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382 O MITO DA BELEZA<br />

As mulheres culpam os homens por olhar sem escutar.<br />

Mas nós fazemos o mesmo; talvez ainda mais do que<br />

eles. Temos de parar de interpretar a aparência umas das<br />

outras como se a aparência fosse uma linguagem, um compromisso<br />

político, valor ou agressão. É muitíssimo possível<br />

que o que uma mulher queira dizer às outras seja<br />

muito mais complexo e cheio de compreensão do que a<br />

mensagem truncada da sua aparência lhe permite transmitir.<br />

Comecemos com uma reinterpretação da "beleza"<br />

que negue a competição, a hierarquia e a violência. Por<br />

que motivo o orgulho e o prazer de uma mulher têm de<br />

representar a dor para outra mulher? Os homens somente<br />

entram em competição no campo sexual quando estão<br />

concorrendo nesse campo, mas o mito coloca as mulheres<br />

em competição "sexual" em qualquer situação. É rara<br />

a competição por um parceiro sexual específico. Como<br />

geralmente não se trata de uma competição "pelos homens",<br />

ela não é inevitável do ponto de vista biológico.<br />

Nós mulheres competimos assim "pelas outras mulheres"<br />

em parte por sermos devotas da mesma seita e<br />

em parte para preencher, mesmo que temporariamente,<br />

o buraco negro criado pelo mito já de início. A concorrência<br />

hostil pode muitas vezes comprovar o que a atual<br />

organização sexual reprime: a nossa atração física mútua.<br />

Se redefinirmos a sexualidade de forma a afirmar a<br />

atração que existe entre nós, o mito não nos incomodará<br />

mais. A beleza das outras mulheres não será uma ameaça<br />

ou um insulto, mas um prazer e uma homenagem. Nós<br />

poderemos nos vestir e nos adornar sem medo de magoar<br />

e trair outras mulheres, ou de sermos acusadas de falsas<br />

lealdades. Poderemos, então, nos enfeitar para festejar o<br />

prazer compartilhado do corpo feminino, agindo assim<br />

"para as outras mulheres", numa oferta positiva, e não<br />

negativa, do eu.<br />

Quando nos permitirmos a vivência dessa atração física,<br />

o mercado não mais poderá lucrar com a sua representação<br />

dos desejos dos homens. Nós, sabendo em pri-

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