desvelando a participação das mulheres na história de uma - UTFPR
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É exatamente o que observamos <strong>na</strong> Escola <strong>de</strong> Aprendizes Artífices, atual<br />
Universida<strong>de</strong> Tecnológica Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus primeiros anos quando<br />
encontramos <strong>mulheres</strong> atuando nos níveis elementares <strong>de</strong> ensino. Por terem<br />
recebido <strong>uma</strong> educação restrita, elas não tinham qualificação necessária para<br />
atuarem em outras discipli<strong>na</strong>s, a não ser <strong>na</strong>s elementares. Percebemos um círculo<br />
vicioso: se não tinham a qualificação permaneciam segrega<strong>das</strong> a áreas liga<strong>das</strong> a<br />
suas características consi<strong>de</strong>ra<strong>das</strong> <strong>na</strong>turais.<br />
E Almeida ainda chama atenção para o fato <strong>de</strong> que a ativida<strong>de</strong> não era<br />
estendida a to<strong>das</strong> as <strong>mulheres</strong>:<br />
Logicamente, isso estava restrito às <strong>mulheres</strong> <strong>das</strong> classes privilegia<strong>das</strong>.<br />
Para as <strong>mulheres</strong> do povo a ausência <strong>de</strong> instrução e o trabalho pela<br />
sobrevivência sempre foram <strong>uma</strong> dura realida<strong>de</strong>. O mesmo po<strong>de</strong> ser dito a<br />
respeito <strong>de</strong> raça e, para as <strong>mulheres</strong> negras, o estigma da escravidão<br />
perdurou por muito tempo, só lhes restando os trabalhos <strong>de</strong> nível inferior e a<br />
total ausência <strong>de</strong> instrução (ALMEIDA, 1998, p. 35).<br />
Ela afirma que as <strong>mulheres</strong> que ingressavam no magistério primário eram<br />
“notadamente da classe média que se alicerçava no panorama socioeconômico do<br />
país”; estas <strong>mulheres</strong> enxergaram<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aliar ao trabalho doméstico e à maternida<strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />
profissão revestida <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> e prestígio social [o que] fez que “ser<br />
professora” se tor<strong>na</strong>sse extremamente popular entre as jovens e, se, a<br />
princípio, temia-se a mulher instruída, agora tal instrução passava a ser<br />
<strong>de</strong>sejável, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que normatizada e dirigida para não oferecer riscos sociais<br />
(ALMEIDA, 1998, p. 28).<br />
Portanto, o ingresso foi permitido para poucas e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que mantendo as<br />
“regras” sociais <strong>de</strong> não perturbar o andamento do que se entendia como a<strong>de</strong>quado<br />
para elas e mais ainda para manter a lógica <strong>de</strong>sejada. Porém a autora ressalta que<br />
em alguns casos, citando como exemplo a Escola Normal no Seminário da Glória,<br />
as matrículas eram <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>das</strong> às órfãs e jovens pobres que precisavam do trabalho<br />
para sobreviver, já que não tinham como <strong>de</strong>stino certo o casamento como garantia<br />
<strong>de</strong> futuro (ALMEIDA, 1998).<br />
Não obstante muitas <strong>mulheres</strong> terem concordado com as condições, já que<br />
só a saída para o espaço público já era um gran<strong>de</strong> feito, muitas não se contentaram