Cavaquistas querem que Vítor Gaspar saia - Europa
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pesa tem de ascender aos 15%.<br />
Com este encolhimento do Estado,<br />
surgem uma série de efeitos secundários.<br />
As empresas <strong>que</strong> têm o Estado<br />
como cliente têm, para equilibrar as<br />
contas, de fazer as suas próprias poupanças<br />
e, em muitos casos, despedem<br />
parte do pessoal. Este aumento<br />
do desemprego (para além de criar<br />
uma despesa) retira rendimentos às<br />
famílias afectadas.<br />
Consumo cai a pi<strong>que</strong><br />
Ao mesmo tempo, os funcionários<br />
públicos <strong>que</strong> vêem o salário diminuir<br />
e os benefi ciários da segurança<br />
social <strong>que</strong> perdem rendimento<br />
adaptam os seus orçamentos à nova<br />
realidade.<br />
O resultado óbvio é uma <strong>que</strong>da<br />
5,9% Corte<br />
previsto<br />
no consumo<br />
privado durante<br />
o próximo ano,<br />
o pior resultado<br />
de <strong>que</strong> há registo<br />
em Portugal<br />
acentuada do consumo privado.<br />
Em 2011, já diminui 4,2%, o pior resultado<br />
de <strong>que</strong> há registo. Mas em<br />
2012, será ainda pior: 5,9% de acordo<br />
com a Comissão Europeia. Em<br />
1983, da última vez <strong>que</strong> o FMI esteve<br />
em Portugal, a <strong>que</strong>da tinha sido de<br />
“apenas” 0,3%.<br />
A bola de neve não pára aqui, naturalmente.<br />
Esta <strong>que</strong>bra do consumo<br />
faz com <strong>que</strong> muitas lojas, indústrias,<br />
fornecedores de serviços e o próprio<br />
Estado sintam uma perda abrupta<br />
das suas receitas. O resultado é, no<br />
sector privado, mais cortes no investimento,<br />
mais trabalhadores colocados<br />
no desemprego e mais empresas<br />
a declararem falência. Tudo fenóme-<br />
nos <strong>que</strong> tendem a autoalimentar-se e<br />
a tornar a tarefa inicial do Estado de<br />
cortar o défi ce mais difícil e, <strong>que</strong>m<br />
sabe, a exigir ainda mais medidas de<br />
austeridade.<br />
Qual é o fi nal da história?<br />
Quem defende esta estratégia económica<br />
de ajustamento abrupto das<br />
contas públicas e do endividamento<br />
externo do país — um grupo onde se<br />
incluem para além da troika, o Governo<br />
e o Banco de Portugal — considera-a<br />
inevitável, uma vez <strong>que</strong> os<br />
credores internacionais perderam<br />
a confi ança no país e, sendo assim,<br />
torna-se impossível continuar a pedir<br />
dinheiro emprestado. E vêem um<br />
fi nal feliz para esta história difícil.<br />
Com as empresas a reduzirem os<br />
seus custos, Portugal vai conseguir<br />
substituir o antigo crescimento baseado<br />
no consumo por um crescimento<br />
mais saudável baseado num<br />
excedente comercial, <strong>que</strong> reduza o<br />
nosso crecimento.<br />
Quem não acredita num fi nal feliz<br />
apresenta a Grécia e a Argentina como<br />
exemplos e afi rma <strong>que</strong> estes processos<br />
de reduções de custos consecutivas<br />
não são controláveis e podem<br />
colocar a economia numa espiral<br />
defl acionista muito perigosa. Além<br />
disso, assinalam <strong>que</strong> a aposta nas exportações<br />
só pode funcionar se no<br />
exterior estiver alguém <strong>que</strong> não está<br />
a poupar. Algo <strong>que</strong> agora não acontece,<br />
por exemplo, em Espanha ou<br />
na Alemanha, os principais destinos<br />
das exportações nacionais.<br />
A resposta a estas visões tão diferentes<br />
do rumo <strong>que</strong> a economia portuguesa<br />
está a tomar deverá surgir<br />
nos próximos dois anos e dela depende,<br />
em larga medida, a manutenção<br />
do país no projecto do euro.<br />
Público Domingo 29 Janeiro 2012 5<br />
Plano de contenção iniciou-se em Setembro<br />
Alterações nas obras da Par<strong>que</strong> Escolar<br />
permitem poupor 64,5 milhões de euros<br />
a O Ministério da Educação espera<br />
poupar 64,5 milhões de euros com<br />
a reavaliação dos projectos aprovados<br />
para as 69 escolas <strong>que</strong> a empresa<br />
pública Par<strong>que</strong> Escolar ainda tem<br />
em obras.<br />
Em resposta a <strong>que</strong>stões do PÚBLI-<br />
CO, o gabinete de imprensa do ministério<br />
precisou <strong>que</strong> a redução de<br />
custos resulta de mudanças já identifi<br />
cadas, <strong>que</strong> passam por alteração de<br />
materiais e equipamentos e pela reavaliação<br />
dos programas funcionais<br />
das escolas, designadamente no <strong>que</strong><br />
respeita às projecções do número e<br />
tipo de turmas e os seus impactos<br />
nos espaços necessários.<br />
Segundo o Ministério da Educação<br />
e Ciência, a reavaliação dos programas<br />
funcionais incidirá, em particular,<br />
nos projectos respeitantes às<br />
turmas dos cursos profi ssionais, uma<br />
vez <strong>que</strong> são a<strong>que</strong>las “em <strong>que</strong> o número<br />
de alunos é mais variável”. Em<br />
2010, os alunos no início do ensino<br />
secundário <strong>que</strong> estavam inscritos<br />
nestes cursos representavam cerca<br />
de 49% do total.<br />
A Par<strong>que</strong> Escolar (PE) foi criada<br />
em 2007 para gerir as obras de transformação<br />
das escolas públicas com<br />
ensino secundário. Das 205 escolas<br />
<strong>que</strong> faziam parte do programa inicial<br />
(a empresa pretendia chegar a<br />
370), 103 têm as obras concluídas,<br />
o <strong>que</strong> representou um investimento<br />
de 1,3 mil milhões de euros, dos<br />
quais cerca de 70% proveniente de<br />
empréstimos. As intervenções por<br />
escola têm custado, em médio, 15<br />
milhões de euros.<br />
Em Setembro, o ministro da Educação,<br />
Nuno Crato, pediu à Inspecção-Geral<br />
de Finanças uma auditoria<br />
à empresa, <strong>que</strong> está em curso.<br />
Também está a ser auditada pelo Tribunal<br />
de Contas. Crato suspendeu<br />
ainda os projectos de intervenção<br />
em 125 escolas, <strong>que</strong> representavam<br />
mais 1,3 milhões de euros de investimento.<br />
Para as 69 <strong>que</strong> continuam em<br />
obra, Crato intimou a PE a reduzir<br />
os custos das intervenções.<br />
As mudanças<br />
incluem<br />
alterações<br />
de materiais<br />
e equipamentos<br />
e a reavaliação<br />
dos espaços<br />
projectados<br />
A assessora de imprensa da empresa<br />
indicou <strong>que</strong> o plano de contenção<br />
começou a ser avaliado em<br />
Setembro, num processo <strong>que</strong> envolveu<br />
as direcções das escolas, as direcções<br />
regionais de educação e os<br />
projectistas. No portal dos contratos<br />
públicos entregues por ajuste directo<br />
só existem, por enquanto, dois<br />
referentes a alterações aos projectos<br />
de arquitectura. Entre as mudanças<br />
propostas pelas direcções das escolas<br />
fi guram, por exemplo, a substituição<br />
de produtos estrangeiros por<br />
nacionais, nomeadamente no <strong>que</strong><br />
respeita ao material eléctrico. Nalguns<br />
casos, isto signifi ca passar de<br />
400 para 40 euros por peça.<br />
Também se está a optar mais pelo<br />
betão em detrimento das grandes<br />
superfícies de vidro estan<strong>que</strong>s <strong>que</strong><br />
são uma das marcas das intervenções<br />
da PE.<br />
Nas escolas em <strong>que</strong> as obras já estão<br />
concluídas, o consumo energético<br />
mais do <strong>que</strong> triplicou devido à<br />
omnipresença do ar condicionado.<br />
Recentemente, Nuno Crato alertou,<br />
no Parlamento, <strong>que</strong> se deixada<br />
“em roda-viva, a dívida da Par<strong>que</strong><br />
Escolar seria de 3 mil milhões em<br />
2015”. Já ultrapassou os mil milhões.<br />
Desde Setembro, já com o actual plano<br />
de contenção em vigor, a empresa<br />
gastou mais de 4 milhões de euros<br />
em contratos celebrados por ajuste<br />
directo. Clara Viana