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200 O MITO DA BELEZA<br />

Sasha estava fingindo ser na foto estava agachada numa<br />

cama elegantemente desarrumada, com os lençóis repuxados<br />

como cabeças de repolho que se abriram demais.<br />

A sua própria cama, na qual estávamos sentadas olhando<br />

as fotos, era de solteiro, bem arrumada, austera, coberta<br />

com uma colcha de algodão cinza. Acima de nós,<br />

estavam as peças de Shakespeare em edições já muito manuseadas,<br />

seu livro de biologia e uma calculadora. Nada<br />

de colares de pérolas, abotoaduras de diamantes; nada<br />

de gladíolos chocantes com seus estames salientes. A coisa<br />

em que transformaram Sasha estava com as costas arqueadas<br />

de forma que a parte inferior dos seus seios recebesse<br />

a luz. "Coitada da sua coluna", disse eu, pensandc<br />

na tensão dos ombros. Sasha tinha escoliose. Usava un<br />

aparelho de aço e espuma rígida. O aparelho existia nu<br />

ma dimensão externa àquela janela recortada, ao sofisti<br />

cado pôr-do-sol alaranjado que nós duas examinávamos,<br />

Os lábios brilhosos de Sasha estavam abertos deixando<br />

ver os dentes como se ela tivesse enfiado a mão em águi<br />

fervente. Os olhos estavam semicerrados, e a Sasha dentro<br />

deles eliminada. Como eu, ela era virgem.<br />

Recordando aquele tempo, imagino como a imagen<br />

teria saído naquele fim de semana, numa explosão de vida<br />

própria entre colunas de texto. Mil mulheres adulta?,<br />

que saberiam segredos que nós duas nem podíamos ccmeçar<br />

a imaginar, olhariam para a imagem fixamente. Elas<br />

tirariam a roupa e escovariam os dentes. Elas dariam uma<br />

volta diante do espelho debaixo do zumbido da lâmpada,<br />

e a casca polida e iluminada do corpo de Sasha giraria<br />

acima das suas cabeças no céu escuro da noite. Elas<br />

desligariam a luz e iriam para as suas camas largas, quentes<br />

e cheias de vida, para braços que as esperavam, himilhadas,<br />

com o passo mais pesado.<br />

O vínculo entre a pornografia da beleza e o sexo nâo<br />

é natural. Supõe-se que seja natural no homem o desejo<br />

de ter acesso visual a uma série infinita de pôsteres diferentes,<br />

já que essa forma de atividade visual seria una<br />

sublimação da promiscuidade inata dos homens. No en-

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