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72 O MITO DA BELEZA<br />

za profissional e não pessoal. Enquanto seus colegas do<br />

sexo masculino têm o exemplo de uma geração anterior,<br />

de homens mais velhos e bem-sucedidos que aparentam<br />

a idade que têm, as mulheres contemporâneas dispõem<br />

de poucos modelos semelhantes.<br />

Essa exigência profissional de uma cirurgia estética<br />

conduz as mulheres a uma realidade alternativa no mercado<br />

de trabalho, com base em idéias a respeito do uso<br />

de seres humanos como trabalhadores, idéias que não são<br />

aplicadas aos homens desde a abolição da escravatura,<br />

pois antes dela um senhor de escravos tinha o direito de<br />

submeter sua mão-de-obra a mutilações físicas. É claro<br />

que o sistema cirúrgico não tem nenhuma relação com<br />

o sistema escravocrata, mas com sua crescente procura de<br />

alterações permanentes, dolorosas e arriscadas do corpo,<br />

ele constitui uma categoria — como a tatuagem, a marcação<br />

e a escarificação em outros lugares e em outras épocas<br />

— que se situa em algum ponto entre um sistema escravocrata<br />

e um mercado livre. O senhor de escravos podia<br />

amputar o pé de um escravo que resistisse ao controle;<br />

o empregador, com esse novo recurso, pode de fato<br />

eliminar partes do rosto de uma mulher. Num mercado<br />

livre, o que é vendido ao empregador é o trabalho; o corpo<br />

continua a pertencer à mulher.<br />

A cirurgia estética e a ideologia do aperfeiçoamento<br />

pessoal podem ter tornado obsoleta a esperança das mulheres<br />

de recorrerem à justiça. Podemos compreender melhor<br />

como é insidiosa essa situação se tentarmos imaginar<br />

um processo contra discriminação racial instaurado<br />

em desafio a uma tecnologia poderosa que transforma,<br />

com muita dor, pessoas não-brancas para que pareçam<br />

ser mais brancas. Atualmente, um empregado de cor negra<br />

pode alegar que não quer parecer mais branco e que<br />

não deveria ter de ser mais branco para manter seu emprego.<br />

Ainda não começamos a pressionar pelos direitos<br />

civis das mulheres que permitirão a qualquer mulher dizer<br />

que prefere se parecer consigo mesma do que com alguma<br />

"linda" estranha. Embora a QBP classifique as mu-

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