05.08.2014 Views

o_18uj0ggsurp7ahj1c02eb11j7s9.pdf

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

362 O MITO DA BELEZA<br />

funcionou tomando o melhor da cultura feminina e anexando<br />

a ele as exigências mais repressoras das sociedades<br />

dominadas pelos homens. Essas formas de resgate foram<br />

impostas ao orgasmo feminino na década de 1920, ao lar,<br />

filhos e família na década de 1950, à cultura da beleza<br />

nos anos oitenta. Com essa tática, perdemos tempo em<br />

cada geração debatendo com maior paixão os sintomas<br />

do que a doença.<br />

Podemos ver esse padrão da promoção interesseira<br />

de ideais — eloqüentemente salientada na obra de Barbara<br />

Ehrenreich e Deirdre English — em toda a nossa história<br />

recente. Precisamos atualizá-lo com o mito da beleza,<br />

para chegarmos a ele de uma vez por todas. Se não<br />

o fizermos, assim que destruirmos o mito da beleza, uma<br />

nova ideologia surgirá em seu lugar. Em essência, o mito<br />

da beleza não está ligado à aparência, às dietas, à cirurgia<br />

ou aos cosméticos, tanto quanto a Mística Feminina<br />

não estava ligada ao serviço doméstico. Ninguém que seja<br />

responsável pelos mitos da feminilidade a cada geração<br />

realmente se importa com os sintomas.<br />

Os arquitetos da Mística Feminina não acreditavam<br />

de verdade que um chão que parecesse um espelho indicasse<br />

uma virtude fundamental nas mulheres. Durante a<br />

minha própria vida, quando a idéia da irregularidade psíquica<br />

de origem menstrual foi inabilmente ressuscitada<br />

como um último recurso para retardar as exigências do<br />

movimento das mulheres, ninguém estava realmente convencido<br />

da incapacidade menstrual por si. Da mesma forma,<br />

o mito da beleza não se importa nem um pouco com<br />

o peso das mulheres. Ele não quer saber da textura do<br />

cabelo ou da maciez da nossa pele. A nossa intuição nos<br />

diz que, se todas voltássemos amanhã para dentro de casa<br />

e disséssemos que na verdade não estávamos agindo<br />

a sério, que não precisamos dos empregos, da autonomia,<br />

dos orgasmos, do dinheiro, o mito da beleza se afrouxaria<br />

de imediato, tornando-se mais confortável.<br />

Essa percepção facilita a visão e a análise das verdadeiras<br />

questões por trás dos sintomas. Da mesma forma

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!