Cavaquistas querem que Vítor Gaspar saia - Europa

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8 Público Domingo 29 Janeiro 2012 O país mais pobre Grandes empresas investiram menos 1700 milhões em 2011 Além da pressão para reduzir custos, com consequências directas para os fornecedores, as empresas públicas e privadas colocaram um travão sério ao crescimento a longo prazo Raquel Almeida Correia a Há uma contenção de custos generalizada nas empresas públicas e privadas. Um esforço para reagir com poupança aos males da crise, que afecta fornecedores, trabalhadores e até o desenvolvimento das regiões onde estão instaladas. Mas mais do que estes cortes imediatos, há um bloqueio em relação ao futuro. Até Setembro, os investimentos das maiores empresas cotadas portuguesas recuaram quase 23%. Nas empresas do Estado, crescer deixou de ser uma hipótese. Os resultados mais recentes das 20 empresas que compõem o índice PSI 20, relativos aos primeiros nove meses de 2011, mostram que metade cortou no investimento, o que resultou numa perda de 1700 milhões de euros. Este recuo segue a tendência já verifi cada desde o início do ano, mas que se intensifi cou no terceiro trimestre. Entre Janeiro e Junho, tinha-se registado uma queda de 900 milhões de euros, que agora se agravou. Olhando para o sector privado, nos mais variados sectores de actividade, os tempos têm sido de emagrecer, de pôr ideias na prateleira e não de investir. Um dos casos que mais poeira levantou foi o da Nissan, que anunciou em Dezembro a suspensão da unidade industrial que tinha planeado construir em Cacia, Aveiro. O projecto foi anunciado em 2009, com um investimento associado de 250 milhões de euros. Estes recuos não podem ser dissociados da instabilidade que o país e o mundo atravessam, provocando, no caso da indústria automóvel, quebras fortes no consumo que obrigam as empresas a repensar os planos. O mesmo se passa no sector público, onde, além do mercado, as empresas têm sobre si outro peso: a obrigação de respeitar as directrizes do accionista Estado — sob pressão de um programa de ajustamento económico que têm de cumprir. Ordem para recuar No sector empresarial do Estado (SEE) as indicações são claras: só há novos projectos para quem os conseguir pagar. O Governo impôs tectos máximos de endividamento às empresas públicas, impedindo-as de aumentarem o passivo fi nanceiro e, com isso, de desequilibrarem as contas do Estado. Mas, mesmo assim, as previsões apontam para derrapagens. E, por isso, o futuro está hoje a ser gerido em marcha-atrás. Ainda esta semana soube-se que foi suspensa a construção da estação de metro da Reboleira (Amadora), que iria funcionar como um interface da CP e da Metro de Lisboa com capaci- O Ministério da Saúde ainda não sabe quando vai poder começar a pagar as dívidas em atraso aos seus fornecedores. A ideia era começar a utilizar a verba de 1500 milhões de euros, que resultou da integração no Estado do Fundo de Pensões da Banca, em Fevereiro, mas o atraso na aprovação e entrada em vigor da nova Lei dos Compromissos está a impedir a disponibilização do dinheiro. O assessor de imprensa do ministro da Saúde, Miguel Vieira, confirmou ao PÚBLICO que ainda “não há previsão para começar a pagar” uma vez que a troika exige “um compromisso do Governo para criar um conjunto dade para servir milhares de pessoas. A obra foi anunciada em 2008, ainda com Ana Paula Vitorino na Secretaria de Estado dos Transportes e tinha um custo inicialmente previsto de 58 milhões de euros, que derrapou. Contava-se que fi casse concluída no segundo semestre deste ano. Na área dos transportes públicos, não faltam freios. Até porque todo o sector está em profunda reestruturação, que culminará, dew acordo com os planos do Governo, em fusões de empresas em Lisboa e no Porto, na suspensão de linhas e serviços e em milhares de rescisões com trabalhadores. Este travão não é, porém, um exclusivo das empresas de transportes. Outras companhias do Estado estão a inverter a marcha: os CTT, por exemplo, avançaram em 2011 com o encerramento de cerca de 100 estações de correios. Tanto no sector público, como no privado, teme-se que estes recuos co- Na Saúde, há áreas em que se poupa mas o problem de procedimentos de forma a evitar nova dívida”. “Além do compromisso de que os hospitais só podem encomendar produtos aos fornecedores com dinheiro em caixa, o ministério está a preparar vários procedimentos” para evitar a contracção de nova dívida, acrescentou. O ministro das Finanças admite riscos na execução orçamental do Ministério da Saúde, que mostra estar a poupar nos custos com pessoal e comparticipações dos medicamentos, mas não consegue travar o aumento do valor das dívidas aos fornecedores do Serviço Nacional de Saúde

loquem em risco o crescimento a longo prazo. Manuel Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, diz que há “um empobrecimento que não traz nada de bom à economia”. A ausência de novas obras, que tem levado o sector à fragilidade, signifi - ca também que “há uma degradação mais geral, que impede a criação de postos de trabalho, ganhos para fornecedores e até o desenvolvimento do território”. Tesouradas de curto prazo Mas os efeitos desta tendência também se sentem no curto prazo, com a vaga de redução de custos que as empresas parecem ter assumido como regra número um do manual para sobreviver à crise. No PSI 20, metade das empresas cortaram nas despesas, de acordo com os resultados até Setembro de 2011. Além dos gastos com a é pagar o que deve (SNS), nomeadamente na área do medicamento hospitalar. De acordo com os números mais recentes disponibilizados ao PÚBLICO pelas associações dos dois principais fornecedores do sector, a dívida aos laboratórios farmacêuticos e empresas de dispositivos médicos ultrapassou os dois mil milhões de euros no final de 2011. Ou seja, mesmo que o ministério pagasse agora a totalidade da verba que vai ser libertada pelas Finanças, ainda ficaria a dever 500 milhões só a estes dois grupos de empresas. Dados provisórios da Associação Portuguesa da pessoal, aplicam tesouradas em serviços básicos, seja electricidade, papel ou transportes. Também têm feito pressão sobre fornecedores de ideias, cortando tudo o que vêem como menos indispensável. Neste fi ltro, uma das primeiras vítimas é o marketing. “Para conseguirem melhorar os seus resultados, [as empresas] hipotecam o futuro”, admite Sofi a Barros, secretária-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Publicidade. “Fornecedores e clientes estão no mesmo barco e deveriam, em conjunto, atacar a ‘doença’”, conclui. No sector público, nem sequer há escolha. As empresas têm de cortar em 15% os custos de pessoal e fornecimentos externos. Tendo em conta os gastos de 10 das maiores empresas do SEE, como a Refer ou a CGD, esta regra deverá ter signifi cado uma perda de 623 milhões de euros em 2011. Indústria farmacêutica indicam que, no final de Dezembro, a dívida global atingiu o novo recorde histórico de 1270 milhões de euros, dos quais mil milhões a mais de 90 dias, o que representa um agravamento de 29% e 42%, respectivamente, face a Janeiro. O prazo médio de pagamento disparou 104 dias para 476. De acordo com a Associação Portuguesa das Empresas de Dispositivos Médicos (Apormed), o valor da dívida cresceu 206 milhões ao longo do ano passado e fechou o ano nos 778 milhões de euros. O prazo médio de pagamento agravou-se em 12 dias para 455. João d’Espiney Público Domingo 29 Janeiro 2012 9

lo<strong>que</strong>m em risco o crescimento a longo<br />

prazo. Manuel Reis Campos, presidente<br />

da Associação dos Industriais<br />

da Construção Civil e Obras Públicas,<br />

diz <strong>que</strong> há “um empobrecimento <strong>que</strong><br />

não traz nada de bom à economia”.<br />

A ausência de novas obras, <strong>que</strong> tem<br />

levado o sector à fragilidade, signifi -<br />

ca também <strong>que</strong> “há uma degradação<br />

mais geral, <strong>que</strong> impede a criação de<br />

postos de trabalho, ganhos para fornecedores<br />

e até o desenvolvimento<br />

do território”.<br />

Tesouradas de curto prazo<br />

Mas os efeitos desta tendência também<br />

se sentem no curto prazo, com<br />

a vaga de redução de custos <strong>que</strong> as<br />

empresas parecem ter assumido como<br />

regra número um do manual para<br />

sobreviver à crise. No PSI 20, metade<br />

das empresas cortaram nas despesas,<br />

de acordo com os resultados até Setembro<br />

de 2011. Além dos gastos com<br />

a é pagar o <strong>que</strong> deve<br />

(SNS), nomeadamente na área do<br />

medicamento hospitalar.<br />

De acordo com os números<br />

mais recentes disponibilizados<br />

ao PÚBLICO pelas associações<br />

dos dois principais fornecedores<br />

do sector, a dívida aos<br />

laboratórios farmacêuticos<br />

e empresas de dispositivos<br />

médicos ultrapassou os dois mil<br />

milhões de euros no final de 2011.<br />

Ou seja, mesmo <strong>que</strong> o ministério<br />

pagasse agora a totalidade da<br />

verba <strong>que</strong> vai ser libertada pelas<br />

Finanças, ainda ficaria a dever<br />

500 milhões só a estes dois<br />

grupos de empresas.<br />

Dados provisórios da<br />

Associação Portuguesa da<br />

pessoal, aplicam tesouradas em serviços<br />

básicos, seja electricidade, papel<br />

ou transportes.<br />

Também têm feito pressão sobre<br />

fornecedores de ideias, cortando tudo<br />

o <strong>que</strong> vêem como menos indispensável.<br />

Neste fi ltro, uma das primeiras<br />

vítimas é o marketing. “Para conseguirem<br />

melhorar os seus resultados,<br />

[as empresas] hipotecam o futuro”,<br />

admite Sofi a Barros, secretária-geral<br />

da Associação Portuguesa de Empresas<br />

de Publicidade. “Fornecedores e<br />

clientes estão no mesmo barco e deveriam,<br />

em conjunto, atacar a ‘doença’”,<br />

conclui.<br />

No sector público, nem se<strong>que</strong>r há<br />

escolha. As empresas têm de cortar<br />

em 15% os custos de pessoal e fornecimentos<br />

externos. Tendo em conta<br />

os gastos de 10 das maiores empresas<br />

do SEE, como a Refer ou a CGD, esta<br />

regra deverá ter signifi cado uma perda<br />

de 623 milhões de euros em 2011.<br />

Indústria farmacêutica indicam<br />

<strong>que</strong>, no final de Dezembro, a<br />

dívida global atingiu o novo<br />

recorde histórico de 1270 milhões<br />

de euros, dos quais mil milhões a<br />

mais de 90 dias, o <strong>que</strong> representa<br />

um agravamento de 29% e 42%,<br />

respectivamente, face a Janeiro.<br />

O prazo médio de pagamento<br />

disparou 104 dias para 476.<br />

De acordo com a Associação<br />

Portuguesa das Empresas de<br />

Dispositivos Médicos (Apormed),<br />

o valor da dívida cresceu 206<br />

milhões ao longo do ano passado<br />

e fechou o ano nos 778 milhões<br />

de euros. O prazo médio de<br />

pagamento agravou-se em 12 dias<br />

para 455. João d’Espiney<br />

Público Domingo 29 Janeiro 2012 9

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