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136 O MITO DA BELEZA<br />

diantes". Muitas religiões usam metáforas de luz para a<br />

divindade. O rosto de Moisés, quando ele desceu o Monte<br />

Sinai, ofuscava como o sol, e a iconografia medieval<br />

cercava os santos com halos. A indústria dos santos óleos<br />

promete vender de volta às mulheres, em tubos e potes,<br />

a luz da graça; redimir os corpos femininos, agora que<br />

os cultos à virgindade e à maternidade não podem mais<br />

se propor a cercar com uma luz sagrada o corpo cuja sexualidade<br />

foi cedida a outras pessoas.<br />

A luz é de fato a questão central a uma forma inata<br />

de ver a beleza que é partilhada por muitos homens e mulheres,<br />

se não o for pela maioria deles. Essa maneira de<br />

ver é o que o mito da beleza se esforça para reprimir. Ao<br />

descrever esse tipo de luz ou ao fazer com que a descrevam,<br />

as pessoas se sentem pouco à vontade, descartando-a<br />

rapidamente como sentimentalismo ou misticismo. Creio<br />

que a origem dessa negação não reside no fato de não<br />

vermos esse fenômeno, mas, sim, no fato de o vermos com<br />

tanta nitidez, e de que mencioná-lo em público ameaça<br />

algumas premissas básicas da nossa organização social.<br />

Essa luz é uma prova incomparável de que as pessoas não<br />

são coisas. As pessoas "se iluminam", e os objetos não.<br />

Aceitar sua existência desafiaria um sistema social que<br />

funciona por designar algumas pessoas como mais coisificadas<br />

do que as outras e todas as mulheres como mais<br />

coisificadas do que todos os homens.<br />

Essa luz não é visível em fotografias, não pode ser<br />

medida numa escala de um a dez, nem ser quantificada<br />

num resultado de laboratório. No entanto, a maioria das<br />

pessoas tem consciência de que uma espécie de luz radiosa<br />

pode surgir de rostos e corpos, tornando-os verdadeiramente<br />

belos.<br />

Algumas pessoas consideram esse brilho inseparável<br />

do amor e da intimidade, não captado por uma visão<br />

separada, mas como parte do movimento ou da calidez<br />

de um familiar. Outras pessoas talvez a vejam na sexualidade<br />

de um corpo; ainda outras, na vulnerabilidade ou<br />

no humor. Ele muitas vezes surpreende ao surgir no ros-

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