Cavaquistas querem que Vítor Gaspar saia - Europa
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armo-nos com o mundo”, diz o estreante Ferreira de Oliveira<br />
conta, salientando <strong>que</strong>, “mesmo<br />
no olho do furacão, na Alemanha”,<br />
essa hipótese não é considerada.<br />
Desde Outubro do ano passado<br />
<strong>que</strong> o presidente da Galp Energia<br />
está a preparar a sua ida ao<br />
Fórum de Davos. Marcou com<br />
antecedência quase duas dezenas<br />
de reuniões na estância de ski nos<br />
Alpes suíços. Os encontros iam<br />
de 10 minutos a uma hora e meia.<br />
Reuniu-se com os presidentes de<br />
outras grandes empresas do sector,<br />
com clientes internacionais, com<br />
fornecedores e com parceiros de<br />
negócio. O líder da brasileira<br />
Petrobras, José Grabrielli de<br />
Azevedo, é um dos parceiros<br />
da petrolífera nacional <strong>que</strong><br />
também esteve em<br />
Davos. “Se tivesse<br />
de me deslocar aos<br />
países das pessoas<br />
com <strong>que</strong>m <strong>que</strong>ria<br />
falar ou conhecer, iria<br />
perder necessariamente<br />
um mês”, explica,<br />
salientando, contudo, <strong>que</strong><br />
não foi ao Fórum para<br />
fazer negócios. “É um<br />
ambiente para trocar<br />
ideias e actualizar<br />
informação”, afirma.<br />
Para conseguir fazer<br />
muito em tão pouco tempo, os dias<br />
foram aproveitados ao minuto.<br />
Às 8h da manhã, Ferreira de<br />
Oliveira já estava em encontros.<br />
Todo o tempo livre pelo meio ia<br />
para os eventos – mais de 280<br />
oficiais, entre debates, workshops<br />
e painéis, sem contar com os<br />
privados. “A primeira sensação é<br />
de frustração, por<strong>que</strong> gostaria de<br />
ser capaz de me multiplicar por<br />
vários”, revela. Os dias terminavam<br />
às 10h da noite e, mesmo assim,<br />
pareciam não dar para tudo.<br />
Para Ferreira de Oliveira, tratase<br />
de uma estreia no palco onde,<br />
todos os anos, se encontram<br />
os líderes mundiais<br />
para discutir as grandes<br />
tendências e as preocupações<br />
internacionais. “É como<br />
se saíssemos de<br />
Portugal e fôssemos<br />
para um sítio onde<br />
nos encontramos com<br />
o mundo; atropelamonos<br />
uns aos outros”,<br />
explica o presidente<br />
da Galp Energia. Com<br />
representantes do poder<br />
político, económico<br />
e social em todas as<br />
esquinas, Ferreira<br />
de Oliveira diz <strong>que</strong>,<br />
REUTERS/CHRISTIAN HARTMANN<br />
“em cada sítio onde se pára, temse<br />
uma experiência nova, como<br />
conversar com um professor da<br />
melhor universidade dos Estados<br />
Unidos ou falar com o líder de uma<br />
empresa chinesa ou norueguesa”.<br />
Quanto às preocupações, são<br />
diferentes consoante a origem<br />
geográfica. As intervenções<br />
e as conversas com os líderes<br />
dos países do hemisfério Norte<br />
denotam grande preocupação com<br />
o emprego. Segundo Ferreira de<br />
Oliveira, as atenções estão aqui<br />
voltadas para o drama da criação<br />
de emprego, de dar oportunidades<br />
à geração jovem e para o acentuar<br />
das desigualdades sociais. No<br />
hemisfério Sul, os problemas são<br />
outros: como gerir o crescimento,<br />
como evitar a saída para o Norte da<br />
ri<strong>que</strong>za aí acumulada, impedindo a<br />
“endogeneização do crescimento”,<br />
como lhe chama.<br />
No meio de todas as<br />
preocupações mundiais, “a crise<br />
da dívida na zona euro é um<br />
tema, mas não é o tema”, salienta<br />
o presidente da Galp. Mesmo <strong>que</strong><br />
seja esta mesma crise a trazer o<br />
risco de colapso do euro para o<br />
meio da conversa entre dois líderes<br />
empresariais, um português e<br />
outro alemão. Ana Rita Faria<br />
Público Domingo 29 Janeiro 2012 25<br />
Tranferência de soberania orçamental<br />
Alemanha propõe retirar<br />
poder ao Governo grego<br />
Sérgio Aníbal<br />
a Nas vésperas de uma cimeira europeia<br />
em <strong>que</strong> as novas regras orçamentais<br />
da zona euro vão ser discutidas,<br />
a Alemanha propôs aos seus<br />
parceiros uma transferência inédita<br />
de soberania orçamental dos países<br />
a benefi ciar de um pacote de apoio<br />
fi nanceiro e <strong>que</strong> não cumpram para<br />
os ministros das fi nanças dos outros<br />
países da zona euro.<br />
A notícia foi publicada ontem pelo<br />
Financial Times e dá conta de uma<br />
proposta enviada pelo Governo alemão<br />
aos ministros das fi nanças da<br />
zona euro com o objectivo de impedir<br />
<strong>que</strong> um país <strong>que</strong> esteja a receber<br />
empréstimos da troika, não adopte<br />
de forma persistente as medidas acordadas.<br />
O visado imediato é naturalmente<br />
a Grécia.<br />
A proposta, a ser aprovada, levaria<br />
à transferência de soberania em<br />
<strong>que</strong>stões orçamentais do governo<br />
grego para um novo “comissário orçamental”,<br />
nomeado pelos ministros<br />
das Finanças da zona euro. Este poderia,<br />
por exemplo, vetar decisões<br />
tomadas pelo Executivo grego <strong>que</strong><br />
conduzissem ao incumprimento de<br />
metas estabelecidas. E assumiria uma<br />
função apertada de fi scalização em<br />
relação às principais componentes<br />
da despesa pública.<br />
A Grécia, de acordo com estas novas<br />
regras, fi caria também obrigada<br />
a, antes de qual<strong>que</strong>r outra despesa<br />
(incluindo salários e pensões), cumprir<br />
os seus compromissos de dívida<br />
pública. Deste modo, dizem os autores<br />
da proposta, os mercados poderiam<br />
ter a certeza de <strong>que</strong> não haveria<br />
um default do Estado grego.<br />
O documento, cita o Financial Times,<br />
argumenta <strong>que</strong> “dada o cumprimento<br />
desapontador até agora, a<br />
Grécia tem de aceitar transferir soberania<br />
orçamental para o nível europeu<br />
por um determinado período<br />
de tempo”.<br />
As agências noticiosas Reuters e<br />
Bloomberg também noticiaram ontem,<br />
citando responsáveis políticos<br />
da zona euro não identifi cados, <strong>que</strong><br />
estava a ser discutida a possibilidade<br />
da troika constituída pela Comissão<br />
Europeia, FMI e BCE fi car com maior<br />
poder de intervenção na política orçamental<br />
dos países onde está a ser<br />
implementado um programa de ajustamento.<br />
A troika poderia, de acordo<br />
com algumas propostas, com poder<br />
para impor medidas <strong>que</strong> tenham sido<br />
acordadas previamente entre as<br />
partes.<br />
O Governo alemão não fez, durante<br />
o dia de ontem, qual<strong>que</strong>r comentário<br />
à notícia publicada pelo Financial<br />
Times. A Grécia, através de<br />
um porta-voz do Governo, recusou<br />
liminarmente a hipótese de perda<br />
de soberania orçamental do país. A<br />
Comissão Europeia também reagiu.<br />
Amadeu Altafaj, o porta-voz do co-<br />
missário europeu para os Assuntos<br />
Económicos e Financeiros, garantiu<br />
<strong>que</strong> as tarefas executivas “se mantém<br />
nos ombros” do Governo grego e <strong>que</strong><br />
“é lá <strong>que</strong> devem fi car”. Afi rma apenas<br />
<strong>que</strong> “a Comissão está decidida a<br />
reforçar a sua capacidade de monitorização<br />
e continua a reforçar a sua<br />
capacidade no terreno”.<br />
O surgimento destas propostas são<br />
uma demonstração do descontentamento<br />
crescente entre os principais<br />
credores da Grécia em relação à forma<br />
como o Governo grego, agora liderado<br />
por Lucas Papademos, está<br />
a executar as medidas previstas no<br />
programa de apoio fi nanceiro. Os<br />
elementos da troika vêem poucos<br />
avanços na adopção das medidas<br />
<strong>que</strong> julgam ser necessárias para cortar<br />
o défi ce.<br />
Entretanto, continuam as negociações<br />
em Atenas. Lucas Papademos<br />
teve ontem mais um dia agitado. o<br />
primeiro-ministro grego começou por<br />
se reunir com os elementos da troika,<br />
para discutir os detalhes do desejado<br />
segundo pacote de apoio fi nanceiro<br />
Angela Merkel<br />
está descontente<br />
com o<br />
incumprimento<br />
grego e <strong>que</strong>r uma<br />
transferência<br />
da soberania<br />
orçamental<br />
e das medidas <strong>que</strong> o Governo terá de<br />
adoptar para garantir o cumprimento<br />
dos objectivos orçamentais.<br />
A proposta apresentada pela troika<br />
a Atenas inclui, também de acordo<br />
com o Financial Times, uma lista de<br />
medidas <strong>que</strong> o Governo terá de tomar<br />
ainda antes do novo pacote de ajuda<br />
ser aprovado. Entre estas medidas está<br />
uma redução adicional do número<br />
de funcionários públicos. O bjectivo<br />
exigido é uma diminuição de 150 mil<br />
efectivos no espaço de três anos.<br />
A troika exige igualmente cortes<br />
substanciais nos sectores da Defesa<br />
e da Saúde, para além do fecho de<br />
diversos organismos da Administração<br />
Pública. Em cima da mesa está<br />
também um corte no valor do salário<br />
mínimo e a eliminação dos subsídios<br />
para o trabalhadores do sector privado,<br />
algo <strong>que</strong> o Governo grego não<br />
parece disposto a aceitar.<br />
A seguir, Papademos voltou a encontrar-se<br />
com os representantes do<br />
Instituto de Finanças Internacional<br />
(IIF), para acertar a reestruturação<br />
da dívida grega detida por privados.<br />
Um acordo com os credores privados<br />
também é exigido pela troika para<br />
aprovar o novo pacote de ajuda.<br />
Os líderes europeus têm afi rmado<br />
estar à espera da obtenção de um<br />
acordo ainda antes do início da cimeira<br />
<strong>que</strong> começa amanhã. Contudo,<br />
ontem, o IIF comunicou <strong>que</strong> apesar<br />
de estar próximo, o acordo deverá<br />
ser concluído apenas na próxima<br />
semana.