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A VIOLÊNCIA 311<br />

espaço de propaganda. Em setembro de 1990, a permuta<br />

já se estabilizara. A revista Cosmopolitan apresentava uma<br />

matéria exageradamente elogiosa numa edição patrocinada<br />

por propaganda de cirurgias de folha inteira e em<br />

quatro cores. Chegou uma hora em que a relação entre<br />

a cirurgia estética, as verbas de propaganda, os riscos e<br />

as advertências está repetindo as restrições feitas pelos<br />

anunciantes de cigarros ao jornalismo contrário ao fumo,<br />

antes que a Diretoria Nacional de Saúde tomasse sua<br />

posição. Como os jornalistas recebem pouquíssimo estímulo<br />

para expô-los ou ir ao seu encalço (na realidade,<br />

eles recebem, sim, estímulo para não agir dessa forma,<br />

já que a principal organização de cirurgiões estéticos oferece<br />

um prêmio jornalístico de quinhentos dólares, com<br />

duas passagens aéreas de graça), o status e a influência<br />

dos cirurgiões continuarão a se elevar. Como atendem a<br />

necessidades culturais, não biológicas, eles podem continuar<br />

a acumular poder sobre a vida ou a morte social e<br />

econômica das mulheres. Se isso acontecer, logo eles serão<br />

o que muitos parecem querer ser: deuses em miniatura,<br />

que ninguém vai querer irritar.<br />

Se de repente as mulheres deixassem de se sentir feias,<br />

a especialidade médica que mais prospera passaria a ser<br />

a que mais regride. Em muitos estados dos Estados Unidos,<br />

onde qualquer médico sem especialização pode ser<br />

um cirurgião estético (ao contrário dos cirurgiões plásticos,<br />

que se especializam em queimaduras, traumatismos<br />

e defeitos de nascença), isso significaria para os médicos<br />

a volta ao sarampo e às hemorróidas, condições que nenhuma<br />

propaganda pode agravar. Para que vivam bem<br />

como vivem, eles dependem de vender às mulheres uma<br />

sensação de feiúra terminal. Se você disser a alguma mulher<br />

que ela está com câncer, não poderá fazer surgir nela<br />

a doença e sua agonia. No entanto, se disser com bastante<br />

convicção a uma mulher que ela é feia, você de fato<br />

cria essa "doença", e a sua agonia é real. Se você fizer<br />

um pacote em que seu anúncio saia ao lado de um artigo<br />

que promova a cirurgia estética, num contexto que faz

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