHz), que se estabelece ente<br />

os dois, um o transmissor e outro o receptor.<br />

A entrada de um intruso, provoca alteração no corpo<br />

electromagnético,que conduz á sinalização de alarme.<br />

É utilizado para protecção perimétrica, sendo imune aos<br />

fenómenos atmosféricos, como por exemplo o nevoeiro e o<br />

vento.<br />

Outros Detectores Automáticos<br />

Além dos detectores anteriormente descritos, ocupam um<br />

lugar privilegiado na detecção de intrusão, existe, no<br />

mercado uma vasta gama de detectores, nomeadamente,<br />

para detecção em condições muito especificas, para as quais<br />

os detectoresanteriormente descritos não são apropriados.<br />

Dentre esses detectoresdestacamos:<br />

- Barreirasde micro-ondas<br />

- Detectoresultra-sónicosde movimento<br />

- Detectoresmovimento por microondas<br />

- Detectoressísmicos<br />

De entre este conjunto de detectores, os normalmente, mais<br />

utilizados são os detectores passivos de infravermelhos e os<br />

detectores de dupla tecnologia (Passivos de Infravermelhos<br />

e de Micro Ondas), pois permitem realizar a protecção de<br />

uma forma eficienteem praticamentetodas as situações.<br />

Contudo, para situações particulares poderá ser utilizado<br />

outro tipo de detectores, sendo os mais usuais os detectores<br />

acústicos de quebra de vidros, detectores sísmicos ou<br />

detectoresde pressão.<br />

Os detectores passivos de infravermelhos, embora sendo<br />

mais baratos que os de dupla tecnologia, poderão, em certas<br />

situações particulares, não garantir o melhor funcionamento,<br />

como é o caso da protecção de locais em que possam existir<br />

fontes de calor (lareiras, radiadores) ou janelas com a<br />

incidência directa do sol que poderão variar bruscamente de<br />

temperatura. Estas condições poderão provocar alarmes<br />

intempestivos.<br />

A localização e instalação dos detectores automáticos serão<br />

outros dos aspectos a estudar cuidadosamente, na fase de<br />

projecto, pois a sua localização será um factor determinante<br />

no correcto funcionamento de todo o sistema.<br />

Conforme foi referido, há que analisar potenciais fontes de<br />

calor que poderão interferir no funcionamento do sensor,<br />

causando falsos alarmes. Também a presença de animais e<br />

as janelas ou vidraças são também aspectos a ter em conta.<br />

A especificação e instalação de um detector deverá atender<br />

aos requisitos mencionados na sua ficha técnica,<br />

nomeadamente, no que se refere à sua área de protecção,<br />

altura de instalaçãoe distância a outros objectos.<br />

187


ARTIGO TÉCNICO<br />

Normalmente os detectores são instalados a uma altura de<br />

2,20 metros e na interligação de duas paredes do volume a<br />

proteger.<br />

Relativamente à sua ligação, os detectores possuem a<br />

ligação da alimentação vinda da CI, três contactos de ligação<br />

do relé de alarme, “Comum”, “Normalmente Aberto” e<br />

“Normalmente Fechado” que irão mudar de estado em caso<br />

de intrusão e comunicar esse alarme à CI e ainda um<br />

contacto de tamper que se destina a impedir a sabotagem<br />

do detector, quando o sistema se encontra em<br />

funcionamento “modo dia” e por conseguinte com a<br />

informaçãode alarme inibida na CI.<br />

Assim, os Contactos Magnéticos e Contactos de Pressão,<br />

além de elementos de detecção poderão, também, ter a<br />

função acessória de detecção, como complemento à<br />

detecção realizada pelos detectores automáticos. No caso de<br />

entradas/saídas deverão, assim, ser utilizados os contactos<br />

de alarme nas portas para definição da temporização da<br />

zona de entrada/saída de forma a que os detectores<br />

automáticos dessa zona só tenham uma temporização de<br />

actuação se antes for actuado o contacto da porta. Este<br />

procedimento visa garantir que se a zona de entrada/saída<br />

não for a definida previamente (por exemplo se uma janela<br />

for arrombada) o sistema instantaneamente dê o alarme,<br />

minimizando os efeitos da tentativa de intrusão ou da<br />

intrusão.<br />

2.4 CONTACTOS DE ALARME<br />

São, normalmente, utilizados para realizar uma protecção<br />

localizada em portas, janelas ou objectos, como<br />

complemento à protecção volumétrica de interior, realizada<br />

pelos detectores automáticosde intrusão.<br />

São baratos e não provocam falsos alarmes.<br />

2.4.1 CONTACTOS MAGNÉTICOS<br />

2.5 BOTÕES MANUAIS E PEDAIS DE ALARME<br />

Os Botões e Pedais de Alarme são elementos<br />

complementarres de protecção, de actuação manual, de<br />

complemento à detecção realizada pelos outros elementos<br />

de detecção, cuja actuação será realizada pelos próprios<br />

utilizadores do sistema em caso de necessidade, por pânico<br />

ou emergência, mesmo quando o sistema se encontra<br />

desarmado.<br />

São constituídos por um magnete permanente e por um<br />

interruptor. Quando o magnete está posicionado junto ao<br />

interruptor, este está fechado, não havendo alarme, se o<br />

magnete se afastar, o interruptor abre, gerando alarme.<br />

2.4.2 CONTACTOS DE VIGILÂNCIA<br />

São constituídos por um micro-interruptor, que quando<br />

pressionado, mantém o circuito fechado, não existindo<br />

alarme. Se deixar de existir esta pressão, ele abre, gerando o<br />

alarme.<br />

Os contactos de alarme são normalmente utilizados para<br />

realizar uma protecção localizada em portas, janelas ou<br />

objectos e definir temporizações para actuação dos<br />

detectoreslocalizadosnos percursos de entrada/saída.<br />

São dispositivos que quando pressionados, actuam um<br />

contactoque vai gerar o alarme.<br />

São elementos acessórios de protecção, de actuação manual,<br />

de complemento à detecção realizada pelos outros<br />

elementos de detecção, cuja actuação será realizada pelos<br />

próprios utilizadoresdo sistema em caso de necessidade.<br />

2.6 OUTROS INPUTS<br />

Além dos detectores automáticos, contactos de alarme e<br />

botões e pedais de alarme o sistema pode receber outros<br />

tipos de informações, caso o utilizador entenda poderem<br />

servir de complemento aos elementos descritos.<br />

188


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.6 SINALIZADORES DE ALARME<br />

Existem, basicamente, dois tipos de sinalizadores de alarme:<br />

os sinalizadores óptico-acústicos auto-alimentados de<br />

exterior e os sinalizadoresacústicos de interior.<br />

Existem em diversas formas, tamanhos e cores e a sua<br />

finalidade é, em caso de alarme, emitirem sinais sonoros<br />

e/ou luminosos, sinalizando assim uma situação<br />

potencialmenteanormal.<br />

Os sinalizadores de alarme óptico-acústicos autoalimentados<br />

de exterior têm como função dar um alarme no<br />

exterior das instalações para que alguém possa tomar<br />

conhecimento do alarme e agir em conformidade com essa<br />

mesma situação. Deverão ser instalados em locais bem<br />

visíveis e de difícil acesso. Na maioria das instalações é<br />

suficientea instalação de um destes dispositivos.<br />

Para sinalização do alarme no interior da instalação deverá<br />

ser prevista a colocação de sirenes interiores, devidamente<br />

distribuídas, para que o alarme seja audível em todos os<br />

locais da instalação.<br />

- Se pretender alertar os proprietários quando estes se<br />

encontrem ausentes<br />

- Se pretenda a realização de um contrato de vigilância<br />

com uma empresa de segurança<br />

- Se pretenda a comunicação da intrusão ou da tentativa<br />

de intrusão às forças policiais.<br />

Assim, esta sinalização poderá ser realizada recorrendo a<br />

meios de transmissão do alarme, dos quais destacamos:<br />

• Comunicador telefónico<br />

É o meio mais generalizado e económico de transmissão do<br />

alarme à distância. Em caso de alarme a Central de Intrusão<br />

envia um sinal ao comunicador telefónico que<br />

posteriormente efectua uma ou várias chamadas telefónicas<br />

para números pré-definidos para transmissão da informação<br />

de alarme. Desta forma, se existir um alarme, o cliente será<br />

alertado pelo próprio sistema, podendo assim tomar a<br />

atitude que considerar mais adequada (telefonar à polícia,<br />

alertar o vizinho, etc.).<br />

• Sistema Transmissor/Receptor<br />

A instalação de um alarme sonoro, pressupõe a Declaração<br />

de Instalação de Alarme Sonoro, nos termos do DL 297/99,<br />

de 04 de Agosto, que refere que após a instalação do sistema<br />

de alarme sonoro, e antes da sua colocação em<br />

funcionamento, o proprietário ou o utilizador deverá<br />

proceder à entrega da Declaração de Instalação de Alarme<br />

Sonoro, devendo para isso dirigir-se ao Governo Civil do<br />

Distrito onde foi instalado o alarme e entregar a respectiva<br />

declaração.<br />

2.7 SINALIZAÇÃO DE ALARME À DISTÂNCIA<br />

Tão importante como o alarme local poderá ser a<br />

transmissãoà distânciadesse alarme.<br />

A sinalização do alarme à distância dever-se-á utilizar nas<br />

seguintessituações:<br />

- A instalação se encontrar isolada<br />

É um sistema para aviso à distância de qualquer situação de<br />

alarme ou avaria, via par telefónico privativo. Embora exija<br />

uma linha telefónica dedicada, pode em algumas<br />

circunstâncias, ser mais fiável do que o comunicador<br />

telefónico, pois não há forma de interromper o sinal sem<br />

que tal seja detectado.<br />

É constituído por um órgão emissor de sinal instalado junto<br />

da Central de Intrusão e por uma unidade receptora<br />

instaladana entidade receptora de alarmes.<br />

O órgão receptor é alimentado pelo órgão emissor via par<br />

telefónico privativo, o qual tem energia de socorro garantida<br />

pela Central de Intrusão. Incorpora, ainda, uma bateria<br />

alcalina para que, em caso de corte de linha telefónica,<br />

sinalize óptica e acusticamente a situação. Dispõe, também,<br />

de um botão de impulso para paragem do acústico.<br />

189


ARTIGO TÉCNICO<br />

De acordo com o tipo de comunicador utilizado as<br />

necessidadesao nível do projecto serão:<br />

- Utilizaçãoda rede fixa<br />

Prever a existência de um comunicador e uma linha<br />

telefónica<br />

- Utilizaçãoda rede móvel<br />

Prever a existência de um comunicador de GSM<br />

- Utilizaçãode um sistema emissor/receptor<br />

Prever a existência de uma linha dedicada e um sistema<br />

emissor/receptor<br />

Além dos meios de sinalização de alarme descritos, podemos<br />

ter outros tipos meios, ou o desencadear de outro tipo de<br />

acções, caso a instalaçãoassim o exija.<br />

2.8 ALIMENTAÇÃO<br />

A alimentação de energia eléctrica do sistema em condições<br />

normais de funcionamento deverá ser realizada através da<br />

rede de energia eléctrica devendo para o efeito ser prevista<br />

uma alimentação vinda do Quadro Eléctricoda instalação.<br />

Estes sistemas de transmissão de alarme à distância são<br />

normalmente colocados junto da central de detecção de<br />

intrusão, em zona técnica prevista para esse efeito.<br />

O sistema deverá ainda ter uma alimentação própria de<br />

emergência que garanta o seu funcionamento em caso de<br />

falha da alimentação normal da rede.<br />

Figura 2 – Equipamento diverso de um sistema de detecção automática de intrusão<br />

190


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.9 CABLAGEM<br />

O tipo e número de condutores a utilizar para a interligação<br />

dos diversos equipamentos anteriormente apresentados,<br />

dependerá do tipo de equipamento que estiver a ser<br />

utilizado e, por conseguinte, deverá ser verificado nos<br />

manuais de instalação dos equipamentos disponibilizados<br />

pelos fabricantesdos mesmos.<br />

No entanto, é usual a utilizaçãodos seguintes condutores:<br />

- Painéis de Comando<br />

Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com<br />

condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm2. Como exemplos<br />

teremos os cabos TVHV 6x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 3x2x0,8<br />

mm2.<br />

- Rede de distribuição de detectores automáticos<br />

Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes condutores de<br />

secções de 0,5 ou 0,8 mm 2 . Como exemplos teremos os<br />

cabos TVHV 3x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 2x2x0,8 mm 2 .<br />

dos cabos possuam cerca de 20 cm excedentes, para<br />

realizaçãodas respectivas ligações.<br />

Igualmente, deverão ser previstas pontas com o<br />

comprimento suficiente para a realização das cablagens no<br />

interior da CI, considerando que a sua base se deve situar a<br />

1,40 metros do solo.<br />

Não são permitidas emendas entre condutores nos<br />

percursos entre equipamentos e entre estes e a CI, devendo<br />

as interligações entre aqueles equipamentos ser realizadas<br />

unicamente a partir dos terminais existentes nas respectivas<br />

bases para esse efeito, não devendo se usadas caixas de<br />

derivação, mas apenas caixas de passagem, quando<br />

necessárias.<br />

Deverá ser prevista uma alimentação de energia eléctrica<br />

monofásica, para a CI, realizada, normalmente, em condutor<br />

H07V-U3G1,5mm 2 .<br />

3 INTEGRAÇÃO DE VALÊNCIAS NO SISTEMA AUTOMÁTICO DE<br />

DETECÇÃO DE INTRUSÃO<br />

- Sirene auto-alimentada de exterior<br />

Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com<br />

condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm 2 . Como exemplos<br />

teremos os cabos TVHV 6x2x0,5 mm 2 ou JY(st)Y 3x2x0,8<br />

mm 2 .<br />

- Sirene acústica de interior<br />

Cabos do tipo TVHV, JY(st)Y, ou equivalentes, com<br />

condutores de secções de 0,5 ou 0,8 mm 2 . Como exemplos<br />

teremos os cabos TVHV 3x2x0,5 mm2 ou JY(st)Y 2x2x0,8<br />

mm 2 .<br />

Estes circuitos deverão ser, normalmente, enfiados em tubo<br />

VD, embebidos em paredes, tectos e pavimento, à vista em<br />

abraçadeiras em zonas técnicas, à vista em abraçadeiras<br />

sobre tectos falsos, se acessíveis, ou em calha técnica, de<br />

acordo com as característicasda instalação em causa.<br />

Nos locais de montagem dos detectores, sirenes de alarme e<br />

painéis de comando, deverá prever-se que as extremidades<br />

Cada vez mais os edifícios são centros integrados de<br />

tecnologia e sistemas, que visam dar resposta aos requisitos<br />

de segurança, de funcionalidade, fiabilidade, flexibilidade,<br />

eficiência energética, conforto e de integração, requiridos na<br />

sua utilização, mas nos quais a redução dos custos de<br />

execução e exploração são cada vez mais determinantes no<br />

sucessodos mesmos.<br />

As moradias não fogem à regra desta evolução, tendo, cada<br />

vez mais, uma participação activa na vida das pessoas, sendo<br />

cada vez maiores as exigências nos domínios referidos.<br />

Neste sentido, no que se refere à segurança, a protecção de<br />

pessoas e bens numa moradia não se deve, nem pode,<br />

circunscrever somente à protecção contra tentativas de<br />

intrusão, mas também outras áreas importantes como a<br />

detecção de incêndio, inundação, gases combustíveis e<br />

monóxido de carbono.<br />

191


ARTIGO TÉCNICO<br />

A crescente utilização do gás como fonte de energia, quer<br />

para fogões, quer para aquecimento de água e aquecimento<br />

ambiente, implica também o crescente perigo da existência<br />

de fugas as quais poderão trazer graves consequências quer<br />

para os utilizadores quer para as próprias moradias, pois<br />

uma fuga de gás pode conduzir a uma intoxicação ou a uma<br />

explosão.<br />

Um outro perigo, que nem sempre é encarado<br />

conscientemente como um perigo real e presente, é o risco<br />

de incêndio, motivado pela enorme quantidade de<br />

substâncias combustíveis que se encontram dentro das<br />

habitações bem como ao crescente número de<br />

equipamentoseléctricosque equipam as mesmas.<br />

Essa ou essas zonas da central d eintrusão, deverão ser<br />

programadas como zonas de fogo. Desta forma, conseguirse-á<br />

detectar e sinalizar um incêndio na sua fase inicial<br />

facilitando, assim, o combate e extinção do mesmo,<br />

minimizando os riscos do mesmo.<br />

A detecção automática de presença de gás poderá ser<br />

realizada através da colocação de um ou vários detectores<br />

de gás que, encontrando-se interligados a uma ou várias<br />

zonas da central de intrusão, informam esta da ocorrência de<br />

uma fuga de gás, a qual realizará a sinalização do alarme.<br />

Adicionalmente, à sinalização do alarme, poderão ser<br />

desencadeadas acções de comando, nomeadamente o fecho<br />

de uma electroválvula de corte de gás.<br />

A possibilidade de ocorrência de inundações devido ao<br />

rebentamento de canos de água ou ao mau funcionamento<br />

de equipamentos como máquinas de lavar, máquinas de<br />

secar ou ainda pelo esquecimento de uma simples torneira<br />

aberta, constitui também uma situação de risco.<br />

Este tipo de situações de risco está sempre presente no<br />

nosso dia-a-dia e, não havendo possibilidade de as excluir,<br />

podemos com a adopção de sistemas adequados criar<br />

condições para que, caso se verifiquem, sejam detectadas e<br />

sinalizadas o mais cedo possível de forma a que os danos<br />

materiais e pessoais que possam vir a causar sejam<br />

minimizados.<br />

A detecção automática de inundação poderá ser realizada<br />

através da colocação de detectores de inundação nos locais<br />

com maior risco de fugas de água, como casas de banho e<br />

cozinhas. A integração desta valência pode ser realizada<br />

através da utilização de módulos de interface, aos quais são<br />

ligados os detectores de inundação ou através de detectores<br />

de inundação, autonomos, com contacto “seco” de alarme. A<br />

informação de inundação é transmitida a uma ou várias<br />

zonas da central de detecção de intrusão, que sinalizará o<br />

evento. Em complemento com a sinalização da ocorrência<br />

poderão ser, também, desencadeadas acções de comando<br />

como por exemplo o fecho de uma electroválvula de corte<br />

da alimentação de água.<br />

Para que se consiga alcançar esse objectivo de forma simples<br />

e a baixo custo poder-se-á optar pela integração no sistema<br />

de detecção automática de intrusão das diferentes áreas de<br />

segurançaanteriormente referidas.<br />

A detecção automática de incêndios pode ser integrada<br />

neste sistema mediante a utilização de um ou vários<br />

detectores automáticos de fumos ou termovelocimétricos,<br />

do tipo colectivo, acoplados a uma interface de incêndio, ou<br />

através de detectores com contacto “seco” de alarme,<br />

ligados a uma ou várias zonas da central de intrusão.<br />

As zonas da central de intrusão previstas para a detecção de<br />

presença de gás e inundação deverão ser programadas como<br />

zonas “24 horas” de modo a garantir que a protecção se<br />

encontra activa 24 horas por dia, independentemente da<br />

protecçãode intrusão se encontrar activada ou desactivada.<br />

Deste modo consegue-se a integração no sistema de<br />

detecção automática de intrusão as valências de detecção de<br />

incêndio, gás combustível, monóxido de carbono e<br />

inundaçãode uma forma simples, fiável e económica.<br />

192


ARTIGO TÉCNICO<br />

4 CONCLUSÕES<br />

Este artigo visou abordar aspectos técnicos e conceptuais, ao<br />

nível do projecto e da instalação de Sistemas Automáticos de<br />

Detecçãode Intrusão.<br />

A consciencialização da necessidade de protecção de pessoas<br />

e bens, a par da evolução tecnológica dos equipamentos,<br />

proporcionam formas eficazes de detecção e sinalização<br />

precoce de tentativas de intrusão e, consequentemente, a<br />

protecçãodos bens materiais das populações.<br />

A escolha e implementação destes sistemas são, hoje em<br />

dia, um elemento dissuasor e inibidor da criminalidade<br />

contra pessoas e bens.<br />

Actualmente, existe uma panóplia de sistemas e<br />

equipamentos em que a sua correcta utilização e instalação<br />

requer, à priori, uma colaboração estreita com técnicos<br />

devidamente credenciados, nomeadamente Engenheiros<br />

Electrotécnicose empresas especializadasneste sector.<br />

A escolha do melhor sistema e equipamentos requer uma<br />

análise cuidada das pretensões do requerente, bem como<br />

das especificidadespróprias da instalação.<br />

Assim, cada projecto é tratado individualmente, sendo alvo<br />

de uma análise cuidada por parte dos técnicos<br />

especializados,podendo diferir dos demais projectos.<br />

Embora estes sistemas representem um pequeno custo<br />

adicional ao valor global da instalação deverá ser sempre<br />

equacionada a sua instalação uma vez que é relativamente<br />

diminuto quando comparado com os potenciais prejuízos<br />

decorrentesdos actos que o sistema pretende evitar.<br />

Salienta-se ainda que sempre que se vai projectar, construir<br />

ou remodelar uma moradia, além da consideração no<br />

sistema de detecção automática de intrusão, da função<br />

detecção de intrusão, é fundamental a integração de outras<br />

valências de segurança, como a detecção de incêndio, gases<br />

combustíveis,monóxido de carbono e inundação.<br />

Essa integração pode ser realizada de uma forma simples e<br />

económica, aumentando significativamente a protecção dos<br />

utilizadoresdas instalaçõese a salvaguarda dos seus bens.<br />

193


DIVULGAÇÃO<br />

LABORATÓRIO DE DE ENERGIAS RENOVÁVEIS<br />

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA<br />

INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DO PORTO<br />

O Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) possui desde 2008 um laboratório de energias renováveis (LABNER)<br />

composto por um sistema híbrido de produção de energia em rede isolada. O sistema é constituído por um aerogerador de 900<br />

W e 4 painéis fotovoltaicos de 150 Wp cada, estando o sistema fotovoltaico equipado com um sistema capaz de fazer o<br />

seguimento solar de forma mono axial. Possui também todo o equipamento de regulação e controlo necessário ao<br />

funcionamentode cada um dos sistemas, criando assim uma micro rede a funcionar de forma isolada.<br />

Para além do sistema híbrido eólico/fotovoltaico, o laboratório de energias renováveis do ISEP possui uma bancada de fuel cels<br />

onde é possível fazer experiências com esta tecnologia.<br />

|194


ARTIGO TÉCNICO<br />

Energias Renováveis<br />

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />

artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área das Energias Renováveis.<br />

A utilização das energias renováveis foi uma das maiores apostas dos últimos anos constituindo, por isso, um sector estratégico<br />

para a economia portuguesa.<br />

As formas alternativas de produção de energia eléctrica dominam a actualidade sendo, cada vez mais, temas de investigação e<br />

projecto no âmbito da Engenharia Electrotécnica. Neste âmbito, são apresentados um conjunto de artigos técnico-científicos<br />

sobre os sistemas de conversão de energia mais relevantes, nomeadamente energia eólica, fotovoltaicae hídrica.<br />

A legislação que regula este sector é também alvo de análise nos diversos artigos publicados.<br />

195


ARTIGO TÉCNICO<br />

Índice<br />

Centrais Fotovoltaicas para a Microprodução<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

197<br />

Dimensionamento de Centrais Fotovoltaicas para a Microprodução<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

204<br />

Tipos de Tecnologias de Turbinas utilizadas nas Centrais Mini-Hídricas<br />

Pedro Daniel S. Gomes , Pedro Gerardo M. Fernandes , Nelson Ferreira da Silva<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

209<br />

196


ARTIGO TÉCNICO<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

Centrais Fotovoltaicas<br />

para a Microprodução<br />

1. Enquadramento<br />

Portugal, produz apenas uma pequena parte da energia que<br />

consome, toda a restante energia consumida é importada.<br />

Portugal apresenta uma forte dependência energética do<br />

exterior, das maiores da UE.<br />

Não explorando quaisquer recursos energéticos fósseis no<br />

seu território desde 1995 (quando deixou de extrair carvão),<br />

a sua própria produção de energia assenta exclusivamente<br />

no aproveitamento dos recursos renováveis, como sendo a<br />

água, o vento, a biomassa e outros em menor escala.<br />

Esta situação tem consequências directas na nossa<br />

economia, uma vez que o custo dos combustíveis fósseis<br />

importados encarece a produção de bens e serviços em<br />

território nacional. Para além disso tem também implicações<br />

sociais, pois representa custos acrescidospara o consumidor<br />

e reflecte-se no ambiente, devido à produção crescente de<br />

Gasescom Efeito de Estufa (GEE).<br />

No ano de 2008 a potência instalada em Portugal era de<br />

14916 MW, sendo que 30,7% dessa potência é da<br />

responsabilidade das centrais hidroeléctricas, 39,01% da<br />

responsabilidade de centrais termoeléctricas e 30,29% é<br />

referente a produção em regime especial (P.R.E.). De entre<br />

os P.R.E. destacam-se os 2624 MW da responsabilidade de<br />

produtores eólicos e apenas 50 MW instalados em sistemas<br />

fotovoltaicos[1].<br />

No entanto Portugal, à excepção do Chipre, tem a melhor<br />

insolação anual de toda a Europa, com valores 70%<br />

superiores aos verificados na Alemanha. Esta diferença leva<br />

a que o custo da electricidade produzida em condições<br />

idênticas seja 40% menor em Portugal. Este aspecto é uma<br />

enorme vantagem que tem de ser capitalizada.<br />

Fig.1 Irradiação solar (kWh/m2)<br />

197


ARTIGO TÉCNICO<br />

2. Produção Descentralizada<br />

Em Portugal, a produção de energia eléctrica através de<br />

instalações de pequena escala, utilizando fontes renováveis<br />

de energia ou processos de conversão de elevada eficiência<br />

energética, pode contribuir para uma alteração do panorama<br />

energéticoportuguês, de forte dependência do exterior.<br />

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei nº 363/2007 de 2 de<br />

Novembro, cujo objecto é o de estabelecer o regime jurídico<br />

aplicável à produção de electricidade por unidades de<br />

microprodução, a produção descentralizada, nomeadamente<br />

a produção através de centrais fotovoltaicas, atingiu uma<br />

grande dinâmica.<br />

Com a produção mais próxima dos locais de consumo<br />

energético consegue reduzir-se os custos de transporte e<br />

distribuição, permitindo a autonomia e redundância<br />

energética.<br />

Com a ligação destes equipamentos de produção às redes de<br />

baixa tensão, o paradigma do sistema energético muda.<br />

As redes de baixa tensão passam a assumir um protagonismo<br />

cada vez maior em termos da obtenção de uma maior<br />

eficiênciaeconómica e energética.<br />

A nível mundial também há a preocupação da produção<br />

descentralizada, salientando-se a Alemanha que foi um dos<br />

países pioneiros na utilização da energia fotovoltaica<br />

distribuída.<br />

Entre 1990 e 1995 promoveu um programa de instalação de<br />

painéis fotovoltaicos ligados à rede em 1.000 telhados, vindo<br />

a atingir a marca de 2.250 equipamentos, com potência<br />

média de 2,6 kWp por telhado, abrangendo mais de 40<br />

cidades. Este projecto foi um sucesso, o que deu origem a<br />

um novo programa. O “100.000 telhados solares” foi<br />

lançado, com o objectivo de alcançar 500 MW de geração de<br />

energia solar [2]. No final de 2008 a Alemanha tinha mais de<br />

5GW de potência instalada de origem fotovoltaica,<br />

apresentandotaxas de crescimento de 1,5 GW/ano.<br />

3. Componentes de uma Central Fotovoltaica<br />

Como o dimensionamento de centrais de microprodução<br />

fotovoltaicas é um assunto ainda novo mas em rápida<br />

evolução, nomeadamente em termos de necessidade de<br />

instalação, a formação de todos os agentes envolvidos no<br />

processoé ainda uma lacuna.<br />

É normal verem-se cometidos alguns erros de<br />

dimensionamento,instalaçãoe operação dos sistemas.<br />

Aspectos como a localização, a escolha do inversor, a escolha<br />

do tipo de painel fotovoltaico a instalar, o estudo da<br />

estrutura de suporte, a análise da potência à entrada (DC) e a<br />

injectar (AC) e a simulação do sistema antes da instalação<br />

são muitas vezes descurados pelos técnicos e projectistas,<br />

mas que assumem uma importância extrema para que o<br />

sistema escolhido funcione nas condições óptimas.<br />

Fig.2 Microprodução descentralizada<br />

198


ARTIGO TÉCNICO<br />

a) Localização<br />

O sistema fotovoltaico pode ser instalado em qualquer<br />

superfíciecom boa exposição solar.<br />

Para optimizar o rendimento do sistema fotovoltaico, este é<br />

adaptado às características arquitectónicas do edifício,<br />

podendo ser instalado em telhados inclinados ou planos,<br />

integrados nas fachadas ou em campo aberto. A orientação<br />

dos painéis também é um aspecto muito importante. Como<br />

Portugal está situado no hemisfério Norte a orientação ideal<br />

é voltada para sul.<br />

direcção do Sul e a projecção da linha do sol, próximo do<br />

intervalo compreendido entre 150° Este e 208° Oeste.<br />

O mesmo se passa se em vez de se analisar a radiação, se<br />

analisar a energia recebida. É facilmente perceptível pela<br />

figura 4 que o ponto de orientação em que a energia<br />

recebida é maior é com uma inclinação de 30° e orientada a<br />

Sul. No entanto é possível com uma inclinação e orientação<br />

diferentesobter a mesma energia.<br />

A localização da instalação é muito importante para se poder<br />

realizar um projecto mais coerente e real. Cada local tem<br />

uma incidência do sol distinta, alterando assim a produção<br />

de energia eléctrica.<br />

O estudo realizado na Alemanha, no Institut für Solare<br />

Energiesysteme (ISE), em Fraunhofer [3] consegue dar uma<br />

perfeita noção da variação da radiação solar com o ângulo de<br />

inclinação e a sua orientação (figura 3). De salientar que o<br />

referido instituto trabalha no estudo de sistemas<br />

fotovoltaicoshá mais de 20 anos.<br />

A radiação tem o seu ponto máximo de incidência quando<br />

orientado a Sul com uma inclinação de 30°, mas consegue-se<br />

ter praticamente a mesma radiação com variações de ângulo<br />

de inclinação entre aproximadamente os 17° e os 43°, bem<br />

como um ângulo azimutal, isto é, ângulo formado entre a<br />

Fig. 4- Variação da energia produzida.<br />

b) Inversor<br />

Nos sistemas conectados à rede, a corrente DC produzida<br />

pelos painéis fotovoltaicos não pode ser ligada directamente<br />

à rede eléctrica.<br />

Para tal existem equipamentos, denominados por<br />

inversores, que fazem a conversão de corrente contínua em<br />

corrente alternada, com características similares à da rede<br />

eléctrica, no que diz respeito à tensão, frequência, forma de<br />

onda, distorção harmónica, etc.<br />

Os inversores, como qualquer outro componente de um<br />

sistema fotovoltaico, devem dissipar o mínimo de potência,<br />

produzir uma tensão com uma taxa de distorção harmónica<br />

baixa e em sincronismo com a rede eléctrica, quando o<br />

sistema estiver conectadoà rede.<br />

Fig. 3 – Variação da Radiação solar kWh/m2<br />

199


ARTIGO TÉCNICO<br />

No caso de inversores conectados à rede eléctrica, estes<br />

podem ser classificados em dois tipos, os que são comutados<br />

pela própria rede, que utilizam o sinal da mesma para se<br />

sincronizarem e os auto-comutados, onde um circuito<br />

electrónico no inversor controla e sincroniza o sinal ao sinal<br />

da rede.<br />

Um dos critérios mais importantes na escolha do inversor é o<br />

seu rendimento. Sendo este o elemento que converte a<br />

energia continua vinda dos painéis fotovoltaicos em energia<br />

alternada, quanto maior for o seu rendimento menores<br />

serão as perdas da conversão.<br />

Algumas marcas desenvolveram inversores específicos para<br />

serem usados em Portugal, no entanto deverá ser escolhido<br />

um inversor com um rendimento superior a 95%, com<br />

invólucro resistente (aconselhável IP 65) e com um bom<br />

sistema de refrigeração.<br />

O site www.renovaveisnahora.pt disponibiliza uma lista de<br />

inversores que se encontram certificados em Portugal. O<br />

produtor pode instalar um outro inversor, mas a certificação<br />

da instalação ficará pendente até ser apresentado o<br />

certificadode conformidade do equipamento.<br />

Existem vários aspectos condicionantes da escolha dos<br />

inversores, mas no caso da microgeração um dos maiores<br />

factores que limitam a escolha dos inversores e o<br />

rendimento do sistema são as perdas por “mismatch”. A<br />

tensão DC máxima permitida à entrada do inversor, a<br />

corrente máxima, o número de seguidores MPP e o número<br />

máximo de “strings” permitidas pelo inversor, importante<br />

para limitar a influência das perdas por mismatch, são<br />

também dados que assumem elevada importância aquando<br />

da selecção do inversor a aplicar na instalação.<br />

Fig. 5- Inversor de rede<br />

c) Painel Fotovoltaico<br />

A escolha dos painéis fotovoltaicos a instalar deve atender a<br />

vários factores, o primeiro deles é o custo por Wp.<br />

Com a elevada concorrência que existe hoje em dia no<br />

mercado, uma análise atenta aos painéis disponíveis poderá<br />

trazer alguns ganhos nos custos de aquisição. No entanto,<br />

factores como o rendimento e o espaço disponível para a<br />

instalação, são também aspectos a ter em conta aquando da<br />

escolhados painéis fotovoltaicosa instalar.<br />

Outro aspecto importante na escolha dos painéis<br />

fotovoltaicos, são as perdas por efeito de “mismatch”. Estas<br />

perdas são causadas pela interligação entre as células solares<br />

ou entre os painéis que não possuem características iguais,<br />

ou estão sujeitas(os) a condições diferentes. Estas perdas são<br />

um sério problema nos painéis fotovoltaicos pois, a saída<br />

deste vai ser limitada pela célula ou células com as condições<br />

mais desfavoráveis.<br />

200<br />

Fig. 6 – Efeito do sombreamento nos sistemas fotovoltaicos.


ARTIGO TÉCNICO<br />

Este fenómeno também acontece na interligação entre<br />

painéis, sendo a série de painéis limitada em corrente pelo<br />

painel que tem menor valor de corrente e em tensão pelo<br />

menor valor de tensão das “strings” ligadas em paralelo.<br />

Um outro aspecto importante, no caso de instalação em<br />

telhados é o peso do sistema. É preciso garantir que o peso<br />

da estrutura, painéis e inversor não causem colapso da<br />

estruturado edifício.<br />

Por exemplo quando um painel de uma “string” está coberto<br />

por sombras, o valor da corrente da série de painéis em que<br />

este está colocado vai ser limitado pela corrente deste, logo<br />

fica limitada a potência da série.<br />

Desta forma a potência superior produzida pelos painéis não<br />

atingidos pelo sombreamento tem de ser dissipada o que<br />

leva a que existam locais nos painéis em que a dissipação de<br />

potência provoca aquecimento que pode danificar<br />

irreversivelmenteum painel.<br />

Se a opção da central passar pela instalação de seguidores<br />

solares, para movimentação mono axial ou bi axial, a<br />

estrutura de suporte terá que ser dimensionada para<br />

permitir a instalação dos motores necessários à realização<br />

das deslocações. Embora haja estudos que garantam ganhos<br />

de produção na ordem dos 25% com a instalação de sistemas<br />

dotados de seguidores solares, questões como o aumento da<br />

manutençãodo sistema terão que ser ponderadas.<br />

A resistência aos ventos é também uma característica a ter<br />

em conta no dimensionamento da estrutura de suporte.<br />

Normalmente as estruturas são dimensionadas para suportar<br />

ventos até 150 Km/h e por isso nenhum dos apoios da<br />

estrutura de suporte deverá ter menos de 10 cm² de<br />

superfície.<br />

Fig. 7 – Sombreamento de painéis<br />

d) Estrutura de Suporte<br />

As estruturas de suporte são fundamentais para a instalação<br />

de uma central fotovoltaica, exigindo algum cuidado na<br />

escolha de entre as diversas variedades disponíveis no<br />

mercado.<br />

Uma análise cuidada ao local de instalação da central para<br />

aferir se o terreno é regular ou irregular, ou no caso de ser<br />

para instalação em telhado se ele é inclinado ou não, é<br />

essencial para o correcto dimensionamento da estrutura de<br />

suporte.<br />

Fig. 8- Exemplos de estruturas de suporte<br />

201


ARTIGO TÉCNICO<br />

e) Potência DC Vs Potência AC<br />

Os painéis fotovoltaicos são caracterizados pela sua potência<br />

nominal máxima.<br />

Com este software é possível simular o funcionamento da<br />

central e aferir qual o melhor posicionamento dos painéis<br />

por forma a minimizar o efeito do sombreamento e a<br />

maximizar a energia produzida.<br />

Essa potência, que obrigatoriamente deve constar na ficha<br />

técnica do produto, é obtida em condições STC (Standard<br />

Test Conditions), ou seja, com uma radiação de 1000 W/m 2 ,<br />

25° C e AM=1,5.<br />

Como essas condições quase nunca não se verificam em<br />

condições reais de instalação e como existem perdas nos<br />

equipamentos, é aceitável fazer-se um<br />

sobredimensionamento da potência instalada por forma a se<br />

ter disponível na saída a máxima potência permitida para a<br />

instalação.<br />

Em instalações reais é normal sobredimensionar-se o<br />

número de painéis a instalar, como forma de compensar este<br />

efeito.<br />

No entanto, é preciso ter algum cuidado com o<br />

sobredimensionamento por forma a não se ultrapassar a<br />

máxima potência permitida à entrada do inversor.<br />

f) Simulação<br />

A simulação do sistema dimensionado e a análise dos<br />

relatórios produzidos pelo simulador deverão assumir<br />

importância crucial pois, é possível inferir daí informações<br />

sobre a viabilidade técnica e económica do projecto.<br />

Existem inúmeros simuladores disponibilizados no mercado,<br />

uns em versão freeware, outros em que é necessária licença<br />

de instalaçãoe utilização.<br />

Um dos programas mais completos é o PVSyst [4].<br />

Desenvolvido pelo Institut of Environmental Sciences da<br />

Universidade de Genebra, este software permite o estudo,<br />

dimensionamento, simulação e análise de dados de<br />

projectosfotovoltaicos.<br />

Fig.9 – Exemplo de dados obtidos do simulador<br />

Informação sobre a energia prevista ser produzida e sobre as<br />

perdas do sistema, são também informações muito<br />

importantes de analisar porque são informações válidas para<br />

o cálculo dos indicadores de viabilidade económica do<br />

projectoem estudo.<br />

Um outro indicador importante dado pelo software é o<br />

Performance Ratio (PR) do sistema fotovoltaico. Este<br />

indicador dá informação sobre a relação de energia<br />

efectivamente produzida pelo sistema e a energia que seria<br />

produzida por um sistema “ideal”, a trabalhar nas condições<br />

STC. De salientar que sistemas com PR superiores a 70%<br />

podem já ser considerados eficientes.<br />

202


ARTIGO TÉCNICO<br />

Normalmente este tipo de softwares disponibiliza uma base<br />

de dados muito completa sobre as condições meteorológicas<br />

dos diversos locais do planeta e possui informação sobre as<br />

características dos componentes dos inúmeros fabricantes<br />

existentesno mercado.<br />

A qualidade e fiabilidade dos resultados obtidos pela<br />

simulação tornam esta ferramenta indispensável no<br />

dimensionamentodeste tipo de sistemas.<br />

comercializadores e instaladores deste tipo de sistemas de<br />

produção de energia.<br />

Neste artigo foram abordados os aspectos aos quais se deve<br />

dar atenção aquando do dimensionamento de centrais<br />

fotovoltaicas.<br />

Dada a necessidade de se projectar e instalar estes sistemas<br />

com a máxima rapidez, alguns dos assuntos aqui abordados<br />

são descurados na prática. No entanto, ficou provada a<br />

necessidade de um estudo cuidado de todos os<br />

componentes do sistema pois só assim se consegue obter o<br />

máximo proveito das instalações.<br />

5. REFERÊNCIAS<br />

Fig. 10 - Energia produzida/ perdas mensais<br />

4. CONCLUSÕES<br />

Dado o recente aumento de instalações de microprodução,<br />

nomeadamente de centrais fotovoltaicas, e a rápida<br />

evolução que se tem verificado nesta área obrigam a uma<br />

cada vez maior necessidade de formação dos projectistas,<br />

[1] REN, Dados Técnicos Electricidade, Valores provisórios<br />

2008<br />

[2] WAED, www.localpower.org<br />

[3] Burger, Bruno, “Auslegung und Dimensionierung von<br />

Wechselrichtern für netzgekoppelte PV-Anlagen”, ISE,<br />

www.ise.fraunhofer.de<br />

[4] PVsyst,www.pvsyst.com<br />

203


Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

ARTIGO TÉCNICO<br />

DIMENSIONAMENTO DE CENTRAIS FOTOVOLTAICAS<br />

PARA A MICROPRODUÇÃO<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Desde que foi publicado o Decreto-Lei nº 363/2007 de 2 de<br />

Novembro, que tem por objecto estabelecer o regime<br />

jurídico aplicável à produção de electricidade por intermédio<br />

de unidades de microprodução, este tipo de instalações de<br />

pequena potência tem aumentado muito em Portugal. Dos<br />

diversos tipos de energia renovável previstos no referido<br />

Decreto-Lei, tem sido a energia solar a que mais tem<br />

motivado os utilizadores a instalarem centrais de<br />

microprodução. A este facto não é com certeza alheia a tarifa<br />

aplicável à energia produzida através desta fonte de energia,<br />

à qual é aplicável 100% da tarifa de referência.<br />

A tabela 1 apresenta as instalações e as diversas potências<br />

de centrais de microprodução com origem em fontes<br />

renováveis registadas e instaladas desde a saída do Decreto-<br />

Lei.<br />

Considerando que os painéis fotovoltaicos, por si só, já<br />

possuem rendimentos bastante baixos, a optimização do<br />

rendimento das instalações é um factor que assume uma<br />

importância extrema. Para apoio dos projectistas, existem<br />

diversos softwares de simulação que dão uma ajuda<br />

importante sobre a viabilidade técnica e económica dos<br />

projectos. No entanto é necessário também ter<br />

conhecimento sobre dois factores importantes que<br />

influenciam o rendimento dos painéis fotovoltaicos,<br />

nomeadamentea temperatura e os sombreamentos.<br />

Nos módulos cristalinos o efeito da temperatura faz-se sentir<br />

com mais intensidade do que nos módulos de silício amorfo.<br />

A temperatura tem um efeito importante sobre a tensão do<br />

módulo, não se fazendo sentir muito sobre a corrente. Ao<br />

haver redução do valor da tensão continuando o valor da<br />

corrente quase inalterado, a potência do módulo diminui.<br />

Tabela 1 - Instalações de microprodução [Fonte: www.renovaveisnahora.pt]<br />

Dos valores apresentados na tabela anterior, mais de 90%<br />

são referentes a centrais fotovoltaicas, por esse motivo o<br />

elevado número de instalações justifica a importância do<br />

correctodimensionamento das mesmas.<br />

No número anterior da revista Neutro à Terra foi feita uma<br />

abordagem aos equipamentos que se devem usar no<br />

dimensionamento de uma central fotovoltaica, neste artigo<br />

será feito um exemplo prático de aplicação da metodologia<br />

de dimensionamento.<br />

Como se pode ver na figura 1, a tensão baixa muito com o<br />

aumento da temperatura. O factor de variação da tensão<br />

com a temperatura é uma das características que deve ser<br />

indicada na ficha de características dos painéis fotovoltaicos<br />

e que por isso não deve ser descurada.<br />

.<br />

2 FACTORES QUE INFLUENCIAM O RENDIMENTO DAS CENTRAIS<br />

Quando se pretende dimensionar uma central fotovoltaica é<br />

necessário ter em consideração diversos factores que podem<br />

influenciaro rendimento das instalações.<br />

204<br />

Figura 1 - Efeito da temperatura na curva I-V


ARTIGO TÉCNICO<br />

O aumento da temperatura pode ser responsável também<br />

pelo aparecimento de falhas e degradação dos módulos,<br />

devido à dilataçãodos materiais.<br />

Figura 4 - Módulo destruído<br />

Figura 2 - Termografia de . um módulo fotovoltaico<br />

Devido à constituição física dos módulos fotovoltaicos, o<br />

sombreamento é também um problema importante. Os<br />

módulos fotovoltaicos são constituídos por um certo número<br />

de células em série, normalmente 60 ou 72. Como cada<br />

célula gera um valor de corrente de cerca de 7 A e uma<br />

tensão de 0,5 V, ao serem colocadas em série produzem-se<br />

módulos com uma corrente igual à corrente de uma célula e<br />

um valor de tensão resultante da soma da tensão de cada<br />

célula. Quando uma célula está sombreada, a fonte de<br />

corrente extingue-se e comporta-se como uma resistência<br />

que é atravessada pela corrente produzida pelas outras<br />

células, ficando sujeita a uma tensão inversa e provocando<br />

aquecimento que eleva a temperatura para valores que<br />

nalguns casos destroem a célula.<br />

Fazendo uma simulação do efeito do sombreamento nas<br />

curvas I-V e P-V e determinando o ponto de máxima<br />

potência é possível ter uma ideia do efeito que<br />

sombreamento tem nos módulos. A figura 5 mostra as<br />

referidas curvas num painel sem sombras e a figura 6 mostra<br />

o desempenho do mesmo painel com cerca de 60% de área<br />

sombreada.<br />

Figura 5 - Curva IV e P-V num módulo sem sombra<br />

Figura 3 - Efeito da sombra nas células<br />

Este fenómeno também acontece na interligação entre<br />

painéis, sendo a serie de módulos limitada em corrente pelo<br />

módulo que tem menor valor de corrente e em tensão pelo<br />

menor valor de tensão das “strings” ligadas em paralelo.<br />

Se os terminais do módulo estiverem ligados, a potência<br />

produzida pelas células sem sombra é dissipada na célula<br />

sombreada criando “hot-spots” que podem levar à<br />

destruiçãodo módulo.<br />

Figura 6 - Curva IV e P-V num módulo sem sombreado<br />

205


ARTIGO TÉCNICO<br />

3 EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO<br />

Para se fazer um correcto dimensionamento de uma central<br />

de microprodução fotovoltaica com ligação à rede eléctrica,<br />

é necessário seguir uma série de etapas, enumeradas de<br />

seguida:<br />

1- Análise das condições de terreno e de instalação;<br />

2- Escolha do inversor;<br />

3- Escolha dos painéis;<br />

4- Determinar o número de módulos e a potência dos<br />

painéis;<br />

5- Determinar o número de módulos por fileira;<br />

6- Determinar o número mínimo de módulos por fileira;<br />

7- Definir o número de fileiras em paralelo;<br />

8- Apresentar a configuração do sistema;<br />

A potência da central será de 3,68 kWp.<br />

1- Análise das condições de terreno e de instalação<br />

A visita ao local de instalação é um factor preponderante<br />

para uma correcta instalação da central. Uma análise cuidada<br />

do local de instalação permite verificar se poderão existir<br />

sombreamentos aos painéis, permite definir a estrutura de<br />

suporte mais adequada e também a configuração da central,<br />

nomeadamente em termos de número de fileiras de painéis<br />

e a sua orientação. Aquando da simulação do sistema, alguns<br />

dados necessários introduzir no simulador, são obtidos pela<br />

visita ao local, por isso é imprescindível a correcta avaliação<br />

das condições de instalação.<br />

2- Escolha do inversor<br />

O inversor é o equipamento que converte a energia contínua<br />

produzida pelos painéis, em energia alternada com<br />

características similares à da rede eléctrica. É um<br />

equipamento que possui, geralmente, um rendimento<br />

elevado e que desempenha um papel fundamental em todo<br />

o sistema.<br />

Se o inversor não funcionar, a energia não é injectada na<br />

rede e por isso o sistema fica isolado e sem possibilidade de<br />

ser utilizado.<br />

Para instalaçõesligadas à rede, é necessária a instalaçãode<br />

um inversor de rede que esteja certificado.<br />

No site www.renovaveisnahora.pt está disponível uma lista<br />

com mais de 160 inversores certificados, por isso aconselhase<br />

a utilizaçãode um desses equipamentos.<br />

Para este exemplo vai ser usado o inversor da marca SMA,<br />

modelo SB 3800/V, com uma potência de saída AC de<br />

3680 W e um rendimento de 95,6%.<br />

3- Escolha dos painéis<br />

Existem inúmeros fabricantes de painéis fotovoltaicos<br />

disponíveis no mercado, o que levou a um considerável<br />

abaixamento do preço dos mesmos. No entanto o preço não<br />

deve ser o factor principal de escolha dos painéis pois,<br />

factores que têm a ver com a qualidade de fabricação, as<br />

garantias de potência e a certificação dos painéis por<br />

entidades reconhecidas são aspectos mais importantes que<br />

o preço por Wp.<br />

Neste caso serão usados painéis de silício monocristalino de<br />

220 Wp ou de 230 Wp, fabricados pela empresa Goosun, que<br />

estão certificados segundo as normas europeias e<br />

internacionais IEC/EN 61215 e cumprem os requisitos da<br />

classede protecção II.<br />

Estes módulos garantem uma potência nominal mínima de<br />

90% a 10 anos e 80% a 25 anos.<br />

Se os módulos estiverem colocados num local com as<br />

condições ideais é possível obter deles a sua máxima<br />

potência, no entanto como na realidade isso não se verifica e<br />

porque também existem perdas nos equipamentos,<br />

nomeadamente no inversor (4,4%) e nos próprios painéis<br />

que têm uma tolerância de ±3 %, é aconselhável instalar uma<br />

potência superior a 3680 kW. No entanto é preciso verificar<br />

qual a máxima potência DC suportada pelo inversor.<br />

Consultando as características do inversor escolhido, o valor<br />

indicado é de 4040 W.<br />

Figura 7 - Características do inversor SMA<br />

206


ARTIGO TÉCNICO<br />

Este é um valor a ter em atenção pois com valores de<br />

potênciade entrada superiores, o inversor desligar-se-á.<br />

4- Determinar o número de módulos e a potência dos<br />

painéis<br />

No ponto 2 indicou-se que se iriam utilizar painéis com<br />

220Wp ou 230Wp.<br />

Considerando a potência máxima DC do inversor (4040 W) e<br />

fazendo a divisão dessa potência pela potência dos painéis<br />

conclui-se:<br />

Tabela 2 - Cálculo do número de módulos<br />

O limite máximo da tensão de circuito aberto do módulo é<br />

atingidoquando a temperatura é muito baixa (- 10 ºC).<br />

Nessa situação se o inversor sair de serviço, a tensão de<br />

circuito aberto será demasiado elevada para se poder voltar<br />

a ligar o sistema sem que daí advenham danos para o<br />

inversor. Esta tensão deve ser menor do que a tensão DC<br />

máxima admissível do inversor. Limitando o número de<br />

módulos por fileira consegue-se obter um valor de tensão de<br />

circuito aberto calculado pela associação em serie dos<br />

diversos módulos, que não seja demasiado elevada.<br />

A fórmula seguinte permite calcular a tensão de circuito<br />

aberto para uma temperatura de -10 o C, a partir da tensão<br />

do circuito aberto do módulo obtida nas condições de<br />

referênciaSTC.<br />

(1)<br />

Como se pode verificar, o número de módulos de 230Wp é<br />

17 que é um número que não se pode distribuir<br />

equilibradamentepelas fileiras.<br />

Como o inversor não permite ligação de fileiras com número<br />

de painéis diferentes, ou seja com valor de tensão diferentes<br />

nas fileiras, é necessário reduzir para 16 o número de painéis<br />

de 230Wp, dado que 18 painéis de 230Wp levariam a uma<br />

potênciaDC de entrada superior a 4040W.<br />

Tabela 3 - Comparação entre o número de módulos<br />

Verificando as especificações técnicas dos módulos<br />

escolhidos para este projecto, verifica-se que a o coeficiente<br />

térmico dado pelo fabricante (ΔU) é -0,33%/ o C e que V ca(STC)<br />

vale 35,8 V. Aplicando a equação anterior obtém-se,<br />

(2)<br />

O número máximo de módulos por fileira (N Mm ) é então<br />

obtido através da relação entre a tensão máxima admitida<br />

pelo inversor (V Mi ) e a tensão máxima de circuito aberto (-<br />

10 o C), obtendo-se:<br />

(3)<br />

Como é possível concluir a instalação de 18 módulos de<br />

220 Wp cada é a melhor solução.<br />

5- Determinar o número de módulos por fileira<br />

O número de módulos fotovoltaicos a colocar em cada fileira<br />

é limitado pela tensão DC máxima admissível para a ligação<br />

de módulos em série e pela tensão máxima à entrada do<br />

inversor.<br />

O resultado obtido informa que deveremos colocar por<br />

fileira, no máximo 10 módulos fotovoltaicosem série.<br />

De relembrar que todos os valores necessários ao cálculo são<br />

obtidos através das especificações técnicas dadas pelos<br />

fabricantesdos equipamentos.<br />

6- Determinar o número mínimo de módulos por fileira<br />

No verão verificam-se elevados níveis de radiação e estimase<br />

que os módulos colocados nos telhados podem estar<br />

sujeitosa temperaturas que poderão atingir os 70 o C.<br />

207


ARTIGO TÉCNICO<br />

Nessas condições o sistema fotovoltaico terá uma tensão aos<br />

seus terminais inferior àquela que se verifica nas condições<br />

de referência STC. Se a tensão do sistema fotovoltaico descer<br />

para valores abaixo da tensão MPP mínima do inversor (V mi ),<br />

a eficiência global do sistema ficará condicionada, podendo<br />

provocar a saída de serviço do inversor. Para evitar este<br />

problema, deve-se calcular o número mínimo de módulos<br />

ligados em série numa fileira.<br />

Analisando as características do inversor verifica-se que V mi =<br />

200 V e a tensão na máxima potência dos painéis, dada pelo<br />

fabricantedos painéis, é Vmp = 28,1 V.<br />

A configuraçãodo sistema será:<br />

Tabela 4 - Configuração final do sistema<br />

O esquema da configuração do sistema é apresentado na<br />

figura seguinte.<br />

(4)<br />

Deste modo o número mínimo de módulos (N mm ) por fileira<br />

é calculado pela relação entre V mi e V mp(70ºC)<br />

(5)<br />

7- Definir o número de fileiras em paralelo<br />

O número de fileiras em paralelo está limitado pelo número<br />

de entradas do inversor. No caso do inversor escolhido o<br />

valor é 3. No entanto é necessário verificar se a corrente<br />

máxima do sistema fotovoltaico ultrapassa o limite máximo<br />

da corrente de entrada do inversor (20 A).<br />

O número máximo de fileiras (N Mf ) deverá ser calculado<br />

através da seguinte fórmula.<br />

(6)<br />

Figura 8 - Esquema de ligação<br />

Apesar de estruturalmente existirem 3 fileiras elas estão<br />

ligadas de forma a que apenas existam 2 fileiras em paralelo.<br />

A colocação das 3 fileiras deveu-se à falta de espaço no local<br />

de instalaçãopara colocar os 9 módulos seguidos.<br />

8- Apresentar a configuração do sistema<br />

Após o cálculo de todos os valores anteriormente<br />

apresentados é necessário fazer um resumo e apresentar a<br />

configuraçãofinal do sistema.<br />

- Número máximo de módulos por fileira: 10<br />

- Número mínimo de módulos por fileira: 8<br />

- Número de fileiras em paralelo: 2<br />

- Total de módulos: 18<br />

208<br />

4 CONCLUSÕES<br />

Neste artigo foi apresentado um exemplo de<br />

dimensionamento de uma central de microprodução<br />

fotovoltaica para ligação à rede eléctrica. Falta ainda definir<br />

todo o cálculo das cablagens DC e protecções que o sistema<br />

deverá possuir, mas que não fazia parte daquilo que era<br />

pretendido neste artigo. Podendo ser abordado esse tema<br />

numa próxima edição da Revista Neutro à Terra.


ARTIGO TÉCNICO<br />

Pedro Daniel S. Gomes , Pedro Gerardo M. Fernandes , Nelson Ferreira da Silva<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

TIPOS DE TECNOLOGIAS DE TURBINAS<br />

UTILIZADAS NAS CENTRAIS MINI-HÍDRICAS<br />

RESUMO<br />

2 TURBINAS DE ACÇÃO OU IMPULSO<br />

De todos os elementos que constituem uma central minihídrica<br />

as turbinas e os geradores são os que mais dizem<br />

respeito à engenharia electrotécnica. Este artigo pretende<br />

apresentar os tipos de turbinas utilizadas nas centrais minihídricas.<br />

Estas podem ser classificadas por duas tecnologias<br />

distintas: turbinas de acção ou turbinas de reacção. As<br />

turbinas de acção podem ser do tipo Pelton ou Banki-<br />

Mitchell. As turbinas de reacção podem ser do tipo Francis,<br />

Kaplanou Hélice.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

De entre os elementos constituintes de uma central minihídrica,<br />

as turbinas são dos equipamentos que mais dizem<br />

respeitoà área da engenharia electrotécnica.<br />

A escolha da turbina é crucial para o bom rendimento da<br />

central e deverá ter sempre em conta três parâmetros: a<br />

queda, o caudal e a potência.<br />

As turbinas podem ser divididas em turbinas de acção (ou<br />

impulso) ou de reacção, consoante o seu princípio de<br />

operação. Estas são máquinas primárias que têm por missão<br />

converter a energia potencial gravítica e/ou cinética em<br />

energia mecânica e necessitam de uma grande manutenção<br />

periódica uma vez que sofrem um grande desgaste devido à<br />

acção da água.<br />

A turbina hidráulica corresponde a uma parcela muito<br />

significativa do custo de uma central mini-hídrica pelo que se<br />

torna essencial e se reveste de particular interesse estudar<br />

criteriosamente qual o tipo de tecnologia de turbina a<br />

implementar em cada solução [1].<br />

Como turbinas de acção para aproveitamentos<br />

hidroeléctricos de pequena escala, referem-se as turbinas<br />

Pelton e Banki-Mitchell, as quais se adequam a uma<br />

utilização caracterizada por quedas relativamente elevadas e<br />

baixos caudais [2]. Nestas, a roda é actuada pela água à<br />

pressão atmosférica.<br />

As turbinas de acção em comparação com as de reacção<br />

apresentam um maior número de vantagens: são mais<br />

tolerantes a areias e outras partículas existentes na água; a<br />

sua estrutura permite maior facilidade de fabrico e melhor<br />

acesso em caso de manutenção; são menos sujeitas ao<br />

fenómeno de cavitação (embora em aproveitamentos com<br />

grandes quedas torna-se difícil evitar tal fenómeno).<br />

Aquando a existência de um dispositivo regulador de fluxo<br />

ou variador do número de jactos, estas possuem um<br />

rendimento mais elevado e uniforme.<br />

A maior desvantagem das turbinas de acção é que são, na<br />

maioria dos casos, desadequadas para aproveitamentos de<br />

pequena queda [4].<br />

2.1 TURBINAS PELTON<br />

As turbinas Pelton são turbinas de acção porque utilizam a<br />

velocidade do fluxo da água para provocar o movimento de<br />

rotação.<br />

A sua constituição física consiste num rotor, em torno do<br />

qual estão fixadas as conchas, por uma tubagem forçada de<br />

adução contendo um ou mais injectores e por blindagens<br />

metálicas. O jacto de água que incide nas conchas é<br />

tangencial, motivo que leva a que estas turbinas se<br />

denominem tangenciais. Os injectores podem ser reguláveis.<br />

.<br />

209


ARTIGO TÉCNICO<br />

A figura 1 apresenta o esquema e uma fotografia de uma<br />

turbina Pelton no seu campo de trabalho.<br />

As vantagens deste tipo de turbinas são a facilidade com que<br />

se pode trocar peças, a facilidade de reduzir as<br />

sobrepressõesnas tubagens e a exigência de pouco caudal.<br />

A potência mecânica fornecida por estas turbinas é regulada<br />

pela actuação nas válvulas de agulha dos injectores [5].<br />

As turbinas Pelton podem ser de eixo vertical ou horizontal e<br />

são utilizadas em aproveitamentos hidroeléctricos<br />

caracterizados por pequenos caudais e elevadas quedas<br />

úteis. Nos pequenos aproveitamentos hidroeléctricos<br />

costuma-se utilizar turbinas de eixo horizontal, porque assim<br />

utiliza-seum gerador de eixo que tem um custo menor.<br />

São caracterizadas por terem um baixo número de rotações,<br />

tendo, no entanto, um rendimento até 93%.<br />

2.2 TURBINAS BANKI-MITCHELL<br />

Este tipo de turbina é usado principalmente na gama de<br />

baixas potências [3].<br />

O seu rendimento é inferior aos das turbinas de projecto<br />

convencional, mas mantém-se elevado ao longo de uma<br />

extensa gama de caudais. Esta característica torna-a<br />

adequadaà operação num espectro largo de caudais.<br />

Estas turbinas apenas apresentam veios horizontais e uma<br />

velocidade de rotação diminuta, sendo frequente a<br />

necessidade de utilização de multiplicadores de velocidade<br />

entre elas e os geradores.<br />

Em máquinas mais sofisticadas alcançam-se eficiências na<br />

ordem dos 85 % e nas máquinas mais simples na ordem dos<br />

60 a 75%. A sua eficiência pode ser mantida elevada em<br />

situações de caudal parcial, até cerca de 50% do caudal [6].<br />

Para tal é necessária ou a inclusão de um dispositivo<br />

repartidor de caudal, que determina que partes da turbina<br />

são usadas ou através da orientação de um direccionador de<br />

caudal, que poderá fazer uma gestão do caudal que será<br />

turbinado.<br />

É possível afirmar que esta máquina se torna bastante<br />

apelativa para aproveitamentos de pequena escala devido a<br />

dois motivos. Apresenta um design ajustado para uma vasta<br />

gama de quedas e potências, e são de fácil construção. Ao<br />

poderem ser implementadas recorrendo a técnicas simples<br />

de construção tornam-se uma solução interessante para<br />

países em desenvolvimento.<br />

O seu design simples torna-a barata e fácil de reparar,<br />

especialmente no caso de o rotor ser danificado devido ao<br />

elevado stress mecânico a que é sujeito.<br />

.<br />

Figura 1 – Turbina Pelton<br />

210


ARTIGO TÉCNICO<br />

As turbinas Banki-Mitchell possuem uma baixa eficiência<br />

quando comparadas com outras turbinas, e a elevada perda<br />

de queda útil, devido ao espaço entre o rotor e a água a<br />

jusante. Estes factores devem ser tidos em conta quando se<br />

lida com quedas baixas ou médias. No caso de altas quedas<br />

as turbinas podem também sofrer problemas de fiabilidade,<br />

devido ao ainda mais elevado stress mecânico a que são<br />

sujeitas.<br />

Representam uma alternativa interessante para quando se<br />

possui água suficiente, necessidades de potência bem<br />

definidas e fracos poderes de investimento, como no caso de<br />

programas de electrificaçãorural [6].<br />

A figura 2 apresenta o esquema de uma turbina Banki-<br />

Mitchell.<br />

3 TURBINAS DE REACÇÃO<br />

Neste tipo de turbinas, a água circula entre as pás, variando<br />

a velocidade e a pressão. Esta, por não ser constante, obriga<br />

a variação da secção transversal aproveitando-se, assim, a<br />

energia da água, uma parte na forma de energia cinética e o<br />

resto na forma de energia de pressão.<br />

Nas turbinas de reacção distinguem-sedois grandes grupos:<br />

Turbinas radiais, do tipo Francis, que são turbinas<br />

adequadas para operação com condições intermédias de<br />

queda e de caudal;<br />

Turbinas axiais, do tipo Kaplan e Hélice, que são indicadas<br />

para funcionamentosob queda baixa e caudais elevados.<br />

Em comparação com as turbinas de acção, as de reacção<br />

possuem alguns elementos comuns, como a câmara de<br />

entrada, o distribuidor, o rotor e o difusor. No entanto, o seu<br />

fabrico é mais sofisticado devido ao facto da alta qualidade<br />

nas lâminas. No entanto, a despesa extra é compensada pela<br />

elevada eficiência e pelas altas velocidades de rotação<br />

obtidas em aproveitamentos de pequenas quedas e com<br />

máquinas relativamente compactas.<br />

As turbinas de reacção possuem por norma uma velocidade<br />

específica elevada, advindo daí uma vantagem, visto que<br />

permitem o acoplamento directo ao gerador, tornando-se<br />

desnecessáriosos sistemas reguladores de velocidade.<br />

As turbinas de reacção estão no entanto sujeitas ao<br />

fenómeno de cavitação, contribuindo para o decréscimo da<br />

sua eficiência se não forem tomadas medidas resolução.<br />

Figura 2 – Turbina Banki-Mitchell<br />

211


ARTIGO TÉCNICO<br />

3.1 TURBINAS FRANCIS<br />

As turbinas Francis são turbinas de reacção porque o<br />

escoamento na zona da roda se processa a uma pressão<br />

inferior à pressão atmosférica.<br />

Esta turbina caracteriza-se por ter uma roda formada por<br />

uma coroa de aletas fixas, que constituem uma série de<br />

canais hidráulicos que recebem a água radialmente e a<br />

orientam para a saída do rotor numa direcção axial. Os<br />

outros componentes desta turbina são a câmara de entrada,<br />

o distribuidor, constituído por uma roda de aletas fixas ou<br />

móveis, que regulam o caudal, e o tubo de saída da água.<br />

Estas turbinas utilizam-se em quedas úteis superiores aos 20<br />

metros, e possuem uma grande adaptabilidade a diferentes<br />

quedas e caudais e, relativamente às Pelton, têm um<br />

rendimento máximo mais elevado, velocidades maiores e<br />

menores dimensões [5].<br />

A figura 3 apresenta o esquema de uma turbina Francis.<br />

3.2 TURBINAS KAPLAN E HÉLICE<br />

São turbinas de reacção, adaptadas às quedas fracas e<br />

caudaiselevados.<br />

Figura 3 - Turbina Francis<br />

As turbinas Kaplan são reguladas através da acção do<br />

distribuidor e com auxílio da variação do ângulo de ataque<br />

das pás do rotor o que lhes confere uma grande capacidade<br />

de regulação.<br />

As turbinas Kaplan e Hélice têm normalmente o eixo vertical,<br />

mas podem existir turbinas deste tipo com eixo horizontal,<br />

as quais se designam por turbinas Bolbo [5].<br />

A figura 4 apresenta o esquema de uma turbina Kaplan.<br />

São constituídas por uma câmara de entrada<br />

que pode ser aberta ou fechada, por um<br />

distribuidor e por uma roda com quatro ou<br />

cinco pás em forma de hélice.<br />

Quando estas pás são fixas diz-se que a<br />

turbina é do tipo Hélice.<br />

Se as pás são móveis o que permite variar o<br />

ângulo de ataque por meio de um<br />

mecanismo de orientação que é controlado<br />

pelo regulador da turbina, diz-se que a<br />

turbina é do tipo Kaplan.<br />

Figura 4 - Turbina Kaplan<br />

212


ARTIGO TÉCNICO<br />

4 SÍNTESE GRÁFICA DE APLICAÇÃO DE CADA TURBINA<br />

Na figura 5, apresenta-se um gráfico que resume o campo de<br />

aplicação de cada tipo de turbina e que relaciona a altura da<br />

queda com o caudal disponível.<br />

No que diz respeito a turbinas de acção estas podem ser do<br />

tipo Pelton ou Banki-Mitchell. As turbinas Pelton são<br />

utilizadas em aproveitamentos hidroeléctricos<br />

caracterizados por pequenos caudais e elevadas quedas<br />

úteis.<br />

As turbinas Banki-Mitchell<br />

aplicam-se numa gama de<br />

baixas potências. As turbinas de<br />

reacção podem ser do tipo<br />

Francis, Kaplan ou Hélice.<br />

As turbinas Francis têm<br />

aplicação nos aproveitamentos<br />

hidroeléctricos com condições<br />

intermédias de queda e caudal<br />

e o seu rendimento é maior<br />

quanto maior for a potência.<br />

As turbinas Kaplan e Hélice são<br />

turbinas aplicáveis em<br />

condições de queda baixa e<br />

caudal elevado.<br />

Figura 5 - Campo de aplicação de cada tipo de turbina<br />

Bibliografia<br />

5 CONCLUSÕES<br />

As turbinas são máquinas primárias que têm por missão<br />

converter a energia (potencial gravítica e/ou cinética)<br />

armazenada na água ou em qualquer outro fluído em<br />

energia mecânica.<br />

Necessitam de uma grande manutenção periódica uma vez<br />

que sofrem um grande desgaste devido à acção da água,<br />

deixando em alguns anos de funcionar de forma rentável.<br />

A escolha da turbina é crucial para o bom rendimento da<br />

central. Cada caso terá que ser estudado ao pormenor para<br />

não se cometer erros na escolha da turbina.<br />

As turbinas podem ser de acção ou reacção.<br />

[1] Rui M. G. Castro, “Energias Renováveis e Produção<br />

Descentralizada – Introdução à Energia Mini-Hídrica”, Instituto<br />

Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, Março 2008<br />

[2] Teixeira da Costa, David Santos e Rui Lança, “Turbo Máquinas<br />

Hidráulicas (Turbinas)”, Escola Superior de Tecnologia da<br />

Universidade do Algarve, Fev. 2001<br />

[3] Teresa Nogueira, “Estudo da Energia Mini-Hídrica – Produção<br />

Distribuída e Mercados de Energia”, Instituto Superior de<br />

Engenharia do Porto, 2010<br />

[4] Aníbal Traça de Almeida, “Hidroelectricidade –<br />

Desenvolvimento Sustentável”, Faculdade de Ciências e<br />

Tecnologia da Universidade de Coimbra<br />

[5] Paulo Moisés Almeida da Costa, “As Máquinas Primárias”, Escola<br />

Superior de Tecnologia de Viseu, 1999<br />

[6] João P. Rocha, “Metodologia de projecto de sistemas de<br />

produção de electricidade descentralizada baseados em Energia<br />

Hídrica”, FEUP, Julho de 2008<br />

213


214<br />

CURIOSIDADE


ARTIGO TÉCNICO<br />

Eficiência Energética<br />

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />

artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da EficiênciaEnergética.<br />

A Eficiência Energética nos Edifícios, esta relacionada directamente com a Utilização Racional da Energia, visando,<br />

essencialmente, gastar menos energia para fornecer a mesma quantidade de valor energético. Em virtude da sua especificidade<br />

e abrangência, é-lhe dedicada aqui uma área exclusiva de conteúdos relativos ao desempenho energético dos edifícios e<br />

inerente legislação, bem como à optimizaçãoenergética de equipamentos.<br />

215


ARTIGO TÉCNICO<br />

Índice<br />

A Concepção e Projecto de Instalações Eléctricas e o Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade<br />

do Ar Interior em Edifícios<br />

Luís Filipe Caeiro Castanheira<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

217<br />

Utilização Racional de Energia Eléctrica em Instalações Industriais. O caso da Força Motriz.<br />

José António Beleza Carvalho<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

219<br />

Desempenho Energético dos Edifícios e a sua Regulamentação<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

223<br />

Ascensores. Optimização Energética<br />

José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

229<br />

Optimização Energética em Novos Ascensores<br />

José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco<br />

Schmitt - Elevadores<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

241<br />

Extinção das Tarifas Reguladas no Sector Eléctrico<br />

José Marílio Oliveira Cardoso<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

259<br />

216


ARTIGO TÉCNICO<br />

ARTIGO TÉCNICO<br />

Luís Filipe Caeiro Castanheira<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

A Concepção e Projecto de Instalações Eléctricas e o Sistema Nacional<br />

de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior em Edifícios<br />

O novo sistema nacional de certificação energética e da<br />

qualidade do ar interior em edifícios (SCE), que decorre da<br />

publicação dos DL, 78 a 80, de 4 de Abril de 2006, vêm impor<br />

um novo enquadramento regulamentar para a utilização de<br />

energia em edifícios no território nacional. Em particular<br />

para o caso dos grandes edifícios de serviços e para aqueles,<br />

de serviços ou residenciais, cujos sistemas de climatização ou<br />

de aquecimento de águas sanitárias (AQS) tenham uma<br />

potência superior a 25kw, o rsece-energia (DL 79/2006, de 4<br />

de Abril), impõe indicadores de consumo específico máximo<br />

a verificar, denominados de indicadores de eficiência<br />

energética(IEE).<br />

concepção e projecto de instalações eléctricas, para a<br />

relevância da sua actividade no contexto do SCE, pela sua<br />

influência no parâmetro Qout, na selecção e<br />

dimensionamento de equipamento não afecto à função de<br />

climatização.<br />

De facto, a partir de agora, as preocupações com as medidas<br />

de eficiência energética a este nível, podem determinar num<br />

primeiro nível uma classificação de eficiência energética<br />

diferente, ou até o eventual não cumprimento<br />

regulamentar, pelo que o técnico electrotécnico tem uma<br />

responsabilidadeacrescida neste contexto.<br />

O IEE, em função do processo em causa, pode ser calculado a<br />

partir dos consumos efectivos de energia de um edifício, ou<br />

através de ferramentas de simulação, sendo em ambos os<br />

casos calculado através da expressão 1:<br />

Expressão 1 – Indicador de Eficiência Energética<br />

Em que:<br />

IEE Indicadorde eficiência energética(kgep/m 2 .ano);<br />

IEE I Indicador de eficiência energética de aquecimento<br />

(kgep/m 2 .ano);<br />

IEE V Indicador de eficiência energética de arrefecimento<br />

(kgep/m 2 .ano);<br />

Q out<br />

Q<br />

IEE = IEEI<br />

+ IEEV<br />

+<br />

A<br />

Consumo de energia não ligado aos processos de<br />

aquecimentoe arrefecimento (kgep/ano);<br />

A p Área útil de pavimento (m 2 );<br />

Não sendo objecto deste artigo o detalhar das definições e<br />

mecanismos de cálculo que estão por trás de cada um dos<br />

parâmetros atrás referidos, o mesmo pretende sensibilizar<br />

os diversos agentes que intervêm nos processos de<br />

out<br />

p<br />

Uma análise de sensibilidade detalhada, em face de<br />

situações concretas, poderá auxiliar na determinação de<br />

quais os sectores/tecnologias electrotécnicos de maior<br />

impacto no IEE, mas certamente que entre estes de<br />

encontraráo sector da iluminação.<br />

Neste contexto, da análise da figura 1, retirada do anexo XV<br />

do Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização<br />

de Edifícios (RSECE), e que diz respeito aos padrões de<br />

referência para a utilização dos edifícios (que neste caso é o<br />

de um supermercado), a utilizar nas simulações para<br />

determinação do IEE, esta tem como único elemento da<br />

estrutura de consumos “em aberto”, precisamente o<br />

consumo com os sistema de iluminação, situação que<br />

acontece em todas as tipologias de edifícios previstas no<br />

regulamento.<br />

Desta forma, o papel do técnico electrotécnico pode fazer<br />

toda a diferença em termos de colocar um edifício em<br />

situação regulamentar, por via de uma acção de concepção e<br />

projecto que considere a utilização de tecnologia mais<br />

eficientes ao nível da iluminação. Sem a necessidade de<br />

intervenções mais dogmáticas e inflexíveis, como as decisões<br />

recentemente tomadas na Austrália e no Reino Unido, de se<br />

banirem a curto prazo as lâmpadas incandescentes, o novo<br />

217


ARTIGO TÉCNICO<br />

ARTIGO TÉCNICO<br />

enquadramento legislativo para a Eficiência Energética e a<br />

Qualidade do Ar Interior em Edifícios, comporta assim<br />

elementos que contribuem para um projecto mais racional e<br />

que tenha em linha de conta a sustentabilidadedas opções.<br />

Figura 1 - Padrões de referência de utilização dos edifícios - Supermercados<br />

218


ARTIGO TÉCNICO<br />

José António Beleza Carvalho<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

Utilização Racional de Energia Eléctrica em Instalações Industriais<br />

O caso da Força Motriz<br />

A produção de energia mecânica, através da utilização de<br />

motores eléctricos, absorve cerca de metade da energia<br />

eléctrica consumida no nosso País, da qual apenas metade é<br />

energia útil. Este sector é, pois, um daqueles em que é<br />

preciso tentar fazer economias, prioritariamente. O êxito<br />

neste domínio depende, em primeiro lugar, da melhor<br />

adequação da potência do motor à da máquina que ele<br />

acciona. Quando o regime de funcionamento é muito<br />

variável para permitir este ajustamento, pode-se equipar o<br />

motor com um conversor electrónico de variação de<br />

velocidade. Outra possibilidade é a utilização dos motores “<br />

de perdas reduzidas” ou de “alto rendimento”, que<br />

permitem economias consideráveis.<br />

Os motores mais utilizados na indústria apresentam<br />

características de rendimento praticamente constantes<br />

acima da meia carga. Mas o seu cosϕ continua a crescer para<br />

além deste valor, como se pode ver na figura 1. Abaixo da<br />

meia carga os motores consomem demasiada energia. Perto<br />

da plena carga em regime permanente, o aquecimento<br />

limita a sua longevidade.<br />

Assim, os motores devem ser dimensionados de modo a<br />

funcionarem acima de 75% da sua carga nominal, obtendose<br />

as seguintes vantagens:<br />

- melhor rendimento;<br />

- factorde potência mais elevado;<br />

- menor investimento no motor e aparelhagem de<br />

comando e protecção.<br />

Figura 1: Variação do rendimento e do cosϕ com a carga<br />

(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.)<br />

Um método rápido para determinar o regime de carga de<br />

um motor assíncrono, consiste na comparação da velocidade<br />

de funcionamento (medida com um taquímetro) com a<br />

velocidade à plena carga (indicado na chapa de<br />

características),através da seguinte expressão:<br />

ns<br />

− nm<br />

Regime de Carga (%) = × 100<br />

n − n<br />

em que:<br />

n s : é a rotação síncrona do motor, e que depende do<br />

número de pólos da máquina<br />

n m : é a rotação medida no veio da máquina<br />

n n : é a rotação nominal da máquina<br />

s<br />

n<br />

219


ARTIGO TÉCNICO<br />

Na tabela seguinte apresenta-se os valores típicos das<br />

velocidades de sincronismo, para uma frequência da rede de<br />

50 Hz.<br />

Tabela 1 – Número de pólos e rotação síncrona para 50Hz<br />

Por exemplo, um motor assíncrono de 4 pólos com 110kW,<br />

apresenta uma velocidade de funcionamento de 1495 rpm,<br />

uma velocidade de sincronismo de 1500 rpm e de plena<br />

carga de 1480 rpm. Nesta situação, o seu regime de carga<br />

será:<br />

Número de Pólos 2 4 6 8 10 12<br />

Velocidade<br />

de sincronismo (rpm)<br />

A carga que está acoplada terá uma potência de:<br />

P=110 x 0,25 = 27,5 kW<br />

3000 1500 1000 750 600 500<br />

1500 −1495<br />

Regime de Carga (%) =<br />

× 100 = 25%<br />

1500 −1480<br />

Nestascondições, é preferível utilizar um motor de 30 kW.<br />

Para as situações de carga variável ao longo do dia, deve-se<br />

determinar um valor médio e dimensionar o motor em<br />

função do mesmo, de acordo com a figura seguinte.<br />

Figura 2: Diagrama do consumo de potência de um motor<br />

(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.)<br />

Para um grande número de actividades industriais, a<br />

utilização de motores de velocidade variável é indispensável<br />

ao processo de fabrico. É o caso, por exemplo, do<br />

accionamento dos laminadores, misturadores,<br />

centrifugadores, fornos rotativos, máquinas ferramentas ou<br />

na tracção eléctrica. O seu uso tornou-se clássico e as<br />

soluções evoluem a par e passo com os progressos técnicos.<br />

Existe, por outro lado, um domínio de aplicações novas onde<br />

a adopção da velocidade variável permite obter economias<br />

sensíveis de energia. Trata-se muito globalmente do<br />

accionamento das máquinas rotativas receptoras (bombas,<br />

ventiladores, sopradores e compressores). Estas máquinas<br />

requerem, com efeito, a maior parte das vezes, uma<br />

regulação do ponto de funcionamento em função dos<br />

parâmetros de exploração do processo. Nestes casos, os<br />

métodos clássicos de regulação de velocidade traduzem-se<br />

em aumentos significativos da potência consumida em<br />

relação à necessidade real. São, pois, soluções vorazes em<br />

energia. A adopção de variadores electrónicos para regular a<br />

velocidade das máquinas rotativas é, actualmente, a solução<br />

mais eficiente, apresentandoos seguintesbenefícios:<br />

- economia de energia<br />

- aumento da produtividade<br />

- melhoria da qualidade do produto<br />

- menor desgaste mecânico<br />

Assim, em aplicações onde sejam requeridas apenas duas ou<br />

três velocidades, é aconselhável a utilização de motores<br />

assíncronos de velocidades variáveis, disponíveis com<br />

diversos tipos de características de binário/velocidade, e por<br />

isso adaptáveis a diversos tipos de carga. Nestes sistemas, a<br />

aplicação de variadores electrónicos de velocidade, bem<br />

como de equipamentos mais eficientes do ponto de vista<br />

energético, permite elevar o rendimento global dos sistemas<br />

de 31% para 72%, com tempos de recuperação do<br />

investimento normalmente inferiores a três anos. Por outro<br />

lado, os variadores electrónicos de velocidade possuem<br />

diversos tipos de protecções para o motor, que deixam assim<br />

de ser adquiridas isoladamente e oferecem uma maior<br />

flexibilidade de colocação, podendo facilmente ser<br />

integradosem sistemas automáticos de gestão da produção.<br />

Actualmente, encontra-se já disponível no mercado os<br />

chamados motores de “perdas reduzidas”, ou de “alto<br />

rendimento”, mais caros que os motores clássicos, mas cuja<br />

utilização se revela rentável quando o seu tempo anual de<br />

utilização for suficientemente longo. Os construtores<br />

aumentaram a massa de materiais activos (cobre e ferro) de<br />

forma a diminuir as induções, as densidades de corrente e,<br />

assim, reduzir as perdas no cobre e no ferro. Utilizam chapas<br />

220


ARTIGO TÉCNICO<br />

magnéticas de perdas mais reduzidas, entalhes especiais em<br />

certos casos e reformularam a parte mecânica, com especial<br />

incidência sobre a ventilação, para reduzir a potência<br />

absorvida por esta e diminuir o nível de ruído. Daí resulta,<br />

para idêntica dimensão, um aumento de peso da ordem de<br />

15%, e de preço da ordem de 20 a 25%. Contudo, a melhoria<br />

do rendimento, compreendida entre 2 e 4,5%, e a do cosϕ,<br />

permite amortizar rapidamente este aumento de preço. Para<br />

qualquer investimento em motores eléctricos efectuado,<br />

pelo menos, para 10 anos, os modelos de perdas reduzidas<br />

são fortemente competitivos.<br />

Na figura 3, apresenta-se uma análise comparativa entre os<br />

motores convencionaise os motores de alto rendimento.<br />

∆P : variação das perdas entre os dois motores<br />

K : preço do kWh<br />

t : tempo de utilização(horas)<br />

Conclusão<br />

A situação energética portuguesa é caracterizada por uma<br />

forte dependência externa (importamos cerca de 90% da<br />

energia que consumimos), pela dependência<br />

fundamentalmente em relação a uma única forma de<br />

energia (o petróleo), apesar dos esforços que se têm feito<br />

nos últimos anos para alterar esta situação, por um nível de<br />

consumo fraco em comparação ao de outros países<br />

membros da CEE e por uma forte intensidade energética do<br />

ProdutoInterno Bruto (PIB).<br />

A valorização das economias de energia, em particular da<br />

energia eléctrica, possíveis de realizar pela via da gestão e da<br />

sua utilização racional, conduz a benefícios que se podem<br />

repercutir, de forma global, a nível nacional e, de forma<br />

directa e imediata, a nível do consumidor com as seguintes<br />

vantagens:<br />

- Aumento da eficácia do sistema energético;<br />

Figura 3: Análise comparativa do rendimento e cosϕ<br />

para motores convencionais e de alto rendimento, de 55kW<br />

(Fonte: documentos técnicos da E.D.P.)<br />

O acréscimo de custos dos motores de alto rendimento é<br />

recuperado através da economia de energia eléctrica que<br />

proporcionam.<br />

O tempo de recuperação N do investimento suplementar<br />

devido à instalação de motores de alto rendimento, pode ser<br />

calculadoatravés da seguinte expressão:<br />

em que:<br />

∆Ι : diferença de custos<br />

∆Ι<br />

N =<br />

∆Ρ.Κ. t<br />

- Reduçãoda factura energética;<br />

- Acréscimo de produtividade da empresa em quaisquer<br />

sectoresde actividade;<br />

- Aumento da competitividade no mercado interno e<br />

externo ou aumento da disponibilidade de energia para<br />

outros fins;<br />

- Conhecimento mais profundo das instalações e do custo<br />

energéticode cada fase, processo ou sistema.<br />

No caso da força motriz é fundamental dimensionar<br />

correctamente estes equipamentos, fazendo os motores<br />

funcionar com cargas da ordem dos 70 a 80%. Por outro<br />

lado, e sempre que necessário, deve-se utilizar dispositivos<br />

electrónicos de variação de velocidade, que permitem um<br />

desempenho mais eficiente dos motores em diferentes<br />

regimes de carga. Também a utilizaçãode motores de “alto<br />

221


ARTIGO TÉCNICO<br />

rendimento”, que já provaram a sua competitividade, apesar<br />

do seu custo superior, deve ser equacionada para diversos<br />

tipos de aplicações.<br />

Finalmente, lembrar que a regra fundamental, indispensável<br />

a qualquer política de utilização racional de energia eléctrica<br />

em instalações industriais, consiste no conhecimento dos<br />

consumos por meio de medida e na detecção de forma<br />

eficaz das principais perdas de energia que possam existir na<br />

instalaçãoindustrial.<br />

Fontes de Informação Relevantes<br />

[01] “Efficient Use of Electrical Energy in Industrial Installations” – José António Beleza Carvalho, Roque Filipe Mesquita<br />

Brandão. 4TH European Congress Economics and Management of Energy in Industry. Porto, Novembro de 2007.<br />

[02] " Política Energética e Plano Energético Nacional" – Eng. Mira Amaral - Cadernos de Divulgação do Ministérios da<br />

Indústriae Energia.<br />

[03] " Economia de Energia" – Brochuras publicadas pela Direcção Geral de Geologia e Energia. Edição: Ministério da<br />

Economia<br />

[04] "Racionalizaçãoda força Motriz" Documento Técnico da EDP Edição:EDP.<br />

[05] "A Gestão da Energia e o Regulamento de Gestão do Consumo de Energia" – Brochura publicada pela Direcção Geral de<br />

Geologiae Energia. Edição: Ministério da Economia<br />

[06] "Economiasde Energia nas UtilizaçõesIndustriais"- Documento Técnico da EDP. Edição:EDP.<br />

[07] “Manual do Gestor de Energia” – Centro para a Conservação de Energia, Direcção Geral de Geologia e Energia. Edição:<br />

Ministério da Economia<br />

222


ARTIGO TÉCNICO<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

Desempenho Energético dos Edifícios<br />

e a sua Regulamentação<br />

1. Directiva 2002/91/CE<br />

Em 16 de Dezembro de 2002 foi aprovada pelo Parlamento<br />

Europeu e pelo Conselho da União Europeia a Directiva<br />

2002/91/CE, relativa ao desempenho energético dos<br />

edifícios.<br />

Na base desta directiva estiveram uma serie de<br />

considerações que enfatizam a necessidade de se<br />

estabelecer medidas que visem melhorar o desempenho<br />

energéticodos edifícios.<br />

Numa das considerações está escrito “O sector residencial e<br />

terciário, a maior parte do qual constituído por edifícios,<br />

absorve mais de 40% do consumo final de energia da<br />

Comunidade e encontra-se em expansão, tendência que<br />

deverá vir a acentuar o respectivo consumo de energia e, por<br />

conseguinte, as correspondentes emissões de dióxido de<br />

carbono.”. Analisando este ponto, percebe-se que era<br />

urgente promover a melhoria do desempenho energético<br />

dos edifícios, tendo em conta as condições climáticas<br />

externas e as condições locais, bem como as exigênciasem<br />

matéria de clima interior e a rentabilidade económica.<br />

Contudo o estabelecimento das medidas nunca poderá ir<br />

contra outros requisitos considerados essenciais relativos<br />

aos edifícios, tais como a acessibilidade, as regras de boa<br />

arte e a utilização prevista do edifício.<br />

De uma forma muito resumida, a Directiva 2002/91/CE faz<br />

um enquadramento da metodologia de cálculo, a aplicar<br />

pelos Estados–Membros, do desempenho energético<br />

integrado dos edifícios. No Anexo que acompanha a referida<br />

Directiva, são descritos os pontos que a metodologia de<br />

cálculo deve conter na análise do cálculo da eficiência, que<br />

deve ser expresso de modo transparente, podendo incluir<br />

um indicador de emissão de CO 2 .<br />

A Directiva impõe que os Estados-Membros deverão<br />

estabelecer requisitos mínimos para o desempenho<br />

energético dos edifícios novos e dos grandes edifícios<br />

existentes que sejam sujeitos a importantes obras de<br />

remodelação. Foi ainda previsto que no estabelecimento dos<br />

requisitos se possa fazer uma distinção entre, edifícios novos<br />

e existentes e entre diferentescategorias de edifícios.<br />

223


ARTIGO TÉCNICO<br />

Os requisitos devem ser sujeitos a revisão e actualização<br />

regulares. Para os novos edifícios com área superior a 1000<br />

m2, devem ser estudadas formas alternativas de<br />

fornecimento de energia eléctrica, baseadas em energias<br />

renováveis ou co-geração e privilegiado o uso de sistemas<br />

urbanos ou colectivos de aquecimentoou arrefecimento.<br />

Estes estudos, que contemplarão aspectos de viabilidade<br />

técnica, económica e ambiental, deverão ser tomados em<br />

consideração antes de se iniciar a construção. Quanto aos<br />

edifícios existentes e com área superior a 1000 m2, sempre<br />

que sofram obras de renovação importantes deve ser<br />

melhorado o seu desempenho energético, desde que<br />

possível do ponto de vista técnico, económico e funcional.<br />

Um dos objectivos que também faz parte da Directiva é o da<br />

criação de um certificado energético do edifício, necessário<br />

aquando da construção, venda ou arrendamento e fornecido<br />

ao proprietário ou por este ao potencial comprador ou<br />

arrendatário. Com este certificado deve ser possível aos<br />

consumidores comparar e avaliar o desempenho energético<br />

do edifício. Deve ser parte integrante do certificado um<br />

conjunto de recomendações que visem a melhoria da<br />

eficiência energética bem como o estudo de viabilidade<br />

económica da sua aplicação. Estes certificados deverão ter<br />

um prazo de validade nunca superior a 10 anos.<br />

Por último esta Directiva impôs a necessidade de inspecção<br />

regular de caldeiras e instalações de ar condicionado nos<br />

edifícios e, complementarmente, avaliação da instalação de<br />

aquecimento quando as caldeiras tenham mais de 15 anos.<br />

Todas as caldeiras com potência nominal útil, isto é, com<br />

potência calorífica máxima fixada e garantida pelo<br />

construtor, de 20 a 100 kW e alimentadas por combustíveis<br />

não renováveis, devem ser sujeitas a inspecção periódica.<br />

Para caldeiras com potência nominal útil superior a 100 kW a<br />

inspecção deve ser feita de 2 em 2 anos, podendo o prazo<br />

ser aumentado para 4 anos se o combustível usado for o gás<br />

natural. Todas as caldeiras com mais de 15 anos e com<br />

potência nominal útil superior a 20 kW devem ser alvo de<br />

inspecçãoque deverá analisar o rendimento da caldeira e a<br />

adequação da sua capacidade em função dos requisitos de<br />

aquecimento pretendidos. Os peritos devem fornecer aos<br />

utilizadores recomendações sobre a substituição das<br />

caldeiras por outras mais eficientes ou a adopção de outras<br />

soluçõesalternativas.<br />

Para os sistemas de ar condicionado com potência nominal<br />

útil superior a 12 kW deve ser feita uma avaliação do<br />

desempenho do sistema e a adequação da sua potência em<br />

função dos requisitos de climatização do edifício. Os peritos<br />

deverão também fornecer aos utilizadores recomendações<br />

sobre possíveis melhorias ou a substituição do sistema de ar<br />

condicionado, ou soluções alternativas. Com estas medidas<br />

pretende-se uma redução do consumo de energia e a<br />

limitação das emissões de dióxido de carbono pelos Estados-<br />

Membros.<br />

A Directiva impôs a data de 4 de Janeiro de 2006 para que os<br />

Estados-Membros colocassem em vigor as disposições legais,<br />

regulamentares e administrativas necessárias para dar<br />

cumprimento à referida Directiva, devendo dar<br />

conhecimento à Comissão desse facto. O prazo poderia ser<br />

alargado por mais 3 anos se os Estados-Membros não<br />

dispusessemde peritos qualificadosem número suficiente.<br />

Por forma a cumprir o imposto pela Directiva 2002/91/CE e<br />

também como forma de adequação da anterior<br />

regulamentação, Portugal aprovou no conselho de ministros<br />

de 26 de Janeiro de 2006 a nova regulamentação para o<br />

Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade<br />

do Ar Interior nos Edifícios (SCE), o Regulamento das<br />

Características de Comportamento Térmico dos Edifícios<br />

(RCCTE) e o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de<br />

Climatização dos Edifícios (RSECE). Em 4 de Abril de 2006<br />

foram publicados em Diário da República os respectivos<br />

Decreto-Lei.<br />

224


ARTIGO TÉCNICO<br />

2. Sistema Nacional de Certificação Energética e da<br />

Qualidade do Ar Interior os Edifícios (SCE)<br />

Através do decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril, Portugal<br />

transpôs parcialmente para ordem jurídica nacional a<br />

Directiva nº 2002/91/CE, cumprindo assim os prazos<br />

impostos pela mesma. Com este decreto-lei, o Estado<br />

assegura a melhoria do desempenho energético e da<br />

qualidade do ar interior através do Sistema Nacional de<br />

Certificação Energética e da Qualidade do Ar interior nos<br />

edifícios(SCE).<br />

O SCE tem 3 finalidades principais sendo que a primeira<br />

delas é a de assegurar a correcta aplicação das disposições<br />

contidas no Regulamento das Características de<br />

Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) e no<br />

Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos<br />

Edifícios (RSECE). A segunda finalidade é o de certificar o<br />

desempenho energético e a qualidade do ar interior nos<br />

edifícios. Por último fazer a identificação de medidas<br />

correctivas ou de melhoria de desempenho energético nos<br />

edifícios.<br />

Portugal com esta legislação impôs a aplicação do SCE aos<br />

edifícios novos e aos existentes quando sujeitos a renovação,<br />

estando ou não sujeitos a licenciamento. Aos edifícios de<br />

serviços existentes, sujeitos periodicamente a auditorias e<br />

aos edifícios existentes para habitação ou serviços, sempre<br />

que sejam celebrados contratos de venda e de locação.<br />

Nesses casos o proprietário terá que apresentar ao potencial<br />

comprador ou locatário ou arrendatário, o certificado<br />

emitido no âmbito do SCE.<br />

O certificado energético atribui uma etiqueta que traduz o<br />

desempenho energético do edifício. Essa etiqueta está<br />

organizada por uma escala de eficiência que varia entre A+ e<br />

G, da forma ilustrada na tabela 1.<br />

A supervisão do SCE é compartilhada entre a Direcção-Geral<br />

de Geologia e Energia e o Institutodo Ambiente. A gestão do<br />

SCE foi atribuída à Agência para a Energia (ADENE), que tem<br />

como objectivos o de assegurar o funcionamento do sistema,<br />

aprovar o modelo de certificados de desempenho<br />

energético, criar uma bolsa de peritos qualificados do SCE e<br />

disponibilizar, online, o acesso a toda a informação relativa<br />

aos processos de certificaçãoaos peritos.<br />

No DL 78/2006 estão ainda definidos os requisitos<br />

necessários para o exercício da função de perito qualificado,<br />

as competências dos mesmos, as obrigações dos promotores<br />

ou proprietários dos edifícios ou equipamentos e o prazo de<br />

validade dos certificados que foi fixado em 10 anos. O<br />

mesmo DL define ainda as taxas a pagar pelo registo dos<br />

certificados na ADENE, contra-ordenações, coimas e sanções<br />

acessórias a pagar sempre que haja incumprimentos dos<br />

regulamentos. As sanções acessórias podem passar pela<br />

suspensão de licença ou de autorização de utilização;<br />

encerramento do edifício ou a suspensão do exercício da<br />

actividade de perito qualificado. Quanto ao produto das<br />

coimas é repartido entre os cofres do Estado (60%) e a<br />

entidade que instruiu o processo de contra-ordenação e<br />

aplicou a coima.<br />

Classe Energética<br />

A+<br />

Consumo<br />

Menos que 25% do<br />

consumo de referência<br />

A Entre 25% e 50%<br />

B Entre 50% e 75%<br />

B- Entre 75% e 100%<br />

C Entre 100% e 150%<br />

D Entre 150% e 200%<br />

E Entre 200% e 250%<br />

F Entre 250% e 300%<br />

G<br />

Superior a 300% do<br />

consumo de referência<br />

Tabela 1 – Etiqueta de eficiência energética<br />

225


ARTIGO TÉCNICO<br />

3. Regulamento dos Sistemas Energéticos e de<br />

Climatização dos Edifícios (RSECE)<br />

Em Portugal já existia um regulamento dos Sistemas<br />

Energéticos e de Climatização dos Edifícios desde 1992,<br />

aprovado pelo decreto-lei nº 156/92, de 29 de Julho e que<br />

nunca chegou a ser aplicado.<br />

Define ainda as condições de manutenção dos sistemas de<br />

climatização, as condições de monitorização e de auditoria<br />

de funcionamento dos edifícios em termos dos consumos de<br />

energia e da qualidade do ar interior e especifica os<br />

requisitos a que devem obedecer os técnicos responsáveis<br />

pelo projecto, instalação e manutenção dos sistemas de<br />

climatização.<br />

Seis anos volvidos, foi aprovado o decreto-lei nº 118/98, de 7<br />

de Maio que veio substituir o decreto-lei anterior e que se<br />

manteve em vigor até 2006, ano em que Portugal reviu o<br />

RSECE tendo como objectivo, também, ir ao encontro das<br />

exigências da Directiva nº 2002/91/CE, que como já se<br />

referiu impunha aos Estados-Membros a revisão periódica<br />

dos regulamentos.<br />

A revisão do anterior RSECE impunha a definição de<br />

condições de conforto térmico e de higiene nos diferentes<br />

espaços dos edifícios, melhorar a eficiência energética global<br />

dos edifícios, impor regras de eficiência aos sistemas de<br />

climatização e monitorizar periodicamente as práticas de<br />

manutenção dos sistemas de climatização. Neste sentido é<br />

aprovado o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de<br />

Climatização dos Edifícios (RSECE) que é publicado como<br />

anexo ao decreto-lei 79/2006, de 4 de Abril.<br />

Este novo regulamento estabelece as condições a observar<br />

aquando do projecto de novos sistemas de climatização,<br />

definindo os requisitos em termos de conforto térmico e de<br />

qualidade do ar interior, bem como os requisitos mínimos de<br />

renovação e tratamento de ar que devem ser assegurados<br />

em condições de eficiência energética; Os requisitos em<br />

termos da concepção, instalação e do estabelecimento das<br />

condições de manutenção a que devem obedecer os<br />

sistemas de climatização; A observância dos princípios da<br />

utilização racional da energia como forma de<br />

sustentabilidadeambiental.<br />

No novo RSECE são ainda definidos os limites máximos de<br />

consumo de energia nos grandes edifícios de serviços<br />

existentes; No cálculo dos consumos de energia para todo o<br />

edifíciodeve ser dada especial atenção à climatização.<br />

226<br />

O novo RSECE impõe uma limitação efectiva dos consumos<br />

energéticos globais do edifício, entrando em consideração<br />

com os consumos da climatização, iluminação, entre outros,<br />

quer para os edifícios novos quer para os existentes. Para os<br />

edifícios novos o projectista é ainda obrigado a detalhar os<br />

métodos de previsão dos consumos energéticos, na fase de<br />

projecto. Após a verificação da conformidade regulamentar<br />

na fase de projecto e no final da obra, são passadas as<br />

licençasde construção ou de utilização.<br />

Para os edifícios existentes a verificação dos consumos será<br />

feito através de auditorias energéticas periódicas. Sempre<br />

que sejam verificadas inconformidades regulamentares,<br />

deverão ser propostas e implementadas medidas<br />

correctivas, desde que seja garantida a viabilidade<br />

económicadas mesmas.<br />

Neste regulamento são ainda definidos os requisitos para a<br />

manutenção da qualidade do ar interior, nesse sentido os<br />

novos edifícios a construir e que se encontrem abrangidos<br />

pelo RSECE, devem ser dotados de meios naturais,<br />

mecânicos ou híbridos que garantam as taxas de renovação<br />

de ar de referência fixadas. Aos edifícios de serviços<br />

existentes, abrangidos pelo RSECE e que possuam sistemas<br />

de climatização devem ser efectuadas auditorias à qualidade<br />

do ar interior (QAI). Nestas auditorias devem ser medidos os<br />

agentes poluentes no interior dos edifícios. Sempre que nas<br />

auditorias sejam detectadas concentrações acima das<br />

permitidas, o proprietário, ou locatário ou arrendatário do<br />

edifício deve preparar um plano de acções correctivas da<br />

QAI, no prazo máximo de 30 dias após a conclusão da<br />

auditoria. Este prazo pode ser reduzido se a QAI estiver<br />

gravemente comprometida, podendo, em casos extremos,<br />

ser decretado o encerramento imediato do edifício.


ARTIGO TÉCNICO<br />

Nos edifícios de serviços, ou fracções autónomas, abrangidos<br />

pelo RSECE, deve existir um técnico responsável pelo bom<br />

funcionamento dos sistemas energéticos de climatização,<br />

incluindoa sua manutenção, e pela qualidade do ar interior.<br />

O referido técnico é ainda responsável pela gestão da<br />

respectiva informação técnica. As qualificações do técnico<br />

estão definidas no decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril.<br />

Neste decreto-lei estão também definidas as qualificações<br />

dos técnicos de instalação e manutenção de sistemas de<br />

climatização e QAI, bem como todas as coimas e sanções<br />

aplicadasem caso de incumprimentos regulamentares.<br />

4. Regulamento das Características de Comportamento<br />

Térmico dos Edifícios (RCCTE)<br />

Com o aumento significativo do uso de equipamentos de<br />

climatização, em especial dos sistemas de ar condicionado,<br />

mesmo no sector residencial e também devido às<br />

imposições decorrentes da Directiva 2002/91/CE, é aprovado<br />

em Portugal o Regulamento das Características de<br />

Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE), que é<br />

publicadoem anexo ao decreto-lei nº 80/2006, de 4 de Abril.<br />

O RCCTE estabelece as regras a observar no projecto de<br />

todos os edifícios de habitação e dos edifícios de serviços<br />

sem sistemas de climatização centralizados de modo a que,<br />

sem dispêndio excessivo de energia, sejam garantidas as<br />

exigências de conforto térmico e de ventilação necessárias<br />

para a qualidade do ar interior, bem como as necessidades<br />

de águas quentes sanitárias.<br />

O primeiro instrumento legal que em Portugal impôs<br />

requisitos ao projecto de novos edifícios e de grandes<br />

remodelações, com o objectivo de salvaguardar a satisfação<br />

das condições de conforto térmico sem necessidade de<br />

recorrer ao uso excessivo de energia, foi aprovado pelo<br />

decreto-lei nº 40/90 de 6 de Fevereiro.<br />

Para a garantia deste último aspecto, o novo RCCTE impõe a<br />

obrigatoriedade do recurso a sistemas solares para<br />

aquecimento de água em edifícios que tenham cobertura<br />

com exposição solar adequada. Podem ser usados outros<br />

sistemas renováveis, alternativos aos colectores solares,<br />

desde que sejam mais eficientes.<br />

227


ARTIGO TÉCNICO<br />

Ao nível do projecto devem ainda ser minimizadas as<br />

situações patológicas nos elementos de construção<br />

provocadas pela ocorrência de condensações superficiais ou<br />

internas, que levam a uma diminuição da durabilidade dos<br />

elementosconstrutivos e da qualidade do ar interior.<br />

O RCCTE apresenta metodologias de cálculo das<br />

necessidades de aquecimento e de arrefecimento de uma<br />

fracção autónoma ou de um edifício e o método de cálculo<br />

das necessidades de energia para preparação da água<br />

quente sanitária. Factores como a zona climática onde se<br />

situa o edifício, a altitude em relação ao nível do mar, o grau<br />

de exposição aos ventos e a adequação das caixilharias a esta<br />

exposição, são factores importantes ao método de cálculo do<br />

novo RCCTE.<br />

A responsabilidade pela demonstração do cumprimento das<br />

exigências impostas pelo Regulamento tem de ser assumida<br />

por um arquitecto, um engenheiro ou um engenheiro<br />

técnico, reconhecidos pelas respectivas Ordens ou<br />

Associações,com qualificaçõespara o efeito.<br />

5. Conclusão<br />

A reformulação dos Regulamentos descritos impôs<br />

mecanismos mais eficientes de comprovação das<br />

conformidades regulamentares e aumentou o grau de<br />

exigência e responsabilidade de todos os elementos<br />

envolvidos, desde projectistas a instaladores e técnicos<br />

responsáveis. Estes Regulamentos fazem parte da Estratégia<br />

Nacional para a Energia, aprovada em 2005 e que por sua vez<br />

se insere numa estratégia europeia que visa o aumento da<br />

eficiênciaenergéticae redução das emissões de CO 2 .<br />

Neste artigo foi feito um pequeno resumo dos diversos<br />

decretos que regulam este sector, pelo que se recomenda a<br />

leitura atenta dos decreto-lei referidos, por todos aqueles<br />

que são, ou pretendem vir a ser, intervenientesnesta área.<br />

228


ARTIGO TÉCNICO<br />

José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

Ascensores<br />

Optimização Energética<br />

1. ENQUADRAMENTO<br />

Segundo um estudo recente da União Europeia 1 , o sector<br />

dos edifícios será responsável por cerca de 40% do consumo<br />

total de energia neste espaço geográfico.<br />

Cerca de 70% do consumo de energia deste sector verificarse-á<br />

nos edifícios residenciais.<br />

Em Portugal, mais de 28% da energia final e 60% da energia<br />

eléctricaé consumida em edifícios.<br />

Por forma a dar cumprimento ao Protocolo de Kyoto, no qual<br />

se definiu uma drástica redução da emissão de CO 2 , a<br />

Comunidade Europeia emanou várias directivas que se<br />

relacionam directa ou indirectamente com a temática da<br />

utilizaçãode energia.<br />

As mais importantes são entre outras, a Directiva<br />

2002/91/CE de 16 de Dezembro de 2002 - “EPB - Energy<br />

Performance of Buildings” (Desempenho Energético de<br />

Edifícios) 2 , transposta parcialmente para o direito nacional<br />

pelo Decreto-Lei nº 78/2006 de 04 de Abril, e a Directiva<br />

2005/32/CE de 06 de Julho de 2005 – “EuP – Energy Using<br />

Products” (Requisitos de concepção ecológica dos produtos<br />

que consomem energia) 3 .<br />

Os ascensores não são referidos explicitamente nestas duas<br />

directivas, quando se aborda a temática do aumento da<br />

eficiênciaenergética.<br />

Na Directiva EPB são referidos essencialmente equipamentos<br />

técnicos dos edifícios como sistemas de aquecimento,<br />

climatização e iluminação, bem como sistemas de<br />

isolamentotérmico dos edifícios.<br />

Na EuP, por sua vez, também não se indicam<br />

especificamente os ascensores, embora sejam referidos por<br />

exemplo motores eléctricos, que farão parte integrante de<br />

um ascensor.<br />

1<br />

Ver Directiva 2002/91/CE de 16.12.2002.<br />

2<br />

O objectivo desta directiva passa pela promoção da melhoria do desempenho energético dos edifícios na Comunidade, tendo em conta as condições climáticas<br />

externas e as condições locais, bem como as exigências em matéria de clima interior e a rentabilidade económica. Esta Directiva estabelece requisitos em termos<br />

de:<br />

a) enquadramento geral para uma metodologia de cálculo do desempenho energético integrado dos edifícios;<br />

b) aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético de novos edifícios;<br />

c) aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético dos grandes edifícios existentes que sejam sujeitos a importantes obras de renovação;<br />

d) certificação energética dos edifícios;<br />

e) inspecção regular de caldeiras e instalações de ar condicionado nos edifícios e, complementarmente, avaliação da instalação de aquecimento quando as<br />

caldeiras tenham mais de 15 anos.<br />

O Decreto-Lei nº 78/2006 de 04 de Abril – Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar (SCE), transpõe parcialmente para a ordem jurídica<br />

nacional esta directiva comunitária, tendo como finalidade assegurar a aplicação regulamentar, nomeadamente no que respeita às condições de eficiência<br />

energética, à utilização de sistemas de energias renováveis e, ainda, às condições de garantia da qualidade do ar interior, de acordo com as exigências e<br />

disposições contidas em:<br />

a) Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) – Decreto-Lei 80/2006 de 04 de Abril, e<br />

b) Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de Abril.<br />

3<br />

Esta directiva cria um quadro de definição dos requisitos comunitários de concepção ecológica dos produtos consumidores de energia com o objectivo de<br />

garantir a livre circulação destes produtos nos mercado interno.<br />

Prevê ainda a definição de requisitos a observar pelos produtos consumidores de energia abrangidos por medidas de execução, com vista à sua colocação no<br />

mercado e/ou colocação em serviço. Contribui para o desenvolvimento sustentável, na medida em que aumenta a eficiência energética e o nível de protecção do<br />

ambiente, e permite ao mesmo tempo aumentar a segurança do fornecimento de energia.<br />

Nota: a presente directiva não é aplicável a meios de transporte de pessoas ou mercadorias.<br />

229


ARTIGO TÉCNICO<br />

De acordo com um estudo da S.A.F.E – “Agência Suiça para a<br />

Utilização Eficiente da Energia”, realizado em 2005, os<br />

ascensores podem representar uma parte significativa do<br />

consumo de energia num edifício (o consumo energético de<br />

um ascensor poder representar em média 5% do consumo<br />

total de energia de um edifício de escritórios). Na Suiça<br />

estima-se que o somatório do consumo de energia dos cerca<br />

de 150.000 ascensores instalados represente cerca de 0,5%<br />

do total de 280 GWh de consumo energético do país.<br />

A redução do consumo de energia nos edifícios poderá ser<br />

obtida através da melhoria das características construtivas,<br />

reduzindo dessa forma as necessidades energéticas, através<br />

de medidas de gestão da procura, no sentido de reduzir os<br />

consumos na utilização e através do recurso a equipamentos<br />

energeticamentemais eficientes.<br />

No preâmbulo da Directiva EuP refere-se que “a melhoria da<br />

eficiência energética – de que uma das opções disponíveis<br />

consiste na utilização final mais eficiente da electricidade – é<br />

considerada um contributo importante para a realização dos<br />

objectivos de redução das emissões de gases com efeito de<br />

estufana Comunidade.”<br />

Daí que seja importante estudar também a optimização<br />

energéticade ascensores.<br />

No presente artigo será apresentado um resumo do estudo<br />

sobre o consumo energético realizado a uma amostra<br />

composta por 20 ascensores eléctricos instalados pela<br />

Schmitt-Elevadores,Lda. em Portugal.<br />

Para a determinação do consumo anual de energia a partir<br />

dos dados obtidos, foi utilizado um modelo, desenvolvido<br />

com base na norma alemã VDI 4707:2009 4 .<br />

Com base nos dados obtidos foram então identificadas<br />

diversas hipóteses de optimização, que poderão e deverão<br />

ser implementadas.<br />

2. O MODELO DE APOIO PARA A DETERMINAÇÃO DO<br />

CONSUMO ANUAL<br />

Com o objectivo de desenvolver sugestões de optimização<br />

energética num dado ascensor já existente, com base no<br />

consumo energético medido, optou-se por recorrer à norma<br />

alemã VDI 4707:2009, publicada em Março de 2009 pela<br />

Associação dos Engenheiros Alemães (Verein Deutscher<br />

Ingenieure). É assim possível realizar uma avaliação e<br />

classificação universal e transparente da eficiência<br />

energética de ascensores, com base em critérios<br />

standardizados.<br />

2.1 Objectivos da norma<br />

1. Permitir uma avaliação e classificação universal e<br />

transparente da eficiência energética de ascensores,<br />

baseada em métodos de cálculo e teste dos seus<br />

consumos energéticos;<br />

2. Disponibilizar a construtores civis, arquitectos,<br />

projectistas, empresas instaladoras e de manutenção de<br />

ascensores e a operadores um enquadramento que lhes<br />

permita incluir a procura de energia de ascensores na<br />

sua avaliação da eficiência energética do edifício e assim<br />

seleccionaros equipamentos mais adequados;<br />

3. Servir de base para um rating energético de ascensores<br />

no âmbito da eficiência energética total do edifício,<br />

dando origem à elaboração de um certificado energético.<br />

2.2 Âmbito da norma<br />

A Norma VDI 4707:2009 aplica-se à avaliação e classificação<br />

de novos ascensores de pessoas e de cargas, quanto à sua<br />

eficiênciaenergética. Pode igualmente ser utilizada para a:<br />

a. determinação da eficiência energética de ascensores já<br />

instalados;<br />

b. comprovação dos parâmetros fornecidos pelos<br />

fabricantesde ascensores;<br />

c. determinaçãodo consumo energético estimado.<br />

4<br />

Para uma descrição mais detalhada consultar o ponto 2.<br />

230


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.3 Valores característicos<br />

A necessidade energética, isto é, o valor esperado de<br />

consumo de energia, calculado com base em determinadas<br />

premissas, pode ser caracterizadacom base na:<br />

1. Necessidadeenergéticade stand-by<br />

e<br />

2. Necessidadeenergéticade manobra.<br />

Estes dois valores de necessidade energética determinam a<br />

classe de eficiência energética do ascensor, dependendo da<br />

sua intensidade de utilização.<br />

Existem sete classes de necessidade energética e de<br />

eficiência energética, representadas pelas letras A a G. A<br />

classe A representa a menor necessidade energética, e logo a<br />

melhor eficiênciaenergética.<br />

A necessidade energética de stand-by é a necessidade<br />

energética total do ascensor, quando este se encontra em<br />

modo stand-by, isto é, quando o sistema de tracção se<br />

encontradesligado.<br />

Só serão consideradas as partes do equipamento eléctrico e<br />

os componentes que contribuem para a prontidão de<br />

reacção e de funcionamento do ascensor (por exemplo, a<br />

iluminação da casa de máquinas e da caixa do ascensor não<br />

são consideradas).<br />

A necessidade energética de manobra é a necessidade<br />

energética total do ascensor durante a manobra para um<br />

ciclo de manobras previamente definido e com uma<br />

determinadacarga específica.<br />

O valor resultante da necessidade energética específica em<br />

mWh/(kg.m) está relacionada com a distância percorrida em<br />

metros e com a carga nominal em kg.<br />

A utilização de cargas distintas da carga nominal para cálculo<br />

da necessidade energética específica devem ser<br />

documentadas.<br />

Estes valores de necessidade energética específica podem<br />

ser utilizados para comparar a eficiência energética de<br />

diferentesascensores.<br />

Dependendo dos valores de necessidade energética, os<br />

ascensores são divididos em classes de necessidade<br />

energéticade stand-by e de manobra.<br />

A necessidade energética global de um ascensor depende,<br />

para além da sua concepção, especialmente da sua<br />

utilização. Dependente do tipo de edifício, da utilização do<br />

ascensor e do número de passageiros, são definidas 5<br />

categorias de utilização que diferem entre si devido ao<br />

tempo médio de manobra diário. Dependendo da parcela<br />

temporal entre a necessidade energética de stand-by e de<br />

manobra, podem ser calculadas várias classes de eficiência<br />

energéticapara as 5 categorias de utilização.<br />

Na tabela 1 seguinte são apresentadas as 5 categorias de<br />

utilização, os tempos médios de manobra e de stand-by,<br />

bem como exemplos de ascensores que se enquadram<br />

nessascategorias.<br />

2.4 Determinação das especificações e dos valores<br />

característicos<br />

As necessidades energéticas de stand-by podem ser<br />

determinadas por medição ou pela soma dos valores de<br />

necessidades energéticas individuais, desde que<br />

suficientementeconhecidos.<br />

As necessidades energéticas de stand-by são determinadas 5<br />

minutos após a conclusão da última manobra.<br />

As necessidades energéticas de manobra são determinadas<br />

para manobras de referência utilizando-se cargas individuais<br />

com referência à carga nominal de acordo com a seguinte<br />

tabela 2.<br />

231


ARTIGO TÉCNICO<br />

Tabela 1 - Categorias de Utilização<br />

Categoria de Utilização 1 2 3 4 5<br />

Intensidade de Utilização Muito baixa Baixa Média Elevada Muito elevada<br />

Frequência de Utilização Muito rara Rara Pontualmente Elevada Muito elevada<br />

Tempo Médio de Manobra<br />

(horas / por dia)<br />

Tempo Médio de Stand-by<br />

(horas / por dia)<br />

0,2 (≤0,3) 0,5 (>0,3-1) 1,5 (>1-2) 3(>2-4,5) 6(>4,5)<br />

23,8 23,5 22,5 21 18<br />

Tipo de Edifício e de<br />

Utilização<br />

Edifício de<br />

habitação com até<br />

6 apartamentos<br />

Edifício de<br />

habitação com até<br />

20 apartamentos<br />

Edifício de<br />

habitação com até<br />

50 apartamentos<br />

Edifício de habitação<br />

com mais de 50<br />

apartamentos<br />

Pequeno edifício de<br />

escritórios e de<br />

serviços com pouco<br />

movimento<br />

Pequeno edifício de<br />

escritórios e de<br />

serviços com 2 a 5<br />

pisos<br />

Pequeno edifício de<br />

escritórios e de<br />

serviços com até 10<br />

pisos<br />

Pequeno edifício de<br />

escritórios e de serviços<br />

em altura com mais de<br />

10 pisos<br />

Pequeno edifício de<br />

escritórios e de serviços em<br />

altura com mais de 100 m<br />

Pequeno hotel<br />

Hotel de dimensão<br />

média<br />

Grande hotel<br />

Hospital de pequena<br />

ou média dimensão<br />

Grande Hospital<br />

Ascensor de carga<br />

com pouco<br />

movimento<br />

Ascensor de carga<br />

com movimento<br />

médio<br />

Ascensor de carga<br />

integrado no processo<br />

produtivo com 1 turno<br />

Ascensor de carga integrado<br />

no processo produtivo com<br />

vários turnos<br />

As manobras de referência são constituídas pelo seguinte<br />

ciclo de manobra:<br />

1. Início da manobra de referência com a porta do ascensor<br />

aberta;<br />

2. Fechar a porta do ascensor;<br />

3. Viagem para cima ou para baixo utilizando todo o curso<br />

do ascensor;<br />

4. Abrir e fechar imediatamentea porta do ascensor;<br />

5. Viagem para baixo ou para cima utilizando todo o curso<br />

do ascensor;<br />

6. Abrir a porta;<br />

7. Fim da manobra de referência.<br />

As manobras de referência são somadas de acordo com o<br />

rácio temporal indicado na tabela 1.<br />

Para ascensores com uma massa de contrapeso igual ao peso<br />

da cabina mais 40% ou 50% da carga nominal, ou para<br />

ascensores com uma massa de compensação inferior a 30%<br />

do peso da cabina ou para ascensores sem qualquer<br />

compensação, as manobras de referência podem ser<br />

realizadascom uma cabina vazia.<br />

Para corrigir os valores em relação ao espectro de cargas<br />

apresentados na tabela em cima, as necessidades<br />

energéticas de manobra determinadas com a cabina vazia<br />

são multiplicados pelos seguintes factoresde carga:<br />

• 0,7 para ascensores com contrapeso (peso da cabina<br />

mais 40% ou 50% da carga nominal);<br />

• 1,2 para ascensores sem qualquer compensação ou com<br />

uma compensação até 30% do peso da cabina;<br />

Nota: o factor de carga não é utilizado quando as<br />

necessidades energéticas de manobra são determinadas<br />

tomando por base o espectro de cargas indicado na tabela 2.<br />

Tabela 2 - Espectro de Cargas<br />

Carga em % da carga nominal % de Manobras<br />

0% 50%<br />

20% 30%<br />

50% 10%<br />

75% 10%<br />

100% 0%<br />

232


ARTIGO TÉCNICO<br />

As necessidades energéticas de manobra podem ser<br />

determinadas por medição ou pelo somatório de valores<br />

conhecidosde necessidadesenergéticasindividuais.<br />

As necessidades energéticas de manobra em Watt-hora (Wh)<br />

determinadas nas manobras de referência são divididas pela<br />

carga nominal da cabina e pela distância percorrida durante<br />

a manobra de referência. Para garantir uma boa qualidade<br />

de dados, as manobras de referência deverão ser realizadas<br />

diversas vezes.<br />

As medições dos valores de consumo de energia devem ser<br />

feitas a seguir ao interruptor principal do circuito de<br />

potência e a seguir ao interruptor para os circuitos de<br />

iluminação.<br />

necessidades energéticas por dia e os dias de operação por<br />

ano.<br />

Procedimentode cálculo:<br />

1. Carga nominal Q em kg<br />

2. NecessidadeenergéticaP stand-by em W<br />

3. NecessidadeenergéticaE manobra em mWh/(kg.m)<br />

4. Tempo de utilização tmanobra em horas por dia<br />

5. Distância percorrida snominal em m durante o tempo de<br />

utilizaçãopor dia<br />

6. S nominal = V nominal x t manobra [1]<br />

E<br />

s tan d − by<br />

= Ps<br />

tan d −by<br />

× ts<br />

tan d −by<br />

Obtém-seassim a necessidadeenergética diária:<br />

[2]<br />

A iluminação da casa de máquinas e da caixa do ascensor<br />

não serão consideradas, para a determinação do consumo de<br />

energia.<br />

Emanobra Emanobra<br />

especifico<br />

× sno<br />

al<br />

× Q<br />

=<br />

,<br />

min<br />

E + E<br />

dia<br />

= Es<br />

tan d −by<br />

manobra<br />

[3]<br />

[4]<br />

Dever-se-ão ter em conta também para efeitos de medição<br />

os circuitos eléctricos de interligação de ascensores em<br />

grupo, devendo-se somar esses valores aos consumos em<br />

stand-by(proporcionalmentepara cada ascensor do grupo).<br />

Para além dos circuitos e das cargas já mencionadas, podem<br />

existir ainda outros circuitos independentes para alimentar<br />

cargas necessárias para o funcionamento do ascensor (por<br />

exemplo aquecimento ou arrefecimento). Os valores de<br />

consumo de energia para estas cargas têm de ser igualmente<br />

determinadose documentadosseparadamente.<br />

As medições devem ocorrer em condições reais de<br />

funcionamento do ascensor, não se podendo desligar<br />

quaisquer cargas, que normalmente estejam activas durante<br />

o normal funcionamentodo ascensor.<br />

As necessidades energéticas esperadas para operação de um<br />

ascensor podem ser projectadas calculando as necessidades<br />

energéticas por ano usando os valores de necessidade<br />

energética de stand-by e de manobra de acordo com a<br />

parcela temporal na categoria de utilização do ascensor, as<br />

As necessidadesenergéticasnominais anuais são dadas por:<br />

E Ano<br />

= E dia<br />

2.5 Necessidades energéticas e classes de eficiência<br />

energética<br />

Ao ascensor é atribuído uma classe de necessidade<br />

energética tomando por base as tabelas 1 e 2, e de acordo<br />

com as necessidadesenergéticasde stand-by e de manobra.<br />

As classes de eficiência energética para um ascensor são<br />

determinadas a partir dos valores de consumo de energia em<br />

stand-by e em manobra, projectando a potência em stand-by<br />

e a necessidade energética em manobra com os tempos<br />

médios de stand-by e viagem para a obtenção do consumo<br />

diário, de acordo com a tabela 1 e dividindo o valor obtido<br />

pelo número de metros percorridos e pela carga nominal.<br />

Obtém-se assim a energia necessária total específica para o<br />

ascensor.<br />

×365<br />

[6]<br />

233


ARTIGO TÉCNICO<br />

Para a atribuição das necessidades específicas de energia a<br />

classes de eficiência energética, os valores limite para a<br />

manobra e para as necessidades de stand-by pertencentes a<br />

uma mesma classe são combinados de acordo com as<br />

tabelas3 e 4 utilizando-sea seguinte equação:<br />

E<br />

Ascensor,max<br />

= E<br />

manobra ,max<br />

P<br />

+<br />

Q×<br />

v<br />

s tan d −by<br />

,max<br />

no min al<br />

× t<br />

× t<br />

s tan d −by<br />

manobra<br />

P stand-by deverá ser indicado em mW e t manobra em h.<br />

Tabela 3 - Classes de necessidade energéticas – stand-by<br />

Potência<br />

/Output<br />

(W)<br />

Classes de necessidades energéticas – stand-by<br />

× 1000<br />

× 3600<br />

[7]<br />

≤50 ≤100 ≤200 ≤400 ≤800 ≤1600 >1600<br />

Classe A B C D E F G<br />

Consumo<br />

energético<br />

específico<br />

(mWh/(kg.m))<br />

Tabela 4 - Classes de eficiência energética - manobra<br />

Classes de necessidades energéticas – manobra<br />

≤<br />

0,56<br />

≤<br />

0,84<br />

2.6 Certificado Energético<br />

≤<br />

1,26<br />

≤<br />

1,89<br />

Os valores característicos poderão ser entregues pelo<br />

fabricante ao construtor ou utilizador do ascensor no âmbito<br />

de um orçamento. Se não foi indicada nenhuma categoria de<br />

utilização, o fabricante poderá apresentar valores<br />

característicos para diferentes categorias. Estes valores<br />

podem ser apresentadosnum certificadoenergético.<br />

Na figura 1 apresenta-se um exemplo de um certificado<br />

energéticopara um ascensor já existente:<br />

≤<br />

2,80<br />

≤<br />

4,20<br />

><br />

4,20<br />

Classe A B C D E F G<br />

Certificado Energético para Ascensores segundo a norma VDI 4707 (Versão 03-2009)<br />

Número Ascensor:<br />

Tipo de Ascensor:<br />

Descrição:<br />

Local de Instalação:<br />

Cód. Postal<br />

Carga Nominal:<br />

Velocidade:<br />

VN106072<br />

Sem casa de máquinas, suspensão central<br />

Edíficio Douro<br />

Rua da Boavista, 232<br />

4150-322 Porto<br />

630 kg<br />

1,0 m/s<br />

Curso: 15,00 m Dias utilização: 365<br />

Classe de Eficiência Energética (VDI 4707):<br />

Nº Pisos 6 Factor de carga: 0,7<br />

Valores medidos: Potência em stand-by 54,00 W<br />

E<br />

0<br />

Necessidade Energética<br />

de Stand-by (VDI 4707):<br />

Necessidade energética para<br />

uma manobra de referência<br />

seg. VDI 4707:<br />

36,50 Wh 1,3518519<br />

Necessidade Energética<br />

de Manobra (VDI 4707):<br />

A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

F<br />

G<br />

0<br />

0<br />

C<br />

0<br />

0<br />

0<br />

≤ 100 W<br />

≤ 1,89 mWh/(m·kg)<br />

(Classe B)<br />

(Classe D)<br />

414 kWh 3357 kWh<br />

Necessidades energéticas anuais nominais de circuitos independentes: 3771 kWh<br />

365<br />

Dias de operação por ano<br />

Intensidade de Utilização:<br />

Tempo médio<br />

de Manobra<br />

(horas por dia):<br />

Categoria de Utilização (VDI 4707) 4 1,518518519 Só é possível comparar classes energéticas dentro da mesma categoria de utilização!<br />

elevada - elevada<br />

Tempo médio<br />

3<br />

(> 2 ... 4,5)<br />

de stand-by<br />

(horas por dia):<br />

21<br />

Tipo de Edifício e de<br />

utilização típica:<br />

Edifício de habitação com mais de 50 apartamentos; Edifício de escritórios<br />

em altura com mais de 10 pisos; Grande Hotel; Hospital de pequena ou<br />

média dimensão; Ascensor de carga integrado no processo produtivo com<br />

um turno<br />

Certificado elaborado em<br />

28-06-2009<br />

Data<br />

por<br />

Nome<br />

Assinatura e carimbo da empresa<br />

Figura 1 – O Certificado Energético<br />

234


ARTIGO TÉCNICO<br />

3. IDENTIFICAÇÃO DE HIPÓTESES DE OPTIMIZAÇÃO<br />

Para se poderem adoptar as diferentes hipóteses de<br />

optimização que são em baixo propostas, ter-se-á de medir o<br />

seu impacto no consumo de energia, bem como determinar<br />

o seu impacto em termos económicos.<br />

3.1 Ascensor em Stand-by<br />

Diz-se no preâmbulo da Directiva Comunitária EuP que<br />

“como princípio geral, o consumo de energia dos produtos<br />

que consomem energia em estado de vigília ou desactivados<br />

deverá ser reduzido ao mínimo necessário para o seu<br />

funcionamentonormal.”<br />

O consumo em stand-by é provocado por vários sistemas do<br />

ascensor:<br />

1. O Comando do Ascensor: mesmo com a máquina<br />

imobilizada, o autómato do ascensor está sempre activo<br />

para poder reagir de imediato a um qualquer comando<br />

do exterior. Paralelamente estará a controlar<br />

continuamente todas as seguranças do ascensor. O(s)<br />

transformador(es) normalmente utilizados têm perdas,<br />

apesar de não haver qualquer solicitaçãodirecta.<br />

Solução: Após análise do padrão de tráfego do ascensor,<br />

desligar durante as “horas mortas”, algumas das funções<br />

do comando, introduzindo um modo sleep. Desta forma,<br />

será possível por exemplo selectivamente desligar alguns<br />

pisos do edifício – solução aplicável por exemplo num<br />

edifício de escritórios, que funciona em pleno apenas<br />

entre as 08.00 horas e as 20.00 horas. Poder-se-á desligar<br />

também algumas das funções de controlo e supervisão<br />

do comando. Ter-se-á, contudo, de admitir um tempo de<br />

reacção maior, quando durante o modo sleep ocorrer<br />

algum comando externo. Quanto aos transformadores,<br />

prevê-se a instalação de fontes de alimentação mais<br />

eficientes, por exemplo através da aplicação de<br />

componentes de electrónica de potência. Ambas as<br />

soluções estão já contempladas na última geração de<br />

comandos electrónicos, modelo Schmitt+Sohn<br />

Microtronic MC10.<br />

2. Os Displays nos patamares: os sinalizadores, com<br />

indicação do piso em que se encontra<br />

momentaneamente o ascensor, bem como as setas de<br />

sinalização estão continuamente com as lâmpadas ou<br />

com os segmentos ligados.<br />

Solução: Recurso a leds para os displays nos patamares e<br />

dentro da cabina, eliminando dessa forma as pequenas<br />

lâmpadas incandescentes. Todos os ascensores<br />

produzidos actualmente pela Schmitt-Elevadores<br />

possuem já esta solução implementada.<br />

3. Painel de botoneira de cabina: situação idêntica à dos<br />

displays nos patamares, porquanto dentro da cabina<br />

também existem sinalizadores com indicação do piso em<br />

que a cabina se encontra no momento<br />

Solução: ver ponto anterior.<br />

4. Variador de frequência: quando o ascensor é dotado de<br />

um sistema de variação de frequência, o variador estará<br />

sempre activo, mesmo quando o ascensor não se<br />

encontraem movimento.<br />

Solução: Após análise do padrão de tráfego do ascensor,<br />

temporizar um período da noite em que o variador de<br />

frequência é colocado em modo sleep. Num prédio de<br />

habitação, este período será tipicamente entre a 1.00<br />

horas e as 6.00 horas da manhã. O variador ficará<br />

durante esse perído em modo “sleep”, sendo reactivado<br />

quando ocorrer um comando externo. O tempo de<br />

reacção do ascensor, perante um comando externo será<br />

maior do que em modo contínuo de utilização.<br />

Consegue-se obter uma poupança de até 50% no<br />

consumo energético provocado pelo variador de<br />

frequência. Este sistema já se encontra implantado em<br />

todos os novos sistemas de elevação da Schmitt-<br />

Elevadores,Lda.<br />

5. Cortina fotoeléctrica ou célula fotoeléctrica: sistema de<br />

protecção dos utentes, instalado na porta de cabina do<br />

ascensor.<br />

235


ARTIGO TÉCNICO<br />

Solução: Desligar o sistema de cortina fotoeléctrica ou<br />

cortina fotoeléctrica quando a porta de cabina se<br />

encontrafechada.<br />

Solução: Temporizar o extractor, isto é, ele só deverá ser<br />

activado quando a cabina iniciar uma manobra e deverá<br />

desligar-se30 segundos após a última manobra.<br />

6. Luz de cabina: em muitos ascensores, principalmente<br />

em ascensores sem porta de cabina, a luz de cabina<br />

encontra-se permanentemente acesa, mesmo quando o<br />

ascensornão se encontra em movimento.<br />

Solução 1: Eliminar a iluminação permanentemente<br />

acesa na cabina. Através de um temporizador, desligar a<br />

iluminação 3 minutos após a última manobra realizada.<br />

Solução 2: Recurso a leds para iluminação da cabina,<br />

substituindo as lâmpadas fluorescentes, incandescentes<br />

ou de halogéneo existentes. Estas lâmpadas led têm o<br />

mesmo formato das lâmpadas de halogéneo ou das<br />

lâmpadas fluorescentes(leds em forma tubolar).<br />

10. Sistema de comunicação bi-direccional: desde 1998,<br />

com a introdução da Directiva Ascensores, é obrigatória<br />

a instalação de um sistema de comunicação bidireccional<br />

entre a cabina do ascensor e uma central de<br />

atendimento permanente, 24 horas por dia, 365 dias<br />

por ano, para todos os ascensores instalados a partir<br />

dessa data.<br />

Solução: dado se tratar de um sistema de segurança,<br />

recomenda-se que o sistema não seja desligado ou<br />

colocado em modo sleep. A poupança energética poderá<br />

ser obtida através da aplicação de sistemas com fontes<br />

de alimentação mais eficientes, o que já está a ocorrer<br />

nos novos sistemas da Schmitt-Elevadores,Lda.<br />

7. Motor da porta de cabina: está constantemente em<br />

carga, para garantir que a porta de cabina se mantém<br />

fechada.<br />

Solução: A porta de patamar manter-se-á fechada,<br />

mesmo que a porta de cabina não esteja em carga. Logo,<br />

poder-se-á desligar o motor da porta de cabina 2<br />

minutos após a última manobra realizada. Desta forma o<br />

motor da porta de cabina deixa de estar<br />

permanentementeem carga e a consumir energia.<br />

8. Sistema de excesso de carga: sistema electrónico que<br />

controla a carga máxima que pode entrar na cabina,<br />

estandocontinuamenteligado.<br />

Solução: Desligar o sistema de excesso de carga 3<br />

minutos após a última manobra;<br />

9. Extractor instalado no tecto da cabina: quando o<br />

ascensor for dotado de um extractor, este poderá estar<br />

continuamenteligado.<br />

236<br />

3.2 Ascensor em movimento<br />

Hipóteses para a redução do consumo de energia com o<br />

ascensorem movimento:<br />

1. Modernização de ascensores existentes, através da<br />

substituição de máquinas com redutor (de 1 ou 2<br />

velocidades) por máquinas sem redutor (geearlss), mas<br />

com controlo por variação de frequência.<br />

2. A aplicação de variadores de velocidade por variação de<br />

frequência em ascensores com sistemas de tracção por<br />

máquinas de 1 ou 2 velocidades permitirá uma redução<br />

(estimada pelos fabricantes de máquinas) de até 30% no<br />

consumo de energia. Paralelamente aumenta-se o<br />

conforto de utilização do ascensor (menores ruídos e<br />

menores vibrações), garante-se uma paragem mais<br />

nivelada ao piso e um menor desgaste mecânico do<br />

ascensor (os arranques e as paragens do ascensor são<br />

muito menos bruscas). Deverá recorrer-se a variadores<br />

de frequência de última geração (VEV – Variadores<br />

Electrónicos Regenerativos), que produzirão menores<br />

perdas.


ARTIGO TÉCNICO<br />

3. Prever sistemas de reinjecção de energia gerada pela<br />

máquina na rede (Recuperaçãode Energia).<br />

Um ascensor ideal deveria reinjectar na rede, em<br />

movimento ascendente, a mesma energia que consumiu<br />

anteriormente à descida (carga mínima e carga máxima,<br />

respectivamente,em ascensoreseléctricos).<br />

A relação energia reinjectada face à energia absorvida<br />

seria então de 1:1. Mas um ascensor real tem perdas<br />

devido à aceleração, à travagem, à paragem, aos atritos e<br />

ao próprio sistema de tracção. Esta energia não é<br />

recuperável. Assim, o grau de recuperação de energia<br />

(relação entre a energia reinjectada durante a viagem<br />

ascendente dividida pela energia necessária para ambas<br />

as manobras – subida e descida) não ultrapassa<br />

normalmente os 50%. Em ascensores de dimensões<br />

reduzidas o grau de recuperação de energia não<br />

ultrapassará os 30%. Logo, só fará sentido (do ponto de<br />

vista económico e energético) a instalação de um<br />

sistema de reinjecção em ascensores de grandes cargas e<br />

que realizem muitas manobras.<br />

4. Recurso a comandos electrónicos, que adaptem o seu<br />

funcionamento a uma melhor gestão do tráfego, por<br />

exemplo, através do funcionamentoem grupo.<br />

Em edifícios de habitação, com dois ou mais ascensores<br />

numa mesma caixa instalados antes dos anos 90,<br />

tipicamente cada ascensor funciona em autonomia.<br />

Através da modernização do comando, mediante a<br />

instalação de um comando electrónico em grupo, será<br />

possível fazer a gestão de funcionamento da bateria.<br />

Desta forma será enviado apenas um ascensor de cada<br />

vez a cada solicitação, colocando-se em movimento o<br />

ascensor que se encontrar mais próximo do local onde<br />

foi enviado o comando externo. A avaliação do padrão<br />

de tráfego poderá ser feita no próprio ascensor ou por<br />

um sistema de gestão de tráfego centralizado no edifício,<br />

quando este tem vários ascensores instalados.<br />

Este sistema de gestão de tráfego disponibilizará então<br />

o(s) ascensor(es) necessário(s), optimizando o número<br />

de manobras a realizar pelos ascensores e distribuindo<br />

os passageiros a transportar pelos diferentes ascensores<br />

existentesno edifício.<br />

3.3 Outras acções<br />

Apresentam-se em seguida outras acções, que embora não<br />

estando relacionadas directamente com o funcionamento do<br />

ascensor, permitirão uma redução do consumo de energia<br />

no edifício e não só especificamenteno ascensor:<br />

1. Instalação de luminárias de baixo consumo na casa de<br />

máquinas do ascensor (quando esta existir);<br />

2. Instalação de luminárias de baixo consumo na caixa do<br />

ascensor;<br />

3. Sistema de arrefecimento da casa de máquinas<br />

controladopor termóstato;<br />

4. Sistema de ventilação forçada da caixa do ascensor<br />

controlado por termóstato, para minimizar as perdas<br />

caloríficas;<br />

5. Instalação de luminárias de baixo consumo nos<br />

patamares, podendo o seu accionamento ser<br />

comandado por sensores de movimento;<br />

4. CONCLUSÕES<br />

4.1 Conclusões Gerais<br />

Em termos gerais é possível extrair as seguintesconclusões:<br />

1. A concepção de ascensores eficientes em termos de<br />

energia contribuirá para um menor impacto ambiental;<br />

2. Para se atingir o objectivo universal de utilização racional<br />

de energia (eléctrica) num edifício, não se deverá<br />

237


ARTIGO TÉCNICO<br />

analisar apenas a eficiência energética, mas também o<br />

balanço energético. Assim, no caso dos ascensores,<br />

dever-se-á ter em conta, para além do período de<br />

operação, também o fabrico e a manutenção dos<br />

mesmos, o fornecimento de matérias-primas, bem como<br />

a sua reciclagem: a análise do ciclo de vida do produto.<br />

3. A norma VDI4707:2009 apenas analisa a eficiência<br />

energética de ascensores. Contudo, para a avaliação da<br />

eficiência energética do sistema “edifício com<br />

ascensor(es)” dever-se-ão considerar ainda outros<br />

critérios (não abrangidos pela referida norma), como por<br />

exemplo as perdas caloríficas através da ventilação<br />

(obrigatória) da caixa do ascensor.<br />

4. Verificou-se que a temática da eficiência energética é<br />

ainda pouco explorada pela indústria de ascensores, seja<br />

através da incorporação nos ascensores das novas<br />

tecnologias já disponíveis em outras aplicações, seja<br />

através da divulgação de informação relevante em<br />

termos do desempenho energético dos equipamentos<br />

comercializados. Existem ainda muito poucos estudos<br />

realizados neste âmbito na Europa, com uma notável<br />

excepção da Suíça que tem vindo a patrocinar, através de<br />

uma organização estatal (a SAFE - Swiss Agency for<br />

Efficient Energy Use), vários estudos sobre a eficiência<br />

energéticade ascensores;<br />

5. Verificam-se diversas barreiras à adopção de ascensores<br />

eficientesem termos energéticos:<br />

a) O Comprador e o utilizador do ascensor não têm<br />

interesses coincidentes: Na grande maioria das<br />

situações, o ascensor não é fornecido directamente<br />

ao cliente final, mas a uma empreiteiro geral que o<br />

incorpora no edifício. Este orienta-se<br />

fundamentalmente pelo preço de aquisição do<br />

ascensor e não pelos custos de energia eléctrica e de<br />

operação que este venha a provocar no futuro, que<br />

será sempre suportado pelo utilizador.<br />

b) Em edifícios existentes, ocorre uma grande<br />

resistência à incorporação de novos componentes<br />

que possam por em causa a operação e a<br />

disponibilidade dos ascensores existentes. Em novos<br />

edifíciosé mais fácil incorporar as novas tecnologias.<br />

Pelo que se recomenda uma sensibilização do cliente<br />

final bem como de projectistas (arquitectos e gabinetes<br />

de engenharia).<br />

Distribuição de consumos em função da<br />

categoria de utilização<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

Standby<br />

Manobra<br />

1<br />

0% 20% 40% 60% 80% 100%<br />

1 2 3 4 5<br />

Manobra 34,8% 44,4% 69,4% 88,4% 88,3%<br />

Standby 65,2% 55,6% 30,6% 11,6% 11,7%<br />

Figura 2 – Distribuição de consumos anuais em função da categoria de utilização<br />

238


ARTIGO TÉCNICO<br />

6. Recomenda-se que o consumo energético dos<br />

ascensores seja considerado também no âmbito do<br />

Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização<br />

dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de<br />

Abril. Dessa forma existiria desde logo uma maior<br />

atenção na fase de projecto por parte dos projectistas<br />

relativamente à aplicação de ascensores eficientes<br />

energeticamente, para que pudessem ver aprovado o<br />

seu projecto.<br />

4.2 Conclusões Específicas<br />

A partir do estudo da amostra de 20 ascensores eléctricos é<br />

possível identificaras seguintes conclusões:<br />

1. O consumo do ascensor em stand-by (estado em que se<br />

encontra o ascensor quando não está em movimento,<br />

ascendente ou descendente), pode variar entre 12% e<br />

65% do consumo total de energia anual do mesmo<br />

ascensor, em função da categoria de utilização do<br />

mesmo.<br />

Do gráfico é possível concluir que quanto menor for a<br />

categoria de utilização, mais relevante se torna o<br />

consumo energético de um ascensor em stand-by ao<br />

longo de um ano, pelo que o investimento a realizar na<br />

melhoria da eficiência energética se deve concentrar em<br />

todas as medidas que possam reduzir o consumo em<br />

stand-by. Assim, para a categoria de utilização 1<br />

(intensidade de utilização muito baixa e frequência de<br />

utilização muito baixa) a que corresponde, por exemplo,<br />

um edifício de habitação (que representará a situação<br />

com o maior número de ascensores instalados em<br />

Portugal), o consumo anual de energia em stand-by<br />

representa 65% do consumo energético total do<br />

ascensor. Por outro lado, quanto maior for a intensidade<br />

de utilização e a frequência de utilização, maior é o<br />

consumo energético durante a manobra. Na categoria de<br />

utilização 5 (correspondente a um grande hospital ou um<br />

grande edifício de escritórios) valerá a pena concentrar<br />

os esforços de investimento em melhorias no<br />

desempenho energético das máquinas de tracção e em<br />

sistemas de reinjecção de energia: o consumo em standby<br />

representa “apenas” cerca de 12% do consumo total.<br />

2. Do total dos 20 ascensores eléctricos estudados apenas 2<br />

apresentam uma classe de eficiência energética “A”. São<br />

precisamente os 2 ascensores que são equipados com<br />

máquinas com redutor, mas com apenas uma velocidade<br />

e sem velocidade variável por variação de frequência.<br />

Estando numa categoria de utilização “1”, ambos os<br />

ascensores têm um baixo consumo de stand-by. Contudo<br />

do ponto de vista do conforto, da segurança – devido ao<br />

facto de terem uma máquina com apenas uma<br />

velocidade, não se consegue uma paragem nivelada ao<br />

piso, havendo normalmente um degrau à saída da cabina<br />

– do ruído (actuação dos contactores e dos travões) e do<br />

desgaste do material recomendar-se-ia a substituição da<br />

máquina e a aplicação de um sistema de variação de<br />

velocidadepor variação de frequência.<br />

3. Do estudo realizado, pode-se concluir ainda que é muito<br />

difícil, se não impossível, atingir a classe de eficiência<br />

energética “A”, em ascensores com categorias de<br />

utilização de 1 a 3. Para as categorias mais elevadas só se<br />

conseguirá atingir a classe de eficiência energética “A”,<br />

recorrendo a um sistema de reinjecção de energia.<br />

4. Para além da avaliação da optimização energética deverá<br />

ser realizada também a avaliação económica. Para a<br />

grande maioria das situações estudadas o investimento<br />

só se amortiza passados mais de 5 anos, pelo que a<br />

realização desse investimento fará sentido quando se<br />

pretender modernizar o equipamento (por fadiga dos<br />

materiais, por exemplo) ou como forma de aumentar o<br />

conforto, a segurança e diminuir o ruído e o desgaste do<br />

ascensor, ou por alguma imposição legal.<br />

5. Estima-se que em Portugal, dos cerca de 120.000<br />

ascensores instalados, cerca de 90% ainda foram<br />

instalados com tecnologias menos eficientes do ponto de<br />

vista energético, pelo que existe um grande potencial de<br />

poupançano consumo de energia eléctrica.<br />

239


ARTIGO TÉCNICO<br />

6. Os resultados obtidos poderão contribuir para a<br />

formação de um critério de qualidade para ascensores e<br />

para a sua operação, e dessa forma para uma gestão<br />

sustentável.<br />

5. BIBLIOGRAFIA<br />

[1] ALMEIDA, Aníbal, PATRÃO, Carlos, FONSECA, Paula,<br />

MOURA, Pedro – Manual de boas práticas de eficiência<br />

energética. Lisboa, ISR – Departamento de Engenharia<br />

Electrotécnica e de Computadores Universidade de<br />

Coimbra e BCSD Portugal – Conselho Empresarial para<br />

o Desenvolvimento Sustentável, 2005.<br />

[2] BARNEY, Gina – Elevator Traffic Handbook – Theory<br />

and Practice. Nova Iorque, Spon Press, 2003. ISBN 0-<br />

415-27476-I.<br />

[3] BOLLA, Mario – Verbesserung der Energieeffizienz von<br />

Aufzügen und Förderanlagen durch Entwicklung eines<br />

Neuartigen Frequenzumformers – Jahresbericht 2007.<br />

Seftigen, Bundesamt für Energie, Suiça, 2007.<br />

[4] CASTANHEIRA, Luís; BORGES GOUVEIA, Joaquim –<br />

Energia, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.<br />

Porto, Spi – Sociedade Portuguesa de Inovação, 2004.<br />

ISBN 972-8589-45-X.<br />

[5] CÓIAS, Vítor; FERNANDES, Susana – Reabilitação<br />

Energética dos Edifícios: Porquê? Oz – Diagnóstico<br />

Levantamento e Controlo de Qualidade em Estruturas<br />

e Fundações, Lda, 2006.<br />

[6] KÜNTSCHER, Dietmar – Energiesparende<br />

Aufzugsysteme– Lift-Report nº2 – Ano 32, 2006.<br />

[7] FITZGERALD, A.; KINGSLEY, Charles; UMANS, Stephen –<br />

Electric Machinery. Nova Iorque, McGraw Hill, 2003.<br />

ISBN 0-07-123010-6.<br />

[8] FRANCHI, C. – Acionamentos Eléctricos. Editora Érica,<br />

Ltda, 2007. ISBN 978-85-365-0149-9.<br />

[9] GAMBOA, José – Ascensores e Elevadores. Lisboa, Rei<br />

dos Livros, 2005. ISBN 972-51-1007-2.<br />

[10] JANOVSKY, Lumomír – Elevator Mechanical Design. 3ª<br />

Edição. Mobile USA, Elevator World, Inc., 1999. ISBN 1-<br />

886-536-26-0.<br />

240


ARTIGO TÉCNICO<br />

José Jacinto Ferreira, Miguel Leichsenring Franco<br />

Schmitt - Elevadores<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

OPTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA EM NOVOS ASCENSORES<br />

1 ENQUADRAMENTO<br />

De acordo com um estudo da S.A.F.E – “Agência Suíça para a<br />

Utilização Eficiente da Energia”, realizado em 2005, os<br />

ascensores podem representar uma parte significativa do<br />

consumo de energia num edifício (o consumo energético de<br />

um ascensor poder representar em média 5% do consumo<br />

total de energia de um edifício de escritórios). Na Suíça<br />

estima-se que o somatório do consumo de energia dos cerca<br />

de 150.000 ascensores instalados represente cerca de 0,5%<br />

do total de 280 GWh de consumo energético do país.<br />

A redução do consumo de energia nos edifícios poderá ser<br />

obtida através da melhoria das características construtivas,<br />

reduzindo dessa forma as necessidades energéticas, através<br />

de medidas de gestão da procura, no sentido de reduzir os<br />

consumos na utilização e através do recurso a equipamentos<br />

energeticamentemais eficientes.<br />

No preâmbulo da Directiva 2005/32/CE de 06 de Julho de<br />

2005 – “EuP – Energy Using Products” (Requisitos de<br />

concepção ecológica dos produtos que consomem energia) 1<br />

refere-se que “a melhoria da eficiência energética – de que<br />

uma das opções disponíveis consiste na utilização final mais<br />

eficiente da electricidade – é considerada um contributo<br />

importante para a realização dos objectivos de redução das<br />

emissõesde gases com efeito de estufa na Comunidade.”<br />

Daí que seja importante estudar também a optimização<br />

energéticaem novos ascensores.<br />

2 DESENVOLVIMENTO DO MODELO EM MATLAB-SIMULINK<br />

De acordo com a Directiva 2005/32/CE de 06 de Julho acima<br />

referida, “deverá actuar-se na fase de concepção do<br />

produto, já que é aí que a poluição originada no seu ciclo de<br />

vida é determinada e que a maior parte dos custos surgem”.<br />

Para o estudo de optimização energética<br />

na fase de<br />

desenvolvimento de novos ascensores desenvolveu-se um<br />

modelo de simulação que permitiu analisar diversos cenários<br />

e apresentar soluções a ter em conta na fase de definição de<br />

um novo ascensor.<br />

2.1 FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE ACCIONAMENTO<br />

ELECTROMECÂNICO E A SUA MODELIZAÇÃO<br />

Segundo Palma (2008) as partes móveis dos accionamentos<br />

envolvem quase sempre fenómenos complexos, quer pela<br />

multiplicidade dos seus detalhes, quer pela sua própria<br />

natureza, muitas vezes, não linear.<br />

Contudo, como o objectivo da modelação é a utilização em<br />

sistemas de controlo onde intervêm diversos outros<br />

subsistemas, com destaque para os eléctricos, os<br />

electrónicos e os mecânicos, procuram-se modelos<br />

matemáticos tão simples quanto possível para cada um<br />

deles.<br />

Para muitos dos sistemas electromecânicos que se pretende<br />

modelizar pode-se considerar simplificadamente a seguinte<br />

equação de comportamento dinâmico, baseada na lei<br />

fundamental da dinâmica para um sistema rotativo:<br />

Tm − Tr<br />

=<br />

dw<br />

J<br />

dt<br />

Onde T m representa o binário motor (expresso em Nm), T r o<br />

binário resistente (expresso em Nm), J o momento de inércia<br />

do sistema (expresso em kgm 2 dw<br />

) e a aceleração angular<br />

dt<br />

(rad.s- 2 ).<br />

O momento de inércia será calculado a partir de:<br />

[2]<br />

dω dω dω<br />

T.<br />

ω = F ⋅v ⇔ J ω = m ⋅a ⋅v ⇔ J ω = m ⋅ r ⋅ω<br />

⋅r<br />

dt dt dt<br />

⇔ J = m⋅<br />

r<br />

2<br />

(1)<br />

(2)<br />

1<br />

Esta directiva cria um quadro de definição dos requisitos comunitários de concepção ecológica dos produtos consumidores de energia com o<br />

objectivo de garantir a livre circulação destes produtos nos mercado interno. Prevê ainda a definição de requisitos a observar pelos produtos<br />

consumidores de energia abrangidos por medidas de execução, com vista à sua colocação no mercado e/ou colocação em serviço. Contribui<br />

para o desenvolvimento sustentável, na medida em que aumenta a eficiência energética e o nível de protecção do ambiente, e permite ao<br />

mesmo tempo aumentar a segurança do fornecimento de energia<br />

241


ARTIGO TÉCNICO<br />

Onde m representa a massa suportada pela roda de tracção<br />

e r o raio da roda de tracção da máquina.<br />

A potência mecânica do sistema será obtida a partir de:<br />

F ⋅v<br />

P = F ⋅ v = T ⋅ω<br />

⇒ T =<br />

(3)<br />

ω<br />

Sendo a velocidade linear v, dada por:<br />

v = ω ⋅ r<br />

(4)<br />

Como sob o ponto de vista electrotécnico todo o sistema de<br />

accionamento electromecânico está subordinado ao motor<br />

eléctrico ter-se-á de reduzir as diferentes grandezas<br />

mecânicas envolvidas ao eixo motor. Nessa redução utilizase<br />

o Princípio da Conservação da Energia.<br />

A energia cinética é dada por:<br />

1 Ec = Jω<br />

2<br />

2<br />

(5)<br />

Entãopara o todo o sistema será válida a seguinte relação:<br />

1 2 1 2 2 2<br />

Ec 1 = Ec2<br />

⇒ J1ω1<br />

= J 2ω2<br />

⇔ J1ω1<br />

= J 2 ω 2 (6)<br />

2 2<br />

As equações [1] a [6] foram então transpostas para o modelo<br />

em Matlab-Simulink.<br />

Apresenta-se na figura 1 o modelo de base do ascensor<br />

eléctricocom roda de aderência e máquina com redutor.<br />

Ainda segundo Palma (2008), um sistema de accionamento<br />

electromecânico de velocidade variável, que permite o<br />

ajuste de velocidade, de posição ou de binário, dentro de<br />

certas gamas de variação, é constituído por diversos<br />

componentes:<br />

1. Fonte de energia eléctrica;<br />

2. Conversor estático de potência;<br />

3. Máquina eléctrica, incluindo a transmissão;<br />

4. Sistema mecânico movido, ou carga;<br />

5. Órgãos electrónicos de controlo e de comando do<br />

conversor.<br />

2.2 O MODELO DO ASCENSOR EM MATLAB-SIMULINK<br />

Na concepção do modelo simulink separou-se cada um dos<br />

componentes do sistema, eléctrico e mecânico (elevador),<br />

para uma maior facilidade de parametrização e<br />

interpretação de resultados, conforme as figuras 2 e 3.<br />

Foram ainda concentrados todos os outputs das grandezas<br />

mecânicas consideradas, num mesmo bloco (caixa redutora),<br />

que simula o acoplamento mecânico com o motor eléctrico.<br />

As grandezas eléctricas de monitorização são retiradas do<br />

próprio bloco variador/motor (AC2).<br />

Desta forma, o modelo foi dividido em três blocos principais<br />

– Bloco Mecânico, Bloco Eléctrico e Blocos de medições de<br />

grandezas eléctricas e mecânicas -, que por sua vez se<br />

subdividem em outros blocos secundários, conforme a<br />

seguir se descreve.<br />

Figura 1 – Modelo de base do ascensor eléctrico com roda de aderência e máquina com redutor<br />

242


ARTIGO TÉCNICO<br />

Figura 2 – Diagrama geral de blocos do ascensor com variação de velocidade PWM<br />

Figura 3 – Diagrama geral de blocos do ascensor – Arranque directo<br />

243


ARTIGO TÉCNICO<br />

Figura 4 – Diagrama geral de blocos do ascensor – Modelo mecânico<br />

2.2.1 BLOCO MECÂNICO (ASCENSOR)<br />

O bloco mecânico foi dividido em três sub-blocos,<br />

correspondentes a cada um dos componentes mecânicos do<br />

sistema:<br />

1. A cabine do ascensor;<br />

2. A roda de tracção;<br />

3. A caixa redutora.<br />

Na janela de parametrização da cabine do ascensor são<br />

introduzidas as massas do conjunto cabine/contrapeso. O<br />

bloco simulink faz a soma das massas da carga e da cabine e<br />

finalmente subtrai a massa do contrapeso 2 . Se o resultado<br />

for positivo o sistema vai criar um binário resistente positivo<br />

na subida da cabine e negativo na descida da mesma,<br />

conforme tabela 1. Considerou-se ainda o rendimento da<br />

cabine, que representa as perdas por atrito das roçadeiras da<br />

cabina nas guias, eventuais oscilaçõesdos cabos, etc.<br />

2.2.1.1 CABINE DO ASCENSOR<br />

A cabina do ascensor pode ser modelizada a partir do<br />

seguinteconjunto de sub-blocos:<br />

Figura 5 – Diagrama de blocos Simulink da cabine<br />

Figura 6 – Janela de parametrização da cabine/contrapeso<br />

2<br />

É prática na indústria de ascensores que o contrapeso seja dimensionado para contrabalançar a massa da cabina + 50% da carga nominal da<br />

cabina. Assim, para uma cabina com uma carga útil de 630 kg e um peso próprio de 850 kg, o contrapeso terá de ter uma massa de 1165 kg.<br />

Procurar-se-á através de uma análise de cenários verificar se esta é a solução óptima em termos de consumo energético.<br />

244


ARTIGO TÉCNICO<br />

Tabela 1 – Sentido do binário resistente em função do movimento da cabine e das massas<br />

Binário Resistente<br />

Movimento da Cabine<br />

(Carga+Cabine) > Contrapeso<br />

Massas (kg)<br />

(Carga+Cabine) < Contrapeso<br />

Subida positivo negativo<br />

Descida negativo positivo<br />

O output deste bloco será a massa resultante do sistema<br />

cabine/contrapeso responsável pela força vertical do sistema<br />

(peso), que poderá ser positiva ou negativa e será um dos<br />

inputs do bloco da roda de tracção.<br />

2.2.1.2 RODA DE TRACÇÃO<br />

A roda de tracção da máquina elevadora pode ser<br />

modelizada a partir do conjunto de sub-blocos indicados na<br />

figura 7.<br />

Na janela de parametrização, são introduzidos os dados<br />

relativos à roda de tracção, nomeadamente o momento de<br />

inércia, o rendimento e o raio da roda de tracção.<br />

Como já foi dito anteriormente, outro dos inputs é a massa<br />

resultante do sistema cabine/contrapeso, responsável por<br />

parte do momento de inércia do sistema que influenciará o<br />

binário transitório (arranques/paragens) e pelo binário<br />

permanente, quando a cabina atinge a velocidade nominal.<br />

No bloco simulink da roda de tracção será calculado o binário<br />

resistente permanente referido ao seu eixo, bem como o<br />

momento de inércia resultante da carga total do sistema<br />

cabine/contrapeso, sendo este referido também ao mesmo<br />

eixo. Estas duas grandezas associadas ao rendimento da roda<br />

de tracção e ao seu raio, integrarão um bus de dados de<br />

output, que será um dos inputs do bloco da caixa redutora.<br />

Figura 7 - Diagrama de blocos Simulink da roda de tracção<br />

245


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.2.1.3 CAIXA REDUTORA<br />

Figura 8 – Janela de parametrização da roda de tracção<br />

A caixa redutora da máquina elevadora pode ser modelizada<br />

a partir do conjunto de sub-blocos, indicados na figura 9,<br />

para a situação de variação de velocidade e arranque<br />

directo.<br />

Na modelização do arranque directo, o motor roda sempre<br />

no mesmo sentido de tal forma que para distinguir a subida<br />

da descida da cabine, foi necessário implementar algumas<br />

modificações para que o bloco identificasse ambas as<br />

situações,conforme indicado na figura 10.<br />

Figura 9 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora com variador de velocidade<br />

Figura 6 – Janela de parametrização da cabine/contrapeso<br />

246<br />

Figura 10 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora para o arranque directo


ARTIGO TÉCNICO<br />

O input de dados do bloco simulink da caixa redutora dividese<br />

pelo bus de dados proveniente da roda de tracção, pelos<br />

parâmetros introduzidos pelo utilizador, tais como o<br />

momento de inércia, rendimento e a relação da caixa<br />

redutora e finalmente pela velocidade de rotação (rad/s) no<br />

veio do motor (rotação efectiva do motor) e pelo Setpoint de<br />

velocidade. A velocidade de rotação vai permitir o cálculo do<br />

binário transitório, bem como a potência solicitada e a<br />

velocidadelinear da cabine.<br />

De referir ainda que o Setpoint de velocidade neste bloco<br />

tem uma actuação indirecta, permitindo unicamente definir<br />

o sentido do binário resistente. Os outputs deste bloco são o<br />

binário resistente, referido ao veio do motor, que será o<br />

input mecânico do motor de indução, que por sua vez vai<br />

gerar a velocidade de rotação que serve de input ao mesmo<br />

bloco. São ainda outputs, a potência solicitada pelo sistema e<br />

a velocidade linear da cabine, sendo estas duas grandezas só<br />

para monitorização, não tendo por isso qualquer<br />

interferênciacom o sistema.<br />

quer à descida. Pretende-se simular uma viagem completa<br />

da cabina 3 .<br />

O Tempo de arranque/paragem foi definido com o sendo de<br />

um segundo.<br />

Figura 12 – Setpoint de velocidade do motor com variação de<br />

velocidade<br />

2.2.2 BLOCO ELÉCTRICO<br />

Estebloco é constituídopor dois sub-blocos:<br />

2.2.2.1 FONTE DE ALIMENTAÇÃO<br />

Este bloco estabelece as condições da rede eléctrica (400V<br />

AC 50Hz), conforme os parâmetros introduzidos na janela de<br />

parametrização.<br />

Figura 11 – Janela de parametrização da caixa redutora<br />

2.2.1.4 SETPOINT DE VELOCIDADE DO MOTOR<br />

Através desta função define-se a curva de aceleração,<br />

desaceleraçãoe velocidade nominal da carga, quer à subida<br />

Figura 13 – Janela de parametrização da fonte de alimentação<br />

(input de dados pelo utilizador)<br />

3<br />

Viagem com a cabina em vazio, em sentido descendente e ascendente, vencendo todo o curso, isto é, a cabina deve ser movimentada entre os<br />

pisos extremos do edifício.<br />

247


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.2.2.2 BLOCO SIMULINK AC2<br />

O bloco AC2 incorpora dois equipamentos, o variador de<br />

frequência e o motor de indução e ainda inputs e outputs,<br />

que servem para controlar e monitorizar o sistema.<br />

Relativamente aos inputs de controle, faz-se referência ao<br />

Setpoint de velocidade que foi já indicado na figura 12, que<br />

vai servir de base à aceleração/desaceleração do sistema,<br />

bem como à sua velocidade permanente e ainda o binário<br />

resistente, gerado pelo sistema mecânico (output da caixa<br />

redutora).<br />

O bloco AC2 permite ainda escolher o input mecânico, que<br />

poderia ser a velocidade de rotação ou binário resistente.<br />

Optou-se por adoptar o binário resistente como input<br />

mecânico. Como num elevador a velocidade é imposta, o<br />

que vai variar no sistema é o binário resistente que depende<br />

da carga total e poderá variar em cada viagem do elevador.<br />

O bloco AC2 vai gerar a velocidade de rotação que serve de<br />

input ao bloco da caixa redutora, que é velocidade real do<br />

sistema. A velocidade real depende de todas as grandezas<br />

mecânicas e eléctricas do sistema, bem como do Setpoint de<br />

velocidade. Existem ainda vários outputs de controlo ou<br />

meramente indicativos e para monitorizaçãodo sistema.<br />

Na janela de parametrização do motor assíncrono, são<br />

introduzidos todos os dados que caracterizam a máquina,<br />

eléctricos e mecânicos. Foram considerados os parâmetros<br />

recolhidosdo ascensor real estudado.<br />

Figura 14 – Janela de parametrização do motor de indução trifásico<br />

248


ARTIGO TÉCNICO<br />

Na janela de parametrização do conversor e<br />

barramento DC, indicada na figura 15, faz-se especial<br />

referência à capacidade do barramento que é a<br />

responsável pelo filtro dos harmónicos e consequente<br />

estabilização de correntes, e à frequência de<br />

comutaçãodo chopper.<br />

Quanto mais elevada for esta frequência de<br />

comutação, mais precisa será a onda gerada pelo<br />

conversor e consequente maior será a estabilidade<br />

mecânica do sistema.<br />

No bloco de parametrização do controlador, indicado<br />

na figura 16, será definida a forma como irá actuar o<br />

variador no motor, ou seja, a rapidez de resposta a<br />

alterações de velocidade provocadas pelo binário<br />

resistente e Setpoint de velocidade. De referir o<br />

controlador PI, a tensão no barramento DC, a<br />

aceleração e a desaceleração do motor, os limites de<br />

output de frequência e a relação tensão/frequência.<br />

Figura 16 – Janela de parametrização do controlador do sistema<br />

variador/motor<br />

2.2.3 BLOCOS DE MEDIÇÕES DE GRANDEZAS ELÉCTRICAS E<br />

MECÂNICAS<br />

Figura 15 – Janela de parametrização do conversor e barramento DC<br />

Para efectuar medições aplicaram-se blocos do tipo<br />

scope (visualização de outputs) na caixa redutora,<br />

com os seguintesagrupamentos de variáveis:<br />

SCOPE 1<br />

- Velocidadelinear da cabine (m/s)<br />

SCOPE 2<br />

- Binário resistente / binário electromagnético<br />

(N.m)<br />

- Binário transitório (arranque/paragem do<br />

sistema) (N.m)<br />

- Potênciado sistema mecânico (W)<br />

SCOPE 3<br />

- Corrente no estátor (A)<br />

- Velocidadeparametrizada/real (rpm)<br />

- Binário electromagnético(N.m)<br />

SCOPE 4<br />

- Corrente RMS absorvida pelo conjunto<br />

variador/motor/sistemamecânico (A)<br />

249


ARTIGO TÉCNICO<br />

3 VALIDAÇÃO DO SIMULADOR<br />

O ascensor que serviu de base para a modelização em<br />

Simulink e para as respectivas medições, é o ascensor<br />

número 3 de uma bateria dupla de ascensores produzidos e<br />

instalados em 2007 no Alfena Trade Center, em Alfena –<br />

Ermesinde.<br />

O ascensor seleccionado é um ascensor eléctrico com roda<br />

de aderência, com casa de máquinas em cima na vertical,<br />

sobre a caixa. A escolha deste tipo de ascensor resulta da lei<br />

actualmente em vigor (DL 163/2006 de 08.08), que<br />

determina que os ascensores a instalar tenham de ser<br />

dimensionados para uma carga de pelo menos 630 kg / 8<br />

pessoas, por forma a garantir o acesso a pessoas com<br />

mobilidade reduzida (resulta da imposição das dimensões da<br />

cabina que deverá ter no mínimo uma largura de 1,1 m e<br />

uma profundidade de 1,4 m).<br />

Os dados medidos e os simulados vão de encontro às<br />

mesmas conclusões, com a excepção do modo de frenagem<br />

do motor, dado que nas medições não se verifica a<br />

reinjecção de energia na rede (uma vez que o variador de<br />

frequênciautilizado na realidade não o permite).<br />

4 HIPÓTESES DE OPTIMIZAÇÃO<br />

4.1 NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS ASCENSORES:<br />

1. Aplicação de soluções construtivas mecânicas que<br />

permitam reduzir o consumo de energia:<br />

a. Cabinas suspensas ao centro da cabina, pois reduzem o<br />

atrito gerado sobre as guias. De acordo com um artigo<br />

publicado por Küntscher em 2006, intitulado “Sistemas<br />

de Ascensores que poupam energia” em que se<br />

comparam diferentes soluções de tracção, será possível<br />

fazer a seguinte avaliação energética de ascensores:<br />

i. Para ascensores com máquina com redutor e<br />

suspensão lateral, o rendimento da caixa do ascensor<br />

será de aproximadamente 70% e o rendimento da<br />

máquina (motor + redutor) também será de<br />

aproximadamente 70%, pelo que o rendimento<br />

global do sistema será de aproximadamente 50%;<br />

ii. Para ascensores com máquina sem redutor e<br />

suspensão central, o rendimento da caixa do<br />

ascensor será de aproximadamente 85% e o<br />

rendimento da máquina (apenas motor) será de<br />

aproximadamente 100%, pelo que o rendimento<br />

global do sistema será de aproximadamente 85%;<br />

Conclusão: O ascensor com suspensão central (e com<br />

máquina gearless só consome 60% da energia (quociente<br />

entre 0,5/0,85) do ascensor com suspensão lateral;<br />

b. Recurso a roçadeiras ou rodas que gerem menos atrito<br />

nas guias;<br />

c. Recurso a cabinas executadas em materiais mais leves,<br />

isto é, cabinas menos pesadas, que implicarão<br />

contrapesoscom menor massa;<br />

d. Recurso a um número reduzido de rodas de desvio. Cada<br />

uma destas deverá ter uma baixa inércia;<br />

2. Optimização do peso do contrapeso. De acordo com<br />

dados da indústria, o grau de ocupação normal médio da<br />

cabina representa apenas 20% da carga nominal.<br />

Contudo, os contrapesos estão dimensionados para uma<br />

ocupação média da cabina de 50% da carga nominal.<br />

Uma optimização para cargas mais pequenas, levaria a<br />

um melhor balanceamento, e logo a uma poupança da<br />

energia necessária;<br />

3. Recurso a máquinas gearless (sem redutor) ou então a<br />

máquinas de indução com elevado rendimento;<br />

4. Aplicação do motor linear. Contudo, o estado da arte<br />

ainda não corresponde actualmente aos graus de<br />

exigência em termos de segurança e perfomance<br />

pretendidos;<br />

5. Aplicação de um sistema de reinjecção de energia. Para<br />

além da redução do consumo energético directo, este<br />

sistema reduz a emissão de calor para a casa de<br />

máquinas (elimina-se a energia calorífica libertada na<br />

resistência regenerativa) reduzindo os custos com a<br />

instalação de um sistema de climatização da casa de<br />

máquinas;<br />

250


ARTIGO TÉCNICO<br />

6. Utilização de cabos de suspensão com diâmetros<br />

inferiores, bem como formas de gornes nas rodas de<br />

tracção que possibilitem a sua aplicação. Esta solução<br />

permite a aplicação de diâmetros de rodas de tensão<br />

menores, que requerem momentos menores (mas<br />

motores com um número de rotações mais elevado);<br />

7. Instalação de ascensores com uma carga nominal<br />

inferior, naturalmente tendo em atenção as imposições<br />

legais: a NP EN 81-70:2003 indica que um ascensor de<br />

450 kg é adequado para o transporte de pessoas em<br />

cadeiras de rodas. Contudo o Decreto-Lei 163/2006<br />

obriga à instalação de ascensores com um mínimo de<br />

630 kg;<br />

8. Recurso a velocidades nominais inferiores: v=0,4 a 0,63<br />

m/s. Muitas das vezes, principalmente em edifícios de<br />

habitação com um número de pisos reduzido, os<br />

ascensores têm velocidades de 1,0 m/s, o que implica a<br />

instalação de máquinas mais potentes, quando uma<br />

velocidadeinferior seria mais do que suficiente;<br />

9. Verificação contínua da qualidade da montagem,<br />

nomeadamente a colocação das guias – evitar<br />

desaprumos e prisões nas guias, bem como a<br />

parametrização do variador de frequência e optimização<br />

das curvas de andamento;<br />

4.2 DIMENSIONAMENTO E PROJECTO DE EDIFÍCIOS<br />

Também será possível intervir na fase de projecto de novos<br />

edifícios, apresentando informações sobre os consumos<br />

energéticosde ascensores aos projectistas.<br />

Actualmente a escolha do tipo (essencialmente o sistema de<br />

tracção, a carga nominal e a velocidade) e da quantidade de<br />

ascensores para um dado edifício é feita por recurso a<br />

modernos programas de cálculo de tráfego, que se baseiam<br />

em critérios de qualidade de serviço que se pretende<br />

garantir.<br />

De acordo, por exemplo, com a Norma Portuguesa NP4267 –<br />

“Critérios de escolha de ascensores a instalar em edifícios<br />

não destinados a habitação”, deverão ser utilizados os<br />

seguintes parâmetros (que serão calculados através de<br />

modelos matemáticos igualmente definidos na mesma<br />

norma) para a aferição dos critérios de qualidade de serviço:<br />

- A duração máxima do percurso teórico (TD), ou seja o<br />

tempo de percurso teórico entre pisos extremos.<br />

- O Intervalo máximo no piso principal (I), ou seja, o<br />

tempo médio entre as partidas sucessivas da mesma<br />

cabina do piso principal;<br />

- A capacidade de transporte (C5), que representa a<br />

percentagem da população do edifício acima do piso<br />

principal que pode ser transportada em 5 minutos pela<br />

bateria de ascensores;<br />

10. Instalação de sistemas centralizados de gestão de tráfego<br />

informatizados que realizem uma avaliação automática<br />

do padrão de tráfego. Este sistema de gestão de tráfego<br />

disponibilizará então o(s) ascensor(es) necessário(s),<br />

optimizando o número de manobras a realizar pelos<br />

ascensores e distribuindo os passageiros a transportar<br />

pelos diferentes ascensoresexistentes no edifício.<br />

11. Incorporar o Estado da Arte de Componentes analisados<br />

no artigo anterior sobre optimização energética de<br />

ascensores<br />

o projectista dimensiona, então os ascensores em função<br />

dos valores obtidos pelo cálculo, por comparação com<br />

critérios tabelados (por exemplo a TD deverá ser de 20<br />

segundos, no máximo, para que a qualidade do serviço possa<br />

ser considerada excelente), sem ter em conta a eficiência<br />

energéticados mesmos.<br />

Perante a instalação cada vez maior de ascensores, mesmo<br />

em edifícios com baixo número de pisos (para facilitar a<br />

mobilidade de pessoas com mobilidade reduzida), dever-seá<br />

ter um cuidado especial no seu planeamento (projecto),<br />

para se obter uma boa solução, quer do ponto de vista<br />

técnico, legal 4 e económico, quer do ponto de vista<br />

energético.<br />

251


ARTIGO TÉCNICO<br />

A partir do simulador apresentado também no artigo<br />

anterior, deverá ser possível obter informação sobre os<br />

consumos energéticos das diferentes soluções estudadas e<br />

incorporá-las nos estudos de tráfego a realizar. Igualmente<br />

deverão ser elaboradas tabelas com informação sobre o<br />

desempenho energético das diferentes soluções oferecidas,<br />

que deverão ser disponibilizadasaos projectistas.<br />

5 RESULTADOS<br />

1. Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o<br />

consumo energético<br />

Para a verificação do impacto de diferentes massas do<br />

contrapeso sobre o consumo energético estudaram-se 3<br />

cenários:<br />

a. cenário ideal - 100% da energia é reinjectada;<br />

b. cenário real - 30% da energia é reinjectada;<br />

c. cenário real - não existe reinjecção.<br />

Tomou-se como base o ascensor de 630 kg a que<br />

corresponde uma cabina com 850 kg de peso e um<br />

contrapeso com 1165 kg. Utilizou-se a manobra de<br />

referênciaindicada na norma VDI 4707.<br />

A solução óptima da massa do contrapeso ocorre, para todos<br />

os cenários considerados, aos 910 kg (ou seja quando o<br />

contrapeso assume um peso de 78% de 1165 kg, que é a<br />

soluçãoinicialmente estudada).<br />

Os 910 kg correspondem à situação em que não há consumo<br />

de energia à subida na manobra com a cabina vazia 5 .<br />

Para cenários com e sem reinjecção de energia, a eficiência<br />

torna-se efectiva para massas do contrapeso superiores a<br />

73% e inferiores a 100% da massa do contrapeso de<br />

referência.<br />

A melhor solução ocorre quando o contrapeso pesa 910 kg.<br />

Contudo, esta solução implicará a aplicação de uma máquina<br />

mais potente do que a que seria necessária na solução base<br />

(1165 kg).<br />

Se fosse possível reaproveitar toda a energia nas manobras<br />

que o permitem, o contrapeso poderia assumir qualquer<br />

massa acima dos 50% (ou seja 582,5 kg). Para este cenário a<br />

solução óptima passaria por um contrapeso com uma massa<br />

de 1165 kg, porque implicaria uma máquina de menor<br />

potência.<br />

Se fosse possível reaproveitar toda a energia nas manobras<br />

que o permitem, o contrapeso poderia assumir qualquer<br />

massa acima dos 50% (ou seja 582,5 kg).<br />

Para este cenário a solução óptima passaria por um<br />

contrapeso com uma massa de 1165 kg, porque implicaria<br />

uma máquina de menor potência.<br />

Tabela 2 - Resultados: Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o consumo energético<br />

Carga<br />

Massa %<br />

Contrapeso 0% Contrapeso 25% Contrapeso 50% Contrapeso 68% (a)<br />

Energia da Manobra de Referência em Função da Massa do Contrapeso<br />

Contrapeso=Cabine<br />

73%<br />

Contrapeso 75%<br />

0kg 291,25kg 582,5kg 790kg 850kg 873,75kg 910kg<br />

Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida<br />

0,0 kg 0% 34,16 Wh -28,41 Wh 23,10 Wh -18,10 Wh 12,17 Wh -7,58 Wh 4,55 Wh 0,00 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 1,35 Wh 3,11 Wh 0,00 Wh 4,45 Wh -7,02 Wh 11,59 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh<br />

157,5 kg 25% 40,20 Wh -33,81 Wh 29,06 Wh -23,71 Wh 18,06 Wh -13,29 Wh 10,30 Wh -5,76 Wh 8,07 Wh -0,57 Wh 7,19 Wh -2,70 Wh 5,84 Wh -1,37 Wh -1,26 Wh 5,73 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh<br />

315,0 kg 50% 46,28 Wh -34,64 Wh 35,06 Wh -29,24 Wh 24,00 Wh -18,95 Wh 16,19 Wh -11,49 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh 13,05 Wh -8,45 Wh 11,70 Wh -7,13 Wh 4,56 Wh -0,10 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh<br />

472,5 kg 75% 52,40 Wh -39,29 Wh 41,11 Wh -34,58 Wh 29,96 Wh -24,55 Wh 22,10 Wh -17,16 Wh 19,85 Wh -15,00 Wh 18,96 Wh -14,15 Wh 17,59 Wh -12,84 Wh 10,41 Wh -5,87 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh<br />

630,0 kg 100% 58,57 Wh -50,72 Wh 47,20 Wh -34,28 Wh 35,97 Wh -30,07 Wh 28,07 Wh -22,78 Wh 25,79 Wh -20,65 Wh 24,89 Wh -19,80 Wh 23,52 Wh -18,50 Wh 16,30 Wh -11,59 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh<br />

Média ponderada 39,008 Wh -31,741 Wh 27,885 Wh -22,545 Wh 16,899 Wh -12,129 Wh 9,195 Wh -4,593 Wh 6,914 Wh -1,487 Wh 6,031 Wh -1,514 Wh 4,681 Wh -0,181 Wh -2,389 Wh 6,917 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh<br />

VDI 4707<br />

Ideal - 100%<br />

Reinjecção<br />

7,267 Wh 5,340 Wh 4,770 Wh 4,601 Wh 5,428 Wh 4,517 Wh 4,500 Wh 4,528 Wh 4,562 Wh<br />

159,31% 117,06% 104,57% 100,87% 118,98% 99,02% 98,65% 99,27%<br />

100,00%<br />

30% Reinjecção 29,486 Wh 21,122 Wh 13,260 Wh 7,817 Wh 6,468 Wh 5,577 Wh 4,627 Wh 6,201 Wh<br />

375,69% 269,12% 168,96% 99,59% 82,42% 71,06% 58,95% 79,00% 100,00%<br />

Sem Reinjecção 39,008 Wh 27,885 Wh 16,899 Wh 9,195 Wh 6,914 Wh 6,031 Wh 4,681 Wh<br />

Contrapeso 78% (b) Contrapeso 95% Contrapeso 100% (c)<br />

421,39% 301,23% 182,56% 99,33% 74,69% 65,15% 50,57% 74,72%<br />

1102kg<br />

1165 kg<br />

7,848 Wh<br />

6,917 Wh 9,257 Wh<br />

100,00%<br />

4<br />

Existem normas que definem determinados requisitos mínimos que têm de ser cumpridos pelos ascensores, por exemplo em termos de<br />

capacidade de carga. Assim, desde Fevereiro de 2007, todos os novos ascensores devem obedecer à nova legislação (DL163/2006), que regula<br />

as acessibilidades a pessoas com mobilidade reduzida. Esta norma obriga à instalação de ascensores com uma cabina mínima de<br />

1.100mmx1.400mm (largura x profundidade), a que corresponde uma carga nominal mínima de 8 pessoas-630 kg. Para unidades de saúde,<br />

como hospitais existem outras normas portuguesas que sugerem a instalação de ascensores monta-camas para uma carga nominal de 21<br />

pessoas - 1.600 kg.<br />

5<br />

Como se verá adiante, esta solução não poderá ser adoptada, por não cumprir os requisitos de aderência impostos pela norma NP EN 81-<br />

1:2000.<br />

252


ARTIGO TÉCNICO<br />

Energia da manobra de referência em função da massa do contrapeso<br />

44,000 Wh<br />

39,000 Wh<br />

34,000 Wh<br />

29,000 Wh<br />

24,000 Wh<br />

19,000 Wh<br />

14,000 Wh<br />

9,000 Wh<br />

4,000 Wh<br />

0kg<br />

291,25kg<br />

582,5kg<br />

790kg<br />

850kg<br />

Energia da Manobra de Referência<br />

873,75kg<br />

910kg<br />

1102kg<br />

1165 kg<br />

Massa do Contrapeso<br />

Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção<br />

2. Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o<br />

consumo energético:<br />

Figura 17 – Impacto de diferentes massas do contrapeso sobre o consumo energético<br />

Tomou-se por base um ascensor idêntico ao utilizado para<br />

validar o modelo em Matlab-Simulink, com as características<br />

ao lado indicadas.<br />

Verificou-se que não é suficiente analisar apenas o impacto<br />

que implicará a redução da massa da cabina, de per se.<br />

Ter-se-á de ter em conta também as recomendações em<br />

termos de aderência na roda de tracção da máquina,<br />

indicadaspela norma NP EN 81-1:2000 – Anexo M 6 .<br />

Com base nestas duas premissas foram obtidos os resultados<br />

indicadosna tabela 3.<br />

Local da casa das máquinas: Em cima na vertical, sobre a caixa<br />

Carga nominal: 630 Kg / 8 Pessoas<br />

Curso: 20,79 m<br />

Velocidade nominal: 1,0 m/s VVVF<br />

Tipo de Suspensão: 1:1<br />

Diâmetro dos cabos 8 mm<br />

Diâmetro da roda de tracção: 400 mm<br />

Abraçamento: 165 º<br />

Tipo de gorne: em U<br />

Ângulo do gorne: 25 º<br />

Ângulo do gorne subtalhado: 90,88 º<br />

Relação diâmetro cabo vs diâmetro roda de tracção: 50<br />

Diâmetro da roda de desvio: 320 mm<br />

Tabela 3: Resultados: Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o consumo energético<br />

Contrapeso Peso Mínimo Peso do Quantidade Diferença face<br />

% da carga nominal Cabina Contrapeso Cabos à solução base<br />

da cabina (kg) (kg) (kg)<br />

100 1750 2380 7 2015<br />

90 1550 2117 6 1552<br />

80 1400 1904 6 1189<br />

70 1250 1691 6 826<br />

60 1050 1428 5 363<br />

50 900 1215 5 0<br />

40 800 1052 4 -263<br />

30 1050 1239 5 174<br />

20 1300 1426 6 611<br />

10 1500 1563 6 948<br />

0 1750 1750 7 1385<br />

6<br />

O Anexo M desta norma, descreve a metodologia a seguir para calcular a aderência dos cabos na roda de tracção, tendo em conta o curso, o<br />

carregamento da cabina, a desaceleração motivada por uma paragem de emergência, o tipo de gorne, o ângulo do gorne, o coeficiente de<br />

atrito, o diâmetro da roda de tracção, o diâmetro da roda de desvio, o ângulo do gorne subtalhado, etc.<br />

253


ARTIGO TÉCNICO<br />

Peso Mínimo da Cabina<br />

Peso mínimo da cabina (kg)<br />

2000<br />

1800<br />

1600<br />

1400<br />

1200<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100<br />

Contrapeso (% da carga nominal)<br />

Figura 18 – Peso mínimo da cabina<br />

Pode-se concluir, que o ponto que permitirá optimizar o<br />

peso da cabina e o consumo energético do ascensor ocorre,<br />

quando a cabina pesar 800 kg e o contrapeso 1052 kg.<br />

Ou seja dever-se-á adoptar uma solução em que o<br />

contrapeso compense o peso da cabina + 40% da carga<br />

nominal da mesma, e não a solução utilizada presentemente<br />

nos ascensores produzidos maioritariamente pela indústria,<br />

que prevê um contrapeso que compensa o peso da cabina +<br />

50% da carga nominal da mesma (pesando a cabina 900 kg e<br />

o contrapeso 1215 kg).<br />

Para um ascensor com um contrapeso que compense o peso<br />

da cabina + 40% da carga nominal da cabina, o consumo<br />

energético será de 6,917 Wh para uma manobra de<br />

referência, em vez de 9,257 Wh, na solução adoptada<br />

actualmente. Ou seja, conseguir-se-á uma redução de<br />

aproximadamente26 % no consumo de energia.<br />

Com esta solução seria igualmente possível poupar 263 kg de<br />

aço, em todo o sistema (cabina e contrapeso). Acresce ainda<br />

o facto de acordo com a norma EN81:2000 – Anexo M, ser<br />

possível para esta solução aplicar 4 cabos de 8mm 2 em vez<br />

dos 5 cabos de 8 mm 2 que são normalmente aplicados.<br />

Ou seja com a optimização do peso da cabina, conseguir-se-á<br />

não só uma redução do consumo energético, mas também<br />

uma redução no custo dos materiais a aplicar.<br />

3. Suspensãolateral vs suspensão central<br />

Pretendeu-se avaliar o impacto que o tipo de suspensão da<br />

cabina tem sobre o consumo energético.<br />

Viu-se no ponto 4.1, que num estudo publicado por<br />

Küntscher (2006), o rendimento da caixa do ascensor será de<br />

aproximadamente 70%, quando a cabina é suspensa<br />

lateralmente e de aproximadamente 85%, quando a cabina é<br />

suspensacentralmente.<br />

Recorrendo ao simulador desenvolvido verificou-se que a<br />

solução da suspensão central, por permitir uma redução do<br />

atrito nas guias, implicou uma poupança de 16% em termos<br />

energéticos em relação à solução da suspensão lateral da<br />

cabina, para o ascensor de 630 kg estudado, pelo que se<br />

recomenda a sua adopção.<br />

254


ARTIGO TÉCNICO<br />

Tabela 4 - Resultados: suspensão lateral vs suspensão central<br />

Carga<br />

Energia da Manobra de Referência em Função da<br />

Suspensão da Cabine<br />

Massa %<br />

Suspensão lateral<br />

Suspensão Central<br />

70% 85%<br />

Subida Descida Subida Descida<br />

0,0 kg 0% -11,76 Wh 16,47 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh<br />

157,5 kg 25% -4,80 Wh 9,33 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh<br />

315,0 kg 50% 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh<br />

472,5 kg 75% 9,33 Wh -4,80 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh<br />

630,0 kg 100% 16,47 Wh -11,76 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh<br />

Média ponderada<br />

com base na -6,166 Wh 10,775 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh<br />

VDI 4707<br />

Ideal - 100%<br />

Reinjecção<br />

30% Reinjecção<br />

4,610 Wh<br />

101,05%<br />

8,925 Wh<br />

4,562 Wh<br />

100,00%<br />

7,848 Wh<br />

113,72% 100,00%<br />

0,000 Wh 10,775 Wh 0,000 Wh 9,257 Wh<br />

Sem Reinjecção<br />

10,775 Wh<br />

9,257 Wh<br />

116,40%<br />

100,00%<br />

Energia da Manobra de Referência em Função da Suspensão<br />

da Cabine<br />

12,000 Wh<br />

Energia da Manobra de Referência<br />

11,000 Wh<br />

10,000 Wh<br />

9,000 Wh<br />

8,000 Wh<br />

7,000 Wh<br />

6,000 Wh<br />

5,000 Wh<br />

4,000 Tabela Wh3: Resultados: Impacto da optimização do peso das cabinas sobre o consumo energético<br />

Suspensão<br />

lateral<br />

Tipo de Suspensão<br />

Suspensão<br />

Central<br />

Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção<br />

Figura 19 – Suspensão lateral vs suspensão central<br />

255


ARTIGO TÉCNICO<br />

4. Impacto da redução da velocidade linear do ascensor no<br />

consumo energético:<br />

Mantendo todas as características técnicas do ascensor, com<br />

excepção da velocidade (o que implicou uma mudança na<br />

relação da caixa redutora, mantendo o mesmo diâmetro da<br />

roda de tracção), verifica-se que quanto menor for a<br />

velocidade nominal do ascensor (ou seja, a velocidade linear<br />

da cabina), menor é o consumo energético. Assim, e por<br />

comparação a uma velocidade nominal de v = 1,0 m/s,<br />

conseguir-se-á uma redução de 46% no consumo energético<br />

se a velocidade for reduzida para v= 0,4 m/s, ceteris paribus.<br />

Na tabela 4 é possível verificar a poupança que se conseguirá<br />

obter mediante a redução da velocidade.<br />

Se fosse possível a reinjecção de toda a energia gerada<br />

durante a manobra de referência, não se verificariam<br />

variações no consumo energético, com a variação da<br />

velocidadelinear da cabina.<br />

Tabela 5 - Resultados: Impacto da redução da velocidade linear no consumo energético<br />

Carga<br />

Energia da Manobra de Referência em Função da Velocidade Linear da Cabine<br />

Massa %<br />

Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida Subida Descida<br />

0,0 kg 0% -2,30 Wh 6,78 Wh -3,41 Wh 7,90 Wh -4,87 Wh 9,39 Wh -6,82 Wh 11,38 Wh -9,31 Wh 13,94 Wh<br />

157,5 kg 25% -0,04 Wh 4,50 Wh -0,60 Wh 5,06 Wh -1,33 Wh 5,80 Wh -2,31 Wh 6,79 Wh -3,57 Wh 8,07 Wh<br />

315,0 kg 50% 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh 2,23 Wh<br />

472,5 kg 75% 4,50 Wh -0,04 Wh 5,06 Wh -0,60 Wh 5,80 Wh -1,33 Wh 6,79 Wh -2,31 Wh 8,07 Wh -3,57 Wh<br />

630,0 kg 100% 6,78 Wh -2,30 Wh 7,90 Wh -3,41 Wh 9,39 Wh -4,87 Wh 11,38 Wh -6,82 Wh 13,94 Wh -9,31 Wh<br />

Média ponderada<br />

com base na<br />

VDI 4707<br />

Ideal - 100%<br />

Reinjecção<br />

Velocidade Linear da Cabine<br />

0,4m/s 0,5m/s 0,63m/s 0,8m/s<br />

-0,487 Wh 4,958 Wh -1,154 Wh 5,634 Wh -2,030 Wh 6,523 Wh -3,200 Wh 7,720 Wh -4,695 Wh 9,257 Wh<br />

4,471 Wh 4,480 Wh 4,493 Wh<br />

4,520 Wh<br />

98,01% 98,20% 98,50% 99,08%<br />

61,31% 67,37%<br />

75,36% 86,13%<br />

100,00%<br />

0,000 Wh 4,958 Wh 0,000 Wh 5,634 Wh 0,000 Wh 6,523 Wh 0,000 Wh 7,720 Wh 0,000 Wh 9,257 Wh<br />

Sem Reinjecção 4,958 Wh 5,634 Wh 6,523 Wh 7,720 Wh 9,257 Wh<br />

53,56% 60,86% 70,47% 83,39%<br />

4,562 Wh<br />

100,00%<br />

30% Reinjecção 4,812 Wh 5,287 Wh 5,914 Wh 6,760 Wh 7,848 Wh<br />

1m/s<br />

100,00%<br />

Energia da Manobra de Referência em Função da Velocidade<br />

Linear da Cabine<br />

Energia da Manobra de Referência<br />

9,500 Wh<br />

9,000 Wh<br />

8,500 Wh<br />

8,000 Wh<br />

7,500 Wh<br />

7,000 Wh<br />

6,500 Wh<br />

6,000 Wh<br />

5,500 Wh<br />

5,000 Wh<br />

4,500 Wh<br />

4,000 Wh<br />

0,4m/s<br />

0,5m/s<br />

0,63m/s<br />

0,8m/s<br />

1m/s<br />

Velocidade da Cabine<br />

Ideal - 100% Reinjecção 30% Reinjecção Sem Reinjecção<br />

Figura 20 – Impacto da redução da velocidade do ascensor sobre o consumo energético<br />

Em edifícios residenciais com curso reduzido, recomenda-se, por isso, a instalação de ascensores com velocidade reduzida.<br />

256


ARTIGO TÉCNICO<br />

6 CONCLUSÕES<br />

1. A concepção de ascensores eficientes em termos de<br />

energia contribuirá para um menor impacto ambiental;<br />

2. Para se atingir o objectivo universal de utilização racional<br />

de energia (eléctrica) num edifício, não se deverá<br />

analisar apenas a eficiência energética, mas também o<br />

balanço energético. Assim, no caso dos ascensores,<br />

dever-se-á ter em conta, para além do período de<br />

operação, também o fabrico e a manutenção dos<br />

mesmos, o fornecimento de matérias-primas, bem como<br />

a sua reciclagem: a análise do ciclo de vida do produto.<br />

3. Verificou-se que a temática da eficiência energética é<br />

ainda pouco explorada pela indústria de ascensores, seja<br />

através da incorporação nos ascensores das novas<br />

tecnologias já disponíveis em outras aplicações, seja<br />

através da divulgação de informação relevante em<br />

termos do desempenho energético dos equipamentos<br />

comercializados. Existem ainda muito poucos estudos<br />

realizados neste âmbito na Europa, com uma notável<br />

excepção da Suiça que tem vindo a patrocinar, através<br />

de uma organização estatal (a SAFE - Swiss Agency for<br />

Efficient Energy Use), vários estudos sobre a eficiência<br />

energéticade ascensores;<br />

4. Verificam-se diversas barreiras à adopção de ascensores<br />

eficientesem termos energéticos:<br />

a) O Comprador e o utilizador do ascensor não têm<br />

interesses coincidentes: Na grande maioria das<br />

situações, o ascensor não é fornecido directamente<br />

ao cliente final, mas a uma empreiteiro geral que o<br />

incorpora no edifício. Este orienta-se<br />

fundamentalmente pelo preço de aquisição do<br />

ascensor e não pelos custos de energia eléctrica e de<br />

operação que este venha a provocar no futuro, que<br />

será sempre suportado pelo utilizador<br />

b) Em edifícios existentes, ocorre uma grande<br />

resistência à incorporação de novos componentes<br />

que possam por em causa a operação e a<br />

disponibilidade dos ascensores existentes. Em novos<br />

edifíciosé mais fácil incorporar as novas tecnologias.<br />

Pelo que se recomenda uma sensibilização do cliente<br />

final bem como de projectistas.<br />

5. Recomenda-se que o consumo energético dos<br />

ascensores seja considerado também no âmbito do<br />

Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização<br />

dos Edifícios (RSECE) – Decreto-Lei 79/2006 de 04 de<br />

Abril. Dessa forma existiria desde logo uma maior<br />

atenção na fase de projecto por parte dos projectistas<br />

relativamente à aplicação de ascensores eficientes<br />

energeticamente, para que pudessem ver aprovado o<br />

seu projecto.<br />

Bibliografia<br />

[1] ALMEIDA, Aníbal, PATRÃO, Carlos, FONSECA, Paula,<br />

MOURA, Pedro – Manual de boas práticas de eficiência<br />

energética. Lisboa, ISR – Departamento de Engenharia<br />

Electrotécnica e de Computadores Universidade de<br />

Coimbra e BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o<br />

DesenvolvimentoSustentável, 2005.<br />

[2] BARNEY, Gina – Elevator Traffic Handbook – Theory and<br />

Practice. Nova Iorque, Spon Press, 2003. ISBN 0-415-<br />

27476-I.<br />

[3] BOLLA, Mario – Verbesserung der Energieeffizienz von<br />

Aufzügen und Förderanlagen durch Entwicklung eines<br />

Neuartigen Frequenzumformers – Jahresbericht 2007.<br />

Seftigen, Bundesamt für Energie, Suiça, 2007.<br />

[4] CASTANHEIRA, Luís; BORGES GOUVEIA, Joaquim –<br />

Energia, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.<br />

Porto, Spi – Sociedade Portuguesa de Inovação, 2004.<br />

ISBN 972-8589-45-X.<br />

[5] CÓIAS, Vítor; FERNANDES, Susana – Reabilitação<br />

Energética dos Edifícios: Porquê? Oz – Diagnóstico<br />

Levantamento e Controlo de Qualidade em Estruturas e<br />

Fundações, Lda, 2006.<br />

[6] KÜNTSCHER, Dietmar – Energiesparende Aufzugsysteme<br />

– Lift-Report nº2 – Ano 32, 2006.<br />

[7] FITZGERALD, A.; KINGSLEY, Charles; UMANS, Stephen –<br />

Electric Machinery. Nova Iorque, McGraw Hill, 2003.<br />

ISBN 0-07-123010-6.<br />

[8] FRANCHI, C. – Acionamentos Eléctricos. Editora Érica,<br />

Ltda, 2007. ISBN 978-85-365-0149-9.<br />

257


ARTIGO TÉCNICO<br />

Bibliografia (Cont.)<br />

Directivas, Leis e Normas<br />

[9] GAMBOA, José – Ascensores e Elevadores. Lisboa, Rei<br />

dos Livros, 2005. ISBN 972-51-1007-2.<br />

[10]JANOVSKY, Lumomír – Elevator Mechanical Design. 3ª<br />

Edição. Mobile USA, Elevator World, Inc., 1999. ISBN 1-<br />

886-536-26-0.<br />

[11]MATIAS, José – Máquinas Eléctricas. 5ª Edição. Lisboa,<br />

DidácticaEditora, 2005. ISBN 972-650-124-5.<br />

[12]MEIRELES, Vitor – Circuitos Eléctricos. 3ª Edição revista.<br />

Lisboa, Lidel – Edições Técnicas, Lda, 2005. ISBN 972-757-<br />

386-X.<br />

[13]NIPKOW, Jürg, SCHALCHER, Max – Energy consumption<br />

and efficiency potentials of lifts – Zurique. - SAFE – Swiss<br />

Agency for Efficient Energy Use, 2005.<br />

[14]NIPKOW, Jürg – Elektrizitätsverbrauch und Einspar-<br />

Potenzialebei Aufzügen – Bundesamt für Energie, 2005.<br />

[15]PALMA, João – Accionamentos Electromecânicos de<br />

Velocidade Variável. 2ª Edição. Lisboa, Fundação<br />

Calouste Gulbenkian – Serviço de Educação e Bolsas,<br />

2008. ISBN 978-972-31-0839-2.<br />

[16]PAIVA, J. Sucena – Redes de Energia Eléctrica – Uma<br />

Análise Sistémica. Lisboa, IST Press, 2005. ISBN 972-8469-<br />

34-9.<br />

[17]RODRIGUES, José; MATIAS, José – Máquinas Eléctricas –<br />

Transformadores. Lisboa, Didáctica Editora, 2005. ISBN<br />

972-650-183-0.<br />

[1] DIRECTIVA 1995/16/CE do Parlamento Europeu e do<br />

Conselho de 29 de Junho de 1995 – Directiva Ascensores.<br />

Jornal Oficial das Comunidades Europeias.<br />

[2] DIRECTIVA 2002/91/CE do Parlamento Europeu e do<br />

Conselho de 16 de Dezembro de 2002 – EPB – Energy<br />

Performance of Buildings – Desempenho Energético de<br />

Edifícios.Jornal Oficial das Comunidades Europeias.<br />

[3] DIRECTIVA 2005/32/CE do Parlamento Europeu e do<br />

Conselho de 06 de Julho de 2005 – EuP – Energy Using<br />

Products – Requisitos de Concepção Ecológica dos<br />

Produtos que Consomem Energia. Jornal Oficial das<br />

ComunidadesEuropeias.<br />

[4] DECRETO-LEI nº 513/70 de 24 de Setembro.<br />

[5] DECRETO-LEInº 295/98 de 22 de Setembro<br />

[6] DECRETO-LEInº 78/2006 de 04 de Abril.<br />

[7] DECRETO-LEInº 79/2006 de 04 de Abril.<br />

[8] DECRETO-LEInº 80/2006 de 04 de Abril.<br />

[9] DECRETO-LEInº 176/2008 de 26 de Agosto.<br />

[10]NORMA PORTUGUESA NP 2058:1993 de Abril de 1993.<br />

InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />

[11]NORMA PORTUGUESA NP 4267:1994 de Maio de 1994.<br />

InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />

[12]NORMA PORTUGUESA NP 3661:1989 de Agosto 1989.<br />

InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />

[13]NORMA PORTUGUESA NP EN 81-1:2000 – Regras de<br />

Segurança para o Fabrico e Instalação de Elevadores –<br />

Parte 1: Ascensores Eléctricos. Fevereiro de 2001.<br />

InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />

[14]NORMA PORTUGUESA NP EN 81-2:2000 – Regras de<br />

Segurança para o Fabrico e Instalação de Elevadores –<br />

Parte 2: Ascensores Hidráulicos. Fevereiro de 2001.<br />

InstitutoPortuguêsda Qualidade.<br />

[15]NORMA SUIÇA SIA 380/4:2006 – Electricity in Buildings<br />

(2006), Swiss Society of Engineersand Architects(SIA).<br />

[16]NORMA ALEMÃ VDI 4707:2009 – Ascensores – Eficiência<br />

Energética(2009), Verein Deutscher Ingenieure (VDI)<br />

258


ARTIGO TÉCNICO<br />

José Marílio Oliveira Cardoso<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

EXTINÇÃO DAS TARIFAS REGULADAS NO SECTOR ELÉCTRICO<br />

1 ENQUADRAMENTO<br />

2 MERCADO REGULADO<br />

O sector eléctrico foi, historicamente, um sector de<br />

monopólio natural, controlado por uma única entidade a<br />

qual assegurava as diversas actividades relacionadas com o<br />

fornecimento da energia eléctrica, desde a sua produção,<br />

transporte e distribuição até ao abastecimento ao<br />

consumidor final. Esta é uma realidade que tem vindo a ser<br />

radicalmentealterada nas últimas décadas.<br />

Após longos anos de actuação em regime de monopólio<br />

(público, privado ou misto) verticalmente integrado,<br />

verificaram-se em diversos países, em diferentes latitudes,<br />

várias experiências que resultaram em processos de<br />

desverticalização do sector com separação das suas<br />

actividades. O primeiro destes exemplos ocorreu no Chile no<br />

final da década de 70 do século XX, tendo as alterações<br />

consistido, basicamente, no fim dos monopólios da energia<br />

eléctrica e na introdução duma lógica de concorrência no<br />

mercado da electricidade. Esta passou a verificar-se na<br />

produção e na comercialização, mantendo-se como<br />

monopólios as actividades ligadas a infra-estruturas de rede<br />

como são o transporte e a distribuição.<br />

Também em Portugal a EDP funcionou, durante muito<br />

tempo, como a empresa vertical, que actuando em toda a<br />

cadeia, assegurava a produção, o transporte, a distribuição e<br />

a comercializaçãoda energia eléctrica.<br />

Esta realidade teve um ponto de inflexão significativo após a<br />

adesão de Portugal à, então, CEE. Em 1988 foi publicado um<br />

importante pacto legislativo que, entre outras inovações,<br />

consagrou a possibilidade de acesso ao sector pelos<br />

pequenos produtores privados na área da produção<br />

hidroeléctrica (mini-hídricas) e cogeração, obrigando a EDP a<br />

adquirir toda a energia por eles produzida a um preço<br />

regulado.<br />

É também nesse período que cessa a exclusividade da<br />

concessão à EDP, sendo liberalizadas algumas das<br />

actividades do sector. Tal teve como objectivo a abertura do<br />

investimento no sector à iniciativa privada, permitindo<br />

canalizar verbas públicas para outros investimentos e,<br />

funcionando o mercado, permitir uma redução de preços<br />

com benefícios para os consumidores.<br />

Fig. 1 - Actividades tradicionais no sector eléctrico<br />

259


ARTIGO TÉCNICO<br />

Com uma progressiva abertura do sector a um ambiente de<br />

mercado concorrencial, emergiu o papel das entidades<br />

reguladoras como garantia de condições de igualdade de<br />

tratamento, de transparência e de não discriminação no<br />

acesso de produtores e de consumidores às redes de<br />

transporte e de distribuição. Em 1995 é criada a ERSE<br />

(Entidade Reguladora do Sector Eléctrico) pela publicação do<br />

Decreto-Lei n.º 187/95, de 27 de Julho.<br />

Das suas competênciasconstam:<br />

• O estabelecimento dos valores das tarifas e preços para a<br />

energia eléctrica a aplicar anualmente<br />

• A protecção dos interesses dos consumidores em relação<br />

a preços, serviços e qualidade do abastecimento<br />

• Fomentar a concorrência<br />

• Contribuir para uma utilização eficiente da energia<br />

eléctrica<br />

Em 2002 são aprovados novos estatutos da ERSE pela<br />

publicação do Decreto-Lei nº 97/2002 de 12 de Abril. A ERSE<br />

vê as suas competências alargadas com a inclusão da<br />

regulação das actividades relativas ao gás natural, passando<br />

a designar-se Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos,<br />

embora mantendo a sigla original.<br />

3 MERCADO LIBERALIZADO<br />

O processo de liberalização do sector eléctrico ocorreu, na<br />

maior parte dos países europeus, de modo faseado. Estes<br />

processos começaram tipicamente por contemplar os<br />

clientes dos níveis de tensão mais elevados e com maiores<br />

consumos. Também em Portugal, ainda na década de 90 do<br />

século passado, foi publicada legislação que abria o mercado<br />

apenas aos maiores clientes, tendo o processo sido<br />

progressivamenteestendidoa todos os clientes.<br />

A abertura do mercado concorrencial teve como objectivo<br />

dinamizar o sector e impor-se como solução para o encontro<br />

entre a oferta e a procura, reflectindo-se numa expectável<br />

descidados preços e melhoria da qualidade de serviço.<br />

Este é um novo paradigma onde é concedida a cada<br />

consumidor a possibilidade de escolha do fornecedor,<br />

implicando alterações profundas em todo o enquadramento<br />

legislativo e regulatório bem como no modo de actuação das<br />

diversas entidades intervenientes. Potencia ainda o<br />

aparecimento de novos produtores e comercializadores,<br />

aumentando o número de intervenientes no sector e a<br />

complexidadede funcionamentodo mesmo.<br />

Fig. 2 - Calendário de abertura do mercado em Portugal (ERSE)<br />

260


ARTIGO TÉCNICO<br />

A Directiva n.º 2003/54/CE, de 26 de Junho, definiu como<br />

data limite o dia 1 de Julho de 2007, para abertura do<br />

mercado a todos os clientes, independentemente dos seus<br />

consumos e da tensão de alimentação. A Directiva foi<br />

transposta para a ordem jurídica nacional pela publicação do<br />

Decreto-Lei n.º 29/2006, de 15 de Fevereiro. Aí, no âmbito<br />

da protecção dos consumidores, consagra-se a figura do<br />

comercializador de último recurso o qual assume o papel de<br />

garante do fornecimento de electricidade aos consumidores.<br />

Para Portugal continental foi estabelecida a data de 4 de<br />

Setembro de 2006 como aquela a partir da qual todos os<br />

clientesde energia eléctrica poderiam escolher livremente o<br />

seu fornecedor de energia eléctrica.<br />

Este foi um processo que apresentou alguns percalços,<br />

nomeadamente, no final de 2007 com vários<br />

comercializadores a não aceitarem novos contratos de<br />

fornecimento de energia eléctrica nem renovarem contratos<br />

já existentes, alegando impossibilidade de concorrência com<br />

as tarifas reguladas. No final de 2008 e, principalmente, em<br />

2009 e assistiu-se a um retorno de muitos clientes ao<br />

mercado liberalizado. Actualmente a adesão de novos<br />

clientes ao mercado apresenta-se como uma forte<br />

tendência.<br />

Fig. 3 - Evolução do consumo no mercado liberalizado (ERSE)<br />

Fig. 4 - Número total de clientes no mercado liberalizado (ERSE)<br />

261


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.2.1.3 CAIXA REDUTORA<br />

Fig. 5 - Consumo (GWh) no mercado liberalizado (ERSE)<br />

Figura 9 - Diagrama de blocos Simulink da caixa redutora com variador de velocidade<br />

Fig. 6 - Peso relativo do consumo do mercado liberalizado (ERSE)<br />

4 NOVO MODELO<br />

Com a recente publicação do Decreto-Lei n.º 104/2010 de 29<br />

de Setembro verifica-se uma nova “revolução” no sector<br />

eléctrico, com a extinção das tarifas reguladas de<br />

fornecimento de energia eléctrica em Portugal continental, a<br />

partir de 1 de Janeiro de 2011. Por este diploma são<br />

abrangidos os clientes cuja alimentação seja em muito alta<br />

tensão(MAT), alta tensão (AT), média tensão (MT) ou baixa<br />

tensão especial (BTE). Significa que todos os clientes, com<br />

excepção daqueles que são alimentação em baixa tensão<br />

normal (BTN), deverão, no próximo ano, passar a ser<br />

abastecidosno âmbito do mercado liberalizado.<br />

Esta é uma nova mudança de paradigma alterando, em<br />

pouco anos, o fornecimento no mercado liberalizado de um<br />

direito do consumidor para uma obrigação.<br />

262


ARTIGO TÉCNICO<br />

A legislação prevê que os clientes que, à data de entrada em<br />

vigor do diploma, tivessem como fornecedor um<br />

comercializador de último recurso (CUR) e que entretanto<br />

não estabeleçam um contrato no mercado liberalizado,<br />

possam continuar a ser abastecido pelo CUR até à data limite<br />

de 31 de Dezembro de 2011. Para esse fim serão definidas<br />

pela ERSE tarifas transitórias determinadas pela soma das<br />

tarifas de energia, comercialização e acesso às redes, sendo<br />

agravada por uma percentagem a definir pela ERSE.<br />

O CUR deverá notificar por carta registada todos os seus<br />

clientes até 30 dias após a entrada em vigor do Decreto-Lei<br />

n.º 104/2010 prestando-lhes toda a informação necessária à<br />

mudança de comercializador. Este não é um processo<br />

automático cabendo a cada cliente consultar o mercado e<br />

optar por um comercializador do mercado liberalizado.<br />

Os comercializadores autorizados a actuar no mercado<br />

liberalizado em Portugal obtém licenciamento junto da<br />

Direcção-Geral de Geologia e Energia. A ERSE disponibiliza na<br />

sua página de Internet (www.erse.pt) a lista com a<br />

identificação e os contactos dos comercializadores que se<br />

encontram a actuar no mercado.<br />

A mudança de comercializador pode ser efectuada até<br />

quatro vezes em cada doze meses consecutivos, não<br />

podendo ser invocadas razões de ordem técnica para<br />

impedir essa mudança, nomeadamente as características dos<br />

contadoresde energia.<br />

De notar que, sendo o mercado livre, cada comercializador<br />

pode apresentar uma proposta comercial que poderá não<br />

ser facilmente comparável com a de um seu concorrente.<br />

Cabe a cada cliente obter junto de cada comercializador os<br />

esclarecimentos necessários à sua decisão, garantindo que<br />

estão acautelados os seus interesses e que esses serão<br />

vertidos no contrato a estabelecer.<br />

Deverão ainda ser tomados em conta outros aspectos como,<br />

por exemplo, que o ciclo mais adequado (semanal ou diário)<br />

ao funcionamento das instalações é o que consta na<br />

proposta, ou a explicitação de a quem competirá suportar<br />

eventuais alterações de custos com as tarifas de acesso às<br />

redes no decorrer da vigência do contrato.<br />

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O sector eléctrico tem vindo a sofrer diversas alterações ao<br />

longo da sua existência tendencialmente no sentido do<br />

fomento da concorrência.<br />

Em Portugal a manifestação mais recente dessa tendência é<br />

corporizada na publicação do Decreto-Lei n.º 104/2010 que<br />

determina a extinção de tarifas reguladas com excepção dos<br />

consumidores domésticos. Esta é uma realidade que impõe<br />

aos clientes a procura de um comercializador em mercado<br />

liberalizado. Este é um desafio que poderá potenciar a<br />

oportunidade de cada cliente dedicar mais atenção aos<br />

aspectos relacionados com a energia eléctrica que consome,<br />

eventualmente conseguindo obter condições mais<br />

vantajosas e incrementar a eficiência energética e a<br />

utilizaçãoracional da energia nas suas instalações.<br />

Esta não é contudo a única novidade no sector, havendo<br />

alterações ao nível da introdução de escalões no consumo de<br />

energia reactiva, já no início de 2011. Prevê-se ainda que,<br />

num futuro mais longínquo, se possam verificar alterações<br />

significativas no que diz respeito à qualidade de serviço e à<br />

poluição da responsabilidadede cada consumidor.<br />

Referências<br />

www.galpenergia.com<br />

www.erse.pt<br />

www.edp.pt<br />

www.dgge.pt<br />

www.unionfenosa.pt<br />

www.dre.pt<br />

263


|264<br />

CURIOSIDADE


ARTIGO TÉCNICO<br />

Domótica<br />

Após o reconhecido sucesso da publicação das anteriores seis edições da Revista Neutro à Terra esta sétima edição reúne os<br />

artigos técnicospublicados nas diversas áreas, e, naturalmente, também na área da Domótica.<br />

A Domótica é uma tecnologia recente que permite a gestão de todos os recursos habitacionais, satisfazendo as necessidades de<br />

comunicação,de conforto e segurança.<br />

Apesar de ainda ser pouco conhecida e divulgada, mas pelo conforto e comodidade que pode proporcionar, a domótica promete<br />

vir a ser uma das áreas mais procuradas no âmbito das instalaçõeseléctricas.<br />

As diversas tecnologias e soluções técnicas para este sector são descritas nos vários artigos que compõem esta secção, bem<br />

como soluções específicas para possibilitar o comando de iluminação, a requalificação dos edifícios e a gestão técnica<br />

centralizada.<br />

265


ARTIGO TÉCNICO<br />

Índice<br />

A Domótica ao Serviço da Sociedade<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

267<br />

A Solução POWERLINE Para o Sector Residencial<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

270<br />

Gestão Técnica de Edifícios com KNX<br />

Domingos Salvador Gonçalves dos Santos<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

274<br />

Sistema de Gestão de Iluminação LUTRON<br />

Sónia Viegas<br />

Astratec, Lighting Consultant<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

279<br />

A Criação de Valor no Binómio “Casa Inteligente” / Consumidor<br />

António Manuel Luzano de Quadros Flores<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

284<br />

Domótica e a Requalificação de Edifícios<br />

José Luís Faria<br />

Touchdomo, Lda, Porto, Portugal<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

295<br />

266


ARTIGO TÉCNICO<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº1, Abril de 2008<br />

A Domótica ao Serviço da Sociedade<br />

Introdução<br />

Com a elevada evolução dos sistemas electrónicos e<br />

computacionais, associados a tecnologias de comunicação<br />

cada vez mais evoluídas, alcançou-se um novo domínio de<br />

aplicação tecnológica que tem por objectivo satisfazer as<br />

cada vez maiores necessidades de utilização racional da<br />

energia e proporcionar uma maior sensação de conforto aos<br />

utilizadores das instalações. Esta integração da electrónica<br />

com as tecnologias de comunicação de dados está na base<br />

de um conceito que começou a emergir no início dos anos 80<br />

do século passado.<br />

criação de cenários ou ainda a simulação da presença de<br />

pessoas em casa, permitem diminuir os consumos de energia<br />

e aumentar a protecção das habitações e bens. Outra das<br />

funções mais vulgares de controlo é o da climatização dos<br />

edifícios. A este nível, o controlo dos aparelhos de<br />

condicionamentode ar traduzem-seem elevados ganhos em<br />

termos de eficiência energéticae de conforto.<br />

Ainda a nível das funções de gestão é possível, através dos<br />

sistemas domóticos, controlar estores e toldos, sistemas de<br />

rega, controlar e monitorizar piscinas, etc..<br />

Esta conjugação das tecnologias aplicada a ambientes<br />

residenciais, permite a realização de uma vasta gama de<br />

aplicações de gestão local ou remota, a nível de segurança,<br />

conforto,gestão de energia, etc.<br />

Assim apareceu o conceito de DOMÓTICA.<br />

Funções da domótica<br />

As necessidades de dotar os edifícios com sistemas<br />

centralizados de controlo puramente informáticos, em<br />

detrimento dos tradicionais sistemas electromecânicos,<br />

levaram a um maior controlo de certas funções, permitindo<br />

assim uma maior funcionalidade das instalações e uma<br />

optimizaçãodos recursos energéticos.<br />

Figura 1 – Funcionalidades da Domótica<br />

A integração de sistemas de segurança é uma das funções<br />

mais interessantesda domótica.<br />

Funções como o controlo da iluminação, permitindo ligar ou<br />

desligar os aparelhos de iluminaçãoautomaticamenteou a<br />

A possibilidade de ter sistemas de alarme de intrusão,<br />

incêndio, inundação, fugas de gás e vigilância a interagir com<br />

267


ARTIGO TÉCNICO<br />

os sistemas de gestão de energia e com os sistemas de<br />

comunicação permitem o aumento da eficiência destes<br />

sistemas.<br />

Sistemas domóticos<br />

A grande diversidade de sistemas existentes, cada um com o<br />

seu protocolo de comunicação, levou à existência de<br />

problemas quanto à compatibilidade ao nível da integração<br />

dos diversos sistemas. No entanto, desde os primeiros<br />

sistemas domóticos até aos evoluídos sistemas dos dias de<br />

hoje, esses problemas têm vindo a ser ultrapassados.<br />

Os primeiros sistemas domóticos foram desenvolvidos nos<br />

Estados Unidos da América (EUA), tendo depois disso sido<br />

exportados para a Europa onde países como a França e a<br />

Alemanha foram os grandes impulsionadores destes<br />

sistemas.<br />

Um dos primeiros sistemas a ser desenvolvido foi o “X-10”.<br />

Desenvolvido pela Pico Electronics, foi um sistema com<br />

muita aceitação nos EUA onde se estima existirem milhões<br />

de casas equipadas com este tipo de domótica. A grande<br />

vantagem deste sistema é a sua simplicidade de instalação.<br />

Os equipamentos são ligados à rede de distribuição de<br />

energia eléctrica da instalação e usam a referida rede para<br />

comunicarem. Este sistema pode apresentar uma topologia<br />

em anel, em estrela ou em árvore, o que permite uma<br />

grande flexibilidade. Hoje em dia já existem módulos que se<br />

podem incorporar e que permitem a recepção de sinais de<br />

rádio frequência dando ainda uma maior flexibilidade ao<br />

sistema.<br />

Um outro sistema, desenvolvido na década de 90, foi o<br />

LonWorks.<br />

É um sistema de aplicação exclusiva para a industria e que<br />

tenta solucionar os problemas de controlo existentes nesse<br />

sector. Esta tecnologia permite a integração fácil e rápida da<br />

rede dos dispositivos. Fazendo uso de uma cablagem<br />

comum, é criada uma rede de dispositivos que podem<br />

comunicar através da utilização de mensagens.<br />

O sistema European Home System (EHS) foi desenvolvido na<br />

Europa e tem como grande vantagem ser um sistema aberto,<br />

permitindo assim que equipamentos de vários fabricantes<br />

possam ser instalados, comunicando entre si, com uma taxa<br />

de transmissão dependente do meio de transmissão<br />

utilizado. Este sistema permite a utilização de diversos meios<br />

físicos de transmissão tais como, a rede eléctrica ou o cabo<br />

coaxial.<br />

O sistema CEBus, desenvolvido nos Estados Unidos da<br />

América, surgiu com o objectivo de solucionar problemas na<br />

automação doméstica, nomeadamente resolver a<br />

incompatibilidade de ligação entre dispositivos de diversos<br />

fabricantes e da falta de um meio único de comunicação. O<br />

CEBus cria uma rede lógica onde o emissor e receptor estão<br />

colocadosindependentementedo meio de comunicação.<br />

O sistema BatiBus, desenvolvido em França, foi o primeiro<br />

sistema de comunicação bus a ser desenvolvido. Usando um<br />

bus único, permite a ligação de diversos módulos. O bus é<br />

realizado através de um par entrelaçado, permitindo<br />

alimentar directamente dispositivos que não tenham um<br />

consumo superior a 3mA.<br />

O sistema European Installation Bus (EIB) foi criado na<br />

Europa com o objectivo desenvolver um sistema standard<br />

europeu que possibilite a comunicação entre todos os<br />

dispositivos existentes numa instalação. O EIB usa um bus<br />

único de comunicação que permite uma comunicação<br />

elemento a elemento. O bus de comunicação, onde são<br />

ligados todos os sensores e actuadores, é independente do<br />

bus de alimentação dos equipamentos. O EIB apresenta uma<br />

grande flexibilidade e permite interligação de mais de 10000<br />

dispositivos.<br />

O sistema KONNEX (KNX), baseado na associação dos<br />

sistemas BatiBus, EIB e EHS, surgiu com o objectivo de criar<br />

um sistema internacional standard para a automação de<br />

residênciase edifícios.<br />

Actualmente o KNX é o único sistema aberto a nível<br />

mundial, utilizando um software de concepção, modificação<br />

268


ARTIGO TÉCNICO<br />

bus de potência<br />

bus EIB<br />

Interruptores Detectores Sensores Botões de<br />

pressão<br />

Figura 2 – Arquitectura de uma Instalação EIB-KNX<br />

e instalação único, o ETS. O EIB/KNX permite a utilização de<br />

diversos meios físicos de comunicação. A comunicação pode<br />

ser feita sobre o par de condutores (EIB.TP) ou usando a<br />

power line (EIB.PL) ou fazendo uso da rede Ethernet (EIB.net)<br />

ou transmitindo sinais por radiofrequência (EIB.RF) ou por<br />

transmissão por infravermelhos (EIB.IR). A grande panóplia<br />

de meios de comunicação entre equipamentos confere ao<br />

sistema uma grande flexibilidade de utilização. Este é sem<br />

dúvida o sistema com mais potencialidades e que mais tem<br />

evoluído a nível mundial.<br />

Conclusão<br />

Neste artigo foram apresentadas, sumariamente, as funções<br />

gerais de um sistema de domótica bem como uma descrição<br />

de alguns dos sistemas mais importantes. Existem e<br />

existiram no mercado outros sistemas que aqui não foram<br />

referidos, mas que também contribuíram para o objectivo<br />

final que é o de conseguir um sistema cada vez mais versátil,<br />

que permita a utilização eficiente da energia, que faça uma<br />

gestão técnica centralizada e que consiga elevar os níveis de<br />

confortoe fiabilidade das instalações.<br />

Fontes de Informação relevantes<br />

Intelligent Buildings, Carter Myers, 1996, UpWord Publishing Inc.<br />

Building Control Systems, Vaughn Bradshaw, John Wiley & Sons<br />

La ingenieria en edificios de alta tecnologia, C.J. Díaz Olivares,<br />

1999, McGraw Hill<br />

www.acasainteligente.com<br />

www.siemens.com<br />

www.cebus.org<br />

www.ehsa.com<br />

www.eiba.com<br />

www.konnex.org<br />

http://engenium.wordpress.com/<br />

269


Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº2, Outubro de 2008<br />

ARTIGO TÉCNICO<br />

A Solução POWERLINE Para o Sector Residencial<br />

Introdução<br />

Apesar de muito utilizada no sector industrial, a automação<br />

ainda não atingiu o mesmo patamar de implementação no<br />

sector doméstico. A evolução tecnológica leva a que quase<br />

todos os dias apareçam novos produtos que visam a<br />

implementação de sistemas domóticos que possibilitem o<br />

conforto, a segurança e a eficiência nas habitações. Contudo,<br />

quando se pretende instalar um sistema domótico com o<br />

objectivo de simplificar os processos numa habitação, a<br />

palavra que surge não é “simplicidade”, mas sim<br />

“complicação”.<br />

Para além de a grande maioria das pessoas não estar<br />

familiarizada com as funcionalidades que um sistema<br />

domótico permite, existe sempre o pensamento que esses<br />

sistemas têm um custo elevado, o que de certa forma não é<br />

um pensamento errado. Se quanto ao aspecto do preço, não<br />

há muito a fazer, ele depende das leis do mercado e do custo<br />

da inovação, quanto à complexidade da instalação e<br />

utilização dos sistemas, trata-se de um pensamento induzido<br />

nas pessoas que não conhecem os sistemas domóticos e que<br />

facilmentese consegue desmistificar.<br />

tecnológica permitiu desenvolver soluções para este tipo de<br />

situações. Hoje em dia não é necessário reconstruir a<br />

habitação para instalar sistemas domóticos. Existem<br />

soluções que usam a rede eléctrica já instalada e que<br />

permitem instalar funções domóticas na habitação.<br />

Funções usuais<br />

Não é preciso ter uma casa totalmente automatizada para<br />

que ela seja considerada “inteligente”. Muitas vezes a busca<br />

por mais e mais automatização dos processos leva ao<br />

aumento da complexidade e ao inerente aumento do preço<br />

do sistema instalado. Quando se pretende dotar uma<br />

instalação com um sistema domótico, a primeira coisa que se<br />

deverá fazer é perceber o que realmente se pretende. Saber<br />

quais são as funções que realmente fazem sentido dotar de<br />

alguma “inteligência”.<br />

Um dos sistemas que numa habitação faz algum sentido ser<br />

comandado é o do sistema de estores e toldes.<br />

Os projectos de domótica nas habitações deveriam ser<br />

pensados aquando do projecto da habitação. No entanto, a<br />

realidade não é essa. A grande maioria das habitações não<br />

foi pensada para a instalação desses sistemas e só depois da<br />

instalação eléctrica estar efectuada e a habitação habitada é<br />

que se percebe que se precisava de ter mais alguma<br />

flexibilidade e funcionalidade na instalação. A evolução<br />

Fig.1 – Comando de estores com sistema PLC<br />

270


ARTIGO TÉCNICO<br />

Poder abrir ou fechar os estores individualmente ou por<br />

grupos, ou fazer o comando de acordo com a quantidade de<br />

luz natural ou vento existente. Esta é uma função que para<br />

além do conforto que introduz, leva também ao aumento da<br />

eficiênciaenergéticada habitação.<br />

A iluminação é outro dos sistemas que se deve dotar de<br />

alguma automatização.<br />

A instalação de alarmes técnicos tais como a detecção de<br />

gases combustíveis, a detecção de monóxido de carbono, a<br />

detecção de inundação e a detecção de incêndios são<br />

funções que devem ser implementadas. A possibilidade de<br />

em caso de fuga de gás ou de inundação se poder actuar nas<br />

electroválvulas para se efectuar o corte do gás ou da água,<br />

ou em caso de incêndio de fazer soar um alarme sonoro, são<br />

funçõesmuito úteis numa habitação.<br />

Fig.2 – Cenários de iluminação<br />

A criação de cenários de iluminação ou a variação da<br />

iluminação de acordo com as necessidades ou de acordo<br />

com a iluminação natural existente cria uma sensação de<br />

conforto,flexibilidade e eficiência da instalação.<br />

A segurança é um outro sistema que deve ser considerado.<br />

Os três sistemas que se falaram anteriormente são os que<br />

usualmente são dotados de “inteligência” numa habitação.<br />

Também começa a ser usual querer comandar alguns<br />

circuitos de potência, por exemplo o circuito em que está<br />

ligada a televisão ou as máquinas de lavar roupa ou louça, ou<br />

pode ter interesse comandar algumas tomadas, ou até a<br />

difusão sonora, ou o aquecimento. Contudo, apesar de<br />

quase todas as funções poderem ser dotadas de<br />

“inteligência”, é preciso ter em atenção que quanto mais<br />

funções se pretenderem automatizar, mais cara ficará a<br />

instalaçãoe a complexidade da mesma também aumenta.<br />

Tecnologia POWER LINE<br />

Detector de gás<br />

Detector de inundação<br />

Fig.3 – Alarmes técnicos<br />

A tecnologia Powerline Carrier (PLC) usa a cablagem<br />

tradicional de uma instalação (circuitos de tomadas e<br />

iluminação) para enviar as mensagens entre os emissores e<br />

os receptores. É enviado um sinal modulado em frequência<br />

(normalmente superior a 100kHz) pelos condutores<br />

eléctricos da instalação e apenas os receptores programados<br />

para esses sinais poderão actuar de acordo com esse sinal.<br />

271


ARTIGO TÉCNICO<br />

Como esta tecnologia usa a cablagem da instalação eléctrica<br />

da habitação, é preciso ter em atenção que como as<br />

instalações estão ligadas pela mesma cablagem eléctrica, um<br />

sistema instalado numa habitação poderá comunicar com a<br />

instalação do vizinho. Para evitar esse tipo de situações é<br />

conveniente a instalação de filtros no quadro eléctrico de<br />

entrada da habitação. Existem já sistemas desenvolvidos em<br />

que os aparelhos são dotados de um endereço, um código<br />

único para cada aparelho. Nesse tipo de sistemas a<br />

necessidade de filtros é menor. Os sistemas mais actuais<br />

também combinam a tecnologia de infra vermelhos (IR) e<br />

rádio frequencia (RF) com a tecnologia PLC. Com esta<br />

combinação de sistemas a flexibilidade da instalação<br />

aumenta. Por exemplo é possivel com um comando IR ou RF<br />

dar ordem a um estore para abrir ou fechar ou gerar um<br />

cenário de iluminação numa sala.<br />

Fig.4 – Comunicação PLC<br />

Uma vantagem deste tipo de instalações é que elas não são<br />

estáticas, isto é, se num determinado momento quisermos<br />

que um determinado comando deixe de fazer a sua função<br />

para passar a fazer outra, não é necessário alterar a<br />

aparelhagem mas apenas alterar a sua programação. Como<br />

não são sistemas muito complicados, a programação<br />

também é fácil de entender e efectuar. Geralmente é feita<br />

com recurso a apenas a uma chave de fendas e à manobra<br />

de alguns switchs.<br />

ideia de que este tipo de sistemas são demasiadamente<br />

caros. Como não é necessário aplicar a tecnologia a toda a<br />

instalação, ela pode ser aplicada de acordo com as<br />

necessidades ou de acordo com a disponibilidade monetária<br />

do proprietário da instalação.<br />

Como se tenta demonstrar na figura 5, apenas na sala está<br />

aplicado o sistema de domótica para comando da iluminação<br />

e criação de cenários de iluminação, a restante instalação<br />

eléctricacontinua a ser a tradicional.<br />

Uma limitação de alguns destes sistemas PLC é que a<br />

transmissão do sinal pode ser feito através do condutor<br />

neutro, o que implica a iunstalação de mais um condutor de<br />

neutro em algumas situações.<br />

Quanto ao design e estética dos aparelhos, que antigamente<br />

eram diferentes dos aparelhos de comando da instalação<br />

tradicional, hoje em dia esse problema desapareceu. Os<br />

fabricantes destes produtos investiram bastante neste<br />

aspecto e é fácil encontrar aparelhos de comando com<br />

design modernos e que não se diferenciam esteticamente da<br />

aparelhagem tradicional. Em algumas marcas, as diferenças<br />

existentes na aparelhagem não se conseguem notar<br />

exteriormente, pois quer os espelhos quer as teclas são as<br />

mesmas. A diferença está no mecanismo interno.<br />

Uma outra vantagem deste tipo de sistemas é que não é<br />

necessário alterar toda a instalação. É possível dotar de<br />

“inteligência” apenas algumas divisões de uma habitação,<br />

continuando o resto da habitação a usar a instalação<br />

tradicional. Esta é uma vantagem importante porque anula a<br />

Fig.5 – Instalação tradicional e sistema PLC<br />

272


ARTIGO TÉCNICO<br />

Conclusão<br />

Neste artigo foi referido o sistema Powerline Carrier como<br />

alternativaaos sistemas de domótica pura.<br />

Este sistema, apesar de não ter todas as funcionalidades que<br />

um sistema de domótica baseado na tecnologia EIB/KONNEX<br />

possibilita, conseguem automatizar e controlar as funções<br />

mais úteis numa instalação, tais como a iluminação, o<br />

comando de estores, o aquecimento e os alarmes técnicos.<br />

Uma vantagem dos sistemas PLC é a não necessidade de<br />

haver um bus dedicado à passagem da informação. As<br />

mensagens são enviadas pela cablagem tradicional da<br />

instalaçãoeléctrica.<br />

Apesar de estes sistemas poderem ser utilizados como<br />

upgrades às instalações tradicionais, sem haver a<br />

necessidade de fazer uma nova instalação eléctrica, para se<br />

tirar todo o partido das vantagens que estes sistemas<br />

permitem, o ideal seria os projectistas eléctricos<br />

dimensionarem as instalações para este tipo de sistemas ao<br />

nível do projecto eléctrico.<br />

273


Domingos Salvador Gonçalves dos Santos<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº3, Abril de 2009<br />

ARTIGO TÉCNICO<br />

Gestão Técnica de Edifícios<br />

com KNX<br />

1. Enquadramento<br />

A eficiência energética dos edifícios é cada vez mais uma das<br />

prioridades nas agendas dos gestores comercias dos edifícios<br />

e proprietários. Em parte deve-se ao processo de certificação<br />

energética dos edifícios, que entrou em vigor em 2007,<br />

através dos Decretos de Lei 78/2006, 79/2006 e 80/2006. A<br />

solução passa agora pela poupança contínua de energia<br />

através de uma eficienteGestão Técnica de Edifícios.<br />

2. Standard KNX<br />

O Standard KNX (anteriormente EIB) é um sistema para o<br />

controlo e automação de todo tipo de Edifícios, totalmente<br />

compatível com a Norma Europeia EN50090.<br />

Grande parte dos proprietários de edifícios comerciais, ao<br />

nível mundial, rapidamente aceitou esta tecnologia como<br />

suporte para alcançar a máxima eficiência energética, uma<br />

vez que tem uma série de vantagens em relação a soluções<br />

alternativas. Por exemplo, num momento em que é<br />

esperado que a Gestão Técnica de Edifícios (BEMS - Building<br />

Energy Management Systems) seja cada vez mais a solução<br />

adoptada, o KNX tem a capacidade de ser integrado em<br />

qualquer tipo de BEMS. Uma vez integrado, outras<br />

vantagens do KNX entram em jogo no controlo local em cada<br />

área do edifício.<br />

A vantagem do KNX cobrir praticamente todas as áreas<br />

funcionais de um edifício, oferece-nos uma abordagem<br />

holística da utilização eficiente da energia. O KNX não está<br />

limitado à iluminação, aquecimento ou medição, ou<br />

qualquer outra função específica.<br />

A plataforma KNX tem sido adoptada por muitos e altamente<br />

respeitados fabricantes, oferecendo uma vasta escolha de<br />

produtos que abrangem todas as áreas funcionais dos<br />

edifícios.<br />

A escolha um protocolo proprietário de um único fabricante,<br />

obriga a uma dependência que poderia ser problemática<br />

durante o ciclo de vida de um sistema.<br />

Com o KNX, se um determinado produto já não está<br />

disponível, existe a garantia que haverá uma alternativa de<br />

substituição.<br />

Como o KNX abrange uma diversidade de aplicações que<br />

utilizam o mesmo protocolo de comunicações, a ligação em<br />

rede dos dispositivos é muito simples. Um único cabo par<br />

entrançado pode, em muitas vezes, ser suficiente para<br />

interligar vários dispositivos que operam em conjunto numa<br />

única rede. O KNX utiliza como suporte físico o cabo verde J-<br />

Y(st)Y2x2x0.8mm2 (i.e. par entrançado TP), podendo<br />

contudo usar outros meios, tais como, Rádio (RF), Ethernet,<br />

Fibra Óptica ou Linha de Potência.<br />

Como exemplo de integração do KNX, já existem vários<br />

dispositivos no mercado, designados por “gateways”, que<br />

proporcionam a interligação com outros protocolos de<br />

controlo, tais como DALI (Digital Addressable Lighting<br />

Intelligence). Estes dispositivos, são utilizados para expandir<br />

a capacidade dos sistemas de controlo KNX e fornecer a<br />

soluçãode gestão completa de um edifício.<br />

KNX também tem trabalhado com protocolos ao nível da<br />

gestão, como o BACnet, para permitir o interfuncionamento<br />

entre estas duas normas, sempre que o projecto exige<br />

gestãocentralizada.<br />

Consultores, especialistas e utilizadores finais à procura de<br />

soluções abertas para Gestão Técnica de Edifícios, estão cada<br />

vez mais a considerar KNX como tecnologia base em<br />

detrimento de soluções proprietárias ou de vários controlos<br />

baseadosem hardware.<br />

274


ARTIGO TÉCNICO<br />

O que também contribui para escolha do KNX, é que um<br />

produto que é colocado no mercado, é totalmente testado e<br />

certificado por um organismo regulador independente e só<br />

depois é que o produto pode ter o logótipo KNX.<br />

A KNX Association é o organismo internacional responsável<br />

pela certificação. Este processo, garante total confiança na<br />

fiabilidade e interoperabilidade dos produtos KNX,<br />

independentementedos dispositivose fabricantes.<br />

- Inglaterra, Heathrow Airport, Terminal 5<br />

No terminal 5 do aeroporto de Heathrow, o KNX controla a<br />

gestão dos sistemas de iluminação, de forma a proporcionar<br />

aos passageiros um ambiente bem iluminado nas diversas<br />

áreas do terminal, incluindo o terminal ferroviário, o pátio<br />

principal do edifício e a ligação dos passageiros (TTS -<br />

Tracked Transit System) entre o edifício principal e os<br />

edifíciosutilizados para o embarque.<br />

O novo paradigma da gestão energética, faz com que seja<br />

extremamente importante tornar mais eficiente a utilização<br />

da energia.<br />

Também controla a iluminação dos vários andares do parque<br />

de estacionamento, do centro climatização e da torre de<br />

controlo de tráfego aéreo.<br />

Por exemplo, um sistema de controlo da iluminação pode ser<br />

simplesmente configurado para acender as luzes somente<br />

quando alguém está presente na sala, mas também pode<br />

monitorar níveis luminosidade e regular a iluminação<br />

(escurecer ou clarear) em função da luz natural. Este é um<br />

exemplo muito simples de eficiência energética.<br />

O controlo eficaz da iluminação pode resultar em economias<br />

de energia muito significativas. Se o sistema for integrado<br />

com o controlo de estores e persianas, climatização e<br />

monitorização, poderá proporcionar enormes poupanças. A<br />

beleza do KNX é a capacidade de possibilitar a inclusão de<br />

mais soluções de poupança de energia, sem condicionar o<br />

normal funcionamento do edifício. Mais, sendo o KNX uma<br />

tecnologia distribuída, a avaria ou falha de um elemento não<br />

compromete o funcionamentodos restantes.<br />

3. Alguns Exemplos de Utilização do KNX<br />

Figura 1 - Inglaterra, Heathrow Airport, Terminal 5<br />

Embora não tenha sido desenvolvido para comunicar<br />

directamente com o Sistema de Gestão Técnica (SGT), sendo<br />

a plataforma KNX é uma tecnologia aberta, foi possível<br />

integrar o sistema KNX no SGT.<br />

Hoje em dia, o KNX é uma tecnologia adoptada em todo<br />

mundo, desde da China aos Estados Unidos, bem como da<br />

Austráliaao Médio Oriente.<br />

Seguidamente apresentam-se alguns exemplos que<br />

representam alguns dos projectos mundiais realizados com<br />

KNX.<br />

Esta solução permite à manutenção acompanhar a evolução<br />

dos sistemas de iluminação em todo o terminal e<br />

rapidamente identificar eventuais falhas através do Sistema<br />

Central de Gestão Técnica, incluindo a sua localização<br />

precisa. Desta forma, garante-se que todas as áreas do<br />

terminal estão constantemente bem iluminada, facilitando<br />

ainda a sua manutenção.<br />

275


ARTIGO TÉCNICO<br />

O sistema de iluminação reage de acordo com as condições<br />

climáticas, regulando automaticamente a iluminação<br />

artificial em função da iluminação natural exterior.<br />

Ao todo, foram instalados mais de 400 actuadores KNX para<br />

o controlo da iluminação. Em algumas áreas, existem botões<br />

de pressão que fornecem um controlo manual do sistema de<br />

iluminação, sobrepondo-se ao sistema automático de<br />

controlo. Ao anoitecer e ao amanhecer, quando o aeroporto<br />

é menos movimentado, o sistema de iluminação reduzirá<br />

automaticamenteiluminação níveis.<br />

- China, Estádio Olímpico de Pequim<br />

- Pequim, Terminal 3 do Aeroporto<br />

Mais de 11.000 dispositivos KNX entraram na construção do<br />

Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim, para o<br />

controlo da iluminação, climatização e transmissão de<br />

mensagensde erro.<br />

O Terminal 3 do Aeroporto de Pequim, que possui uma área<br />

de 986.000 m² e é o maior edifício num aeroporto no<br />

mundo, foi inaugurado em Fevereiro 2008. Actualmente, os<br />

dois mais importantes aeroportos da China - Xangai e<br />

Pequim - estão equipados com a tecnologiaKNX.<br />

As principais arenas utilizadas nos Jogos Olímpicos de<br />

Pequim estão automatizadascom a tecnologia KNX.<br />

Figura 3- Terminal 3 do Aeroporto de Pequim<br />

- Turquia, Hotel Kempinski, “The Dome”<br />

Figura 2- China, Estádio Olímpico de Pequim<br />

No espectacular "Ninho de Pássaros", o todo sistema de<br />

iluminação é controlado por KNX, incluindo a deslumbrante<br />

iluminação exibida durante a abertura e encerramento da<br />

29.ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão.<br />

O novo e luxuoso Hotel Kempinski, “The Dome”, na<br />

paradisíaca praia de Antalya na Turquia, apresenta-se como<br />

um sonho das 1001 Noites. A arquitectura de um complexo<br />

edifíciomoderno faz lembrar o estilo Seljukian.<br />

A mesma tecnologia foi instalada no maior centro Aquático<br />

do mundo, no qual os organizadores dos Jogos investiram<br />

100 milhões de euros.<br />

Este edifício, utiliza a tecnologia KNX, por exemplo, para<br />

tempo de controlo e regulação do consumo de energia,<br />

assim como para os efeitos de iluminação na fachada do<br />

edifício.<br />

Figura 4- Turquia, Hotel Kempinski - The Dome, Antalya<br />

276


ARTIGO TÉCNICO<br />

O complexo hoteleiro com 157 quartos, 16 moradias, seis<br />

restaurantes e três bares está localizado sobre uma área de<br />

aproximadamente1.250.000m².<br />

Os quartos foram concebidos com base nas cores<br />

Mediterrâneas e estão equipados com o mais recente<br />

tecnologia. Não existem os típicos sinais "Por favor, não<br />

perturbar" em qualquer lugar do Kempinski. Esta<br />

informação, é por sua vez exibida na porta por um display<br />

LED, que pode ser convenientemente controlado pelo<br />

hóspede junto à cama.<br />

- Áustria, Cidade de Salzburgo<br />

A cidade de Salzburgo cobre uma área de 65,65km² e tem<br />

150.269habitantes (conforme dados de 2007).<br />

O sistema de iluminação pública da Cidade de Salzburgo<br />

inclui 19.000 luminárias com um total de 2,9 MW de<br />

potênciae uma rede de 600km de comprimento.<br />

Os custos da energia por hora de funcionamento (0,11€ por<br />

kW/h) são 319 euros.<br />

Quartos com Pensamento - Conforto Funções<br />

Uma tecnologia avançada e normalizada, sem um<br />

compromisso de um único fabricante e que proporciona-se<br />

conforto elevado ao utilizador e eficiência energética, foram<br />

as razões que levaram os investidores e operadores do<br />

Kempinski Hotels a optar pela tecnologia KNX. Durante o<br />

check-in dos hóspedes, a recepção poderá activar as<br />

seguintes funções do quarto seleccionado: A climatização<br />

definida para modo de conforto, luzes de boas-vindas e TV<br />

ligada. Todas as outras funções estarão operacionais mal o<br />

hóspede introduza o cartão no leitor do seu quarto.<br />

Ajuda Rápida em Caso de Emergência<br />

Todas as casas de banho estão equipadas com um sistema de<br />

chamada de emergência. Isso garante que a recepção será<br />

alertada através do sistema KNX com um alarme sonoro e a<br />

exibição do número do quarto no caso de uma emergência.<br />

O novo sistema KNX liga as luzes quando a luminosidade<br />

baixa os 180 lux e desliga a 40 lux na parte de manhã.<br />

Comutações devido ao mau tempo (tempestades, neve,<br />

nuvens) são ultrapassadasatravés do modo de longo tempo.<br />

Os algoritmos do KNX verificam o desenvolvimento da luz<br />

natural em Salzburgo e só permitem que as luzes se liguem<br />

após um alargado período de escuridão, poupando assim<br />

uma grande quantidade de energia. A alta estabilidade do<br />

sistema KNX garante a segurança do sistema.<br />

O sistema está construído em redundância. Existem dois<br />

sistemas idênticos a correr em paralelo, segundo o qual o<br />

sistema o primeiro sistema é executado como sistema<br />

primário. Se este sistema entra em modo de erro, o segundo<br />

sistema assume o controlo. Cada sistema auto verifica-se<br />

através da transmissão cíclica de mensagens de todos os KNX<br />

componentespara detectar avarias.<br />

Figura 5 – Áustria, Central Publica de Iluminação de Salzburg<br />

277


ARTIGO TÉCNICO<br />

Os algoritmos de controlo foram implementados módulos de<br />

funções KNX. Dois sensores luz estão localizados numa caixa<br />

metrológica aquecida e com a temperatura controlada. O<br />

circuito de equipamentos sensíveis à luz envia à noite um<br />

pré-aviso de 4 quatro minutos para a companhia eléctrica.<br />

Este pré-aviso é necessário para que o arranque e<br />

sincronização de um gerador de 4 MW. Todas as comutações<br />

seguintes serão desfasadas em 10 minutos para evitar picos<br />

de arranque e prevenir religações de iluminação.<br />

Cada sistema permite um controlo manual, que se sobrepõe<br />

ao modo normal, durante a manutenção ou em<br />

circunstânciasespeciais.<br />

O navio tem mais de 100 cabines em diferentes categorias e<br />

tem capacidadepara mais de 200 passageiros.<br />

Para além do elevado conforto, um grande navio de cruzeiro<br />

deve satisfazer todas as exigências no que diz respeito à<br />

segurança. A comutação da iluminação nos quartos, salões e<br />

corredores para a energia de emergência tem de ser<br />

efectuado num tempo muito curto. A tripulação do navio<br />

deve ter o controlo sobre esta funcionalidade em qualquer<br />

momento. Sendo a tecnologia KNX um sistema<br />

descentralizado,é o ideal para este tipo de aplicação.<br />

4. Conclusões<br />

Benefícios do Sistema KNX<br />

• Comutação automática do sistema de iluminação<br />

pública, poupando energia e aumentando os intervalos<br />

de manutenção para a mudança luzes.<br />

• A automatização foi implementada com o KNX, porque<br />

um sistemas industriais equivalente SPS teria um custo<br />

muito superior. Os investimentos para componentes e<br />

engenhariaforam de apenas 10.250€.<br />

- França, Cruzeiro MS Belle de l’Adriatique<br />

Em edifícios utilizadospara fins comerciais, a flexibilidadee a<br />

eficiênciade custos desempenham um papel importante.<br />

Neste enquadramento, o KNX apresenta-se como solução<br />

em virtude da sua flexibilidade e integração.<br />

Factores como, flexibilidade, economia, segurança e<br />

confortosão alguns dos argumentos de KNX.<br />

Funcionalidades tais como, gestão automática da iluminação,<br />

climatização, monitorização entre outras são soluções de<br />

integrantesdo KNX.<br />

O MS Belle de l'Adriatique percorre o Mar Mediterrâneo<br />

desde da Costa da Croácia até às Ilhas Canárias.<br />

Figura 6- França, Cruzeiro MS Belle de l’Adriatique<br />

278


ARTIGO TÉCNICO<br />

Sónia Viegas<br />

Astratec, Lighting Consultant<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº4, Outubro de 2009<br />

Sistema de Gestão de Iluminação<br />

LUTRON<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

2. ILUMINAÇÃO<br />

Os custos da construção dos edifícios e posteriormente a sua<br />

manutenção,são cada vez mais elevados.<br />

A dimensão e a densidade de ocupação, que hoje<br />

caracterizam os edifícios, os objectivos de flexibilidade de<br />

utilização e contenção de custos de funcionamento, são cada<br />

vez mais uma necessidade, tornando indispensável a<br />

racionalização do projecto e a optimização da exploração dos<br />

edifícios.<br />

Quer sejam através de imposições legais, como os recentes<br />

diplomas relativos ao Sistema de Certificação Energética<br />

(SCE), Regulamento das Características de Comportamento<br />

Térmico dos Edifícios (RCCTE) e Regulamento dos Sistemas<br />

Energéticos de Climatização em Edifícios (RSECE), quer<br />

surjam das próprias necessidades de evolução da actual<br />

sociedade, assistimos a uma exigência cada vez maior dos<br />

requisitos de conforto, de segurança e flexibilidade. Esta<br />

preocupação não se pode esgotar no correcto e eficaz<br />

projecto dos sistemas implementados, mas é importante não<br />

descurar a sua performance ao longo do seu tempo de vida<br />

útil dos Sistemas.<br />

A automatização e integração de sistemas nos edifícios é um<br />

tema actual e que se vem tornando obrigatório dadas as<br />

necessidades actuais de cumprir os requisitos energéticos,<br />

de segurança, de conforto, de sustentabilidade e<br />

adaptabilidade em todas as fazes da vida de uma edificação:<br />

projecto, construção e utilização, englobando a sua<br />

manutenção e remodelações. De acordo com estas<br />

necessidades as características tecnológicas evoluíram desde<br />

os tempos em que não existia nenhuma automatização nos<br />

edifícios, passando pelos sistemas centralizados em que,<br />

num único ponto, era possível saber o estado dos<br />

equipamentos do edifício e exercer controlo sobre eles, mas<br />

sem integração dos vários sistemas, até aos sistemas de<br />

gestãointegrados com arquitecturasdistribuídas.<br />

Para os que possuem o sentido da visão, a iluminação é um<br />

bem essencial, esta pode ser natural ou artificial, sendo<br />

sempre benéfico privilegiar a iluminação natural, a<br />

iluminação artificial tem sofrido evoluções tecnológicas com<br />

o passar dos anos, com origem na descoberta do fogo e<br />

desenvolvimento da energia eléctrica, sendo que a<br />

iluminação foi o primeiro serviço disponibilizado pelas<br />

empresas produtoras de electricidade.<br />

A iluminação pode ser definida como o efeito visual obtido<br />

no cérebro dos observadores, resultante da luz ali existente,<br />

ou seja é o nível energético existente nesse local, que é o<br />

resultado da soma de todas as radiações electromagnéticas<br />

que lá existem e cujas frequências são visíveis pelos seres<br />

humanos.<br />

Para se fazer bom uso da iluminação, esta deve estar no local<br />

correcto, no tempo preciso, na intensidade e quantidade<br />

certa e com a cor e qualidade ideal, oferecendo condições de<br />

salubridade,conforto, segurança e eficiência energética.<br />

O melhor ou pior desempenho energético de um Sistema de<br />

iluminação depende essencialmentedos seguintesfactores:<br />

• Eficiência dos diferentes componentes do sistema:<br />

lâmpadas, balastros e armaduras;<br />

• A utilização dada à instalação, sendo muito importante<br />

adequar o tipo de controlo utilizado e a luz natural<br />

disponível;<br />

• A manutenção efectuada nas instalações.<br />

Um dos grandes avanços tecnológicos baseados em<br />

microprocessadores, foi criar a possibilidade de se efectuar<br />

um “controlo inteligente” da iluminação, proporcionando<br />

uma maior flexibilidade e oferecendo uma melhor gestão da<br />

iluminação. Através deste controlo é possível criar um<br />

ambiente esteticamente agradável e, ao mesmo tempo,<br />

poupar energia.<br />

279


ARTIGO TÉCNICO<br />

Os factores que têm influência neste controlo podem ser o<br />

tipo de ocupação, as funções desenvolvidas no espaço, a<br />

hora do dia e os níveis de iluminação exterior. Sendo um<br />

sistema de controlo dotado de “inteligência”, este tem a<br />

capacidade de memorização dos níveis de iluminação para<br />

efectuar ajustes automáticos, ou seja, a programação dos<br />

cenáriosde iluminação.<br />

O controlo de iluminação pode ser realizado com uma<br />

arquitectura independente ou em rede centralizada ou<br />

distribuída, sendo que uma arquitectura em rede tem mais<br />

vantagens, inclusive a da integração com os restantes<br />

sistemas de gestão e controlo existentes no edifício e<br />

flexibilidadeda instalação.<br />

Os reguladores de iluminação permitem o chamado<br />

“arranque suave” que por exemplo para as lâmpadas<br />

incandescentes lhe pode prolongar o tempo de vida útil que<br />

tendem a apresentar falhas de funcionamento quando são<br />

ligadas e o filamento sofre um choque térmico, podendo<br />

também oferecer protecção contra picos de corrente.<br />

Regular a iluminação também origina poupanças indirectas,<br />

com a redução da carga térmica da iluminação e<br />

consequente economia energética relacionada com os<br />

sistemasAVAC.<br />

3. O SISTEMA DE GESTÃO DE ILUMINAÇÃO - LUTRON<br />

O Sistema de Controlo de Iluminação da LUTRON, que tem<br />

sido um dos pioneiros na regulação de iluminação, desde a<br />

década de 60, após Joel Spira ter inventado o seu primeiro<br />

regulador em 1959.<br />

Algumas característicasdo Sistema LUTRON:<br />

• Poupança de energia com a regulação da potência de<br />

fluxo;<br />

• Capacidade para regular os vários tipos de iluminação,<br />

assim como:<br />

1. Incandescência e Halogéneo (230V, transformador<br />

magnético, transformador electrónico de fase<br />

directa, transformador electrónico de fase inversa –<br />

ELVI)<br />

2. Fluorescência - Balastro electrónico regulável<br />

(analógico1-10v, DSI ou DALI)<br />

3. Néon (transformadormagnético) e LED´s<br />

• Programaçãode vários cenários de iluminação;<br />

• Transição gradual entre os vários cenários de iluminação,<br />

proporcionando maior conforto e também valorizando<br />

os aspectosdecorativos;<br />

• Possibilidade de utilização de comando à distância por<br />

meio de infravermelhos;<br />

280


ARTIGO TÉCNICO<br />

• Possibilidade de integração com outros sistemas (ex.<br />

Comandos de cortinas);<br />

• Possibilidade de gravação de cenários para posterior<br />

simulação de presença, sendo que esta função poderá<br />

estar interligada com os sistemas de segurança;<br />

• Possibilidade de regulação automática da iluminação<br />

através de relógio astronómico, detectores de presença<br />

e sensores de iluminação;<br />

• Filtro RTISS, RTISS-TE e SOFTSWITCH para estabilidade da<br />

iluminação<br />

A LUTRON efectua a regulação da iluminação através de<br />

TRIAC's, um TRIAC é um interruptor de estado sólido que<br />

abre e fecha 120 vezes/segundo.<br />

A regulação é efectuada controlando a proporção do tempo<br />

da luz ligada versus desligada, quanto mais tempo o TRIAC<br />

está aberto mais brilhante é a luz visível, pelo contrário,<br />

quanto mais tempo o TRIAC está fechado, mais ténue está a<br />

luz, ver figura 1.<br />

Quando as luzes estão desligadas, não há consumo de<br />

energia, logo a utilização de TRIAC's para regulação do fluxo<br />

luminoso irá gerar poupanças energéticas, relativamente ao<br />

tempo de vida útil da lâmpada, este não é afectado pelo<br />

número de vezes que esta liga e desliga, mas sim pela<br />

temperatura que atinge, reduzir a temperatura aumenta o<br />

tempo de vida útil da lâmpada, tabela 1.<br />

Tabela 1 − Relação de poupança com uma lâmpada incandescente<br />

(extraído de LUTRON)<br />

% de Luz Poupança<br />

Energética<br />

Vida Útil da<br />

Lâmpada<br />

90% 10% 2 vezes mais<br />

75% 20% 4 vezes mais<br />

50% 40% 20 vezes mais<br />

25% 60% > 20 vezes mais<br />

Figura 1 – Relação da iluminação com a posição do triac (extraído de LUTRON)<br />

281


ARTIGO TÉCNICO<br />

Utilizando este sistema de regulação e apesar de se ligarem<br />

e desligarem as luzes, este processo acontece de uma forma<br />

tão rápida que não é perceptível para o olho humano, por<br />

outro lado a nossa percepção da luz é superior ao real, ver<br />

figura 2.<br />

A escolha do método de controlo da luz eléctrica (lâmpadas)<br />

tem um papel importante para a regulação eficaz da<br />

iluminação.<br />

Se se utilizar um controlo do tipo on/off, este não será o<br />

método mais eficaz, por outro lado um controlo<br />

proporcional permite saídas de sinal adaptativas ao longo do<br />

tempo (dia), normalmente este é o método mais indicado<br />

para o controlo e regulação da iluminação, sendo assumido<br />

que a principal fonte de iluminação é a da luz solar, nos<br />

casos que a fonte de luz é uma mistura de luz solar com luz<br />

eléctrica/artificial - loop de controlo proporcional fechado,<br />

existem métodos que permitem filtrar e eliminar totalmente<br />

o contributo da luz eléctrica – loop de controlo proporcional<br />

aberto. Assim, o posicionamento, a direcção e da área de<br />

vista do sensor de iluminação, são factores relevantes para a<br />

escolhado método de controlo.<br />

Figura 2 – Relação entre luz perceptível e real<br />

(extraído de LUTRON)<br />

Para controlo da iluminação natural são utilizados sensores<br />

de luz (iluminação), que avaliam continuamente a luz do dia<br />

disponível, para garantir o nível de luz dentro um intervalo<br />

pré-determinado. De modo geral, os sensores de iluminação<br />

respondem à luz que é incidente na superfície do sensor,<br />

além da luz directa do sol, que na maioria dos casos não se<br />

quer que seja reflectida nas superfícies, a outra fonte de luz<br />

natural é proveniente da reflexão (e relativamente difusa) da<br />

luz solar no céu e nas nuvens.<br />

Para um controlo eficiente da luz natural dentro dos<br />

edifícios, é necessário orientar o sensor de iluminação (luz)<br />

de forma a que consiga medir a luz solar reflectida na<br />

proporção exacta em que varia nas superfícies que se<br />

pretendem controlar. O local ideal será aquele em que o<br />

sensor consegue medir o máximo de iluminação solar, mas<br />

não é influenciado por outras fontes exteriores de brilho<br />

(luz).<br />

A Lutron usa o método de controlo proporcional, o que pode<br />

ser configuradocomo em loop aberto ou fechado.<br />

Quando se controla no mesmo sistema a regulação de<br />

cortinas/persianas e de luz eléctrica (lâmpadas), as cortinas<br />

/persianas têm uma saída de controlo on/off, enquanto que<br />

a iluminação eléctrica é regulada em loop de controlo<br />

proporcional, sendo que não é fornecida ordem de<br />

abertura/fecho das cortinas/persianas enquanto os valores<br />

do sensor de iluminação se encontrarem no intervalo prédefinido<br />

(banda morta do sistema), se o sinal do sensor de<br />

iluminação ultrapassar este intervalo, então as<br />

cortinas/persianas são actuadas para obter o valor central do<br />

intervalo, para garantir que não são dadas ordens constantes<br />

de actuação aos motores (vistos que esta acção seria muito<br />

desagradável para os utilizadores do espaço e desgastante<br />

para os motores).<br />

O sensor de iluminação converte a quantidade de luz<br />

detectada num sinal de corrente contínua que pode variar,<br />

por exemplo, entre 0 e 3 mA ao longo do dia, sendo que o<br />

sinal de saída do controlador proporcional que determina os<br />

níveis de regulação das lâmpadas é proporcional a este sinal,<br />

282


ARTIGO TÉCNICO<br />

quanto mais elevado o sinal do sensor, mais baixo o nível de<br />

iluminação eléctrica. No controlo on/off são definidos três<br />

níveis que correspondem à luz incidente no sensor, que<br />

podem ser definidos como “valor desejado”, “elevado” e<br />

“fraco”, o intervalo de valores entre estes níveis deve ser<br />

grande o suficiente para fornecer a histerese do sistema<br />

(diferença máxima obtida entre as leituras de um ciclo de<br />

calibração, expressa em percentagem do alcance), quando<br />

um determinado limiar é ultrapassado, o sistema de controlo<br />

actua de forma a obter de novo valores aceitáveis.<br />

A relação entre a iluminação fornecida pelos candeeiros de<br />

tecto e pelos candeeiros de pé ou secretária, nem sempre é<br />

muito boa, mas melhora à medida que nos afastamos das<br />

janelas, então deve escolher-se como localização<br />

preferencial para o sensor de iluminação uma distância de<br />

cerca de “duas janelas” para o interior da sala. Quando se<br />

controla simultaneamente as luzes e as cortinas, o sensor<br />

deve estar localizado mais próximo da janela para receber a<br />

influência directa da janela a ser controlada, devendo então<br />

localizar-seo sensor à distância de cerca de “uma janela”.<br />

Antes de dar por terminada a instalação do sistema de<br />

controlo de iluminação, este deve ser calibrado, é necessário<br />

dizer ao sistema qual o nível de iluminação desejado e<br />

definir o nível a contribuição da iluminação artificial<br />

requerida para um dia típico de iluminação natural, os<br />

valores medidos durante a noite ou com as<br />

cortinas/persianas fechadas (se forem do tipo blackout<br />

total), que definimos a contribuição da iluminação artificial<br />

sem influência de qualquer iluminação natural, com toda a<br />

iluminação ligada, os valores medidos pelo sensor são<br />

registados, esta informação pode então ser utilizada durante<br />

o dia para subtrair a contribuição da iluminação artificial<br />

medida continuamente pelo sensor, tornando o sistema<br />

dotado de um controlo proporcional em loop aberto.<br />

Os sensores de iluminação da LUTRON têm as seguintes<br />

características:<br />

• Uma resposta espectral que está perto de resposta do<br />

olho humano;<br />

• Utilizam correcção de co-seno espacial, o que representa<br />

correctamente as fontes de luz em vários ângulos de<br />

incidência;<br />

• Ângulo de visão vertical de 60 graus e 180 graus na<br />

horizontal fornecem um amplo ângulo de visão<br />

adequadapara sistemas de controlo proporcional;<br />

• A visão é orientada para o lado, proporcionando direcção<br />

ao sensor e tornando-o facilmente adaptável a uma<br />

variedade de locais de montagem;<br />

• Grande alcance dinâmico (0 a 20000 Lx) e resposta linear<br />

dentro deste intervalo.<br />

Com sistemas de controlo centralizado de iluminação é<br />

possível efectuar comutação, regulação e gestão de energia<br />

e controle de sombra de forma centralizada ou localizada,<br />

gerir todo o sistema, incluindo a gestão da manutenção de<br />

agendamento, sistema de diagnóstico e relatórios do estado<br />

da instalação, bem como a integração com o SGIT de outros<br />

fabricantes pode ser realizada através de BACnet, Lonworks,<br />

RS232, ou CCI/CCO (entradase saídas de contactos).<br />

A hora do nascer e do pôr-do-sol mudar todos os dias, o<br />

relógio astronómico integrado no sistema permite<br />

programar eventos para o amanhecer e/ou anoitecer,<br />

enquanto que um programador horário normal apenas<br />

permite criação de eventos a horas fixas.<br />

As possibilidades de programação deste sistema têm as<br />

seguintescaracterísticas:<br />

• Programação de sequências: sequências de iluminação<br />

automáticas disponíveis para cada espaço, as sequências<br />

podem ter vários passos e cada passo pode ter uma<br />

temporização programada de 0,2 segundos a 90 minutos<br />

com incremento de 0,1 segundos;<br />

• Partições: Controlo adaptativo da iluminação em espaços<br />

configuráveis;<br />

• Compensação da iluminação exterior: Selecção<br />

automática de cenas pré-programadas com regulação da<br />

iluminação artificial (lâmpadas) e natural<br />

(cortinas/persianas).<br />

283


António Manuel Luzano de Quadros Flores<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº5, Junho de 2010<br />

ARTIGO TÉCNICO<br />

A CRIAÇÃO DE VALOR NO BINÓMIO<br />

“CASA INTELIGENTE” / CONSUMIDOR<br />

RESUMO<br />

Este trabalho tem como objectivo entender a criação de valor<br />

no binómio casa inteligente/consumidor, esperando assim<br />

contribuir para um novo equilíbrio procura/oferta tendente a<br />

que uma casa inteligente fique acessível a mais lares<br />

portugueses.<br />

O método utilizado baseou-se na pesquisa do mercado<br />

português de sistemas de domótica e posteriormente no<br />

estudo das motivações do consumidor recorrendo ao método<br />

quantitativo de análisede inquéritos.<br />

Do cruzamento do conhecimento dos sistemas<br />

disponibilizados para casas inteligentes e das motivações dos<br />

consumidores poderá resultar uma melhor aproximação à<br />

soluçãoque conduz à satisfaçãodo consumidor.<br />

Neste estudo concluiu-se que, actualmente, em Portugal,<br />

estão disponíveis sistemas domóticos capazes de satisfazer<br />

as necessidades e motivações dos diferentes consumidores.<br />

Assim, os sistemas baseados no protocolo EIB com excelentes<br />

características enquadram-se no segmento mais exigente e<br />

com maior investimento.<br />

O protocolo X10 oferecendo uma elevada flexibilidade a<br />

baixo custo, disponibilizando pequenos kits de inicialização<br />

acessíveis e facilitando a sua instalação, dado utilizarem a<br />

rede eléctrica para comunicação e interligação, parece dar<br />

resposta ao segmento de mercado de menor investimento<br />

nesta área.<br />

O segmento intermédio encontra uma resposta diversificada<br />

nas soluções oferecidas baseados em sistemas proprietários<br />

desenhados para responder às exigências mais comuns dos<br />

consumidores.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A casa, a nossa habitação, é um pouco de nós, pois nela<br />

passamosgrande parte da nossa vida.<br />

Por isso, ela é algo de muito delicado e reflecte um pouco da<br />

nossa personalidade.<br />

Tentamos permanentemente ajustá-la à nossa maneira de<br />

estar, de modo a ser cada vez mais confortável, mais segura<br />

e mais agradável.<br />

Tornamo-la mais inteligente, preparando-a para assumir<br />

novas funcionalidades: “how far you go with your smart<br />

home depends on your lifestyle, budget and tastes” [01].<br />

Esses são os limites actuais: “lifestyle, budget and tastes”! A<br />

tecnologiadeixou de ser o limite! Agora o limite está em nós.<br />

Tecnicamente, os sistemas evoluíram e proliferaram. Hoje<br />

em dia, a oferta é diversa e o consumidor, que<br />

anteriormente tinha que aceitar o que o mercado lhe<br />

disponibilizava, agora tem de fazer opções e seleccionar uma<br />

solução com a qual terá de conviver. A lógica do mercado<br />

inverteu-se nos últimos anos: anteriormente a oferta era<br />

escassa e por isso produzia-se para stock, agora a lógica de<br />

mercado passou a ser comandada pela procura.<br />

Estudar os diferentes sistemas de domótica para casas<br />

inteligentes é pensar num cliente exigente, criativo e que<br />

procura na tecnologia a concretização dos seus sonhos: uma<br />

casa segura, confortável e atractiva. Neste contexto, para<br />

que os clientes de casas inteligentes sintam a satisfação que<br />

as tecnologias lhes podem oferecer, sondamos os seus<br />

interesses e motivações e decidimos cruzá-los com a oferta<br />

de sistemas domóticos existentes em Portugal.<br />

2 O CONCEITO DE CASA INTELIGENTE<br />

Diversas empresas promovem, em termos de marketing, o<br />

nome de "casa inteligente", quando apenas utilizam alguns<br />

automatismos isolados, sem qualquer possibilidade de<br />

integraçãoou expansão.<br />

O resultado provoca a desconfiança e saturação entre os<br />

clientes particulares ou profissionais, ainda à procura de<br />

elementos de referência numa tecnologia que ainda não<br />

conhecem. [08]<br />

Quando se aborda o tema das casas inteligentes tem-se<br />

normalmente o cuidado de definir previamente esse<br />

conceito.<br />

284


ARTIGO TÉCNICO<br />

Dado a designação de “casa inteligente” ter um termo<br />

controverso, resultam normalmente definições, no mínimo,<br />

curiosas.<br />

Senão, vejamos:<br />

- Franco [03] afirma que “uma casa inteligente deve ser<br />

como um mordomo invisível, capaz de observar, tomar<br />

decisõese actuar sobre o meio envolvente”.<br />

- Segundo Roseta [12] “talvez a melhor casa do futuro seja<br />

aquela que for capaz de transmitir uma lição de<br />

harmonia entre memória e sonho, que a faça resistir à<br />

prova do tempo que passa. Mas há também que abrir as<br />

portas à imaginação criadora e construtora do homem,<br />

capaz de fazer do seu habitat um mundo maravilhoso e<br />

mágico, onde ao alcance de um botão podem estar as<br />

mais diversas possibilidades de realizar as suas<br />

aspirações”.<br />

- Soares [14] considera que “a “Casa do Futuro” deve ser o<br />

espaço por excelência da vida moderna, onde a família<br />

no seu todo, e cada membro do agregado familiar em<br />

particular (crianças, jovens, adultos e idosos), encontra<br />

as diversas instalações especiais úteis e necessárias ao<br />

seu “contacto com o mundo”. A “Casa do Futuro” deve<br />

também estar preparada para permitir o acesso fácil a<br />

todos os cidadãos, incluindo os deficientes”.<br />

- No “Logar Digital Conectado los PCs y otros equipos<br />

electrónicos de consumo trabajan de forma conjunta<br />

para ofrecer contenido digital en todos los lugares de la<br />

casa. La gestión de este contenido se realiza de forma<br />

fácil y cómoda, con los distintos dispositivos en red y<br />

desde cualquier lugar de la casa”. [06]<br />

Em termos de conclusão, Oliveira [11] acrescenta que se<br />

perspectiva que “a «Casa do Futuro» vai reinventar a função<br />

do habitáculo doméstico e as sociabilidades individuais ou<br />

colectivasà sua volta”!<br />

a) TIPOS DE CASAS INTELIGENTES<br />

De facto, há problemas com a conceptualização da “casa<br />

inteligente”! Parece haver pouca concordância sobre como<br />

uma casa inteligente deve ser e sobre que tecnologias ela<br />

deve incorporar.<br />

Um ponto de partida poderá ser a sistematização de Gann<br />

(1999) referida por Harper [04] que consiste na distinção<br />

entre casas que simplesmente contêm aparelhos<br />

inteligentes e aquelas que permitem computação interactiva<br />

dentro e para fora da casa.<br />

Assim mantendo a atenção na funcionalidade disponível<br />

para o utilizador podemos identificar cinco tipos de casa<br />

inteligentes:<br />

- Contains intelligent objects: Contém dispositivos e<br />

electrodomésticos que funcionam de um modo<br />

inteligente.<br />

- Contains intelligent, communicating objects: Contém<br />

dispositivos inteligentes que comunicam entre si,<br />

trocando informação e aumentando assim a sua<br />

funcionalidade.<br />

- Connected home: A casa tem uma rede interna<br />

interligada com a rede externa, permitindo o controle<br />

interactivo dos sistemas, e o acesso aos serviços e à<br />

informação, quer de dentro, quer do exterior.<br />

- Learning home: Os padrões de utilização são gravados e<br />

os dados acumulados são usados para antecipar as<br />

necessidades dos utilizadores. Por exemplo, a casa que<br />

aprende padrões da utilização do aquecimento e da<br />

iluminação (“theadaptativehome”).<br />

- Alert home: As actividades das pessoas e dos objectos<br />

são constantemente monitoradas alertando e<br />

antecipandoas acções a tomar (“the aware home”).<br />

b) AS FUNÇÕES DA CASA INTELIGENTE<br />

Actualmente as habitações podem estar equipadas com<br />

sistemas que associam diversas funcionalidades nas áreas de<br />

segurança, conforto, gestão de energia e comunicações.<br />

Funcionalidades principais: detecção de incêndio, intrusão,<br />

fuga de água ou gás, avisos, comandos e controlo remotos,<br />

“Anything, Anytime, Anywere”.<br />

As capacidades da domótica podem ser um auxiliar precioso<br />

para contornar as dificuldades temporárias ou permanentes,<br />

físicas ou mentais do ser humano. Além disso, estes sistemas<br />

permitem facilitar as tarefas a idosos que assim vêem<br />

minimizados algumas limitações a que estão expostos.<br />

285


ARTIGO TÉCNICO<br />

3 A OFERTA<br />

a) A OFERTA DE SISTEMAS PARA CASAS INTELIGENTES<br />

“Various industry groups and technology companies have<br />

tried (and mainly failed) to come up with next-generation<br />

protocolsto help automate a home”. (2003) [01]<br />

Existem vários estudos que referem protocolos que<br />

tecnicamente parecem ser interessantes, mas que na prática<br />

não são implementados, não estando assim disponíveis no<br />

mercado. Por exemplo um estudo científico [03] ressalta o<br />

particular interesse das redes tipo CEBus [02] que permitem<br />

o transporte de dados através de redes eléctricas<br />

convencionais podendo operar em redes wireless.<br />

Relativamente a esse protocolo Briere refere que nos anos<br />

90, “a bunch of companies grouped together with a standard<br />

called CEBus (or Consumer Electronics Bus), which was<br />

designed to be a replacement of X10 and other in-home<br />

communications protocols. There was a lot of fanfare, but at<br />

the end of the day, we never saw any products hit the<br />

market that used the CEBus Home Plug & Play standard”!<br />

[01] (2003)<br />

Do mesmo modo, a tecnologia DomoBus corresponde a um<br />

desenvolvimento académico, não existindo produtos<br />

comerciais disponíveis. [13] Este protocolo foi desenvolvido<br />

com o objectivo de servir de ferramenta didáctica e permitir<br />

o desenvolvimento e avaliação de novas funcionalidades<br />

sem restrições dos produtos comerciais [10]. Além disso,<br />

diversos protocolos de comunicação constam de<br />

publicações técnicas e científicas estando implementadas no<br />

mercado americano com sucesso (homologadas pelo<br />

American National Standards Institute - ANSI). Porém,<br />

devido a não serem conformes com os standards CE, não<br />

penetram no nosso mercado.<br />

b) A OFERTA EM PORTUGAL<br />

Para que, de facto, este estudo tenha alguma realidade<br />

prática relativamente ao mercado, no qual participamos<br />

como stakeholders, quer como técnicos, quer como<br />

consumidores, os sistemas analisados neste estudo foram<br />

apenas aqueles que têm tido uma representação mais<br />

notória nas feiras internacionais em Portugal. Analisaremos<br />

os protocolos X10 e EIB e os sistemas proprietários Vivimat,<br />

Domus, Simon, Hometronic e Cardio.<br />

1) Protocolo X10 : “This is something that's been around for<br />

a long time. It’s fought long and hard to earn some of its<br />

improvements in reliability, and has a definite place in<br />

your home. A real purist may object to some of the<br />

potential problems with it, but unless money is no object<br />

to you, you can’t beat the affordability and practical<br />

flexibility of X10”. [05] A tecnologia X10 usa a rede<br />

eléctrica como meio de comunicação entre os vários<br />

dispositivos. Este é um aspecto chave desta tecnologia e<br />

é a sua maior vantagem face a outras soluções, pois<br />

permite o seu uso em casas já existentes. Os dispositivos<br />

podem ser ligados directamente nas tomadas e serem<br />

usados para ligar ou desligar equipamentos, lâmpadas<br />

ou regular a sua intensidade luminosa. O grande sucesso<br />

deste sistema reside no seu baixo custo, flexibilidade e<br />

na sua facilidade de instalação. Dado que a patente<br />

deste protocolo já expirou há alguns anos, diversos<br />

fabricantes contribuíram para a existência no mercado<br />

de uma elevada variedade de dispositivos que<br />

contemplam as mais variadas funcionalidades Para evitar<br />

que os sinais actuem os dispositivos das habitações<br />

vizinhas existem filtros que bloqueiam a passagem<br />

destes para fora da sua rede de energia. Quando é<br />

necessário vencer distâncias consideráveis estão<br />

também disponíveis módulos que repetem e amplificam<br />

os sinais. O X-10 é de momento a tecnologia mais<br />

acessível para a realização de uma instalação domótica<br />

não muito complexa.<br />

2) Protocolo EIB: Este protocolo, tal como o X10, baseia-se<br />

numa arquitectura descentralisada sendo considerado<br />

de elevada fiabilidade. Possibilita a execução de<br />

qualquer projecto graças à enorme diversidade de<br />

equipamentos que os seus associados disponibilizam.<br />

Pode usar diferentes meios de comunicação: bus de 2<br />

condutores,rede eléctrica ou rádio frequência.<br />

286


ARTIGO TÉCNICO<br />

Este sistema permite que um único par entrançado seja<br />

usado para alimentar um dispositivo e para comunicar<br />

com ele. Este protocolo conduz normalmente a soluções<br />

de investimento relativamente elevado.<br />

3) Sistema proprietário Vivimat: O sistema domótico<br />

VIVIMAT, é um sistema centralizado que pode ser<br />

ampliado com a introdução de módulos adicionais<br />

interligados por um bus de comunicação. Ajusta-se às<br />

necessidades de todo o tipo de casas de nova<br />

construção. Permite o controlo e manutenção local e<br />

remota através de teclado, computador, painel de<br />

visualização,telefone, WAP e Internet.<br />

4) Sistema proprietário Domus/Inteligente: Este sistema<br />

baseia-se num ecrã táctil que incorpora o processamento<br />

da informação. A este painel é ligado um cabo bifilar ao<br />

qual estão ligados em anel os “módulos de sensor”. Em<br />

cada divisão da casa é instalado um destes módulos que<br />

incorpora como entradas um receptor de<br />

infravermelhos, um sensor de movimento, um sensor se<br />

luminosidade e um sensor de temperatura e como saídas<br />

um emissor de infravermelhos, dois contactos secos para<br />

controlo de iluminação e um outro para controlo de<br />

aquecimento. As persianas são controladas por módulos<br />

centralizados num quadro próprio (com uma ligação bus<br />

ao painel táctil). Pode ser controlado por painel táctil,<br />

SMS e a visualização do estado do sistema pode ser feita<br />

na televisão. As suas limitações são a impossibilidade de<br />

regulaçãoda intensidade luminosa.<br />

5) Sistema proprietário Simon: O sistema SIMON VIS é um<br />

sistema semi-centralizado radial. Tem uma unidade<br />

central de processamento, “módulo de controlo” que<br />

interliga com os módulos de saída e entrada. Em cada<br />

piso de uma habitação cada interruptor liga ao módulo<br />

de entrada (situado num quadro parcial) através de um<br />

par de condutores. Do mesmo modo, cada lâmpada é<br />

alimentada a partir do módulo de saídas. Como o<br />

controlo é feito por software qualquer saída pode ser<br />

temporizada. O sistema inclui a possibilidade de cada<br />

botão de pressão poder ter duas funcionalidades<br />

distintas:uma com toque curto e outra com toque longo.<br />

O telecontrolo via teclado do telefone permite, quer<br />

actuar qualquer dispositivo, quer saber qual é o seu<br />

estado. O sistema pode ser acedido remotamente por<br />

computadorvia linha telefónica.<br />

6) Sistema proprietário Hometronic: O sistema Hometronic<br />

usa a radio-frequência para a comunicação entre a<br />

central e os vários sensores e actuadores espalhados<br />

pela casa. As suas acções podem ser activadas<br />

localmente, automaticamente através da central, por<br />

telefoneou por Internet.<br />

7) Sistema proprietário Cardio. O sistema CARDIO dispõe de<br />

uma sonda no ecrã táctil que permite o controle da<br />

temperatura da habitação e pode ser remotamente<br />

controlado por telefone. Além disso, permite controlar<br />

qualquer dispositivo X10, injectando sinais na rede<br />

eléctricaatravés da interfaceX10.<br />

De modo a evidenciar as potencialidades oferecidas por<br />

todos estes sistemas organizaram-se na tabela 1 as suas<br />

características, nas seguintes áreas: campo de aplicação do<br />

sistema domótico, expansibilidade, capacidade de<br />

interligação com outros sistemas, rapidez de resposta,<br />

facilidade e versatilidade de utilização, interfaces de controlo<br />

e custo global para uma vivenda modelo.<br />

4 A PROCURA<br />

a) COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR<br />

De acordo com a perspectiva da tomada de decisão, a<br />

adesão a um sistema inteligente para a sua habitação<br />

resulta, primeiramente, da percepção do consumidor de que<br />

existe uma necessidade, em seguida, da transição, por uma<br />

série de etapas, em direcção a um processo racional da<br />

satisfação dessa necessidade. Entre essas etapas estão o<br />

reconhecimento do problema, a busca, a avaliação de<br />

alternativas, a escolha e a avaliação pós-aquisição. A<br />

perspectiva experimental sobre o comportamento do<br />

consumidor sugere que, em alguns casos, os consumidores<br />

não fazem as suas compras de acordo com um processo de<br />

tomada de decisão estritamente racional.<br />

287


ARTIGO TÉCNICO<br />

Em vez disso, às vezes, as pessoas compram produtos e<br />

serviços apenas para se divertirem, para criarem fantasias ou<br />

obterem emoções e sentimentos.<br />

Deste modo, tornar a casa inteligente pode constituir, para o<br />

consumidor, um meio de este sentir prazer ao ter controlo<br />

sobre as variáveis da sua habitação, ou apenas satisfazer a<br />

sua necessidade de reconhecimento e valorização pela<br />

sociedade.<br />

Assim, as pessoas podem adquirir uma casa inteligente para<br />

expressar a terceiros certas ideias e significados a respeito<br />

de si mesmas [09].<br />

Mais do que nunca a nossa casa revelará os nossos valores, o<br />

nosso conceito de vida e a nossa relação com a família e com<br />

o mundo.<br />

No futuro poderemos afirmar: "Mostra-me a tua casa, dirte-ei<br />

quem és”. [08]<br />

Tabela 1 – Características dos sistemas domóticos analisados<br />

SISTEMA:<br />

X10 EIB VIVIMAT DOMUS-INT SIMON OMTRONIC CARDIO<br />

Localização<br />

Aplicação<br />

Construção<br />

Interligação<br />

Expansibilidade<br />

- - DINITEL JG SIMON HONEYWELL SECANT<br />

- - E P E G USA<br />

P P P P P P P<br />

S S S S S S S<br />

S S S S S S S<br />

N S N S S N N<br />

N N N S S N N<br />

S S S S S S S<br />

S N N N N S N<br />

N - N N N N N<br />

- N N N N S S<br />

256 12.000 48 IN + 56 OUT ILIMITADO 128IN+128OUT 100 200<br />

N N N ILIMITADO N S 160Lamp+40plug<br />

S N N DIFÍCIL DIFÍCIL S N<br />

Rapidez Tempo de resposta a 1 ordem 1 seg 0 0 0 0 0 0<br />

Utilização<br />

Controlo<br />

Orçamento global<br />

Telefone<br />

PC<br />

Módulo<br />

programável<br />

Fabricante:<br />

EIB<br />

X10<br />

Nr. Max de enderços<br />

Outras Limitações<br />

Expansibilidade futura<br />

Relógio despertad. com timers<br />

Telecomando<br />

Ecran<br />

Iluminação<br />

Origem<br />

Assistência<br />

Apartamentos<br />

Vivendas<br />

Edifícios<br />

Indústria<br />

Nova<br />

Existente<br />

Facilidade<br />

Versatilidade<br />

Eficácia<br />

Por voz<br />

ELEVADO MÉDIA EXCELENTE ELEVADA ELEVADA EXCELENTE S<br />

ELEVADO MÉDIA BAIXA ELEVADA MÉDIA EXCELENTE S<br />

ELEVADO ELEVADA ELEVADA ELEVADA MÉDIA EXCELENTE S<br />

S N N N N N N<br />

Voz S S S N N S N<br />

Teclas S N S S S N S<br />

SMS N N S S N N N<br />

WAP S N N S N N N<br />

Recebe imagens S N S N N N N<br />

Local S S S N S N S<br />

Lig. telefone S N S N N N S<br />

Internet S N S S N N S<br />

Macros S S S 7 /ROOM S S 50<br />

Nr. de timers ELEVADO S ILIMITADO 7 /ROOM 128 ILIMITADO ILIMITADO<br />

S ILIMITADO S N S S S<br />

Infravermelhos S S N S S N S<br />

Rádio-freq. S S N N N S N<br />

Botões S S S N N S N<br />

Táctil S S S S N N S<br />

A cores N S S N N N N<br />

Diagomal (mm) 130 120 120 135 N N 120<br />

Valor mínimo aprox. €<br />

Resolução MÉDIA ELEVADA MÉDIA MÉDIA N N MÉDIA<br />

WI-FI<br />

N N S S N N N<br />

Regulação S S S N S S S<br />

Valor max. aprox. €<br />

Preços (€) para vivenda média<br />

com 3 pisos<br />

Cenários S S S S S S S<br />

2.000 7.000 4.000 3.500 7.500 3.000 5.000<br />

5.000 20.000 7.000 70.000 15.000 6.000 15.000<br />

5.709 7.112 5.700 4.629 5948<br />

13.700 9.628 6.480<br />

288


ARTIGO TÉCNICO<br />

b) METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO<br />

Pretendendo conhecer a opinião dos consumidores<br />

relativamente às casas inteligentes, optamos por um estudo<br />

quantitativo, (questionário por inquérito), que nos permitiu<br />

obter um número significativo de respostas, que admitimos<br />

constituírem uma base aceitável para extrapolação de<br />

resultados,sendo os seus resultados apenas aproximados.<br />

O critério de selecção da população alvo baseou-se na<br />

escolhade profissionaisde classe média e alta.<br />

Assim o inquérito foi enviado via e-mail, para endereços<br />

colectivos, estimando-se que terão chegado a cerca de 4000<br />

pessoasde diversas partes do país.<br />

Foram recebidos 90 inquéritos no período de uma semana.<br />

Seguidamenteapresentam-seos resultadosdos inquéritos,<br />

1) Bloco A: A questão inicial tenta captar qual é o conceito<br />

que o inquirido já tem (ou não) de casa inteligente:<br />

”Que ideia tem de uma casa inteligente”?<br />

Da análise das respostas constata-se que uma casa<br />

inteligente é sobretudo uma casa que apresenta<br />

automatismos, que gere da melhor forma os seus<br />

recursos energéticos e ecológicos, que é programada,<br />

que pode ser comandada à distância, que tem<br />

componentes electrónicos que auxiliam a gestão de<br />

tarefas domésticas e, tudo isto, para melhorar a<br />

qualidade de vida dos seus utilizadores. Registaram-se<br />

expressões curiosas que retractam uma casa inteligente<br />

em várias perspectivas: “casa prática”, “gere de forma<br />

eficiente” “casa com vida própria”, “tem memória, noção<br />

temporal, há interligação com o utilizador”, “permite<br />

poupar tempo, ganhar segurança e economia de<br />

energia”, “resolve os problemas de quem a habita” e<br />

“melhora a qualidade de vida”, entre outras. Porém,<br />

paralelamente, há expressões reveladoras de dúvidas, de<br />

preocupações e até de desânimo: “sujeita a avarias”,<br />

“não sei se é de confiança”, “pouco funcional”, “se tudo<br />

funcionar é óptimo”, “até tudo funcionar, dá mais<br />

trabalho que uma casa normal”.<br />

2.1)Bloco B - Consideramos neste bloco as dimensões<br />

satisfaçãoe insatisfaçãodo cliente.<br />

2.1.1) “Se tem uma casa inteligente, está satisfeito?”<br />

Destaca-se a satisfação da maioria dos clientes<br />

utilizadores de uma casa inteligente. A insatisfação é<br />

apresenta somente por um utilizador que a atribui à<br />

incompetência do fornecedor inicial como<br />

responsável pelo facto.<br />

2.1.2) “Se tem uma casa inteligente, o que mais o satisfaz”?<br />

Das funções típicas domóticas, são a rega automática<br />

e a detecção de intrusão as mais significativas na<br />

satisfação dos utilizadores inquiridos, seguidas da<br />

detecção de fuga de gás e de incêndio e do facto de<br />

poderem controlar as persianas, iluminação e<br />

alarmes através do computador.<br />

Das funções domóticas apresentadas pelos inquiridos<br />

são elegidas as funções que proporcionam conforto e<br />

comodidade e aquelas que facilitam as rotinas<br />

domésticas.<br />

2.2) “Se tem uma casa inteligente, que funções inteligentes<br />

tem na sua habitação?<br />

A rega automática e a detecção de intrusão são as<br />

funções que existem em maior número nas casas<br />

inteligentes da população que diz possuir este tipo de<br />

habitação. Também elas foram as mais representativas<br />

na satisfação dos utilizadores. Seguem-se as funções de<br />

controlo de persianas, de iluminação e de alarmes<br />

através do computador, de detecção de incêndio e de<br />

gás. São também estas, as funções eleitas como as que<br />

mais os satisfazem, com excepção da protecção contra<br />

electrocussão que eventualmente não é conhecida por<br />

muita gente. Parece-nos que temos aqui uma relação<br />

entre a satisfação do cliente e as funções procuradas<br />

para instalar na sua casa.<br />

Das funções apresentadas pelos inquiridos é o<br />

aquecimento central a função mais comum nas casas<br />

inteligentes.<br />

289


ARTIGO TÉCNICO<br />

2.3) “Se tem uma casa inteligente, quais são as dificuldades<br />

com que se depara no seu dia a dia”?<br />

A maioria dos inquiridos afirmam que as dificuldades não<br />

são relevantes. Apresentam de facto algumas<br />

dificuldades, mas eventualmente ultrapassam-nas com<br />

facilidade. Este resultado parece-nos significativo na<br />

medida em que a maioria dos utilizadores de casas<br />

inteligentes desta amostra afirma estar satisfeito com a<br />

sua casa.<br />

Constata-se, porém, uma preocupação do consumidor<br />

relativamente à fiabilidade do sistema eléctrico. Como já<br />

foi referido anteriormente neste estudo, existem<br />

sistemas que centralizam o processamento numa única<br />

unidade correndo o risco, em caso de avaria ou de erro<br />

fatal do software, de deixarem os seus habitantes às<br />

escuras, mas já há sistemas que funcionam em paralelo<br />

com a instalação eléctrica tradicional sem nada<br />

perturbarem o seu funcionamento.<br />

3) Bloco C: Seguidamente pretende-se detectar qual é a<br />

imagem que as pessoas captam de quem tem uma casa<br />

inteligente..<br />

3.1) “Se conhece alguém que tenha uma casa inteligente,<br />

como é que a descreve”?<br />

Segundo as opiniões recebidas a casa inteligente é<br />

sobretudo confortável e segura. É programada, tem rega<br />

automática e detecção de movimento. Mas também é<br />

importante verificar que os “amigos” dos utilizadores de<br />

uma casa inteligente ficam com a ideia de que ela é, por<br />

um lado “espectacular”, “ boa e útil” e “tem tudo o que<br />

é necessário para se sentirem bem” e reconhecem que<br />

ela é “atractiva perante os amigos”; por outro lado, é<br />

“complexa”, “complicada quando não está o dono” e<br />

“fica aquém da propaganda”. Estas duas facetas poderão<br />

ser uma consequência do sucesso do sistema<br />

implementadoou da limitada capacidade do instalador.<br />

3.2) “Se conhece alguém que tenha uma casa inteligente,<br />

qual é a experiência que os moradores dessa casa têm”?<br />

A experiência dos moradores das casas inteligentes é<br />

francamentepositiva.<br />

290<br />

Parece-nos que há um certo consenso nas respostas dos<br />

nossos inquiridos, ou seja, os que possuem uma casa<br />

inteligente dizem que estão satisfeitos e que não<br />

apresentam dificuldades relevantes. Os que conhecem<br />

utilizadores de casas inteligentes confirmam esta<br />

opinião. Os inquiridos retractam-na, mais uma vez, como<br />

uma casa “fantástica” e que dá “prazer”. As experiências<br />

são “boas e más”, mas “os problemas resolvem-se”. Eis a<br />

razão por que se sentem satisfeitosos seus donos.<br />

4) Bloco D: Este bloco é referente à valorização que o<br />

inquirido atribui a uma série de funções domóticas<br />

típicasapresentadasno inquérito.<br />

A marca triangular (Fig.1), relativa a cada função,<br />

representa o valor médio das valorizações que os<br />

respondentes lhe atribuíram numa escala de 0 a 100%.<br />

De modo a conhecer a dispersão das respectivas<br />

valorizações atribuídas, determinou-se o desvio padrão<br />

de cada função e assinalou-se no gráfico a<br />

correspondente variação, para mais e para menos,<br />

relativamente ao valor médio. Assim, o traço vertical<br />

assinalado para cada função representa a variação da<br />

valorização atribuída correspondente a dois terços da<br />

amostra.<br />

Segundo o gráfico apresentado, praticamente todas as<br />

funções domóticas apresentam uma valorização média<br />

superior a 50%.<br />

É de destacar que as funções de segurança (detecção de<br />

intrusão, detecção de gás, detecção de inundação e<br />

detecção de incêndio) são aquelas que apresentam um<br />

valor médio na ordem dos 80% e com um desvio padrão<br />

apertado, o que quer dizer que cerca de dois terços da<br />

amostra se situam nesta faixa. Recorde-se que estas<br />

funções foram ditas pelos utilizadores de casas<br />

inteligentes como as que os satisfazem mais e verificouse,<br />

por sua vez, que são ainda as mesmas funções as que<br />

se encontram em maior número nas casas inteligentes,<br />

ou seja, parece confirmar-se que as funções relativas à<br />

segurança, que os respondentes dizem ter instaladas,<br />

são as mesmas que eles valorizam mais, e também as<br />

que mais satisfaçãolhes dão.


ARTIGO TÉCNICO<br />

Como o consumidor valoriza as funções domóticas<br />

125<br />

100<br />

Valorização 0 a 100%<br />

75<br />

50<br />

25<br />

0<br />

Rega<br />

Telecomandos<br />

Simulação presença<br />

Controlar c/ PC<br />

Recepção alarmes<br />

Tele Escuta<br />

Telecontrol fogão<br />

Telecontrol sirene<br />

Telecontrol aquec.<br />

Telecontrol ILU<br />

P.electrocussão<br />

Gravador<br />

Câmaras<br />

Alarme congelador<br />

D.Q. vidros<br />

D.fogo<br />

D.água<br />

D. gás<br />

D.exterior<br />

D.Portas<br />

D.Intrusao<br />

Figura 1 – Nível de valorização das funções domóticas por parte do consumidor<br />

5) Bloco E - A questão seguinte pretende que os inquiridos,<br />

após a reflexão anterior, possam manifestar o interesse<br />

em incluir as funções domóticas referidas, na sua<br />

habitaçãoactual.<br />

“Se decidisse tornar a sua casa inteligente, que<br />

modificaçõesfaria na sua casa actual”?<br />

6) Bloco F: Este bloco diz respeito ao nível de investimento<br />

(em euros) que o consumidor está disposto a aplicar com<br />

vista à satisfação das necessidades que entretanto lhe<br />

foram estimuladas.<br />

Na figura 2 apresenta-se o número total de interessados<br />

(acumulado) para cada nível de investimento.<br />

7) No fim do inquérito, sobre a designação de observações,<br />

permitiu-se que as pessoas manifestassem livremente as<br />

suas opiniões e os seus receios sobre este tema tão<br />

polémico das casas inteligentes.<br />

Nr. total de interessados<br />

50<br />

46<br />

45<br />

42<br />

39<br />

40<br />

41<br />

35<br />

34<br />

32<br />

30<br />

29<br />

25<br />

25<br />

21<br />

20<br />

15<br />

11<br />

12<br />

10<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000<br />

Investimento disponível (€)<br />

Figura 2 – Percepção de valor de um sistema domótico<br />

Transcriçãode algumas das observações mais relevantes:<br />

“Acho que a designação de “casa inteligente” não passou e<br />

precisa de ser repensada!!!”<br />

“As pessoas estão pouco informadas sobre o que é uma casa<br />

inteligente. Além disso, esta expressão assusta muita gente<br />

pelo automatismo que ela envolve e pelo investimento que<br />

se imagina que ela carece.<br />

291


ARTIGO TÉCNICO<br />

Penso que há necessidade de desmistificar este assunto para<br />

que as pessoas compreendam que se pode ter algo<br />

inteligente na casa por pouco por pouco dinheiro e de forma<br />

simplificada, que se usa da mesma maneira como qualquer<br />

aparelho eléctrico.”<br />

“Julgo que ainda estamos na fase de mercado em que reinam<br />

os improvisadores e as soluções dirigidas a quem tem muito<br />

dinheiro. A tecnologia está mais que madura, acho eu, logo<br />

há espaço para quem não seja ganancioso e perceba do<br />

tema.”<br />

“Todos os contributos nesta área são de facto importantes,<br />

ainda mais se tivermos em consideração o ritmo de vida que<br />

a maioria da população leva. Parece-me fundamental<br />

democratizar o acesso a, pelo menos, algumas das<br />

funcionalidades que tornam uma casa numa Casa<br />

Inteligente”<br />

5 O CRUZAMENTO DA OFERTA COM A PROCURA<br />

Há que reconhecer que a maior parte das soluções<br />

domóticas que o mercado apresenta estão algo fora do<br />

alcance da maioria dos portugueses. O mesmo não acontece<br />

nos Estados Unidos ou noutros países da Europa onde o<br />

poder de compra é bem superior ao nosso.<br />

Os interesses que o consumidor manifestou relativamente às<br />

casas inteligentesforam essencialmenteos seguintes:<br />

- Na área da segurança: detecção de intrusão no interior<br />

da casa, com detectores de movimento; detecção de<br />

incêndio, de inundação e de fuga de gás.<br />

- Na área do conforto: controlar persianas, iluminação e<br />

alarmes através do computador; ligar, desligar e<br />

controlar o aquecimento central; ligar ou desligar o<br />

fogão através do telefone;rega automática dos jardins.<br />

Claro está que a selecção de qualquer solução domótica está<br />

intrinsecamente associada ao nível de investimento<br />

disponível. Como se pode inferir da análise do gráfico do<br />

”número total de interessados por cada nível de<br />

investimento” vinte e um dos inquiridos estão dispostos a<br />

investir 5.000 euros para tornar a sua casa inteligente”.<br />

292<br />

Para este patamar de “esforço económico”, como se pode<br />

concluir da análise do resumo das fichas técnicas de cada<br />

sistema analisado, estes teriam várias soluções possíveis:<br />

- Sistema Cardio<br />

- Simon Vis<br />

- Domus<br />

- Vivimat<br />

- Omtronic<br />

- X10.<br />

Estes sistemas, com excepção do X10, são todos sistemas<br />

centralizadose proprietários.<br />

Além disso, qualquer deles oferece possivelmente melhores<br />

característicase fiabilidade que o X10.<br />

Portanto, para a faixa de investimento dos 5.000 euros o<br />

consumidor tem uma grande oferta de sistemas de<br />

domótica.<br />

A fase seguinte deveria ser uma análise detalhada de cada<br />

característica para determinar qual seria a solução que<br />

melhor “integraria cada sistema domótico com o seu dono”,<br />

resultando daí, concerteza, uma maximização da sua<br />

satisfaçãopós-venda.<br />

Dado os interesses e motivações de cada um serem<br />

diferentes, a ponderação de cada especificação é um factor<br />

pessoal e consequentemente a “melhor solução” dependerá<br />

de critérios subjectivos.<br />

Se analisarmos o caso, de um nível de investimento<br />

disponível inferior, por exemplo 1500 euros, já teríamos<br />

cerca de 34 consumidores nesse grupo.<br />

Assim, se segmentarmos a procura em três faixas, podem daí<br />

resultar três tipos de soluções que satisfazem a maior parte<br />

dos inquiridos procurados:<br />

a) Sistema de 5.000 euros para 21 respondentes<br />

b) Sistema de 1.500 euros para 13 respondentes<br />

c) Sistema de 500 euros para 7 respondentes<br />

Para satisfazer o grupo representativo dos “13” inquiridos<br />

que disponibilizariam um investimento de 1.500 euros para<br />

terem a sua casa mais inteligente, poderia considerar-se um<br />

sistema híbrido em que se proporia uma central de intrusão<br />

inteligente que acumularia funções de comunicação e<br />

controlo bidireccional, associada a uma aplicação criteriosa<br />

do sistema X10 que permitiria um escalonamento<br />

progressivoà medida do interesse do consumidor.


ARTIGO TÉCNICO<br />

Assim, os alarmes técnicos seriam geridos pela central de<br />

intrusão e o conforto ficaria a cargo do sistema X10. A rega<br />

automática ficaria, opcionalmente, isolada com um<br />

controlador dedicado, dado estes terem elevada fiabilidade<br />

e serem de baixo custo, evitando-se assim, o perigo de<br />

inundaçãoprovocado pela baixa fiabilidade do sistema X10.<br />

Relativamente ao terceiro grupo que apenas disponibilizava<br />

500€ o mercado também oferece um sistema domótico que<br />

pode ser escalonado em várias fases, sendo mesmo possível<br />

aplicá-lo apenas numa única sala: sistema X10. De modo a<br />

tornar este produto mais acessível, a cadeia de valor que<br />

inclui todos os processos desde a produção, distribuição,<br />

retalho, instalação e cliente, foi reduzido apenas a 2 níveis:<br />

Produtore consumidor.<br />

Dado o sistema X10 ser muito fácil de instalar o nível técnico<br />

do “instalador” pode ser abolido, podendo incluir-se este<br />

sistema no sector “faça você mesmo” e ser a sua instalação<br />

encaradacomo um trabalho de bricolage.<br />

Assim, para o grupo dos “investidores dos 500 euros”, o<br />

sistema X10 tem kits económicos, que vão desde um sistema<br />

compacto de detecção de intrusão telecomandado com<br />

telecomando de rádio frequência compatível com os sinais<br />

X10 e que avisa telefonicamente o dono em caso de intrusão<br />

(a Portugal Telecom comercializa este produto), até kits de<br />

automação, que incluem um módulo X10 para controlar<br />

electrodomésticos, um módulo X0 de casquilho para<br />

intercalar no circuito eléctrico do candeeiro junto à lâmpada,<br />

um receptor de rádio frequência que injecta o sinal de X10<br />

na rede e um telecomando de rádio frequência que pode<br />

controlar os referidos módulos que recebem o sinal X10 pela<br />

rede eléctrica.<br />

É de referir a grande vantagem desse sistema em ser fácil de<br />

incluir posteriormente, mais funcionalidades, pois apenas é<br />

necessário ligar mais módulos às tomadas; estes passam a<br />

estar interligados pela rede eléctrica e a responder de<br />

acordo com o código com o qual foram programados por<br />

simples selecção de uma letra e de um número em dois<br />

selectores, por meio de uma chave de fenda. Quando a<br />

instalação atingir uma dimensão maior, quer pelo número de<br />

módulos ligados, quer pelas distâncias que os sinais têm que<br />

vencer, todos os problemas de falha de comunicação podem<br />

ser solucionados pela aplicação de um<br />

repetidor/amplificador, disponibilizado por diversos<br />

fabricantesde dispositivos X10.<br />

6 CONCLUSÕES<br />

“Se a introdução da concorrência teve o mérito de fazer<br />

passar o consumidor de Utilizador a Cliente, a prática de<br />

criação de valor para o cliente, tem como efeito fazer<br />

passar o consumidor de Cliente a Amigo”. [07]<br />

As casas inteligentes, quando instaladas com sucesso,<br />

proporcionam aos seus utilizadores a satisfação como<br />

clientes e todo o prazer que a tecnologia actual lhes pode<br />

oferecer. Daí lhes advém a verdadeira percepção de valor da<br />

domótica.<br />

Compreender as motivações dos consumidores, no âmbito<br />

da casa inteligente e o processo de consumo, proporciona<br />

uma série de vantagens. Entre elas destacam-se o auxílio aos<br />

gestores nas suas decisões, o fornecimento de uma base de<br />

conhecimento a partir da qual os pesquisadores de<br />

marketing podem analisar os consumidores e, ainda, o<br />

auxílio ao consumidor na tomada de melhores decisões de<br />

compra.<br />

Acresce ainda que, num mercado tecnológico cada vez mais<br />

exigente, a lógica da relação Fornecedor-Cliente mudou,<br />

estando a ser substituída por uma relação Amigo-Amigo<br />

como resultado de uma relação de cooperação “win-win”.<br />

Relativamente à casa inteligente, corre um certo misticismo<br />

como sendo “muito cara” e só para quem “percebe muito de<br />

computadores”, necessitando quase de um técnico<br />

permanentemente ao seu lado. É necessário clarificar este<br />

conceito. Actualmente as casas inteligentes são, de facto,<br />

muito caras para clientes exigentes e que estão dispostos a<br />

investir nelas para concretizar os seus desejos mais<br />

sofisticados. No entanto, mostrou-se que o mercado<br />

também oferece outros sistemas fiáveis, mais económicos,<br />

ou seja, permite que o cliente vá comprando os<br />

equipamentos à sua medida e vá lentamente construindo a<br />

sua casa inteligente por partes.<br />

293


ARTIGO TÉCNICO<br />

Acresce ainda, que também a tecnologia dos equipamentos<br />

foi amadurecendo ao longo do tempo. Hoje em dia, tal como<br />

se liga a televisão, as aparelhagens de som, ou outras por<br />

telecomando, também, com a mesma facilidade, pega-se no<br />

mesmo comando e “clica-se” na tecla de levantar a persiana,<br />

acender a luz ou qualquer outra função que o cliente<br />

imaginou. Parece-nos, deste modo, que os sistemas das<br />

casas inteligentes estão disponíveis para todas as “bolsas” e<br />

preparados para finalmente entrarem na casa do<br />

consumidor comum. Esta ainda não é uma realidade da<br />

esmagadoramaioria dos lares portugueses.<br />

Apesar das limitações deste trabalho, pelo facto de se ter<br />

baseado numa amostra relativamente limitada, parece<br />

poder concluir-se que, actualmente, existem todas as<br />

condições para um perfeito encontro da oferta com a<br />

procura no domínio da domótica, constituindo assim o seu<br />

conhecimento uma nítida vantagem para todos os players:<br />

para os consumidores na medida em que estes poderão<br />

usufrir da tecnologia “à sua medida” e para todos os outros<br />

também, dado existir, actualmente, um potencial elevado de<br />

oportunidadesde negócio.<br />

A constante subida dos preços dos imóveis, e a crescente<br />

dificuldade em vender as casas e os apartamentos novos,<br />

associada à presente crise económica, originaram um<br />

excesso de construção que dificilmente o mercado<br />

português absorverá. Estes factores levaram a que os<br />

construtores recorram cada vez mais à Domótica como<br />

factor diferenciador, sendo já vulgar verem-se “outdoors”<br />

aliciando os consumidores para as “Casas de Sonho<br />

Inteligentes”.<br />

Espero com este trabalho ter contribuído para desmistificar<br />

o conceito de casa inteligente e faço votos que a sua leitura<br />

sirva de estímulo para que mais alguns lares portugueses<br />

beneficiem da magia e das maravilhas que a tecnologia<br />

actual nos oferece.<br />

Bibliografia<br />

[01] BRIERE, Danny e HURLEY, Pat, “Smart Homes for<br />

Dummies”, Wiley Publishing, Inc., 2003<br />

[02] CEBus – Consumer Electronics Bus (EIA-600),<br />

http://www.cebus.org.<br />

[03] FRANCO, Ivan, “A Casa do Futuro Interactiva”, Cap.<br />

“Sensores e Actuadores: os Sentidos e Músculos da Casa<br />

Inteligente”,2003<br />

[04] HARPER, Richard,”Inside the Smart Home”, Springer-<br />

Verlag London Limited, 2003, PAG. 299, 229<br />

[05] JACKSON, Andy, “Integrating the smart home with its<br />

owner”, Integratorpo, 2003<br />

[06] JUNESTRAND, Stefan, “Hogar Digital Conectado”, El<br />

SIMO TCI, feria internacional de informática, multimedia<br />

y comunicaciones.<br />

[07] MICHEL, H.,”Criação de valor para o cliente”, Monitor,<br />

2003.<br />

[08] MOTA, José Augusto, “Casas inteligentes”, Centro<br />

AtlânticoLda, 2003<br />

[09] MOWEN, John C. e MINOR, Michael S.,<br />

“Comportamento do Consumidor”, Pearson Education,<br />

2003<br />

[10] NUNES, Renato, "DomoBus - A New Approach to Home<br />

Automation", 8CLEEE"-<br />

[11] OLIVEIRA, José Manuel Paquete, “A Casa do Futuro<br />

Interactiva”,Cap. "Estar em Casa, Estar no Mundo", 2003<br />

[12] ROSETA, Helena, “A Casa do Futuro Interactiva”, Cap.<br />

"CASA DO FUTURO", 2003<br />

[13] SANTOS, José Armando, “Meios para melhorar a<br />

qualidade de vida e a autonomia de pessoas com<br />

necessidades especiais”, Tese de Mestrado da<br />

Universidade Técnica de Lisboa – Instituto superior<br />

Técnico,2004<br />

[14] SOARES, Francisco Sousa, “A Casa do Futuro<br />

Interactiva”,Cap. "CASA DO FUTURO", 2003<br />

294


ARTIGO TÉCNICO<br />

José Luís Faria<br />

Touchdomo, Lda, Porto, Portugal<br />

Artigo publicado na Revista Neutro à Terra, Nº6, Dezembro de 2010<br />

DOMÓTICA<br />

E A REQUALIFICAÇÃO DE EDIFÍCIOS<br />

RESUMO<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Para a elaboração deste artigo técnico foi necessário adoptar<br />

uma estrutura que possibilitasse fornecer um estudo teóricoprático,<br />

transversal e equilibrado, das diferentes tecnologias<br />

domóticas.<br />

“Os edifícios que são planeados e funcionam de forma eficaz<br />

ao nível energético já não são novidades exclusivas. Até a<br />

designação um edifício inteligente começa a perder a sua<br />

naturezaexótica.<br />

Inicialmente realizou-se um pequeno estudo teórico das<br />

tecnologias domóticas mais relevantes, de uma forma<br />

transversal e resumida (Capítulo 2).<br />

Ambas as tendências estão agora a revolucionar a<br />

arquitectura cada vez mais ambiciosa e a abrir caminho na<br />

luta mundial contra as alterações climáticas.”<br />

Em função do estudo teórico do capítulo anterior, no<br />

Capítulo 3 realizou-se uma análise mais prática, em que ao<br />

invés de abordar um caso prático existente, de grandes<br />

instalações com o seu valor emblemático, optou-se por<br />

utilizar como modelo o edifício F do Instituto Superior de<br />

Engenharia do Porto e apresentar uma das soluções possíveis<br />

de implementação de tecnologias domóticas em edifícios já<br />

existentes (aplicação do conceito de requalificação de<br />

edifícios).<br />

Depois da exposição do caso prático, expôs-se o futuro e<br />

oportunidades de mercado da domótica ou sistema de<br />

gestão técnica centralizada, mais focalizado para o mundo<br />

académico (Capítulo4).<br />

Por fim, são tecidas as conclusões e considerações finais do<br />

artigo (capitulo5).<br />

Esse artigo foi elaborado sob o ponto de vista de integrador.<br />

Por outras palavras, procurou-se realizar uma aproximação<br />

da realidade prática a nível de implementação das<br />

tecnologias domóticas em edifícios, ao dar uma linha de<br />

conhecimento abrangente e ao mesmo acessível aos leitores,<br />

que muitas das vezes esse tema acaba por transmitir<br />

conceitos errados.<br />

As tecnologias de domótica (também conhecida como<br />

“automação de edifícios”) existem já há algumas décadas.<br />

Contudo, essas tecnologias sempre estiveram associadas a<br />

habitações particulares de alto nível ou a edifícios e<br />

instalaçõesfabris de grandes empresas.<br />

Mas a partir do momento em que ocorreu a actual crise<br />

energética (início do séc. XXI), em que o aumento da procura<br />

dos combustíveis fósseis não acompanhava a oferta, a<br />

domótica ganhou mais relevância, pelas vantagens que<br />

apresenta a nível de poupança energética e de gestão. Por<br />

isso mesmo, tornou-se mais rentável implementá-la nos<br />

edifíciosactuais, construídos de raiz ou requalificados.<br />

As vantagens que a domótica apresenta serviram como<br />

reforço motivador da elaboração da dissertação:<br />

• Edifícios/empresas: eficiência energética, segurança,<br />

etc.;<br />

• Habitações particulares: conforto, segurança e<br />

incremento do valor das habitações, devido ao luxo e<br />

ostentaçãoque exibem.<br />

Actualmente a área da domótica (automação de casas e<br />

edifícios) encontra-se em franca expansão, com principal<br />

relevância nos países mais desenvolvidos, com um<br />

crescimentode mercado de mais de 10% ao ano.<br />

295


ARTIGO TÉCNICO<br />

2 ESTADO DA ARTE DAS TECNOLOGIAS DOMÓTICAS<br />

Quer se trate do Terminal 5 do aeroporto de Heathrow, ou<br />

de uma habitação comum, uma norma uniforme para o<br />

controlo de diversos dispositivos existente dentro de um<br />

edifício facilitaria imenso a implementação de<br />

funcionalidades inovadoras e complexas. Aqui o<br />

funcionamento em rede, máximo de abrangência de<br />

funcionalidades possíveis e elevado índice de fiabilidade,<br />

bem como a utilização económica da energia, são critérios<br />

importantespara a rentabilidade desses edifícios.<br />

Como tal, as instalações eléctricas/electrónicas padrão só<br />

podem cumprir estes requisitos até um certo ponto,<br />

exigindo além disso mais trabalho e diferentes tipos de<br />

materiais e instalações.<br />

Assim, os projectistas e investidores escolhem cada vez mais<br />

diferentes tecnologias de domótica para edifícios com base<br />

em protocolos normalizados internacionais (p. ex.: KNX,<br />

LonWorks, BACnet, etc.), com provas comprovadas das suas<br />

vantagens e potencialidades nos diferentes tipos de<br />

mercados. Também é razão de escolha das tecnologias KNX e<br />

LonWorks ao apresentarem respectivamente, cerca de 300 e<br />

4200 fabricantes afiliados, mostrando o seu grande nível de<br />

interoperabilidade.<br />

climatização, iluminação, persianas/lamelas, segurança, etc.,<br />

podem ser baseadas num sistema de rede conveniente,<br />

rentável e muito flexível, ao garantir em qualquer momento<br />

a sua interoperabilidade.<br />

Uma das outras grandes vantagens é a sua topologia de<br />

rede, em que ao utilizar um único cabo de par entrançado,<br />

que na maioria dos casos prova ser o suficiente para realizar<br />

a interligação de inúmeros dispositivos numa só rede. Sendo<br />

assim, a nível de topologia de rede, existem quatro tipos<br />

para o meio TP (mais utilizado):<br />

• Topologiaem linha (Fig. 1– Ponto 1);<br />

• Topologiade estrela (Fig. 1– Ponto 2);<br />

• Topologia em anel, sendo apenas para a tecnologia<br />

LonWorks(Fig. 1– Ponto 3);<br />

• Topologia mista, sendo a mais utilizada em edifícios,<br />

porque é a que apresenta menos obstáculos para<br />

expansõesfuturas da rede (Fig. 1– Ponto 4).<br />

Um outro factor referente à existência do elevado número<br />

de fabricantes afiliados às tecnologias baseiam-se destas<br />

serem denominadas como tecnologias de protocolos<br />

abertos, em que qualquer fabricante é livre de desenvolver e<br />

comercializar novos produtos, desde que sejam cumpridas<br />

os requisitos das tecnologias de domótica em questão. Este<br />

grande facto acaba por criar uma outra grande<br />

particularidade dessas tecnologias, em que para uma<br />

qualquer funcionalidade que seja necessário cumprir ou<br />

satisfazer de uma dado edifício, terá sempre um ou mais<br />

produtosque conseguirão corresponder às expectativas.<br />

O seu conceito base consiste em utilizar módulos actuadores<br />

e sensores com várias funcionalidades, as instalações de<br />

Figura 1 – Diferentes tipos de topologia de rede<br />

Como tal, cada vez mais as empresas de construção civil e<br />

clientes finais estão a mostrar um aumento da<br />

implementaçãoem edifícios novos e requalificados.<br />

A flexibilidade de utilização é muito importante por vários<br />

motivos. Frequentemente, durante o planeamento da<br />

construção, não são considerados a utilização subsequente e<br />

futuros requisitos de modificação e optimização do espaço.<br />

Esta neglicência pode tornar-se rapidamente dispendiosa,<br />

pois as alterações subsequentes envolvem normalmente<br />

custoselevados.<br />

296


ARTIGO TÉCNICO<br />

Ao implementar um sistema com um elevado nível de<br />

flexibilidade, permite que o sistema de bus seja altamente<br />

flexível e ser simplesmente reprogramado a baixo custo.<br />

Contudo quando não é suficiente o cabo entrançado (TP –<br />

Y(st)Y 2x2x0,8 mm 2 ), pode-se utilizar outros meios tais como<br />

radiofrequência (RF), PowerLine (PL), rede Ethernet ou até<br />

mesmo fibra óptica.<br />

Quando necessário podemos expandir ainda mais a rede ao<br />

interligar na mesma rede várias tecnologias de domótica ou<br />

de automação (DALI, DMX, LonWorks, Bacnet, etc.).<br />

Ao invés de apresentar casos práticos em instalações com<br />

sistemas de domóticas implementadas (p. ex. Terminal 5 do<br />

aeroporto de Heathrow, Estádio Olímpico de Pequim, etc.),<br />

que por um lado já foram apresentados em artigos<br />

anteriores da revista “Neutro à Terra”, casos esses que são<br />

bastante conhecidos (devido à sua projecção), por vezes<br />

sente-se um distanciamento considerável desses casos com<br />

a maioria das instalações de domóticas existentes em todo o<br />

mundo e com a percepção genérica do público em geral. Por<br />

outras palavras, o principal mercado da domótica, por<br />

motivos históricos confina-se ao utilizador particular<br />

(habitações).<br />

Todos os produtos de diferentes tecnologias de domótica<br />

(KNX e LonWorks), antes de serem lançados para o mercado<br />

são devidamente testados e certificados, por organismos<br />

independentes, e se aprovados são lançados para o mercado<br />

com a sua certificação visível nos produtos (inclusão do<br />

logótipo). Ou seja, além dos diferentes protocolos serem<br />

fiáveis e funcionais, todos os produtos que funcionam em<br />

redor dos protocolos também transmitem a sua fiabilidade e<br />

segurança.<br />

Por fim, uma outra característica que as tecnologias de<br />

domótica apresentam é que a sua base de funcionamento é<br />

de modo distribuído. Ou seja, todos os produtos funcionam<br />

de forma independente, que ao falhar um dado dispositivo<br />

não implica a paragem de funcionamentoda restante rede.<br />

3 CASO PRÁTICO: EDIFÍCIO F DO INSTITUTO SUPERIOR DE<br />

ENGENHARIA DO PORTO<br />

Contudo é necessário relembrar que cada vez mais as<br />

instalações de domótica são instaladas em edifícios de<br />

serviços, industrias, hospitais, etc. A principal razão é pelo<br />

facto desse tipo de edifícios possuírem uma elevada taxa de<br />

utilização, que aliada à eficiência energética que a domótica<br />

oferece, o retorno do seu custo de implementação pode<br />

ocorrer num espaço de alguns anos.<br />

Para terminar as notas genéricas sobre os edifícios, segundo<br />

alguns estudos, o custo construção de um edifício face ao<br />

seu custo global (custo de construção e manutenção<br />

continuada durante a sua vida útil) raramente ultrapassa os<br />

45%.<br />

Como todos nós sabemos, a eficiência energética é uns dos<br />

factores de peso (senão o maior) para a adopção ou<br />

implementação de uma instalação de domótica num edifício<br />

como o caso do edifício F do ISEP.<br />

Antes de começar a abordar o caso prático iremos expor as<br />

razões que levaram a uma instalação de uma instituição<br />

pública de renome.<br />

Em primeiro lugar, é preciso referir que actualmente não<br />

existe nenhuma instalação de domótica ou de gestão técnica<br />

centralizada no Edifício F do Instituto Superior de Engenharia<br />

do Porto.<br />

É de realçar que não se pretende de forma alguma,<br />

incentivar ou forçar a instalação de qualquer tipo de sistema<br />

no edifício em estudo. O que deseja é mostrar a sua<br />

aplicabilidade a um edifício português, permitindo aos<br />

leitores terem umas noções mais precisas e intuitivas e claro,<br />

uma parte dos leitores são de alguma forma, frequentadores<br />

do local em estudo.<br />

297


ARTIGO TÉCNICO<br />

3.1 Metodologia de Estudo<br />

O edifício é constituído por 7 níveis/pisos, estando incluído a<br />

garagem/cave, constituídos basicamente por laboratórios,<br />

salas de ensino e gabinetesde docentes.<br />

Para o estudo ser mais simples de compreender iremos<br />

dividir o estudo em duas partes:<br />

• Implementação de uma solução de gestão técnica<br />

centralizada;<br />

• Implementação do sistema de domótica num laboratório<br />

típico.<br />

Essa consola central actual possui um grande problema, de<br />

não apresentar o estado dos circuitos de iluminação (ligado<br />

ou desligado), o que em certos casos pode induzir ao<br />

accionamento errado de certos circuitos por parte dos<br />

seguranças presentes. Por exemplo não é pouco comum ver<br />

alguns circuitos de iluminação em funcionamento de forma<br />

inadequada durante a noite ou durante o dia. Foi também<br />

realizado um estudo baseado no programa de estágio para<br />

estudar a viabilidade financeira de tornar operacional a<br />

apresentação dos diferentes estados dos circuitos de<br />

iluminação, mas por questões financeiras não se avançou<br />

com a solução.<br />

A implementação será realizada com o objectivo de<br />

requalificar o edifício, ao aproveitar ao máximo possível as<br />

tubagensexistentes.<br />

A questão das tubagens, sempre problemática, só permitirá<br />

uma instalação integral de um sistema de domótica (nível de<br />

campo) depois de fazer um levantamento detalhado e actual<br />

de toda a instalação, de forma a elaborar um projecto<br />

preciso e sem derrapagens orçamentais (e ao mesmo tempo<br />

permitirá saber as limitações a nível de actualizações futura,<br />

a nível de equipamento).<br />

3.1.1 Implementação de uma Solução de Gestão Técnica<br />

Centralizada<br />

Um sistema de gestão centralizada significa gerir o máximo<br />

de funcionalidades presentes no edifício baseado num ou<br />

mais sistemas de automação (KNX, LonWorks, BACnet, etc.).<br />

Mas a palavra “gestão” não exclui o controlo, monitorização<br />

e optimização de todas as funcionalidadespresentes.<br />

Voltando para o edifício em estudo, ao invés de existir a<br />

consola central, presente na entrada principal do edifício F,<br />

em que permite uma gestão muito básica de todos os<br />

circuitos de iluminação, todo o controlo é realizado através<br />

de qualquer computador com ligação à rede local ou à<br />

Internet (ver Fig. 2).<br />

Para o/s segurança/s responsável/eis poderão realizar o<br />

controlo de todo o edifício quer a nível de:<br />

• Circuitosde iluminação;<br />

• Circuitosde aquecimento (radiadores de parede)<br />

• Sistema HVAC presente no edifício;<br />

• Controlo dos portões da garagem;<br />

• Sistema de acessos às salas e laboratórios, incluindo<br />

saber o local de presença de cada docente e/ou alunos<br />

(uma boa ferramenta de informação);<br />

• Gastos de energia (electricidade, gás natural, etc) e de<br />

água (que poderá ser uma excelente forma de detecção<br />

de fugas ou gastos desnecessários);<br />

• Elevadores (p. ex. em função da afluência activar o<br />

numero de elevadores necessário para menor uso<br />

desnecessário);<br />

• Monitorização de janelas abertas, por motivos<br />

energéticos(fugas de calor) e por motivos de segurança;<br />

• Etc.<br />

As funcionalidades atrás referidas são apenas algumas que é<br />

possível implementar. Mais outras funcionalidades podem<br />

ser implementadas sem requerem a compra a fornecedores<br />

terceiros. Poderão ser desenvolvidas internamente, pelos<br />

laboratórios de investigação ou pelos programas de estágios<br />

para alunos para aquisição de uma maior experiencia nessa<br />

área em crescimento (ver Cap. 4).<br />

298


ARTIGO TÉCNICO<br />

A nível de monitorização podemos terminar com a definição<br />

de níveis de acesso de controlo/monitorização. Por exemplo,<br />

o/s segurança/s poderão proceder apenas ao controlo e<br />

monitorização da maioria dos circuitos de diferentes<br />

funcionalidades, mas os altos responsáveis do universo ISEP<br />

ou IPP poderão realizar uma gestão global e sem restrições<br />

de toda a instalação.<br />

3.1.2 Implementação do Sistema de Domótica num<br />

Laboratório Típico<br />

Depois de se abordar a implementação de uma solução de<br />

gestão técnica centralizada no edifício F, iremos abordar a<br />

implementação de domótica num laboratório típico<br />

(baseadana tecnologiaKNX).<br />

Antes de iniciar o estudo da implementação em causa, é<br />

preciso referir que a solução equacionada de gestão técnica<br />

centralizada no edifício F proposto no subcapítulo 3.1.1<br />

permite gerir, monitorizar e controlo todas as<br />

funcionalidades do edifício (interligadas com o sistema),<br />

incluindo todas as salas de ensino, laboratórios e gabinetes<br />

dos docentes.<br />

Asrazões para aprofundar na solução de domótica para um<br />

laboratóriotípico são:<br />

• São as divisões onde a taxa de ocupação é a mais<br />

elevada;<br />

• Em muito dos casos é onde ocorrem maior desperdício<br />

de energia (em termos de percentagens, em relação às<br />

áreas comuns presentes nos edifícios);<br />

• Permitem, ao adaptar os hábitos de cada utilizador ou<br />

grupo de utilizadores, ajustar da melhor forma os gastos,<br />

sem sacrificar o conforto, qualidade de ensino e de<br />

concentração.<br />

• Etc.<br />

Figura 2 – Esquema de rede de gestão técnica centralizada<br />

299


ARTIGO TÉCNICO<br />

Irá ser exposta uma das soluções possíveis de implementar,<br />

dividida em vários parâmetros:<br />

- Iluminação<br />

Possivelmente a variável mais significativa no gasto global de<br />

utilização (não se pode confundir com os gastos de materiais<br />

de laboratórios, de manutenção e outros) mas ao mesmo<br />

tempo é a variável mais ajustável ou mais susceptível a<br />

maior capacidade de controlo com o sistema de domótica.<br />

as janelas estão abertas) e para controlo de segurança.<br />

Normalmente a esse tipo de controlo recorre-se ao uso de<br />

contactosmagnéticos.<br />

Por fim, o terceiro controlo, menos utilizado, é o controlo<br />

remoto da abertura das janelas. A sua grande utilidade<br />

reflecte-se para manutenção dos níveis de CO 2 e como forma<br />

de controlo adicional para os sistema de climatização,<br />

sempre que for necessário.<br />

Ao incluir um ou mais detectores de movimento de presença<br />

(depende da dimensão do laboratório) permite fazer uma<br />

gestão automática de iluminação em função da existência de<br />

movimento no seu interior (p. ex. presença de alunos) com a<br />

luminosidade interior. Mas o detector permite ainda realizar<br />

os seus cálculos matemáticos de forma a realizar a regulação<br />

contínua da iluminação de forma a manter uma iluminação<br />

constante 1 .<br />

Por fim, a regulação da iluminação pode ser feita<br />

directamente ou através da tecnologia 1-10V ou DALI,<br />

podendo em qualquer momento ser desabilitada/habilitada<br />

o controlo automático através de umas das teclas de pressão<br />

presentesna entrada do laboratório.<br />

- Janelas<br />

Poderãoser realizados três tipos de controlos.<br />

- Climatização<br />

O sistema de climatização a ser controlado será separado em<br />

dois tipos.<br />

O primeiro tipo de climatização, aquecimento por caldeira,<br />

que irá fornecer água quente aos radiadores presentes no<br />

laboratório.<br />

O segundo tipo de climatização, HVAC, procederá ao<br />

arrefecimento e aquecimento (menos eficiente que o<br />

aquecimento por caldeira). Para um correcto funcionamento<br />

do sistema HVAC em todas as divisões, essas têm que<br />

comunicar com o sistema de gestão técnica centralizada para<br />

que accione o sistema HVAC central (controlado através de<br />

controladores baseados na tecnologia BACnet ou LonWorks)<br />

sempre que for necessário (através de cálculos matemáticos<br />

e de históricos de utilizaçãoanteriores).<br />

O controlo mais comum é o controlo das persianas de<br />

lamelas (que apesar do investimento inicial ser mais elevado<br />

que as persianas normais), permitem um controlo da<br />

entrada de iluminação natural e também um controlo da<br />

entrada de luz directa, de onde provém a radiação<br />

infravermelhos como uma das formas de aquecimento do<br />

laboratóriosempre que a temperatura interior seja baixa.<br />

O segundo tipo de controlo que poderá ser feito é o estado<br />

das janelas (aberta ou fechada), em que é muito útil para o<br />

sistema de climatização (que não irá funcionar sempre que<br />

O sistema de climatização é controlado com base nos valores<br />

apresentados pelo/s sensor/es de temperatura presentes na<br />

divisão. O valor de setpoint (valor de temperatura interior<br />

que se pretenda) poderá ou não ser ajustado em tempo real,<br />

pelos docentes ou outro tipo de pessoal autorizado.<br />

- Níveis de CO 2<br />

Ao monitorizar os valores de CO 2 permitem usufruir de duas<br />

grandes mais-valias. A mais notória é controlar os níveis de<br />

CO 2 , de forma que as condições de aprendizagem e de estar<br />

nos laboratórios sejam as ideais (evitando o muito conhecido<br />

efeitode “ar abafado” ou “saturado”).<br />

1<br />

Esta ao realizar a regulação de iluminação, permite um menor consumo de energia eléctrica, aumentando o tempo de vida útil das lâmpadas.<br />

Por exemplo, uma dada lâmpada a 50% de luminosidade pode durar até 20 vezes mais que uma lâmpada em funcionamento pleno<br />

300


ARTIGO TÉCNICO<br />

A outra vantagem que poderá apresentar é ser considerado<br />

como mais uma variável de controlo por parte do sistema de<br />

climatização. Por exemplo, em função dos diferentes níveis<br />

de prioridades das diferentes variáveis de controlo do<br />

sistema de climatização (apenas HVAC por permitir<br />

circulação de ar) e eventualmente controlo das janelas<br />

poderá contribuir para uma maior poupança energética.<br />

Por outro lado pretende-se referir que um sistema de<br />

domótica ou gestão técnica centralizada por si só não é uma<br />

solução eficaz e significativa para redução da factura<br />

energética de um edifício (uns dos factores mais<br />

significativos para o sucesso ou fracasso no factor de decisão<br />

de implementação), devido à solução arquitectónica a nível<br />

de estrutura e de materiais de construção.<br />

- Controlo de acessos<br />

Apesar do sistema de controlo de acessos existir, ao reportar<br />

a presença dos diferentes utilizadores, não possui outras<br />

funcionalidades. Ao interligar com o sistema de gestão<br />

técnicacentralizadapermite usufruir de inúmeras vantagens.<br />

Por exemplo, o accionamento dos diferentes circuitos de<br />

iluminação, persianas e climatização só será realizado<br />

sempre que o docente der como entrada na divisão,<br />

evitando accionamentoindevido por terceiros.<br />

Possibilita também, referido no capítulo 3.1.1, saber em<br />

tempo real onde está um dado utilizador (docente, aluno ou<br />

outro tipo de utilizadores) para uma maior facilidade de<br />

encontro.<br />

- Medição de energia<br />

Em qualquer altura, dependendo da existência do medidores<br />

de energia na divisão (energia eléctrica e do sistema de<br />

climatização em unidades British Thermal Unit - BTU), poderse-á<br />

utilizar os seus valores para controlo de custos em<br />

tempo real, identificar os valores de gastos de energia por<br />

utilizador ou até mesmo monitorizar a qualidade da rede<br />

eléctrica.<br />

Por fim, apesar de ser um caso teórico, permite dar uma<br />

outra sensibilidade aos leitores o leque de funcionalidades<br />

que poderão ser implementadas, que forma e as suas razões.<br />

4 FUTURO E OPORTUNIDADES DE MERCADO A DOMÓTICA OU<br />

SISTEMA DE GESTÃO TÉCNICA CENTRALIZADA<br />

Depois de fazer uma análise do caso pratico, irão ser<br />

expostas as tendências futuras da área da domótica e da<br />

área da gestão técnica centralizada.<br />

Actualmente a área da domótica (automação de casas e<br />

edifícios) encontra-se em franca expansão, com principal<br />

relevância nos países mais desenvolvidos, com um<br />

crescimentode mercado de mais de 10% ao ano.<br />

Existem inúmeras razões para a crescente implantação da<br />

domótica em edifícios, entre as quais a maior eficiência<br />

energética, o aumento da segurança e a redução do custo de<br />

aquisição das tecnologias. No que diz respeito às habitações<br />

particulares, acrescenta-se essencialmente o aumento do<br />

conforto devido ao grau de automação trazido pela<br />

domótica.<br />

3.2 Considerações Finais<br />

Pretende-se relembrar que foi proposto uma das muitas<br />

soluções possíveis de implementar, mostrando a<br />

versatilidade da implementação de uma sistema de<br />

domótica num dado ambiente (edifício F pertencente ao<br />

ISEP).<br />

A nível de previsões futuras, prevê um crescimento cada vez<br />

mais acelerado de implementação, embora haja ainda hoje<br />

muita falta de informação, que por vezes totalmente errada.<br />

Uma outra vertente muito cativante (oportunidade de<br />

mercado) é a nível académico (opinião baseada no universos<br />

dos alunos universitários) que há um grande interesse na<br />

continuação do estudo dessas tecnologias mais é muito<br />

pouco apostado no mundo académico nacional.<br />

301


ARTIGO TÉCNICO<br />

Umas das vertentes a explorar, é por exemplo, a continuação<br />

em desenvolver ou melhorar as tecnologias de domóticas<br />

actuais.<br />

Antes de se expor as diferentes alternativas serão<br />

justificadas as razões que levaram a abordar esse assunto.<br />

Em primeiro lugar espera-se que seja considerado como um<br />

"incentivo” para que os diferentes pólos de investigação<br />

presentes no ISEP e outras faculdades existentes em<br />

Portugal comecem a olhar para o mercado da domótica<br />

como uma aposta na área da investigação.<br />

É preciso realçar que uma solução completa ou não de<br />

domótica não pode ser considerada como uma solução de<br />

elevado retorno devido a sua eficiência energética e outros<br />

factores. Ou seja, uma verdadeira solução de domótica ou<br />

gestão técnica centralizada além de possuir uma rede a nível<br />

de campo, a nível de rede e quando necessário também a<br />

nível de supervisão todos os sistemas que estejam a operar<br />

em concordância com o sistema de domótica (tais como<br />

sistemas de iluminação, sistemas de climatização, sistemas<br />

de persianas/lamelas, etc) têm que ser igualmente<br />

eficientes.<br />

Para ser visto como um foco de investigação, a domótica tem<br />

que ser estudada sob várias frentes. Estas poderão ser, ao<br />

utilizar como linha de referência os diferentes pólos de<br />

investigaçãoexistentesno ISEP.<br />

As (algumas) alternativas/frentesque existem são:<br />

• Apesar de existirem imensas tecnologias de domótica,<br />

cada vez mais o mercado está inclinado para tecnologia<br />

baseadas em protocolos abertos (tais como KNX,<br />

LonWorks, etc), cujo seu sucesso comercial está mais que<br />

comprovado. Em vez se focar no desenvolvimento de<br />

novos protocolos de domótica, proceder ao<br />

desenvolvimento de novos produtos ou novos tipos de<br />

produtos aplicáveis em contextos e ambiente, que até ao<br />

momento não foram satisfeitos;<br />

• Relativamente ao ponto anterior, devido ao actual<br />

panorama financeiro nacional, cujo ensino superior<br />

acaba de sofrer um corte significativo no seu orçamento,<br />

para o ISEP continuar ou melhorar o seu nível de ensino,<br />

ao desenvolver novos produtos para o mercado (com<br />

vantagens competitivas a nível de prestigio e financeiro),<br />

fomenta na globalidade do ISEP (alunos e docentes) ao<br />

criarem novos produtos. Por outro lado, a facilidade de<br />

obter financiamento face às empresas privadas para a<br />

criação de um projecto de produção e venda de produtos<br />

de uma área em crescimento é outro facto de peso,<br />

acaba por ser uma forma de obter fundos para<br />

manutençãoe melhoramento do universo ISEP;<br />

• Como se referiu anteriormente, o desenvolvimento de<br />

produtos envolve a engenharia electrónica (que podem<br />

ou não estar envolvidos os laboratórios LSA, CISTER,<br />

etc.), engenharia mecânica (acondicionamento e<br />

formatos mais adequados a nível mecânico dos produtos<br />

ou até mesmo conhecimentos termodinâmicos –<br />

sistemas de climatização), engenharia informática<br />

(software de gestão, de supervisão, etc.), engenharia civil<br />

(estudo da concepção de edifícios mais ecológicos e/ou<br />

optimização dos edifícios actuais), engenharia de<br />

sistemaseléctricos, etc.;<br />

• Continuação do desenvolvimento da tecnologia sem-fios<br />

ZigBee, pelo laboratório CISTER, que ao interligar com os<br />

sistemas de domótica permitirá aumentar a versatilidade<br />

de implementação da domótica e de aplicações<br />

SmartGrid (rede de sensores sem fios);<br />

• Etc.<br />

6 CONCLUSÕES FINAIS<br />

Depois de realizar um breve estado da arte das tecnologias<br />

domóticas,de seguida elaborou-se uma exposição a um caso<br />

prático, pondo em prática a aplicação das diferentes<br />

tecnologiasdomóticas(KNX, LonWorks e BACnet).<br />

302


ARTIGO TÉCNICO<br />

Em jeito de conclusão geral, findo este trabalho, poderá-seão<br />

tecer as seguintes considerações:<br />

• Em função do contexto da sua aplicação, as vantagens<br />

das tecnologias domóticas são evidentes ao reduzirem a<br />

factura energética de um edifício, fornecendo o mesmo<br />

nível de conforto, oferecendo uma versatilidade mais<br />

elevada na utilização das diferentes funcionalidades<br />

existente no edifício face a um edifício tradicional e entre<br />

outros;<br />

• Por outro lado, ao oferecer um nível elevado de<br />

escalabilidade (maior facilidade de futuras expansões de<br />

rede), é criado um nível elevado de segurança,<br />

fiabilidadee diferentestipos de topologias de rede;<br />

• A nível da interoperabilidade, as tecnologias KNX e<br />

LonWorks ao apresentarem respectivamente, cerca de<br />

300 e 4200 fabricantes afiliados, oferecem uma grande<br />

versatilidade.<br />

Por outro lado podemos concluir que além de se provar um<br />

claro crescimento das tecnologias domóticas nos mercados,<br />

devido à aceitação crescentes das vantagens que estas<br />

oferecem, podem ser consideradas como uma excelente<br />

área de investigação para as faculdades e politécnicos<br />

portugueses.<br />

Bibliografia<br />

[1] EchelonCorporation<br />

http://www.echelon.com/<br />

[2] ECHELON - LonWorksEngeneering Bulletin 005-0025-<br />

01D, 1996<br />

[3] KNX Organization - KNX Handbook for Home and<br />

BuildingControl. 3º Release. Bélgique, 1999<br />

[4] KNX Organization<br />

http://knx.org/<br />

[5] LonMarkInternacional<br />

http://www.lonmark.org/<br />

[6] LonMark of Germany<br />

http://www.lno.de<br />

[7] Partner’sKNX<br />

http://www.knx.org/knx-partners/knxeib-partners/list/<br />

[8] SCADA<br />

http://www.scadaengine.com/<br />

[9] SYSMIK GmBH DRESDEN<br />

http://www.sysmik.co<br />

[10] ZIGBEEALLIANCE<br />

http://www.zigbee.org/<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto<br />

(Edifício F)<br />

303


Autores<br />

304


COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />

António Augusto Araújo Gomes<br />

(aag@isep.ipp.pt)<br />

Mestre (pré-bolonha) em Engenharia Electrotécnica e Computadores, pela Faculdade de<br />

Engenhariada Universidade do Porto.<br />

Doutorandona Área Científicade Sistemas Eléctricosde Energia (UTAD).<br />

Docentedo InstitutoSuperior de Engenharia do Porto desde 1999.<br />

Coordenadorde Obras na CERBERUS- Engenharia de Segurança, entre 1997 e 1999.<br />

Prestação, para diversas empresas, de serviços de projecto de instalações eléctricas,<br />

telecomunicaçõese segurança, formação, assessoriae consultadoria técnica.<br />

Investigador do GECAD (Grupo de Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à<br />

Decisão),do ISEP, desde 1999.<br />

António Manuel Luzano de Quadros Flores<br />

(aqf@isep.ipp.pt)<br />

Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Produção<br />

Transporte e Distribuição de Energia pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;<br />

"M.B.A."em Gestão na Escola de Gestão do Porto da Universidade do Porto.<br />

Aluno de doutoramento na Faculdade de Ciências e Tecnologiada Universidade de Coimbra.<br />

Docentedo InstitutoSuperior de Engenharia do Porto desde 19993<br />

Desenvolveu actividade profissional na SOLIDAL no controlo de qualidade e manutenção, na<br />

EFACEC na área comercial de exportação de máquinas eléctricas, na British United Shoe Machinery<br />

na área de manutenção, na ALCATEL-Austrália na área de manutenção, na ELECTROEXPRESS, em<br />

Sidney, na área de manutenção e instalaçõeseléctricas.<br />

Bolseiroda F.C.T., Fundação para a Ciência e Tecnologia desde 2008.<br />

Arlindo Ferreira Francisco<br />

(1060991@isep.ipp.pt)<br />

Finalista do curso de Engenharia Electrotécnica, área Científica de Sistemas Eléctricos de Energia,<br />

no InstitutoSuperior Engenharia do Porto.<br />

Colaborador na empresa Grohe-Portugal (Fábrica de Componentes Sanitários em Albergaria-a-<br />

Velha) desde 1998, desempenhando funções na área da Manutenção e Projectos Especiais.<br />

Larga experiência na área de Automação e Controlo.<br />

Recentementea desenvolver projecto sobre Gestão de Energia.<br />

Domingos Salvador Gonçalves dos Santos<br />

(dss@isep.ipp.pt)<br />

Licenciadoe Mestre em Engenharia Electrotécnica.<br />

Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do<br />

Porto.<br />

Eduardo Sérgio Correia<br />

(SCorreia@iems.pt)<br />

Engº Técnico Electrotécnico– Sistemas de Energia (ISEP 1995), inscrito na ANET (1555).<br />

Director de Operações da Delegação Norte da IEMS – Instalações de Electrónica Manutenção e<br />

Serviços, Lda desde 2000.<br />

Notacurricular da empresa:<br />

Fundada em 1993, a IEMS, começou a operar como uma empresa fornecedora de acessórios para<br />

sistemas de cablagem e prestadora de serviços associados. A IEMS tem acompanhado o rápido<br />

desenvolvimento da indústria das tecnologias de informação, evoluindo ao longo dos anos, para a<br />

comercialização de produtos nas áreas de cablagem estruturada, de telecomunicações,<br />

equipamentos activos de rede, tendo-se especializado em adaptar soluções de fabricantes<br />

mundiais, líderes no mercado, às realidades e exigências nacionais. Neste âmbito, tem uma vasta<br />

experiência em instalação e manuseamento das Redes de Fibra Óptica, estando sempre na<br />

vanguarda com os produtos mais avançados disponíveis no mercado.<br />

305


COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />

Henrique Jorge de Jesus Ribeiro da Silva<br />

(hjs@isep.ipp.pt)<br />

Licenciado em Engenharia Electrotécnica, em 1979, pela Faculdade de Engenharia da Universidade<br />

do Porto, opção de Produção, Transporte e Distribuição de Energia.<br />

Diploma de Estudos Avançados em Informática e Electrónica Industrial pela Universidade do<br />

Minho. Mestre em Ciências na área da ElectrónicaIndustrial.<br />

Professor Adjunto Equiparado do ISEP, leccionando na área da Teoria da Electricidade e Instalações<br />

Eléctricas.<br />

Hugo Miguel Ferreira de Sousa<br />

(1060992@isep.ipp.pt)<br />

Finalista do curso de Engenharia Electrotécnica, Sistemas Eléctricos de Energia, no instituto<br />

superior de Engenharia do Porto.<br />

A desempenhar funções como Técnico de Manutenção Industrial, na empresa Socitrel – Sociedade<br />

Industrial de Trefilaria S.A., desde 1997.<br />

José Luís Almeida Marques de Faria<br />

(jlamfaria@gmail.com)<br />

Mestre em Engenharia Electrónica e de Computadores, na área de Sistemas e Planeamento<br />

Industrial (Plano de estudos Bolonha - 120ECTS), InstitutoSuperior de Engenharia do Porto).<br />

Director técnico na empresa Touchdomo.<br />

Fornece serviços à Industria Azevedos, com a função de integrador KNX e EnOcean.<br />

Formador na área da domótica e engenharia electrónica/eléctrica.<br />

Funcionário da empresa Intelbus, Soluções para edifícios, Lda, com a função de integrador KNX e<br />

LonWorks, desde Agosto de 2008 até Junho de 2010.<br />

José Marílio Oliveira Cardoso<br />

(joc@isep.ipp.pt)<br />

Licenciado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior<br />

de Engenharia do Porto.<br />

Doutorando da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro na Área Cientifica de Sistemas<br />

Eléctricosde Energia.<br />

Docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto desde 2003 e investigador do GECAD (Grupo<br />

de Investigaçãoem Engenharia do Conhecimentoe Apoio à Decisão).<br />

Docenteno ensino secundário, na área da electrotecniaentre 2001 e 2004.<br />

Formador no Curso de Especialização Pós-Graduada em Eficiência Energética e Utilização Racional<br />

de Energia Eléctrica, do ISEP. Formador na Pós-Graduação em Gestão de Energia – Eficiência<br />

Energética,no Institutode Soldadura e Qualidade(ISQ), Taguspark, Oeiras e em Grijó, V.N. Gaia.<br />

José António Beleza Carvalho<br />

(jbc@isep.ipp.pt)<br />

Nasceu no Porto em 1959. Obteve o grau de B.Sc em engenharia electrotécnica no Instituto<br />

Superior de Engenharia do Porto, em 1986, e o grau de M.Sc e Ph.D. em engenharia electrotécnica<br />

na especialidade de sistemas de energia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em<br />

1993 e 1999, respectivamente.<br />

Actualmente, é Professor Coordenador no Departamento de Engenharia Electrotécnica do<br />

Instituto Superior de Engenharia do Porto, desempenhando as funções de Director do<br />

Departamento.<br />

306


COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />

José Jacinto Gonçalves Ferreira<br />

(jacintoferreira@googlemail.com)<br />

Engenheiro Electrotécnico na Área de Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior de<br />

Engenhariado Porto.<br />

Chefe de Serviço Após-Vendana Schmitt - Elevadores, Lda<br />

Luís Filipe Caeiro Castanheira<br />

(lcc@isep.ipp.pt)<br />

Licenciadoe Mestre em Engenharia Electrotécnica.<br />

Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do<br />

Porto.<br />

Luís António Sequeira Peixoto<br />

Bacharelatoem Engenharia Electrotécnica<br />

Director de Formação, AssistênciaTécnica e Gestor de Produto , Televés.<br />

Manuel José Rodrigues Cunha<br />

(manuel-r-cunha@telecom.pt)<br />

Licenciado em Engenharia Electrotecnia - Sistemas Eléctricos de Energia pelo Instituto Superior de<br />

Engenhariado Porto<br />

Coordenadorda área técnica norte do Canal Imobiliário, Portugal Telecom.<br />

Miguel Leichsenring Franco<br />

(m.franco@schmitt-elevadores.com)<br />

Licenciado em Engenharia Electrotécnica – Sistemas Eléctricos de Energia, pelo Instituto Superior<br />

de Engenharia do Porto.<br />

Master in Business Administration (MBA) com especialização em Marketing pela Universidade<br />

CatólicaPortuguesa– Lisboa.<br />

Licenciado em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa –<br />

Porto.<br />

Administradorda Schmitt-Elevadores,Lda.<br />

307


COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />

Nelson Ferreira da Silva<br />

(1071169@isep.ipp.pt)<br />

Licenciadoem Engenharia Electrotécnicade Sistemas Eléctricosde Energia no ISEP.<br />

Encontra-sea frequentar o Mestrado em Sistemas Eléctricos de Energia no ISEP.<br />

Pedro Daniel Soares Gomes<br />

(1071106@isep.ipp.pt)<br />

A frequentar o 1º ano do Mestrado em Engenharia Electrotécnica – Sistemas Eléctricos de Energia,<br />

no InstitutoSuperior de Engenharia do Porto (2010/2011)<br />

Licenciado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia pelo Instituto Superior de<br />

Engenhariado Porto (2007/2008 - 2009/2010)<br />

Pedro Gerardo Maia Fernandes<br />

(1070172@isep.ipp.pt)<br />

Licenciado em Engenharia Eléctrotécnica - Sistemas Eléctricos de Energia, no Instituto Superior de<br />

Engenhariado Porto.<br />

Encontra-se a frequentar o curso Mestrado em Engenharia Electrotécnica - Sistemas Eléctricos de<br />

Energia.<br />

Pedro Miguel Azevedo de Sousa Melo<br />

(pma@isep.ipp.pt)<br />

Mestre em Automação, Instrumentação e Controlo pela Faculdade de Engenharia da Universidade<br />

do Porto.<br />

Aluno do Programa Doutoral em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Faculdade de<br />

Engenhariada Universidade do Porto.<br />

Docentedo InstitutoSuperior de Engenharia do Porto desde 2001.<br />

Desenvolveu actividade de projectistade instalaçõeseléctricas de BT na DHV-TECNOPOR.<br />

Roque Filipe Mesquita Brandão<br />

(rfb@isep.ipp.pt)<br />

Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Sistemas Eléctricos<br />

de Energia, pela Faculdade de Engenhariada Universidade do Porto.<br />

Aluno de doutoramento em Engenharia Electrotécnica e de Computadores na Faculdade de<br />

Engenhariada Universidade do Porto.<br />

Investigadordo INESC Porto, Laboratório Associado. Bolseiro da FCT.<br />

Desde 2001 é docente no Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior de<br />

Engenhariado Porto.<br />

Consultortécnico de alguns organismos públicos na área da electrotecnia.<br />

308


COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:<br />

Sérgio Filipe Carvalho Ramos<br />

(scr@isep.ipp.pt)<br />

Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Área Científica de Sistemas Eléctricos<br />

de Energia, pelo InstitutoSuperior Técnico de Lisboa.<br />

Aluno de doutoramento em Engenharia Electrotécnica e de Computadores no Instituto Superior<br />

Técnicode Lisboa.<br />

Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica do curso de Sistemas Eléctricos de<br />

Energiado InstitutoSuperior de Engenhariado Porto desde 2001.<br />

Prestação, para diversas empresas, de serviços de projecto de instalações eléctricas,<br />

telecomunicaçõese segurança, formação, assessoriae consultadoria técnica.<br />

Investigador do GECAD (Grupo de Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à<br />

Decisão),do ISEP, desde 2002.<br />

Sónia Viegas<br />

Licenciatura em Engenharia de Gestão Industrial no Ramo de Instrumentação e Controlo pelo<br />

InstitutoPolitécnicode Setúbal / Escola Superior de Tecnologia.<br />

Pós-Graduação em Energias Renováveis em Edifícios. Instituto Politécnico de Setúbal / Escola<br />

Superior de Tecnologia<br />

Eng.ª de Integração de Sistemas, Astratec (1 de Julho de 2009).<br />

Eng.ª de Gestão da Manutenção e Projecto, Gestimótica – Gestão Integrada de Edifícios (15 de<br />

Janeiro de 2001 – 28 de Fevereiro de 2009)<br />

Gestora de Produto de automação e sistemas de controlo e supervisão, Tecnilab Portugal (15 de<br />

Novembro de 1999 – 5 de Janeiro de 2001)<br />

Eng.ª Projectista de Automação Industrial, Nessie – Soluções em Automação (23 de Fevereiro de<br />

1998 – 31 de Maio de 1999)<br />

Eng.ª Projectista de Automação Industrial, Eurobótica Automação (1 de Novembro de 1995 – 20 de<br />

Fevereiro de 1998)<br />

Teresa Alexandra Ferreira Mourão Pinto Nogueira<br />

(tan@isep.ipp.pt)<br />

Licenciatura e mestrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, área científica de<br />

Sistemas de Energia, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.<br />

Doutoramento em Engenharia Electrotécnica e Computadores, pela Universidade de Trás-os-<br />

Montes e Alto Douro.<br />

Docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica, curso de Sistemas Eléctricos de Energia<br />

do ISEP – Instituto Superior de Engenharia do Porto. Investigadora no GECAD – Grupo de<br />

Investigaçãoem Engenharia do Conhecimento e Apoio à Decisão, desde 2003.<br />

O percurso profissional inclui o dimensionamento e projecto de transformadores de distribuição –<br />

EFACEC, empresa fabril de máquinas eléctricas.<br />

Subdirectorano Departamento de EngenhariaElectrotécnicano ISEP.<br />

309

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