Cavaquistas querem que Vítor Gaspar saia - Europa
Cavaquistas querem que Vítor Gaspar saia - Europa
Cavaquistas querem que Vítor Gaspar saia - Europa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
34 Público Domingo 29 Janeiro 2012<br />
Local<br />
Quem disse<br />
<strong>que</strong> as lojas novas<br />
são melhores<br />
do <strong>que</strong> estas?<br />
Todas as semanas a Ar<strong>que</strong>olojista publica no seu<br />
blogue mais um “achado ar<strong>que</strong>olójico”. Esta é uma<br />
viagem pelas lojas-avós, as lojas da Lisboa antiga<br />
Cláudia Sobral<br />
a Tudo começou com Mami Pereira<br />
a distribuir castanhas assadas na<br />
Baixa de Lisboa. O senhor David, sócio<br />
de uma loja de pijamas e lingerie<br />
da Praça da Figueira, disse-lhe <strong>que</strong><br />
passasse por lá, <strong>que</strong> lhe oferecia um<br />
copo de água-pé para ajudar a empurrar<br />
as castanhas. Ela lá foi. Mal<br />
sabia <strong>que</strong> a sua vida nunca mais seria<br />
a mesma depois da<strong>que</strong>la conversa.<br />
Hoje diz <strong>que</strong> foi aí <strong>que</strong> se apaixonou<br />
pelas “lojas antigas” e teve vontade<br />
de fazer “alguma coisa”.<br />
Por isso, a jornalista e fotógrafa<br />
agora é também Mami, a ar<strong>que</strong>olojista<br />
– <strong>que</strong> é o mesmo <strong>que</strong> dizer<br />
“pessoa apaixonada por lojas antigas<br />
<strong>que</strong> se dedica à caça, descoberta e<br />
catalogação dos achados do comércio<br />
tradicional”, como a própria faz<br />
<strong>que</strong>stão de explicar no blogue A Ar<strong>que</strong>olojista,<br />
onde conta as histórias<br />
destes estabelecimentos <strong>que</strong> têm vindo<br />
a desaparecer.<br />
Este projecto “não é lá qual<strong>que</strong>r<br />
coisa”, esclarece Mami ao “freguês”<br />
<strong>que</strong> tropece na página do Facebook:<br />
é um blogue “dedicado às lojas avós,<br />
também chamadas antigas” e aos seus<br />
“reclames vintage, ao bric-a-brac, aos<br />
fregueses, às eti<strong>que</strong>tas do tempo da<br />
monarquia, aos sorrisos de <strong>que</strong>m está<br />
atrás do balcão, aos galhardetes, ao<br />
granel, ao fi ado”. O comércio tradicional<br />
pode já não ser o <strong>que</strong> era, mas<br />
as “lojas com barbas” ainda existem.<br />
E isso vê-se pelos achados <strong>que</strong> a ar<strong>que</strong>olojista<br />
colecciona na sua página.<br />
Por uma tarde, Mami faz de guia por<br />
algumas das suas “descobertas ar<strong>que</strong>olójicas”,<br />
por a<strong>que</strong>las lojas <strong>que</strong> ainda<br />
têm tudo atrás dos balcões. “Antigamente<br />
estava tudo atrás do balcão”,<br />
diz. “Hoje em dia não, por<strong>que</strong> o <strong>que</strong><br />
as pessoas menos <strong><strong>que</strong>rem</strong> é meter<br />
conversa com <strong>que</strong>m está na loja.”<br />
Até os sapos fumavam<br />
Mas há as lojas <strong>que</strong> resistem à mudança<br />
e é dessas <strong>que</strong> a ar<strong>que</strong>olojista<br />
anda à procura. Como a Tabacaria<br />
Mónaco, no Rossio. Desde a remodelação<br />
<strong>que</strong> se fez em 1894 pela mão<br />
de artistas portugueses como Rafael<br />
Bordallo Pinheiro e António Ramalho,<br />
pouco mudou, resume Carlos<br />
Oliveira, o sócio maioritário.<br />
Tirou-se a cabine telefónica, “uma<br />
das primeiras cabines públicas de Lisboa”<br />
e a bilha em barro com a água<br />
de Caneças, “onde as pessoas vinham<br />
beber de um copinho” — deixou de<br />
fazer sentido com o avançar dos tempos.<br />
Por toda a galeria, continuam<br />
os painéis de Bordallo Pinheiro, com<br />
os sapos <strong>que</strong> fumam, lêem jornais e<br />
bebem água de Caneças, e, no tecto<br />
o fresco de António Ramalho, com as<br />
famosas andorinhas.<br />
“Às vezes custa falar disto”, começa.<br />
Há 41 anos entrava por a<strong>que</strong>la<br />
porta como marçano, para fazer o<br />
<strong>que</strong> fosse preciso. E assim fi cou, até<br />
acabar por tomar conta do negócio,<br />
deixado em testamento pela patroa.<br />
Na Mónaco, uma publicação de número<br />
único editada a propósito da<br />
inauguração da tabacaria depois da<br />
remodelação, o escritor Fialho de<br />
Almeida chamou-lhe “capela de S.<br />
João Baptista dos charutos”. “Eu já<br />
lhe mostro o jornal”, insiste.<br />
“Na<strong>que</strong>la altura tínhamos uma saída<br />
para a rua de trás, como o Nicola”,<br />
paredes meias com a tabacaria. “E<br />
antes de a Bertrand importar revistas<br />
a Mónaco já tinha revistas inglesas”,<br />
frisa Carlos Oliveira. “A Baixa era<br />
muito melhor antes de aparecerem<br />
os centros comerciais”, lamenta Tomé<br />
Repas, <strong>que</strong> trabalha na Mónaco<br />
e trabalhou noutras tabacarias <strong>que</strong><br />
entretanto desapareceram para dar<br />
lugar a lojas novas.<br />
Sobre a Mónaco, Mami já escreveu,<br />
mas muitas das lojas <strong>que</strong> já visitou e<br />
fotografou não estão ainda no blogue,<br />
<strong>que</strong> todas as semanas é actualizado,<br />
mas com apenas uma ou duas<br />
“descobertas ar<strong>que</strong>olójicas”, para “as<br />
pessoas terem tempo de passar por<br />
lá”. A mais recente é o Franco Gravador,<br />
na Rua da Vitória, uma loja