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22 O MITO DA BELEZA<br />

ro original era um instrumento de tortura da Alemanha<br />

medieval, uma espécie de caixão com a forma de um corpo,<br />

que trazia pintados os membros e o rosto de uma jovem<br />

bela e sorridente. A pobre vítima era ali encerrada<br />

lentamente. Quando a tampa se fechava, a vítima ficava<br />

imobilizada e morria de inanição ou, de modo menos<br />

cruel, morria perfurada pelos espigões de ferro encravados<br />

na parte interna do caixão. A alucinação moderna<br />

que prende as mulheres, ou na qual elas mesmas se prendem,<br />

é da mesma forma cruel, rígida e adornada de eufemismos.<br />

A cultura contemporânea dirige a atenção para<br />

as metáforas da Donzela de Ferro enquanto censura o rosto<br />

e o corpo das mulheres de verdade.<br />

Por que motivo a ordem social sente necessidade de<br />

se defender evitando a realidade das mulheres, nossos rostos,<br />

nossos corpos, nossas vozes, e reduzindo o significado<br />

das mulheres a essas "belas" imagens formuladas e<br />

reproduzidas infinitamente? Embora ansiedades pessoais<br />

e inconscientes possam representar uma força poderosa<br />

na criação de uma mentira vital, a necessidade econômica<br />

praticamente garante a sua existência. Uma economia<br />

que depende da escravidão precisa promover imagens de<br />

escravos que "justifiquem" a instituição da escravidão.<br />

As economias ocidentais são agora inteiramente dependentes<br />

da continuidade dos baixos salários pagos às mulheres.<br />

Uma ideologia que fizesse com que nos sentíssemos<br />

valendo menos tornou-se urgente e necessária para<br />

se contrapor à forma pela qual o feminismo começava<br />

a fazer com que nos valorizássemos mais. Isso não exigia<br />

uma conspiração; bastava uma atmosfera. A economia<br />

contemporânea depende neste exato momento da representação<br />

das mulheres dentro dos limites do mito da<br />

beleza. O economista John Kenneth Galbraith apresenta<br />

uma explicação econômica para a "persistência da opinião<br />

de que ser dona-de-casa é uma vocação 'maior'".<br />

Para ele o conceito de que as mulheres estão por natureza<br />

presas à Mística Feminina "nos foi forçado pela psicologia<br />

popular, pelas revistas e pela ficção para disfar-

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