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298 O MITO DA BELEZA<br />

solução política tão útil quanto a Donzela de Ferro. Nas<br />

palavras da escritora francesa Catherine Clément, "A história<br />

[era] tolerada porque de fato não tinha nenhum poder<br />

de realizar mudanças culturais. É muito mais seguro<br />

para a ordem patriarcal permitir que mulheres insatisfeitas<br />

exprimam suas queixas através de doenças psicossomáticas<br />

do que vê-las agitando por direitos legais e econômicos."<br />

A pressão social exigia que as mulheres instruídas<br />

e ociosas da classe média, por sua doença, evitassem<br />

causar problemas, e essa hipocondria forçada parecia<br />

à paciente uma doença real. Por motivos semelhantes,<br />

atualmente, a pressão social exige que nós mulheres<br />

nos defendamos das implicações da nossa recente descoberta<br />

dos nossos corpos com a sensação da feiúra, e esse<br />

amor-próprio forçosamente enfraquecido parece à paciente<br />

uma "feiúra" real.<br />

Os cirurgiões estão tomando a redefinição feminista<br />

da saúde como beleza, desvirtuando-a na idéia de que<br />

a "beleza" é a saúde e, por conseguinte, o que quer que<br />

estejam vendendo como saúde: a fome como saúde, a dor<br />

e a carnificina como saúde. Em tempos passados, a angústia<br />

e a enfermidade já representaram a "beleza". No<br />

século XIX, a mulher tuberculosa, de olhos rutilantes, pele<br />

nacarada e lábios febris, era a ideal. Gender and Stress<br />

descreve a idealização das snoréxicas por parte dos meios<br />

de comunicação. A iconografia da época vitoriana idealizava<br />

"belas" histéricas desmaiando diante de médicos<br />

do sexo masculino, médicos em hospícios observando com<br />

lascívia os corpos debilitados das anoréxicas sob seus cuidados,<br />

e mais tarde manuais de psiquiatria sugerindo aos<br />

médicos que admirassem "o rosto calmo e belo" da mulher<br />

anestesiada que foi submetida à terapia por choques.<br />

Como a atual cobertura do ideal cirúrgico por parte do<br />

jornalismo destinado às mulheres, o jornalismo vitoriano<br />

tinha como alvo as mulheres tornadas líricas pela atração<br />

sentimental da fraqueza, da invalidez e da morte.<br />

Há um século, a atividade feminina normal, especialmente<br />

aquela que conduziria a mulher ao poder, era

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