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A RELIGIÃO 135<br />

Quando uma mulher, de costas para a câmera de televisão,<br />

descreve uma cirurgia malfeita dizendo que "ele acabou<br />

com a minha beleza. Com um golpe. Tudo se acabou",<br />

ela está exprimindo uma sensação de resignação<br />

desesperançada que faz lembrar a forma pela qual as sociedades<br />

pré-industriais reagiam às catástrofes naturais.<br />

Para entender a força primeva dessa religião, precisamos<br />

perceber que os homens morrem uma vez e as mulheres,<br />

duas. Elas primeiro morrem como beldades antes<br />

que seus corpos morram realmente.<br />

Hoje em dia, mulheres no apogeu da beleza mantêm<br />

em mente um espaço para a perspectiva da sua diminuição<br />

e da sua perda. A conscientização medieval da<br />

morte, de que "toda a carne é pó", os memento mori,<br />

mantinha os homens economicamente alinhados com a<br />

igreja, que lhes podia oferecer uma "nova vida" para além<br />

da duração natural da vida. A insistência para que as mulheres<br />

pensem constantemente na fragilidade e na efemeridade<br />

da beleza é uma forma de tentar nos manter subservientes,<br />

alimentando em nós um fatalismo que não faz<br />

parte do pensamento ocidental masculino desde o Renascimento.<br />

Ensinadas que Deus ou a natureza nos concedem<br />

ou não a "beleza" — de forma aleatória, sem apelação<br />

— vivemos num mundo em que a mágica, as orações<br />

e a superstição fazem sentido.<br />

A luz<br />

O pecado de Eva representou para as mulheres a responsabilidade<br />

pela perda da graça. Durante o Renascimento,<br />

a "graça" foi redefinida como um termo secular, sendo<br />

usado para descrever o rosto e o corpo de mulheres<br />

"lindas".<br />

Os cremes para a pele — os "santos óleos" da nova<br />

religião — prometem nos anúncios tornar as mulheres "ra-

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