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326 O MITO DA BELEZA<br />

segundo os quais pacientes de vinte e poucos anos de idade<br />

são submetidas a liftings preventivos que são, nas palavras<br />

de um médico, "pura cascata de marketing", os critérios<br />

para a clitoridectomia tiveram a princípio uma definição<br />

restrita mas logo passaram a uma abrangência total.<br />

O Dr. Symington-Brown começou as clitoridectomias<br />

em 1859. Na década de 1860 ele já estava também removendo<br />

os lábios. Foi adquirindo confiança e passou a operar<br />

até meninas de dez anos de idade, débeis mentais, epilépticas,<br />

paralíticas e mulheres com problemas nos olhos.<br />

Uma viciada em cirurgia disse à revista She, "depois que<br />

se começa, o efeito é exponencial'. Ele operou cinco vezes<br />

mulheres que queriam se divorciar — devolvendo a<br />

cada vez a esposa ao marido. "A cirurgia... era uma cerimônia<br />

de estigmatização que levava à submissão pelo pavor.<br />

...A mutilação, a sedação e a intimidação psicológica...<br />

parecem ter sido uma forma eficaz, embora brutal,<br />

de lavagem cerebral." "A clitoridectomia", escreve Showalter,<br />

"é a imposição cirúrgica de uma ideologia que restringe<br />

a sexualidade feminina à reprodução", da mesma<br />

forma que a cirurgia plástica do seio é a imposição de<br />

uma ideologia que restringe a sexualidade feminina à "beleza".<br />

As mulheres vitorianas se queixavam de terem sido<br />

levadas ao tratamento por ardis e coação, como se queixaram<br />

as mulheres americanas que em 1989 descreveram<br />

à apresentadora de programa de entrevistas Oprah Winfrey<br />

as mutilações genitais a elas infligidas sem seu consentimento<br />

por um cirurgião convencido de poder melhorar<br />

seus orgasmos pela restauração cirúrgica<br />

Não se trata de coincidência que a cirurgia dos seios<br />

esteja em expansão numa época em que a sexualidade feminina<br />

representa uma ameaça tão grande. Isso também<br />

vale para a era vitoriana, quando os médicos tratavam<br />

a amenorréia com a colocação de sanguessugas diretamente<br />

na vagina ou no cérvice e cauterizavam o útero com<br />

corrimento com ácido crômico. "A operação... não é o<br />

que conta", diz uma paciente de rinoplastia, "pois não<br />

se dava nenhuma importância à agonia mental e à tortura

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