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A VIOLÊNCIA 353<br />

siano ou 'ocidental' ", ridiculariza "os narizes asiáticos"<br />

os "afro-caribenhos ('com a extremidade gorda e arredondada<br />

que precisa de correção')" e os "narizes orientais<br />

('com a extremidade... perto demais do rosto')". Além disso,<br />

"o nariz ocidental que exige correção invariavelmente<br />

exibe algumas das características dos narizes [nãobrancos]...<br />

embora o trabalho necessário seja mais sutil".<br />

As mulheres brancas, lado a lado com as negras e as orientais,<br />

se submetem à cirurgia não em conseqüência de uma<br />

vaidade egoísta, mas por uma reação racional à discriminação<br />

física.<br />

Quando examinamos a linguagem da Era da Cirurgia,<br />

um processo conhecido de degradação ecoa em nossa<br />

mente. Em 1938, parentes alemães de bebês deformados<br />

solicitavam a eutanásia. Robert Jay Lifton escreve que<br />

naquela atmosfera o Terceiro Reich enfatizava "o dever<br />

de ser saudável", pedia ao povo que "renunciasse ao antigo<br />

princípio individualista do 'direito ao próprio corpo'"<br />

e caracterizava os fracos e doentes como "consumidores<br />

inúteis".<br />

Recordemos o processo de reclassificação e como ele<br />

se amplia uma vez começada a violência. Os médicos nazistas<br />

começaram por esterilizar as pessoas com invalidez<br />

crônica, depois com pequenos defeitos, em seguida<br />

os "indesejáveis". No final, crianças judias sadias eram<br />

apanhadas pela rede porque o fato de serem judias já era<br />

uma doença suficiente. A definição da vida doente e dispensável<br />

logo se tornou "frouxa, abrangente e cada vez<br />

mais conhecida". Os "consumidores inúteis" eram simplesmente<br />

postos numa "dieta sem gordura" até que morressem<br />

de inanição. Eles já haviam recebido nutrição insuficiente,<br />

"e a idéia de não alimentá-los era algo que pairava<br />

no ar". Recordemos a caracterização de partes da<br />

mulher como já feridas, amortecidas, deformadas ou mortas.<br />

"Essas pessoas", diziam os médicos nazistas ao se<br />

referirem aos "indesejáveis", "já estão mortas". Uma linguagem<br />

que definia os "inadequados" como menos do<br />

que vivos acalmava a consciência dos médicos. Eles eram

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