desvelando a participação das mulheres na história de uma - UTFPR

48
en razón de su constitución, o por defecto de su potencia intelectual, y organización
física, deben o no tener otras ocupaciones que las de la rueca, calceta y aguja,
como pretenden algunos hombres, o deberá dárseles otra educación que la que se
les da actualmente, y cuál sea ésta 33 (1801). Só pelo título da obra é possível
perceber a preocupação do autor em compreender o que seria melhor para as
Ciências e Artes 34 – a participação ou não das mulheres e qual o futuro que a elas
seria definido por eles: receber educação e qual educação. Mais uma vez alertamos
que esta questão será retomada em tópico específico, quando trataremos
especificamente da condição da educação e o que ela possibilita às mulheres.
Da passagem do século XVII para o XVIII temos a escritura da história de
uma “nova Ciência” (LIRES, ANGÓS e PAIRÓ, 2003), e nesta é possível encontrar
registros de um espaço que, ao lado das Academias europeias de Ciência, foi
reservado à difusão da nova Ciência na Europa: nos “salones” 35 se discutiam as
concepções e teorias de nomes como Descartes e Newton, e neles era permitido a
algumas privilegiadas adentrar; as que recebiam este privilégio eram chamadas
“salonières” ou “damas de Ciência”. Elas normalmente iam levadas por algum
homem: irmãos, maridos, pais, enfim. Os salones eram lugares muito populares em
que se tinha acesso privilegiado à Ciência, algo estendido inclusive para aquelas
mulheres que não tivessem tantos recursos para tal (LIRES, ANGÓS e PAIRÓ,
2003), e talvez por isso, as Cortes europeias não aceitavam tranquilamente sua
existência.
Vale lembrar que as mulheres, ainda que pudessem aceder aos salones,
não tinham tanta liberdade de atuação; acreditava-se que não era interessante que
se dedicassem à filosofia natural (como a Ciência era chamada) ou às matemáticas.
Ainda assim pode-se dizer que este foi um momento de muita importância, porque
33 “Discurso Filosófico Econômico Político sobre a capacidade ou incapacidade natural das mulheres
para as Ciências e as Artes, e se em razão de sua constituição, ou por defeito de sua potência
intelectual, e organização física, devem ou não ter outras ocupações que as da roca, meia calça e
agulha, como pretendem alguns homens, ou deverá dar a elas outra educação que a que lhes dá
atualmente, e qual seja esta”.
34 Chamamos atenção para o fato de o autor colocar Ciências e Artes lado a lado; se consideramos o
contexto em que o fez, podemos afirmar que até que se estabelecesse a concepção de que as
Ciências estão pautadas na racionalidade, a separação entre objetividade e subjetividade da Ciência
e das Artes, respectivamente, não estava tão clara para alguns pensadores da época.
35 Garcia e Sedeño (s.d.) e Schiebinger (2001) também citam os salones como fundamentais para a
aproximação das mulheres das discussões científicas.