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A CULTURA 79<br />

estou hoje?... Sei que estou linda") contra a invisível Lucy<br />

Snow ("Eu me vi no espelho... Não me impressionou essa<br />

imagem abatida") em Villette, de Charlotte Brontè; e<br />

em Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, a fútil Amy<br />

March, "uma estátua graciosa" contra Jo, menina quase<br />

masculinizada, que vende sua única beleza, o cabelo,<br />

para ajudar a família. Essa tradição chega até os nossos<br />

dias nos romances de Alison Lurie, Fay Weldon, Anita<br />

Brookner. As obras escritas por mulheres estão repletas<br />

das injustiças perpetradas pela beleza — tanto por sua<br />

presença quanto por sua ausência.<br />

Quando uma jovem lê os livros da cultura masculina,<br />

o mito subverte o que essas histórias parecem contar.<br />

Histórias contadas a crianças como parábolas de valores<br />

corretos perdem o sentido para as meninas à medida que<br />

o mito inicia seu trabalho. Consideremos a lenda de Prometeu,<br />

que é apresentada às crianças norte-americanas<br />

na terceira série primária sob o formato de história em<br />

quadrinhos. Para uma criança em processo de socialização<br />

na cultura ocidental, ela ensina que um grande homem<br />

arrisca tudo pela audácia intelectual, pelo progresso<br />

e pelo bem comum. No entanto, como uma futura mulher,<br />

a menina aprende que a mulher mais linda do mundo<br />

foi criada pelo homem, e que a audácia intelectual dela<br />

trouxe aos homens a primeira doença e a morte. O mito<br />

torna a menina que lê cética no que diz respeito à coerência<br />

moral das histórias de sua cultura.<br />

À medida que ela for crescendo, a duplicidade da sua<br />

visão se intensifica. Se ela ler o Retrato do artista quando<br />

jovem, de James Joyce, ela não deverá se perguntar<br />

por que motivo Stephen Dedalus é o herói da sua história.<br />

Já em Tess de d'Urbervilles, de Thomas Hardy, por<br />

que o foco da descrição caiu sobre ela, e não sobre qualquer<br />

outra das lavradoras de Wessex, saudáveis e ignorantes,<br />

que dançavam em círculos naquela manhã de<br />

maio? Ela foi vista e considerada bonita; por isso, tudo<br />

aconteceu a ela — a riqueza, a indigência, a prostituição,<br />

o verdadeiro amor e a forca. Sua vida, no mínimo, se tor-

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