05.08.2014 Views

o_18uj0ggsurp7ahj1c02eb11j7s9.pdf

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A VIOLÊNCIA 339<br />

mento dos danos causados às mulheres em nome da beleza.<br />

Como as mulheres supostamente são viciadas na "beleza",<br />

esse vício que ameaça a vida não é real. Como as<br />

mulheres deveriam sofrer para serem lindas — como o<br />

nosso sofrimento é lindo — a dor que sentimos é apenas<br />

um "mal-estar". Como o dinheiro das mulheres não é<br />

dinheiro de verdade, mas para alfinetes, e como as mulheres<br />

fazem loucuras pela "beleza" e o dinheiro nas mãos<br />

de um louco logo acaba, as práticas fraudulentas não são<br />

fraudes de fato e o dinheiro de brinquedo das mulheres<br />

está aí para isso mesmo. Como, para começar, nós mulheres<br />

somos seres deformados, não podemos realmente<br />

sofrer alguma deformação. Como somos por natureza fáceis<br />

de lograr em nossa busca da "beleza", nenhum logro<br />

é escandaloso.<br />

A dor é verdadeira quando se consegue que os outros<br />

acreditem nela. Se ninguém acredita nela, a não ser<br />

você, a sua dor é loucura, histeria ou sua própria incapacidade<br />

de se adequar. As mulheres aprenderam a se sujeitar<br />

à dor ao dar atenção a figuras autoritárias — médicos,<br />

sacerdotes, psiquiatras — que nos dizem que o que<br />

sentimos não é dor.<br />

Pede-se às mulheres que sejam estóicas diante da dor<br />

da cirurgia como se pedia que o fossem durante o parto.<br />

A igreja medieval fez valer a maldição de Eva, não permitindo<br />

nenhum alívio das dores do parto, segundo Woman<br />

Hating, uma análise da misoginia, de Andréa Dworkin.<br />

"A objeção católica ao aborto", diz Dworkin,<br />

"centrava-se especificamente na maldição bíblica que fazia<br />

do parto um castigo doloroso. Ela não estava ligada ao<br />

'direito à vida' do feto." A poeta Adrienne Rich lembra<br />

às mulheres que "o patriarcado dizia à mulher em trabalho<br />

de parto que o seu sofrimento era proposital — era<br />

o objetivo da sua existência, que a nova vida que ela estava<br />

dando à luz (especialmente se fosse do sexo masculino)<br />

tinha valor e que o seu próprio valor dependia do<br />

que produzisse". O mesmo vale para a "nova vida" da<br />

"beleza" cirúrgica. O Grupo da Mulher e da Ciência de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!