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Cavaquistas querem que Vítor Gaspar saia - Europa

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pelos doentes com mais de<br />

70 anos. Foi muito polémico.<br />

Concorda?<br />

É um disparate. Não existe em<br />

nenhuma parte do mundo. Vamos<br />

ter <strong>que</strong> decidir outras coisas,<br />

como por exemplo quando<br />

interrompemos tratamentos. A<br />

nossa civilização acha <strong>que</strong> a morte<br />

é opcional e não é. Se calhar é<br />

mesmo melhor morrer em paz,<br />

com a família, não podemos<br />

continuar a prolongar tratamentos<br />

indefi nidamente, fi ca caríssimo.<br />

Para isso é preciso mais cuidados<br />

paliativos...<br />

Os cuidados paliativos podem ser<br />

resolvidos com associações, com<br />

amizade, com ternura, não são<br />

caros do ponto de vista médico. E<br />

aí continuo a pensar <strong>que</strong> temos <strong>que</strong><br />

recuperar rapidamente o nosso<br />

capital nas Misericórdias a sério.<br />

Concorda com a devolução dos<br />

hospitais às Misericórdias?<br />

Sim. Mas as Misericórdias não têm<br />

capacidade para gerir grandes<br />

hospitais. Falo de hospitais como o<br />

de Arouca, Vila Nova de Cerveira,<br />

Valença, Caminha, hospitais<br />

de cuidados continuados, de<br />

recuperação e reabilitação.<br />

Dê-nos mais exemplos de<br />

racionamento<br />

O racionamento <strong>que</strong> para mim é<br />

óbvio é o do número de ecografi as<br />

durante a gravidez. Na Inglaterra<br />

fazem-se duas. Um bom médico faz<br />

só duas ecografi as e é sufi ciente.<br />

Mais?<br />

Sou contra a taxa de médicos por<br />

habitante <strong>que</strong> em Portugal é maior<br />

do <strong>que</strong> na maior parte dos países<br />

europeus. Temos um problema<br />

de distribuição. Não acho <strong>que</strong><br />

a solução seja fazer faculdades<br />

de medicina privada, já temos<br />

faculdades em excesso.<br />

Em Portugal há hospitais a mais?<br />

Há, isso é indiscutível. Aí é <strong>que</strong><br />

é preciso também racionar. Nos<br />

medicamentos temos igualemente<br />

<strong>que</strong> fazer contas. Se não houver<br />

dinheiro para todos, temos<br />

<strong>que</strong> decidir os <strong>que</strong> vamos usar.<br />

Outra <strong>que</strong>stão é, por exemplo, o<br />

problema das bandas gástricas<br />

para a obesidade. A pessoa <strong>que</strong><br />

não <strong>que</strong>r fazer regime deve ter o<br />

mesmo direito a ter uma banda<br />

gástrica do <strong>que</strong> a pessoa <strong>que</strong> <strong>que</strong>r<br />

fazer regime? Se os recursos são<br />

fi nitos, tem <strong>que</strong> se decidir quanto<br />

do dinheiro público vai ser gasto<br />

em bandas gástricas e qual é a<br />

contrapartida <strong>que</strong> se pede aos<br />

cidadãos para terem acesso a isso.<br />

Não vale a pena as pessoas poremse<br />

na posição de <strong>que</strong> tem <strong>que</strong> haver<br />

dinheiro para isso, por<strong>que</strong> não vai<br />

haver dinheiro para tudo.<br />

As pessoas respondem <strong>que</strong> para<br />

a saúde tem de haver sempre<br />

dinheiro...<br />

Mas não vai haver dinheiro para a<br />

saúde. E não é só cá em Portugal.<br />

Já não está a haver em parte<br />

nenhuma civilizada do mundo.<br />

A sociedade tem de ser capaz de<br />

aumentar a sustentabilidade do<br />

SNS à custa de mecanismos de<br />

prevenção e planifi cação.<br />

Concorda com o co-pagamento?<br />

Acha <strong>que</strong> as pessoas <strong>que</strong> ganham<br />

mais deviam pagar mais? Ou o<br />

fi nanciamento devia fazer-se só<br />

pela via dos impostos?<br />

Não sei comparar as duas coisas.<br />

Até por<strong>que</strong> há muita fuga aos<br />

impostos em Portugal e portanto<br />

isso é o <strong>que</strong> me assusta mais. Seria<br />

a favor do co-pagamento para<br />

assegurar a sustentabilidade do<br />

SNS. Se a pessoa pode pagar... Uma<br />

coisa <strong>que</strong> <strong>que</strong>ro <strong>que</strong> fi <strong>que</strong> bem<br />

claro: sou totalmente a favor da<br />

existência de medicina privada.<br />

Mas acho <strong>que</strong> a medicina pública e<br />

o SNS são muito mais importantes<br />

para o país. Deve haver regras<br />

muito claras de articulação da<br />

medicina privada com a pública,<br />

não se pode admitir <strong>que</strong> a<br />

medicina privada viva de desnatar<br />

a medicina pública.<br />

Sou a favor <strong>que</strong> nas<br />

regiões fronteiriças<br />

se usem os tratados<br />

europeus e, se<br />

houver bons<br />

hospitais em<br />

Espanha, devemos<br />

ir a Espanha.<br />

Há um custo de<br />

localização, <strong>que</strong><br />

não se resolve<br />

aumentando oferta<br />

sem qualidade<br />

Público Domingo 29 Janeiro 2012 13<br />

É isso <strong>que</strong> tem acontecido em<br />

Portugal?<br />

É. Vamos a outra <strong>que</strong>stão de<br />

racionamento, desta vez da<br />

privada. Acho muito bem <strong>que</strong> as<br />

pessoas <strong>que</strong> <strong>que</strong>iram escolham<br />

hospitais privados para ter as<br />

crianças. Agora, tinha de existir<br />

um acordo com os hospitais<br />

privados onde há partos e, quando<br />

as coisas dão para torto e elas vão<br />

parar às maternidades e hospitais<br />

centrais, parte do dinheiro <strong>que</strong> as<br />

pessoas tinham pago revertia para<br />

o público. Às tantas, temos tudo o<br />

<strong>que</strong> é rendível nos privados e tudo<br />

o <strong>que</strong> dá despesa é pago por todos<br />

nós.<br />

Quando me fala destas escolhas e<br />

decisões difíceis entre o essencial<br />

e o acessório... Lembra-se do <strong>que</strong><br />

aconteceu com as maternidades<br />

[foram fechadas várias, por entre<br />

os protestos da população]?<br />

Isso das maternidades foi muito<br />

infeliz por<strong>que</strong> o ministro Correia<br />

de Campos tinha toda a razão. Foi<br />

uma medida inteligentíssima.<br />

Mas acha <strong>que</strong> este “povo<br />

pe<strong>que</strong>no, assustado, pobre”<br />

(como lhe chamou) é capaz de<br />

aceitar estas decisões?<br />

Não sei. As maternidades ou o<br />

tratamento de cancro são bons<br />

exemplos. Mas atenção: percebo<br />

<strong>que</strong>, para a pessoa <strong>que</strong> está em<br />

tratamento com quimioterapia<br />

ou radioterapia, a deslocação seja<br />

um sofrimento muito grande.<br />

Era preciso arranjar formas de<br />

deslocação <strong>que</strong> fossem o menos<br />

incómodas possível.<br />

Está a falar da rede de<br />

referenciação do cancro. Mas<br />

ainda não avançou...<br />

Não sei por<strong>que</strong> não avança. Mas<br />

tenho a certeza é <strong>que</strong> a ideia <strong>que</strong> as<br />

pessoas têm de <strong>que</strong> é muito bom<br />

ter um hospital ao pé de casa é<br />

uma estupidez. É uma estupidez<br />

da<strong>que</strong>las!<br />

Mas temos de levar os doentes<br />

aos sítios onde podem ser<br />

tratados.<br />

Temos de racionalizar os<br />

transportes de forma a optimizar<br />

o transporte de doentes <strong>que</strong><br />

não tenham possibilidade de se<br />

deslocar de outra maneira. Por<br />

exemplo, se há quatro doentes<br />

<strong>que</strong> vêm num transporte só se<br />

deve fazer um pagamento. Não um<br />

por cada doente. Se a pessoa tem<br />

possibilidade de andar, não é só<br />

por<strong>que</strong> está doente <strong>que</strong> deve vir<br />

de ambulância. Nesse caso paga, é<br />

mais barato, e vem de comboio ou<br />

de autocarro.<br />

Mas aí a pessoa está a ser<br />

penalizada por estar longe do<br />

centro de tratamento.<br />

Como está longe de uma escola<br />

ou de um tribunal. Esse é um<br />

problema menor num país como<br />

o nosso. É um problema social<br />

gravíssimo do ponto de vista da<br />

desertifi cação do interior... mas<br />

não é o problema das pessoas. O<br />

problema das pessoas é solúvel,<br />

até por<strong>que</strong> não são muitas. De<br />

resto, eu também sou a favor<br />

<strong>que</strong> nas regiões fronteiriças se<br />

usem os tratados europeus e,<br />

se houver bons hospitais em

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